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Acervo Gesiel Jr

Diário da Cuesta 2

Arquidiocese de Botucatu

No início do século, Botucatu já se constituía em importante polo irradiador de cultura e “boca do sertão”, entrada para a imensidão do interior... Na segunda metade do século retrasado, a imigração dos americanos do sul, derrotados na Guerra Civil Americana, propiciou a que Botucatu passasse a ser importante sede do Protestantismo, inclusive com escolas, as melhores, criadas para atenderem à exigente clientela que tinha vindo de outra cultura e de outra realidade.

Mesmo com a diminuição da presença física dos norte-americanos, no início de 1900, Botucatu continuava com a presença forte dos protestantes e sua influência na sociedade botucatuense Esse, acreditamos, o motivo principal da criação da Diocese de Botucatu, que teve no Monsenhor Paschoal Ferrari o seu grande batalhador, sabendo motivar os chefes políticos de então e, com diplomacia, até os protestantes quanto à importância da criação de uma Diocese.

Atestando a afirmativa de que era grande a influência do protestantismo entre nós, basta que se destaque a vinda para Botucatu do Dr. Vital Brasil, trazido pela comunidade protestante local que tinha a sua escola, o seu dentista, o seu cemitério e, por quê não, o seu médico?

No ano de 1904, a 3 de julho, acontecia reunião da Comissão Pró-Instalação do Bispado, na residência do Monsenhor Ferrari. Os presentes : o Cel. Antônio Cardoso do Amaral ( o Nenê Cardoso, Intendente Municipal), o Cel. Raphael Augusto de Moura Campos, o Cel. Amando de Amaral Barros, João Batista de Souza Aranha, Antonio de Carvalho Braga, José Vitoriano Villas Boas e Domingos (Domingão) Gonçalves de Lima.

(do livro “Memórias de Botucatu”, 1995)

Monsenhor Paschoal Ferrari, indiscutivelmente, foi o grande paladino da criação de nossa Diocese. Na ocasião, Botucatu disputou com o município de Itu essa primazia. De se destacar que a família Cardoso de Almeida liderava politicamente São Paulo (José Cardoso de Almeida) e tinha estreitos laços de parentesco com o Monsenhor Ferrari, além do prestígio sempre discreto mas poderoso do Conde de Serra Negra A criação de novas dioceses já se fazia necessária : a Diocese de São Paulo abrangia parte do sul de Minas Gerais, todo o Estado de São Paulo e quase todo o Estado do Paraná Após muita luta, sempre tendo à frente o Monsenhor Ferrari, em 1908, Sua Santidade o Papa Pio X, criava a Diocese de Botucatu, com território abrangendo 50% do Estado de São Paulo, limitando-se, ao norte, com o Rio Tietê, ao sul com o Paranapanema, a leste com o Oceano Atlântico e a oeste com o Rio Paraná.

Com a criação da Diocese, foi designado como seu 1º Bispo, D. Lúcio Antunes de Souza, sagrado em Roma, em 15/11/1908, tomando posse na Diocese em fevereiro (20) de 1909, sendo que o Monsenhor Paschoal Ferrari, governou a Diocese em seus primeiros dias.

