DIGESTO ECONÔMICO, número 238, julho e agosto 1974

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^prcsontaçao

Exn torno da renuncia de Nixon — João de Scantimburgo

Nixon vitima do um processo kafleiano — Etigênio Gudin da Roalidadc — Gustavo Corção

® Perigo do Comunismo na Europa — de Tlie Economist

do uma Época — Jean Cau

Marcos Kaplan Portugal ameaçado pelos comunistas — Dranko Lazith

Visõos da próxima Guerra — Newsnweelc

Revolução levou dez anos para enfrentar o problema ferroviário — Eugênio Gudin

emancipação da mulher casada — Arnold Wald

Deturpação a Corrigir — Octavio Gouvêa de Bulliões meios do Comunicação — Cardeal Eugênio Salles

A fusão da cidade do Rio do Janeiro com o Estado do Rio — Jorge Ernesto Miranda Schnoor

A. Época da Democracia — Thomas Moinar

A proteção das minorias nas Sociedades Anônimas — Arnold Wald

K. Chosterton — Gustavo Corção

Diante da ameaça de um "Leviatã" moderno — Thomas Moinar

É preciso queimar Descartes? — Gerard Bonnot

O Brasil o o Mundo om Transformação — Roberto de Oliveira Campos

Depois da Queda... — Roberto de Oliveira Campos

Nixoín vit8m0 de ym processo kafkiono

EUGENIO GUDIN

gravidade de um crime <^eve ser medida, penso eu, não em termos absolutos, mas em função dos costumes vigentes em determinada época e de terminado país. Se nos reportarum retrospecto histórico

do percurso até a Parailca não se prestasse às indi.scricões do Telé grafo Nacional. um

O notável articulisLa montra on aípectos do longo prccesno contra G presidente Richard Nixon, que parecem extraídos de um romance de Kafka. o autor dc ‘'O Processo". mos a dos costumes políticos das nações hoje civilizadas vamos encontrar sem número de crimes que nos hcrripilam, praticados pelos rei nantes de então contra as insti tuições e contra os homens. A História da Inglaterra, líder da Civilização nos séculos XVII e XVIII, nos proporcionaria uma ampla coleção de práticas crimi nosas que eram, não raro, enalte cidas pelos governantes da época.

Mas sem precisar ir tão longe, é fácil recordar fatos de um passado recente, tanto entre nós, como nos Estados Unidos, que denotam uma grande tolerância para crimes equiparáveis ao de Watergate. No último artigo que aqui escrevi so bre esse caso, com o título “Wa tergate Reabilitado?” eu c tava a prática, na nossa República Velha, de espionagem da correspondência telegráfica dos adversários políti cos pelos senhores da situação. O que se fazia através das nomeações de “telegrafistas adequados” para o Telégrafo Nacional nos Estados. Nenhum político paraibano por exemplo deixava de vir ao Recife buscar na Western Telegraph os telegramas que lhe eram endere çados, a fim de que o suplemento

O Agora veio a vez da França. Primeiro Ministro Jaeques Chirac visitou 0 mês passado o principal “centro de interceptação” telefô nica para certificar-se do encerra mento dessa “atividade política” í expressões de texto) e da des truição de toda a documentação cbtida através dela. Comunicou o Primeiro Ministro que e.stava em companhia do Ministro do Inte rior, aos militares que operavam 0 Centro, a decisão do Presidente Giscard d’Estaing de susp*nder aquela prática de intromissão na correspondência telefônica alheia, sob pena de punição “por f*-!-!!' as liberdades individuais”.

O problema de espionagem ele trônica dera motivo a agitadas Parlamento francês,

no sessões onde a Oposição acusou o Gover no de ser responsável pelo caso “Canard ocorrido no semanario Enchainée”. em dezembro do ano O episódio teve alguns passado, lances pitorescos, que dele fizeram uma espécie de minl-Watergate francês. Tudo começou, como no

caso Watcrgatc, quando um dos colaboradores do semanário satí rico. famoso por suas revelações políticas, passando de noite em frente ao novo prédio da empresa, viu luzes acesas e sombras sc mo vendo. Curioso, resolveu entrar 0, espantado, viu um grupo de des conhecidos que estariam suposta mente instalando o aquecimento central.. .

O herói da descoberta, o dese nhista André Escaro, após deixar o local, chamou alguns colegas e voltou meia hora mais tarde...

Ministro do Interior. Policia, jui zes, todos tiraram o corpo fora... negando qualquer ligação com o caso.

Passando da Esj')iünagem ao campo do.s crimes comuns, todos nós sabemos que ao tempo da Re pública Velha não cabia nos dedos das duas-mãos a contagem do nú mero do chefes políticos do inteláor que tinham a seu crédito uma boa ralação de eliminatórias seus inimigos. E mesmo ao tempo da ditadura Vargas houve um che fe de Policia acusado de responsá vel por crimes dessa espécie. O que não obstou sua entrada, al guns anos depois, para o Senado da República.

Basta invocar o aforismo de Cicero “O têmpora, o mores!” para SC certificar de que os crimes de vem ser avaliados EM FUNÇÃO DOS COSTUMES VIGENTES NA ÉPOCA.

Ao tempo de minha mocidade, os costumes políticos nos Estados Unidos eram dos mais abjetos. Não era frequente, como aqui, a prá¬

tica de violação das urnas eleito rais. Mas o Congresso e mesmo o Governo de Estados da União eram por vezes dominados por uma espécie de “máfia” chamada ●'Tammany Hall” em que os aten tados contra a vida humana eram matéria corrente.

O que começa por desnortear o julgamento de qualquer de nós é a esdrúxula idéia de instalar apa relhos de captação eletrônica nos escritórios do partido político ad verso. Há muitos outros meios de espionagem, talvez não tão efica zes, mas que não envolvem o mes mo caráter de extrema periculosidade.

E uma vez descoberta a fa^enha, aparece, dentro da Casa Er .nca, um processo kafkiano em .oue as conversas sobre a prática clandes tina da espionagem SÃO GRAVA DAS EM FITAS METÁLICAS!

Esta prática de documentar os próprios crimes ultrapassa a compreensão de qualquer de nós. Es conder, eliminar as provas do pe cado, mesmo venial, compreendesc. Documentá-los e gravá-los é coisa de anormais ou de sádicos. f* Uma vez que os adversários des cobriram a marotagem e — mais ainda — vieram a saber que as conversas entre o presidente e seus auxiliares tinham sido gravadas, começou um processo típico de MARTÍRIO KAFKIANO AO QUAL NIXON ACABOU NÃO RESIS TINDO.

O que no caso me parece mais chocante, do ponto de vista polí tico, é que Nixon não é eliminado por crimes de traição à pátria, de

uma nação sobre outra, lação à nação, o novo sistema im plica — por um periodo histórico de duração impossível de prever-se — o reconhecimento de uma dupla dinâmica, em aparência contradi tória, de refirmação e de supera ção.

Com re- A concepção absolutista da nação obstaculiza sobretudo a concreti zação dos fins de integração numa comunidade humana universalista que, por sua vez, se torna pré re quisito indispensável para o pleno desenvolvimento e a autêntica vi gência do socialismo democrático no interior de cada sociedade na cional.

