


Uma justa homenagem à Faculdade de Medicina, mas é sempre bom lembrar que o destino da então criada FCMBB – Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, era para ser outro. Surgiu como uma faculdade diferente – como um núcleo das ciências médicas! – para que fosse transformada, em curto prazo, em uma Universidade Moderna, pequena mas específica.
No mesmo ato de criação da FCMBB, o Governo do Estado criou, também, a FCMBC –Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Campinas!
O idealizador disso tudo, da INTERIORIZAÇÃO DO ENSINO UNIVERSITÁRIO, foi o Professor ZEFERINO VAZ!!!
Na visão desse grande educador (Já fora o idealizador e Diretor da Faculdade de Medicina da USP, em Ribeirão Preto) era importante a interiorização do ensino universitário. Sendo que a FCMBB e a FCMBC deveriam, a curto prazo, transformarem-se em Universidades Regionais. Infelizmente, somente Campinas conse-
“ASSEMBLÉIA
guiu transformar-se em UNIVERSIDADE: A UNICAMP!
Botucatu, com a crise governamental da cassação do mandato do governador Adhemar de Barros, depois com o mandato tampão do governador Laudo Natel, entrou em crise no início do governo de Abreu Sodré por absoluta falta de condições de funcionamento.
Toda a cidade de Botucatu apoiou a “Operação Andarilho”. Operação vitoriosa, liderada pelos próprios alunos, foi até São Paulo e conseguiu, do governo do estado, as condições mínimas para seu funcionamento regular. Equipamentos vieram da Alemanha, modernos laboratórios, enfim, a FCMBB conseguia, já em 1968, equipar-se e, nos primeiros anos de 1970, já ganhava os primeiros prêmios nacionais de medicina.
Hoje, a FACULDADE DE MEDICINA é a que tem a preferência dos vestibulandos... Vitória!
Parabéns FMB! A Direção.
No último dia 18 de outubro de 1977, o deputado estadual João Lázaro de Almeida Prado, da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo apresentou a Indicação nº 1610/77, pedindo urgentes estudos para a instalação, em Botucatu, da Universidade Estadual “Vital Brasil”, recente iniciativa do vereador botucatuense Armando Moraes Delmanto. É esta a íntegra da Indicação:
“CONSIDERANDO o Requerimento nº 281/77, datado de 11 de outubro de 1977, de autoria do nobre Vereador Armando Moraes Delmanto, da Câmara Municipal de Botucatu vazado nos seguintes termos:
CONSIDERANDO que a ex-Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, como a Faculdade de Medicina de Campinas (FCMBC), foi criada para que se transformasse, a médio prazo, em uma Universidade Estadual;
CONSIDERANDO que desde a sua criação a ex-FCMBB, pela variedade de cursos que possuía, pela dedicação à pesquisa científica em regime de tempo integral que desde o início adotou, pela própria estruturação departamental de seus cursos de forma pioneira e revolucionária em todo o país, exercia de FATO as funções de uma Universidade;
CONSIDERANDO que presentemente vem sofrendo os inconvenientes por ter sido incluída em uma Universidade “sui generis” e de difícil consolidação;
CONSIDERANDO que a ex-FCMBB por estar radicada no centro geográfico do estado e por contar com vários cursos, quais sejam
EXPEDIENTE
os de Medicina, Medicina Veterinária, Agronomia, Zootecnia, Biologia e Engenharia Florestal (criado mas ainda não instalado), por contar ainda com um Hospital de Clínicas, está credenciada a ser, não apenas de FATO, mas de DIREITO, uma Universidade Estadual;
CONSIDERANDO que as autoridades estaduais ao reconhecerem essa possibilidade estarão reconhecendo que o maior centro de pesquisas científicas do Brasil, na atualidade, terá assegurada essa condição para o futuro, eis que para esse desiderato foi criado;
CONSIDERANDO que além dos cursos existentes e para a complementação dos mesmos, o Governo do Estado poderia instalar nessa nova Universidade o Curso Superior de Enfermagem;