Dom Lúcio, sem dúvida nenhuma, foi o grande consolidador de nossa Diocese. Sebastião de Almeida Pinto, em seu livro “No Velho Botucatu”, edição de 1955, exaltou a figura do bispo pioneiro : “O primeiro Bispo de Botucatu foi D. Lucio Antunes de Souza, mineiro de Lençóis do Rio Verde, que era secretário do Bispado de Diamantina. Grande figura do clero. O ilustre prelado foi sagrado em Roma, a 15 de novembro de 1908. No dia 20 de fevereiro de 1909, para tomar conta de sua Diocese, chegava a Botucatu o grande pastor. Recepção estrondosa. Uma verdadeira consagração. A cidade inteira estava na estação. Cinco mil pessoas entusiasticamente saudavam o prelado. Em nome da Diocese, foi ele saudado pelo MM Juiz de Direito da Comarca, o Dr. José de Campos Toledo. Depois, com enorme cortejo, sob o estrugir da `foguetaria, com as bandas tocando alegremente, Sua Excelência Reverendíssima, foi conduzido à residência episcopal. Esta era a modesta casinha existente onde hoje está a Casa das Meninas “Amando de Barros”. Começou o fecundo apostolado de D. Lúcio, o Bispo caboclo como era chamado, apesar de sua cultura notável. Pela sua simplicidade, pela sua modéstia e disposição para viajar pelos sertões, pelo amor que tinha aos trabalhos agrários, D. Lúcio era mesmo um Bispo caboclo Graças aos seus esforços, criaram-se novas paróquias e construiram-se muitas igrejas. Tivemos o Seminário e o Palácio Episcopal. Trouxe o Colégio dos Anjos, que se transformou nesse magnífico e modelar educandário que é o Instituto Santa Marcelina Esta casa de ensino é um dos motivos de orgulho, aliás justo orgulho, dos botucatuenses. D. Lúcio executou um sem número de obras, desenvolvendo o progresso espiritual e intelectual da zona, atingindo índices que não podem ser expressos por cifras, porque não são construções materiais que se avaliam aos metros ou às toneladas. Justas são as palavras que um historiador a seu respeito escreveu : “Grande Bispo, Grande Homem ! Não são demasiadas as homenagens que a cidade lhe prestou dando seu nome a uma vila, a uma das principais avenidas da urbe e a um dos seus grupos escolares.

A morte de D.Lúcio foi uma grande perda para a religião e para o progresso da cidade A riquíssima Diocese, em pouco tempo, devido a uma administração ruinosa do seu sucessor, tornou-se quase que massa falida, em verdadeira liquidação... Com o falecimento de D. Lúcio Antunes de Souza, a 19/10/1023, passou a responder pela Diocese o Monsenhor Domingos Magaldi, até 02/02/1925, quando o nosso 2º Bispo Diocesano, Dom Carlos Duarte Costa tomou posse ante uma cidade receptiva e carente da liderança segura de um Pastor Festivamente recepcionado, Dom Carlos iniciou um dos períodos mais discutidos da Igreja Católica Brasileira. Personalidade forte, vindo do Rio de Janeiro, com inúmeros amigos na vida política, Dom Carlos não era o que poderíamos chamar um bom administrador. Muito mais político que prelado, Dom Carlos chegou a desagradar os poderosos chefes políticos de então Essa atividade política, aliada ao lamentável desempenho administrativo, chegando à beira do desastre, além de fatos que “Interna corporis” tinham a sua gravidade, levaram a Santa Sé a exonerar Dom Carlos, designando-o Bispo de Maura, a 21/10/1937.

Como ponto positivo de sua gestão, ficou o início da construção de nossa atual Catedral, nos idos de 1927 O Bispo de Maura viria a ser o fundador da IGREJA CATÓLICA BRASILEIRA, motivo de muita celeuma à época. Excomungado, o controverso D. Carlos não deve ter encontrado o seu caminho Em seu livro, “Memórias da Diocese de Lorena”, 1988, às fls. 67/68, Dom José Melhado

Campos escrevia : “...O que, porém, está fora de dúvida é que o infeliz fundador da Igreja Brasileira, já há alguns anos, não se governava a si mesmo, mas era governado pelos bispos que sagrou, pelos padres que ordenou e, sobretudo, por uma mulher que os jornais chamam, com razão, “sua governanta”, a qual vigiava, constantemente, sobre ele. Essa “governanta” não permitia a aproximação de quem quer que fosse. Temia , certamente, que o desventurado bispo manifestasse a alguém seu desejo de voltar ao seio materno da Igreja, que ele abandonou. E será que o não desejou realmente? Somos de opinião que sim, e com fundamentos. Como isso nos dá pena! Pobre Bispo! Que morte verdadeiramente dolorosa a sua!

Muitos foram os que, caridosamente, procuravam entrar em contato com o ex-bispo de Maura. Tudo em vão. Uma barreira intransponível o vedava. Nós mesmo o tentamos várias vezes. Sempre, porém, aquela mulher a se pôr entre ele e nós. Conseguimos, de uma feita, o máximo de uma rápida conversa pessoal pelo telefone. Foi quando nos preparavamos para celebrar nossas bodas de prata da ordenação sacerdotal que ele nos conferiu. De repente a ligação telefônica caiu...