2) O respeito da liberdade e igualdade das nações deve, por conseguinte, ser harmonizado com a promoção de forças e a busca de formas que favoreçam a gradual integração daquelas numa socieda de cosmopolita única.

res-

Nenhuma

A in-

Por um lado, tal como ocorre dentro de cada sociedade isolada mente considerada, se reconhecem como reais e legítimas as condi ções de não uniformidade, de di versidade e de particularidade que reinam nos diferentes países do mundo. A nação continua tendo uma realidade substantiva e vital e aspectos positivos que serão gatados e preservados, nação pode — por ação de outra ou da própria comunidade e inter nacional — ser suprimida violenta mente através de um processo de desnacionalização forçada,

tegração das nações ao novo sis tema internacional possível e desejável a partir do conhecimento de seu direito à autodeterminação, ao livre desen volvimento independente e inclu sive à separação. Por outro lado, a nação não é uma categoria eter na, mas histórica e contingente. O processo contemporâneo tem reve lado cada vez mais como diversas forças e tendências a tem trans formado relativa e obsolescente e convertendo-a força que asfixia a plena expansão das potencialidades de realização humana. O nacionalismo extremo se torna ao mesmo tempo inimigo dos interesses mais legítimos da própria nação e da humanidade.

somente é re

numa camisa de

Isto requer, antes de tudo, _a ampla agregação e a articulaçao sistemática de atores — nacionais, regionais, transnacionais ou não territoriais, internacionais — ca pazes de gerar, consolidar e impor as condições da nova ordem mun dial. Requer ao mesmo tempo a criação e a cristalização de uma constelação reconhecida e compar tilhada de interesses e valores in ternacionais, com aptidão para expressar e para encarnar-se em forças sócio-culturais e sócio-politicas por sua vez poderosas e ope rativas que exerçam influência decisiva sobre a opinião pública nacional, regional e mundial e produzam efeitos estruturantes e reestruturantes do sentido ecumê nico no estágio inicial e nas etapas intermediárias do processo. Em particular, é indispensável estimar a aparição e a perduração de um sistema de lealdade inter nacional que, sem deixar de con siderar os legítimos interesses na-

cionais, vá sobrepondo-se ao velho nacionalismo, regressivo e agres sivo. Um novo sistema de valores e de normas positivas deve reco nhecer a primazia do interesse in ternacional sobre o puramente nacional. Lsto pode expressar-se, por exemplo, na institucionalização de referendo para as decisões na cionais básicas que tenham vinculações com as relações exte riores, a paz e a guerra e no reconhecimento do direito legitimo à objeção de consciência ao direito à desobediência contra as decisões nacionais que ponham em perigo a liberdade e igualdade de direitos de outros paises ou a paz mundial. De um ponto de vista geral, aproveitam-se estraté gica e taticamente todos os fatores e elementos que possam coadjuvar a criação das condições indicadas, especialmente interesses gerais e particulares dos diferentes grupos, países e regiões, emergências e catástrofes, ameaças de deteriora ção das condições existenciais e de destruição da humanidade, vanta gens do aproveitamento em commum de possibilidades de desen volvimento e realização.

O novo sistema deve ser dotado de valores, normas, instituições e mecanismos requeridos para sua emergência, funcionamento e vi gência irreversível, para desembo car-se numa reestruturação das Nações Unidas e, como horizonte histórico que terá de ser alcançado, no governo mundial.

3) Uma nova Organização das Nações Unidas, iDor sua vez germe e fase de transição até o governo

mundial, supõe e exige profundas modificações em sua estrutura e em seu comportamento que por liipótese referem-se aos seguintes órgãos e mecanismos — Assembléia Geral, Comitê Executivo Mundial, Unidade de Planificação Mundial, Corte Internacional de Justiça, Ministério Público Mundial, Con selho da Consciência Mundial, novo sistema de segurança cole tiva.

3.1) A Assembléia Geral se constitui com base num princípio com participação universalista, irrestrita e diversificada de todo país ou região que queria entrar, sem limitação ou veto. A partici pação inclui estados nacionais e regiões. Isto exige institucionali zar as regiões e as agrupações internacionais não regionais, for malmente estruturadas.

A Assembléia Geral é o órgão decisório máximo. Os estados e regiões que integram de fato e de direito a comunidade mundial vão deixando cair o manto da sobera nia absoluta e se vão submetendo ao novo Direito Mundial. A linha demarcatória entre o Direito In terno, baseado na soberania e o Direito Mundial se torna cada vez mais manchada, aparecendo na zona parda intermediária os pro blemas e desafios a que terão de enfrentar-se as possibilidades que devem ser exploradas e desenvol vidas.

Uma função fundamental da Assembléia Geral é pois a decre tação de leis mundiais, vigentes sem necessidade de ratificação ou tratado, com categoria de super-lei

nais. Assembléia Geral, Comitê Executivo Mundial, Unidade de Planifioação Mundial, Conselho da Consciência Mundial.

3.6)0 Conselho da Consciência Mundial está composto por um número de personalidades inde pendentes e aptas, designadas por mérito de suas condições pessoais e dos serviços prestados à causa da segurança coletiva, da paz, do desenvolvimento e da nova ordem mundial. Suas funções são con sultivas, com intervenção faculta tiva ou obrigatória, segundo os sos. Expressa a maturidade cres cente da consciência mundial problemas internacionais e apela a ela para esclarecê-la e mobiliza-la.

Pode propor questões e so luções ao Comitê Executivo Mun dial e ao Ministério Público Mundial, para a tomada de deci sões ou para a iniciação de proce dimentos judiciais.

A Corte Internacional de Justiça, o Ministério Público Mundial

Conselho da Consciência Mundial têm 0 direito e a obrigação de in tervir na esfera de suas competên cias respectivas, em reclamações e litígios referentes a:

a) Obstáculos e ameaças ao de senvolvimento livre e igualitário de indivíduos, grupos e países, b) Deterioração ou destruição do meio natural e social,

c) Guerras entre estados, d) Guerras civis e internacio nais,

h) Violação sistemática às nor mas de Direito Mundial, i) Tráfico de armamentos,

j) ObjeçÕes de consciência.

3.7) A segurança coletiva. No período de transição necessário para a supressão das raízes inter nas e internacionais de conflito, requer-se um novo sistema de se gurança coletiva, que exige a pro mulgação de uma Lei Universal de Segurança Coletiva e de Promoção da Nova Ordem Mundial Pacifica. Esta lei e as leis, regulamentos e decretos que se ditem em sua con sequência, devem contemplar e resolver pelo menos as seguintes questões principais:

I) Criação de condições reais para a democratização no estabe lecimento, uso e controle de uma força militar coletiva.

II) Limitação e redução gradual de armamentos convencionais e nucleares e de atividades de impli cação militar direta ou indireta (corrida espacial, informação, co municações) .

III) Legalização de tráfico in ternacional de armamentos.

IV) Criação de um corpo militar autonomo das Nações Unidas.

V) Regulamentação precisa do direito de intervenção.

VI) Financiamento autonomo das Nações Unidas e de seu dispo sitivo de segurança coletiva.

As análises e proposições desta Índole, costumam aparecer rodea das de uma auréola de irrealismo e utopia bem intencionados. Já se fez referência, entretanto, à neces sidade do componente utópico para

e) Estados de necessidade nacio nal, regional e internacional, f) Violação de direitos humanos, g) Delitos de lesa humanidade. e 0 (

a elaboração e execução de pro jetos verdadeiramente realistas e, em geral, ao significado operativo de um modelo utópico. Com res peito não é ocioso recordar que as tres concepções do mundo mais importantes da história humana que ainda hoje disputam a cons ciência e a ação dos homens: cris tianismo, liberalismo, marxismo começaram com projetos utópicos

e desdenháveis de pequenas mino rias sem poder e nem prestigio. Isto não impediu que tais concep ções, encarnadas gradualmente na inteligência, paixão e vontade de milhões de homens, se tornassem potentes forças conformadoras da sociedade e da história, cumprindo uma tarefa lústórica inimaginável nas condições iniciais.

