DIGESTO ECONÔMICO, número 298, novembro 1982

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O maior e mais variado arquivo de dados cadastrais das empresas do País: Um cadastro especial de clientes impontuais à sua disposição. Com correspondentes em todo o País, informações sobre firmas de quaisquer cidades são fornecidas através de rela.orios escritos.

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Prezado leitor.

O DIGESTO

ECONÔMICO pública antigo trabalho de João ds Scantimburgo, "Discurso sobre a Universidade”, acrescido de novas considerações, fundamentadas na palavra de Sua Santidade o Papa João Paulo II, É um trabalho que conclui, melancolicamente, estar a universidade, como instituição, distanciando-se de seu papel, nas sociedades de nosso tempo e na preparação do futuro. O econo mista Calo Márcio Renault produziu estudo sobre a economia brasi leira de 1967 a 1982, Substancioso levantamento de um período oscilante da economia do País, porquanto vai do chamado “mila gre” aos dias difíceis do presente. O professor João Paulo Monteiro estuda a personalidade de Lenine, o mestre da burocratização. professor Minuel Reale, com a autoridade de pedagogo consumado, focaliza o problema do ensino secundário. O economista Rubens Vaz da Costa traz a debate essa velha luta a dívida externa e sua reneO oociação, O economista André Van Dam ocuoa-se de energia. O filósofo Julian Marias faz reflexões sobre a política. O engenheiro Dáoio A, de Moraes Junior estuda Caraiás. assunto que está na Mauro Chaves trata das PMEs. Os demais artigos são, todos revestem como de costume, interesse permanente, motivo ordem do dia. por que a coleção do DiGESTO ECONÔMICO ó. com frequência, compulsada e pesquisada.

O Editor

N* 298 - Novembro de 1982 - Ano XXXIX ■ DIGESTO ECONÔMICO

DIGESTO ECONOWIICO

O MUNDO DOS NEGOCIOS NUM PANORAMA MENSAL

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PUBLICAREMOS NOS PRÓXIMOS NÚMEROS

ATIVIDADES MERCANTIS NA CIDADE DE SÃO PAULO (1870-1880)

Urquiza Maria Borges

A CONFISSÃO DE UM PADRE

Luiz Eduardo Pellecer Faena

OS VALORES OCULTOS

Paulo Mercadante

A CONFISSÃO DE UM JESUÍTA REVOLUCIONÁRIO

Louis Pauwels

MARXISMO NA UNIVERSIDADE

José Carlos de Azevedo oficina.?

Discurso sobre à Universidade

Hoje é maior do que antigamente a dificuldade de reduzir a uma síntese as várias ciências e as artes.

João Paulo II

A GERAÇAO SOLITÁRIA

Se bem analisarmos hoje o Amor que totaliza os ho mens na solidariedade.

Já em 1937, estudando “La Crise Présente” (1), notava TeiIhard de Chardin que “alguma coisa ocorre na estrutura geral da consciência humana”. De nossa parte vemos a angustia do vazio, a desalentadora senIn "Etudes", 20-10-1937. a posi ção do homem contemporâneo, dentro de todas as sociedades quais ele está vinculado, nós 0 encontraremos envolto numa crosta isolante que o torna essua “gens”. Vemos, entre desencantados aflitos, que falta ao mundo de as tranho entre os de e 1) — Tellharcl de Chardin, s.j,.

de corrói as instituições mais sólidas, 0 ouro dos corpos mais puros. Solidão humana. Trágisolidão do homem. Trágica solidão a que o arrastaram as paixões do mundo.

sação de distância que separa o homem do homem, o semelhan te do semelhante e, calcinados os corações, vai-se acrescen tando entre cada um de nós o gnóstico-espiritual da ca espaço incompreensão, da hostilidade e do desentendimento. A fenda aberta na “Ordo Amoris”, des de que a marcha da História se foi desviando da estrada real para o atalho do erro, está ago- profunda e talvez irrepará(( diminutae sunt ra vel.

As yerdades que, no álveo da História, nos devem tanger do tempo para a eternidade, para a recompensa ou para o castigo, foram acalcanhadas, diminuídas, veritates”, no incisivo texto la tino dos Salmos (3). Por isso, a humanidade perdeu o roteiro daquela porta evangélica que, apesar de estreita, dá passagem para todos os homens de boa vontade.

Tudo provindo de Deus, homem é animado do sopro di vino, 0 sopro que vivifica nele a alma imortal e lhe nrepara a volta ao “Pai da Bondade”, naquela “conversão”, balancea da no pensamento neoplatônico, pressentida em Plotino e to da estratificada nos alicerces da Suma Teológica. Mas, peu-se no homem moderno o equilíbrio ontológico. Vemo-lo, então, só, terrivelmente só, pois se a sua sociabilidade é natu-

Há uma solidão humana, fez 0 deserto em Como que se torno de todos os homens. Por em redor mais que procuremos de nós outros, o Que topamos urze e a pedra, a areia são a das vastidões sáfaras e desolação das terras sem sombra. As mania imen- 0 sa água e semfestações da comunhão e do amor são assim como anacronismos, sem classificação na nomenclatura do nosso quoti diano contemporâneo. “Quando homem, por soberba, aspira à própria independência, cai fora da graça e se perde no na da (2)” Sem a graça nada é possível, senão a ordem do caos, onde a ferrugem da precarieda0 rom— Joaquim Xirau, Amor y Mundo, F.C.E., México 1940, p. 37. 3) — Ps. 11. 2)

DIGESTO ECONÔMICO

ral, não deixa ele, também, de ser anti-social, por seus vícios, por sua cupidez instintiva, pela irritabilidade caprichosa do de sejo (4).

eiTos

senosso

Devido a tantos acumulados através dos culos e às emanações do mal decorrentes desses erros, torna ram-se estranhos os homens. Criou-se, então, no seio de to das as sociedades, esta doloro sa solidão, que é o traço carac terístico e dominante *do século, como já fora o traço cada vez mais frisante dos sé culos que remontam à Reforma e se enraizam, mais tenuemente, nas heresias pré-reformistas.

Hilaire Belloc (5) já falava, há algumas décadas, sa fé está flanqueada agora por ataques maciços.

as coisas afirmadas contra Deus e 0 homem, é também uma cau sa, a causa dessa heresia mo derna que investe contra a Igre ja, última redução para ser aniquilada, quando as trevas dominarão.

que a nosser no Esta4) 5)

Daí podermos dizer que duas solidões hoje se fronteiam: a das trevas e a da luz, a do homem moderno e a da Igreja. Enquanto o homem moderno está solitário, na solidão das consciências amarguradas, a Igreja está solitária, na solidão da fé amortecida, das persegui ções, das grandes apostasias, das retaliações praticadas em seu corpo. Duas solidões opos tas. Dois sintomas da crise imensa que se abateu como uma vasta massa de chumbo sobre por forças presa inerrae, no vasto dorso da tremendamente dotadas de po- humanidade, der compressor, que avançam. Se a solidão da Igreja, so- e odas elas, classificamos co- bretudo na palavra de João mo preponderante essa angus- Paulo II, é de paciência, re- lan e solidão humana que, com signação e esperança, a do um efeito, do idealismo, o homem é de cólera, desespe- pensamento do homem oposto a ro e angústia, pois muitos mo- eus e as coisas; do panteísmo, vimentos de que o homem deus afirmado contra as coisas moderno participa e os homens; do materialismo. do, nos sindicatos, nas asso— Hj?airp*^Rmon^T’ cliri.stiaiJisme «:t les pliilosophics. Aiibier, Paris, 1939, p. 98, oc, Laj, Grandes Ilcrcjias, La Espiga de Oro, Buenos Aires, 1943, p. 209.

ciações, nas escolas, nos orga nismos coletivos, — não Ibe linimentam a solidão, antes a agravam ainda mais, por lhes faltar o cimento da fé, a so lidez do Amor, por meio de cujo influxo apreendemos, se gundo Max Scheler (6), o puro valor moral da pessoa. A solidão do homem gravita na órbita da insatisfação geral que está arrebatando o nosso destino do fim para que vive mos e atalhando o transcen dente em nossa trajetória no tempo.

A solidão da Igreja atua como levedura na massa, crescendo cada vez mais em prestígio e em autoridade, na quele centro universal que é Roma, centro de onde se irra dia para todo o orbe, confor me a expressão clássica, a pa lavra serena e firme da insti tuição divina apascentar a humanidade para rebanho de Cristo.

palavra bate e rebate insisten temente, mostrando onde se en contram os fundamentos da paz, que é, sem dúvida, o ideal de povos e nações. Mas os Estados e vários grupos fiideológicos,

nacio- nanceiros, nalistas que os manejam, não querem ver onde se encontram fundamentos da paz, afas tando o povo da participação sociedade política, segundo os na os seus interesses.

Ludibriado pelos jogos se cretos da finança internacio nal, amolentado pela demago gia, assentado na tuante da opinião que se con duz e se modifica com os for midáveis recursos da publici dade moderna, intoxicado pe las pregações ideológicas, o povo é levado a acreditar em regimes que não lhe trarão a paz e a prosperidade, não lhe darão o de que ele precisa, nem o acobertarão da calami dade estatal, que consiste no aviltamento da moeda, esse recurso dos governos aventu reiros e irresponsáveis.

A Igreja é todo o corpo de Cristo que exsuda sangue, por que não consegue fazer os ho mens se entenderem, nem con segue arraiar de claridade o fundo escuro da lei de Caim. Sua molhe fluque procura

6)

A decadência ética, diz o filósofo Gerard Petit (7), rele-

_ Max Scheler. Essência y Forma de la Slinpatia, Losada, Buenos Aires. 1943, p. 237. 7) — L’Homme contemporain et lo probléme moral, Fides, Montreal, 1943, p. 67.

va da atitude geral do espírito, não somente sobre o que esssncialmente o homem é no cosmo. Dizemos isso das de sordens econômicas, políticas e sociais, pois é verdadeiro que, em um sentido, todos os pro blemas se ligam à questão de saber que posição ontológica s& atribui ao homem. Nessas duas solidões que hoje se de frontam — a solidão do imanente e a solidão do transcen dente, — nós encontramos a chave do problema do sofrimen to do homem, de suas dores, de sua decadência e da desespe rança, que se anunciam em seu futuro, bém, 0 norte do onde podemos com segurança jogar a âncora de nossa via gem pela terra. A grande, inexausta obra, cuja realização se exige dos católicos autênti cos, é, pois, a de procurarem imbuir-se do espirito missioná rio, para que, através de uma obra intensa

encontrando, tamúnico porto a e perseverante, as duas solidões se aproximem, fundindo-se, para que o deser to se inunde de água benta e as areias rebentem em floradas. 81 9)

É uma tarefa literalmente gigantesca, que nos convida à virtude daquela “folie de la croix” de que fala Pascal (8).

Agora se o homem é soli tário, se o mundo é de solidão, daquela solidão que se opõe a La soledad sonora de São João da Cruz (9), no estudo das vias de conversão, ou dos agentes que devem atuar nessa conversão, temos de considerar, primeiro, o ho mem dentro das gerações e, em seguida, a geração que de ve ser urgentemente trabalha da no sentido da conversão, a juventude, objeto de todas as culturas sociais, matéria de tantas experiências e tantas explorações.

Mas, que é uma geração? “Não é 0 critério cronológico, o critério a intervir no exame exa to do que seja uma Geração”, diz Antonio Sardinha. “Nem tampouco, democraticamente, nos é lícito recorrer ao concei to de número. Constituindo um tipo social, com características suas, com autonomia própria de pensamento e tendências, uma geração é sempre o que — Pensas, pp 540/1/2, da edição de Jacques Chevalier, Victor Lecoífre, Paris, 1925 — Cf. Obras Escogidas, Espnsa-Calpe, Buenos Aires, 1942.

forem intelectualmente os seus elementos mais representativos (10).” Para Alceu Amoroso Li ma, por sua vez, os homens “da mesma geração, por mais contraditórios que sejam entre si, revelam sempre um quê de semelhança. Embora diversos os seus temperamentos e opos tas as suas posições füosóficas ou sociais..., ocupmn-se com os mesmos problemas, falam uma linguagem aproxi mada e se embebem sempre, queiram ou não, no espírito do seu tempo, no Zeitgest (11)”.

Há uma solidão das gera ções, como há uma solidão do homem, como há uma solidão da Igreja, porque o homem es tá solitário em face de si mes mo. As gerações que vieram encontrar-se neste período his tórico de tantas convulsões, período tulmutuário e desnor teado, caracterizam-se por um mesmo traço de angústia, desde o tédio dos que nada vêem de aproveitável na vida, os esbanjadores, que cifram no plano do tempo o sentido da existência, até o sofrimen-

to dos milhões de pobres que sofrem as tenazes da exploraatravés das burlas eleitofinalidade patriótica

çao rais sem e da ganância e da cobiça dos controladores da produção e da distribuição.

Há um denominador comum rasourando no das gerações mesmo nível o estado de espido pensamento Assim é rito, a curva que lhes pertence. cética, amargumundo no ou duuma geraçao rada a que veio ao curso da outra guerra rante os seus efeitos mais pró ximos e a que sofreu a Segun da Guerra que provocou o agu das na- çamento do princípio cionalidades. Geração que, em todas as suas atitudes, revela vincular-se, recalcitrantemen- te, no mundano. Há, sem dú vida, exceções, mas são aque las que renegam a modernida de e que estão contra a anar quia espiritual de nosso tempo, contra a sua imoralidade do minante, a desconfiança cada vez mais robusta de homem para homem, inclusive irmãos, cônjuges, amigos.

10) — A prol do comum.... Livraria Fcrrin, Lisboa, 1944, p. 4. , c. - 11) Tristão de Athayde, O Espírito e o Mundo, Josd Olímpio, Rio, 1936. pp. 268/9. Sera oportuno citar aqui também o critério de Albert Tbibaudet, ao historiar a literatoa francesa por gerações. Cí. Illstoire de la Littératurc Françulsc, Amenc, Rio, s/d.

essa geração, a geração das duas guerras e de outras guerras — geração da tragé dia universal, podemos chamála, — a geração solitária, por ser a geração que timbra renegar a Tradição, faz praça

de seu desprezo a tudo quan to se entronque na velha árvo re do passado e desrespeita as doutrinas mais sólidas, quando elas se voltam para o antigo, a fim de fundamentarem os seus princípios.

A GRANDE RESPONSABILIDADE

As gerações das duas guer ras e a da pós-guerra apegamse ao moderno como o líquem a pedra. Há mesmo certa pe cha de ridículo, se nos bate mos pnr alguma teoria — a monarquia exemplo —, que seja tida co mo relíquia do passado, ncticamente

A filosofia do “avançado” 0 que tomou conta do pensamento De moderno. O valor das idéias se mede hoje com o compasso desse critério simplista e pri mário. O moderno, o “avança do” é 0 vértice da cultura de nosso tempo, é o recinto para aonde sociais, políticas, — Paul Valery, Regards sur Ic monde atuei, Stoch, Paris, 1931, quer-se o quoti diano, como se tudo que é da vida e tudo que a circunda es tivesse na iminência tragado pela sucção vulcão em chamas, e devésse mos contar apenas com passa de ser de um vertiginosamente, resto é o espírito que anima a cultura imanente do histórico, essa vivência deste períoque lhe infunde sob cujo impé rio vão se soterrando o passa do e a tradição. O novo é po- larizador, no mundo moderno. convergem as teorias econômicas, 1) p. IGl.

O novo, que é perecível por essência, é para nós uma qua lidade tão eminente, que sua ausência nos corrompe todas as outras e que a presença o substitui sob pena de nulidade, institucional, por desprezo e tédio, estamos com pelidos a ser sempre mais Fre- avançados nas artes, nos cos tumes, na política e nas idéias, e somos formados a não acei tarmos senão o impressionável e 0 efeito instantâneo do cho que” Ü).

DIGESTO

império vertiginoso do mundo, à tirania arrasLante vente do tempo. Por isso essas ou não estéticas, como se o que pas sou, como se a “conservação” devesse ser extirpada do cor po social, à maneira de uma calosidade inútil. Sob o signo da modernidade, a geração das duas guerras e da pósguerra desdenharam da heran ça de seus antecessores e fi caram só, com os seus mitos. Ficou solitária nesse mundo moderno que a cosmovisão do imanente inundou de crise.

gerações não gozaram estão gozando a plenitude da li berdade, não tendo, mesmo, a prenda so- dessa concepção branceira da personalidade hu mana hoje lastreada de da poluição das idéias que filosofias da imanência erros. as foram sociedade dos insinuando na espíritos. “A liberdade, a vida nova, a ressurreição dentre mortos... Inefável minuto", cliz Dostoiewsky, encerrando suas Mas os noturnas, túmulos, são recordações passeamos entre cadáveres que se movem na terra, as gentes estão mortas, verdade se distanciou porque a do horizonte de nossa mirada, indiferença estímulo pelos e mergulhou na perdemos o ideais que tornam a vida supor tável e reduzem o peso do far do da existência, a única, audireito espi- têntica liberdade, ritual de campearmos o fim para o qual tendemos dua, estafante marcha que fa zemos pela face afundaram nas na árda terra. “Nossa indiferença à verdade resultou da perda da pai¬

na es-

Fronteando, pois, a sole dade dessas gerações, gera ções que sofreram e sofrem na .carne, no coração e no espí rito 0 aguilhão da crise, essa alarmante dissolução de costu mes, 0 aniquilamento da sen sibilidade, a corrupção do brio, 0 rebaixamento da hon ra, fronteando-a, vemo-las panoramicamente encerradas na quela casa dos mortos de que tão soturna, asfixiante e do lorosamente se ocupou Dostoiewsky (2). Gerações de con denados, que sombras crepusculares da desespeyança e se engolfaram na esqua.lidez do egoísmo terilidade do cepticismo, entre gando-se voluptuosamente ao

●jV-T- Dostõiewsky - necordações da Casa dos Mortos. A traduQuo francesa é de v'te. Melchlor de Vogue e foi editada por Plon. e absor-

xão pela Verdade, diz Fuiton Sheen (3)”. rem hoje muito poucos os ideais por que queira o homem morrer ou mesmo car.

O resultado é sese sacrifi0 falso espírito de tole¬ rância — que ao menos o sai bamos — nasceu da nossa per da da fé, de nossa incerteza. Quando esquecemos a finalida de da vida, perdemos o dina mismo necessário cá-la; certezas fundamentais da vida perdemos também para nos batermos

de

0 que para alcanquando perdemos as

de presságios e agourada pavores à geração que deveria — e está na obrigação de fazê-lo — fermentar a massa da civilização, para que a socie dade humana seja restaurada no bem e na felicidade, vemos é faltar-lhe a ânsia de viver para a eternidade, como os que se distinguem pela fé, no homem que pode sempre nascer de novo dentro de nós outros.

As gerações que se encon tram nesta idade têm sobre os ombros, nos tumultuosos dias de hoje, a imensa responsabi lidade da restauração do mun do moderno na ordem. Mas a sua língua não exprime nada do que nos agita em sociedade e o mundo afundando-se cada vez mais no equívoco, separase cada vez mais do unívoco. Como bem diz Jaeques Maritain (4), uma decomposição definitiva que assistimos”. Porque a ge ração dos homens de amanhã a energia por elas. Tendo perdido a paixão pela verdade, honra, modo de nossa civilização a le targia e a apatia, tramos dificuldades em defen der até mesmo a lealdade nos atos da vida quotidiana. Não sentimos entusiasmo pelas gran des causas, nem ódio pelo mal, mas apenas lampejos de entu siasmo e pruridos de ódio, ati ramos fora os nossos roteiros díi vida e não sabemos que ca minho tomar.” pela justiça e pela apoderaram-se de tal que encon“é uma dispersão, a — a geração de hoje, a juveii tude que deverá estar amanhã No poente confuso de uma no leme da sociedade, na lide- idade que finda e de outra que rança dos postos de responsabi- se abre, ainda sobrecarregada lidade, na chefia dos cargos de 3) — i^ton Sheen O Problema da Liberdade, Agir, Rio, 1945. p. 44, trad. portumiesa aeques Maritaln, Humanismo Intcgr-.il, Cia. Editora Nacional. S. Paulo, 1940. p. 29* 4)

tdireção, — essa geração está submetida ao temporalismo ca da vez mais agigantado que to mou conta das consciências e se instalou na tábua de valores que guia as relações sociais de nosso tempo.

A geração que hoje come ça a elevar-se na rotatividade por meio da qual as gerações se sucedem na sociedade já vem sobrecarregada. Imenso é 0 peso dos antecedentes in telectuais que prepararam seu desaguamento na história. De sorte que, toda uma cruza da — ainda que se nos afigure exequível, — deve ser realiza da por quantos o possam fazêlo a fim de que a geração de hoje, a geração de amanhã, caminhe para a verdade e conquiste a liberdade que nos dá a posse de nós mesmos, na sociedade espiritual.

Há um trabalho a ser rea lizado para atrair essa geração para um bem futuro. Esse tra balho deve consistir em se opor a virtude ao pecado e à libido do pecado a libido da virtude. subterrâneos afetividade corrompida, da pas-

DIGESTO ECONÔMICO

sionalidade mórbida, com o facho do céu, facho cujas la baredas hão de baixos volutabros da vida pnganizada.

purificar os

Aldous Huxley — (5) que tem uma idéia errônea da per-

sonalidade; para quem a perso nalidade seria o que limita, o fecha sobre si; o que crosque se encarcera dentro de uma ta ou seja o egoísmo, idéia se gundo a qual o homem deve esquecer-se, perder-se, confundir-se com o todo, — Aldous Huxley, estudando São Francis co de Assis e Gregório Rasputin, opõe um ao outro, mostran do que aquele submetia este submetia-se às as coi-

sas a si e coisas, desenvolvendo um arrazoado, com a saturação exegé- tica muito sua, ainda que sinté tica, segundo o qual o monge russo deve ser levado a sério, filósofo moral' que pregasalvação pelo pecado. A dos homens de amacomo va a geraçao nhã, perfilha a teologia e a fi losofia de Gregório, o libertino, santo do agiologio herético e dionisíaco, por se ter submetido e submete-se, às coisas, imerge num crescenE de se invadir os do instinto, da cada vez mais.

— Aldous Huxley, Visionários e Precursores, Vecchi, Rio, 1942, 209-235, trad. por tuguesa.

do assombroso no imanente, que corta no homem pulso para o transcendente.

O sexo é hoje uma obsessão e com ela toda a longa, enorme cópia de males, oriundos da perda de amor a Deus. Daí, conseqüências sociais desse des respeito não há distância algu ma a separar, e os fatos o es tão mostrando abundantemente.

0 eterno já não tem valor para a geração moça de hoje, para a juventude que ocupa os bancos das escolas e ocupará amanhã as proeminências so ciais, políticas, estéticas. Não lhe temem sanções e a Providência se lhes mostra como alguma coisa que não se possa acreditar, sem que o ridículo lhes coroe a atitude. Pleno fastígio da cepção imanente da vida em que 0 mundo se basta a si mes mo. O sobrenatural, em aban dono, Deus relegado à catego ria de ideal, sem transcendên cia, nem personalidade.

seu imas econômicas e as em conincapacidade para nosso tempo. Editora Universitária, S. Paulo, 1943,

multidões de jovens se batem pelo banquete eucarístico. Os possessos de Dostoiewsky exis tem sempre e sempre encarnam a resistência que impede o to tal apodrecimento dos corpos. Mas 0 espírito que vai servindo à formação da geração dos ho mens de amanhã, subordina-se ao império da imanência e ser ve à traição da civilização cris tã. Já não há inocentes nem culpados, no mundo. A realida de da escatologia cristã não chega sequer a preocupar. A metafísica não mais preocupa-, porque “esta ciência hace abstraccion de Ias cosas sensibles e materiales .,. para considerar Ias cosas divinas y separadas de la matéria no menos que aquellas nociones dei ser, que pueden existir independientemente de la matéria”, como vem dito em Suarez (6).

A ciência e a técnica detêm a palma do prestígio no mundo contemporâneo. Ê o pleno do mínio do quantitativo, Sorokin fala do colossalismo (7), e, com parando-o com a preferência pelo grande na Grécia e em Ro ma, com

Não podemos negar que na Casa dos Mortos haja manifes tações ardentes de fé e que 6) — Su&ez, Cf. Infrodudôn a la metafísica, Espasa-Calpe, Buenos Aires, 1943 p 22 (edlçao sob a responsabilidade de J. Adurlz S J) ● ~~ Pltlrim Sorokln, A crise do p. 225, trad. portuguesa.

criar os grandes valores qua litativos”, diz que "a nossa cul tura sensitiva atual parece es tar na mesma situação, brilho exterior e o colossalismo quantitativo já reinam nela soberanos”, quantitativo tende a tornar-se o critério de todo o grande va lor”.

O O colossalismo pois 0 ser <c câmara da liderança.

Analisando-se a etiologia da crise por que passa o mundo — crise sobre a qual tanto se tem falado e escrito e tanto ainda se vai escrever e falar, — 0 que nós encontramos, com força de primazia em sua fervente agitação, é, principal mente, 0 rebaixamento da cul tura e a especialização unilate ral, especialização que veio somar-se aos vícios e defeitos do homem contemporâneo, para mais depressa conduzi-lo à ban. carrota. Daí ser atual o que diz Carrel do indivíduo, que se tornou “tacanho, especializado, imoral, ininteligente e incapaz de se dirigir a si mesmo ou as instituições” (8).

da, de sorte que não fazem re percutir na sociedade o dese quilíbrio interno que as possui, desde que, tudo indica, vão ser candidatos aos postos de co mando, em futuro próximo. Ain da não são líderes, no_^ sentido sociológico, mas deverão sê-lo, :■ característico de elite é mesmo uma espécie de ante.

De acorusual, en-

do com a expressão tendemos pelo termo elite urna pluralidade de pessoas, precisamente limitada, as quais consideramos candidatas a pos tos de comando”, da como conjunto não exerce função de liderança nem é cons tituída de líderes. Para dirigir falta-lhe o caráter de grupo com vida própria. Pois camada é precisamente nao

Esta cama- <( coeso uma uma pluralidade de pessoas que não possuem a unidade coesa de grupo. Trata-se de meras pluralidades de homens que sub jetivamente não se sentem counidades nem tampouco po dem agir como tais. Todos os indivíduos dentro de um grupo que por qualquer razão candidatos a postos de comando ainda não escolhidos pamo suas são — mas sa

Taxativamente, os jovens de hoje envolveram-se na espesnebulosa da cultura trunca¬

desconhecido, Editora Educação Nacional, Porto, 8) — Alexis Carrel, O homem, esse 1940, passim, trad. portuguesa.

ra isso — constituem a elite a que aludimos.” (9)

A geração de hoje, a parte cujos membros já deixaram as escolas e a parcela que ainda as cursa, é, pois, uma elite de asas cortadas.

A visão que tenho dos mem bros dessa geração de nossos dias — visão do alto, abarcando 0 todo e não as partes excep cionais, — é que eles não sa bem olhar para o alto, à pro cura do transcendente, num reino de '‘além mundo”, por lhes faltar o alimento substan cial de uma cultura totalizadora, forma de civilização em cuja órbita vivemos; por lhes faltar uma cultura embebida de cris tianismo, onde 0 homem ocupe 0 seu legítimo lugar no Cosmo, desde que hoje, o que temos com a denominação de cultura, é a pseudocultura, eivada de profissionalismo, desgarrada da tradição e da fonte suprema de onde viemos e do foco supremo para onde vamos. É de se receiar, pois, que a enfermidade que sofrem as nações e eoni elas Os povos, ainda mais se

agrave e que esse mal agudo e generalizado, difuso no ar que respiramos, esse bafio de lodo que embolora as instituições e as vai apodrecendo, tornou in suportável a vida.

Já Chesterton dizia (10) que a história tem variações e sur presas imprevisíveis. É o papel da providência em seu seio, pa ra mover cada uma das criatu ras em cada uma de suas ações, bem como dirigir os aconteci mentos humanos, (11) ao desti no que Deus persegue.

A grande responsabilidade na condução do curso da huma nidade para a paz cabe, pois, às entidades que preparam as elites culturais, que têm a seu cargo 0 enriquecimento cultural dos que se lhe submetem à pe dagogia. A grande responsabi lidade cabe à Universidade. Es. sa a questão do momento, por quanto se há desregramento malsão conduzindo a civilização para um destino incerto, como autores dele indigitam-se as teorias intelectuais que impreg nam a juventude das escolas.