Mas ele morreu sem se reconciliar com a Igreja. Morreu ex-comungado pela Igreja-Mãe, morreu impenitente (ao menos no foro externo). Que lição! Que advertência, também para nós, os Bispos!”

“No período de 21/10/1937 a 29/06/1938, respondeu pela Diocese, como Administrador Apostólico, Dom José Carlos de Aguirre, Bispo de Sorocaba

(Ilustração de Marco Antonio Spernega para o livro “Memórias de Botucatu, 1995)

Diário da Cuesta 3

Como nosso 3º Bispo, a agradável surpresa: Frei Luiz Maria de Sant’Anna, orador sacro de renome nacional e já presente em nossa cidade em dois acontecimentos de grande importância: no dia 11 de fevereiro de 1911, deu-se a benção da pedra fundamental da futura igreja de Nossa Senhora de Lourdes, com a presença de Monsenhor Ferrari, Dom Lúcio e do benemérito Dr. Cardoso de Almeida e tendo como Orador Oficial , exatamente, o Frei Luiz Maria de Sant’Anna; e, no dia 08/09/1918, na inauguração oficial dessa grande obra religiosa, novamente as presenças do Monsenhor Paschoal Ferrari e do Dr. Cardoso de Almeida, mais a presença de Frei Modesto e, novamente, a presença predestinada de Frei Luiz Maria de Sat’Anna Fica o registro histórico que procuramos ilustrar com fotos das duas solenidades.

dos santos a ensinamentos ministrados por mestres insígnes de outras gerações, D, Frei Luiz Maria de Sant’Anna fizera a sua carreira no Brasil. Desde os verdes anos demonstrara ter nascido para perlustrar as veredas da religião católica. Conseguindo os seus propósitos virtuosos e vencendo as lutas e os anos, sagrou-se Bispo. Na terra uberabense iniciou essa luminosa trajetória. Dali veio para Botucatu, e aqui, dando novos rumos às coisas da Diocese tem realizado obra grandiosa... Orador de grandes recursos, tem eletrizado, do púlpito, multidão de ouvintes, com as suas orações cheias de encanto, de vida, de ensinamentos que abrem aos nossos corações as veredas do bem que devemos seguir, em busca de lenitivos divinos.”

Inegavelmente, Dom Frei Luiz Maria recuperou as finanças da Diocese e, o principal, recuperou a paz necessária à comunidade católica de Botucatu Além dos dotes de cultura, Dom Luiz era boníssimo, tendo sabido integrar-se ao povo de Botucatu. Essa convivência que começara muito antes de ter assumido a nossa Diocese imperou até maio de 1946, quando veio a falecer em nossa cidade. Por dois anos, de 05/05/1946 a 15/08/1948, respondeu pelo governo diocesano o Monsenhor José Melhado Campos, prelado querido e integrado a Botucatu.

(do livro “Memórias de Botucatu, 1995)

A 29/06/1938, tem início o bispado de Dom Luiz Maria de Sat’Anna, indo até 05/05/1946, quando veio a falecer em nossa cidade.

Dom Luiz Maria de Sat’Anna era conhecido e considerado uma das maiores culturas da Igreja Católica em todos os tempos, orador sacro de projeção nacional, conseguiu granjear para si o carinho e a dedicação da população botucatuense. A seu respeito, o “Botucatu-Ilustrado”, de 1942, destacava: “Há quatro anos a nossa terra tem como um dos maiores elementos, dentro de sua sociedade e do seu mundo católico, a figura respeitável e boníssima de D. Frei Maria de Sant’Anna, Bispo da Diocese botucatuense. Conhecemos esse ilustrado antistite na tradicional e culta cidade do Triângulo Mineiro: Uberaba. Ali, onde S.Excia. Rvma. era tão querido e venerado pelos uberabenses que viam em tão eminente Pastor de Almas um dos maiores vultos da Igreja Católica do Brasil. Brasileiro de coração e alma, ungido

O nosso 4º Bispo e que viria a ser o nosso 1º Arcebispo, vindo da Bahia, foi Dom Henrique Golland Trindade, OFM, o grande obreiro das obras sociais. Exerceu o Bispado de 15/08/1948 a 18/08/1958, e exerceu o Arcebispado de 18/08/1958 a 18/04/1968, quando renunciou por motivo de idade, de acordo com os preceitos canônicos.