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Quando se precisa de uma matéria-prima e as disponibilidades estão abaixo da procura, não há outra maneira senão acomodar-se e oferecer melhores vantagens ao produtor. Esta é a situação em que se encontra a Japan Furniture Materials Development Inc., que congrega 36 grandes in dústrias dedicadas à fabricação de móveis de kiri, uma madeira escassa porém muito procurada. No ano passado, a quantidade requerida para o abastecimento do mercado japonês era de 400 mil metros cúbicos, mas mes mo com a importação de Formosa, da Coréia e do Brasil a disponibilidade foi de apenas 150 metros cúbicos. Como somente a Japan Furniture precisa de 200 mil metros cúbicos e o Japão não tem áreas para reflorestamento, 0 jeito é estimular o cultivo do kiri no resto do mundo, pagando preços atraentes. Para atender seus interesses ,a empresa japonesa constituiu uma firma no Brasil para dar assistência a terceiros e criar plantio próprio. É a "Woodex — Madeireira, Agrícola, Indústria Comércio e Exportação Ltda. Este ano, a Woodex pretende exportar 5 mil metros cúbicos de madeira, mas em 1977 espera poder enviar 100 mil metros cúbicos para o Japão.

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O soja passou, nos últimos anos, a constituir um dos produtos mais im portantes e estudados na Região Sul do País. A crescente participação do Brasil no mercado internacional (3.o produtor mundial e a concretização da política de incentivos fiscais e creditícios às exportações, indicam que de verão ocorrer sensíveis modificações também no panorama da indústria e de suas perspectivas. Sentindo este problema mais diretamente, vem o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) de publicar excelente trabalho sobre a indústria de óleos comestíveis no Rio Grande do Sul com um enfoque voltado, exclusivamente, para a industrialização do soja no Estado. A realização deste estudo consistiu no levantamento direto, através de questionário, do universo de indústrias de soja no Es tado, estruturando-se sua apresentação em dois aspectos básicos: a) Perfil da indústria no Rio Grande do Sul; b) Análise externa e perspectiva. Esta segunda parte situa a indústria em relação às principais variáveis de seu crescimento com determinação preponderantemente exógena, analisando a evolução recente desses fatores e seus condicionamentos.

Portugal orsieaçado pelos coranursistas

0ESDE que surgiu o movimen to comunista internacional, dois “partidos irmãos” vizi nhos, os PC espanhol e por tuguês, ocuparam lugares di ferentes na hierarquia do Comintern: se o PC espanhol pôde mui tas vezes ser considerado “tema brilhante”, o PC português fez sempre figura de “parente pobre”. Foi o que se viu após o II Con gresso do Comintern, em 1920, no qual a Espanha se fez representar por duas delegações, uma anarcosindicalista e a outra comunista, ao passo que Portugal brilhou pela ausência.

o jogo dos coiministas só é igno rado por quem quiser desempenhar 0 papel de avestruz, em jace do pe rigo que ele signijica para as ins tituições democráticas. O autor 0 demonstra, no artigo aõaixo.

Dez a seguir

No ano seguinte, durante ^ o II Congresso do Comintern e no da fundação da Internacional Sindi cal Vermelha “Profintern”, a Es panha esteve representada por uma imponente delegação al¬ guns dos seus membros tornaramse mais tarde muito conhecidos além-fronteiras espanholas, entre os quais Andres Nin e Joaquim Maurin; em compensação, Portu gal outra vez esteve ausente, anos depois, a Espanha despertaria as_ a_tenções em virtude da consti tuição de um movimento revolu cionário anti-stalinista, conhecido por POUM.

Nada de semelhante aconteceu em Portugal. Enquanto nos 30, no tempo da Frente Popular e da guerra civil na Espanha, o PC espanhol brilhou no z<^nite da hie rarquia comunista mundial, nada anos

se dizia, nessa época, do homôni mo português. Nos decênios se guintes, os comunistas espanhóis ocupariam lugares de honra no movimento operário internacional, ao passo que o PC português seria praticamente ignorado. Tornarse-iam conhecidos os nomes dos principais dirigentes comunistas espanhóis: José Diaz, Dolores Ibarruri, Santiago Carillo, general Lister, mas os dos chefes comunis tas lusitanos continuavam ignora dos.

Subitamente, porém, no dia 25 de abril de 1974, um golpe militar, após o qual se constituiu um go verno coligado, apresentou o Par tido Comunista Português no ce nário da política, em posição bem destacada. O PCP foi criado na mesma época em que surgiram os outros “partidos irmãos”; uma conferência comunista, realizada em março de 1921, proclamou a sua fundaí^-ão e elegeu os seus primei ros dirigentes. Nessa época, Por tugal ainda não era uma ditadura, e esta conferência, assim como o primeiro congresso, em 1923, ocor-

reram em condições legais. O partido chegou a lançar um diário, “O Comunista”: tentou íormar or ganizações operárias e camponesas, mas sem nenhum êxito, nos anos seguintes e após o golpe militar de 28 de maio de 1926. Álvaro Cunhai, atual secrctário-geral do PC, ainda recentemente admitiu este insucesso dos anos 20: ‘‘Du rante esse periodo, o partido não logrou transformar-se na van guarda autenticamente revolucio nária da classe operária. Com base nas cifras, vagas e contradi tórias, reunia na época entre 500 e 2.000 militantes” (“La Nouvelle Revue Internationale”, julho de 1971, p. 85).

Pouco notado no seu próprio país, o PC lusitano também não ocupava posição destacada no seio da Internacional Comunista, em Moscou: nos IV e V Congresso da IC, em 1922 e 1924, só dispôs de um voto deliberativo e nenhum dos seus oradores subiu à tribuna para definir a posição partidária.

Meio século depois...

Quando, na maior legalidade, o PCP promoveu no seu II Congres so, em maio de 1926, ninguém então pensou que meio século decorrería antes que o partido pudesse ma nifestar-se de novo abertamente em Lisboa. Com efeito, o “putsch” militar de 28 de maio de 1926 abo liu o sistema parlamentar e, automaticamente, o PC teve de se refugiar na clandestinidade. In capaz de se impor anteriormente sob o regime parlamentar, o PC foi

literalmente desarticulado pelas primeiras medidas ditatoriais, con forme mais tarde confessou Álva ro Cunhai no já citado artigo: “O partido não pôde mobilizar as massas na luta contra o fascismo. Suas atividades foram efetiva mente interrompidas. Sob a pres são dos organismos repressores,* suas organizações de base foram desfeitas, seus órgãos de imprensa deixaram de ser publicados e grande parte dos dirigentes afas tou-se da luta”.

Em 1928, quando o VI Congres so da Internacional Comunista se reuniu, foi publicado um balanço das atividades da organização, após o V Congresso (1924), no qual separadamente mencionava cada secção. Eis o que nesse vo lume se escreveu a propósito do PC português, após o golpe de Es tado militar de 1926: “Em virtude de inúmeras circunstancias, e so bretudo das dificuldades 1'esultantes da ilegalidade, o Comitê Cen tral do PC pouco pôde fazer para ampliar o partido... No que res peita à propaganda geral através dos jornais, o partido, em virtude da censura severa e da falta de meios materiais, nada realizou... se

No domínio sindical, o partido não registrou grande êxito, dc atividade da maioria dos seus membros tornou impossivel qual quer progresso neste capitulo. So mente algumas células (sindicais) operam em Lisboa, e com muitas dificuldades...

A falta Por conseguinte, o partido encontra-se numa. si tuação difícil. Conta apenas 50 militantes em Lisboa e, 2p-,.no

la e empreendendo formidável re forma urbana é que consegue lhe dar, a seu termo, cunho de metró pole.

As grandes megalópoles de hoje. resultado final desse processo de concentração gerado no tempo, não são mais devastadas pela cólerá, mas se apresentam com gra ves distorções no comportamento social.

