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BELO HORIZONTE, QUINTA-FEIRA, 15, A SEGUNDA-FEIRA, 19 DE AGOSTO DE 2019

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AGRONEGÓCIO

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AGROPECUÁRIA

VBP de Minas deve recuar impactado pelo café Com safra menor do grão no Estado, a projeção é de que o Valor Bruto da Produção feche o ano 0,98% inferior MICHELLE VALVERDE

Para 2019, o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de Minas Gerais, com base nos dados de julho, foi estimado em R$ 59,37 bilhões, variação negativa de 0,98% quando comparado com o registrado em 2018, que foi de R$ 59,95 bilhões. Neste ano, em função da safra menor, o café apresentou VBP 26,7% inferior, o que contribuiu para a retração no VBP total do setor agropecuário. Queda também foi verificada em outros importantes produtos: milho, soja e bovino. De acordo com os dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em Minas Gerais, o VBP das lavouras para 2019 foi estimado em R$ 38 bilhões, o que representa uma queda de 1% frente aos R$ 38,4 bilhões registrados no ano anterior. Cafeicultura - No segmento agrícola, o café total - que responde por 26,3% do VBP das lavouras e por 16,94% do faturamento total da agropecuária - teve o faturamento bruto calculado em R$ 10,7 bilhões, um recuo de 26,79% frente ao valor de R$ 14,7 bilhões registrado em 2018. Para o café arábica, o VBP recuou 26,95% e foi estimado em R$ 10,67 bilhões. O faturamento da produção de café conilon deve encerrar o ano em R$ 92,1 milhões, variação negativa de 2,6%. A redução se deve à perspectiva de uma safra total de café menor e aos preços, que não reagiram conforme esperado pelo setor. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra mineira de café deve ficar 20,37% menor, com a colheita de 26,4 milhões de sacas de 60 quilos. Queda também foi verificada nos resultados da soja. O VBP está 15,2% inferior e deve encerrar o ano em

R$ 6 bilhões. No caso do milho, o VBP foi estimado em R$ 3,7 bilhões, variação negativa de 5,63%. Apesar da retração no VBP total, alguns outros importantes produtos estão com resultados positivos. Na produção de cana-de-açúcar, o faturamento previsto para 2019 é de R$ 7 bilhões, expectativa de crescimento de 13,9% sobre os R$ 6,19 bilhões registrados no ano anterior. Destaque também para o VBP do algodão, que foi estimado em 914,4 milhões, alta de 53,2%. A produção em crescimento e os preços remuneradores são fatores que impulsionam o resultado do algodão. Outro produto que está com previsão positiva é a batata-inglesa, com estimativa de alta de 153% e VBP em R$ 3,23 bilhões. Para o feijão, as expectativas tam-

ARND WIEGMANN / REUTERS

bém são favoráveis. A projeção é de que o faturamento da cultura encerre 2019 em R$ 2 bilhões, avanço de 107%. No caso da banana, a alta está estimada em 30,6% e VBP em R$ 1,7 bilhão. A cultura do tomate teve o VBP projetado em R$ 1,59 bilhão, aumento de 24,26%.

Pecuária - Assim como no VBP das lavouras, a estimativa é de queda no faturamento bruto da pecuária de Minas Gerais em 2019. Com base nos dados de julho, a expectativa é de encerrar o ano com VBP 0,88% inferior e faturamento de R$ 21,31 bilhões. Contribuiu para o resultado negativo a retração verificada no faturamento Em atual projeção do Ministério da Agricultura, VBP do café apontou para uma queda de 26,7% de bovinos, cuja estimativa Para a produção de fran- cançado, será 12,9% maior. é de queda de 0,78%, com esperado de R$ 9 bilhões, o VBP em R$ 6,67 bilhões. 1,58% maior que os R$ 8,9 go, a estimativa é de um Em ovos, a previsão é fechar Já a produção mineira de bilhões registrados no ano faturamento, em 2019, de o ano com VBP em R$ 1 leite se destaca com um VBP anterior. R$ 4,58 bilhões, o que, se al- bilhão, queda de 4%.