Dom Henrique, que viera da Diocese de Bonfim, onde realizara esplêndida obra social, dedicou-se de corpo e alma a atividade social em nossa cidade. Fundou a Ordem religiosa “Servas do Senhor” e idealizou, construiu e consolidou a “Vila dos Meninos da Sagrada Família”, abrigo de menores carentes dotados de todas as condições de modelar estabelecimento. Durante seu governo diocesano, já em seu final, ocorreu o começo da movimentação dos padres “rebeldes” que, depois de sua renúncia, e antes da posse do novo Arcebispo, fizeram o que se chamou à época, a “greve dos padres”, contrários que eram à posse do novo Arcebispo Foi a 1ª Greve de Padres da história católica brasileira! Os acontecimentos, de suma gravidade e, exatamente por isso, requerem mais um período de tempo para a devida sedimentação histórica, fazendo com que a sua interpretação tenha a necessária imparcialidade.

Do período da renúncia de Dom Henrique, em 18/04/1968, até a posse do novo Arcebispo, dois administradores responderam pela Diocese: Monsenhor Francisco Claudino do Nascimento, de 21/04/1968 a 20/06/1968; e Dom Romeu Alberti, Bispo Diocesano de Apucarana, de 20/06/1968 a 12/04/1969.

Dom Vicente Marchetti Zioni foi nomeado em 12/04/1968 e tomou posse, vindo de Bauru onde era Bispo, somente em 12/04/1969. Dedicou-se a restaurar a paz na Arquidiocese, reabriu o Seminário São José e permaneceu entre nós, como o seu antecessor, por 20 anos

Atendendo à renúncia de Dom Zioni, por idade, de acordo com os preceitos canônicos, a Santa Sé atendeu ao pedido feito, designando-o para responder pela Arquidiocese como Administrador Apostólico, até a posse de nosso 3º Arcebispo: Dom Antonio Maria Mucciolo, em 09/09/1989, vindo do município de Barretos, onde exercia o Bispado. A posse de Dom Mucciolo foi festiva como a de seus antecessores Antigo aluno do Seminário São José, de nossa cidade, constituiu-se em fato inédito, eis que é a primeira vez que um ex-aluno volta para ocupar o sólio da Igreja local. Mais tarde, cursando o Seminário Ipiranga, Dom Mucciolo foi aluno de Dom Zioni, nos estudos superiores. Atuou como sacerdote em Sorocaba, atuando com Dom Melhado que, à época, era Bispo Diocesano de Sorocaba De tradicional formação romana, o que é para nós, seus novos súditos, a certeza da continuidade de paz, da vivência tranquila, da grande vigilância dos princípios que regem a Igreja de Cristo dentro da ortodoxia secular.

Dom Antonio Maria Mucciolo tem o perfil da Igreja moderna Em 1993, em uma iniciativa ousada, criou o INBRAC - Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã e com o apoio oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), criou a REDEVIDA de Televisão, contando também com o apoio do Governo Federal e do empresariado nacional.

Mais uma vez, agora no limiar de um novo século, Botucatu assume a liderança do movimento católico brasileiro. Agora de forma positiva.

NOVA REALIDADE DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL

Desde a segunda metade dos anos 60, a Igreja Católica vinha sentindo o seu distanciamento com o povo brasileiro Muito presa a formalismos, encastelada em seus templos suntuosos, NÃO fazia a indispensável interação com a população católica E os Anos 60 foram os anos da mudanças no mundo todo... A GREVE DOS PADRES (1968), ainda na transição da administração de Dom Henrique Golland Trindade, era declaradamente contra a posse do novo arcebispo, Dom Vicente Marchetti Zioni, considerado conservador. Como consequência da GREVE DOS PADRES – a 1ª do Brasil e do Mundo! -, após sua posse Dom Zioni manteve uma postura reservada e distante, embora tenha se dedicado à reabertura do Seminário São José e incentivado os Cursilhos de Cristandade.

E a “estagnação e distanciamento” da Igreja Católica coincidiu com o crescimento das chamadas Igrejas Evangélicas, das mais variadas origens, que vem sistematicamente fazendo um trabalho de convencimento da população quanto aos seus ensinamentos, com uma linguagem moderna e direta, envolvente, levando ao crescimento considerável de seus fiéis.

