Especial - Mercado de TI faturou US$ 61 bi

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Carlos Ossamu mercado brasileiro de Tecnologia da Informação (TI) movimentou US$ 61,6 bilhões no ano passado, segundo levantamento da empresa de consultoria IDC Brasil, um crescimento de 15,4% e m re l a ç ã o a 2 0 1 2 . D e s t e montante, hardware participou com US$ 36,5 bilhões, serviços com US$ 14,4 bilhões e software com US$ 10,7 bilhões. Na América Latina, o Brasil está no topo da lista em investimentos em TI, representando 47,4% do mercado; já no mundo estamos na sétima posição, com 3%. Segundo Jorge Sukarie, presidente da Abes – Associação Brasileira das Empresas de Software, este ano o setor deve crescer menos, em torno de 12%; e em 2015 o Brasil deve superar a França em investimentos em TI. Nesta entrevista, o executivo fala sobre o mercado, as tendências, desafios e os entraves que atrapalham o setor.

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Jornal do empreendedor

São Paulo, sábado, domingo e segunda-feira, 9, 10 e 11 de agosto de 2014

ESPECIAL

de software deve ser encarado como serviço. Em alguns Estados, como São Paulo, eles cobram ICMS sobre a mídia e o manual. Assim, a nossa recomendação no Estado de São Paulo é que o associado pague os dois impostos, apesar de ser bitributação, pois entendemos que o valor não é elevado em relação ao ICMS e por isso não vale a pena essa briga, pois isso pode colocar a empresa em situação de insolvência. De qualquer forma, é uma situação absurda.

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Diário do Comércio – Como tem sido o desempenho do setor de Tecnologia da Informação (TI)? Jorge Sukarie - O setor de TI tem crescido em ritmo acelerado, na casa dos dois dígitos. No ano passado este mercado cresceu 15,4%, contra uma média mundial de 4,8%, ou seja, crescemos três vezes mais que o mundo. As empresas têm investido maciçamente em tecnologia? Sim, os investimentos em TI no ano passado somaram US$ 61,6 bilhões, dos quais hardware com US$ 36,5 bilhões, serviços com US$ 14,4 bilhões e software com US$ 10,7 bilhões. Um país é mais maduro tecnologicamente quando se investe mais em software e serviços. O ideal é que tivéssemos um investimento superior a 50% em software e serviços. Hardware é a parte de infraestrutura, a inteligência está em software e serviços. O Brasil vem caminhando nesta direção, pois vem crescendo os investimentos nesses setores de inteligência. Mas no ano passado as vendas de tablets e smartphones dispararam, mas a expectativas para este ano é de vendas menores desses equipamentos. Aplicativos para tablets e smartphones geram receitas? Estamos naquele fenômeno da 3ª Plataforma, como a IDC chama, quando o usuário tem vários devices além do computador pessoal, como tablet, smartphone, notebook e desktop. Isso gera uma demanda por aplicativos. Estamos migrando para um am-

Mercado de TI faturou US$ 61 bi O Brasil é o sétimo no ranking de países que mais investem em tecnologia e o primeiro na América Latina

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dólares Bilhões de mento do foi o fatura oftware setor de s biente onde teremos milhares de aplicativos móveis. Até pelo perfil do usuário de smartphones e tablets, esses aplicativos têm uma modalidade de comercialização diferente do que estávamos habituados com os PCs. Há muitas oportunidades para o Brasil neste segmento de desenvolvimento de aplicativos, mas que são comercializados de maneiras diferentes, eventualmente geram receitas não pela venda direta, mas por merchandising ou por anúncios.

A participação do Brasil no mercado global de TI cresceu para 3%, o que é positivo, não é mesmo? Há pouco tempo o Brasil representava 1% do mercado global de TI, hoje a participação é de 3% e somos o sétimo maior mercado. A expectativa é que passemos a França em 2015, já que temos crescido dois dígitos por ano, ao contrário da França. Apesar das previsões pessimistas da economia, o mercado de TI deve crescer 12% este ano, menos do que em 2013, mas mesmo assim na casa dos dois dígitos – o mundo deve crescer 4,6%. Novas formas de comercialização de softwares surgiram no mercado, como o SaaS (software como um serviço). Isso é positivo?