CONSIDERANDO que em Botucatu, Vital Brasil pesquisou e iniciou sua brilhante e benemérita carreira científica em prol da humanidade;
REQUEREMOS, após ouvido o colendo plenário, seja enviado este Requerimento ao Exmo. Sr. Governador do Estado de São Paulo, Engº Paulo Egydio Martins, para que S.Exa., através de sua Assessoria Educacional, ultime os estudos para a instalação, em Botucatu, da Universidade Estadual “Vital Brasil”, composta dos Cursos de Medicina, Medicina Veterinária, Biologia, Agronomia, Zootecnia, Engenharia Florestal e Enfermagem, além do Hospital de Clínicas, o que viria beneficiar imensa região do interior do Estado e solidificar o modelar centro cientí -
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
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fico sediado em Botucatu.” CONSIDERANDO que a organização do Ensino Superior em Universidade constitui medida necessária para incentivar a formação de pesquisadores profissionais e de professores de alto nível; e CONSIDERANDO, finalmente, a importância e o valor do trabalho desenvolvido pelas unidades de Ensino Superior sediadas em Botucatu, INDICAMOS, nos termos regimentais, ao Chefe do Poder Executivo sejam agilizados, em caráter de urgência, os estudos para a instalação da Universidade Estadual “Vitall Brasil”, em Botucatu.
Sala das Sessões, em 18 de outubro de 1977.
Deputado João Lázaro de Almeida Prado”
(jornal “VANGUARDA DE BOTUCATU”, outubro de 1977)
Não é preciso dizer que esta luta ainda não terminou. NÃO TERMINOU!
Sem representantes políticos na Assembléia e na Câmara Federal, ao contrário de Campinas, e SEM o apoio de um educador como o Prof. Zeferino Vaz, Botucatu ainda espera a hora dessa grande e inevitável conquista. Foi uma idéia positiva. A criação da UNIVERSIDADE ESTADUAL, em Botucatu, NÃO foi um sonho inconseqüente. Com certeza, será a esperança de que teremos a nossa UNIVERSIDADE ESTADUAL “VITAL BRASIL”.
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Na revista Peabiru e no livro “Memórias de Botucatu I”, de 1990, fizemos minuciosa pesquisa sobre Vital Brasil. Eram muitas as dúvidas: o seu nome era Vital Brasil Mineiro da Campanha ou Vital Brasil , mineiro da cidade de Campanha (MG)? Essa explicação encontramos no livro “Vital Brazil –O vencedor das serpentes”, de Hernâni Donato, editora Melhoramentos, págs. 15 e 16 : ”Na cidade Campanha, Estado de Minas Gerais, nasceu o cientista no dia 28 de abril de 1865. Seu pai trouxe um costume curioso para a família. Homem pobre e de pouca instrução, costumava dizer que dos filhos esperava firmemente dessem começo a alguma coisa nova: uma idéia ou uma família. A maioria das pessoas anuncia com orgulho a antiguidade de nome familiar. Ele, não. Desejava que cada um dos seus meninos fosse o primeiro de um novo nome.
Chamando-se José Manuel dos Santos pereira, fazia questão de batizar os filhos com nomes das cidades, do país e do continente onde houvessem nascido e as filhas com os nomes das cidades e de flores brasileiras. Ao menino nascido em Campanha chamou: Vital Brazil Mineiro da Campanha. E para os que se mostravam curiosos, do motivo do nome tão diferente do pertencente à família, o pai explicava: Vital, pela força de vida que há nele; Brazil, por respeito ao nosso país (preferindo escrever com z); Mineiro, reverenciando o Estado de Minas Gerais e Campanha, lembrando a cidade que lhe serviu de berço.” Hoje, o cientista tem, nacional e internacionalmente, seu nome conhecido como Vital Brasil. Ruas, avenidas e homenagens a Vital Brasil usam seu nome com “s” e não com “z” Não era o que ocorria no século XIX. Em 1895, já estabelecido em Botucatu, usava para divulgar seu trabalho, o nome com “z”, conforme pode ser visto no
anúncio que “descobrimos” em nossas pesquisas no jornal “O Botucatuense”, de 1895(raridade histórica) que reproduzimos nesta matéria.