— Chesterton, The Everlastlng man, Hadder & Stoughton, Londres, 1945, chap. V. 11) — Ludovico D. Macnab, EI concepto Escolastico de Ia Historia, Universldad de Buenos Aires, 1940, p. 79. 9) 10)

— Theodor Geiger, Tipologia do Líder, Edição da Revista Sociologia, S. Paulo, 1942, p. 71, trad. portuguesa.

Geração e

A idéia precede e governa a ação. No princípio era o Verbo, como

ta (1) e não a Ação, como vem dito no Fausto (2), pois não pode haver ação sem .o princípio que a determina.

Na concepção tomista os fins da ação traduzem o termo para o qual o sujeito se enca minha, não consoante um im_ pulso vão, um arrebatamento imaginativo ou uma imantação falaciosa do capricho, mas con forme com a natureza do Ser. Por seu turno, o centro de re sistência do blondelismo (3) re pousa no axioma segundo o qual necessariamente o homem age, tendendo para o foco de transcendente.

sivamente, deve mostrar que o problema é universal e cósmico.

vem dito no Evangelis- Para isso, não pode apelar ciência, exclusivamente, para a dado que esta não é suficiente para a explicar, no todo de seu dinamismo interno; nem pode apelar para as filosofias do ima- nente, que, em lugar de reagicontra as adulterações e os abusos opostos à transcendên cia mais os estimulam, ofenden do, assim, a realidade do sobre natural. rem

A dialética da Ação — do sujeito real onde ela tem ori gem, ao termo real para o qual ela se dirige — deve, portanto, coextensivamente, colocar e re solver 0 problema pessoal do homem, a única coisa que lhe importa, o seu destino e, exten-

A dialética da ação deve sabedoria, na embeber-se na autêntica sabedoria que contem pla 0 eterno e localiza em seu centro da felicidade. No mundo moderno, o que lavra, ferventemente, é o conflito en tre a ciência e a sabedoria. Es tamos em pleno império da ciência. Daí, o desequilíbrio que reina no corpo do bem comum e claudicar da felicidade huma na. O problema epistemológico não se filia ao ontológico, de ma neira que as sempre contestáseio o o

1) João, i-i. 2) Goethe, Fausto. Maurice Blondel, L'Action, Alcan, Paris, 1937, pnssim. 3)

veis leis científicas são areias movediças onde a norma da vi da não encontra segurança para se firmar.

Bergson, cuja filosofia tem tantos pontos fracos, afirmou com segurança, no entanto, que a ciência experimental não pode penetrar na real natureza das coisas (4). A ciência, por si, é neutra e tanto serve como desserve o homem. Tendo necessi dade de um elemento que a de fina ou informe, requisito é ser intelectual, senão em seus métodos, em sua cons tituição formal.

julgamento habituando-o á um rigor que não comporta nenhu ma outra ciência e menos ainda a vida real. A fisíca,. a química, obsédam por sua complexidade e não dão ao espírito nenhuma amplitude. A fisiologia conduz aq materialismo, a astronomia à divagação, a geologia faz de vós um cão de caça, a literatura vos envaidece, a teologia vos prende ao falso brilhante orgulho doutorai. É necessário passar de um espírito a outro, a fim de corrigir um pelo outro; é necessário cruzar as culturas, para não arruinar o solo (5)”. e ao seu primeiro

Daí ser necessário ao equilí brio do universo e à economia dp bem comum, que os progres sos científicos encerrem-se na táboa de valores e na órbita dos fins da filosofia e da religião. De nada vale disciplinar a ener. gia atômica se o uso dessa for ça^ incalculável pode ser ihdis- criminadamente desencadeada contra a sociedade. “Toda a ciência, cultivada à parte, não somente não se basta, mas apresenta perigos que todos os sensatos reconhecem. As mate máticas isoladas falsificam

O primado da ciência com 0 qual sonhava Renan, já não pode ser perfilado dias. em nossos A ciência deveria dizer ao homem a palavra das coisas, explicar-lhe, dar-lhe da única autoridade legítima que é a natureza humana, símbolo que as religiões lhe dão já feito e que ele não pode mais aceitar (6)”. O mundo dos fenômenos, que é objeto da ciênem nome 0 cia, ocupa sempre um lugar de honra na civilização e na cul tura universal, como se deles pudesse fluir o segredo da vida

cí Bergson, La Penséo ct le Mouvant, Alcan, Paris, 1934 pp 201 e seels rv rw H; Sortillanges, La vie intelcctuaUe, Desclée et Cia., Paris, 1941 p n? üt Renan; L'averüt de la Science, Calmán-Lévy, Paris. 1925, p. 23.’ ''

e advir para a sociedade dos espíritos a felicidade por que todos ansiamos, na rude e atri bulada face da Terra. Quer isto dizer que devemos procurar um reajustamento entre a ciência e a vida, articulando aquela na trajetória desta, e ambas no finalismo transcendental, na via do absoluto.

A ciência

Ipode nascer

Esse reajustamento só se dará, no entanto, através da sabedoria. A ciência precisa desembaraçar-se da suficiência que a conduziu à bancarrota e acolher-se à sombra da sabedo ria cristofórmica. moderna, com seus caracteres de relatividade, de atividade conquistadora, de potência dominadora da natureza, de exal tação civilizadora e de liberta ção humana — caracteres que se opõem à concepção antiga duma contemplação inoperante e duma humanidade imersa no nível das coisas, graças ao sentimento de supe rioridade do homem e de seu destino transcendente à nature za (7)”.

Desviando-se, porém, da transcendência do homem, a

cíência traiu ao seu senhor, de sorte que um inexausto trabalho de reconversão se lhe impõe, a fim de que obedeça ao seu des tino interno e não aumente as desgraças que se abateram so bre o mundo. Essa reconversão deve se operaj* pela sabedoria, isto é, a sabedoria deve trazer de novo para a civilização a cosmovisão que imperou Idade Média, de unidade reli giosa e dependência do homem a Deus. "Indubitavelmente, não se trata de voltar à Idade Mé dia, nem de rechaçar o imenso e magnífico desenvolvimento das ciências no decurso destes últimos anos”. “Pelo contrário, 0 problema próprio da idade em que entramos consistirá em re conciliar a ciência e a sabedo ria em uma harmonia vital e espiritual (8)”,

Em que consiste, porém, a sabedoria? Consiste em o ho mem ser 0 que deve ser, assi milando a cosmovisão de seu tempo, naquilo que corresponda ao desenvolvimento de sua con dição. Sábio será um humilde carpinteiro que assimila a cos movisão reinante e procura

7) Mfiurice Blondel, Le problémc de la phllosoplilc cathotique, Bloucl et Gay, Paris, 1932, 8) jãcques Maritaln. Ciência y Sabldurla, Desclée, De Brouwer, Buenos Aires. 1044, pg. 50.

executar com perfeição funções e, sem trair os princí pios morais que mandam fazer bem 0 que se faz, aperfeiçoa quotidianamente a sua persona lidade. Assim, tende para o fim último e trabalha pela harmo nia social, por isso que, bem agindo, servimos ao nosso se melhante e à paz que deve j:einar na Cidade Terrestre.

tórica a espiritualidade cristã que a tradição fez culminar Idade Média.

Estamos num século de ciência e de crise. Vê que a ciência, por si, com seus pró prios recursos, para imperar soberana, identifica-se com di taduras políticas. Necessita de temperaturas elevadas, de fe bre, para poder viver. Topamos, então com as causas do mal ge neralizado, que hoje pulveriza as instituições, insinua-se nas frinchas do corpo social, empoa 0 pensamento humano e faz-nos desesperar da vida, através do ceticismo que corrompe a razão.

Mas, pela sabedoria tam bém se define a felicidade. A sabedoria dá a felicidade. Não é um desenvolvimento da ciência, nem a graduação suprema da filosofia. É o conjunto de ativi dades e dos resultados destas atividades, postos em linha ra resolverem o problema da felicidade ou para encher apetite humano de felicidade. Para Regis Jolivet (9), a sabe doria é a uma vez, visão, juízo e fruição das realidades celes tes. Confunde-se, pois, com a santidade, e só pode caber ma nomenclatura católica. A verc^deira sabedoria é católi- Se a ciência é o contínuo a. Dai, podermos afirmar, so- "devenir”, a mutabilidade cons- tema inesgotável de tão tante, a verdade, identificandoas 0, que estamos num período se-lhe, é igualmente mutável e, mstorico sem sabedoria e, por isso mesmo sem paz, por não se entranhar nesta quadra his-

A ciência engendra isto de ma léfico para o destino do homem, em sociedade: aniquila o res peito pela verdade. A ciência, por si só, despelada da sabedo ria, é inimiga da verdade, ao contrário, paradoxalmente do que possam pensar os que lhe são fiéis.

sendo mutável, deixa de ser verdade. O silogismo é incon testável desde que se tenha pre9) Regis Jolivet, Sant Agustln, C.E.P.A. Buenos Aires. 1941, p. 201, trad. castelhana.

como a cauda do sente serem pavão os postulados da ciência.

DIGBSTO ECONÔMICO

Se não se perseverar sobre esse dado de que a ciência de ve enquadrar-se nos limites da sabedoria, não a teremos ser vindo à humanidade, e portanto, à manutenção da paz. Jacques Maritain frisa ser muito signi ficativo que 0 reino da ciência divinizada e o reino do dinhei ro hajam tido sua primeira auanunciadora no mesmo

É por isso que devémos reco nhecer toda a profundeza do -conselho de Newman para que se fizessem pesquisas, com uma -fé grande e firme na soberania da verdade (10), desde que, sem a verdade, sem o que Planck diz ser a metafísica, as vitórias è conquistas da ciência são inócuas, ainda que seus apologistas arrazoem em con trário. rora momento, na manhã do mundo moderno (12). Os desajustamentos que vieram encher-nos de aflição nos dias que passam; rebeliões; o desemprego e da especialização abusiva; a tirania poderosa e sub-reptícia dos trustes e cartéis, e o poder tremendo do dinheiro, que ori gem têm, senão, como diz o to- mista francês, a divinização da ciência ou seja, de sua autono mia, ou, ainda, da imanência científica, da ciência sem sabe doria, que o dinheiro monopoli zou, sujeitando-a a servi-lo, Conforme seus interesses (13)?

“Cada culminância que es calamos nos descobre outra que se eleva por trás. Devemos aceitar isto como um fato abso lutamente irrefutável e nos é impossível eliminá-lo. intentan do trabalhar sobre uma base que reduz o alcance da ciência à simples descrição das expe riências sensoriais. O objeto da ciência é algo mais; é um in cessante esforço para uma meta que nunca poderia ser alcança da, pois, dada a sua natureza, é inacessível. É algo essencial mente metafísico, e, como tal, acha para além de todas as nossas conquistas (11)”.

as 0 verdadeiro espírito cien tífico deve, pois, ser restaurado na. sabedoria,, que é espiritualização sobrenatural e via de se 10)'

TTpmv Newman. Idea bf a Universlty, -Londres. 1923. p. 478. ü:') S-pS Aonde va la ciencia?-Losada. Buertos Aires,-1944, pp. 82-3. trad. casteli^.. % do dMo, Charles Maurras L'AvenIr de 1'InteUigence. N.L.N., "Paris, 1909, pássln.

aperfeiçoamento da pessoa. A ciência será, assim, guiada pe lo brilho de uma luz superior e não trairá à verdade. “Haveria um belo capítulo a escrever so bre as virtudes que acompa nham, seguem ou constituem mesmo o verdadeiro espírito científico. Fé na verdade, esti ma do pensamento sincero e escrupuloso, paciência na pes quisa prudente e modesta, hu mildade em face da amplitude dos problemas e do caráter par cial das descobertas, inspiração profundamente humana para o bem dos corpos e das almas, sentimento da comunhão versai, sendo religioso de ad miração e de adoração, eis o que grandes sábios têm teste munhado, mas que nos obstá culos e na divisão das ciências contemporâneas, se esqueceu de.fazer aperceber (14)”.

As teorias intelectuais que informam o espírito da juven tude devem, pois; desvencilharse da ganga científico-positiva ou. científico-suficiehie, ■ embe berem-se da sabedoria* òu *da cosmovisão de um transcenden te, para, daquilo aue se lhes íel

espera, advenha o de que. a, so ciedade necessitará de suas ,eli tes de .amanhã. Reconhecemos que não. é fácil tanger as gera ções de hoje para esse destino e esperar dela um trabalho vi goroso pela restauração do prestígio da verdade na socie dade.

O mundo moderno está sul cado, em todos os sentidos, pelo espírito do milênio, espírito sa tânico que afastou Deus das consciências e minou a ordem do amor, destruindo as notas de “imagem e semelhança” que polarizam os homens uns para os outros. A situação, históricotemporal deste século configu ra-se. num estádio espiritual que desdenha da metafísica e apostasia da fé. Cada época tem a sua configuração espiri tual. "A Idade Média (...) con têm um nexo de idéias afins que a règem nos diversos do mínios “diz Dilthey ■ (15), que, de résto,* fica ira descritiva do irracional dá vida;* fixado em eosmòvisoes.' “As épocas têm súá alraa própria, suas exigên cias'é* até urria espécie de obs curo programa que tratam de uni-

^ Penséc, Alcan, Paris. 1934, II. p. 151. ' 15) Wilheliri Dilthcy, El tmindo hlstorlco, F.C.E.. Méidco. 1944, p. 314,- tradv ■castelhana.

num ambiente do qual estavam e estão ausentes os elos da saComparada com a cumprir"./‘Porém, (...) a apa rição das idéias não depende somente (...) da concepção do mundo. Como momentos da criação pessoal; podem sair à luz sem outra lei que a da libérrima atividade do espírito

bedoria.

medieval, a Universidade con temporânea complicou enorme mente 0 ensino profissional que aquela em gérmen proporciona va e aumentou a investigação, retirando quase por completo o ensino ou transmissão da cultuIsto foi evidentemente (16)”.

. A nossa época, demolidora, iconoclasta, “avançada”, mo derna no sentido de desprezo pela tradição, está eivada das teorias intelectuais que vieram se amontoando do Renascimen to aos nossos dias e que hoje tomaram os primeiros lugares na sociedade dos espíritos e lhes impõem o calor de uma cosmovisão, apartada do senti do total e transcendente da vi¬

ra”, uma atrocidade. Funestas consequências dele agora paga a Europa. O caráter catastrófico da situação presente européia se deve a que o inglês médio, o francês médio, o alemão médio são incultos, não possuem o sis tema de idéias sobre o mundo e 0 homem correspondentes ao médio tempo. Esse personagem^bárbaro, retrógrado da. e 0 novo com respeito à sua época, ar caico e. primitivo em compara ção à terrível atualidade e con sequência de seus problemas. Este novo bárbaro é principal mente 0 profissional, mais sábio do que nunca, porém mais in culto também — o engenheiro, 0 médico, 0 advogado, o cientí fico (17)”.

A geração dos homens de amanhã, geração cujos mem bros hoje ocupam os bancos das Universidades ou que deles saí ram há pouco è que, por isso mesmò, pela reflexão e pelo es tudo, podem corrigir-se, essa geração não está em forma para liderar, por ter aprendido e vai' aprendendo a ciência

16) Francisco Romoro, Sobre ia Historia clc la Filosofia, Universidade Nacional do Tucuman, Argentina, 1943 ,pp. 45-6.

17) José Ortega y Gassot, La Missíon de la Unlvcrsldad, Obras, Espada-Galpe, Madrid, 1932, p. U97.

FINALISMO TELEOLÓGICO

paz uni-

enor-

A restauração da ciência na sabedoria é, então, a aveni da que se abre à dialética da Ação, para que as teorias inte lectuais, em cuja órbita gravi tam as elites jovens de nossos dias, se embebam de Verdade e estejam em condições de ci mentar 0 edifício da versai. Ninguém se entende mais. É uma realidade incon testável. Há distâncias mes até mesmo entre irmãos.

0 sinal dos tempos moder nos cifra-se no acalcanhamento da pessoa, através das teorias que vieram aclimando o homem no natural. Daí, faltar a nós o nível onde os nossos problemas teriam solução e sempre estar à nossa frente o gancho inter rogativo de nossa inquietação. O problema central do univer so, o problema do homem .... que tende ao infinito não está ao alcance da ciência, da técnica, nem das filosofias imanentes, embora aureolem-se hoje com 3s honras de primado, e pre tendam ter superado a sabe doria.

A história da humanidade vista, assim, sob a concepção

milenarista, não é mais do uma esperança constante, um profundo e fervente anseio lo advento de um reino fabuloso, de objetivos imediatos, onde, como ao toque de Midas, as coi sas se transformariam em ou ro, e fontes de leite jorrariam à fartura. Colheitas abundantes encheríam de abastança todos os celeiros, e não faltaria o pão nas despensas.

Neste século, o denominador comum de uma esperança mile nar assenta onde deveria esta belecer-se a concepção da pleni tude. A doutrina das últimas coisas, a escatologia milenar desfralda promessas que se rea lizariam nos limites do mundo. Que são os movimentos políti cos contemporâneos no paradei ro dos quais se aniquilou a so brançaria da pessoa humana, senão a bandeira do paraíso ter restre plantada no horizonte de cada um de nós? A concepção milenarista da História retalia a eternidade e entroniza em seu lugar 0 futuro, simplesmente, ò futuro.que não é mais do que a extensão do tempo no presente quotidiano. que pe-

IA inteligência, a vontade, os povos, as sociedades foram engolfados na idéia da Cidade Terrestre e, expectantes, espe ram que do ventre do milênio flua a justiça, a riqueza, a pros peridade, ou um novo humanis mo, um humanismo mundano, sem transações com o sobrena tural. Já não há critérios obje tivos senão para o que circula nos ambientes e estes subordlnam-se à ordem imanentista, visão da realidade segundo a qual 0 mundo se basta a si mes mo. O ar intelectual que respira mos, 0 meio onde vivemos estão saturados da auto-suficiência que conta com recursos cientí ficos e- práticos, para resolver mos 0 finalismo transcendente do destino humano.

O pensamento católico, toda a riquíssima cópia de meditação dos padres, doutores e filósofos da igreja, a palavra dos pontífi ces, enfim todo esse patrimô nio cultural amealhado pelos rnembros do. Corpo-Místico, atra vés de pesquisas, e de estudos, está sendo desdenhado por uma gigantesca apostasia de massas e elites-. - .

damentos da Verdade é que na profundeza dos corações insatisfação generalizada, a angústia, uma sensação de inse gurança, que vai, dia a dia, tor nando mais precário o equilíbrio dos prumos sociais, políticos, econômicos e estéticos. Há pois, oferecer ao mundo moderno viático para a Verdade, a fim de que a hierarquia dos va lores eternos seja restaurada na sociedade dos espíritos. Esse viático, quem deve fornecê-lo ao nosso tenipo é a Universidade. Será um trabalho exaustivo, do loroso, exsudante, mas terá de ser feito.

O resultado dessa^ rebelião em face da Verdade e dos.manrema a que um

As elites jovens desesperamhipótese do malogro; se com a esteiram-se no rastro das que antecederam na liderança social, política, econômica e es tética, empolgadas pelos absorvidas pelas

as mes¬ mos erros, mesmas postiças cosmovisões milenárias. Se não forem convertidas ao pleroma, que e império da Verdade na plenitu de da História, nós poderemos afirmar que o processo de dete rioração da Terra será, cada y^z,-mais aceÍerado> porque o sal que a devera preservar da corrupção se tornou insulso.. Se gundo. Ortega y G-asset, a baro

0 esno

“inimigo ou destruidor

bárie que-caracteriza o homem moderno tem sua origem nas Universidades do século XIX, questão que, bem meditada, acaba levando-nos a reconhecer que 0 desenvolvimento prodi gioso dado pelos institutos supe riores de ensino à ciência, não pode exculpar estes dos males que produziram (1). Para resu mir, podemos dizer que aquelas Universidades foram matrizes de bárbaros, como as Universi dades do século XX, dado pírito que nelas reina, são tam bém ninhos de bárbaros, sentido com que hoje se pode dicionarizar o vocábulo — bár baro, de da civilização” (2).

Há uma visão do mundo, a que coloca a eternidade para além do tempo, que as Univer sidades laicas não transmitem aos espíritos que lhes estão jeitos. Ao contrário, falseando concepção teleológica da vi da, circunscrevendo-a nos limi tes do tempo, matando Deus nas consciências, proclamando um falso humanismo, aquele humanismo de Nietzsche, husua fl) José OrtcRa 1932, p. 1197

manismo que não consistia em simpatizar .com o próximo, não em suportá-lo (3), vão soli dificando 0 egoísmo humano, através de filosofias biologistas, irracionalistas, evolucionistas, vitalistas, imanentistas. Quan do 0 homem rompe a dependên cia que o vincula ao transcen dente, abre, do mesmo passo, as portas do instinto, e entrega ao mundo o animal que pro curar minar o edifício moral e escapar, pela frincha das dirimentes científicas, das sansões da natureza e da Providência.

Na rotatividade das gera ções que sucedem às que pela compulsoriedade desse movi mento são afastadas dos postos de comando e direção sociais, 0 papel das elites é fundamen tal para que a paz se mantenha e não se dê a corrupção da fa mília, 0 periclitar dos grupos, 0 rebaixamento da nação. Em suma: para que o bem comum seja uma realidade histórica, há mister que ás classes sociais sejam informadas por üm espí rito de concórdia e amor Ou se ja. de sabedoria. se-

Dop^h, Tlie Economic -.ind Sodal Foundatlons of European Cavinzaílon Kegan, Londres 1937. p. 89. (3), Ecce llomo, F. .Sempere, Valencia, 1910. y Oasset, La míssioii dc la Cniver.sidad, Obras, Espasa-Calpe, Madrid, p. 43.

Vão certamente repercutir como um toque longo e soturno de utopia as linhas desta tese. No mundo pluralista de hoje, neste mundo sem unidade, não pode haver, disseminando-se nos espíritos, teorias oriundas de um mesmo foco, isto é, vá rias têm de ser as pedagogias que as manejam. E, como toda a pedagogia adora um deus, cabe às elites beberem a ciên-

ainda Jacques Maritain (5), e Hovre (6), taxativamente, por seu turno, diz que os problemas capitais, agitados nas correntes pedagógicas atuais, são, no fun. do, problemas filosóficos e não podem ser resolvidos senão co mo tais”.

De nada valerá lutarmos contra as teorias que solapam o bem comum, se persistirmos ficar no círculo de uma ordem imanente: Temos de ir para além dos confins de uma ordem envolta em si mesma, porquan to as manifestações imanentes engendram manifestações anta gônicas da mesma espécie, codito profundamente Aristóteles (7). Todas as manifestações imanentes se troncam na árvore da revolu ção, como processo de mudança e trazem a Cidade em sobres salto. É uma visão da história de que não podemos fugir, não quisermos mergulhar nas trevas do caos. em

cia e a sabedoria nas fontes pu ras. Toda a pedagogia adora um deus”, diz Jacques Mari tain, Spencer, a natureza, Comte, a humanidade, Rousseau, a liberdade, Durkheim e Dewey, a sociedade, Wundt, a cultura, Emerson, o duo... indiví(4). Mas só um Deus se mo ja vem em deve adorar, o Deus da Verda de. Segue-se, daí, que uma só pedagogia deveria ser adotada, para que os mitos não vingas sem contra o mistério e os deu ses contra Deus: a pedagogia cristã.ense A pedagogia é função da filosofia, da metafísica”, diz

(4) Prefácio ao Essal de Philophle Pédagoglque, de Fr. Hovre, Albert Dewito, editor Bruxelas, 1927, p. IX.

(5) Jacques Maritain, Id, ib.

(6) Fr. Hovre, op. cit., p. 15.

(7) Metafísica, Espasa-Calpe. Buenos Aires, trad. castelhana de Patrício do Azcdrate.

Um dos erros modernos que maior flanco oferece às infiltra ções das doutrinas imanentistas é 0 de cindir o natural, sepa rando-o do sobrenatural, de ma neira que este, consoante acen tua Henri de Lubac (8), privouse dos laços orgânicos que o prendiam à natureza, tornandose nada mais do brenatureza”. Entretanto, dem atual é a ordem da Reve lação. O mandato que trouxe Cristo à Terra é inextirpável do seio da humanidade, componentes individuais suas instituições. O sobrenatu ral exerceu a sua ação sobre o pensamento, de

que uma soa or- re-

0 em seus e em maneira que podemos distinguir a filosofia cristã, isto é, a concepção radi cada na exclusão do cristianismo e a concepção fundada na incorporação ou transfigurada pelo cristia nismo.

A obra da modernidade, vei culada numa filosofia imanente, anticristã tentando naturali zar 0 sobrenatural deveria ter, portanto, repercussões imensas e fundamentais na educação.

porquanto a pedagogia, que e sobretudo educadora da inteligência e da vontade, poder-se-á considerar como sendo provei tosa aplicação prática dos prin cípios da filosofia (10)”. filosofia somente atinge a tota lidade da vida, quando mergu lhada no cristianismo, em face do desnorteamento ideológico contemporâneo, da onda de signação diante da dúvida e de paixão pelos mitos, de tantos deuses que se entronizaram, da indiferença pelo sentido da Ver dade, podemos dizer que a in teligência e a vontade estão in disciplinadas, enchendo de cla mor as ruas, inundando de agi tação as praças, transbordando de angústia nos lares inseguros, nas associações, nos grupos, no vasto campo da nação e no pla no do Estado, elevada das instituições cultu rais Se a

nao

ao cristianismo porque a mais a Universidade seleciona valores nem ideais, nem busca a plenitude da Ver dade em sua especulação. Não há ali 0 interesse pela verdade, nem a grandeza desta se impõe como 0 finalismo teleológico dos seres e das coisas.

(8) Caíholicisme, Ed. du Cerí. Paris 1938, p. 242. nL Maritain. Dc la Phllopbie Chróticnnc, Atlantica, Bio, 1945, pp. 2o728 Antonio Alves de Siqueira, Filosofia da Educação, Vozes, Petrdpolis, 1942 p 28

IA universalidade do conhe cimento só pode transmiti-lo a Universidade, mas a Universi- as dade centralizada sobre a ciên cia poderá fazer eruditos, mas não sábios e a “Cidade”, no di zer de Louis Lachance (4), “tem das necessidade de sábios, de sá bios livres e desinteressados, rania da pessoa e de sábios unicamente dóceis ao próprio bem comum. imperativo libertador da Ver dade”. Uma Universidade ex pedirá diplomas, preparará bons profissonais, mas não pro piciará à nação os guias de que 0 povo tem necessidade para dirigi-lo com acerto, porquanto lhe faltará o superior espírito universitário que corporifica o ideal em cujo molde se formam as elites harmoniosas.

contemporânea poderá ser to* talmente socialista, consoante vão colorindo os movimentos

tintas que violentamente sociais e políticos de nossos, dias. Teremos, então, obstruídurante largos anos, as vias de restauração da sobecom isto 0 novo ti-

0 burguês foi um po de homem produzido pelo capitalismo (5). Esse novo tipo de homem foi plasmado pelas teorias intelectuais Que semovimento desenvolveram com o capitalista: a ruptura valores tradicionais; razões de agir, que desde então ter lugar surgiram com os as novas passaram a das idéias insinuadas nos esoiritos, semeadas nas elites diri gentes, espalhadas nas Univer sidades. Daí. ganharam autono mia até conquistarem os postos de comando da sociedade.