É preciso repensar a atuação da Igreja Católica E nesse novo contexto, tivemos a presença de Dom Aloysio José Leal Penna, vindo de Bauru, assumiu a Arquiocese de Botucatu no dia 07/06/2000, permanecendo até 19/11/2008, quando renunciou por ter completado 75 anos. Com muitas atribuições externas ligadas à Igreja, Dom Aloysio exerceu seu arcebispado atuando mais a nível estadual e nacional da Igreja. Durante sua administração, tentou-se a instalação de uma unidade da PUC/SÃO PAULO, funcionando no prédio do Seminário São José, com cursos de pós-graduação, infelizmente não prosperou essa iniciativa.

O atual Arcebispo, Dom Maurício Grotto de Camargo, foi nomeado em 19/11/2008, assumindo em 15/02/2009. Tem feito um trabalho efetivo de interação com as comunidades da Arquidiocese de Botucatu e traz a esperança de toda a comunidade católica da arquidiocese.

DOM LÚCIO ANTUNES DE SOUZA: O BISPO CABOCLO DE BOTUCATU!

DOM LÚCIO ANTUNES DE SOUZA

O nosso inesquecível 1º Bispo Diocesano - DOM LÚCIO ANTUNES DE SOUZA - carinhosamente chamado de BISPO CABOCLO, vamos elencar as conquistas que tiveram Dom Lúcio à frente e que alavancaram o crescimento e desenvolvimento de Botucatu

Importante, sempre, a releitura da HISTÓRIA DE BOTUCATU... O porquê ser chamada de “Cidade dos Bons Ares e das Boas Escolas”! O TRIPÉ EDUCACIONAL DE BOTUCATU é a origem de tudo.... O famoso TRIPÉ EDUCACIONAL DE BOTUCATU que propiciou a que conquistássemos, anos depois, a FCMBB – hoje UNESP! – representa os pioneiros visionários – Monsenhor Ferrari e Bispo Dom Lucio – que delinearam, com sabedoria, o FUTURO DE BOTUCATU!

Vamos valorizar a nossa PÁTRIA PEQUENA, a NOSSA BOTUCATU!

HISTÓRICO: No início do século, Botucatu já se constituía em importante polo irradiador de cultura e “boca do sertão”, entrada para a imensidão do interior... Na segunda metade do século retrasado, a imigração dos americanos do sul, derrotados na Guerra Civil Americana, propiciou a que Botucatu passasse a ser importante sede do Protestantismo, inclusive com escolas, as melhores, criadas para atenderem à exigente clientela que tinha vindo de outra cultura e de outra realidade.

Mesmo com a diminuição da presença física dos norte-americanos, no início de 1900, Botucatu continuava com a presença forte dos protestantes e sua influência na sociedade botucatuense. Esse, acreditamos, o motivo principal da criação da Diocese de Botucatu, que teve no Monsenhor Paschoal Ferrari o seu grande batalhador, sabendo motivar os chefes políticos de então e, com diplomacia, até os protestantes quanto à importância da criação de uma Diocese.

(do livro “Memórias de Botucatu”, 1995)

ral ( o Nenê Cardoso, Intendente Municipal), o Cel. Raphael Augusto de Moura Campos, o Cel. Amando de Amaral Barros, João Batista de Souza Aranha, Antonio de Carvalho Braga, José Vitoriano Villas Boas e Domingos (Domingão) Gonçalves de Lima.

Monsenhor Paschoal Ferrari, indiscutivelmente, foi o grande paladino da criação de nossa Diocese. Na ocasião, Botucatu disputou com o município de Itu essa primazia. De se destacar que a família Cardoso de Almeida liderava politicamente São Paulo (Deputado Federal José Cardoso de Almeida) e tinha estreitos laços de parentesco com o Monsenhor Ferrari, além do prestígio sempre discreto mas poderoso do Conde de Serra Negra

A criação de novas dioceses já se fazia necessária : a Diocese de São Paulo abrangia parte do sul de Minas Gerais, todo o Estado de São Paulo e quase todo o Estado do Paraná Após muita luta, sempre tendo à frente o Monsenhor Ferrari, em 1908, Sua Santidade o Papa Pio X, criava a Diocese de Botucatu, com território abrangendo 50% do Estado de São Paulo, limitando-se, ao norte, com o Rio Tietê, ao sul com o Paranapanema, a leste com o Oceano Atlântico e a oeste com o Rio Paraná.