No livro já citado, “Memórias de Botucatu I”, de 1990, págs. 13 e 14, fazíamos um relato da presença de Vital Brasil entre nós: “A presença entre nós do Dr. Vital Brasil é motivo de orgulho para o perfil médico de Botucatu. Pesquisador dos mais consagrados, descobridor do Soro Antiofídico, Vital Brasil iniciou sua vida médica em nossa cidade. Ao focalizarmos a presença dos norte-americanos sulistas que, derrotados na Guerra Civil, vieram para o Brasil, localizando-se em algumas cidades, dentre elas, a de Botucatu. Com a presença forte dos norte-americanos que para aqui vieram com toda a infraeestrutura possível, inclusive com seus escravos, nada mais natural que tivessem por objetivo adaptar o “modus vivendi” caboclo ao que gozavam nos Estados Unidos. Assim, o surgimento da Escola Americana, do Cemitério Americano, a implantação de produtos agrícolas americanos (melância) e, por que não do seu médico e de seu dentista( o primeiro dentista de Botucatu foi o norte-americano, Leonard Yancey Jones, vindo do Estado do Alabama). Daí a vinda para Botucatu do recém formado médico ,Dr. Vital Brasil Mineiro da Campanha. O protestantismo era forte na cidade, sendo certo que a Igreja Presbiteriana teve participação decisiva na fundação da Misericórdia Botucatuense. O Dr. Vital Brasil permaneceu entre nós por aproximadamente 2 anos quando, em 1887, foi para a capital paulista atuar no recém fundado Instituto Butantã. Nos dois anos em que permaneceu em Botucatu, aqui clinicou e colaborou com o Dr. Costa Leite na Misericórdia Botucatuense, onde exerceu a 2ª. secretaria da Entidade(várias Atas foram lavradas pelo Dr. Vital Brasil). A cidade de Botucatu prestou sua homenagem ao Dr. Vital Brasil ainda vivo. No jornal “Folha de Botucatu”, de 22/10/1949, encontramos o registro:
razões que o levaram a apresentar o citado projeto, o Sr Delmanto fez ver que, enquanto outras cidades põem em evidência as suas relíquias históricas, Botucatu não divulga as que possui, e que, tendo o Dr. Vital Brasil, orgulho da medicina brasileira iniciado nesta cidade as suas experiências e aqui chegado aos primeiros resultados concretos, que mais tarde viriam a consagrar seu nome a homenagem que se lhe presta é das mais justas. Outros desfilaram suas opiniões, ratificando todos os pontos de vista do vereador udenista.”
Em nome do homenageado, o advogado do Instituto “Vital Brasil”, Dr. Fausto de Oliveira Ferreira, apresentou resposta registrada na “Folha”, de 23/11/49:
“...Por incumbência do Dr. Vital Brasil que se encontra doente e impossibilitado de responder pessoalmente a comunicação de V.Exa. referente à lei aprovada pelo Poder Legislativo desse município, mandando colocar uma placa comemorativa no prédio nº 199 da Rua Amando de Barros (antiga Rua do Comércio) e dando seu nome a uma das Avenidas dessa encantadora e próspera cidade, onde efetivamente iniciou o Dr. Vital Brasil os seus estudos do soro-antiofídico, venho agradecer em seu nome a insigne honra que lhe foi tributada pelo povo de Botucatu, através de manifestação leal e simpática de seus legítimos representantes...”