Os altos índices de criminali dade e marginalismo, adulto e ju venil; os vícios, notadamente o dos tóxicos; a violência, contra as pessoas e as instituições como forma de afirmação; a contesta ção gratuita, a subversão ideoló gica que leva até á guerrilha ur bana; o desregramento de costu mes, a depravação moral, a pros tituição e o homossexualismo; as neuroses, os desajustamentos e as frustrações que levam ao crime, ao vício, á subversão ou ao autoaniquilamento, gerando toda uma variada gama de grupos querendo impor seus desajustamentos e frustrações como regra geral de comportamento coletivo, consti tuem 0 altíssimo preço que a na ção paga pelo excesso de tensão social gerada pela excessiva e de sordenada concentração urbana. É pois tarefa essencialmente li gada à segurança nacional e a que nenhum govèrno realmente res ponsável se pode negar, pre servar as futuras gerações de brasileiros da contaminação social que a irreversibilidade do desorde nado crescimento das zonas urba nas altamente concentradas certa-

mcntc lhes acarretará, senão dis ciplinado a tempo.

●●Na medida cm que o transpor-te se torna mais rápido e mais comodo, e na medida em que a cominiidadc cresce em tamanho e bem estar, as oportunidades para especialização nos usos dos espa ços são considerávelmente aumen tadas.”

“A urbanização, a metropolização e a megalopolização são está gios seriados no alargamento das oportunidades para os usos espe cializados da terra.”

”A e.specialização dos usos da terra, contudo, resulta na vida real não de acordo com algum pla no racional mas como resposta aos acidentes geográficos, econô micos e políticos da história.”

‘■Nas Grandes Regiões Metropo litanas cio mundo não se vê ape nas variedade e especialização mas segregação cie recursos e necessi dades.”

“Mesmo nas novas áreas em desenvolvimento a oportunidade para especialização traz consigo o risco crescente de padrões incon sistentes de uso da terra quando os fatos de interdependência são ignorados.”

“Nenhum padrão preciso de uso da terra é ditado pela tecnologia; a escolha entre padrões possiveis acarreta tomar em conta em am bos os impactos nas necesidades de transporte e o impacto de volta no uso da terra sobre os investimentos de trans porte gião como um todo.”

do uso da terra e tudo isso para a Re-

“Nesta altura a Região simples mente não tem as instituições para planejar ne.stc amplo caminho”.

Estas sábias palavras de Benjamin Chinitz ao analisar “Nova York”: “Uma Região Metropoli¬ tana” nos ajudam a concluir que poucos são os lugares em condições de oferecer o quadro ideal para florescimento das grandes Regiões Metropolitanas no mundo contem porâneo, abarcando regiões geoeconómicas de consideráveis di mensões, dentro de cujo número a cidade do Rio de Janeiro e a Cidade de São Paulo já são ex pressões atuais e talvez só mais uma meia duzia do cidades brasi leiras venham atingir tal condição no futuro.

Os ingredientes que, através dos tempos, geraram a cultura que nas Gálias teve como expressão final a cidade de Paris, a ponto de se poder dizer, em certa época, ser a França a dona do pensamento universal, teriam gerado, mesma intensidade e graça, a mesma cultura e o mes mo estágio de desenvolvimento se a humanidade os tivesse reunido na Terra do Fogo?

A cidade de Nova York tem cer ca de 850 Km2 de área plana total.

A Região Metropolitana de Nova York compreende 22 condados, co bro 6.900 milhas quadradas equi valentes a 17.700 Km2 interessan do os Estadco de Nova York, Nova Jersey e Connecticut, com 16.139 mil residentes (1965) dos quais pouco mais da metade na cidade.

“Num país de metrópoles, Nova York é única conforme levanta¬

mento de dados procedidos por Ben- ' jamin Chinitz, com 9% da população americana, a Região concen trava 40% dos empregos do mer cado nacional de vendas por ata cado, mais que um terço dos em pregados nas finanças, quase um quarto dos empregos nos negócios e serviços profissionais e quase 12% dos empregos na manufa tura”. >

Metade desses empregos estão situados dentro dc um circulo com 5 milhas de raio (8 Km) com cen tro em Times Square.”

“A maioria das atividades nas quais a Região tem dominio na cional está concentrada no distri to de negócios de Wall Street: fi nança, rádio e televisão, anuncio e publicidade, moda e séde das grandes companhias.”

Mais de 140 milhões de tonela das de carga são movimentadas pelo seu pòrto, o que determina uma notável concentração ferrorodoviária e de armaze- com a a mesma Viana, nagem e consequentemente ban cária, concentração que é origem determinante de um complexo centralizado de decisões que, ge rando 0 segundo orçamento da República, afeta a totalidade da naçao.

Dois fatos principais devem ser desde logo destacados:

O primeiro é que o Bureau do Censo prevê a existência de uma população de 22 milhões em 1985 e de 30 milhões no ano 2010, caso a Região Novayorkina cresça no mesmo ritmo de crescimento da população nacional.

em-

agiria mais descentralizadamente mais descentralidamente agina refletindo a influência dos países hospedeiros. E, finalmente, a presa geocéntrica seria aquela que já teria atingido condições de apátrida, reagindo tipicamente de ma neira internacional, antes que re fletindo atitudes de interesse na cional.

FIAT. que vende tecnologia e está dando auxilio operacional. Dois quintos da indústria automobilís tica da Polônia refletem também a presença multinacional e há cerca de 600 “Acordos de Operação Industrial” ENTRE EMPRESAS MULTINACIONAIS e os países da cortina de ferro.

Ainda uma outra manifestação da economia dos conjuntos é o surgimento de conglomerados in ternos do processo e de fusão e concentração. O objetivo principal ai é atingir economias de escala e dividir riscos. Essas foram as jus tificativas iniciais para o grande movimento de fusão e concentra ção nos Estados Unidos, que atin giu seu auge na década de 60 e agora entrou em recesso por mo tivos que analisaremos depois. A justificativa era principalmente ganhar economias de escala e di vidir riscos, de vez que um conge lamento opera em inúmeras indús trias frequentemente desvincula das uma da outra, ligadas apenas por tecnologia gerencial, na espe rança de que nunca ocorram mo vimentos estritamente sincroniza dos da ascensão ou depressão, atingindo todo o conjunto indus trial. Através da diversificação, poderia assim o conglomerado, afetado desfavoravelmente por conjuntura negativa em deter mi nadas áreas, prosperar em outras.

Seja como for, seja como se defina o problema, é que a corpo ração multinacional encarna hoje uma transformação extremamente importante do panorama econô mico. Cerca de 20 ou 30% do co mércio internacional não é mais conduzido tipicamente entre paí ses, e sim entre empresas multi nacionais em diversos países. Estima-se 500 bilhões de dólares, ou seja, 20% do produto nacional bru to dos países ocidentais, excluída a área socialista. O valor do co mércio das empresas multinacio nais teria sido de 300 milhões de dólares, em 1971, contra 310 bi lhões do comércio internacional, excluído o mundo socialista. grande área de ação das corpora ções multinacionais, ao contrário do que se pensa, não são os países subdesenvolvidos. Mais de dois ter ços de seus investimentos se rea lizam nos próprios países desen volvidos. A empresa multinacional é um animal tão insinuante que começa a interessar até aos países socialistas. Já existe uma empre sa multinacional na área socialis ta, bastando lembrar que 50% da produção de automóveis da União Soviética em 1975, será realizada numa fábrica implantada pela A a

A segunda razão de surgimento dos conglomerados foi a emergência daquilo que Galbraith chamou iecno-estrutura administrativa, quer dizer, o crescente estoque de administradores profissionais, não

proprietários, com motivação que., além do objetivo do lucro, encerra também objetivos de poder, obje tivos de segurança, objetivos de prestígio nacional e internacional. Nos Estados Unidos o movimento de aglomeração está em declínio por dois motivos: o primeiro deles foi uma forte reação antitruste. A tradição americana antimonopolística fez com que houvesse cres cente receio de estrangulamento de empresas médias e pequenas através da monopolização disfar çada de sistemas integrados, pelas grandes corporações.