Com a criação da Diocese, foi designado como seu 1º Bispo, D. Lúcio Antunes de Souza, sagrado em Roma, em 15/11/1908, tomando posse na Diocese em fevereiro (20) de 1909, sendo que o Monsenhor Paschoal Ferrari, governou a Diocese em seus primeiros dias.

estrondosa. Uma verdadeira consagração. A cidade inteira estava na estação. Cinco mil pessoas entusiasticamente saudavam o prelado. Em nome da Diocese, foi ele saudado pelo MM Juiz de Direito da Comarca, o Dr. José de Campos Toledo. Depois, com enorme cortejo, sob o estrugir da `foguetaria, com as bandas tocando alegremente, Sua Excelência Reverendíssima, foi conduzido à residência episcopal. Esta era a modesta casinha existente onde hoje está a Casa das Meninas “Amando de Barros”. Começou o fecundo apostolado de D. Lúcio, o Bispo Caboclo como era chamado, apesar de sua cultura notável. Pela sua simplicidade, pela sua modéstia e disposição para viajar pelos sertões, pelo amor que tinha aos trabalhos agrários, D. Lúcio era mesmo um Bispo caboclo. Graças aos seus esforços, criaram-se novas paróquias e construiram-se muitas igrejas. Tivemos o Seminário e o Palácio Episcopal. Trouxe o Colégio dos Anjos, que se transformou nesse magnífico e modelar educandário que é o Instituto Santa Marcelina. Esta casa de ensino é um dos motivos de orgulho, aliás justo orgulho, dos botucatuenses. D. Lúcio executou um sem número de obras, desenvolvendo o progresso espiritual e intelectual da zona, atingindo índices que não podem ser expressos por cifras, porque não são construções materiais que se avaliam aos metros ou às toneladas. Justas são as palavras que um historiador a seu respeito escreveu : “Grande Bispo, Grande Homem ! Não são demasiadas as homenagens que a cidade lhe prestou dando seu nome a uma vila, a uma das principais avenidas da urbe e a um dos seus grupos escolares.

Atestando a afirmativa de que era grande a influência do protestantismo entre nós, basta que se destaque a vinda para Botucatu do Dr. Vital Brasil, trazido pela comunidade protestante local que tinha a sua escola, o seu dentista, o seu cemitério e, por quê não, o seu médico?

No ano de 1904, a 3 de julho, acontecia reunião da Comissão Pró-Instalação do Bispado, na residência do Monsenhor Ferrari. Os presentes : o Cel. Antônio Cardoso do Ama-

Dom Lúcio, sem dúvida nenhuma, foi o grande consolidador de nossa Diocese. Sebastião de Almeida Pinto, em seu livro “No Velho Botucatu”, edição de 1955, exaltou a figura do bispo pioneiro : “O primeiro Bispo de Botucatu foi D. Lucio Antunes de Souza, mineiro de Lençóis do Rio Verde, que era secretário do Bispado de Diamantina. Grande figura do clero. O ilustre prelado foi sagrado em Roma, a 15 de novembro de 1908. No dia 20 de fevereiro de 1909, para tomar conta de sua Diocese, chegava a Botucatu o grande pastor. Recepção

TRIPÉ EDUCACIONAL DE BOTUCATU É o famoso TRIPÉ EDUCACIONAL que possibilitou a que Botucatu merecesse o slogan: «Cidade dos Bons Ares e das Boas Escolas». O famoso “Tripé Educacional” proporcionou a que conquistássemos, anos depois, a FCMBB - hoje UNESP! E na construção dessa realidade educacional, dois nomes se destacam: Monsenhor Paschoal Ferrari e Dom Lúcio Antunes de Souza!