“Por iniciativa do Vereador Antonio Delmanto dá-se o nome de Vital Brasil à Avenida São Carlos e propõe que se fixe uma placa na casa que, por vários anos, acolheu o grande médico. Expondo as
A criação de uma Universidade Regional começou a ser trabalhada nos anos 1976/77, como um caminho inevitável e irreversível. Seria a complementação da idéia inicial do Governo do Estado ao criar, em 1962, a FCMBB e a FCMBC (de Botucatu e de Campinas) como “embriões” de uma futura universidade, pequena, moderna, ágil e vinculada a determinadas comunidades da região. Seria a racionalidade e a modernidade na gestão de tão importante setor: o ensino estadual universitário. Por mais que se faça e que se diga, a UNESP é de uma irrealidade assustadora Persiste, até hoje, graças ao comodismo e às “amarras” que o oficialismo lança em seus integrantes, do que pela lógica funcional de uma universidade dispersa por todo o Estado e com uma Reitoria que nunca se instalou no local então determinado em lei (Ilha Solteira) e, sim, permaneceu “provisoriamente desde 1976” instalada na Alameda Santos (SP), onde encontramos o m2 mais caro da Capital... Atender determinadas comunidades regionais, conseguir bom entrosamento entre os corpos docente e discente de seus campi, ao lado da agilidade que somente uma estrutura menor, mais racional e mais moderna pode oferecer, é o almejado. O trabalho feito por ocasião da absorção da FCMBB pela UNESP, em 1976/77, quando o então Reitor, Dr. Luiz Ferreira Martins, de Bauru, promoveu uma série de alterações, culminando com o fechamento de departamentos de “integração” então existentes na FCMBB. (AMD)
Roque Roberto Pires de Carvalho
- O notável médico, cientista, imunologista e pesquisador biomédico não nasceu em Botucatu, entretanto foi nesta cidade que nos anos de 1895 até 1897 desenvolveu nos sítios e fazendas suas pesquisas para encontrar o soro antiofídicoespecífico, para o combate ao veneno das cobras peçonhentas que são encontradas nesta região, dos tipos: coral verdadeira, jararaca, cascavel, urutu-cruzeiro e surucucu, gerando para a medicina uma tecnologia inédita.- Sua passagem e permanência em Botucatu deveu-se à um convite que lhe foi feito em 1895 pelo Farmacêutico José Arnaud Paulino Pires; Vital Brasil instalou-se com sua esposa no Hotel Brasil defronte à atual Praça do Bosque; posteriormente teve residência à Rua Cesário Alvim, atual João Passos onde teve seu consultório médico; posteriormente instalou-se ao lado de uma escola na Rua Riachuelo n° 190, dando início às suas atividades
Hoje é a Rua Amando de Barros n° 817 onde um Bar e Lanchonete “Pirâmides” exibe um “banner” em homenagem ao notável Cientista. Vital Brasil já conhecia as técnicas desenvolvidas pelos cientistas franceses Albert Calmette e Camille Guérin com o antídoto aplicado às serpentes Naja-Indiana; tal antídoto não se adequava aos tipos de cobras brasileiras fato que o levou aos estudos e que, até hoje, após cento e vinte anos permanecem válidos. -Em Botucatu, Vital Brasil foi médico operador e parteiro, com especialidade em doenças de Senhoras e crianças; trabalhou com o Dr. Costa
Leite na construção da Misericórdia Botucatuense, tendo sido seu Secretário e encarregado de escrever e registrar as atas. - Para suas experiências o Dr. Vital Brasil visitava os sítios e fazendas, ensinando os lavradores capturar e colocar em caixas de madeira com segurança as mais variadas cobras encontradas.Paraentendimento de suas instruções escritas de como capturar e armazenar as cobras, Vital Brasil criou uma Escola para as crianças de manhã e para adultos à noite. Visava com isso suprir a necessidade
de escolarização dado o grande número de analfabetos.O Prefeito de Botucatu Renato de Oliveira Barros sanciona em 21.10.1949 a Lei que dá o nome de Avenida Dr. Vital Brasil a antiga Rua São Carlos na Vila São Lúcio.