Um segundo motivo foi o rela tivo fracasso, ou pelo menos um sucesso inferior ao esperado, das tecno-estruturas administrativas, que tiveram de enfrentar o tre mendo problejna de dirigir duzentas a trezentas empresas comple mentares heterogêneas, vinculadas apenas por uma sistemática de controle gerencial, scni vivência, pela alta administração, da inti midade do processo industrial ou comercial.

Está-se chegando gradualmente à conclusão de que as economias de escala são até certo ponto e, depois disso, começam as deseconomias de administração.

cesso de fusão e conglomeração de empresas nacionais é o meio de íortalecê-las para participarem nesta confrontação, hoje perigo samente solitária, entre a grande empresa de Estado e a grande em presa multinacional.

Recesso da ideologia

Uma outra transformação no pa norama econômico é aquilo que chamaria a “ressurreição do praginatismo” ou o “recesso da ideologia'\ Como disse, trata-se de um fenômeno misto político-econômi co. Suas manifestações na área política são as três dramáticas reaproximações dos anos recentes. .4 reaproxiviação americano-soviética, a reaproximação ainda mais dramática sino-americana, e final mente a reaproximação russo-alemã. Estas três reaproximações indicam uma erosão da contun dência ideológica que enevoou o panorama político do após-guerra. Não significa, de forma alguma uma reconciliação ideológica. Tra ta-se apenas de um recesso ideoló gico ditado por motivações prag máticas.

O processo de coales-

No Brasil, entretanto, há ainda muito espaço para fusões e con glomerados, devido ao fato de que partimos de unidade basicamente menores, cência no Brasil ainda tem amplo caminho a percorrer, ganhando economias de escala, sem necessa riamente incorrer em eficiência por gigantismo. Além disso o pro-

A emergência do pragmatismo é tipificada nas economias ociden tais pelo aparecimento das chama das “economias associativas de mercado”, que diferem enorme mente do modelo. Na economia associativa de mercado, não exis te este confronto solitário e antagonistico entre o operário e o pro prietário. Tratam-se de estruturas muito mais sofisticadas em que, a rigor, surge uma nova classe. A

Os mecanismos

Um deles era o medidas

alteração ocorrida nos chamados mecanismos de ajustamento” função de deficits de balanço de pagamentos. tradicionais não são mais usados ou aceitáveis. ajustamento mediante exclusivamente Internas.

O país deficitário teria que ra cionar o crédito, provocar a de flação interna de custos e preços, para melhorar suas exportações e diminuir as importações, restau rando 0 equilíbrio. O preço, habi tualmente, era o desemprego. Este método de ajustamento exclusiva mente interno, puritano e austero, não é mais aceitável numa con juntura política em que todo o mundo reclama emprego e distri buição de renda.

Passou-se para a adoção de um mecanismo alternativo que, pelo menos em parte, substituiría a ne cessidade níedidas internas como a desvalorização cambial. Esta diminui a necessidade de medidas corretivas, internas, faci litando 0 ajustamento do balanço de pagamentos, sem crise de de semprego.

que as tradicionais, e assim por diante.

Isso leva a uma outra transfor mação extremamente importante, que é a implantação do princípio da simetria. Anteriormente, há pouquíssimos anos, entendla-se que a culpa e a responsabilidade do desequilíbrio de pagamentos incidiam sobre o país deficitário.

A este caberia ou cumprir interna mente, desidratar-se, por assim dizer, pela deflação, melhorando suas exportações, tornando-se mais competitivo ou, então, desva lorizando sua moeda com o mesmo objetivo.

Hoje já se admite o principio da simetria, quer dizer, a correção do desequilíbrio que se tem manifes tado no sistema monetário inter nacional, que deve ser responsa bilidade conjunta; do país defi citário, que deve tomar medidas internas e externas de flexibiliza ção cambial e promoção de expor tações; mas também do país superavitário, que deve valorizar sua moeda para facilitar o processo de ajustamento.

Isso nos levou, então, a uma ne cessidade, geralmente sentida, de flexibilidade cambial. O grande tema de debate do sistema mone¬ tário internacional não é hoje se devemos ou não ter maior flexibi lidade cambial, flexibilidade adotar: taxas flutu antes, taxas reajustáveis periodi camente, taxas fixas, com disposi tivos automáticos de flexibilização, margens de flutuação mais lai;gas

E que tipo de

Curiosamente, os Estados Uni dos, em Breton Woods, quando todo mundo imaginava fossem cre dores perenes (o famoso “dollar gap”), não simpatizavam com o princípio da simetria. Hoje, são grandes defensores desse princípio, de vez que não desejam que o pro cesso de ajustamento seja feito unilateralmente pelo país devedor. Insistem num complexo de medi das a serem tomadas pelos países superavitários: valorização, por exemplo, do marco, do yen, das

moedas européias; liberalização de importações pela Europa e pelo Japão. No caso japonês e alemão, também maiores exportações de capitais e maior contribuição para os programas de ajuda externa. Em suma. criou-se o principio de partilha de responsabilidades.

Crise energética

Passemos à terceira das crises: a da energia, que teve formação lenta e manifestação dramática.

A verdade é gue, 7io após-guerra, o consjimo de hidrocarburetos do brou, em cada doze anos, desde 1940, e o petróleo passou a superar o carvão como jonte de energia no começo da década dos 60. Hoje. 0 petróleo representa 45% do con sumo total de energia nos Estados Unidos, 60% na Europa e 75% no Japão. A energia nuclear, apesar do avanço considerável ainda re presenta apenas 2%. Talvez a própria razão da crise 'tenha sido o fim da autosuliciència america na. Os Estados Unidos começa ram a importar petróleo, em quan tidades módicas já a partir de 1948, mas, até 1965, essa importação ti nha ficado bem abaixo de 20%.

Agora, estima-se que entre 1980 a 1985, se não forem tomadas me didas corretivas, os Estados Uni dos terão que importar 50 por cen to do total. Quando se lembra que os Estados Unidos consomem cerca de 11 milhões de barris-dia

O segundo problema derivou do gás natural. Houve, nos Estados Unidos, um continuo decréscimo da relação à produção anual, a re lação de 26 para 1; hoje, essa pro porção é de 12 para 1. Os Estados Unidos mantiveram, durante muito tempo, artificialmente baratos, os preços do gás natural, com o que desencorajaram prospecção mais intensa, e estimularam artificial mente, e absurdamente, o consu mo.

Os efeitos da crise de energia são importantes. O primeiro é a pressão inflacionária mundial, ex portada pelos países árabes, que estão continuamente insistindo em preços cada vez maiores para o pe tróleo.