O de que o mundo hoje ne cessita é do Homem Novo. E este caberá à Universidade formá-lo. Antes aue seja tão tarde para os fundamentos da paz social quanto o fora para as Universidades dos séculos anteriores. Como a Universi- se dade, desligada do cristianis mo medieval até ao apogeu do aburguesamento novecentista, foi liberal, a Universidade

0 homem novo burguês não prendia à religião. Para ele a Igreja era convencional e a mo ral religiosa devia existir como um fator de repressão dos abudo povo ou das inclinações sos

4) L’Humanisme Politique de Saint Thomas, Sirey, ParU-Ottawa. I. p. 2M. 5) Johannes Haessle El Trabajo y la Moral, Desclée. De Brower, Buenos Aires, 1944. p. 96 trad. castelhana.

abusivas que ele tivesse. A bur guesia opôs ao homem antigo, como 0 concebia a Igreja, um homem novo (6). Uma vida va foi também organizada so bre a antiga. Antes se dizia que os homens não podem encontrar a felicidade na terra. O bur guês acreditou ter provado o contrário e que ainda lhe esta vam abertas insuspeitadas pos sibilidades de aperfeiçoar a sua obra (7). O que a história nos mostra, no entanto, é a decadên cia cada vez maior do homem, num mundo que cada vez mais se engrandece materialmente. O homem se apouca, reduz-se em seu tamanho moral enquan to um progresso científico, desapiedado e indiferente, avolu ma-se num crescendo assom broso, até ganhar uma dimen são tão profunda que os povos são envolvidos no fervedouro das guerras, nos desajustamentos de toda a espécie, por isso que o Estado se tornou impo tente para coordenar os movi mentos da ciência aplicada, ou seja, da técnica, consequência da ascensão burguesa,

cedera à hierarquia orgânica da Idade Média. Assim, rompe ram-se os laços que prendiam o Ser à sua fonte, o homem a Deus, pois o característico do minante do burguês é a direção de seus olhos orientar-se para 0 mundo imanente: a terra o atrai mais do que o céu e os frutos do mundo lhe tem importância maior

nouma do que as recompensas do céu. Ã realida de abstrata do "outro lado", prefere a ilusão concreta “deste lado". O burquês é o homem terra-a-terra, sem transações com um Deus que lhe remoto e sem forças, pois o aue lhe importa é o progresso ma terial e deste mola propulsora, o fator deciparece o dinheiro é a sivo.

Foi porque a crença na perfectibilidade moral e progresso indefinido da raca humana tomou o lugar da fé cristã, como obieto final do forco humano ('8'). que a medi da dfl justiça desapareceu das relações .jurídicas passaram do pia natural, particinacão de la Concieiicia Burguesa, F. C. no essociais e as normas no que suQroethuysen, La Formacion castelhana. () id., ib. y Rellgion. La Espiga de Oro, AVííj, p. trad. castelhana. da lei E,. Buenos Aü-es.

eterna na criatura racional (9) para o plano positivo, em que 0 direito se enfeixa na mão do Príncipe — ou do chefe — o qual 0 funda e o exercita (10).

A crise, no bojo da qual a humanidade-ferve, os desajustamentos que trazem a sociedade universal em abolição; a anar quia espiritual, política, social, econômica, em cuja aridez vai se consumindo o que o cristia nismo ainda mantém de solida riedade e amor entre os homens, são os destroços de uma civili zação, que teorias intelectuais anti-humanas fizeram estuar neste século, para testemunha rem que só a Verdade pode produzir a paz espiritual e ofe recer um roteiro para o apeti te de infinito que polariza o homem para o trànscendente.

A teoria da Ilustração (11), e- o totalitarismo, cuja férula anti-pessoal é a nota mais viva de seu cunho anti-cristão, nada puderam fazer pelo homem. Contestando a soberania da “única verdade que os conde-

DIGESTO ECONÔMICO

Com esse proapresen-

na” (12), arruinaram a civili zação, estropiaram as cultu ras, desvirtuaram a ciência, desumanizaram a técnica e ar recadaram à arte seu finalismo transcendente, cesso de dissolução, tam à História o pobre, casti gado mundo de hoje.

Desnorteado, reduzido a es combros, sacudido pelas multi dões famintas que meio da destruição. erram no 0 mundo cinzas da moderno tem, nas hostilidade, a sinistra herança da secular rebeldia contra o' primado da Igreja e de seu magistério. No decorrer de tantos séculos, a Igreja Cató lica observara, vigilante, a edi ficação da sociedade laicizada observara e combatera, des de 0 século XVI, quando da vi tória liminar e essencial do li beralismo na arena religiosa. “Depois disso, vira negar a a seguir, a existência do Deus

personalidade e, própria Cristão: sua conversão em pri meiro motor mecânico, pondo

9) S. Theol.‘ I.a, Ilae., p. 91, art. 2, ín corp. t, 10) Jean Defroiclmont, La Science du Droit Positif, Desclée, De Brouwer, Poria, Ilustratloii, F.C.E., México, 1943, 1933, passlm.

11) Ernst Cüssier, Filosotia de Ia 12) Mauí-lce^BlondeL Lutte ponx la civilisatlon et piilosopliie de la paix, Flommarlon, Paris, 1939, p. 86. cap. IV,

resolutamente em movimento o mundo-máquina de Nevvton como inevitável

para o malogro do homem. Daí ser imperioso para uma Uni versidade que ame a Verdade e objetive restaurar a ciência na sabedoria. É este e, consequência, seu exílio, quando o desvanecimento dos homens pelo ráter puramenle mecânico des sa máquina transformou-se num ideal em si”. Assistii’a cer e à maioridade desse novo ente estranho, conhecido como Homem Econômico: o que vi via tão somente de pão. Vira os espíritos conturbados nelo mie ela considerava uma justi ficativa devida a esse prodí<?io de insensibilidade: a consciên cia dos tempos modernos... Tudo isso a Igreja tudo isso ela repelira”. (13) 0

ca- um perigo imenso em nosso século. Peri go que, de resto, produziu duas guerras e poderá produzir tras. ao nas- ou-

vu’a e

Tendo nas mãos as peças do processo da decadência hu mana, da poluição do espírito, do claudicar das instituições mais sólidas, podemos concluir que um ideal ecumêni co deve constituir nor assim di zer a essência da Universidade. Esta deve abranger a totalida de da vida e propiciar os vôos do espírito para o transcenden te. Uma Universidad anresPíTt.e truncada, estará

A direção da sociedade ca berá às elites que as Universi dades formarem. Assim como a burguesia produziu líderes bur gueses (14). o socialismo há de forçosamente produzir líderes socialistas. Mas tanto um como 0 outro constituem uma violên cia contra a natureza do ho mem, por isso que lhe atalham 0 caminhar para a beatitude.

A Universidade tem que ser, então, humanista, no sen tido em que “por humanismo se entende (15) a realização, na humanidade, dos fins superio res do mundo material e dos fins espirituais do homem que é, simultaneamente, corpo e espírito, ser pessoal e ser so cial”.

a£?ora e nne nns uma cosmovicão contribuindo Afirmou Alceu Amoroso Li so nela (Universida- ms. riue

n.<-adência da Bur^nesia, Airir, Rio 1945. ]t\ Ib. Jh, n. ■ii98.

●● Charmot. S.J., L’Hmnanisme ct l’Humain. Spes. Parlp, 1934, p. 32.

desvirtuou o grande sentido de Católica) encontraremos o verdadeiro espírito universitáfraternidade cultural que . daquela instituição. Restaureautentico humanismo se pois, o universidade. Liberte-se a universidade dos extrenusmos, sobretudo do comunista, que sua missão. no, essa que será a melhor das prepara ções à fraternidade social que a Igreja tanto recomenda para a Idade Nova em formação” (16). Mas essa Universidade foi corrompida pelo progressismo, forma de modernismo na ela cumprirá a Esse o discurso que entendemos sua finalidade. se integra em Ano de 1948.

Pedagógico, Stella. Rio, 1944, p. 16) Alceu de Amoroso Lima, Humanismo

CONCLUSÃO

194.

Se esse fim não for alcan- o iraanentismo filosófico, o m çado, a universidade não pas- diocrismo político, o servi sará de um ajuntamento de social, sobretudo o indiferen institutos superiores de ensino, mo moral, destituídos do autêntico espírito sível, no entanto, operar-se universitário, o que floresceu reação viva e forte do sen na Idade Média, a idade do es- mento humanista, do humanis- plendor das grandes institui- mo espiritual, e retemperar-se cões, de Paris. Oxford, Bologna, a universidade para a Coimbra e outras fundadas de- ção da juventude e dos dirige tes políticos, econômicos e so ciais do futuro. O Papa João Paulo II gloriosamente reinan te, antigo nrofessor de univer sidade, dirigiu a professores universitários, reunidos na Uni versidade de Bologna, segundo texto publicado no “L’Osservatore Romano”, de 25 de abril de Será sempre pospois. A universidade pode ser monstro, e tem sido, no mundo inteiro, por se ter dis tanciado do que chamamos ge nuíno humanismo. Não será fá cil libertar-se desse ônus. desmola de chumbo em mundn perdeu o sentido de seu destino, envolvido pelos "males do século”. 0 ateísmo religioso, 1982, discurso no qual os seus

um sa que

conceitos são coincidentes a tese defendida páginas atrás. Segundo o Papa João Paulo II, é precisamente característico da universidade, diferenciandose de outros centros de estude e de pesquisa, cultivar um co nhecimento universal^ não no sentido de que ela deva reunir 0 quadro completo de todas as disciplinas, mas que dentro de la cada ciência deve ser culti vada em espírito de universida de, isto é, com a consciência de que cada uma, embora diversa, está de tal modo ligada às ou tras que não é possível minis trá-la fora do contexto, ao me nos intencional, de todas as ou tras. Fechar-se é condenar-se. antes ou depois, à esterilidade, é arriscar tomar por norma da verdade total um método esta belecido para analisar e enten der uma secção particular da realidade. Por isso a visão da verdade, que o homem moderno atinge através do ousado tra balho da razão, não pode ser senão dinâmica e dialogica. Da do que a razão pode entender a unidade que liga o mundo e a verdade à origem deles só dentro de modos parciais de co nhecimento, cada uma das ciên cias em particular — inclusive

a filosofia e a teologia — manece um tentativo limitado que pode entender a unidade complexa da verdade unica mente na diversidade, significa, dentro de um entre laçamento de saberes abertos e complementares.

A pluralidade, que caracte riza o século XX, sobretudo os últimos anos deste milênio, re pele 0 ideologismo universitário. Envolver a universidade em preconceitos, paixões, lutas ideológicas consiste em trair a sua missão altíssima. Admitese, com amparo no pluralismo de nosso tempo, a ampla dis cussão, 0 debate aberto, a discussão de todos os temas, das idéias que empolgam a hu manidade. Nunca, porém, com 0 espírito fechado, que se ob serva frequentemente, no mun do inteiro, inclusive, portanto, no Brasil, quando predominam aversões fundadas, exclusiva mente, em opiniões, mais do que em julgamentos ideológicos. Quem se deixa imbuir pelo au têntico espírito universitário, aceita todas as correntes, a es piritualista cristã, a marxista materialista dialética, a racionalista neo-kantiana e outras, que seria longo arrolar. O que com per0 que

que rentes ideológicas, marxistas-leninistas, cultores de outras correntes do pensamento. Na Sorbonne, uma das mais tradicionais e repu tadas universidades de toda a

acabou, de fato, o tempo em universidade podia ser observamos, no entanto, em nu merosas universidades, é o choaté mesmo físico, de corque a concebida quase como socieda de fechada em si. Tais expecta tivas dizem respeito seja objetivos das pesquisas - zadas, seja à preparação estudantes a fim de que possam adequadamente sociedade. E, no

em regra com os aos realidos uma éxercer profissão na ^ . entanto, parece-me necessário afirmar, uma vez mais, o prin cípio da relativa autonomia da instituição universitária como garantia da liberdade da pes quisa. A liberdade de fato, e desde sempre condição essemdesenvolvimento de

Ihistória dessas instituições, quem não perfilhar ideologia de esquerda, mais especificamente, marxista-leninista, corre o sério risco de ser agredido. Na Uni versidade de São Paulo, grupeIhos marxistas já provocaram, em épocas diversas, conflitos internos, contra a normalidade do ensino e a frequência tran quila dos cursos pela maioria dos alunos. ciai para o uma ciência que conserve a sua íntima dignidade de pesquisa do verdadeiro e não seja redu- função, submetida

A universidade deve equili brar ciência e sabedoria, con soante a nossa tese, confirma da pela suprema autoridade do pontífice. Não basta deixar-se a universidade ficar exclusiva mente na pesquisa científica. É preciso ir além, à sabedoria, isto é, à essência do homem, ao qual a ciência deve servir. Acentua o Papa, que “a comuuniversitária deverá, certeza, sentir de maneira a ou por isso realidade.”

zida a pura instrumento de uma ideologia, para a exclusiva satisfação de fins imediatos, de necessidades sociais de sentido materialista de interesses econômicos, de perspectivas do saber humano inspiradas em critérios unilate rais ou parciais, próprios de interpretações tendenciosas, e, mesmo, incompletas da

Se há, pois, uma instituiç_ão onde a liberdade de expressão, pensamento, pesquisa, indaganidade com responsável as expectativas da sociedade civil que a circunda;

ção, debate deve ser assegura da, sem preconceitos, sem ani mosidade, sem atitudes hostis contra adversários, é a univer sidade. Se não se observar es sa linha na vida universitária, ela deixará de ser instituição, ou seja, fundação erigida para durar, e se transformará num conjunto de institutos de es tudos superiores, nem sem pre eficientes. Predominando a ideologia, que subverte a necessária autenticidade da institui ção, a universidade desserve a sociedade, e por extensão su prema, a nação. Em outras pa lavras, 0 arbítrio sobranceii'o da universidade deve ser o cul to da verdade e a submissão aos seus cânones.

Ouçamos, a propósito, lavra de João Paulo II: isso a visão da verdade, a pa“Por que 0 homem moderno atinge através do ousado trabalho da razão, não pode ser senão dinâmica e dialógica. Dado que a razão po de entender a unidade que liga 0 mundo e a verdade à origem deles só dentro de modos ciais de conhecimento, uma das ciências em particular inclusive a filosofia e a teologia — permanece um tentativo limitado que pode entender parcada a

unidade complexa da verdade unicamente na diversidade, o que significa, denti’o de um en trelaçamento de saberes abertos e complementares (cf. Discurso aos Cientistas, na catedral de Colônia, n. 2). Mas um modo tão vivo e perenemente vigilan te de encarnar o ideal da uni versalidade do conhecimento pode realizar-se só numa uni versidade que seja realmente uma comunidade de pesquisa, um lugar de encontro e de con fronto espiritual com humildade e coragem, onde os homens que amam o conhecimento apren dem a respeitar-se, a consultarse, criando um clima cultural e humano, que esteja longe tanto da especialização fechada e obstinada, quanto da generali dade e do relativismo. Os pon tos de vista parciais poderão fundir-se não porque constritos dentro de um plano predetermi nado, mas porque a recíproca auscultação e a assídua conver gência deixarão entrever a sua complementariedade. Uma se gunda tensão deriva do papel sempre mais determinante as sumido pela investigação cientí fica no mundo de hoje, de tal modo que ela é objeto de espe cífico interesse por parte da.

quele que detém o poder polí tico e econômico. Surge por is so 0 interrogativo, também este fundamental para a universi dade, da relação entre o poder público e a sua política cultural, ou outros poderes presentes na sociedade, e a autônoma inicia tiva das instituições universitá rias.

DIGESTO ECONÔMICO

quanto a Terra existir, brou-o 0 pontífice: Lem-

ra a Essa "autônoma iniciativa das instituições universitárias” é que deve ser preservada. Sem uma genuína, sólida, firme au tonomia universitária, será im possível conceber-se essa insti tuição no pleno sentido da pa lavra. Não cumprirá ela o seu papel nas sociedades. Formará, no máximo, profissionais, nem sempre bem preparados para o mister que escolheram, nun ca, porém, personagens de um mundo novo, aplicados a con duzir a sociedade a fins dos quais 0 bem comum seja a me ta última. Há, pois, uma ex pectativa da sociedade, se não expressa, ao menos intuitiva, à qual a universidade deve cor responder. Essa expectativa deve fundar-se, sobretudo, na essência espiritual do homem, no seu destino eterno, na sua permanência perpétua sobre a face da Terra, ao menos en-

“A ciência tanto mais efi cazmente pode influir sobre a praxis quanto mais é livre paverdade! A ciência é de fato visão total do homem e da sua história, é harmonia de síntese unitária entre as reali dades contingentes e a Verda de eterna. Como disse o Conci lio Vaticano H, estar subordinada à perfeiintegral da pessoa humabem da comunidade e

a cultura de-

ve çao na, ao da humanidade. Por isso é ne cessário cultivar 0 espírito de tal modo que se desenvolva a faculdade de admirar, de pene trar 0 íntimo das coisas, de contemplar, de formar um juí zo pessoal e de aperfeiçoar o religioso, moral e social. senso Porque deriva imediatamente da natureza racional e sociai do homem, a cultura precisa sem cessar de justa liberdade para se desenvolver e de legítima autonomia de ação, segundo os princípios próprios” (Gaudium et Spes, 59).

Portanto, uma interpreta ção da ciência e da cultura, que decididamente ignore ou até mesmo avilte a essência espiritual do homem, a sua

aspii‘ação à plenitude do ser, sua sede de verdade e de ab soluto

a os interrogativos que tualidade, nao as mais pro-

ele se põe diante dos enigmas do sofrimento e da morte, pode satisfazer fundas e autênticas exigências do homem. Ela por si mesma se exclui do reino do saber, isto é, da “sabedoria”, gosto de conhecimento, maturi dade do espírito, anseio de li berdade verdadeira de critério e prudência”.

São, pois, tituídos de finalidade versidades parcializadoras do ensino, as universidades ideo lógicas. A idéia de universida de, sobre a qual Newmann creveu páginas lapidares, de ve assentar fundamentalmente sobre a liberdade, como dis semos atrás, tendo, sabedoria

ciência, da tecnologia, da pes quisa, do convívio humano, autêntico espírito universitário. O notável discurso de Sua San tidade 0 Papa gloriosamente reinante, João Paulo II, expôs e defendeu essa tese, a qual coincide com a que também havíamos esposado anos antes, quando publicamos o trabalho agora reproduzido. Há um dis-

que e exercicio organismos desas uniesporém, a como medida da no

curso universitário. Sua elabo ração se entretece de espiride sabedoria, de ciência, de técnica, de pesqui sa e de amor. Sem esses in gredientes será inútil preten der construir e instituir uma universidade. Etiquetada com essa denominação, não será, no entanto, mais do que um conjunto de faculdades, fre quentada por alunos, que ao saírem não levarão com eles a mensagem universitária.

A palavra crise, de tão usada, acabou se banalizando. Fala-se de crise a propósito de tudo, da Igreja, das institui ções em crise, uma delas é a universidade, como centro de saber. Em artigo publicado no “O Estado de S. Paulo”, de 19 de setembro de 1982, o profes sor José Carlos Azevedo, rei tor da Universidade de Brasí lia, fez as seguintes considera ções, adiante transcritas, sobre a crise da universidade.

"A comissão que acaba de analisar o estado das universi dades italianas, sob os auspícios do International Council on the Future of the University che gou a conclusões que, em parte pelo menos, se identificam com

da presidida por Laurent Schwartz, em relação ao ensi no na França, divulgada no iní cio do ano passado.

alunos “de forma a estabelenúmero máximo de es-

os as cer um tudantes por instituição

Eis algumas das conclusões: “A universidade italiana, força fundadora da cultura ocidental, permaneceu profundamente tu multuada pelo movimento de massa, ocorrido no Ocidente, que reivindicava o igualitarismo... enquanto outras nações adotaram medidas para refor mar as universidades e atender exigências notórias, a Itália foi incapaz de enfrentar politica mente 0 grande aumento de alu nos e as reivindicações de na tureza ideológica relacionadas à universidade e emanadas de diferentes partes da socieda de”. O relatório afirma ainda haver o estudante médio da universidade “atingido os mais baixos níveis de desempenho, segundo a maioria dos professo res. .. apesar de uns 10 ou 15% serem tão bons ou melhores” que Os de sua época.

Eis algumas das recomen dações da comissão integrada por professores de Bonn, Paris, Yale, Genebra, Austrália e Cambridge:

* Aprimorar o processo de seleção estudantil e redistribuir

* Estabelecer uma forma de teste nacional de aptidão pa ra ingresso nas universidades;

* Acabar com a inflação de está à beira de des● notas que truir a credibilidade das insti tuições de ensino italianas”;

* Substituir 0 “pré-salário” crédito (equivalente ao nosso educativo...) por um sistema beneficie os estudantes po- que bres e bem dotados”;

^ Ampliar os sistemas de bibliotecas e laboratórios;

* Ajustar as anuidades es colares para “melhorar as con dições físicas das universidades italianas”; o relatório assinala anuidades estão entre as que as baixas da Europa;

* Acabar a exigência da diploma” de << “laurea” (o nosso nível superior...) para empre gos que não exigem esse nível de desempenho;

* Tornar prioritário o com portamento mais ordenado nes sas instituições porque “as uni versidades não constituem ter ritório defeso às organizações destinadas a fazer cumprir a lei e nem devem ser considera dos como tal;

digesto econômico -a

<( se-

* Sugerir que “só os alunos que obtiverem notas suficiente mente altas devem ser aprova dos’’. O relatório diz que o “tra_ balho universitário exige com petição seletiva, avaliação ba seada em inteligência, desem penho, ambição, talento, perso nalidade" e reafirma que leção não deve ser confundida com desigualdade".

Nem merece lembrar serejn algumas dessas recomendaçõ aplicáveis às universidades bra sileiras onde, por exemplo, o crédito educativo é farto, há reprovação e passam de ano todos estudantes que têm saú de suficiente es nao para permanecei nos bancos escolares estabelecidos pelo CFE. Á si tuação universitária brasileira, entretanto, pode tornar-se grave que a italiana, menos em função do crescimento da pulação estudantil e de seu ele vado contingente, que da im provisação de professores; bas ta lembrar que há pouco, de uma vez, inúmeros e inúmeros professores os prazos mais po-

Mas há outro problema grave no ensino brasileiro. Acer-

ca de dez anos, a UnB registrando, em seus relatórios anuais, disparidades existentes na distribuição de recursos fe derais para as universidades; o assunto nunca mereceu atenção e nem o fato de a universida de considerada “mais rica” ter Ficado sempre em último lugar no crescimento de recursos, sus citou interesse; parece lícito esperar que terá igual fim um trabalho divulgado no Congres so da IPSA, realizado no Rio de. Janeiro, em que são busca das explicações para tal distri buição anômala de recursos. The Funding of Brazilian Universities: Formalism Politics and Eureaucratic Activism tem por autor principal o dr. Mou ra e Castro, ex-diretor da Ca pes, sendo um dos co-autores o atual vice-diretor dessa insti tuição.

vem

0 trabalho analisa também 0 crescimento do orçamento das 32 universidades mantidas pela União no período de 1974/ 1981, evidenciando-se aí imen sas disparidades entre as insti tuições. O crescimento dos or çamentos oscilou entre 43,7% (para a Universidade de Brasí lia) e 3.274,9% (para a Univerpassaram a inte grar 0 corpo docente das tarquias. au-

Isidade de Uberlândia); nove instituições cresceram mais de 300%, cinco, entre 200 e 300%; sete entre 100 e 200% e onze cresceram menos de 100%. Os autores também atribuíram no tas para o desempenho acadê mico das instituições, no que tange à qualidade do ensino e às pesquisas; à UnB, por exem plo, conferiram as duas notas mais altas.

Os autores concluem haver correlação nítida e... inversa entre o crescimento do orça mento e a qualidade do ensino, o que constitui caso sui generis tanto entre as instituições de pesquisa quanto na milenar história das universidades. Em outras palavras, no Brasil, den tre as melhores instituições, há várias das menos aquinhoadas com recursos públicos e, dentre as consideradas piores, estão algumas das que mais recursos receberam.

Os autores do artigo não tiinteresse em analisar a veram influência do nível de relacio namento dos dirigentes das uni versidades e tecnocratas do MEC na distribuição de recur sos; há indícios claros de que muitas das instituições bem

aquinhoadas tiveram seus diri gentes trabalhando no MEC ou ali têm relações de amizade; aldessas instituições, en-

gumas tretanto, acham-se entre as con sideiadas piores.

Poderíam também ter ana lisado a destinação dos recur sos recebidos e talvez não o fi zeram por julgarem evidente que foram gastos com pessoal. Convém lembrar que o efetivo de professores, técnicos c admi nistradores do MEC ultrapassa Não sei se se- 140.000 pessoas, ria exagero pensar que no ensisuperior chegaremos à "mar cação homem a homem”. no

Em setembro de 1980, Mortimer Adler, filósofo e educador norte-americano, propôs que professores fossem mente submetidos a exames que os nao aprovados não po deríam lecionar; essa medida está sendo adotada em vários Estados norte-americanos. Em Oaklahoma, por exemplo, o pro fessor aprovado tem um contra to probatório de dois anos. Os Estados da Geórgia e Massa chusetts adotam medidas seme lhantes e 0 de Nova Iorque aceexame anual

03 periódicae.

na agora com um professores. No artigo para os

em questão, Adler, referindo-se a escolas e departamentos te-americanos, afirma: eles próprios a razão pela qual nossas escolas estão lotadas de professores incompetentes, mal-educados, iletrados e desmotivados”.

Adler acaba de criar o “Grupo Paideia” integrado por eminentes educadores e que pretende mudar o sistema de ensino norte-americano dando mais ênfase à educação generalista e “liberal”. É um truísmo observar que, currículos vinculados a profis sões, está uma das fontes dos embaraços do ensino brasileiro, assunto já analisado em outra ocasião. Sendo improvável que venham submeter os pro fessores a exames, o que seria salutar, talvez seja possível mudar os currículos ou, melhor, deixar que cada instituição, as melhores pelo menos, decidam sobre matéria pedagógica a interferência de CGT’s. claro.”

nor‘São seu ser

em nossos

perança na restaui’ação da uni versidade, confessional ou lei ga. De resto, não há universi dade leiga. A Pontifícia Uni versidade Católica de São Paudesgraçadamente lo, fundada pelo sempre lem brado cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, primeiro chanceler, deveria um viveiro do pensamento cris tão e de seu papel nutritivo das inteligências, aproveitando 0 depósito da Revelação e o ensinamento da Santa Madre Igreja, ao longo dos séculos, para conservar aceso o fogo votivo da espiritualidade. O que vemos, infelizmente, é ser essa universidade, como ou tras, congêneres, do País, to mada pelos marxistas, e osten sivamente difundindo a ideolo gia, confusa, ametódica, anticristã, anticatólica, de Marx. Esse é um exemplo. Outros poderíam ser-lhe adicionados, para comprovar a nossa tese.

sem

Numa sociedade plural, a ^ universidade deve estar aberta aos ventos do espírito, da inte ligência, da cultura, das trans formações por que passa vilização contemporânea. Mas que não seja intolerante, seja apegada à verdade, que se lembrem os professores do

O artigo é longo, e foi trans crito — dafa venia de a ciseu au. para complementar a nossa tese. Se nos permitem uma confissão, perdemos tor que a es-

sumo nus

çao, nao muito menos

dever, imposto pelo mu do magistério, que as inte ligências jovens, à sua disposidevem ser enganadas, intoxicadas. A majestade da cadeira que ocupam impõe aos professores esse dever, que, na maior par te das vezes, não é cumprido no exercício da profissão por eles abraçada.

Finalizando, que este dis curso sobre a universidade, possa contribuir, ainda que um pouco, para o estudo da pro blemática mais importante da Nação, pois de cientistas e téc nicos, de profissionais de todas as carreiras, vai depender o futuro da Nação.

SÓ repovoamento pode salvar camarão

— Cada fêmea ae camarão co loca de 300 a 800 mil ovos, mas apenas cinco a dez sobrevivem até o está gio comercial, quando em ambiente natural, sujeito a depredações do próprio meio e do homem. Mas é possível modificar essa situação por meio de crias em laboratório e soltura posterior, como se faz no Japao há mais de 15 anos, onde só de uma espécie (Peuaeus japonicas) scltamse cerca de 400 milhões por ano, com sobrevivência de 80 por cento. Na USP, projeto de repovoamento do camarão do mar está sendo desenvol vido pelo proí. Motonaga Iwai, do Departamento de Oceanografia Bioló gica do Instituto Oceanográfico. para preservação do estoque natural, principalmente do camarão rosa. Na década de 60. o Governo Federal, por intermédio da Sudepe. deu grande incentivo fiscal à pesca comercial, surgindo várias empresas dedicadas à exploração de peixes e camarões. A produção nacional aumentou consideravelmente, mas na década se guinte verificou-se queda acentuada devido à exaustão dos criadouros, receando-se, até, pela falta quase total do camarão pela dizimação dos estoques naturais. Nesse época, o Instituto Oceanográfico já fazia estu dos de exploração do camarão rosa na costa Sudeste do País, utilizando para pesquisa o N/Oc. “Prof. W. Besnard". Em 1973, o prof. Iwai apre sentou projeto de cultivo de camarão rosa. tendo recebido apoio finan ceiro inicial da Universidade para levá-lo adiante, concluindo o estudo sobre o desenvolvimento larval e pós-larval e o ciclo de vida dos cama rões. Cinco anos depois, submeteu à Sudepe projeto de repovoamento de camarões do mar em Cananéia, Sul do Estado. A aprovaçao do estudo deveria ser feita pela Comissão Interministenal dos Recursos do Mox, que ainda não se pronunciou. O pesquisador mostrava que o estoque natural do camarão rosa está em fase crítica, correndo risco de extinção se nao for feito esforço de repovoamento e reposição do estoque natural. A tec- laboratório até alcançar tamanho de (Continua na página 106)

nica proposta previa a criação em

A economia brasileira no período -

1967/82

Estudo bem fundamentado da economia brasileira no período. O autor chega a conclusões otimistas. O autor é Economista da APC/CEPA - MG. - Belo Horizonte, maio de 1982

4 — A recuperação econômica os anos do res — um ônus decorrente da política de “industrialização a qualquer preço” encetada no período 1956/60. As medidas econômicas a serem tomadas exigiam pois certas prioridades, como a ordenação e expansão do setor de bens de capital que exigiría por sua vez a ele vação da taxa de poupança. (1967/70) e “milagre ff

Em princípios dos anos 60 o Brasil já possuía um setor in dustrial de razoável desenvolvi mento, embora apresentando deficiências de integração rência de certos insumos e fato0 e ca-

DIGESTO ECONÔMICO

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PIB

QUADRO 7 Indicadores da política monetária e fiscal e do variações anuais dos saldos em fim de ano em termos reais

1965 a 1975 (EM %)

Empréstimos DespeOferta de ao Setor sas do Moeda Privado Governo

FONTES: Banco Central, Relatórios Anuais; Fundação Getúlio Vargas, Conjuntura Econômica, vários números.