O Projeto de Lei foi do Vereador Dr. Antonio Delmanto e a inauguração aconteceu em 1° de maio de 1964 com a presença de familiares do homenageado. Nesse mesmo ano o Vereador Laurindo Izidoro Jaqueta obteve aprovação de seu projeto de lei instituindo o dia 28 de abril (data de nascimento do médico) como sendo o “Dia de Vital Brasil” no Município.Em 1897
Vital Brasil passa a trabalhar com os Cientistas Adolfo Lutz, Oswaldo Cruz e Emilio Ribas em pesquisas no combate à peste bubônica, à varíola e a febre amarela e em 1903 é reconhecido mundialmente como descobridor do soro antiofídico-específico e antiofídicos polivalentes para outros animais peçonhentos como aranhas e escorpiões.Em 1899 torna-se um dos fundadores do Instituto Butantan de em 1919 funda em Niteroi o Instituto Vital Brasil
Em 1965 o Governo de Minas Gerais dá seu nome à Rodovia que vai de Juiz de Fora até Poços de Caldas. Em 2003 através de Lei Federal Vital Brasil é considerado “Herói da Pátria” e em 2014 seu busto é colocado no “Museu Nacional de História Natural” na cidade de Paris/França ao lado de outros Eminentes Cientistas. Como curiosidades podemos dizer que Vital Brasil, chegando à Botucatu, dada sua facilidade de comunicação com as pessoas, frequentava festas, fazia e escrevia discursos e para alegrar mais, tocava clarineta. Assim também, seu pai Manuel dos Santos Pereira Jr não colocava seu sobrenome ao nome dos filhos. Colocava sim o nome e o nome da cidade de nascimento e no caso, Vital Brasil Mineiro da Campanha, Fileta Camponesa de Caldas, Eunice Peregrina de Caldas, Judith Parasita de Caldas.
- Como registro histórico podemos citar que em Botucatu nasceu sua primeira filha e que recebeu o nome de Alvarina, não seguindo as tradições toponímicas aos familiares.
- Falar de Vital Brasil fora das datas de nascimento e de falecimento do notável Cientista, tem por escopo não deixar se perder no tempo a memória de personagem tão Ilustre que, pesquisando em Botucatu, em apenas dois anos gravou seu nome em descoberta científica mundialmente reconhecida A descoberta do soro antiofídico-específico para cobras brasileiras (Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre)
Hernâni Donato
A grandeza de um homem referencial bem pode ser revelada por um pequeno-grande episódio. Foi o que sucedeu com Vital Brasil Mineiro da Campanha, no final do século dezenove, em ocorrência aparentemente simples, acontecida na Botucatu de então. Transpareceu o homem, o médico o cientista.
Para o bom entendimento, uma curta explicação. Naqueles dias (ele residiu ali entre 1895 e 1899), a cidade, porta-de-sertão, cabeça de comarca estendida entre os rios Tietê e Paranapanema, dividia-se, para tudo, entre católicos e protestantes, estes chegadiços. Havia escola, clube, comércio, professores de uma ou outra postura religiosa. E uma “cidadela” protestante no coração da cidade. Os protestantes chamaram professores e médicos protestantes. Como protestante para servir seus irmãos é que Vital Brasil foi para lá. Para que também atendesse nas fazendas cafeeiras, deram-lhe trole e troleiro. E escala de linhas ou direções ou bairros a serem atendidos.
Troleiro, foi o mocinho Sebas-
tião Pinto Conceição. Este vindo a terminar a vida como titular de cartório, ademais de pai de professora de história, de médico e escritor, de político deputado e Secretário de Estado, , orgulhava-se também dos dias vividos troleando Vital Brasil. De quanto lhe ouvi a respeito, garantindo-lhe o crédito gosto de repetir o sucedido com o campeiro mordido por cobra. Acho que revela o caráter de Vital Brasil e ajuda a compreendê-lo e à sua vida e obra.
O troleiro conhecia a estrada e a gente ao longo do traçado. Colonos, retireiros, agregados. Onde branquejasse um pano branco, troleiro e doutor liam a mensagem: “precisamos de médico”. O trole enfiava pelo caminho, balizado pela alvura dos panos.
Um dia, o branquejar de toalhas e lençóis encaminhou o trole à casa de um campeiro notório. Mesmo tendo patrão fervorosamente protestante, teimava em continuar católico e em não renunciar ao largo renome de caçador, de beberrão de fim de semana e de exercitado e convicto adúltero. Com sério agravante: zombava dos esforços de quantos empreendiam convertê-lo ao protestantismo, adesão que sua esposa dera e mantinha com ardor de neófita. Ele, seguia convictamente “mergulhado na superstição romana”, conforme disse a mulher ao médico. E nos pecados com que se deliciava.
