Especial aos mestres e doutores com carinho

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Jornal do empreendedor

São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 2013

ESPECIAL Número de mestres e doutores cresceu mais de 300% entre 1996 e 2011, impulsionado pela maior oferta de cursos em instituições de ensino particulares. Estudo do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, traçou um panorama do setor de pósgraduação no Brasil.

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número de mestres e doutores formados pelas universidades brasileiras mais que quadriplicou entre 1996 e 2011. Em 15 anos, a concessão de títulos passou de 13.219 para 55.047, uma diferença de mais de 300%. A informação faz parte de um estudo inédito do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O levantamento do CGEE, intitulado Mestres 2012: demografia da base técnico-científica b ra si le i ra , também apontou que este crescimento foi impulsionado, em grande parte, pela maior oferta de cursos de mestrado em instituições de ensino particulares. Este é mais um trabalho elaborado pelo CGEE, nos últimos anos, sobre a demanda e perfil dos recursos humanos necessários ao desenvolvimento do País. Ele mostra um panorama detalhado da pós-graduação no Brasil, com farto conjunto de estatísticas sobre os programas, a formação e o emprego dos mestres. A pesquisa considerou dados do Censo Demográfico do IBGE e dos ministérios da Educação (MEC) e do Trabalho e Emprego (MTE) e se segue ao

l i v r o D o u t ores 2010: Estudos da demografia da base técnicocientífica brasileira, que deu início à produção de dados estatísticos do CGEE sobre a formação e o emprego de mão de obra em nível de pós-graduação. Segundo o presidente do Centro, Mariano Laplane, "este é um tema central nas discussões sobre políticas de desenvolvimento econômico e social, em especial quando se pretende que este desenvolvimento tenha como alicerce a ciência, a tecnologia e a inovação". De acordo com os resultados apurados, quase um terço dos mestres e doutores brasileiros reside em São Paulo, mas, neste Estado, o número por mil habitantes é bem menor do que o do Distri-

to Federal e do Rio de Janeiro. Ainda de acordo com a pesquisa, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul respondem pela formação de mais da metade (54,1%) de todos os mestres brasileiros. Em 2010, São Paulo concentrava 30,14% dos títulos de mestrado entregues e 32,88% dos doutores formados; em 1996, 38,8% dos mestres brasileiros concluíam seus estudos no Estado. O s d a d o s t a m b é m m o stram uma descentralização da pós-graduação em termos geográficos: apesar de ainda predominante, a região Sudeste registrou recuo de participação no número de programas de mestrado oferecidos ao público, passando de 62% para 50%.

Instituições particulares Outro dado interessante: embora a pós-graduação ain-

da esteja ancorada nas universidades públicas, aos poucos, as particulares vêm ganhando expressiva fatia do mercado, com um crescimento superior à média, e imprimindo às federais e estaduais menor participação relativa. Em 1996, as federais concederam 56,5% dos títulos de mestrado e as estaduais, 30,2%. Em 2009, estes números caíram para 51,9% e 25%, respectivamente. O aumento ocorreu por conta das particulares, que passaram de 13,3% dos titulados, em 1996, para 22,4% em 2009. Outro aspecto levantado é que o crescimento nas instituições particulares se concentra especialmente nas áreas de Ciências Sociais e Humanas. "O perfil privado se voltou para as áreas de mais fácil estruturação do ponto de vista da oferta do curso; são as que precisam de uma infraestrutura mais leve", ressalta o supervisor da pesquisa do CGEE, Antônio Carlos Galvão. Em números absolutos, as instituições de ensino parti-

culares formaram 8.696 mestres em 2009, enquanto as estaduais conferiram diploma a 9.712 mestrandos e as federais, 20.142 títulos.

Desigualdades persistem Do ponto de vista dos alunos, a pesquisa do CGEE permitiu apurar que oito de cada dez pós-graduados, no Brasil, pertencem à raça branca. Embora ela corresponda a 47% da população total do País, segundo as estatísticas oficiais, quando analisada a cor da pele do contingente de detentores de títulos de mestres e doutores, a fatia correspondente à raça branca chega a 80%. Apenas 3% do total de títulos de mestrado pertencem a pessoas da raça negra e 12% dos doutores são pardos, o que reflete a seletividade do sistema educacional. Os dados obtidos pelo estudo também apontam uma significativa desigualdade de gêneros na elite acadêmica brasileira. Embora as mulheres já representem mais da metade dos mestres do País desde 1997, a remuneração média que lhes corresponde é 42% inferior à dos homens com a mesma titula-

Divulgação

Titulados tendem a se deslocar rumo às indústrias, que têm procurado profissionais de alta formação Sofia Daher

ção, sendo a discrepância mais acentuada nas regiões Sul e Sudeste (44%) e menos na região Norte (18%). Ainda segundo a pesquisa do CGEE, a maior parte dos titulados no Brasil (42,73%) atua na área acadêmica: apenas 27,4% estão empregados no setor privado e outros 29,63% se encontram no serviço público. A disparidade é ainda maior quando se trata de doutores: de cada 10 detentores do título que se encontram em postos de trabalho formais, 8 são empregados por estabelecimentos de ensino. Entre os mestres, a proporção é de 4 para 10. Ainda com relação a este aspecto, verificou-se que a proporção de mestres com emprego formal na indústria de transformação é mais de três vezes maior que a dos doutores titulados no País, entre 1996 e 2009. Nesse período, o primeiro grupo teve participação de 4,6%, contra 1,4% do segundo nas atividades produtivas.

Migração para a indústria

De acordo com Sofia Daher, assessora técnica do CGEE e uma das autoras da pesquisa, a tendência é de que a força de trabalho composta por mestres e doutores deixe de se concentrar nas universidades. O fortalecimento do setor industrial nacional tem atraído profissionais com título de doutorado. "Titulados mais recentes tendem a se deslocar rumo às indústrias, que têm procurado profissionais de alta formação", explica a pesquisadora. O processo de elaboração do estudo do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos envolveu várias instituições de renome, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação Geral de Indicadores do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.


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