ETANOL

Demanda de asiáticos anima indústria brasileira Campinas - O ano de 2020 sinaliza um avanço no mercado de etanol brasileiro. A indústria nacional do setor se anima com a possibilidade de China, Índia e Filipinas passarem a adotar o E10, a gasolina com 10% de álcool. Outro potencial grande consumidor, a Tailândia, pode passar a utilizar um combustível com 20% de álcool. O uso do etanol como alternativa energética mais limpa aos combustíveis fósseis é uma tendência mundial. Somente nesses quatro países asiáticos, a implantação do E10 e do E20 provocaria uma demanda adicional imediata de 19,4 bilhões de litros de etanol por ano. A última safra brasileira, encerrada em março, bateu recordes e atingiu

33,1 bilhões de litros. Ou seja, a Ásia, a partir do ano que vem, pode gerar uma demanda de mais de “meio Brasil” de etanol. Produtores e agentes ligados ao mercado de etanol tratam a possível demanda asiática com cautela, porque ainda não é certo que os países ampliem o percentual de uso do biocombustível. “Mas somente essa sinalização já é extremamente positiva”, afirma Plínio Nastari, CEO da consultoria Datagro e integrante do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética). Segundo ele, mais do que um novo - e gigantesco - mercado para as exportações brasileiras, a abertura dos países asiáticos criaria um novo ambiente para a transferência de tecnologia

COMUNICADO Informamos aos nossos leitores, assinantes e anunciantes que não haverá expediente nos dias 16 e 17 de agosto. Portanto, a data desta edição será de 15 a 19 de agosto de 2019.

e incontáveis benefícios indiretos. “A Fiat-Chrysler, por exemplo, planejava abrir uma nova planta para o desenvolvimento de motores na China, mas mudou para Minas Gerais, porque viu aqui o potencial de expansão da energia limpa”, diz Nastari. Arrumando a casa - Porém, antes de pensar no mercado asiático, a indústria brasileira do etanol precisa arrumar a casa. A produção, embora crescente, ainda não é suficiente para atender à demanda interna. Dos 33,1 bilhões de litros da última safra, apenas 1,7 bilhão (0,5%) foi exportado. O País ainda precisa importar etanol - principalmente dos Estados Unidos, que tem produção excedente. No ano passado, foram 1,753 bilhão de litros comprados do exterior, o mesmo volume exportado na última safra. Nastari diz que o mercado nacional ainda se recupera do período 2011/2014, quando houve controle de preços pela Petrobras, o que acabou pressionando os valores do etanol para baixo. RenovaBio - Uma ajuda para essa recuperação poderá vir do RenovaBio, nome dado à Política Nacional dos Biocombustíveis, que passará a vigorar em janeiro de 2020. O principal objetivo é reduzir as emissões de gás carbônico, estimulando o aumento da produção e do consumo de energias renováveis.

A meta estabelecida pelo programa é de que, até 2029, a matriz de combustíveis do País terá de diminuir em 11% as emissões de gases poluentes em relação ao registrado em 2018, ano fixado como referência para o plano. Na média, a emissão chegou a 74,25 gramas de gás carbônico equivalente para cada megajoule de energia. O objetivo para daqui a dez anos é baixar a marca para 66,1. “Essa é uma demanda do mercado. Os consumidores e os investidores querem combustíveis menos poluentes”, diz o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Evandro Gussi, ex-deputado federal, autor do projeto que criou o RenovaBio. A usina que se inscrever no programa deverá ser certificada por uma firma inspetora, cadastrada na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Na certificação, as usinas farão um inventário das emissões de carbono de suas operações, desde o manejo do plantio de cana até as emissões da frota de carros e caminhões da empresa. A unidade inspecionada receberá um certificado com uma nota de eficiência energético-ambiental que poderá ser convertido em créditos de descarbonização - chamados de CBios -, que terão validade de três anos. A quantidade de créditos leva em consideração o volume de etanol produzido. Cada CBio corresponde a

uma tonelada de carbono que deixa de ir para a atmosfera com a utilização de biocombustível em lugar do combustível fóssil. Na prática, o papel nada mais é que um lastro ambiental, que poderá ser negociado em bolsa e será uma nova fonte de receitas para as usinas. Com o RenovaBio, a produção nacional de etanol deve aumentar para 48 bilhões de litros em 2029. Para isso, as usinas deverão investir de R$ 60 bilhões a R$ 70 bilhões na próxima década. “É animador, mas também um grande desafio”, diz Gussi. Como se o mercado do etanol já não tivesse os seus próprios obstáculos, há ainda um outro componente para tornar essa equação mais complexa: o açúcar. Nos últimos dois anos, a produção nacional de etanol só foi grande porque não estava sendo vantajoso produzir açúcar - subsídios do governo indiano para o açúcar local geraram uma superprodução que derrubou seu preço. “As últimas safras estão mais alcooleiras porque não foi interessante produzir açúcar”, resume Marcos Jank, professor sênior de agronegócio global do Insper. Com os preços pouco remuneradores, o setor deixou de produzir quase 10 milhões de toneladas de açúcar e de exportar 8 milhões de toneladas na safra 2018/2019. Com isso, 64,3% da cana processada foi destinada ao etanol. (Folhapress)


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