O enfoque árabe do problema do petróleo apresenta três aspectos:

1.0) a manipulação de preços; 2.0) manipulação de investimen tos; 3.0) nacionalização de com panhias. Mas 0 in out inflacioná rio não provem somente do Orien te Médio. Tornou-se possível gra ças a uma cartelização dos paises produtores. A rigor, a idéia do cartel dos prodxttores de petróleo nem sequer é árabe: partiu da Ve nezuela, tomou fonna através da criação da OPEP. Além da pres são inflacionária embutida na cri se de energia há um problema mo netário, derivado da violenta redistribuição da liquidez monetária mundial. Basta lembrar que somente a Saudi-Arábia terá re ceita de petróleo de 15 bilhões de dóla.res, em 1980, e os países ára bes do Oriente Médio cerca de 60 bilhões de dólares. 15 bilhões de um pouco menos que o consumo anual do Brasil — imagina-se que isso representa de demanda adicional lançada no comércio internacio nal

é o ponto de vista que tenho reMovimento Demo- presentado no crâtico Brasileiro no Senado, mas ponto de vista de inúmeros eco nomistas da maior qualidade. distribuição da renda não se faz depois, ela se faz ao mesmo tem po. São opções que se devem too .4 produto nacional, um fenômeno comum". mar.

Gunnar Myrdal que, em nome do governo brasileiro;- foi convidado para participar de um seminário, veio aqui reafirmar que a melhor política de crescimento econômico é fazer com que a renda esteja distribuída de forma que haja um mercado interno, que haja uma possibilidade de consumo e de produção pela integração da co munidade na produção. Esse é o ponto de vista que acaba de ser adotado pela ONU.

Paulo Hoffman, Diretor do pro grama das Nações Unidas para o desenvolvimento, prefaciou um tudo de Artur Lewis, ilustre ' fessor de economia política e que publicou 0 primeiro volume sobre o processo do desenvolvimento, mostrando que é necessário reti ficar o conceito de um crescimento econômico pelo crescimento social. O que se quer é o crescimento da população e é este que economi camente interessa.

Na ONU, no ano passado, o Ban co Mundial, tendo à frente Mac Namara e os economistas e a Exe cutiva da ONU no Conselho Econô mico Social, apresentou a mesma tese, dizendo que a aparente — nas suas consequências — euforia dos países que estavam crescendo no seu desenvolvimento a nível de

8, 9. 10 e 11%, ele citava naquela ocasião ires, o 7jr»?2.eiro. do ano passado, era a Coréia, o segundo, o Brasil e o terceiro talvez o Irã, que obtiveram maior incremento do seu Dizia: "Este é Aliás, Ro berto Campos nos seus dados mos trou que é o fenômeno que ocorre.

Mas 0 grave, dizia ele, é que nos desenvolvimento, esse países em crescimento que é inédito na sua de uma história, e que decorre série de circunstâncias, operando de tal forma que ele be neficia apenas uma pequena mi noria. Se introduzissem indústrias, por exemplo, indústria automobilisiica, beneficiariam realmenie uma faixa de 5% da população, enquanto 90% ficariam em condi ções inteiramente incapazes de ace der a essa possibilidade. E pro punha então 0 Banco Mundial, com o relatório dos seus técnicos, que os países em desenvolvimento atentassem para esse problema que poderia ser de conseqüèncias graves e deveria estabelecer con dições para que, por exemplo, os salários das camadas mais baixas está se esproimediatamente subissem numa proporção igual à taxa de cresci mento do pais, e dentro de cinco anos subissem em taxa superior, para que pudesse haver uma apro ximação, dentro de uma perspec tiva humana, do desenvolvimen to. Finalmente, quero completar, aproveitando esse último minuto, com a recusa a essas opções.

Democracia, desenvolvimento, na cionalismo? Se tivermos os pés em terra poderemos perfeitamente

nimc e parece razoável é de que haja um minimo de democracia, um míni mo de nacionalismo, um minimo de justiça social e um minimo de desenvolvimento. É teórico? Não. a Acabo de chegar de um seminário, realizado na Venezuela, sobre pla nejamento governamental. E está aqu» um exemplo concreto: a Ve nezuela acaba de realizar um aumento, nos últimos 4 anos, mé dio, de 8,5 no seu crescimento, crescimento econômico, portanto, em porcentagem igual ao dos maiores do mundo.

Democracia. O presidente Caldera assinniu o Governo substitu indo Leone, que durante 4 anos teve estado de sitio. Durante qua tro anos não houve um dia de estado de sitio. Restabeleceu a harmonia, terminou o terrorismo, deu reconhecimento a todas as forças que quiseram lutar politi camente, numa situação de abso luta normalidade democrática, com a^. eleições à vista, com a grande perspectiva de eleger, inclusive, o seu sucessor ou seu continuador do mesmo partido. Os salários foram aumentados numa propor ção inversa ao seu volume, isto ó, os salários menores subiram mais 400%, enquanto que os grandes salários subiram muito menos,

aceitar — sem pretender chegar ao máximo, ao ótimo econômico, ao ótimo social, ao ótimo nacional, ao ótimo democrático — ter um míreivindicação que nos do petróleo, ter sido nacionalizada a indústria petroquímica, a re versão das antigas concessionárias fixadas para 1983, com um quase ministério da reversão, para exi gir que a reversão se faça em con dições econômicas e, acima de tudo, com surpresa para muitos, a Venezuela resolveu que ela fixa ria 0 preço do petróleo e não as companhias. Fez a comunicação e acabou tendo o reconhecimento desse seu direito. É um exemplo de que se pode fazer uma política nacionalista sem quebrar a demo-cracia, de justiça social, sem vio lação dos princípios democráticos. Não há razão para essas opções. Parece-se que se quisermos não alimentar grandes sonhos de ser mos grande potência — que é real mente um sonho que repousa em falsas ideologias — se quisermos ser apenas o Brasil da América Latina o nosso caminho deveria ser outro.

numa preocupação de justiça so cial. E no plano internacional basta dizer-se que além de ser fi xada a política de nacionalização

R.C: A primeira pergunta do nobre interpelaiite se refere a uma possível motivação secreta da “dètente" entre os Estados Unidos e a Rússia, e essa motivação teria sido o receio de uma aproxi mação sino-japonesa. Em outras palavras, a ressurreição do “perigo amarelo". Não possuo fontes de informação secreta e estou distan ciado dos conchavos do Governo. Acredito, entretanto, pouco prová vel, que essa seja a motivação, por que existem outras absolutamente lógicas.

Distencão

LDo ponto de vista soviético, esse “détente” tem 3 justiPrimeiro, o reensaio da ficativas claras, ceio de criar duas frentes, uma vez que existe uma possibilidade la- (je conflito com a China, derivalidades profundas oritratados vido a dos chamados undas injustos”, que representam para a China não só humilhação política mutilação territorial — re- como ceio, repito, de criar duas frentes de combates. Isso levaria os sovié ticos a uma tentativa natural de estabilização da frente ocidental. Segundo, o desejo soviético de ab sorver tecnologia do Ocidente, não necessariamente apenas dos Esta dos Unidos. Terceiro, o desejo so viético de levar o Ocidente a aceitar o siatus-quo na Europa Central e Oriental, que já é bastante generoso para a União Soviética, de vez que sua esfera de influência foi enorme mente alargada no após-guerra. Esse reconhecimento do status-quo é particularmente importante no tocante à Alemanha Oriental, que era ainda um ponto agudamente conflitivo. Do lado dos Estados Unidos, as motivações são dife rentes. Em primeiro lugar há o desejo de diminuir a carga ecoi nômica que vinha representando a continuação da guerra fria e a sustentação de um dispositivo de defesa assaz dispendioso na Eu ropa, e, segundo, um reconheci mento, por motivos de política interna, de que os Estados Unidos deviam silhueta outros países da Europa Ocidental e 0 Japão, a crescentemente assu-

mirem maior responsabilidade em suas próprias áreas. Uma reaproximação sino-japonesa, num sen tido de coexistência, é não só viá vel, como desejável e provavelmen te necessária. Num sentido de aliança politico-militar, acredito improvável. Os chineses têm longa memória. Foram humilhados pelo Japão duas vezes: em 1894, na guerra sino-japonesa, e em 1935, no incidente de Mukden. Não houve neste idtimo caso mutilação territorial senão temporária de vez que a Manchúria voltou à China. Nesse sentido o conflito com o Japão é menos profundo do que aquele com a União Soviética, que impôs humilhações territoriais à China, inclusive pela criação arti ficial da República da Mongólia Exterior.