Os principais polos Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), vinculada à Secretaria Estadual de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo, concluiu estudo que identifica os principais polos e municípios paulistas nos setores de software e serviços de tecnologia da informação e telecomunicações. O estudo apurou que o segmento, formado por empresas de micro e pequeno portes, empregava 249 mil pessoas em 2012, distribuídas em 9.500 empresas no Estado. Entre 2008 e 2012, intensificou-se na capital a concentração de algumas atividades especializadas. Nesse período, os dois segmentos que tiveram crescimento mais expressivo

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na participação do total dos empregos foram os de desenvolvimento de programas de computador sob encomenda, que passou de 46,6% para 62,1%, e o de consultoria, que aumentou de 44,8% para 54,6%. O município de São Paulo se destacou como principal polo no subgrupo de software, com 46% das pessoas ocupadas na atividade. Das 25 empresas com mais de 500 pessoas ocupadas localizadas no Estado, 19 estavam na capital. O subgrupo também tem destaque em outros municípios paulistas. A análise dos empregos gerados no segmento de software entre 2008 e 2012 mostrou a consolidação da região metropolitana de

Hoje o usuário tem diversas formas de adquirir o software, antigamente era obrigado a comprar licenças, fazer um investimento inicial que muitas vezes era inacessível para uma pequena empresa. Hoje é possível pagar de várias formas, como uma mensalidade, no caso do SaaS. Os aplicativos para devices muitas vezes são gratuitos, mas se o usuário precisar de uma versão mais sofisticada, ele paga por isso. Hoje há mais alternativas para adquirir o software de forma legal. É um ponto bastante positivo para o usuário e também para a indústria. A nossa principal bandeira é a proteção da propriedade intelectual, com o combate à pirataria. Quando fundamos a Abes, a pirataria era superior a 90%. Os últimos dados indicam que o índice agora está em 50%, caiu 3% em relação a 2011. Ainda é uma taxa alta, mas em comparação há três décadas,

tivemos um grande avanço. A média mundial é de 43% e o Brasil é hoje o país com menor índice de pirataria na América Latina. Em termos de valores, as perdas superam os US$ 2,8 bilhões. Muitas vezes o software é bitributado, pagando ISS e ICMS. Este problema persiste? Este problema continua, apesar de que, no nosso entendimento, software é serviço e deveria pagar somente ISS. Porém, existe o entendimento de que se pode categorizar o software, como software de prateleira e games, que deveriam pagar ICMS por serem mercadorias. Tem Estado que entende que game de computador em nenhuma hipótese é serviço. Este problema perdura há muito tempo. Fica esta insegurança jurídica, mesmo com a Lei Complementar 116 de 2003, que deixa claro que o licenciamento

Quais outros entraves o setor enfrenta? Na área de relações de trabalho é inconcebível pensar em um setor de tecnologia, que trabalha com inovação, em que o funcionário precisa bater o cartão, guardar o comprovante em papel. É preciso ter o entendimento que o profissional não tem hora para trabalhar, a dinâmica do nosso setor é bem diferente de uma fábrica – tem gente que produz melhor de manhã, outro de madrugada, a empresa precisa se adaptar ao jeito que esses grandes talentos trabalham. Mas no cenário que a gente vive, eles precisam bater cartão e pegar o comprovante. Infelizmente a legislação não permite ser diferente. Há outros pontos que a Abes defende? Outro ponto que defendemos envolve criar no País um ambiente de negócio favorável ao crescimento das empresas do nosso setor. Isso significa abrir e fechar uma empresa com maior facilidade, uma carga tributária adequada, clara, fácil de ser cumprida, e menos burocracia. Neste quesito de ambiente de negócio, em todos os estudos o Brasil sempre aparece em posições muito ruins. As dificuldades aqui são inúmeras, existe uma quantidade enorme de obrigações acessórias, demandando um número grande de funcionários na área fiscal, cada Estado tem regras diferentes, abrir uma filial pode levar muito tempo, tudo isso encarece o custo. Também os juros são elevados e faltam linhas de financiamento adequadas.

Jorge Sukarie, da Abes.

paulistas de tecnologia

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Campinas como centro de desenvolvimento de programas de computador sob encomenda e desenvolvimento e licenciamento de programas de computador customizáveis. As empresas de grande porte especializadas no desenvolvimento de programas sob encomenda instaladas em Jaguariúna e Americana, somadas às de Campinas, formam o segundo maior contingente de pessoas ocupadas na atividade no Estado. Já São José dos Campos e Ribeirão Preto destacaram-se no período como potenciais polos de Tecnologia da Informação. Entre 2008 e 2012, a participação das atividades de desenvolvimento de programas de computador sob encomenda em São José dos Campos aumentou de 7,8%

para 17,2%, e o desenvolvimento e licenciamento de programas de computador customizáveis cresceu de 4,4% para 10,0%. Em termos absolutos, esses empregos ampliaram-se de 145 para 804. Em Ribeirão Preto, no mesmo período, a participação das atividades de desenvolvimento e licenciamento de programas de computador customizáveis cresceu de 15,3% para 35,4%, passando de 126 para 808 pessoas ocupadas. O estudo identificou, ainda, que as empresas do setor de software e serviços de TI e Telecom têm trabalhadores com elevado nível de instrução. Em 2012, enquanto graduados e pósgraduados representavam 18,8% do total de empregos no Estado, no setor essa presença chegou a 47,4%.


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