Encontraram-no deitado, mais bêbado do que ferido. Cheirava, e o quarto, a fumo de corda e à cachaça. A mulher explicou:
- Anteontem, no meio da tarde, foi picado por uma cascavel.
O médico sério e reprovativo, observou:
- Anteontem!? Por que não o levaram para a cidade?
Ela levantou o lençol, exibindo a perna do marido. Sobre a pica-
da, escandalizava um feio emplastro tresandando à fumo mascado e à pinga, arruda, breu e talo de bananeira. Tudo isso envolto pelas contas de rosário de carapiá. Na região, tinha-se por certo que nada melhor para sustar a “subida” do veneno de cobra do que “laço” de rosário de carapiá. Como reforço absoluto, uma oração endereçada a São Lázaro.
Mais envergonhada pelo rosário, o santo, a cachaça e o resto do que pelo molesto, confusa diante do médico ilustre e do protestante convicto, a dona de casa e do ferido católico, tentou justificar:
- Desculpe, doutor. Ele não quis ir para a cidade. Teimou na bebida e nessa abominação...
Dizendo-o, ensaiou arrancar o rosário, o emplastro. Vital deteve-lhe o gesto:
- Deixe tudo como está, por mais uma hora. Procure acordá-lo. Depois, limpe bem a ferida e faça o seguinte...
Mais tarde, tão logo acomodou-se na boléia do trole, ao lado do médico, continuando a peregrinação em busca de panos
Que teria sido brasileiro o famoso herói inglês que marcou presença na Primeira Grande Guerra Mundial?
Teria sido botucatuense esse herói? Teria nascido na Cuesta de Botucatu esse herói que encantou gerações com sua bravura e idealismo?
A Revista Peabiru apresentou minucioso estudo sobre a trajetória desse herói mundial
Na história ou na “lenda” de Lawrence da Arábia, temos como berço natal do herói a Cuesta de Botucatu, mais precisamente, a Fazenda do Conde de Serra Negra, localizada em Vitoriana. Verdade ou lenda ?!?
Segredo guardado ou sonho “botucudo” surgido antes da virada do século passado?!?
Mas fica – com certeza! – a imagem positiva e heroica de Lawrence da Arábia: um brasileiro nascido na CUESTA DE BOTUCATU.
brancos, o troleiro observou, entre curioso e ousadamente reparador:
- Não entendi, doutor Vital. Tenho visto o senhor tão enérgico quando se trata de cuidados médicos ou emprego de crendice como remédio, mas nesse caso, mesmo sendo de mordida de cascavel...parece que o senhor concordou com o homem. Rosário de carapiá, então, é bom para curar mordida de cobra?
Pois Vital explicou, como se diante, não do troleiro, mas de alunos atentos ou de compungida comunidade evangélica:
- Não, não acredito que fumo, cachaça e rosário disto ou daquilo possam mais do que veneno de cascavel em corpo humano. Mas se a cobra picou anteontem e o homem na verdade só padece de forte ressaca, devo concluir que a bolsa da cobra estava sem veneno no instante da mordida. Ele nem precisaria de tratos. Mas quis se tratar e nessa precisão pôs fé no emplastro e no rosário. Mostrou-se homem de expediente e de fé. Por enquanto, não tenho nem medicina nem ensinamento para substituir o que ele tem e usa. O que não posso, como médico e homem religioso é deixar uma criatura sem os remédios nos quais confia e retirar-lhe a fé na qual descansa. Ele está salvo e com a fé rebustecida. Que desejar para um homem?
O troleiro não esquecera daquele dizer de Vital Brasil. Desde que me contou o fato, eu também não. Mas não é verdade que vale a pena conservar tal pensamento transmitido por um grande homem, em testemunho de de humildade, humanidade e religiosidade, a um humilde mocinho troleiro a respeito de um humilde campeiro?
Hernâni Donato – Acervo Peabiru