Diário da Cuesta
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CACILDA BECKER: GRANDE
DAMA DO TEATRO BRASILEIRO
Em 6 de maio de 1969, durante a apresentação de “Esperando Godot”, de Samuel Beckett, onde contracenava com seu ex-marido Walmor Chagas, sofreu um derrame cerebral.
Cacilda foi levada para o hospital onde permaneceu em coma, durante 38 dias.
Cacilda Becker faleceu em São Paulo, no dia 14 de junho de 1969.
CONSIDERADA UMA DAS PERSONALIDADES MAIS IMPORTANTES DA CLASSE TEATRAL BRASILEIRA. FOI A PRIMEIRA ATRIZ DO TBC – TEATRO BRASILEIRO DE COMÉDIAS E FUNDOU SUA PRÓPRIA COMPANHIA, O GRUPO DE TEATRO CACILDA BECKER, AO LADO DO MARIDO WALMOR CHAGAS E DO CONSAGRADO DIRETOR ZIEMBINSKI, ALÉM DE SUA IRMÃ CLEYDE YÁCONIS EM 1968, PRESIDIU A COMISSÃO ESTADUAL DE TEATRO (SP) E, COM SEU FALECIMENTO EM 1969, FOI HOMENAGEADA PELO GOVERNO DO ESTADO QUE DEU SEU NOME PARA O TEATRO-AUDITÓRIO DA TV CULTURA PÁGINA 3
Momentos Felizes
FRIAGEM
Era uma tarde de outono. O céu, despido de todas as nuvens exibia um sol muito branco e luminoso. Logo, logo, o inverno estaria chegando e mostrando as mudanças climáticas, recomendando o uso de agasalhos de lã para proteção das mãos, dos pés, pescoço e cabeça.
Na sua pouca idade ela não sabia dessas coisas. Não sabia o que era alteração do aquecimento corporal e não sabia também a razão ou razões das variações repentinas, ou intermitentes, sentidas em seu pequeno corpo.
Seus pais e em especial a mãe, por natural intuição preocupava-se. Em seus primeiros anos de escola primária, ouvira da professora noções de saúde, bactérias e vírus que poderiam afetar homens, mulheres, jovens, crianças e também os animais quando chegava a estação de inverno e falava também, de uma tal de tuberculose.
A professora aparentava ser muito jovem. Aparentava só, pois, na realidade era uma senhora de longa vivência e de longa experiência educacional; nas suas preleções de ciências citava sempre um nome que, mesmo sem o saber, ficaria para sempre gravado na memória daquelas crianças seus alunos e alunas.
Ao falar sobre saúde, citava um médico e bacteriologista alemão de nome Robert Koch (18431910) que em seus estudos fez uma descoberta de grande repercussão mundial, pois tratava-se do bacilo causador da tuberculose e desenvolveu, a seguir, a tuberculina bruta que ao final, em sua homenagem pela descoberta, recebeu o seu nome.
Sua mãe olhando para a menina imóvel em sua cama, olhos fechados, muito branca e apresentando um aquecimento corporal anormal, decidiu pedir a um amigo que fosse procurar, de imediato, um médico ou algum boticário que pudesse atendê-la naquela emergência.
Com a chegada daquele homem e examinado o
Roque Roberto Pires de Carvalho
estado geral da menina, recomendou que a mesma fosse levada ao jardim, pois, o sol naquele dia do álgido mês poderia ser-lhe benéfico ao seu estado geral; recomendou também, por cautela, que aplicasse um anti-febril e caso encontrasse nas farmácias uma dose de uma vacina conhecida como BCG (ou BKG), a mesma poderia também ser ministrada, despedindo-se a seguir e dispensando o valor da consulta.
A mãe, ao ouvir falar em BCG lembrou-se novamente da professora; lembrou-se também do Bacilo de Koch e só não conseguiu decifrar o significado da letra G, fato este, sem muita relevância. A menina abrindo seus olhos negros e mostrando dentes muito alvos, esboçou um sorriso, deixando transparecer as esperanças de melhora. Vizinhos preocupados chegavam à porta perguntando sobre o estado geral da paciente. Esses vizinhos já tinham ouvido falar de uma tal de Tísica, só não sabiam bem o que era isso. Seria verdade que a menina estava com isso?
Sua mãe, mais que preocupada preparou os remédios indicados, inclusive a tal vacina e, sem muitas esperanças em face da tosse freqüente e produtiva, mostrava-se desolada.
Familiares e vizinhos uniram-se em orações. Fé, muita fé, primeiramente em Deus criador e Senhor de tudo e, posteriormente, esperanças infinitas depositadas naquela vacina e no seu descobridor.
Seguramente, um milagre estava acontecendo! O estado febril da menina começou a ceder para os limites aceitáveis pela ciência e a alegria retomava ao lar até então entristecido. Vizinhos fizeram uma festa em agradecimento pelo acolhimento das suas preces e orações...
Que lindo estava o céu nesse dia! Sobre aquela casa branca e azul dava gosto ver a revoada de variados passarinhos com seus trinados miúdos. Uma diáfana borboleta colorida, que ninguém antes havia visto, pôs-se a voar e a revoar, com insistência sobre as flores do jardim.