Vida de Imigrante

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24 DE JANEIRO DE 2010 DOMINGO REDAC@DIARIOCOIMBRA.PT

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“Amo-te é uma palavra bonita”

Amanhã, na terça ou num outro qualquer dia da semana, será mais ou menos assim. A entrada ao serviço faz-se logo às 6h30. Até cerca das 10h30, executam-se os vários trabalhos de limpeza que antecedem o rodopio que, a partir das 9h00, começa nos corredores da empresa. Pese embora o seu dia inicie cedo, Zara brinda com um simpático sorriso quem com ela se cruza. Terminadas as tarefas, sai de casaco vestido e mala pendurada no ombro direito. Apanha o autocarro. Debaixo do braço leva a matéria. Segue, possivelmente, em direcção à biblioteca, isto porque tem de estudar – e ela explica - «muito, muito. Para os portugueses é difícil, muito difícil esta matéria. Para mim, é duas ou três vezes mais difícil por causa da língua». Refere-se, neste caso, a Macroeconomia e cálculos. Tratam-na por Zara. Assegura que a loja com o mesmo nome nada tem que ver consigo. Zornitsa Angelova Ilieva é o seu nome, tem 24 anos e vem de Vratsa, na Bulgária. Quem a escutar, não dirá que está em Portugal há precisamente três

meses e 24 dias. «Não é perfeito, mas acho que falo bem», diz. É neste quase correcto português que dá a entender a sua história. «No ano lectivo de 2008/ /2009, fiz um programa chamado Erasmus. Foi cá em Portugal e só durante três meses». É licenciada em Administração Pública. «Em Agosto ou Setembro, a Universidade de Coimbra mandou para mim uma letra [carta] a dizer que eu podia estudar na Faculdade de Economia». Quer fazer mestrado em Economia Local ou Economia Europeia. Para isso, «por causa da minha nacionalidade, preciso de fazer uma pós-graduação que vai dar equivalência ao meu diploma. Depois da época dos exames, vou continuar a minha educação». Segue-se o mestrado. Voltou, após o Erasmus, porque considera tratar-se de uma boa oportunidade para aprender uma língua diferente da sua. Mais. Diz tratar-se de uma boa ocasião para «começar a minha vida sozinha. Até agora, vivi com a minha família, com o dinheiro dos meus pais. Tudo era muito mais fácil». Agora as coisas são diferentes. «Muito mais difícil, porque propinas, quarto, despesas, livros, tudo o que preciso é muito mais caro do que

na Bulgária». É, por este motivo, que trabalha, tendo sido «muito, muito, muito, muito difícil» “encontrar emprego”. «Fui a lojas, centros comerciais, entreguei o currículo, mas acho que preferem os portugueses, porque não falo perfeitamente, porque não sou portuguesa». Muita neve, muito frio O discurso de Zara é fluente. São raras as vezes em que demora por um instante a frase, a fim de encontrar o termo certo. Não, não aprendeu Português em Erasmus. Aí, expressava-se em Inglês. Quando regressou, há três meses e 24 dias, «decidi falar, escrever, ler, entender, pensar só em Português». Vai às aulas. As colegas portuguesas ajudam-na a escrever. «Uma amiga deu-me dicionários e gramática de língua portuguesa». Aos sábados e domingos, «eu estudei-os». E quando se trata de estudar, fá-lo sempre que possível na língua que aprende. A primeira palavra? Zara ri e profere-a com todo o gosto e satisfação: «amo-te» (logo nos ensina “obicham te”, em búlgaro). «É uma palavra bonita. Foi muito interessante outra», completa, «saudades. Só na língua portuguesa é que podes dizer “I miss

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NOME: Zornitsa Ilieva IDADE: 24 anos PAÍS DE ORIGEM: Bulgária LOCALIZAÇÃO: Coimbra PROFISSÃO: empregada de limpeza/estudante EM PORTUGAL: há quase quatro meses