A China e o Japão têm uma afi nidade cultural. A cultura japo nesa é, afinal de contas, uma cul tura sinica. Não há, hoje, muti lação territorial infligida pelo Japão; subsiste uma humilhação histórica que a memória chinesa dificilmente deglutirá. Do lado japonês, não parece também inte ressante substituir os Estados Uni dos pela China em seu sistema de alianças: é que a economia in dustrial do Japão está profunda mente vinculada à economia ame ricana. Afinal de contas, os Esta dos Unidos absorvem 30% das ex portações japoneses. Há hoje uma enorme imbricação, inclusive de investimentos. Acredito que Japão prefira seu atual papel de grande potência econômica ao pa pel de caudatário da China no ter-

realmente reduzir sua mundial, estimulando o

Não acre- reno politico-militar. dito. portanto, que motivações da “détente” sejam aquelas indicadas pelo Professor Montoro como sen do boato corrente nos bastidores da politica internacional.

Integração

PeriL marchou também para uma fadicalização social - militarista.

Unicamente a Colômbia permaneainda com a sua democracia, que muitos chamam de “revolvingdoor democracy" — democracia de poria giratória, de vez que, até recentemente, os partidos se substituiam um ou outro em cada 4 Perdeu sentido, então, esse Mas perce

Quanto à questão da integração latino-americana mente apaixonante. inspiradores mais de movimentos ousados de inteCerto momento houve em é tema realFui um dos anos. antagonismo político, siste uma enorme suspicácia eco nômica dos países pequenos e mé dios em relação aos países gran des: — Brasil, Argentina e MéE sobretudo em relação ao entusiasmados

graçao. que o Brasil, no Governo Castello Branco, chegou a esboçar uma proposta à Argentina de formaçao de um mercado comum aberto à acessão dos demais paises. Aquela ocasião inexistia ainda o Bloco

Andino, mas se configurava essa possibilidade de maneira hostil ao Brasil, como uma espécie de reação dos Paises pequenos e médios con tra os paises grandes da América

Latina: havia, também, uma ten tativa de acentuar um eixo polí tico supostamente democrático — 0 Chile, de Ffei, o Peru de Belaunde e a Colômbia de Lleras Restrepo — contra o eixo político, suposta mente autoritário, do Brasil e da Argentina. Naquele tempo os go vernos de Frei, Belaunde e Lleras

Restrepo eram politicamente mui to afins e se consideravam defen sores da democracia liberal. Hoje a situação mudou. Não se pode falar mais num eixo democrático versus um eixo autoritário. O Chile marchou para uma radicali zação de esquerda, que será subs tituída, por algum tempo, por uma radicalização de centro-direita. O

xíco. Brasil, no qual todos eles adivi nham u’a maior potencialidade industrial e econômica. ambiente está tão carregado de suspicácia econômica e ideológica, que considero difícil avançarmos senda da integração. To das as propostas generosas e idea listas de aceleração do processo Hoje 0 mats na integrativo falharam.

Uma idéia interessante que che gou a ser seriamente examinada consistiría em abrir o Brasil uni lateralmente suas fronteiras adua- ' neiras aos paises pequenos — uma espécie de desarmamento adua neiro unilateral, Não acredito què haja hoje sequer tranquilidade po lítica na maioria de nossos países enfrentarem seriamente o para problema da integração, e muito menos o grau mínimo de confian ça econômica que seria necessária para fazê-lo. A integração econômica latino-americana rema nesce um objetivo tecnicamente desejável, porém politicamente impraticável, em escala significa-

Teorias frustradas

MARCONDES GADELHA: Há um ponto que eu gostaria de examinar devagar, que é a primeira daque las três teorias frustradas a que o senhor se referiu, as três teorias ●desmoralizadas. A primeira delas, que diz respeito, exatamente, ao crescimento, à ampliação dessa dicotomia entre os povos do hemis fério norte da defasagem entre paises pobres e países ricos. Pa rece-me que essa teoria não é fruto de excitação ideológica, foi comentada por pesquisadores diversos, em diversas partes do mundo e por organizações sérias, de formação até mesmo pragmá tica, como é 0 caso do Instituto Hansen.

Essa teoria finalmente nao nasceu do nada e o mundo tomou conhecimento dela deneira sólida depois do famoso Re latório Pearson, que mostrava exa tamente que ela é uma verdade contundente, gravg e profunda e não apenas u’a meia verdade. Gos taria de lembrar que fui um dos subscritores do Relatório Pearson, ao lado de Roberto Majoland, Saburo Okita e de inúmeras outras personalidades internacionais, fato que o senhor trouxe neste mento como

faz acentuar, ainda mais. a dramá tica situação dos outros povos que se encontram abaixo do Brasil, no ranking mundial.

Ora, o reconhecimento desse fato, é de uma importância dolorosa, crucial, para os amantes da ati tude aquiescente, habitualmente rctulada como pragmatismo, por que 0 desaparecimento das frontei ras fisicas e ideológicas torna o nacionalismo um luxo espiritual inócuo e, até mesmo prejudicial à comunidade internacional. Esse raciocínio me parece muito peri goso porque acarreta um inconformismo com a divisão do trabalho,

mas » em que os paises ricos alocariam as suas unidades produtivas nos países pobres fugindo â poluição, fugindo às críticas ambientalistas, fugindo às pressões e reivindica ções salariais de muito mais conscientizado. os paises prociLrariam alocar as suas unidades produtivas ses pobres om quintal

um operariado Então aos paiagora transformados ou galpão do mundo e os povos do 3.o Mundo, sujos de graxa ou de terra; se encarregai''am da produção dos bens primá rios e secundários para eles pro dutores O apenas de patentes e mo- Knoio-how. tuação pode ser normal para al guns países pequenos como a Bolí via, Taiwan, o Irã e outros, mas não para o Brasil que possui massa continental, uma população enor me e grandes potencialidades eco nômicas. Então, a aceitação dessa divisão internacional do trabalho fere o nosso orgulho nacional e cria, ao contrário, um novo desafio.

A aceitação dessa si- uma novidade ao problema de existir uma hetereogeneidade na composição do 3 o Mundo, de paises remediados, mais ou menos no?i tea, como e alguns outros, penso que valida a teoria mais ou menos e 0 caso do Brasil nao inprimeiro, porque já era reconhecida antes de formulada, e segundo porque só ser

A fuga a essa situação não é fácil, se examinarmos a composição de poder no Brasil, no momento, dele participando apenas o Estado e grandes corporações multinacio nais, nós verificamos que há um vácuo muito grande pela saida do empresariado nacional, pelo desaparecimento, pela elisão, pelo menos relativa, do empresariado nacional. Então queria que dis sesse se estou certo no meu palpi te. O grande dilema brasileiro do momento não é saber se fica como o último dos ricos ou o primei ro dos pobres. O grande prchlema do Brasil é saber se conti nua com as franquias, as multina cionais, aceitando a divisão inter nacional que nie parece injusta à ética e à moral do trabalho, ou então derivar para um tipo nacio nal de aiUoritarismo de cunho, não diria socializante, mas pelo menos

Jortificador da máquina empresasarial do Estado. Esta é a pri meira pergunta. A segunda é cor relacionada com esta e é colocada

mais- a nivel de nações e não dos tais protagonistas singulares. Eu perguntaria qual deve ser a posi ção do Brasil em relação às de mais nações do mundo, como os Estados Unidos. Lembro que a nossa posição variou de uma ati tude antimperialista, no tempo Jânio Quadros, João Goulart, para uma posição de aliado preferen cial, mas essa condição de aliado preferencial tem duas restrições muito sérias: a primeira é a teo ria do desenvolvimento dependen te, segundo a qual o desenvolvimento dependente só gera desen-

volvimento dependente; a segun da é uma advertência do General Golbery do Couto e Silva, de que devemos aprender com George Washington, que toda a ajuda no campo econômico implica em con cessões políticas em termos de so berania. Então, diante desse im passe, eu gostaria de saber, espe cificamente, qual deve sei' a posi ção do Brasil em relação aos Es tados Unidos, enquanto Nação.