Deflacionados pelo índice Geral-de Preços (Coluna 2. de Conjuntura Econômica). . ..

Variação média anual. .

5 — A situação nos anos 1974/79

Durante quase uma década já havia prenúncios da forma ção do cartel petrolífero, que foi finalmente organizado em novembro de 1973. As tentativas de organização se sucediam, mas só com o revide à Guerra dos Seis Dias, desencadeada pe lo Egito naquele ano é que os países árabes se sentiram suficientemente unidos e em con senso, 0 que resultou na forma ção do cartel. Os países indus trializados acostumados durante longo lapso de tempo a disporem de petróleo bruto a preços baixos, sofreram pesado impac to, do qual vão gradativamente se refazendo. Se importam pe tróleo a preços altos, exportam, por outro lado. para os países do cartel, bens e serviços a preços mais elevados, residindo neste circulo vicioso uma das causas da inflação que grassa na maioria dos países de econo mia de mercado.

Para a economia brasileira 0 cartel, elevando os preços de um insumo básico, veio agravar apenas um processo já em an damento. O efeito imediato foi

a queda nas relações de troca do Pais, que passaram de um valor favorável entre 1967 e 1973, para outro bastante des favorável. A queda nos termos de intercâmbio foi de 20% em apenas dois anos (1974 e 1975) 0 que, considerando-se que as exportações na época corres pondiam a 8% do produto inter no, representava a perda de cerca de 1.6%, em valor, do PIB exportado.

O que cumpre salientar aqui é que durante a fase da indus trialização intensiva houve, por parte dos países industrializa dos, como que um processo de exportação de fábricas em vez de produtos. Colocadas as bar reiras alfandegárias nos países em desenvolvimento, a solução encontrada pelos economistas centrais foi aquela. Este tipo de exportação era feita via inve.stimentos diretos, sendo relativ ci mente pequenos os empréstimos em divisas.

Nos anos que se sucederam, e mesmo durante o “milagre", a situação era bem diversa: grande afluxo de divisas que eram orientadas para o consu mo de duráveis e para importa-

ções, visando sofisticar os equi pamentos e expandir o setor de produção. Em virtude disto, foi crescendo a divida externa, crescimento que aumentou de ritmo com a crise do petróleo, em fins de 1973.

Dois fatores primordiais contribuíram para arrefecer crescimento da indústia de bens duráveis, até o nível de quase estagnação em que atualmente se encontra. Em primeiro lugar, partes cada vez maiores do montante de divisas captadas passaram a ser utilizadas para pagar amortizações e o serviço da dívida externa. E

em segun do lugar, a pirâmide salarial não permite à grande faixa da população, 0 acesso a estes bens duráveis. O período de expan são deste setor não podia, por tanto, prolongar-se por muito tempo.

Esta é a abordagem pelo lado da demanda, que revela um aspecto um tanto superficial do problema, Para atinarmos com as principais causas deter minantes, teremos de' 0 assunto pelo lado da oferta, pois como tem sido frequente mente salientado, o capitalismo examinar

é um sistema voltado essencial mente para a produção, sem se preocupar com o consumo das grandes massas ou o preenchi mento de suas necessidades mais prementes. Visa apenas uma produção mais eficiente, a custos baixos e, cm consequên cia, com 0 maior retorno pos sível.

Examinando do lado da pro dução, 0 que se observa é um problema de assincronia do fun cionamento de dois setores — o de bens duráveis, que desem penhava o papel de carro chefe nos anos do milagre, e o de bens da produção que, graças à deci são tomada anos antes pelo Governo, de implementar gran des projetos (indústria, hidre létrica, siderúrgica, não-ferrosos, mecânica, petroquímica, etc.) achava-se também em fa se de grande expansão. O que ocorre, porém, é que a expan são do setor de bens duráveis provoca um impulso no selor de bens de produção, que se efetiva depois de um certo lap so de tempo. Por outro lado. o setor de bens de produção po de se auto-impulsionar, proces so que por vezes tem inicio com uma decisão do Governo, como a

que foi mencionada linhas atrás. Com 0 setor de bens duráveis não ocorre o mesmo, pois para que 0 mesmo se ative a curto prazo, são necessáiúos existên cia de capacidades ociosas no setor produtivo e de endivida mento das famílias.

estatais não tinham autonomia, nem uma coordenação suficien te para contrabalançar o dese quilíbrio, de modo que junta mente com os dois setores de produção e duráveis —, o sis tema econômico como um todo entrou em declínio, numa fase que está agora sendo definida como de estagflação — estagna ção com inflação. Este é um pe ríodo em que as medidas alter nativas se apresentam como um dilema para os dirigentes do sistema econômico: controlar a inflação e aumentar o desern- prego, ou reaquecer a economja de fazer a inflação chegar a níveis incontroláveis. Esta é a famosa política do "stop and go”, em que se altermedidas de contenção e relaxamentos dos controles mo netários.

nam es-

Passemos, agora, à aprecia ção de alguns tópicos mais pecíficos da situação atual.

5.1. — Inflação

Devido aos altos níveis al cançados pela inflação em 1964. acima de 90% naquele ano, os instrumentos monetários e prin-

A capacidade ociosa existia, a margem de endividamento foi propiciada por mecanismos financeiros como o crédito dire to ao consumidor e outros, de modo que o setor de duráveis se expande até 1973, já com um ritmo menos acelerado naquele ano e. em 1974, entra em declí nio. Preenchida a capacidade ociosa, reduzida a capacidade de endividamento das classes dt nível médio e instalado o siste ma de captação de poupança, não restavam alternativas para 0 setor de duráveis senão en trar em declínio. O setor de bens de produção, sob impulso dos grandes projetos em anda mento, também se desaqueceu mas um pouco depois, uma vez que 0 Governo preocupado em controlar as pressões inflacio nárias, optou -pela..desacelei*ação gradual e, controlada dos projetos em apreço. Por outro lado, as grandes companhias cipaimente a repressão salarial com 0 risco

lograram debelá-la ríodo de quatro ou cinco anos, após 0 que recrudesceu nova mente de 1974 em diante. Em 1978 atingiu 40,8% ao ano che gando a 77,2%, em 1979 e a 110,2%, em 1980. O pico desta ascenção foi alcançado ço de 1981

em mar-

em que o percentual foi de 121,2%, com relação a março do ano anterior. A par tir daí, começou a entrar em declínio, via utilização de ins trumentos monetários e a es-

facilitar a por um pe- exposição, de in flação de custos e inflação de demanda, identificaremos, primeiro, a inflação importada, estrutura oligopolista e os pre ços agrícolas. E no segundo, os fatores monetários, as expecta tivas de crescimento além da capacidade da economia peculação nos mercados finan ceiros e imobiliái-ios. Um ter ceiro tipo pode ser incluído co mo causa inflacionária: a infla ção armazenada. Passemos a um exame mais detido de cada um deles. no a

em

mas bem inferior aos um ano atrás, (v.

. primor¬ diais. Em dezembro de 1981, a inflação acumulada baixou ra 95,2%, papara situar-se, fins de março de 1982, em torno de 91,5%, bastante elevado, é certo, 121,2% de quadro 8).

Vários têm sido os fatores invocados para explicar o recrudescimento da inflação. partir de 1974. A alguns tem sido atribuída a uma influência predominante, enquanto cie outros que as parecem ter sido beshrnadas, pelo fato de que a quantificação ou mesmo avalia ção destas influências são de consecução difícil ou até inviável. Dividindo cm dois tópicos. sumesmo a matéria a fim dc

. Quanto à inflação impor tada, lembremos o que ficou dito atrás, de que a crise do pe tróleo trouxe consigo uma in flação de abrangência mundial, e mesmo os países desenvolvi dos registraram níveis de dois dígitos, como ocorreu nos Esta dos Unidos e na Europa Ociden tal. O Brasil, que importa a maior parte do petróleo que consome, não poderia escapar de tal conjuntura. Para melhor avaliarmos esta inflação impor tada, comparemos os índices de preços de importação com o deflatór implícíto-doPIB. Observa remos que os preços de impor tação se elevaram de maneira

brusca de 25.2% e 54% em 1973 registrada em 1981 (v. quadro e 1974, respectivamente, para depois crescerem a níveis mó dicos de 3 a 4% ao ano até 1979, quando ocorreu a segunda ele vação abrupta determinada pelo lo fato de que as grandes em presas oligopolistas, têm em primeiro lugar, capacidade de defenderem da recessão, ele vando seus preços; e em segun do, poderem repassar aumentos de custos para outros setores da economia. 9).

cartel da OPEP. As variações nos preços do PIB, mostram, no entanto, uma elevação mais pro nunciada apenas de 1973 para 1974, quando a variação anual passa de 20,5% para 31,5%. Em 1979, nota-se outro crescimento deste tipo, coincidindo com a segunda elevação dos preços do petróleo. Mas considerando to¬

A estrutura oligopolista teria influência inflacionária pe-

se fato de Atente-se para o setor oligopolista es- que, se o tivesse forçando os preços para diversas colunas do do 0 período de 1970 a 1979, o que se nota na variação do deflator implícito é um crescimen to razoavelmente contínuo e exa cerbado apenas nas duas épo cas mencionadas, devido às ele vações mais acentuadas dos preços do petróleo. O que vem corroborar a asserção já colo cada da existência de outras causas para a inflação e de créscimo no ritmo de cresci mento do produto interno. Ain da não se dispõe dos valores do deflator implícito para 1980 e 1981, mas será proveitoso veri ficar se eles acompanham a es tabilização dos preços do petró leo em 1980 e a queda (-13,7%),

cima, as Quadro 10 (2, 3, 14, 8 e 5) apre sentariam percentuais maiores do índice total de atacado (col. 1). Isdo que cs preços por to não é 0 que ocorre: os oligo pólios parecem exercer pres sões não usuais, apenas even tualmente, como o setor de veí culos em 1981 e o setor de bens de produção em 1974, 1975 e 1980. No entanto, o setor de gêalimentícios apresentou neros em todos os anos do período, exceto em 1973, crescimento do índice total de superior ao preços por atacado Cv. Qua dro 11).

No entanto, não se pode Porto Alegre e Belo Horizonte descartar a possibilidade dos oligopólios estarem exercendo pressões inflacionárias, via transferenciais dos aumentos de custos que sobre eles incidem, mas certamente não será esta d pressão dominante, nem principal.

Alguns autores têm apre sentado os preços agrícolas co mo responsáveis pela inflação, cujo ritmo começou a recrudes cer após 1974. Se tomarmos um período mais longo, do 1970 a 1981, poderemos verificar que de fato os preços dos produtos agrícolas

elevação constante e quando comparados com a elevação do custo dc vida, sobrepujaram-no na maioria das vezes. O Qua dro 12 mo.stra-nos as elevações anuais dos índices do custo de vida e dos preços de alimenta ção em cinco capitais, em que 0 item alimentação se situou abaixo do custo de vida. No Rio de Janeiro cm 1975; em Curitib^ nos anos de 1975 e 1977; em São Paulo no triênio 1975/77; em Porto Alegre em 1976 e 1977 e em Belo Horizonte 1977. A reu também em no conrias. se mantiveram em

em 1981, devido à boa safra obtida naquele ano. Mas no res to de todo 0 período, a grande maioria dos anos, portanto, tônica foi da predominância do custo da alimentação. Algumas vezes, a discrepância foi cante como em Belo Horizonte em 1976 e 1979, no Rio em 1974 e 1979, em Porto Alegre 1980, além de outros. Se levar mos em conta o grande peso que tem o item alimentação cálculo do custo de vida, cluiremos que os gêneros ali mentícios contribuiram para in centivar as pressões inflacionáa mar-

mesma tendência preços.

Os fatores monetáiàos não devem ser omitidos, pois a quantidade de moeda é um ele mento de fundamental impor tância para contenção dos pro cessos inflacionários. Os meios de pagamento, em súbita ele vação após 1973, sem dúvida que contribuíram para a acele ração do ritmo inflacionário, a atual política de reduzir expansão, a uma taxa sensivel mente inferior à observada últimos doze e sua nos em 1974 c ocorcm Sãn Paulo. meses, procuran do reduzir seus efeitos negati vos sobre o índice de

DIG-ESTO ECONÔMICO

DIGESTO ECONÔMICO

Quadro

rOMTE: Centro

7<C'i õi,'ac Vi>ricívcis de Goví-rno/TIB : C-: j-ode 1 5 70/S0 Ô)

Tribulüs i U..OS. Clll t.Ll i p/ co;.- .r f i c: Di j ot o? b rui: j10£>, I BÍV)- (V)} os ror. ÍI) c:) cn.' íi)-f(n) (IV) IV)

ce Est.UüüS Fiscais e Ccn‘.rc üe. Cc.ntõS NaciorjRis

JBRE/DCE, FGV .

5.2 — Salários e distribuição de renda vas

Os problemas de política salarial estão intimamente liga dos ao produto interno, do qual a renda é como que uma contra partida e à sua composição estrutural em salários, juros, lucros e aluguéis. Há falta de informações sobre a participa ção destes itens na formação da renda interna, mas é lícito inferir-se uma maior parcela composta dos três primeiros e um percentual bem inferior re ferente aos aluguéis. Como será visto mais adiante, as medidas tomadas em anos rEcentes (leis 6.708 de 30/10/79 e 32/80) vie ram redistribuir salários e mo dificar sensivelmente a forma da pirâmide salarial, deixando praticamente intocados os ju ros e os lucros, que constituem justamente as parcelas que ca bem às classes de renda mais alta.

1965 e 1967 devido aos reajus tes, com base em subestimatido resíduo inflacionário da economia. Como convém relem brar, os níveis salariais eram estabelecidos com base na in flação esperada para o período anual subsequente. Em 1968 tal procedimento foi mudado, mas benefícios que daí decorreforam suficientes pa-

os ram nao ra evitar a perda de participa dos salários próximos do çao mínimo, na renda total. Quanto salário médio, este se elepassando a relação salário ao vou, médio/salârio-mínimo, 1965 para 3,0 em 1975. Quan to à distribuição de renda, os estudos feitos são unânimes em aum:nlo relativa1.5 de em indicar um mente alto da concentração en tre 1960 e 1970, passando o coe ficiente de Gini de 0,50 para 0,60.

A educação tem sido invo cada para explicar as dispari dades de renda e. implicitamenDc fato a As medidas contencionistas adotadas em 1965 vieram elimi nar subsídios a serviços dc uti lidade pública, transportes co letivos e liberar os aluguéis. O salário mínimo perdeu quase que 30% de seu valor real entre

le. a concentração, educação é a variável mais fortemeníe correlacionada com a renda; os indivíduos, à medi da que aumentam seu acervo nível educacional, vão tendo e acesso mais fácil às vias que

podem propiciar-lhes ascensão mento do custo do capital pa- social e rendimentos mais ele- ra o empresariado e fornecer desigual- ajuda e subsídios a certos se- dade de rendimentos como que tores da economia. Por outro seleciona aqueles que vão ter lado, a existência de bolsões de oportunidades de ensino, de pobreza veio agravar sobrema- modo que os cursos mais con- neira o grau de concentração, ceituados e de mais alto grau além de exigir providências de- contêm geralmente um percen- cisivas e imediatas para pro- tual maior de estudantes de piciar a extensos extratos de classe média e alta. população, os padrões mínimos

As causas da concentração hem-estar social. Salientede renda são várias. O próprio sistema de alocação de recursos existente nas mercado contribuem ela exista, já que atuam neste sentido. As oportunidades de aplicação de recursos rão aumentar e engrossar fluxos futuros de renda oferecidas apenas aos indiví duos e empresas que já têm uma situação definida tema econômico, e tais opor tunidades se multiplicam à me dida que u renda cre.sce.

economias de para que que vios sao no SIS-

A política gente nas duas ijltimas déca das contribuiu também

econômica vipara

agravar os desníveis na distri buição de renda devido à sun tônica de propiciar n baratea^

(4] Com ba.«5e no Censo Demográfico regiões norto e centro-oesfo.

se a este respeito que em 1972. 37% dos domicílios tinham ren da inferior ao maior saláriomínimo vigente. Em São Paulo, apenas 12% dos domicílios se encontravam nestas condições, ao passo que no Nordeste esta cifra chegava aos 66%. Por ou tro lado, a comparação entre o meio urbano e rural veio mos trar que quanto mais pobre o Estado, maior era o desnível da concentração de renda en tre 0 campo o a cidade. Como foi salientado, cons tatou-se concentração de renda no período 1960/70, e em anos mais recentes, o processo con tinua em andamento. O índice de Gini referente aos anos dc 1970 e 1972, passou, respectivamente, de Ò,57 para 0.62 (4).

cír 1970 e no PNAD de 1972. que não inclui as

Por outro lado, cálculos do ín dice de Theil, para os períodos agosto de 1972 a agosto de 1973, mostraram um índice de con centração de 0,59, o qual au mentou para 0,63 nos 12 meses seguintes com referência às classes de rendimentos mais altos. Cálculos feitos com base em declarações de imposto de renda de 4,5 milhões de pessoas físicas mostram que a concen tração se elevou entre 1968 a 1970, tendência que se prolon gou até 1972, para depois en trar em declínio, voltando aos valores registrados em 1968. a çao 1,3% anuais,

Tomando os setores de in dústria de transformação e ser viços, onde se enquadra a grande massa assalariada dp Pais, constatou-se que na indús tria a evolução dos salários do pessoal administrativo foi me lhor do que o dos operários, e estudos da lei dos 2/3, abran gendo 8,8 milhões de emprega dos no meio urbano em 1974 (indústria, comércio e serviços sem incluir' o Governo), mos-

ao ano. No comércio e serviços, metade inferior da distribuisalarial mostrou ganhos de a superior, de 6^6% Todos estes dados vêm mostrar, portanto, uma concen tração nas faixas de renda mais elevadas.

Um assunto que surge com frequência nos estudos de de senvolvimento econômico: o de de baiixa renda que nos países per capita, a obtenção de uma poupança que, uma vez inves- médio e longo mais altos de tida, assegure, a prazo, niveisproduto interno, implica nece^s- sariamente uma concentração de renda. O afluxo de poupandesconti-

ça externa deverá ser nuado dentro em breve por raoutro lado, zões já vistas; por nivel de renda per capita do País ainda é baixo, donde se po dería concluir que se está em face de um dilema de escolha entre tàxas mais altas de cres cimento do produto ou melhor distribuição de renda. Porém, alguns exercícios procurando tram, que na indústria os salá- verificar, a ordem de grandeza rios do decil. inferior tiveram destà. incompatibilidade^ entre crescimento. e distribuição, vie ram mostrar que uma melhoria 13,1% de 20% nesta última viria acar0 ganhos, reaia de 1,4% ao ano, enquanto que no decil superior, estes ganhos forani de

pequena diminuição no

rctar um decréscimo mento do PIB, de apenas 2%. Uma produto representaria, portanto, considerável melhora na distri buição, devendo-se salientar ainda que esta perda ocorrería apenas por um curto período de tempo.

no crescí- seriam também cabíveis, como é sabido, extensas faixas de população estão atualmente excluídas destes benefícios.

As medidas que poderíam ser tomadas de imediato, com menor custo social, seriam em primeiro lugar, de transfe rências seletivas, a famílias do meio rural com filhos em idade escolar. Também áreas deprimidas na periferia das grandes metrópoles poderíam

Medidas

complementares de distribuição de alimentos, fornecimento de serviços básicos (água. esgo to), habitações a custo subsidia do e extensão dos serviços do INPS às áreas mais carentes, contempladas. ser

As alíquotas sobre transmis são, Causa Mortis, de riqueza, deveríam ser reestudadas e ele vadas, a fim de que a concen tração de riqueza, e consequen temente de renda, não se perpetue através das gerações. As doações, ou Transmissões Inter Vivos, deveriam passar por re formulações semelhantes.

No que toca aos salários, passou a vigorar, em 1979, o no vo sistema de correções semes trais automáticas, com base no índice nacional de preços ao consumidor (INPC), o qual foi modificado em novembro do ano seguinte (leis 6.708 de ... 30/10/79 e 32/80 de novembro de 1980, ficando os reajustes as sim estabelecidos: pois,

Faixas (Salários Mínimos) Coeficiente de reajuste

mais de 20 Negociação

Desde o início da vigência da primeira lei, até o final de os 1980, 0 coeficiente de Gini mos trou uma ligeira desconcentra- tos, e passando de 0,4600161 para dos preços. Outras observações

demanda sobre

exercer maior bens de consumo assalariaos alimen- dd, principalmente a provocar a elevação çao, 0,456110.

Outra

ou

característica que decorrência

feitas salientam ter havido co- . mo que um achatamento da pi- ^ ^ rpaíustes se- rámide salarial. Êm 1979, a deste sistema de >^eajustes se cerca de um milhão de pessoas, de ganhos reais 6,1% da força de trabalho mente pequenos na classe de i cabia um terço (31,3%) da mas- a 3 salários míninms b por a 5a dn salários. Em 19Í12, essa vertiginosa de capacidade aquimesma faixa ficou reduzida a sitiva para as classes acima de 980 mil trabalhadores aproxi- lo salários, madamente, 5,2% da forca trabalho e detendo 18.3% do total dos salários. Portanto, as classes mais bem remunera das estariam ficando mais re duzidas não só em número, mas também auferindo um salário médio menor. A situação po dería ser resumida nos dados que aparecem no Quadro 15.

Alega-se, no entanto, que o estudo feito pelo FIBGE tem ainda cunho acadêmico, tornan do-se necessário o levantamen to de dados e de processo áe amostragem adequado, a fim de que se possa chegar a^ clusões definitivas. ■comendado ao IPEA um estudo deste tipo, e a Fundação Insti tuto de Pesquisas Econômicas da USP ficou incumbida de ve rificar 0 efeito desta redistribuiçnn da renda de produtos finais.

Iste explicaria a queda sen sível observada nas vendas dc bens duráveis de consumo, ob servada no período em apreço. Dispondo dc menor renda, as classes do topo da pirâmide es tariam restringindo seu consu mo de bens duráveis. As clas ses da base, com relativo au mento de renda, passariam a na demanda salientar

Talvez conviesse novamente que o sistema d? reajustes em apreço redistribui somente os rendimentos dos asconJá foi en-

salariados. Os rendimentos das classes mais altas, compostas primordialmente de juros e lu cros

maior parcela da renda global, continuam intocados e talvez estejam até aumentando faixa de participação. a sua e que representam a

QUADRO 15 — Participação de cada classe de réndímerito nò total de salários auferidos.

FONTE: PNAD 1979 e Censo Demográfico de 1980.

5.3. — Emprego

A economia brasileira pode ser considerada como composta de vários siibsetores qiic intera gem uns com ns outros, possuin do^ cada um deies um conjunto próprio de empregos. O proble ma primordial consiste não pro priamente na falta de emprego, mas na existência de numerosos mal remunerados e colocados à margem, ou me.smo isolados dos as

setores mais dinâmicos da eco nomia; em outras palavras, o problema é o da existência dc um número muito elevado dc subempregos.

O Quadro 16 mostra a estru tura de trabalho existente no País, em 1970 o em 1973. Dois grandes setores funcionavam, como ainda funcionam, com ba se no emprego assalariado: empresas e o setor público. Con siderando apenas os engajados

recebe apenas reflexos indiretos das medidas tomadas pelas au toridades para a racionalização do trabalho, como o salário milegislação trabalhista etc.

nimo, Ainda com referência dos empregados em ao emcaseus empregos, cursos inter- além de acesso a de treinamento e auferem afora os

atividades não agrícolas, pode-se observar que aqueles qua trabalhavam sob regime CLT ou sob as normas do fun cionalismo público federal ou estadual, representavam cerca de 49% da força de trabalho. ^ Os demais se enquadravam na podemos nele distinguir categoria de subemprego acima subgrupos que se destacam, mencionada, constituindo os j^esmo numa observação super51% restantes. fícial: o dos contratados diretaUma conclusão importante mente no mercado de trabalho, a ser tmada daí é que as me constituindo a grande maioria, didas tomadas pelo Governo vj composta de trabalhadores me sando à elevação de nível de nos qualificados e cuja rotativi^ emprego e à melhoria das con- dade nos empregos é bastante dições de trabalho atingem apt- alta; e o subgrupo dos mais nas a metade da população tegorizados, que tem mais estaocupada. A outra metade (em bilidade em prego autônomo e produção ia miliar não agrícola, no Quadro nos 16) fica alijada destas medidas. salários mais altos, ganhos de produtividade, iais geralmente se localiempresas maiores e mais burocratizadas. Nas de mais — médias e pequenas , totalidade dos empre em

Os trabalhadores assalaria empregos zam nas dos que militam dentro do setoi empresarial fazem parte de di ferentes grupos e subgrupos, cujo aparecimento é devido nãt» tanto às preferências dos ope rários por determinado tipo de trabalho, mas às orientações das empresas, visando maior economia e eficiência no prode produção. Já os autôparticipantes da a quase gos é constituída pelo primeiro subgrupo. Como já foi salientado, exis te uma alta correlação entre os salários e a educação, mas a influência desta última no vel salarial, é indireta. O sa lário é primordialmente detercesso nomos e os produção familiar constituem grupo mais homogêneo, que nium

minado pelo tipo de ocupação do empregado, atuando a edu cação como um fator que faci lita 0 ^acesso a este tipo de ocupaçao.

uma prosua , nos que quaisquer no

Quanto ao setor de produ ção familiar, sua característi ca predominante é a do tama nho, 0 que nos leva a inferir ser este setor responsável por parcela representativa do duto interno. Uma parcela des te produto é destinada ao autoconsumo. a outra chega até o mercado. Na produção familiar mercantil, podemos distinguir as pequenas propriedades agrí colas, as pequenas unidades de comércio varejista ou de pres tação de serviços, os artesãos e pequenas indústrias domésti cas e parte das profissões libe rais. Devido à sua baixa renta bilidade, as empresas não são atraídas para este campo, e por outro lado, os baixos custos são os fatores que asseguram sobrevivência. Tais caracterís ticas, além de seu tamanho levam a inferir modificações, significativas setor só seriam exequíveis a longo prazo, de uma década ou mais.

O trabalho rural trando desde vários vem regisanos, 0 apa-

recimento e expansão de nova categoria de trabalhadores — os boias-frias. Seu surgimen to está vinculado às rurais: à medida que estas vão se multiplicando, num processo que bem ilustra a penetração do capitalismo no campo, introduzindo mão-de-obra e tor nando a produção familiar para autoconsumo inviável, face à produção em massa. Por outro lado, a alta natalidade das familias rurais faz com que, no decorrer do tempo, as terras exíguas de que estas famílias dispõem para cultivar vão se tornando insuficientes. Nesta si tuação, uma parte desta mãode-obra desocupada aflui para os grandes centros, a outra pro cura emprego temporário nas empresas rurais, vindo a cons tituir 0 contingente móvel dos bóias-frias.