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you” com apenas uma palavra». Sim, Zara tem saudades da família, dos amigos e colegas que estão na Bulgária. «Não posso falar com eles todos os dias ao telefone». Contam com úteis ferramentas disponíveis na Internet para o fazer: Skype, Messenger e Facebook. Quanto a cartas, ela é rápida: «acho que nestes dias ninguém escreve cartas». Apesar da distância e do muito que lhe está subjacente, as palavras não poderiam ser mais fortes: «os jovens como eu têm de começar uma vida diferente para depois o futuro ser mais fácil». É uma lutadora. Medo? «Eu não tenho», declara. Zara comenta que, por cá, se come muito peixe, saladas, e muitos bolos e doces. «Já comi pratos típicos, por exemplo a feijoada». E já mostrou aos amigos os pratos típicos de lá. «Eles adoraram, a nossa comida também é muito gostosa, mas diferente», explica. Distinto também é o clima. «Aqui é muito mais quente, mas chove muito, isso é que não gosto». Lá, no Inverno há muita neve, muito mais frio. O olhar brilha quando conta sentir saudades da neve, do gelo. Conhece Lisboa, Porto, Fátima, Figueira da Foz. É no meio deste enumerar que se percebe o quanto gosta de Coimbra. Faz um acrescento à informação: «nós sabemos, na Bulgária, que a Universidade de Coimbra é a universidade mais antiga na Europa e que tem um nome respeitável». Levada a falar da sua Bulgária, recorda a natureza «muito bonita e diferente na Primavera, Verão, Outono e Inverno». Tem muita história, igrejas, museus. «Há cidades mais antigas e cidades mais modernas». Vem do país banhado pelo Mar Negro. «Espaço a espaço, eu vou conseguir fazer todas as coisas», comunica. Hoje é ela quem ensina um “bom fim-de-semana” em búlgaro, escrito em caracteres cirílicos, (“Priatna Pochivka”). l

Preencher os quadrados de 9x9 de tal forma que cada linha, coluna e caixa contenha números de 1 a 9 sem se repetirem

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FIGUEIREDO

Carina Leal

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Zara quis começar a sua vida sozinha. Prepara-se para o mestrado na FEUC

ZORNITSA ILIEVA expressa-se num claro português

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DADOS

8 Solução na página Agenda de amanhã

TEMPO Hoje: Céu muito nublado de manhã com aguaceiros fracos que serão de neve acima dos 1400 metros, tornando-se gradualmente pouco nublado. Vento fraco a moderado nas terras altas e a sul do Cabo Carvoeiro. Pequena descida da temperatura mínima no Interior. Neblina matinal.

COIMBRA 6º 12º

MARÉS Porto da Figueira da Foz Preia-Mar às 2h22 e às 14h55 Baixa-Mar às 18h43 e às 21h28

TOTOLOTO

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RECUPERAÇÃO DO ESTADO DE SURDEZ

HUC organizam curso com técnicas avançadas Os avanços mais recentes nas técnicas para recuperação do estado de surdez, nomeadamente no domínio dos implantes, são apresentados a partir de segunda-feira num curso internacional que decorre nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC). Organizado pelo Serviço de Otorrinolaringologia dos HUC, o 11.º Curso de Microcirurgia Otológica e de Oto-Endoscopia tem um carácter teórico-prático e contempla a actualização em matéria de implantes cocleares, para a surdez total, e de implantes do ouvido médio, destinados à surdez neuro-sensorial, entre outros domínios. António Diogo de Paiva, director daquele serviço dos HUC e catedrático da Faculdade de Medicina de Coimbra, disse à agência Lusa que o professor da Universidade de Bordéus JeanPierre Bébéar vai apresentar os últimos avanços no domínio dos implantes cocleares no adulto e na criança.

Por seu turno, o médico Pedro Clarós, do Hospital de S. João de Deus (Barcelona), expõe as novidades nos implantes do ouvido médio, que se destinam às pessoas que ouvem os sons mas não conseguem perceber bem as palavras. Também os implantes osteo-integrados, para a designada surdez de transmissão, na qual o ouvido médio não está a transmitir os sons captados, serão abordados no curso por Carlos Cenjor, de Madrid. Outros especialistas portugueses e estrangeiros participam no curso, que decorre até quarta-feira, abordando temáticas como otites, otosclerose, imagiologia do ouvido, neurinoma do acústico, vertigem e paralisia facial, entre outras. Com várias sessões cirúrgicas, o curso no domínio da pósgraduação destina-se à «formação, actualização e divulgação de conhecimentos, promovendo a troca de conceitos e experiências entre especialistas», segundo o programa. l


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