Dossiê repúblicas 16 jan 2014

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Solares e Repúblicas de Coimbra em risco

diário as beiras | 16-01-2014

Textos | Paulo Marques Arquivo-Luís Carregã

Repúblicas não podem ser

No último ano, muitas coisas mudaram na vida das Repúblicas de Coimbra. O “golpe” maior, porém, aconteceu co da Universidade. Também por isso, o reitor decidiu “acrescentar” as relações com estas casas comunitárias às inc

Arquivo-Luís Carregã

Arquivo-Luís Carregã

Arquivo-Carlos Jorge Monteiro

Arquivo-Bernardo Parra

Por que saíram as Repúblicas da “órbita” dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra? O que acontece é que as Repúblicas eram uma espécie de apêndice dos SASUC e viviam como que penduradas num ou noutro apoio. Mas viviam tranquilas assim. De repente, surgiu a nova lei das rendas e as casas vieram ter connosco, pedindo que a Reitoria se pronunciasse com urgência para fazer pressão, nomeadamente junto da Assembleia da República e dos deputados. Aí, o senhor reitor acedeu e coube-me colaborar na elaboração de um parecer nesse sentido. Foi uma questão pacífica, no seio da Reitoria? Sim. Mas, desde o início, percebemos que os tempos são outros e que seria muito dif ícil manter as Repúblicas como exceção total. Por outro lado, numa altura em que a crise e as dificuldades económicas são transversais a toda a sociedade, também se torna um pouco difícil manter esta situação de exceção. Para mim, aliás, a questão da equidade no tratamento, perante todos os estudantes, é fundamental. Eu sei, todos sabemos, quantos estudantes têm de pagar rendas altíssimas, quantas famílias vivem com dificuldades para manter os filhos na universidade. Por isso, eu não consigo e não farei nunca nada que legitime essa exceção. Exceção que é quase um privilégio... Em certa medida sim. Aliás, foi isso mesmo que transmiti, sempre, às Repúblicas. No entanto, quando se percebeu que era inevitável a alteração legislativa e que, a curto prazo, os senhorios poderiam mesmo alterar as rendas, começámos a ser contactados no sentido de encontrar mecanismos de viabilizar as rendas atuais, em sintonia com a câmara. E devo dizer que nos foram feitas as propostas mais insólitas, como,

por exemplo, a aquisição de um dos imóveis disponibilizando a República um quarto em permanência para alguém que quisesse ter uma experiência de viver numa República. Em suma, um privilégio. As casas invocam o estatuto histórico e cultural que angariaram ao longo de décadas... Sim, e também o papel importante que tiveram no reconhecimento da Alta Universitária como Património da Humanidade (embora isso não seja consensual, entre eles...). Mas não deixa de ser um privilégio, pelo menos a esse nível, em que a Universidade apenas faria a aquisição dos imóveis mas, ao mesmo tempo, não teria o controlo sobre quem pode e não pode ocupar. Não obstante, a Reitoria tem estado ao lado das Repúblicas em iniciativas concretas, nomeadamente, junto da Câmara de Coimbra... É verdade. Eu própria acompanhei-os e participei com eles em diversas reuniões com a autarquia, nomeadamente, com o vereador da Habitação, procurando articular com as políticas da câmara municipal para esse setor. Isto depois de eu ter elaborado um documento em que a Associação Académica reconhece a existência das Repúblicas, que não existia e que estava previsto na Lei. O apoio disponibilizado é de que natureza? Disponibilizámos apoio jurídico e também facilitámos o contacto com a entidade bancária com que trabalhamos, no sentido de terem um balcão que os apoiasse. Para além disso, disponibilizámos de imediato um técnico da universidade (um engenheiro civil), que começou por fazer uma avaliação dos imóveis, no plano f ísico. Quem têm sido os seus interlocutores? Pois, isso tem sido outra dificuldade. Eu fui fazendo

Vice-reitora Helena Freitas assume que a autonomia das Repúblicas é o que as

a identificação dos problemas à medida em que as casas vinham ter comigo. Pedimos a cada uma que preparasse um dossiê que descrevesse o histórico de cada República, incluindo investimentos feitos e outras benfeitorias. Isto para que, quando se fizer a avaliação dos imóveis, a Reitoria possa ajudar na negociação com os senhorios. Já conseguiu falar com todas as Repúblicas? Não. O que tive, foi uma reunião, no final do ano passado, com o Conselho de Repúblicas (CR), por causa do apoio dos SASUC. Eles tinham manifestado o receio de perderem esse apoio, mas o reitor assegurou-lhes que se mantinha, e na mesma base, que é de

cerca de 50 mil euros anuais. São, sobretudo, víveres. Como é que é distribuído esse apoio? A base é a informação do CR, que nos diz quantos elementos tem cada casa e, depois, a distribuição é “por cabeça”, digamos assim. Ou seja, eles deixarão de se alimentar nas cantinas e receberão o correspondente ao valor das refeições. Como controla a Universidade a informação do CR? Pois, essa foi uma questão que discuti com eles... E não posso dizer que tenha um número exato. Aliás, a mesma coisa sucede com o Estádio Universitário, em que não consigo ter um número exato de estudantes universitários inscritos


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