Nas proposições e sugestões de políticas visando a melhoria desse setor, deve-se, portanto, ter sempre em mente o fato de que existe não um, mas vários mercados de trabalho e que os trabalhadores se enquadram em dois grandes grupos: o empre sarial (privado e público) e o familiar (mercantil ou domésti co). Por outro lado, fica eviuma empresas vao

denciado que é mais importan te atuar na estrutura da ofer ta de empregos do que na pre paração de mão-de-obra.

As medidas que o Governo tem possibilidade de tomar po dem ser diretas (contratação de funcionários públicos) e indire tas (incentivos a atividades que criem empregos). Os trabalha dores, engajados no setor pri-' vado, são mais dificilmente atingidos pelas mudanças feitas na política salarial. Medidas vi sando a elevação dos salários mais baixos fazem com que au mente a rotatividade dos menos qualificados, a subcontratação, ou mudanças no processo produ tivo. Diminui, assim, a oferta de emprego para esta mão-deobra menos qualificada. Quanto àquelas políticas que visem re duzir os salários mais altos, es tas. são contornadas por meio dé salários não monetários ou indi retos, ou ainda por promoções.

As funções do emprego no setor público deveriam visar, primeiramente, complementar a iniciativa privada, ocupando uma parcela adicional de mãode-obra e reduzir no que for possível, 0 desemprego. E em segundo lugar, absorver a mãode-obra desqualificada e de bai¬

renda. Certos serviços como de infra-estrutura urbana, limpeza pública, manutenção da rede de água e esgotos podem feitos com mão-de-obra ru dimentar. Tais orientações po deríam ser tomadas nas pequecidades, evitando e/ou di-

xa os ser nas miiiuindo o fluxo rural-urbano.

Há nos Bancos de Desenvol vimento, critérios de aprovação de projetos que incluem o nú mero de empregos que irão sur gir em decorrência dos mesmos. Porém estes são, em sua maio ria, projetos de implantação de pequenas ou médias empresas, pequenos empresários que e os por eles se interessam, na maio ria das vezes, não têm acesso às linhas de financiamento existen tes. Por isto seria interessante fortalecer o montante de subsí dios implícitos neste financia mentos facilitando, deste modo, 0 acesso destes empresários me nores. Por outro lado, geralmen te ocorre uma discrepância en¬ tre 0 número de empregos pre vistos e 0 que realmente se ve rifica após b pro.ieto entrar ern funcionamento. Para corrigir esta falha, conviría fazerem-sé avaliações rotineiras quanto à meta estabelecida e os empre gos efetivamente criados.

Para o setor familiar, ponsável por uma significativa parte do produto interno, poder- se-ia sugerir um sistema de subcontratação, paga mediante tarefa executada. As empresas estariam interessadas em ele var tanto quanto possível, o nú mero de seus subcontratados, já que estes não implicam as des pesas decorrentes das leis trab^Jhí?tas. Por outro lado, a di minuição no número de empre gos sob contrato seria relativa mente pequena. Tal processo tem dado bons resultados países industrializados, entr quais 0 exemplo mais marcante é 0 da Itália.

resas Cüpequee enem e os es para vemanelra ra coope-

Por meio da subcontratação a força de trabalho familiar po dería se expandir sensivelmen te, abrindo oportunidad mulheres, adolescentes e Ihos, que não teriam de produzir senão a domicílio e/ou com horário flexível pasuas atividades. Poderíam, além disto, ser formadas rativas agrícolas de serviços, de comercialização, emprésti mo de instrumentos e ferramen tas, oferecendo principalmento oportunidades de complementaçâo dos salários de trabalhado res já ocupados.

A exemplo das cooperativas agrícolas que, embora num rit mo lento, vão se fortalecendo e se espalhando por todo o País, poderíam ser formadas operativas urbanas de nos produtores. Seriam agrupa dos produtos do mesmo tipo. fornecendo a cooperativa assis tência à produção, empréstimo de instrumentos e ferramentas, material a preço de custo carregando-se dos serviços com plementares e da comercializa ção. Ainda não se tem, no País, exemplos de iniciativas seme lhantes. Outro tipo que podería ser cogitado seria o das coope rativas assistenciais, oferecen do creches, crédito ao consumo e informações de emprego, orientação profissional, exis tência de serviços públicos etc. Também contribuíram, ao ofe recer esta assistência, para o aumento da renda real e da oferta de trabalho.

Durante o ano de 1981, o ní vel de emprego baixou em todo 0 País, mais agudamente na re gião centro-sul. As estatísticas sobre o assunto que são feitas com base em variações mensais sobre o mês anterior já mos tram uma melhora incipiente, como resultado da decisão do Governo de afrouxar os contro-

les monetários em favor de seu nivel de emprego mais alto. De qualquer modo, trata-se ainda de um comportamento típico da política de “stop-and-go”, tor nando-se necessária a adoção de medidas alternativas, como

DIGESTO ECONÔMICO

as que foram expostas no de correr deste texto, a fim de que se possa chegar a uma fase da economia em que tais proble mas estejam, senão resolvidos, pelo menos minorados ou em vias de solução.

QUADRO 16 — Estrutura do emprego não agrícola no Brasil, em 1970 e 1973 (em milhares de trabalhadores) 1 970 1973 Anos

PEA

PEA Não Agricola

Força de trabalho não agrí

Empregados

Autônomos

Empregadores

Membros da família ...

Emprego empresarial não agrícola

Privado

Público

Empregadores

Emprego autônomo e na pro dução familiar não agrícola

Autônomos

Membros da família ..

Empregador

FONTE: MTIC — Boletim Técnico — Brasília GDI, 1974 PNAD 1973 — Censo nemográfico 1970 5.037

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14 SINGER, P. 4.a edição — 1978.

— A Crise do "MHagre" — Paz e Terra,

Para compreender o Brasil, é preciso ler estas obras de

TRATADO GERAL DO BRASIL

A CRISE DA REPUBLICA PRESIDENCIAL

0 PODER MODERADOR

Edições de Livraria Pioneira Editora

Praça Dirceu Lima, 313

02515 São Paulo

Lenine e a burocracia

Lenine foi o criador da burocracia moderna, fundando, ● X ^ antiga Santa Rússia, a U.R.S.S. comunista. O autor é professor de filosofia na U.S.P.

Como qualificar a obra de Lenin? A maioria dos autores marxistas vêem nela

T , um exem¬ plo ilustre de ideologia do prole tariado; defesa dos interesses da classe operária, ou pura expres são destes interesses. Claro há a consciência crescente de ’ 0 '‘marxismo-leninismo nou nos países comunistas um instrumento de dominação da classe burocrática sobre as ou tras camadas da sociedade, in cluindo 0 operariado. Um apare lho ideológico, cuja tarefa é jus tificar a repressão do que se toroperaria- sua

do e de sua livre organização — veja-se o destino do Solidarieda de na Polônia. Pode portanto ser nitidamente visto como o contrário de uma ideologia pro letária. Mas para muitos isso á mera consequência da degenerescência da revolução russa: ver nesta uma revolução originariamente socialista é uma ma neira de isentar a obra de Le nin de qualquer responsabilida de histórica no processo que conduziu à ditadura burocrática. Lenin seria um lídimo represen tante do proletariado, e

çao inocente do pecado burocrático.

Mas sempre houve os que negaram a Lenin — a sua obra

DIGESTO ECONÔMICO

estratégia de Lenin consistiu em visar conscientemen- revolução teria sido puramente proletária: depois, Stalin teriam desviado a revolução, invertendo sua direinicial. O leninismo seria e seus sempre te à instauração de um regime a serviço dos interesses de sua própria camada social, fingindo que seü programa servia ao in teresse operário apenas para melhor conquistar adeptos e atingir seus fins? Creio que se escrita e a sua ação política — trata de algo mais complexo. E qualquer caráter proletário ou importante lembrar, com En- socialista. Já na década de 1930 q fenômeno da ideolo0 revolucionário russo Volodia gg passa sobretudo no pla- Smirnov, membro da oposição inconsciente — e é devioperária ao regime soviético, ^ ggta origem que esse fepreso num dos campos de con- nômeno se apresenta com tão centração stalinista, declarava grande complexidade, durante uma das frequentes discussões políticas entre prisioNunca houve na Rússia um sucessores

A crítica das ideologias é método de análise que nos de Marx e Engels (em A neiros. revolução proletária, nem ditadma do proletariado. Houve simplesmente uma revolução popular por baixo e uma dita dura burocrática pelo alto. Le- ideologia burguesa “ _ nin nunca foi um ideólogo do mo o discurso de justificação proletariado. Do princípio ao pseudo-racional da revolução fim foi sempre um ideólogo da burguesa, ou da dominação da inteligentzia” (citado em Anton burguesia sobre o conjunto da Ciliga, Au pays du mensonge sociedade, em períodos histori- deconcertant, p. 219). Que pode cos determinados. Não há rasignificar esta afirmação, que zão para que o mesmo método Lenin era um ideólogo da inte- não possa servir para tornar ligentzia. Isto é, da camada so- mais claro o sentido de outros ciai formada pelos intelectuais tipos de discurso — o leninista, e técnicos, e não do operariado? por exemplo. Já foi dito^ que Querería isso dizer que toda a uma das limitações do marxismo vem . Ideologia Alemã eoutras obras). Geralmente o método é anlicado pelos marxistas ao estudo d^ vista co¬

é sua incapacidade para dar conta de fenômenos fora da fera capitalista, incluindo mundo comunista de hoje. Talvez seja assim. Mas por outro lado 0 movimento leninista está, e centralmente, na origem das atuais sociedades burocráticas. Pelo menos um aspecto da gê nese destas podería assim tor nar-se objeto de uma análise inspirada num dos importantes (e talvez um dos mais duradouros) do pensamen to marxista, que é a teoria cri tica das ideologias. Assim, tindo de um dos aspectos ou di mensões do marxismo esta teoria, podería chegar-se analisar criticamente outro as pecto do marxismo — a obra de Lenin e a ação política acompanhou. A serpente der sua própria cauda? Depen de do gosto de cada um pelas metáforas zoológicas. Em todo caso, analisar criticamente a ideologia leninista só poderá ser feito em estreito confronto a prática social e política lhe corresponde: toda ideologia serve interesses definidos interior de uma sociedade, pode ser estudada independen temente de sua função ta. Portanto a história da

lução russa deverá ser um hori zonte indispensável para a com preensão da ideologia leninista.

A dominação da classe bu rocrática sobre o conjunto da sociedade soviética é um fenô meno social e econômico que se tornou possível graças a um fa tor de ordem política: o comple to monopólio do poder pelo par tido único, que na origem se chamava partido bolchevique — 0 partido dirigido por Lenin. Foi em torno do partido que se or ganizou e se cristalizou a nova classe dominante soviética, que sempre teve no aparelho do par tido 0 instrumento político de sua dominação. O monopólio po lítico do partido representava imediatamente o monopólio eco nômico e social da classe buro crática no poder (ver Castoriadis; La societé bureaucratique e outras obras). Examinar como se foi constituindo e afirmando aquele monopólio político e quais foram as manifestações ideológicas que o foram acom panhando e justificando, espe cialmente aquelas onde Lenin era o principal ator histórico, pode contribuir para alcançar mos a finalidade aqui em vista. es0 veios mais par¬ que e a que a a mor0 com que no e nao concrerevo-

O monopólio do poder

volution (os números entre parenteses remetem para as pági nas do primeiro volume desta obra),

0 monopólio do poder polí tico pelo partido não foi decre tado, de maneira oficial e ple namente jurídica, desde o iní cio da revolução russa: a ex clusão da vida política do país de todos os partidos, menos o bolchevique, deu-se aos poucos, . l>l ● t num processo gradual que vai a Assembleia Constituinte, que já haviam sido convocadas pelo governo provisório derru bado em outubro, Para os 707

Logo no segundo mês da re volução, a 12 de novembro de 1917, realizaram-se as eleições de 1917 a 1921, Mas desde o gol pe de 25 de outubro de 1917 os bolcheviques já eram os únicos detentores do poder, inclusive lugares dessa assembleia, foi eleita uma maioria de represen tantes dos socialistas revolucio nários (SR), nada menos de 410 — uma ampla maioria absoluta. Os representantes dos bolchevi ques eram menos de um quar to: 175. Os kadets, partido “bur guês”, tinham 17 lugares, e os mencheviques, tes” comunistas, tinham 16; os militar, de impor aos outros suas próprias decisões — o que nunca se privaram de fazer. E desde antes da revolução a ideologia revolucionária bolche vique já antecipadamente justi ficava a liquidação de todos os adversários políticos, tornan do-se essa ideologia um pode roso instrumento no processo de imposição e consolidação da restantes pertenciam a partidos nova classe dominante. A histó- menores. Resultados estes que ria dos primeiros anos do go verno bolchevique é em grande parte a história da aplicação dessa ideologia à vida política do país, presidindo à completa liquidação de todas as forças que não se fundiram com o par tido bolchevique. Para acompa nhar essa história, valemo-nos sustentado pela força, e foi graa partir daqui da obra clássica de E. Carr, The Bolshevik Redissidenveredicto representavam um fortemente negativo quanto à permanência do governo impos to pelo golpe militar do mês an terior (119-120).

No entanto, o governo bolchèvique continuou no poder, dualmente conseguindo elimi nar todos os outros partidos.

Em 28 de novembro de 1917 kadets foram postos fora da lei. Em 17 de dezembro forr sos vários dos líderes SR, tre os quais o presidente do partido. Em 11 de abril de 1918 os centros anarquistas foram fechados pela polícia política, a Tcheka. Entretanto, o único po der reconhecido pelo 0 das assembléias popula res (sovietes), e a Assembléia Constituinte não voltara a nir-se depois de 5 de janeiro. Em 14 de junho os SR, -estavam aliados aos bõlcheviques (e por isso eram chama dos "de direita”), os mencheviques, foram elimi nados dos sovietes. No 5,

0 con gresso dos sovietes, em .4 de julho de 1918, já só havia repre sentantes dos bolcheviques e dos SR “adesistas” (chamados “de esquerda”), além de que na peque nas frações (745 dos primeiros, 352 dos segundos e 172 destas frações). Assim, logo

nos pri meiros meses, a única força po lítica significativa seu lugar no único órgão de poder que existia ao lado do go verno foi, além dos bolchevi ques, aquela que se prestou papel de "simpatizante” (122 125, 170-2). ’ a manter ao

Mas, pouco depois do 5.° gresso, alguns SR "de esquer da”, vários dos quais pertencen tes à Tcheka, assassinaram o embaixador alemão na Rússia. O que imediatamente serviu de pretexto para a prisão da maio ria dos representantes eleitos dessa facção, sendo 13 deles fuzilados. Diversos de seus jor nais foram proibidos. E no dia 9 de julho as seções socialistas foram, em sua maioria, excluí das dos sovietes. Assim, na vés pera do primeiro aniversário da revolução, a 24 de outubro de 1918, 0 6.0 congresso dos so vietes pode reunir-se com uma composição quase inteiramento bolchevique (173-4, 178), Estava alcançada a “hegemonia da classe proletária realidade era a hegemonia da burocracia leninista.

os conam preengoverne era reuque nao assim como

Alguns partidos continua ram sendo tolerados por algurn tempo, embora sem direito a ter representantes. Além dos socialistas “leais”, foram acei tos também aqueles dos men cheviques que adotaram idên tica atitude. No 8,o congresso do partido, em março de 1919, um delegado mais “ortodoxo” protestou contra essa “legaliza-

Estas diversas medidas acompanhadas, natural mente, por um discurso ideoló gico de justificação. No caso da liquidação da Constituinte, uti lizou-se uma argumentação ad hoc. Ao mesmo tempo que as estava-se realizando Pan-Russo

dos socialistas e dos mencheviques, ao que Lenin res- eram pondeu que eles não eram um inimigo sério, como a burgue sia; mas que, se eles se alias sem a esta, também a eles se riam aplicadas “as medidas da ditadura proletária”. Nos meses eleições, seguintes, o comportamento da um Congresso maioria dos mencheviques po- dos Representantes Camponedurante o qual Lenin e representantes bolcheviques criar uma cisão ção dia ser descrito pelo comissário ses, das nacionalidades, que se cha- os mava Josef Stalin, como um conseguiram passar-se a pouco e pouco nos delegados dos SR, aproveipara o campo da república so- tando as dissenções internas viética” — isto é, simplesmenie desse partido. No mês de junho dos so¬ optar pela capitulação e o adesismo. Dois anos depois, em maio de 1921, a única maneira querda de escapar à repressão era en viar para o jornal do partido uma declaração renunciando a qualquer ligação com os socia listas. Todo este conjunto de medidas teve como resultado

anterior, no congresso vietes, um grupo de SR “de es- tinha dado apoio à embora minoria bolchevique, com isso afetar o partido

sem SR como um todo. Mas nesse fato apoiou-se a argumentação bolchevique para desqualificar a votação recebida pelos socia listas para a assembléia: o po- tinha votado numa só lista desse partido, ignorando sua ci- , , , , . . , são interna, e agora a maioria ceçao do bolchevique. e claro. havia-se coligado Estava consagrado o monopólio político daquele que depois vi ría a tornar-se mais conhecido que já no verão de 1921 todos os partidos se encontravam praticamente extintos, com exvo foi aos bolcheviques. O que afirmado mesmo em face da de depu- péquena proporção tados SR “de esquerda presentação desse partido contra 370 —, proporção que os como 0 Partido Comunista da União Soviética (180-2, 184-5, na re— 40 193).

bolcheviques declararam fortuita...

ser

O povo votou por um partido que já não existia”, afirmou Lenin. Esta e outras peças de casuística foram o bas tante para desqualificar a elei ção democrática de uma ria parlamentar (20-2).

ss que a Assembléia

maio-

Se o governo bolchevique preferia conferir o poder aos sovietes, e não à assembléia, sem dúvida porque naque les conseguia a maioria, maioria foi obtida no mês de julho seguinte, e ainda assim apenas graças à proibição de todos os partidos menos os dó ceis SR “de esquerda”, em vez de admitir esta Lenin preferiu sustentar era

Mas razao, que a república de sovietes é uma for mais elevada do princípio democrático do que bléia constituinte ma a assemprópria das repúblicas burguesas e a única capaz de realizar uma transição “menos dolorosa” para o socia lismo. E que a tentativa de carar a questão da Constituinte do ponto de vista forma] eniidico, no quadro da democracia burguesa, era uma traição proletariado, um erro motivado pela incompreensão das tarefas da ditadura aa

Num discurso de l.o de de zembro de 1917, Lenin deixou claras as intenções do poder bolchevique: "Pedem-nos convoquemos Constituinte tal como foi origi nalmente concebida. Não, muito obrigado! Ela foi concebida contra o povo, e nós promove mos a insurreição para garan tir que ela não seria usada con tra o povo. Quando uma classe revolucionária está lutando con tra as classes proprietárias que oferecem resistência, essa re sistência tem de ser suprimida, e nós suprimi-la-emos através dos mesmos métodos com os quais as classes proprietárias suprimiam o proletariado. Ain da não foram inventados novos métodos” (123). Os “velhos mé todos” resumem-se, é claro, ao uso da força e da violência. E cabe aqui estranhar que tais' declarações não tenham sido fei tas antes de conhecidos os re sultados da eleição da assem bléia, ou que 0 governo não te nha simplesmente proibido sua realização.

A "Democracia" Vermelha do proletariado Tudo isto produz uma forte impressão de oportunismo, da (123-4).

Esta

na um

parte de Lenin e dos outros di rigentes bolcheviques. Mas seerro explicar essa atitu de de desprezo pela democracia formal e pela vontade da maio ria do povo russo expressa nas eleições, como um simples ex pediente oportunista, ao qual aqueles dirigentes teriam recor rido depois do fato para justi ficar a liquidação da Assem bléia Constituinte c garantir para si mesmos o monopólio do poder. Isto porque em textos anteriores à revolução esses mesmos dirigentes já haviam defendido uma concepção da de mocracia exatamente idêntica à que defenderam nessa ocasião. O principal desses textos é, sem dúvida, O Estado e a Revolução, escrito por Lenin um pouco an tes da revolução russa (os nú meros entre parênteses a se guir remetem para as páginas da edição francesa).

Neste livro, Lenin já havia deixado clara sua atitude quan to à democracia “burguesa”: es ta democracia tem valor apenas no quadro capitalista, e destinase a ser superada pela revolu ção proletária. “Somos pela re pública democrática enquamo melhor forma de Estado para ( proletariado em regime capita-

lista; mas não temos o direito de esquecer que o povo está condenado à escravidão assala riada, mesmo na mais democrá tica'das repúblicas burguesas” (23). A democracia capitalista é hipócrita e mentirosa (100), c uma "democracia truncada, mi serável, falsificada, uma demo cracia unicamente- pa)-a os i‘iCOS, para a minoria” (102). Que libertação do proletariado possa vir da "evolução pacífica da democracia” não passa de uma “ilusão pequeno-burguesa” (28). O “democratismo” da so ciedade capitalista é uma de mocracia "para uma ínfima mi noria”, uma “democracia para (99). Fica bem claro

os ricos que Lenin, bem antes das eleiantes da revolução, já çoes, e estava justificando o que viria a ser, depois destas eleições, um completo desprezo por elas como forma de expressão demo crática, do ponto de vista revo lucionário.

Para Lenin, a democracia não era a mesma coisa que a submissão da minoria à maio ria. “A democracia é um Estado que reconhece a submissão da minoria à maioria; por outras palavras, é uma organização destinada a garantir o exercício

por outra, ;uma parte da população contra a outra parte’' (93; grifosdeLenin). No pensamento leninista, o conceito de democracia é in separável do conceito de Esta do. Recorrendo ao conceito de ditadura do proletariado, presso por Max “ Manifesto Comunista, por exe Engcls no define essa ditadura como uma forma de organização do Estado se reduz a uma coisa só; letariado organizado se dominante (28). A verda deira conquista da democracia e a organização do proletariado como classe dominante (47), is to é, a imposição do poder letário pela violência, claro que para Lenin o proleta riado é a maioria da sociedade — uma maioria explorada pela minoria burguesa, que lução passa a dominar esta mi noria e no exercício dessa domi nação prepara o fim de toda exploração do homem pelo ho mem. Mas de modo algum Le nin sugere que se trate de maioria ‘‘empírica”, Sc' trate da efetiva da maioria do

sistemático da violência uma classe contra ganização da vanguarda dos oprimidos como classe dominan te (100-1). Da vanguarda — isto é, do grupo que representa Os verdadeiros interesses dos oprimidos, e se coloca à cabe ça da revolução.

Doutrina pré-revolucionária

A recusa leninista da demo cracia parlamentar nao passa por uma recusa do conceito de representação política. Não trata de recorrer a Rousseau, para o qual que um povo escolhe represen tantes ele deixa de ser livre” (Du Confract Social, III, XV, p. 431). Lenin afirma a necessida de de organismos representati vos; mas afirma também que esses organismos não podem os do parlamentarismo. Contra a democracia defendida pelos outros partidos, Lenin exalta, 0 exemplo da Comuna de Paris: que 0 procomo clas¬ se no momento em proÉ bem ser na revo-

Comuna substitui o parlamentarismo venal, podre até 0 caroço, da sociedade bur guesa, a liberdade de opinião e de discussão não degenera em lo gro, pois os próprios parlamen tares devem trabalhar, devem aplicar eles mesmos suas leis e uma

isto é, qqe organização povo como real detentora do poder político, ditadura do proletariado épor organismos onde “A e a or-

tar — a Assembléia Constituin te. E há outros elementos de antecipada justificação da prá tica política real do bolchevisdepois da revolução, na obra de Lenin. A dita-

responder por elas diretamente eleitores. Perma- perante seus necem os organismos represen tativos, mas 0 parlamentarismo sistema especial, como mo, como divisão do trabalho legislativo c executivo, como situação privi legiada para os deputados, dei xa de existir. Não podemos con ceber uma democracia, mesmo uma democracia proletária, organismos representatimesma dura do proletariado não pode limitar-se, para simples ampliação da democra cia"; ao amplia, pois pela primeira vez História é uma democracia pobres, ela implica “uma série de restriele, "a uma mesmo tempo que se na sem vos; mas podemos e devemos concebê-la sem parlamentaris mo, se é que a crítica da socie dade burguesa não é para nós uma palavra vã, se é que nossa vontade de derrubar a domina-

para os também ções à liberdade para os opres sores, 05 exploradores, oS capi talistas”. A democracia prolctá tária não é para todos: Demoimensa maioria ção da burguesia é uma vonta de séria e sincera e não uma frase “eleitoral” destinada a captar os votos dos operários, como no caso dos mencheviques e dos socialistas revolucio nários” (55-6). Esses organis mos representativos opostos aos do parlamentarismo, que Lenin considera os únicos compatíveis com a democracia proletária, tinham na realidade russa um exato equivalente concreto: oa sovietes.

cracia para a do povo e repressão pela foiça, isto é, exclusão da democracia, òs exploradores, os opres- para . . sores do povo; tal é a modifisofrida pela democracia caçao quando da transição do capita lismo para o comunismo” (101). Ê evidente que, à luz destes princípios bastava qualificar o maioria socialista revolucioná ria na Assembléia como minoria opressora para se encontrarem justificadas todas as medidas repressivas do poder bolcheviNa medida em que essa 0 discurso político leninista justifica portanto, antecipada mente, a decisão política de li quidar a instituição parlamenque.

maioria exprime, segundo os bolcheviques, a dominação bur-

ao a ver-

nao seja se a

guesa, nada mais justo, ou mais “democrático”, do que a liqui dação dessa pseudomaioria, a substituição do poder da As sembléia pelo do sovietes, mesmo a posterior supressão de todos os partidos opostos partido que representa dadeira vanguarda da classe operária e os verdadeiros inte resses do proletariado. Justifi ca-se também que o princípio do sufrágio universal mais seguido à risca, pois democracia não é mais para todos não é mais imperativo que todos tenham direito de voto em qualquer eleição. Efeti vamente, a Constituição publicada no Izvestia de 19 de julho de 1918, não reconhecia nenhuma igualdade formal de direitos entre os cidadãos

russa, rus sos. A Constituição excluiu do direito de voto aqueles que empregam outros em vista do lucro”, assim como aqueles que vivem de uma renda não derivada de seu próprio traba lho”, os “homens de negócios” e os "monges e padres”, do mo modo que os criminosos e os imbecis... Estas medidas discriminatórias mespermaneceram em vigor até 1936 (Carr, 151-2).

As medidas restritivas da Constituição russa, embora to madas depois da eleição da Constituinte, não podem ser vis tas como simples medidas oportunistas, tomadas ad hoc com 0 fim de retirar o direito de voto aos prováveis oposito res do regime, fortalecendo a probabilidade de um domínio comunista nas eleições para os sovietes, único órgão represen tativo subsistente. É claro que estas medidas tiveram essa função, e não pode excluir-se, por parte de seus autores, uma certa consciência de sua utili dade para a dominação bolchevique. Mas a constituição não faz mais do que consagrar prin cípios defendidos por Lenin já desde antes da vitória da revo lução. Se tomarmos como mar co de referência o caso da As sembléia, sem levar em conta os textos bolcheviques anterio res, constatamos que aparecem como justificação após o fato as palavras de Zinoviev, um dos principais dirigentes bolchevi ques, em janeiro de 1918: “Ve mos na rivalidade entre a As sembléia Constituinte e os so vietes uma disputa histórica entre duas revoluções, a revo lução burguesa e a revolução

socialista. As eleições para a Assembléia Constituinte são um eco da primeira revolução bur guesa, em fevereiro (do ano an terior), mas certamente não da revolução do povo, a revolução socialista

Uma Premonição

digesto econômico

do partido bolchevique, destinada a colocar este, vanguarda

uma

estas palavras de Zinoviev não fazem mais do que repetir uma doutrina leninista elaborada muito antes, não podendo por tanto ser interpretadas como simples justificação casuistica. açao autodefinido como da classe operária, como único dono do poder político. Não se trata de oportunismo, trata-se de ideologia. E uma ideologia naturalmente não precisa (Carr, 125). Mas que esperar que o grupo do qual é expressão se encontre no poder desenvolver em toda para se sua plenitude. Foi deste mesmo modo que a ideologia burguesa, marxistas foram os como os primeiros a apontar, se desen volveu muito antes da vitória da revolução burguesa, de mo do tal que o discurso justificati vo dessa revolução já se encon trava pronto no momento em esta triunfou. Os bolchevigrupo minoritá-

A doutrina leninista foi ela borada antes da revolução e encontra-se expressa em muitos outros textos anteriores ao O Estado e a Revolução. As medidas tomadas pelos bolcheviques no poder, desde a recusa de uma vontade majoritária ex pressa em eleições livres até a introdução do voto qualificado, passando pela proibição de to das as organizações partidárias exceto a sua própria, são a di reta aplicação das idéias de fendidas pelos bolcíieviqués quando ainda não estavam no poder. 0 que significa simples mente que a doutrina leninista desde o início se constitui como ideologia justificativa da áção que ques eram um rip na sociedade russa, que s^^biam perfeitamente — ou pres sentiam inconscientemente — estar-lhes vedado o acesso ao poder através da livre manifes tação da vontade dn povo . A maioria deste povo prefeoutro caminho para a russo na um transformação socialista da so ciedade, o dos socialistas revo lucionários. Nada mais natural, grupo bolchevique, do para o que a elaboração de uma ideo logia política favorável a seu

capaz de justifi car as decisões e as medidas que esse grupo necessariamen te teria de tomar, para realiza” seu projeto.