1) 1910/1911 - ESCOLA NORMAL “Dr. Cardoso de Almeida”; 2) 1912 - Colégio dos Anjos/Santa Marcelina; 3) 1913 – Colégio Diocesano”Nossa Senhora de Lourdes/La Salle

A falta de sacerdotes sempre foi um problema para o Episcopado Nacional no passado . Os padres brasileiros eram poucos E por isso, a Igreja se socorria de padres italianos, portugueses e espanhóis, principalmente italianos, do clero secular E isto, sem falar nos padres e frades regulares, como capuchinhos, dominicanos, etc Tenho lembrança dos seguintes padres italianos, que na época trabalhavam com Dom Lúcio : Chirinéia, em Itatinga, Cônego Trombi, em Fartura; Ronsini, em Aparecida; Julianeli, em São Pedro do Turvo; Casesse, em Apiaí; Caetano Jovino, em Porangaba; Ciardela, em Conchas; Pieroni, em Laranjal; Bartolomei, em Anhembi; Amadeu, em Angatuba; e ainda Blotta, Gióia, etc. . . Grande foi a atuação de Monsenhor Ferrari na vida botucatuense Justiça lhe foi feita, quando deram seu nome a uma rua central de Botucatu Trinta e três anos de sacerdócio, num só lugar, é algo de notável, constituindo um fato digno de estudos e maiores referências O primeiro vigário de Botucatu, foi o Padre Joaquim Gonçalves Pacheco, em 1850 Pouco parou Em seguida vieram os padres Jesuino Prestes, Modesto Teixeira, Salvador Rodrigues, Bento Ferreira, Antonio Lourenço Cardoso, Francisco Miranda, Bernardo Cardoso, Paschoal Blotta, João Lopes Rodrigues. Este foi o Vigário que antecedeu ao Padre Ferrari, em 1886. Não esquentavam lugar os reverendíssimos vigários. . . Paschoal Ferrari, Padre ou Monsenhor, era um sacerdote tolerante . Vivia muito bem com os protestantes da terra E se dava cordialmente, com os italianos anticlericais, garibaldinos vermelhos, que festejavam ruidosamente o XX de Setembro, data que assinala a tomada da Porta Pia, em Roma, e consequentemente derrota do Papa, que em 1870, perdia o poder temporal sobre os italianos O escritor Francisco Ferrari Marins, na saga do café, escreveu uma trilogia : Clarão na Serra, Grotão do Café Amarelo e A Porteira Bateu . Nos seus livros, o apreciado romancista, apresenta o Padre Ferrari como uma interessante figura em época, mostrando o aspecto muito humano e às vezes materiais do boníssimo Vigário, que pastoreava muito bem seu irrequieto rebanho . Interessante é de se notar, que o escritor Marins, pertence a uma família Ferrari, que não tem parentesco com a do Monsenhor Paschoal

Sebastião de Almeida Pinto

Para se avaliar a importância do cargo de Vigário Geral, basta se avaliar o tamanho da Diocese de Botucatu Seu território era imenso Compreendia toda a enorme área situada entre a margem esquerda do rio Tietê e o litoral . Da enorme Diocese criada em 1908, foram desmembrados os Bispados de Lins, Bauru, Sorocaba, Marília, Presidente Prudente, Assis e Itapeva. Era impossível ao grande Bispo Dom Lúcio Antunes de Souza, visitar sua imensa Diocese, hoje ARQUIDIOCESE. Por isso delegava seus poderes ao Monsenhor Ferrari, que se desincumbia, a contento, de sua delicada missão.

Nestas crônicas sobre a família Ferrari, um capítulo especial cabe ao Monsenhor Paschoal Ferrari, que, durante trinta e três anos e meio foi Vigário de Botucatu Depois, no fim da vida, foi Vigário Geral da Diocese de Botucatu Aos 03 de abril de 1853, Paschoal Ferrari, filho do SCARPELINO Luiz Ferrari, nasceu na Itália, em Corfino, província de Massa Carrara. Estudou no Seminário Menor de Castel Nuovo. Fez seus estudos teológicos superiores no Seminário Maior de Massa-Carrara, onde sacerdote se ordenou em 1879. E já em 1880 chegava ao Brasil. Veio para São Paulo, para onde se dirigia o grosso da imigração italiana. Durante algum tempo, serviu como Coadjutor da Paróquia de Sorocaba. Depois, foi Vigário de Faxina ( hoje Itapeva ) e Bom Sucesso ( atual Paranapanema ). Em 15 de maio de 1886, o padre Paschoal Ferrari assumiu a Paróquia de Botucatu, cidade onde terminou seus dias, em 21 de abril de 1922, aos 69 anos de vida. Foi Vigário da Paróquia até 28/12/1919, e depois, até sua morte, Vigário Geral da Diocese de Botucatu. Desse longo pastorado, muitos frutos resultaram . Do meu saudoso amigo, Padre Salústio Rodrigues Machado, primeiro padre ordenado em Botucatu, ouvi as melhores referências sobre Monsenhor Ferrari: “ Era um sacerdote exemplar. Trabalhador. Amigo do progresso. Aos seus esforços se deve em grande parte, a criação da Diocese de Botucatu,da qual foi Vigário Geral.”

