Melhores dos maiores 2013 (pág. 193 a 452)

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lação e contratos de energia. “Nos países onde se respeita o mercado livre, ele representa uma opção segura e economicamente interessante para os agentes.” Desde 2007, por exemplo, o mercado europeu está totalmente aberto – até mesmo os consumidores residenciais (450 milhões de habitantes) podem escolher seu supridor. Em alguns países da América Latina, o requisito de consumo é bem menor do que os 3 MW de demanda mínima contratada que o Brasil exige. Na Colômbia, por exemplo, bastam 100 kW; no Uruguai, 250 kW. Em agosto deste ano, o presidente-executivo da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), Reginaldo Medeiros, disse que existe falta de vontade política para resolver a questão. “O mercado livre não é uma diretriz ideológica. É uma técnica regulatória para reduzir preços com transparência”, afirmou na ocasião. Para o engenheiro Jorge Trinkenreich, diretor da empresa de consultoria em energia PSR-INC, a ampliação do mercado livre é salutar, mas é preciso cuidado para que não se crie uma demanda não atendida. “É preciso investir em expansão para que ele se desenvolva a contento. Se o potencial de abastecimento não estiver assegurado, o próprio consumidor ficará inseguro.” Sobre a Medida Provisória 579, feita para baixar o preço da energia, Trinkenreich é enfático: “Foi uma mudança muito brusca. As contas para a redução foram feitas sem olhar para os detalhes. E o diabo mora dos detalhes”.

O montante é três vezes maior do que os R$ 2,6 bilhões gastos para o mesmo fim em 2012. “O critério de aversão a risco foi muito rigoroso. A qualquer baixa no nível dos reservatórios, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mandava ligar as térmicas. Mas alguém paga a conta... e é sempre o consumidor.” Um raciocínio financeiro que vale para o apagão que deixou o Nordeste inteiro no escuro no fim de agosto. Logo após o incidente, causado por um incêndio em uma fazenda que motivou o desligamento automático de duas linhas de transmissão, iniciou-se a discussão sobre a melhor forma de blindar o sistema. A opção preferida do ONS é dobrar o nível de redundância para evitar que a perda de um elemento da rede elétrica (linha de transmissão ou subestação) provoque problemas no fornecimento de energia. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) pediu cautela, devido ao alto custo desta “segurança”. “Se você quer um sistema perfeito, pagará muito caro por isso. Não há outra saída”, concorda o consultor Trinkenreich. O preço ficará ainda mais pesado quanto menos forem as opções de produção da energia. “A cada dia, por conta das restrições ambientais, se limita a construção de hidrelétricas com reservatórios. O problema é que estão esquecendo que as energias eólica e solar são limpas e renováveis, mas também são intermitentes. Além do que as eólicas se concentram no litoral, o que faz com que se gaste muito no processo de transmissão.” A sustentabilidade do setor, defende o consultor, implica considerar as questões ambientais, mas não desprezar o cenário econômico. “O ideal é fazer um mistura de usinas hidrelétricas, eólicas e solares, tendo as térmicas apenas como reserva. Agora, se não se aceita reservatório nem carvão, nem óleo combustíg vel, vai querer o quê? Vela?” (OB)

Para afastar o risco de apagões, as térmicas estão a plena carga, ao custo previsto de R$ 11 bilhões.

Perfeição é cara Os detalhes aos quais Trinkenreich se refere são as situações conjunturais que acabam por mexer no custo. Em 2013, com os reservatórios das hidrelétricas no nível mais baixo desde 2001, quando houve racionamento, o governo prevê gastar R$ 11 bilhões para manter as usinas térmicas ligadas a plena carga até dezembro para afastar o risco de apagões.

BALANÇO ANUAL – MELHORES DOS MAIORES 2013 | 303


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