A teoria leninista da demo cracia, que de toda perspectiva não-comunista só pode apare cer como antidemocrática, . uma ideologia de justificação da atividade revolucionária bol chevique e da tomada do poder por esse grupo político. Ideolo gia como tudo 0 que isso portava para Marx, no caso da ideologia burguesa: deforma¬ ção da realidade, falsa ciência, em função de determi nados interesses. A ideologia burguesa servia à ascensão da burguesia. A ideologia leninista serve à ascensão da burocracia, e sua transformação em classe dominante. A inexistência de uma diferenciação desta clas se em relação às outras, termos econômicos, antes da voluçâo. não pode servir de pretexto para ocultar o caráter ideológico da doutrina leninista. O setor de quadros médios amalgamado pela prática comcons-

projeto de dominação. E nada mais natural, para esta ideologia, do que se concentrar : ■ produção de um conceito de “democracia" nista num partido coeso sem-número de grupos de apoio não deixa de ser uma camada social em ascensão, tal como os grupos burgueses antes de sua revolução. Que essa cama da média só se defina em ter mos de posse do capital depoi«da revolução é secundário — a não ser para a ortodoxia mar xista, segundo a qual essa de finição econômica é essenc-al. - Mas para o marxista Pannakoek a revolução russa é uma revo lução de classe média (cartas a Castoriadis, no volume deste último L'expéríence du mouvement ouvríer, vol. 1, p. 275) — neste caso, como em tantos ou tros, a recusa da ortodoxia foi indispensável para conseguir ver claro... e um

O “Poder Proletário

O socialista russo Herzen escreveu em 1868: “Uma repú blica que não levasse ao socia lismo parecer-nos-ia absurda, uma transição que se tomaria a si mesma por um fim; e um socialismo que tentasse dispen sar a liberdade política, a igual dade de direitos, degeneraria rapidamente para o comunismo autoritário” (Carr, 26). É ineem re¬ comu-

gável 0 valor premonitório des ta afirmação, na qual Herzen parecia prever qual iria destino do socialismo em pais a partir de 1917. Que a de mocracia é inseparável da li berdade e da igualdade de di- ^ reitos é coisa evidente para to dos, menos para os partidários da Ideologia burocrática e para partidários dos regimes au toritários de direita que não - assumir-se claramente antidemocráticos. Os ideó-

As Desilusões

0 mesmo caráter ideológico é a marca da doutrina leninista do Estado. O Estado e a Revo lução declara que todo Estado poder especial de represdirigido contra a classe e portanto nenhum

ser 0 seu sao oprimida, Estado é livre ou popular (23; grifo de Lenin). Só quando o Estado deixar inteiramente de existir será possível uma de mocracia realmente completa (iOl). Mas quando será possí vel essa democracia? Lenin de clara ignorá-lo, não saber com que rapidez e gradação” ela virá; e ao mesmo tempo afirma saber que ela chegará, que rá um dia em que o Estado de saparecerá (104). Hoje sabemos que mais de 60 anos de poder bolchevique não fizeram que se dia chegasse, que pelo con trário- se assiste na União So viética a um reforçamento do Estado, e de seu poder de re pressão, poucas vezes verifica do na História. A idéia leninista do fim do Estado é uma utopia de função ideológica, que relega futuro distante o reino os querem como logos de direita falam em de mocracia orgânica, ou em de mocracia relativa, ao caracterizarem seus regimes, com isso ocultando o fato óbvio de não tratar de democracias. A teoria leninista usa artifícios análogos, também a serviço de dominação de classe, e VI- S £● uma igualmente mascarando o cará ter antidemocrático desta do minação, e por isso essa teoria não passa de uma ideologia. A lucidez de Herzen parece inteiramente ausente das páginas' de Lenin, quanto à questão da de mocracia, e 0 que encontramos nestas páginas é aquela obscuri- um dade e aquela distorção que liberdade, tentando apresenMarx soube identificar no dis- tar como uma “transição neces- ideológico burguês. sária” a ditadura da classe bu.escurso

rocrática — ao mesmo tempo que a ideologia se duplica na pretensão de que essa ditadura é a da classe operária, da maio ria do povo. Comparadas com Lenin, -as ditaduras militares que se apresentam como etapas necessárias para o restabeleci mento da lei e da ordem demo cráticas e se vão eternizando no poder sem fixarem o prazo de seu próprio desaparecimento são pobres imitadores em pe quena escala. Mas o artifício é fundamentalmente

0 mesmo.

Toda a ideologia da classe burocrática cabe numa simples expressão: poder proletário. Na ficção da ditadura do pro letariado, que a mais elemen tar análise mostra

ser impos sível literalmente, iá está con tida parte do artifício daquela ideologia. A ditadura do pro letariado não pode ser enten dida literal»^ente devido à sim ples impossibilidade de fazer exercer o poder por essa clas se, demasiado numerosa para seus membros que todos os exerçam o poder político, - um lado, e pop outro incapaz de se tornar classe dominante epi sentido próprio sem mesmo tempo deixar de ser classe operária, transformam

do-se ém classe política diri gente. Na impossibilidade de uma interpretação à letra, “di tadura'do proletariado” apare ce como uma expressão meta fórica: trata-se da ditadura apenas da “vanguarda” dessa classe, de seus “representan tes”. Tal como os exegetas da Bíblia abandonaram a insis tência na interpretação literal de seus textos, quando a ciên cia começou a mostrar o absur do desses textos conforme essa interpretação e passaram a procurar interpretações que fugissem a essa literalidade, do mesmo modo os intérpretes do marxismo têm de reconhe-

cer este “sentido figurado” da ditadura do proletariado. Mais do que uma metáfora, temos aqui uma outra figura de re tórica, uma c.inédoque: uma fi gura na qual se toma a parte pelo todo, ou melhor, se usa o nome do todo quando na rea lidade se está anenas designan do uma parte desse todo. Em vez da classe inteira, está se apontando apenas para aquela de suas partes que constitui sua vanguarda.

Dor E essa vanguarda, é cla ro, não é constituída apenas por proletários ao é constituída

dig-esto econômico

torna claro e inteligível clássicos do marxismo, esse papsl central. nos sobretudo pelos que adotam a dessa classe. A onde "perspectiva ditadura do proletariado é realidade a ditadura da van guarda da revolução, composta pelo núcleo central está impulsionando, senconceito desempenha um na que e Essência burocrática que a do relativamente secundária a social de seus memtextos le* Não apenas nos É bem conhecida a origem bros. Essa vanguarda é o par tido e seus aliados. O que sai rá da revolução será, portan to, a ditadura do partido e de aliados. Como vimos no dos socialistas revolucioninistas. oposição de Rosa Luxemburgo ao leninismo, e sabe-se que muitos revolucionários desilu didos com a ortodoxia comu nista pensaram poder encon trar na obra de Rosa uma ins piração mais “democratizan- fcs”. É frequente esta autora in flamar a imaginação daqueles pretendem situar entre seus caso nários “de esquerda” na revo lução de 1917, trata-se só de seus aliados enquanto estes são submissos, ou seja, quan do sua ação é exatamente a que 0 partido deseja. Isto é, ou ss comportam como os mem bros do partido ou deixam de “ditadores”, passando a ser perseguido. Portanto, e afinal de contas, “ditadura do proletariado” quer dizer dita dura do partido comunista. Ou, por outras palavras, quer dizer ditadura da classe buro Esta é a face social

que se o partido comunista e os par tidos socialistas democráticos, rejeitando o primeiro como e os segundos co ou mesmo stalinista reformistas”, obietivamente burguetipo de militante que dos SR "de ser mo <( como ses” — 0 é 0 digno sucessor esquerda”, e não^ conhece su ficientemente a história da volução russa para poder adi vinhar a sorte que o espera em seu país, caso uma revolução semelhante. Certamente há importantes di f.erenças entre Lenin e Rosa Luxemburgo. Mas esta é inscrática. e econômica da anterior, a do partido, que é política. E s"poder proletário”, na realida de histórica, quer dizer “dita dura da burocracia”, tudo se neste ocorra

pirada pela mesma ideologia do "poder proletário”; Desde que existem sociedades de classe e que a luta de classes constitui o motor essencial da história, a conquista do poder político foi sempre a finalida de de todas as classes ascen dentes

GSac con-

Já sabemos o que uma em

assim como o ponto de partida e o ponto de chegada de todo período histórico”, creve ela em Reforma Social ou Revolução? (72). Quanto proletariado. Rosa adota, tra 0 "revisionismo” de Bernstein e outros, a concepção do minante do partido comunista: "O proletariado adquire, pela experiência na luta sindical e política, a convicção de que è impossível transformar de ci ma a baixo sua situação ape nas por meio desta luta, e que só chegará definitivamente a isso apoderando-se do poder político” (46). que isto quer dizer: nova classe, transformada burocracia dominante, virá~ a apoderar-se^do poder político. Que Rosa nao tivesse consciên cia disso é, infelizmente, irrele vante.

A ideologia revolucionária, com Lenin e outros, ta-se ^como apresenproletária e na

realidade é essencialmente bu rocrática, na medida em que sua função histórica consiste, independentements da vonta de dos que a produzem, em servir de cobertura para a as censão social da classe buro crática. Talvez em nossos dias 0 discurso "marxista-Ieninista” dos dirigentes soviéticos não possa mais ser considera do propriamente uma ideologia — segundo Castoriadis, hoje a linguagem deles é apenas uma retórica, que utiliza abundan temente 0 vocabulário marxis ta, mas exprime uma fria vi são do mundo como simples I relação de forças; quando eles falam da “vitória mundial do socialismo”, por exemplo, o aue se esconde por detrás des sa retórica é simplesmente a idéia do império mundial russo-comunista. Para Castoria dis, só há ideologia quando há uma tgntativa de justificação "racional" e "racionalizante" dos projetos de um grupo ou de uma classe, quer seja para preservar uma situação exis tente ou para modificá-la; só há ideologia quando há argu mentação, e um contato míni mo entre a argumencação e os fatos fDevant ia guerre, 225-7).

Mas o discurso leninista origi nal, por estes mesmos crité rios, certamente e um dis curso ideológico no sentido pleda expressão, um discurso argumentativo e pretensamen te racional por detrás do qual se esconde todo o movimento de ascensão de um grupo sócio-político. De modo algum qualquer hipótese acerca das verdad'3iras intenções subjeti vas de Lenin poderá servir pa ra recusar liminarmente o ca ráter ideológico de seu dis curso, pelo menos se se adotar a perspectiva da teoria mar'■ista das ideologias.

Para esta teoria, o critério decisivo é a função histórica desempenhada pelas ideologias, no quadro geral da luta de classes, independentemente das intenções dos atores históricos em geral e em particular dos produtores do discurso ideoló gico. Quando a análise marxis ta leva à identificação de cer tos textos como exemplos de ideologia burguesa, de modo algum ela é acompanhada de qualquer juízo acerca da cons ciência que porventura os au tores desses textos pudessem ter da função social que de sempenham na história. “Não o

sabem, mas fazem-no”, é das mais populares frases de Marx, aplicada por ele e muitos de seus seguidores à maneira mo os homens fazem a histó ria, defendendo os interesses de social, mas sempre

cono

seu grupoignorando que é esse o sentido profundo de sua ação e sempre se iludindo acerca dele, geral mente acreditando que são ou tras suas motivações — sobre tudo acreditando na validade L?niversal das propostas de ganização ou reorganização da sociedade que defendem, con vencidos que estão de qne essas propostas são as que me- interesses do povo em geral, ou da maioria, dos explorados. O ideólo go burguês contribui para mudança histórica defendendo ideais e programas em cuja absoluta verdade acredita pro fundamente, sem se aperceber fazê-lo, não está or¬

Ihor servem aos ou a de que, ao fazendo mais do que favorecer a ascensão de seu próprio gru po social. O que os marxistas geralmente não conseguem ver é que também o ideólogo da burocracia e o ativista que pauta sua ação pela “teoria desse ideólogo se iludem de maneira semelhante, ao acredi-

revo-

sem perceber que rea-

tarem que seu programa lucionário serve aos interesses proletários, sua ação e seu discurso na lidade servem apenas aos inte resses da nova classe — a clas se a que pertencem.

O mecanismo da ilusão

O mecanismo produtor des ta ilusão, a ilusão burocrática, certamente é idêntico àquele que a crítica marxista implici tamente supõe ocorrer consciente do ideólogo burguês: há um certo modelo de sociedade futura que aparece, com ilusória clareza, modelo capaz de melhor

no inuma

conscientemente exercido por esse modelo sobre a imaginação do ideólogo burocrático deriva do fato de corresponder a uma situação social onde ele pode rá vir a ter um lugar de mui to maior relevo do que o que lhe cabe na sociedade onde vi ve. Não se trata de oportunis mo, mas antes de “má fé”, em sentido sartriano, de um pro cesso inconsciente onde o pen samento é dominado pela ima gem social mais agradável, aquela que produz maior pra zer intelectual — sem que em momento algum o ideólogo to me consciência desse processo. É este, talvez, o artifício mais central daquilo que podemos chamar a "astúcia”, não da ra zão, mas da ideologia. Esta irrompe na história como pro-

como 0 servir aos interesses dos oprimidos e aos da sociedade em geral. Pa ra a aplicação concreta desse modelo à sociedade real, nhum obstáculo lhe parece de- consciente .— e é nessa mediyer opor-se, nenhum princípio da em que a história se desen- ético ou político deve pertur- rola, em parte, independente- bar a realização desse plano grandioso e redentor. No tanto, para os que contram dominados ideologia,' Talver não seja difí- "Tarde”, cil conceber que o fascínio induto do funcionamento do in- nemente das intenções de seus atores. Lenin é apenas um ca so entre muitos. (Publicado ennao SC enpor essa originariamente no “Jornal da do qual, data vênia, transcrevemos).

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A crise do ensino secundário

Desejando escapar da massificação, cai-se na pior deias.

Ao participar de um simpó sio no qual se cuidava de liar a reforma universitária ainda vigente, salientei qualquer alteração nos superiores

elevado para a oitava série o mínimo de ensino normalmente exigível não era razão bastante para reduzir-se tudo a uma questão de grau.

Mas 0 que importa, em úl tima análise, não é a denomi nação, mas a substância do curso, e o que se ministra nos três últimos anos do curso se cundário é deveras deplorável, e continuará sendo mesmo de pois de ter-se, em boa hora, considerado facultativo o ensi no profissionalizante, um dos avaque cursos está condicionada pelos desvios ocorridos sino colegial. Confesso que ain da não me habituei à importa ção americana das denomina ções “primeiro, segundo e ter ceiro graus", pura macaqueação que não vale o nosso lonamento tradicional sos primário, ou colegial. no enescaem curginasial, liceal O fato de ter-se

pior delas, que é a massifi cação mnemônica, quando o estudante se sente sufocado pela volumosa congérie dos en sinamentos recebidos e, já fa lho de capacidade expressional, pelo abandono dos valores na

(t^ontihüáção da página 44)

DIGESTO ECONÔMICO

humanísticos, que deveríam ser tão cultivados como os da ciência, sente que, no fundo, ele figura como máquina de de corar inserida na máquina de ensinar a que se reduziram os nossos liceus.

dois a três centímetros e soltura posterior em criadouros naturais. Quan do as larvas alcançassem 10 a 15 centímetros sairíam naturalmente para o alto mar, completando o ciclo de vida. É de notar-se que até alcança rem dois centímetros os camarões têm comportamento planctônico, e a partir daí adquirem comportamento bentônico (vivem em grupos no fundo dos criadouros, enterrando-se no lodo quando ameaçados por depredadores). A pesquisa ainda não determinou a porcentagem de sobre vivência dos camarões nascidos em criadouros artificiais, depois da sol tura. O projeto prevê o rastreio dos camarões repovoados mediante mar cação individual, para distingui-los dos nascidos naturalmente, Há grande interesse comercial pelo camarão e. principalmente no Norte e Nordeste, várias empresas particulares, mistas ou estatais, tentam culti vá-lo. Em 1973, a Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Norte implantou o Projeto Camarão, com auxílio de técnicos japoneses e norteamericanos. Na Bahia, a Ceplac (entidade que cuida da produção e exportação do cacau) constrói viveiro, e em operação, já existe o Pro jeto Pescon, com 130 hectares. Projeto Pitu — Outro estudo em anda mento no Instituto Oceanográfico refere-se ao cultivo do pitu (água doce), de responsabilidade -Io prof. Plínio Soares Moreira. Iniciado em 19B0. 0 projeto encontra-se na fase básica, sendo objetivo final a fase semicomercial, a ser alcançada na Bse Norte do Instituto Ocenográfico, em Ubatuba. As finalidades do projeto são a manutenção do plan tei reprodutor em condições ótimas; determinação da relação ótima de salinidade, temperatura e luz para a maior sobrevivência larval; dimi nuição do período larval em função da temperatura/alimento; formula ção do alimento adequado para o máximo crescimento larval o rápida metamorfose, tendo em vista a diminuição do custo do alimento; deter minação das condições para maior sobrevivência e crescimento das pós- larvas até o tamanho comercial; estudo dos requerimentos energéticos medido através do metabolismo respiratório, em diferentes salinidades: cálculo da capacidade de osmo-regulaçâo (mudança de águas: da saloom para doce) e padrão eletroforético das espécies. O pitu ^ três fases: Larval, pós-larval e adulto. Na primeira, necessita do água salgada. (Do Boletim da USP).

renegociação da dívida externa

Rubens Vaz da Costa

é mais sério ® /^a/s patriótico estudar o gerenciamento da a . àiyida. O autor é consultor de empresas. í ^^^●^^Í3ir)ento do Estado de São Paulo, presidente do BNH e presidente do Banco do Nordeste.

1 — Voltou a baila o tema aa renegociação da dívida terna brasileira. Em de 1980, houve muita

sinuações e propostas dos ban queiros internacionais, que con taram com algum apoio no Bra sil, e 0 assunto caiu de moda.

2 — Após o revés, no cam peonato mundial de futebol e depois da inflação de 8% em ju nho, 0 tema retornou aos jor nais, aos debates na televisão, excomeços movimen tação para que o Brasil solici tasse ajuda ao Fundo Monetá rio Internacional (FMI), como parte de um esquema para re solver o problema da dívida ex terna. O Governo resistiu às in-

toda a dívida a institul-

4 bilhões, por ano? Valéria a pena? a 10% ao ano, como é o caso de quase ções multilaterais (BID, Banco Mundial, etc.) e a governos? Seria possível uma renegocia ção sem a participação do Fun do Monetário Internacional? Es tamos dispostos a aceitar a dis ciplina que implica um acordo de que participe o FMI?

10 — Finalmente, no que toca às perguntas a serem fei tas aos que advogam a renego ciação da dívida, o que preten demos? Alongar prazos ou redu zir 0 custo da dívida, isto é, os juros que estamos pagando. Se 0 objeto for alongar prazos, isto é, renegociar o principal vincendo, devemos considerar o atual perfil da dívida, ou seja, os vencimentos anuais, nos anos futuros. Nos próximos 7 anos, inclusive o atual, vencem-se US$ 50 bilhões. Os vencimentos anuais são da ordem de US$ 7 bilhões, em nenhum ano che gando a US$ 8 bilhões. Não se rá difícil, provavelmente, “ro lar”, ou seja, renegociar cada ano, montante desse porte. Qua] deveria ser o objetivo, no caso? Reescalonar a metade, por exemplo, dos valores vmcendos, ou seja, cerca de US$

11 — Além de reescalonar u principal, deveriamos também renegociar os juros? O que sig nifica isso? Apenas obter prazo para seu pagamento. maior transferindo o problema para o futuro? Se quisermos obter uma redução nas taxas de juros, o assunto se complica considera velmente. Nesse caso, havería um custo para os emprestadores. Quem o pagaria? Os contri buintes dos países emprestadoacionistas dos bancos

res ou os credores? Será que a décima potência econômica do mundo teria condições de apresentar uma proposta dessa natureza.' Se não, novamente cabe pergun tar que problemas resolveríacom a renegociação, que custos estamos dispostos a paavaliar, em relação aos mos gar e benefícios que pretenderiamos obter, se realmente é do interesnacional formular uma pro posta nesse sentido? se

12 — Considerando a com plexidade da questão da nossa dívida externa e as consequên cias de qualquer iniciativa mal concebida ou apressada, não se ria mais sério e mais patrióti-

CO, que 0 debate tomasse a di reção de analisar em profundi dade as diversas hipóteses de gerenciamento da dívida, base em estudos feitos por eco nomistas do Governo, das uni versidades, dos órgãos de clas se patronais e de empregados e de quem esteja a altura de dar uma contribuição positiva para o debate? E tais estudos não foram feitos. A primeira coisa a fazer é, pois, estudar a questão nos seus múltiplos, complexos e importantes aspec-

te, apresentar a nossos credo res um projeto fundamentado, coerente e responsável para a renegociação da dívida. Mas, podemos também chegar à con clusão de que uma proposta uni lateral de renegociação não convém aos interesses nacio nais e, portanto, não deve ser apresentada a nossos credores, no momento.

14 — No encaminhamento dessa questão da maior relevân cia, não cabem nem “fórmulas mágicas'" apressadas, nem teses irrespon sáveis. Devemos nos comportar com a seriedade de líderes do Terceiro Mundo, da 10.a potên cia econômica e da 6.a nação em população, deste planeta. Ne nhuma outra postura seria com patível com nossas responsabili dades, nem consultaria os inte resses nacionais de longo prazo. com soluções nem tos.

13 — A decisão política — 0 que fazer, que postura deve 0 Governo adotar precedida de debate profundo e inteligen te, contará certamente com o apoio da opinião pública. E tal decisão, tanto poderá ser no sentido de que devemos, nalgum momento, que pode não ser es-

U.R.S.S. ROUBA TECNOLOGIA

A União Soviética especializou-se em roubar tecnologia das potências altamente industrializadas do Ocidente. O caso mais famoso foi o do supersônico Concorde, do qual o TU 144 é cópia servil. Mas há outros casos. Há dias, o «New York Times» publicou artigo, assinado por Philip M. Boffey. sobre esses roubos. Eis o seu texto: «Em 1979, dois fun cionários da embaixada soviética nos EUA foram a 'uma biblioteca pú(Continua na página 124)

muito competitivo com outras fontes de energia. As possíveis poupanças de energia equivale ríam à eliminação de todo óleo importado — nu parte dele”.

Talvez o aspecto mais sig nificativo da conservação da energia seja o de que um barril de petróleo poupado, é mais ba rato do que um barril produzido. Este argumento deveria predo minar, pois implica em que a conservação da energia não significa sacrifícios e padrões de vida mais baixos (como os oponentes erroneamente asse guram). As poupanças da efi ciência e da conservação da energia parecem mais impor tantes nos países em desenvol vimento do que nos plenamente industrializados, quando não se ja, porque os países pobres po dem suportar menos o desper dício — quanto mais tendo em vista os preços altos e a redu zida correspondência do petró leo.

em média, duas vezes mais do que 0 resultante do investimen to necessário para produção de novas quantidades de energia. Por exemplo, muitos estudos concordam em que um investi mento para dobrar a eficiência do combustível de veículos pri vados de motor, (digamos de 25 a 50 milhas por galão du rante 10 anos) produziría um retorno muito maior do que um investimento similar na manu fatura de combustíveis sintéti cos. Na mesma linha, O Institu to Americano de Arquitetos de monstra que um desenho mais amplamente elaborado de casas e construções, com pequenas modificações nos já existentes, pode poupar metade da energia consumida nesse setor.

muta-

Isto se aplica bem, à boa parte do tis mutandis”, _ . Terceiro Mundo. Lá, é iguamente importante compreender eficiência principal a a conservação e da energia como a prioridade. O Instituto de Besquisa Mundial aponta para nu- estudos demonstrativos investimentos na conretornos Roger Sant, quando era ad ministrador assistente da, en tão Administração Federal da Energia dos EUA, argumentava de que ^ » oiie um determinado investi- servação, produzirão Sipntn na conservação e na efi- muito mais altos do que os in- dênda da energia, pouparia, vestimentos em novos supnmenmerosos

tos. Por exemplo, nas áreas ru rais, 80% da energia é perdida na transferência dela (lenha, carvão, resíduos colhidos) para 0 caldeirão de cozimento. Isto poderia ser amplamente corrigi do com uma panela de pressão barata. A própria produção de carvão, produz imensas perdas, que pu- deriam ser evitadas, usando pequenos fornos de combustão continua. Nas áreas

De certo modo, a maioria dos países, nesta categoria, teriam idealmente de saltar a fase do óleo, indo diretamente da lenha para, digamos, a energia solar, hidráulica ou a do vento, de outras formas de energia. Mas enquanto a maquinaria e o equipamento baseado no petró leo é comprovado, eficaz e pres tigiado, as novas formas de energia renovável, estão na maior parte, em estágio de tes te. O dilema destes países pode resumir-se assim: tinuam procurando petróleo, te rão grandes problemas em 1990 e mais adiante. Se interrompem essa procura em favor da ener gia renovável, terão problemas nos anos de 1980.” ou a através da pirólise, -se urbanas do Terceira Mundo, há lugar psra substancia] eficiência e conservação da energia, zindo-se a distância entre sa, a escola e o trabalho; aper feiçoando-se o transporte urba no; consertando-se to ou entupimento das tubula ções de vapor; ajustando-se as misturas de combustível nas caldeiras. Outros exemplos abundam. Bem dades.

Se eles conredua ca-

0 vazameiie ar

Energia renovável como oportuni- Apesar disso, um forte em penho pode ser desenvolvido em relação descentralizada Mundo. Alguns poucos exem plos serão suficientes para ilus trar as miríades de oportunida des que se abrem. O vasto pro grama do etanol brasileiro, as instalações do gás “gobar” da índia, e a experiência com tec nologias elétricas solares da

Os países em desenvolvi mento importadores de petróleo enfrentam uma dupla transição da energia. Devem, de um lado, acelerar a transição da energia não comercial (lenha, estrume, carvão) em energia comercial. Precisam fazer, de outro lado a transição de petróleo à energia renovável do Terceiro para fontes renováveis de energia.

Arábia Saudita, geram tantas oportunidades como as baterias solares nas Filipinas, as instala ções de forças das mini-hidrelétricas na China, e a instalação piloto no Hawai da conversão da energia térmica do oceano.

De acordo com o famoso ce nário feito pela Royal Dutch Shell, a total disponibilidade da energia hidráulica, solar, geotérmica e outras energias reno váveis, seria equivalente, por volta de 1990, a 12 milhões de barris de petróleo por dia — comparada com 7 milhões em 1980. O maior incremento seria da energia geotérmica: 3 mi lhões de barris, por volta de 1990. Esses dados, vindos de uma importante corporação de petróleo, embora indevidamente pessimistas, refletem importan tes oportunidades — especial mente nos países em desenvol vimento.

Na área da força hidráuli ca, 65% do potencial mundial, mais ou menos, se encontram no Terceiro Mundo, onde menos de 10% do potencial está sendo explorado. Por exemplo, o maior projeto hidráulico está sendo construído em Itaipu, Brasil — com

De acordo com o Banco Mun dial, a América Latina lidera o mundo cm potencial hidráulico, especialmente (em ordem de importância) a Argentina, a Colômbia, o Brasil, o Chile e a Costa Rica. O potencial da ^ri ca, um quarto do da América Latina, situa-se principalmente na Etiópia, na Costa do Marfim, em Angola e em Moçambique. O potencial da Ásia é menor do da África — com índia,

que 0China e Tailândia na frente.