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

Pinto

Sebastião de Almeida

“O primeiro Bispo de Botucatu foi D. Lucio Antunes de Souza, mineiro de Lençóis do Rio Verde, que era secretário do Bispado de Diamantina. Grande figura do clero. O ilustre prelado foi sagrado em Roma, a 15 de novembro de 1908. No dia 20 de fevereiro de 1909, para tomar conta de sua Diocese, chegava a Botucatu o grande pastor. Recepção estrondosa. Uma verdadeira consagração. A cidade inteira estava na estação. Cinco mil pessoas entusiasticamente saudavam o prelado. Em nome da Diocese, foi ele saudado pelo MM Juiz de Direito da Comarca, o Dr. José de Campos Toledo. Depois, com enorme cortejo, sob o estrugir da `foguetaria, com as bandas tocando alegremente, Sua Excelência Reverendíssima, foi conduzido à residência episcopal. Esta era a modesta casinha existente onde hoje está a Casa das Meninas “Amando de Barros”. Começou o fecundo apostolado de D. Lúcio, o Bispo Caboclo como era chamado, apesar de sua cultura notável. Pela sua simplicidade, pela sua modéstia e disposição para viajar pelos sertões, pelo amor que tinha aos trabalhos agrários, D. Lúcio era mesmo um Bispo caboclo. Graças aos seus esforços, criaram-se novas paróquias e construiram-se muitas igrejas. Tivemos o Seminário e o Palácio Episcopal. Trouxe o Colégio dos Anjos, que se transformou nesse magnífico e modelar educandário que é o Instituto Santa Marcelina. Esta casa de ensino é um dos motivos de orgulho, aliás justo orgulho, dos botucatuenses. D. Lúcio executou um sem número de obras, desenvolvendo o progresso espiritual e intelectual da zona, atingindo índices que não podem ser expressos por cifras, porque não são construções materiais que se avaliam aos metros ou às toneladas. Justas são as palavras que um historiador a seu respeito escreveu : “Grande Bispo, Grande Homem! Não são demasiadas as homenagens que a cidade lhe prestou dando seu nome a uma vila, a uma das principais avenidas da urbe e a um dos seus grupos escolares.

Dom Lúcio Antunes de Souza

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LEITURA DINÂMICA

– Na edição de 1990, do livro “Memórias de Botucatu”, a reprodução do “Almanack de Botucatu, de 1920, nos traz o registro histórico da reunião da Comissão do Patrimônio do Bispado de Botucatu, em 1908, realizada em Botucatu.

2

– A ABL tem tido a felicidade de uma convivência harmônica e intelectualmente produtiva com os Chefes da Igreja Católica em Botucatu. Assim, tivemos como Membros Efetivos da ABL, os Arcebispos Metropolitanos, Dom Henrique Golland Trindade, Dom Vicente Marchetti Zioni, Dom Antônio Maria Mucciolo e Dom Maurício Grotto de Camargo.

3

– O grande arquiteto da criação da Diocese de Botucatu foi o Monsenhor Paschoal Ferrari Juntamente com o nosso primeiro bispo diocesano, Dom Lúcio Antunes de Souza, consolidou a nossa Diocese.

4– Registro Histórico do lançamento da pedra fundamental do Santuário de “Nossa Senhora de Lourdes”, em 1911 e a sua inauguração, em 1918.

(do livro “Memórias de Botucatu, 1995) (do livro “Memórias de Botucatu”, 1995)

Diário da Cuesta

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