Genuínas oportunidades são encontradas em quatro setoPrimeiro, para criar da força hídrica primeira fonte a Este a res. consciência como uma longo prazo de energia, ponto de política nacional. Segundo, atrair a indústria de um lue um energia intensiva para gar hidráulico, como por exem plo, uma refinaria de alumí nio ter sido trazida para o es quema do desenvolvimento do rio Volta em Ghana. Terceiro, para os países que dividem a força hídrica como já o fi7^eram Kenya e Uganda, tornar o investimento de agora diante mais atraente, nalmente, estabelecer mini ou micro instalações hidráulicas. em E fi13.000 MW de capacidade.

com uma capacidade geradora de menos de 1 MW. A China e a índia estão entre os pionei ros de força hidráulica em pe quena escala, descentralizada. A energia geoténnica (de fon tes quentes, marolas) é considerada

700 MW, agora é de 2.000 MW e os planos para 1985 alcangàm 10.000 MW.

geyseres e in¬ exis

tente em duas dezenas de países^ em desenvolvimento, in cluindo Argentin Cameroon, Chile, China, Etiópia, índia, In donésia, Kenya, México, Fili pinas, Tanzânia e Venezuela. A energia geotérmica não apre senta perigos ambientais; tem uma longa vida; e é barata: elemento combustível ;tação de força geotérmica custa um décimo do óleo combustível requerido para a geração de kWh. No entanto, a energia geo térmica está amarrada à fonte pois água quente não pode carregada econômicamente além de 35 quilômetros. Mes mo assim. a, o

numa esum ser as oportunidades abundam na produção agrícola, 00 processamento de alimen tos, na criação de animais e na fazenda de peixes. O inte resse está na verdade cendo”: cresenquanto em 1970 capacidade conhecida instala da em todo o mundo era de a ou

Afortunadamente, a energia solar é abundante no Terceiro Mundo. Basta lembrar que a luz do sol chegando ao planeta Terra, provê (teoricamente) 10.000 vezes mais energia do que todas as fontes convencio nais combinadas. A hidroeletricidade é naturalmente uma forma de energia solar, pois uma queda d’agua recebe for ça do sol e da gravidade. O vento também é conduzido pela energia do sol, e assim tam bém se dá com a biomassa, base de toda vida na terra.

No Terceiro Mundo, os sis temas de energia solar custam mais inicialmente do que as al ternativas convencionais; não é 0 custo por unidade de ener gia, porém é o investimento inicial que constitui o principal obstáculo. No entanto, a coope ração financeira mundial deve ria proporcionar ao Terceiro Mundo, a geração da força elé trica da luz do sol — ou pela conversão seqüencial da luz do sol em calor, energia mecânica e finalmente eletricidade, através do uso de células foto-

voltaicas que convertem a luz do sol diretamente em eletrici dade. Além disso as baterias solares podem tornar-se fonte potencial de calor de baixa temperatura.

É uma pequena maravüba que 0 Instituto de Pesquisa Mundial pressione o Terceiro Mundo a entrar na era solar antes que o faça o mundo in dustrial. A dispersão das popu lações do Terceiro Mundo, on de a maioria (85% na África, 70% na Ásia, 50% na América Latina) das pessoas fazem suas casas em áreas rurais, mas o alto custo da energia conven cional deveria tornar a energia solar economicamente atraen-

ser usados como fertilizantes. A biomassa pode, também, produzir metanol que tem va- ■| combustível, solvenreserva petroqiibiica e meta-

lor como te ede gasolina. Enquanto o nol, para ser econômico, tem instala- ser produzido em que ções muito grandes e custo, 0 biogás pode ser produ zido até em quintais de casas onde pode fornecer energia su- cozinha e ilumide alto ficiente para nação.

Outra fonte de energia re novável é 0 etanol, feito pela fermentação de matéria natu ral carbohidratada: açúcar não refinado, melaço, milho, man0 Brasil é o líder, semas também dioca. guido pela Tailândia — outros países possuem excelentes potenciais de eta nol, por exemplo: Cuba, Indo nésia, Costa do Marfim, Nigé ria, Filipinas, Sudão e Zaire. Sua produção conjunta, por volta de 1990 pode bem alcanequivalente a um milhão te.

Um país que lidera o cami nho é a China. Enquanto em 1975 ela tinha 5 milhões de pe quenas instalações de biogás, possui, agora, 20 milhões. O biogás, como toda energia de biomassa, é uma forma de energia economicamente atraen te, especialmente em terra. O biogás é produzido da digestão anaeróbica de restos animais e vegetais. Os efluentes e a lama da tecnologia do biogás podem

çar 0 de barris de óleo por dia. Instituto de Pesquisa Mundial previne, entretanto, que no caso de maciças falhas de colheita, os famintos devem-se opor vio lentamente a que o alimento O

seja usado mais como combus tível para motoristas, do para estômagos. O balanço ali mento/energia é, ■ precário em muitos países em desenvolvimento.

Recursos não-renováveis

Não é uma surpresa, en tretanto, que muitos países desenvolvimento importadores de óleo — mesmo aqueles que investem no reflorestamento e em outras fontes renováveis de energia — concedam priorida de à prospecção e utilização de petróleo, gás natural, carvão, lignite, turfa casos até o da força nuclear. em

e em alguns

Dos 120 países em desen volvimento, 13 são membros do cartel de petróleo OPEP; 15 exportam petróleo, mas não são membros da OPEP; 16 pro duzem petróleo e/ou gás natu ral, e podem, eventualmente, alcançar auto-suficiência em energia; 46 são produtores, em potencial, de petróleo e/ou de gás natural; e os remanescen tes, 30 no total, é improvável que cheguem a produzir quan tidades significativas de petró leo e/ou de gás natural. Os úl timos dois grupos são, com ra ras exceções, países com uma pequena base de população. Isto não reduz sua dificuldade, é claro, mas diminui o proble ma, em uma perspectiva mun dial. que na verdade,

Se o petróleo se mantém na ribalta em países desenvol vidos, quão mais dramático é seu papel É de interesse comum de todos os países, ricos e pobres, exportadores e importadores de petróleo, que o Terceiro Mundo desenvolva amplamente sua ex ploração e utilização de com bustíveis fósseis indígenas — simplesmente porque isso vai reduzir a pressão do precário equüíbrio global de suprimento/ demanda. Os países em de senvolvimento, importadores de para melhor ou para pior — em países em de senvolvimento ! Para falar verdade, a expressão senvolvimento” é um conceito relativo. a em deuma vez que a dis tância econômica entre, digai^nos, a Costa Rica é dez vezes maior do tre o Canadá e a Costa Rica). e o Chad, que en-

final, podemos considerar, com poeta Alexander Pope, (cita do no começo deste artigo), que energia é o pequeno seixo bem-estar onde En-

humanas não

balança de pagamentos. amplas, o quanto as oPÇoes sao a margem de erro é estreita. Daí a imperiosa necessidade oportunidades, onde a corrida esbarra a que espalha o a maior parte das necessidades são atendidas, verda¬ de procurar mesmo com orgulho e preconceito, acei tando a cooperação internacio nal mesmo quando o próprio apoio é preferível. Em análise

(Continuação da página 111)

Esta, eu conjecturo, é a deira implicação da transição da energia: OPORTUNIDADE.

de um serviços de

blica em Milan, ,io Tennessee, e copiaram página» e páginas relatório sobre impactos ambientais provocados invps- indústria estatal para a fabricação de explosivos militares, tigação feita posteriormente concluiu — de acordo com os informação da Defesa — que o documento copiado continha _ ^nnhli- quantidade de informações que, quando combinadas com dados ]a p cados, permitiríam aos soviéticos copiar inteiramente o . bricaçâo nessa área. Em 1977, um agente do serviço secreto po e controu-se com um especialista em radar da Hughes Ancrait . l estava passando por sérias dificuldades financeiras e, pouco a . ● no'u-se seu melhor amigo, chegando a emprestar-lhe dinheiro paxa ^ dividas imobiliárias. Nos três anos seguinte.s, o agente poiones - 110 mil dólares, recede 20 relatórios técnicos

suas

ao especialista em radar — William H. Bell bendo em troca cópias microfilmadas de maissobre futuros sistemais de armas e seus componentes. Entre os segre mais importantes que Bell passou ao agente polonês, de acordo com CIA, estavam detalhes de um sis‘ema de radar para o bombardeiro es tratégico supersônico B-1 e os bombardeiros «invisíveis» (stealth bombers). 0 sistema de radar «look-down-shoot-down» utilizado pelos caças-bombardeiros P-15, um sistema especial de sonar empregado em suomarin^j além de vários outros radares, mísseis e sistemas de defesa aéreos. começo deste ano, de acordo com o serviço de alfândega dos EUA, um «scanner» multiespectral foi contrabandeado para fora do país a bordo de um jato que seguiu para a Cidade do México. O «scanner», que _e empregado por aviões militares e satélites para detectar tropas e movi- terra, saiu com destino à Suíça valendo-se de uma documen-Alemanha Oriental vieram

(Continua na página 145) No mentos era tação falsa, mas descobriu-se que estava destinado a e à União Soviética. Estes são apenas alguns dos exemplos que

O ímã e as limalhas

Reflexão do filósofo orteguiàno sobre a política. jr

Se tentamos ordenar com as mãos um monte de limalhas de ferro, para dispô-las em deter minada figura, o resultado será sempre o fracasso: as limalhas resistem, inertes; apenas orde nadas, desorganizam-se; espar ramam-se pela superfície, figuras iniciadas

maticamente, respondam à sua -atração. Vêm ocupar, dóceis, seu lugar; mantêm-se unidas; dispõem-se na configuração de sejada, aqiiela à qual o ímã atrai e convoca. E esta atração é capaz de manter a coerência, sem pressão, sem opressão, mo bilizando 0 deslocamento das partículas. A figura conseguida resiste, e, se por azar algum fa tor externo a perturba, ela se refaz, reconstitui-se sem es forço. as se apagam, o menor vento, a mais leve agita ção as espalham, e destróem que se acreditava possível fazer. o

Basta ccjlocar debaixo ímã para que as limalhas, autoum

digesto econômico

Isso é tão elementar que quase dá vergonha explicar, e olvida-se completamente quan do se trata de política. A razão, ^ se bem se observa, é muito pro- alguma organizaçao, de eficácia; ao fim e ao cabo ha homem um resíduo de mecasobretudo na vida cole-

perdidos, e assim os veem os demais.

Não nego a necessidade de funda. Padecemos por muito tempo do pensamento inerte, mecânico, automático — em ou tras palavras, da falta de pen samento. Tudo se reduz a coino nismo, tiva — que é o humano mineralizado, dizia Ortega. Mas per gunto: é a política assunto da vida coletiva? Parece duvidoso. Claro que o destino da política é das sociedades, dos finalidade referesas, fatos, dados, elementos. Daí 0 predomínio da estatística e da “organização”. Tenta-se operar com o humano como se o governo este se reduzisse a paralelepí- países, e sua^ pedos. Por isso se acredita pos- se à vida social. Advirta-se, posível prever o que se vai pas- rém, que durante a maior parte sar, porquanto se elimina a li- da História não houve política herdade humana. Com frequên- no sentido que hoje damos a cia, crê-se na resposta aos es- ta palavra. A política, quan o tímulos — reduzindo o homem existe, consiste no apelo aos oao biológico, e nem mesmo ao mens individuais para construi biológico humano —, que se pia- rem uma forma de socieda e. nificam automaticamente. Con- Por isso não há política to a itária — contradição nos termos. esfia-se nas “organizações”, por exemplo, dos partidos: comi¬ tês, organogramas, assembléias, seções locais, provinciais, re gionais, nacionais. Tem-se como seguro que uma boa organizadá a vitória elei.tpral, e suainda que com menos

A política, em suma, e as sunto pessoal. E as pessoas não “reagem” a “estímulos’ se reage, mediante um reflexo, a um gesto ameaçador ante nos sos olhos, ou às cócegas, recur sos prediletos de uns e outros partidos —, mas iniciam atos vista das circunstâncias, das possibilidades oferecidas, de — como çao põe-se, segurança, que levará ao êxito política. Os que não têm organização” em uma consideram - se

suas próprias preferências, da afinidade que com elas tenham as propostas. E, ainda mais, pnlít’co tem a arte de despertar os desejos do povo. quero dizer, dos homens e das mulheres que 0 constituem, de manifestar, in terpretar, fazer reluzir encerra a secreta vocação de uma parte da nação.

sivas, não opõem mais que a resistência de sua inércia. Quer dizer, o ímã conta com as li malhas, deriva seu poder de sua resposta.

Por isso me parece o sím bolo adequado da política civi lizada, daquela que em vez de dar ópio ao povo o desperta, pede-lhe que resista, que não 0 0 que Isso é 0 que faz o ímã. E, quando esta atração —

que en tre pessoas costuma chamar-se atrativo — se exerce, as parce las integrantes de um país se ordenam, se organizam, respon dem, não são manipuladas, co mo com os dedos.

se deixe manipular, que respon da pessoalmente, livremente, a um chamado; que seja ele quem se governe, orientado por essa convocação programática, incitante, atrativa.

Quisera eu renovar nos es panhóis — e nos demais povos deste nosso mundo, tão maneja do, tão aturdido, tão disposto à passividade — a consciência de que 0 homem é livre ainda que não queira, de que em sua vi da inteira tem de optar, prefe rir, postergar ou rechaçar. O curioso é que isto, tão eviden te, olvida-se quando se. trata de eleições. Há. muitos que crêem Que “já sabem” o que se vai passar na Espanha a 28 de ou tubro de 1982. Ora, ninguém sabe, pois nesse dia cada um dos eleitores vai fazer o que quiser, preciso momento. Ocorre que,

Dir-se-á que dá no mesmo, que também o ímã exerce ma nipulação ou manejo, que tanto faz dispor a forma de um país com as mãos ou com com a organização atrativo. Dir-se-á, mas não se dirá bem. Suponhamos limalhas não são de ferro, de chumbo; 0 ímã, ou com 0 que as mas ou que são grãos areia, ou migalhas de pão. O ímã não serve para nada, resulta impotente. Por quê? Porque as partículas são iner tes, neutras com respeito à atração magnética. São de 0 que preferir nesse pas-

ra

E isso tudo tem sido feito dentro de uma política econô mica global, em ritmo dantes visto. Desde a arranca da dos anos 50, acelerada e reorientada em 1964, e qU9 aineconomia Ultimamen;e,

Foi por isso que, depois da última guerra, tornou-se indis pensável e urgente que o País saísse daquela modorra pacífi ca e nunca agradável de antanho, pauma dinamização geral de sua economia. Foram feitos esforços positivos em todos os sentidos para conseguir-se es sa rápida expansão, tentandose criar novos nólos de desen volvimento no País. O objeti vo era duplo: descobrir e ex plorar nossas imensas reser vas materiais, em grande par te ainda desconhecidas, e as sim aumentar nossa renda per capita; com isso, tentar tam bém fixar as populações em suas origens.

da continua, nossa transfigurou-se! porém, por motivos mais ternos que internos houve, de desaqueciex1980 para cá, um mento” econômico que, no e.otanto, já começa a preocupar. Não temos apenas que traba lhar para progredir, enrlqnetaro- cendo nosso País, mas, bém, para criar novos empre gos, no mínimo de um mühao e meio cada ano, para atender a população disso necessita e conta com es se direito. crescente, que Também se tem procurado, ■e com empenho, aumentar o volume e a produtividade de nossa agricultura, bem como de nossa indústria, amparan do-as com incentivos e melho rias notáveis da infra-estrutu ra econômica nacional, prindpalmente nos setores energé ticos, de transportes, de comu nicações e até mesmo com cré ditos especiais, subsidiando o plantio e a produtos, além de certos favo res fiscais.

Ainda que essa grande ar rancada tenha sido enxameada de vacilações, de enganos e até atual, mes- de recuos, como o mo assim foi válida e com sal dos positivos, notáveis! O Bra sil tem hoje um PNB acima de US$ 200 bilhões, e já é a nona potência econômica mundial. Criou uma indústria automobi lística vertical, em menos de 25 anos, que a situa também no Posexportação dos mundo, em nono lugar.

na-

em seus e

sui uma indústria aeronáutica avançada, que, em número de aeronaves produzidas, já é a sexta do mundo. Constrói vios de diversos tipos, estaleiros navais privados, c dentro em pouco, belonaves de médio porto e submarinos mo dernos!

Sua indústria bélica, seja a de armas e munições, a de equipamentos e carros blinda dos, de vários tipos, já ocupa posição de destaque nas expor tações mundiais desses produ tos. Dentro de pouco, devere mos ser 0 segundo maior ex portador mundial de grãos, isto é, de "munição de boca" de que o mundo tanto necessita, progressão crescente

0 Câáâ vez mais inquietante. É a fo me avassaladora!

dúvida preocupar-nos, e é gra ve, pelo menos comprova que ainda temos crédito! Que mundo acreditam e confiam em nosso país. Mais do que isso: confiam em nossa própria ca pacidade de resolver e solver esse compromisso! Se isso não nos envaidece, pelo menos con sola. no

De fato, foi a crise mundial do petróleo, a partir de 1973, que mais contribuiu para esse nosso desajuste econômico e social, e para a violenta infla ção que hoje nos assoberba. Realmente, em 1972, todo o nos so petróleo importado valia ape nas 8% do custo de nossas !mem portações. Em 1980, só o petró leo custou quase 50% das im portações daquele ano!

Infelizmente, porém, o Bra sil é atualmente mundial da inflação, chegou, neste último mais de 100%! E, para apoiar seu desenvolvimento, neces sita importar insumos básicos sobretudo petróleo; por isso foi-se endividando no exterior Sua dívida chega hoje a cerca de US$ 60 bilhões, a prazos mé dios e longos. Se ela deve

0 recordista a qual ano, o ex-

Essa a razão de se ter ulti mamente feito 0 possível, e até o impossível, para aumentar nossas exportações. Neste ano a de 1981 a meta é chegar a US$ 26 bilhões. Se não chegarmos lá, ficaremos por perto. Muito importante foi sem dúvida a diversificação conseguida nas exportações. Planejou-se que, daquele total, para 1981, US$ 11 a US$ 12 bilhões seriam em sem portações de minérios e de pro-

ganharemos estabilidade eco nômica e, sem dúvida/ tranqui lidade social. Para superar es sa gigantesca barreira, devere mos escapar do fatal dilema: “exportar muito mais ou pere cer”. Sem uma visão clara de um novo horizonte para onde orientar nosso esforço racio nalmente conjugado para ven cer, persistia uma angustiante pergunta diante desse funesto dilema: o que fazer?

Assim se encontrava o Bra sil até há bem pouco tempo, sem uma solução à vista para a crise econômica, política e social que vinha se agravando, deixando todos em nervosa ex pectativa. Eis que então surge CARAJÁS, a nova esperança!

Mas, sem dúvida alguma o grande, o maior desafio para a Nação, em toda sua história!

Amazônia e Carajás

A nossa Amazônia, com cer ca de 3.500.000 Km2 de área. quase 42% da superfície total do Brasil, tem uma formação geológica composta de três ti pos da rochas: ígneas, metamórficas e sedimentares. En tretanto, essa imensa região era praticamente desconhecida

DIGESTO ECONÔMICO

até meados dos anos 60. E ain da é, em grande parte!

Antes disso, porém, algu mas descobertas em regiões es parsas e mais acessíveis foram feitas. Entre as importantes ci taremos:

a) diamante/ em Roraima, desde os anos 30, com explorarudimentar. Depois, no rio Tocantins, e em çao Marabá, também no rio Tapajós, isto já nos anos 50;

b) manganês. Foi na serra

essencial à produção do aço, descoberto no Amapá, logo depois da última Grande Guerra, do Navio, cerca de 200 Km ao norte de Macapá, que a ICOMI, liderada notavelmente por Au gusto Trajano de Azevedo An tunes, instalou e iniciou a rnineração, com instalações tão amplas e modernas, que ela se tornou uma das maiores e mais bem montadas do mundo. A ICOMI é uma empresa binacional, com 51% de capital brasi leiro e 49% americano. Iniciou suas operações em 1951.

c) bauxita, para produção da alumina e do alumínio, des coberta em grande quantidade e da melhor qualidade, desde 1950;

d) cassíterífa, minério de estanho encontrado em Rondô nia, explorado rudimentarmen te a partir de 1958, nos rios Guaporé, Mamoré e Madeira, des de 1950 até 1971, também I. forma primária e até predató ria. O estanho é hoje um me tal tao nobre çjuanto o cobrej

e) ouro, têm sido encontra das ocorrências de ouro em aluvião, desde o fim do século j . Pas¬ sado, nos nos Tapajós, Xingu e outros, onde se instalaram rimpos primitivos, de produção e vidade;

DAM, a Cia. Meridional de Mi neração, subsidiária da gigan tesca U.S. Steel, iniciou novas pesquisas no local, visando, especialmente, as mesmas cla reiras que a Prospec conside rou sem valor econômico. Foi então que se descobriu jazida de hematita (Fe2 03) do mundo, exatamente ali, na Ser ra dos Carajás. Avaliada em 18 bilhões de toneladas de mi nério da de" a maior

melhor qualidade (66,5% Fe), essa descoberta já se tornou, sem dúvida, marco indelével na história econômigapequena baixa produti- ca e mineral do Brasil. Ê de longe, a maior e melhor ocor rência feiTÍfera do mundo! f) ferrO/ desde 1954DNPM — Departamento Nacio nal de Pesquisas Minerais ini ciou um projeto na região do Araguaia, tentando ocorrências mineralógicas importância econômica na Ama zônia. Na área de Carajás, uma empresa nacional contratada, a Prospec S/A., investigou gião e, seja por deficiência de transporte ou falta de estudos mais profundos, classificou clareiras existentes como sendo de formações calEm maio de 1967, turalmente mais bem

A Cia. Meridional de Mine ração, dois anos depois, asso ciou-se com a CVRD — Com panhia Vale do Rio Doce; for maram juntas a Amazônia Mi neração S/A., da qual recente mente a U.S. Steel se desligou.

O grande sucesso mundial anterior da ICOMI, na serra do Navio no Amapá, portanto à margem esquerda do rio Ama zonas, ajudou a chamar a aten ção nacional e internacional para essa nova descoberta serra dos Carajás, desta à margem direita do mesmo descobrir de a reas na serra canas. na¬ na , , . . orienta¬ da pelo satelite do projeto RA- vez

Amazonas e a cerca de 550 Km ao sul de Belém do Pará.

Posição de Carajás

A serra de Carajás é uma continuação do grande espigão formado pelas serras dos Gradaús e da Seringa, desde o pa ralelo S'* até o 4° e meio, do Sul para Norte, formando es sas três serras o divisor de águas dos rios Xingu e Tocan tins. A grande jazida situa-se na serra dos Carajás, entre os municípios de São Felix do Xingu 0 o de Marabá. O pri meiro deles, às margens do Xingu, dista cerca de 90 a 100 Kms da jazida e o de Marabá, a Nordeste, situado às margens do Tocantins, dista entre 200 a 240 Km.

As duas localidades, junto de suas importantes hidrovias, representam pontos de apoio notáveis; Marabá está, além disso, ao lado da rodovia Transamazônica, e por ela também passará a ferrovia, já êm cons trução, desde Carajás até São Luís, no Maranhão. A grande jazida de ferro fica pois a cer ca'de 550 Km aO Sul de Belém e. a 780 Km de São Luís, em linha aérea.

Essa imensa área, agora chamada de Província de Ca rajás, é aproximadamente limi tada ao Sul pelo paralelo 8®, ao Norte pelo 3°, a Leste, pelo me ridiano 44° e meio e a Oeste ps-lo 52°.

A Leste de Marabá, e a de 180 Km, também pasBelém-Brasília, logo acide Imperatriz, nhão. Quase toda essa área da Província de Carajás é cober ta por densa floresta equato rial contínua, por vezes^ inter rompida pelas clareiras onde, algumas delas, se descobriu A hema-

cerca sa a no Mara- ma em minério de ferro, tita, de excelente ocorre à flor da terra e em tal quantidade, que impede o cres cimento de vegetação mais den sa. O clima é geralmente quen te e úmido, e, de novembro a 90% das precio qualidade. maio, ocorrem pitações anuais.

Foi precisamente isto que facilitou, inicialmente, a desco berta do ferro e depois, do manganês, do cobre, do ouro, da banxita, dá cassiterita e até do níquel. Mas foi a imensidão das reservas de ferro (Fe2 03). sob à forma de hematita fácil mineração a céu aberto, de

com granulometria ideal

a) Mina para a produçcão do “sinter-feed”, e com escoamento relativamente fácil, de um produto de qualidade, atendendo ao seg mento de maior demanda mercado mundial — tudo isso foi que animou e induziu

nosso governo a investir forte mente na Província de Carajás. E assim foi, e terá de ser: mui to bem feito! no pon0 benefi-

Projeto Ferro Carajás

A mineração, como disse mos, será quase, toda a céu aberto, usando explosivos em alguns casos. Serão emprega das escavadeiras elétricas, com cerca de 9 m3 de caçamba ou maiores. O transporte local usará caminhões especiais de até 154 toneladas. Uma usinapiloto já foi construída to N4E, para testar ciamento da hematita, e assim determinar o tipo mais adequa do para sua exportação.

Diante do vulto das reser vas, a CVRD não teve dúvida em propor, então, um gigantes co projeto de um “Complexo In tegrado” : miiia-f errovia-porto. Aprovado, foi logo posto marcha. Já estão em constru ção tanto a ferrovia quanto porto de embarque, em São Luís. Na primeira etapa, rão exportadas 15 milhões de toneladas anuais já em 1985, atingindo 35 milhões em 1987. Será sem dúvida um recorde de velocidade, com tecnologia tão avançada e quase todo nacional, em plena selva equatorial cuja densida de poucos, no mundo, cem! lículas sólidas. em 0 sesecom "know-how” conhe- sc-

As instalações finais terão quatro etapas de britagem e três de peneiramento, sendo duas destas por via úmida e uma, dc' recuperação das par0 transporte do produto usinado até o pátio de estocagem, com capacidade de 1,6 milhão de toneladas, rá feito por correias transpor tadoras. Desse pátio até a es tação ferroviária, para carreos .vagões especiais, o transporte será por equipamen to misto, de caçambas e cor reias transportadoras, b) Ferrovia

Partindo de Carajás, ela guc a Nordeste até Marabá.

onde cruza a rodovia Transamazônica e o rio Tocantins. Logo depois, penetra a Sudoes te do Maranhão e cruza a Belém-Brasilia, logo acima de Imperatriz, insinuando-se em arco leve até o porto marítimo da Ponta da Madeira, distante cerca de 10 Km a Sudoeste da capital, São Luís. Será um porto permanente e de águas profundas, podendo receber graneleiros de até 280.000 tone ladas e também navios de gran de calado.

A ferrovia, de via singela e bitola de 1,6 m, com extensão de 890 Km, será construída em terreno quase todo plano e se co, sem túneis, portanto, com baixo custo por Km de constru ção.

c) Porto

Foi escolhido o porto junto de São Luís, pelas suas excep cionais características técnicas, que permitirão competitividade nos transportes marítimos, usando graneleiros de grande porte, com instalações portuá rias de carga rápida ^ e auto mática, para obtenção de fre tes mínimos.

A Ponta da Madeira, na ba cia de São Marcos, junto do atual porto de Itaquaí, ofe rece vantagens superiores pa ra construção e operação em termos logísticos e humanos. Oferecerá, além disso, uma ampla bacia de águas profun das para evolução e espera dos navios, fator essencial para operação portuária em larga escala.

O descarregamento dos trens de minério, no terminal marítimo de embarque, será feito por dois viradores de va gões, do tipo rotativo, descar regando cada um deles duas unidades simultaneamente. No porto haverá um outro pátio de estocagem, com capacidade de 3,6 milhões de toneladas de minério, portanto mais de duas vezes 0 pátio de Carajás.

Influências de Carajás

A implantação desse novo e gigantesco pólo de desenvol vimento em plena selva Ama zônica, e na parte do País mais carente de recursos e de transporte, certamente causará um formidável impulso para 0 desenvolvimento acelerado,

econômico e social de todo Norte, e do Brasil.

o mais as rodovias

Os imensos investimentos necessários, se não forem bem orientados e dosados, poderão ter consequências inflacioná rias graves. Espera-se, porém, que programações rigorosas e em etapas bem estudadas, di minuirão ou eliminarão esse mal, considerando-se que pelo menos 90% dos gastos serão feitos em cruzeiros, estimulan do portanto

que passa por Belém-Brasília. e a na e equipamentos,

0 Xingu a Oeste e o Tocantins a Leste, Transamazônica, Marabá, um pouco a Leste desta cidade, serão todas de grande valia para o acesso e transporte ini cial de material, de maquinapara a construção e instalação das usinas junto às jazidas de mi nérios.

Calcula-se que somente a exportação anual do minério semi-usinado (mais tarde sinterizado) a partir de 1985, maior volume depois de 1987, criará uma apreciável “base de retorno de capital” de colaborar bastante vos investimentos a partir de 1985, reforçada ainda mais de 1987 em diante.

US$ 600 a US$ 80Q milhões anuais em valores de hoje, es ses retornos, com a venda so mente do minério de ferro. Outras exportações paralelas certamente ajudarão muito es se fundo de retorno anual. a economia inter¬ na.

Os núcleos urbanos, proje tados inicialmente ao longo da ferrovia de 890 Km, além de Carajás junto à mina e previs to para 11.000 habitantes em Parauapebas, Marabá, quiá, Caiu, Santa Inês e Vit^ ria de Mearim. Todos eles ü-ão certamente favorecer a integra ção daquela imensa área, qua se toda coberta de florestas ao restante do País e também aju dar 0 desbravamento científide toda a Proe em capaz em no- serão PeAndarão em CO, cauteloso víncia, mente sem prejuízos veis à ecologia da região. de Carajás, naturalapreciá-

As três hidrovias . . princi¬ pais, 0 no Amazonas ao Norte,

Energia

Modernamente se sabe que, sem energia abundante e bara-

preços

com OS elevados do barril de petróleo, a Agora, de 1.250.000 Km2. O com cerca programa exploratório foi orien tado pelo geólogo americano

Walter Link, que via na Ama zônia a possibilidade de “inunnosso país de petróleo. Isso não aconteceu tão facü-

Petrobrás voltou a pesquisar e perfurar naquela imensa bacia sedimentar, com mais recursos disponíveis, que antes não pos suía ou somente tinha em esca la limitada; o importante é que ela já vem conseguindo resul tados altamente auspiciosos. A Petrobrás criou, ainda agora, distrito de exploração” de Manaus, e reiniciou trabalhos sísmicos em regiões mais promapeamentos de dar

mente. Partiram então os “na cionalistas” a acusar Walter Link de sabotar a Petrobrás, a serviço dos Estados Unidos. Ele, desanimado, desistiu de continuar e voltou ao seu país. Na verdade, não interessava realmente à Petrobrás pesqui sar naquela área, por duas ra zões simples: a) — as dificul dades imensas de pesquisa e perfuração em plena selva amazônica, com custos eleva-

esperança na se ximo, para as energéticas do Brasil.

Investimentos o

0 pícias, com estruturas especialmente nos vales do Juruá e do rio Biá. Serão perfurados 13 poços bacia de Tacutu, junto às Guiae também em todo Amana nas, zonas, até no Acre. Há grande bacia de Juruá, onde se descobriu grande quan tidade de gás natural. Ao que tudo indica, a Amazônia corres ponderá à esperança que tem, de grande supridora de gás e petróleo em futuro prónecessidades díssimos; b) — ao contrário, o baixo custo do petróleo impor tado na época, em torno de US$ 2,00 ou US$ 3,00 por barril, posto Santos ou Rio. Ninguém naquele ano já longinquo de 1955, poderia prever a futura crise de 1973, quando os árabes forçaram a elevação dos pre ços do petróleo, que custa hoje US$ 34,00 ou mesmo US$ 40,00 barril! Assim, não se pode culpar a Petrobrás, nem mesmo governo, por abandono

Grandes projetos já estão sendo instalados no Leste ama zônico: o nosso da pesquisa e perfuração na Amazônia, desde aquela época.

bilhões com um retorno de capital da ordem de US$ 14,6 bilhões anuais. até completarem-se, — bauxita

a) Mineração Rio do Norte — para exportação de 3,4 milhões de toneladas anuais de bauxita, já em início de operação;

b) CVRD — Cia. Vale do Rio Doce — hematita — produ ção de até 35 milhões de tone ladas anuais de minério de fer ro, para exportação. Projeto do complexo integrado minaferrovia-porto, em construção e instalação acelerada. Exporta ção já em 1985;

c) Alunorte — alumina — produção de 800 mil toneladas anuais de alumina (A1203);

Para um desenvolvimento maior, com metalurgia desses metais e indústrias derivadas, uma nova série de etapas, avaliou-se a necessidade de in vestimentos adicionais da or dem de US$ 28,1 bilhões, retorno de capital anual por volta de US$ 9,2 bilhões.

alumínio — produção de 320 mil toneladas anuais de alumínio metálico;

e) Alcoa — alumina e alu mínio — produção anual de 500 toneladas de alumina e 100 mil toneladas de alumínio na pri meira fase. Depois, 2 milhões de toneladas anuais de alumina e 400 mil de alumínio;

f) Outros empreendimentos menores, em perspectiva ou já em projeto.

d) Albras que os esses

Avaliou-se por alto investimentos para todos projetos chegarão a US$ 36,4

Para equilibrar esse formi dável desenvolvimento da re gião será necessário graduar e incentivar a exploração parale la do enorme potencial agríco la local. Com plantações irri gadas de arroz, de soja, de em com

Portanto, para a implanta ção do projeto completo na Província de Carajás serão ne cessários, até possivelmente o ano 2000, cerca de US$ 64,5 bi lhões. Mas tudo isso em etapas bem projetadas técnica, econô mica e financeiramente, com cronogramas muito bem estu dados, para tornar esse colos sal empreendimento exeqüível, com rentabilidade já ao final de cada fase, sem causar aceleramentos inflacionários perigosos.

milho, de sorgo, de feijão, de mandioca e intensificação ao máximo da pecuária. Também tentar outras culturas, como a da borracha, da pimenta-doreino, da hortelã, do babaçu (nativo em muitos pontos da região), e inúmeras outras co mo a carnaúba, o dendê etc. Tudo isto para atender o con sumo local e à exportação.

Aspectos Institucionais

Para garantir um desenvol vimento racionalmente feito, bem integrado e programado, sem destruir a ecologia regio nal nem empestar o meio am biente; e para bem orientar e dosar os fabulosos investimen tos necessários como vimos antes, o Governo Federal criou, por Decreto de 24/11/1980, um conselho interministerial assim composto: ministros do Plane jamento, presidente, das Minas e Energia, vice-presidente, e dos Transportes, da Indústria e do Comércio, da Fazenda, do Interior, da Agricultura e do Trabalho, membros.

derado por um secretário geral. No mesmo decreto, o Governo fixou os limites geográficos da área da Província de Carajás, - vários tipos de incenvisando, principalmente,

e criou tivos, a exportação, e até permitindo, em vários casos, as operações de "draw-back” sem perda dos incentivos eventualmente con¬ cedidos nesses casos.

Conclusão

É evidente e enorme o in teresse do Brasil pela realiza ção desse plano gigantesco, desde que bem executado e cionalmente desenvolvido, em etapas definidas e integradas umas nas outras.

- - Esse conselho permanente, reunindo-se periodicamente, te rá um secretário executivo lira-

Mas, tudo isso, tendo em vista a explosiva evolução da problemática mundial. Dizem que no Século XIX prevaleceu 0 tédio, e que no Século XX, a angústia. Isto porque geral mente se dá pouca atenção a dois fenômenos tão evidentes, finalizar sobretudo agora ao este século: a explosão demo gráfica, e a finitude do planeta terra e de tudo que ele con têm! De fato, a terra passa além de um grão de pouco

areia dentro da imensidão do sistema solar. Tudo na terra tem fim, principalmente se não cuidarmos bem do que ela ain da possui: as reservas mine rais, as energéticas, seiam elas fósseis ou hidrelétricas, as re servas florestais e, inclusive, até os cristalinos e preciosos caudais de água doce. A fauna e a flora, incluindo a dos ma res, terão um fim fatal e com tempo previsível cada ve:^ mais curto!

Assim, não nos iludarrios; com a escassez crescente das riquezas biológicas, minerais e energéticas por um lado e, do outro, a enorme pressão da ex plosão demográfica, ainda sem controle e tão tumultuada, não

tardará um choque fatal volvendo toda a humanidade: — 0 da demanda ilimitada e insaciável, contra uma oferta finita e claudicante.

Mas não podemos por isso parar projetos como o da Pro víncia de Carajás e aguardar. cur’osos. ainda que angustia dos. o maior desastre que já aconteceu em nosso planeta. Deveremos caminhar e seguir semnre. mas avançando firme e cautelosamente, na tentativa de realizar tudo. sem nerturbar muito a ecologia daquela imensa região, e sem poluir o meio ambiente nara conseguirse 0 milagre do equilíbrio; natureza-homem! * en-

(Continuação da página 124)

à luz sobre transferência tpcnoiosia dos EUA e outros paises indus triai.'; avançados para a União Soviética e seus aliados. Em alguns casos, a informação técnica está divetamente ligada a sistemas de armas, mas em outros tem aplicações civis e militares. Na semana passada, uma equipe de jurados apontada pela Academia Nacional de Ciências con cluiu aue houve nm''t tran.sferência substancial e séria de tecnologia nor te-americana para a União Soviética, incluindo uma parcela significativa que pode cau^^ar danos diretos à segurança nacional. O relatório da equi pe falava em termos gerais e deu poucos exemplos. Mas agentes dos serviços de informação e da Defesa entrevistados nos dias que se segui ram à divulgíicão do relatório lembraram uma série de incidentes citados este ano em discursos públicos e testemunhos que comprovam a seriedade do problema. AIgun.s funcionários garantem que a URSS está colocando (Continua na página 151)

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A estaíização da mais valia

SÓ com a solidariedade se poderá impedir a estatização

Ao contrário do que se pen sa, a mais-valia, ou seja, o tra balho extra do homem suplanta o trabalho suficiente à obtenção de suas necessidades individuais, foi apontada, antes de Marx, por Adam Smith (pa ralelismo feito por Bertrand de Jouvenel entre Adam Smith e Karl Marx). Já havíamos, conferência proferida na deração do Comércio (DCI de 3/12/80, afirmado que o xismo não era mais do que o capitalismo com sinal contrá rio, com 0 mesmo erro essen cial visto do outro lado, agravado pelo fato de ter

centrado maior poder do lado dos que controlam a produção e não do daqueles que produ zem que

Aliás, 0 marxismo é a in versão, para pior, não. só do capitalismo privado. Inverte, também, a religião cristã (vide Marxismo e Religião, Heraldc Barbuy, Ed. Convívio, 1977, 2.a ed.) e inverte a dialética idea lista de Hegel para, com sinal trocado, transformá-la na dia lética materialista, sem contar que se valeu de Saint Simon e de Augusto Comte para trans' formar a idéia de uma “religião em Fema;mas con-

da humanidade”, que visava a uma ordem absoluta, em uma religião de luta entre os ho mens, até a realização do co munismo final, ou até a última síntese da dialética históricomaterialista.

O primeiro impulso de Marx foi contra o Estado prus siano e 0 segundo, que depois ganhou primazia no ssu espíri to, foi contra os industriais da Renânia, que o abandonaram quando o Estado prussiano for çou 0 seu afastamento do jor nal liberal por ele dirigido. No seu íntimo, revelando a origem judaica, imaginou-ss um novo Sansão capaz de derrubar as estruturas do "templo” burguês, tanto que apelidou esses indu‘<triais de “burguesia filistéia”, expressão lembrada, no traba lho citado, por Bertrand de Jouvenel.

nadores dos homens, ainda que proviessem da Revelação, mas adotou outros tantos dog mas, sem os quaiií o comunis mo deixaria de ser uma cosmovisão; uma versão geral do Universo e da História. Mas esses dogmas, por ele estabe’ecidos e considerados “científi cos”, por serem evidentes por si mesmos. Evidentes para etc, Marx, que passou a ser o “re velador” da natureza “científi ca” da História, fundada na infra-estrutura econômica, em bora fosse 0 homem o criador da infra-estrutura e não a in fra-estrutura a criadora do ho mem.

Ao pragmatismo capitalista do século XIX que. sem qual quer preocupação moral, pre tendia eliminar a injustiça, que admitia existir no processo produtivo, por meio do chama do “egoísmo eficaz”, Marx ape nas pretendeu responder com uma estrutura de forma a im pedir que a trabalho de uns fosse apropria da por outros. E concebeu a ditadura do proletariado para que esse se beneficiasse, por intermédio do Estado, dessa mais-valia”, num sistema em a s sl m Marx, inconformado com os er ros de sua época, não fez mais do que mudar-lhe os sinais, de tal modo que “A” continuava “A" e “B”, “B”, só que com si nal trocado. A natureza dos er ros era a mesma. Até mesmo nos aspectos religiosos, abjurou os dogmas como condicio-

Verifica-se que 'mais-valia” do í(

Ludü semelhante ao PIS e ao I\mdo de Garantia, que é do trabalhador, mas é administra do pelo Estado, o qual, de pró ximo em próximo vai, cada vez mais, tornando meramente no minal a propriedade desse fun do. Imaginou que o Estado, que, originariamente, abjurava. se passasse às mãos dos luta dores políticos como ele, capaz de bem gerir a proprie dade dos bens de produção, es tes sendo nominalmente dos trabalhadores. Certamente, a favor de Marx deve-se dizer que ele nunca terá imaginado a possibilidade do surgimento da nova classe” descrita por Djillas e da “Nomenklatura”, posta de um número reduzido de tecnoburocratas dominando todas as decisões russo.

possibilidade de mudar a nova estrutura de poder, em que a ligui-a do único patrão se con funde com a figura de um só partido, de uma só classe (não a trabalhadora mas a “Nomenklaturista”) de um Estado uni tário e absolutista, que dita nor mas do alto do Olimpo, pois só eles são intérpretes do deus “História”, ainda que esse deus seja voluntarioso e extrema mente volúvel. seria

O resultado — o fruto é que revela o valor da árvore do pensamento — não foi outro: estatizou-se a “mais-valia retirou dos trabalhadores, ideo logicamente, porque o povo não pode ser contra o governo do povo e, praticamente, porque a ele é negado o direito de greve e de associação, profissional política e até religiosa, toda

Na visão cristã, essa “maisvalia” do trabalho tem sentido porque o homem possui uma dimensão social e esse acrés cimo entre o que produz e o que consome deve constituir as reservas para as épocas de se para os invernos da vicomca ou da das pessoas, das famílias e acumular i do império das nações e para bens a fim de atender ao cres cimento da humanidade, pois os que nascem não podem atender de pronto as suas necessidades.

A “mais-valia” é o exce dente do trabalho humano, ne cessário ao serviço do próxi mo, que é a própria razão de ser do homem sobre a terra, se ele quiser cumprir a sua fi nalidade de constituir uma so ciedade humana; de se realie ou a

zar na plenitude do seu ser, que passa, necessariamente, pelo ser do outro. Esse serviço será por meio de tributos, de investimentos legítimos e de atendimento “a fundo perdido" das necessidades de terceiros, impossibilitados de atendê-los, diretamente, por fatores impe ditivos acima de suas forças.

O pragmatismo capitalista, criando uma “religião’' do ho mem, na realidade desprezou as necessidades humanas co mo as mais importantes, adian do-as para um tempo futuro, e pôs de lado, como os demais racionalistas, a idéia dos valo res morais e, portanto, exclui a moral da economia. O mar xismo não só ficou indiferente a esses valores mas os apre sentou como inimigos funda mentais da transformação so cial, adotando deus "História”, cuja lei cienti fica é 0 conflito social: e, ago ra, a Teologia de Libertação, também adotando o método dia lético de Hegel, não recusa Deus mas o reduz a um instru mento de realização do homem e com essa única serventia, de tal modo que, para realizarse,. terá que obter o controle

DIGESTO ECONÔMICO

do Estado. Vê o pobre, referi do no Evangelho, não como o pecador miserável, radicalmen te incapaz de participar da ri queza de Deus, mas o pobre no sentido meramente econômico, como se a salvação fosse só para este e, por isso mesmo* condenado a sê-lo definitiva mente, ainda que para justifíficar a permanência de uma sxtremamente redutora

visao da mensagem evangélica.

religião do a um

Destarte, todas as três con cepções, a positivista de Comte, a marxista e a “libertadonecessitam do Estado co mo fator de imposição de sua visão à sociedade e, por isso, essencialmente políticas na sua ação, não tendo como se deter apenas na pregação da verdade, sem crer que os homens, mudando suas cons ciências pelo conhecimento da verdade, sejam capazes de construir, livremente, uma so ciedade mais justa. Todas elas dependem de tornar o Estado instrumento de uniformiza ção do pensamento humano, para “libertá-lo” de sua pró pria incapacidade de ser livre, na forma de ver dessas corren tes. ra são

Por isso, todas elas, na realidade, pretendem a gestão 'mais-valia'

humano, pela sua estatização, que é o meio de exercer o po der autoritário que almejam,

Só com

solidariedades” operárias e rurais — associa ções independentes do Estado — é que se poderá impedir não só que se estatize, para semdo trabalho da

(Ccntinuaçao da página 145)

pre, a “mais-valia" dos que trabalham mas até a própria “valia” que acabará consumi da, pelo apetite pantagruélico que caracteriza o Estado gas tador, perdulário, e desperdi çador de recursos, em face da concentração de poder que os métodos de coação e repressão hoje permitem.

NOTA: O autor é advogado.

em risco a tradicional superioridade do Ocidente em tecnologia de arma mentos através da obtenção de uma grande quantidade de equipamento e know-how conseguida por meios legais e ilegais. Eles defendem uma rigorosa disciplina e severas restrições nas transferências de forma a re duzir os vazamentos. A CIA preparou era abril um documento não-reservado de 15 páginas que relaciona alguns exemplos de transferência ocorridos e a tecnologia empregada pela União Soviética para conseguir essas informações: «Através de aquisições legais, a União Soviética com prou máquinas norte-americanas que permitiram aos soviéticos a produ ção de minúsculos equipamentos de alta precisão que aumentaram em muito a eficácia de seus mísseis balísticos lntercontinentais>'> . «Sobre um período de quatro anos, a URSS adquiriu por meios ilegais tudo o que era necessário para equipar uma usina completa de circuitos processa dores integi-ados. A aquisição desses equipamentos microeletrômcos de duplo uso — civil e militar — foi feita através de uma rede de com panhias nos EUA e na Europa em direção à Alemanha Ocidental. Um especialista consultado no caso disse que os russos levariam um tempo consideravelmente maior para conseguir equipar sua usina sozinhos, isso se eles conseguissem equipá-la algum dia». A equipe de especialistas no meada pela Academia Nacional de Ciências, considerou que as comuni cações científicas e as pesquisas acadêmicas devem ser abertas, pois não estariam causado problemas significativos à segurança nacional. Mas concluiu também que uma parcela da tecnologia transferida estava pre judicando a segurança nacional. Wolfgang k. H. Panofsky, diretor do Stanford Linear Accelerator Center, concordou que tem havido um gran(Continua na página 158)

INSTITUTO jurídico

Oferece aos associados a orientação necessária "a sua atividade empresarial, pelos seguintes meios: a) consultas verbais; consultas por cartas; c> consultas telefônicas.

F.labora. para publicação no Diário do Comércio a seção “Orientação Legal”, na qual é selecionada toda a matéria de interesse empresarial.

O rei Juan Carlos e a estabilidade democrática na Espanha

Um elogio da monarquia espanhola. O autor é juiz de Direito em Manaus.

En 1’élevant à un su haut degré de gloire, il fait éclater tout à Ia fois sa justice et bonté”. Altissonantes palavras de um grande orador sacro do século XVIII, Bergier, nos seus “Sermons Inédits", ed. de 1852

Dois eventos tiveram anos recentes, um significado

muito importante para a valida de e solidez das instituições mo nárquicas para velhas nações. Uma, a queda da antiquíssima e estável monarquia, alterou por completo a vida, a existência cbtidiana, as estruturas sóciopolítico-administrativas do país: no Irã, gemendo hoje sob a ti rania teocrática de um velho e sa nos

mentecapto lider xiita; o outro exemplo é o contrário, um país que parecia ameaçado de esfacelar-se com a morte de quem o governara por mais de três dé cadas, imprimindo-lhe o cunho de sua forte personalidade, foi salvo e resgatado pela restaura ção monárquica: a Espanha. Enquanto uma se afunda a cada dia que passa na desordem, a outra adquire a pouco e pouco a estabilidade tão ambicionada, duas nações imperiais, duas ve lhas nações nas quais o regime monárquico numa restaurada trouxe a paz, noutra derrocada levou aos caos.

queriam a Espanha girando em torno da União Soviética e exis tiam os separatistas que que riam fazer da Espanha pelo metrês Estados distintos. O jo vem monarca, um idealista mas dinâmico chefe de Estado, foi to mando as rédeas do poder aos poucos, mas firmemente e den tro de um ano de sua subida ao trono, já se sentia a sua mão forte, a marca de sua persona lidade, a presença da coroa em todos os setores da administra ção pública. Houve muita con testação, as greves e confusões de ruas tornaram-se um lugar comum, mas a gente sabia que o país vivia e sobrevivia e não estava mais gozando a paz dos cemitérios... O país palpitava, u país vibrava. Mas a Espanha entrava numa nova fase de sua história e parecia disposta a as sumir o papel de velha nação imperial que exercera no pas sado por vários séculos. Era a “vieja Espana de sangre y fuego”.

Para muitos o rei Juan Car los foi uma revelação assombro sa. Quando ele ascendeu ao tro no, em cerimônia simples, dan do início ao descontraído reina do hoje pacificamente aceito, muita gente duvidava de que ele permanecería mais de um mês. Havia os remanescentes do franquismo sonhando com uma ditadura militar ao estilo do Generalíssimo; haviam os republi canos que desejavam o estabe lecimento de uma república ain da que inglória como a que jo gou o país na mais cruel guerra civil européia deste século; ha viam as facções comunistas que nos Fazia pouco tempo que o rei Juan Carlos fora coroado quan do visitei a Espanha, vindo da Grécia onde a monarquia fora esmagada contra a vontade po pular por um golpe militar, ü franquismo ainda estava multo

presente mas já se começava a ouvir falar do soberano, que via java em companhia de Dona So fia por todas as províncias do reino, entrando em contacv.o com os súditos e tomando pé da ve.:dadeira situação espanhola. As cinzas de Franco ainda estavam quentes e muita gente lamenta va as greves repetindo: Se o Generalíssimo estivesse vivo isso

novos, enfim, a prosperidade estampada nos olhos. Por todos os rincões do país, o selo real: a presença da monarquia, as modificações trazidas por Don Juan Carlos e pude ver o quan to a monarquia estava a reali zar pela Espanha. Conversei com muita gente, amigos e co nhecidos e em todos pude notar uma espécie de fundo enternecimento pela Realeza, muito peito pela obra do moço sobera no e confiança nos destinos do reino. A monarquia salvara mes mo a Espanha.

Ao lado do presidente Kyprianou de Chipre e do general Ramalho Eanes, um dos mais jovens chefes de Estado da Eu ropa, 0 rei Juan Carlos chega ra ao coração de seu povo diante um traballio sério cansável. Sabendo, pio, que é na Catalunha que es tão os mais encarniçados repu blicanos, nacionalistas extre mados, para lá se dirigiu e lhes falou em catalão. Ora, os catalões amam a sua língua e por ela têm feito os maiores esforços. Foi uma apoteose e 0 rei e sua mulher receberam uma calorosa recepção. No dia 16 de fevereiro de 1976 falando num catalão escorreito, ele de-

nao aconteceria. Mas acontoce que os tempos haviam mudado definitivamente: hora e a vez do príncipe nasci do no exílio, mas criado s edu cado para um dia reinar. Dois anos depois, indo de Portugal, revisitei a Espanha e já não a reconhecí: tudo ali mudara, povo muito próspero e feliz, go zava de uma liberdade raras vezes conhecida em sua histo ria. Saía de uma Lisboa triste, cheia de refugiados negros, cheia de torna-viagem, de por tugueses de Ultramar expulsos de suas terras em África pelos novos governos nacionalistas ne gros, uma cidade suja e pobre e 0 contraste com uma Madrid que não dormia, cheia de lindas mulheres bem vestidas resr agora era a 0 mee inpor exema pas searem até meia-noite ou mais pela Avenida José Antonio, ho mens de passo marcial, carros

clarou: “Catalunya pot aportar a aquesta gran tasca comuna una contribució essencial i que no té preu. L’afecció deis catalans a la llibertat és lengendária, i sovint ha estat fins i tot heróica”. Gritando Catalunya” e “Visca Espanya”. 0 rei aproximou de si mesmo os mais teimosos republicanos, ainda que não perdesse tempo em atacar o separatismo cata lão, pregando a unidade do reino para a sua maior pros peridade e para que pudesse cumprir os seus destinos no mundo. Dias depois, um advo gado ilustre, monárquico de mocrático, Don Antonio de Senillosa y Cros, comentando a viagem triunfal dos reis à Ca talunha rebelde, declarava à reportagem de “La Vanguardia Espanola” de domingo, 22 de fevereiro de 1976: “El viaje de los Reyes a Cataluha aumenta el crédito de la monarquia, pa ra pasar de un sistema autori tário a otro democrático”. Era uma verdade aquela: o prestí gio da monarquia aumentara como aumentaria na Galiza, onde o rei usou o idioma na tivo, 0 galego, para fazer uma saudação especial aos súditos daquela região, uma das mais

DIGESTO ECONÔMICO

lindas e encantadoras da Es panha.

a

Daí para cá, esse prestígio só tem aumentado. Um grupo de impenitentes saudosistas tentou por várias vezes desestabilizar o regime, dificultando tarefa do rei Juan Carlos. Mas com o tempo ele se fizera respeitado e querido do Parla mento e, caso inédito na con turbada e violenta história eu ropéia, até mesmo os socialis tas e os comunistas ficaram do lado da monarquia e do rei, 0 que fez com que se dissesse que, na Espanha, até os comu nistas eram monarquistas... Era o carisma do moço e bon doso soberano. O comentarista alemão Fritz Wirth, comentan do em “Die Welt” o casamento do príncipe Charles e a onda de populaiddade de que goza a família real, fazia referências "das Charisma der Krons”. Há, efetivamente, um carisma da coroa, ninguém o duvida. E a coroa espanhola é imensa mente popular. Aliás, essa a lição do próprio Don Juan Car los quando um dia declarou que queria ser “Rey de todos los ciudadanos y de todos los pueblos que constituyen la sa¬

Visca

grada realidad de nuestr

a pa-

tria. No puede haber distancia ni barrera entre Ia Institución monárquica y el pueblo, para cuyo servido aquéila exists". (Grifos meus). O soberano quis que houvesse uma monarquia denmcratica, como na Suécia ou Dinamarca, e com isso lo grou fazer-se amar de seu povo.

A posição espanhola mundo mudou e o regime auto- rit^io que ela ostentava e que a fazia diferente na Europa Ocidental foi substituído por uma democracia a funcionar no melhor estilo, mesmo levando em conta que existe uma miriade de partidos políticos.

E a Espanha recebida

resem

Mas 0 prestígio da Coroa é ponsável por esse equilíbrio com ligeira oscilação em favor do monarca. Na Espanha, dizia um articulista americano, recente ensaio sobre a presen ça do rei Juan Carlos na vida política espanhola, o rei rema e governa. E ainda bem.

E o rei foi visto mocrata no passou a rer bem uo cenário do mundo. como um deconsciente, um gover nante bem intencionado. Não obstante ser a Espanha uma parlamentarista , com um presidente do Conse lho de Ministros, mas não ado ta Um parlamentarismo puro. O seu sistema é um misto en tre o parlamentarismo britâni co e anmonarquia pa0 francês, onde o chefe do Estado tem muita autono mia para interferir na vida lítico-administrativa do poreino.

Não fora, por sinal, esse carisma da coroa a que se re feria Wirth, é provável que os golpistas mais arrojados sob a liderança do tenente-coronel Antonio Tejero Molina quem, num puthchitleriano invadiu o Parlamento em companhia de membros da guarda civil e do exército, prendendo os parla mentares e exigindo a renún cia do governo e a tomada do poder pelos direitistas do cien régimes, teria feito malo grar todos os intentos do mo narca e de seus seguidores ra a firmeza da democracia. O rei Juan Carlos e o presidente do Conselho de Ministros, Adol fo Suarez Gonzalez, tiveram uma participação no confron to. A lealdade do primeiro-mi nistro ao seu rei e ao Parla mento, e a lealdade do rei ao Parlamento e aos seus princí pios democráticos fizeram com

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