Alargamento da brecha

RC; Passamos ao problema da teoria do alargamento da brecha.

O que eu disse era que essa teoria era, apenas, u’a meia verdade. Não a pronunciei falsa, ou mentirosa; chamei-a de “meia verdade”, pelo simples fato de que ela se baseia na noção superficial de que existe um bloco compacto do 3.o Mundo, que se distanciaria, cada vez mais, do outro bloco compacto, o l-O Mundo. Ora, acontece que o 3.o Mundo está longe de ser um todo homogêneo, ou um todo contínuo. Na realidade, existe uma enorme congérie de países, alguns dinâmi cos, como os de cultura sinica, na Ásia, outros na América Latina, e mesmo alguns na África que têm logrado diminuir essa brecha, de forma bastante rápida. No relatóvio Pearson, de cuja formulação participei, falava-se, é verdade, num alargamento de brecha, po rém num sentido bastante qualifi cativo. Primeiramente, os dos dis poníveis naquela ocasião — o rela tório foi escrito em 19,68 — abran giam apenas a l.a metade da dé-

tivo-governamental competente _e realista. cussao

Talvez denote simplesmeiiie uma Quanto à nossa posição superioridade de uivei de desenfreme aos Estados Unidos que en- volvimento econômico. Neste caso, volvería o problema geral de nossa o Brasil seria imperialista em repolitica externa, exigiria uma dis- lação à Bolívia e ao Paraguai e a muito alentada. Acredito Rússia, imperialista em relação à Brasil deve evitar — e já Polônia, (aliás, é assim considedois in- rado). Acredito que devemos pen¬ sar mais pragmaticamente em termos de niveis diferenciais de desenvolvimento econômico e de poder politico. Conforme essa de finição, nós não seremos imperia listas em relação aos Estados Uni dos, 77ias em relação ao Paraguai c à Bolívia.

que o está em condições disso jantüisvios políticos. Um é a opo sição mecânica, outro é a subser viência à crítica. Não há lugar em nessa política externa para qual quer dessas posições. Seria ingê nuo e contraproducente uma pos tura de oposição sistemática, na esperança de com isso realizar ca pita). político interno ou externo. Isso seria, talvez, uma atitude ex tremamente simpática se quisés semos capturar a liderança do 2.o Mundo, mas pouco teria a ver com nossos reais interesses de comér cio de investimentos. Com relação aos Estados Unidos também não há lugar para uma atitude subser viente, que não nos traria nem proveito nem respeito. O que de vemos realmente manter é uma atitude descontraída e pragmáti ca. Há áreas de coincidência de interesses, e áreas de divergência.. no Quando os interesses coincidem não deve haver pudor em tal afir- do mar; quando os interesses divernão deve haver timidez em gem acentuar essa divergência. A sur-

Na realidade, boa parte da lite ratura recente da esquerda da América Latina se concentra em identijicar a transmutação brasi leira, passando de um pais que chamavam de subimperiaiista para um pais que hoje se descreve como pré-imperialista e já antecipam será amanhã neo-imperialista. Esse jogo semântico é de pouco in teresse. Acredito que devemos avançar descontraidamente terreno do desenvolvimento econô mico, evitando em relação aos Es tados Unidos os dois injantilismos — 0 apoio sistemático e a oposição incondicional — e adotando antes uma postura descontraída quem se sente capaz de analisar, objetivamente, convergências e di vergências de interesses. Deve harada expressão de “imperialismo ver objetividade para analisar as americano” já me parece algo áreas de convergências e masculiobsoleto. O termo se tornou pouco nidade para indicar as áreas de descritivo. O que é imperialismo- divergências.

DEPOIS DA QUEDA

“Ce n’est pas un peché que de pecher en silence” — Tartufo, de Molière

renúncia de Nixon exemplifi cou o que há de melhor e o que há de pior na sociedade ame ricana. O que há de melhor é a preocupação com a defesa da privacidade do cidadão, a igual dade de todos perante a lei, o sen tido de obrigação do contribuinte para com o fisco e sobretudo a ex traordinária solidez das institui ções que absorvem enormes cho ques sem perigo para o sistema. As instituições perenes contam muito mais que o homem episó dico. O que há de pior é a autodeleitação com a hipocrisia polí tica, de vez que, em termos de pecado politico e corrupção elei toral, os deslizes de Nixon só se tornaram graves por terem sido descobertos, pois pecados seme lhantes fazem parte do folclore americano. O que há de pior tam bém é a falta de perspectiva de prioridades; num momento em que liderança internacional firme dos Estados Unidos se tornava in dispensável. assistimos ao espetá culo, algo ridículo, de um prolon gado processo, amplamente televi sionado, de desmoralização da Pre sidência, quando uma rápida re solução congressional de censura teria atingido o objetivo de cerc'=’ar o abuso de poder. Há em todo o episódio Nixon laivos de espantosa falta de julgamento e mau gosto: a gravação não de

A historia julgará Nixon benigna mente. Será, para o ex-presidente, melhor do que a noticia, diz o ar ticulista.

graves entrevistas de Estado mas de rotina do governo; uma tenta tiva. de espionagem política gro tescamente desnecessária ante só lidos indícios da vitória republi cana; o recurso a artifícios de du vidosa legalidade para reduzir o imposto de renda; o melhoramento de propriedades pessoais com ver bas de segurança. Mais discutível, entretanto, é precisamente “punctum dolens”. A preocupa ção de Nixon em proteger seus su bordinados, indo até à mentira para atenuar o escândalo, pode ser moralisticamente considerada uma “obstrução da justiça”. Mas cabe a dúvida honesta sobre se, caso vingasse o esforço, não teria sido melhor evitar um escândalo que causou humilhação aos Estados Unidos e inquietação ao resto do “Obstrução da justiça” durVnte 100 anos nos Es0 a mundo. ocorreu tados Unidos, em relação aos dirpites dos negros, sem que tal fos se considerado escandaloso ou incapacitante para os governan tes... Mas os anglo-saxões ado ram a hipocrisia, que já foi defi-

nida como uma encabulada home nagem do vício à virtude...

AS RAÍZES SECRETAS DA CRISE

No drama de Nixon se conjuga ram vários fatores. O encarniçamento da imprensa e dos meios de comunicação de massa é uma es pécie de “revanche” dos liberais de esquerda, que nunca perdoaram a Nixon seu passado facistóide e cruel, que mutilou uma carreira brilhante como a de Alger Hiss. Psicologicamente, o complexo de perseguição que Nixon sempre re velou em relação à imprensa e te levisão, levando-o a atitudes vio lentas e ressentidas, alienou o “Quarto Poder” — os meios de co municação —, cuja enorme in fluência na vida americana foi mais uma vez dramaticamente re velada.

Muito mais fundamental no caso é a reasserção dos poderes do Le gislativo face ao Executivo. A ten são entre os poderes, mais ou me nos permanente, atingiu fase aguda no Governo Nixon e t:v3 diversas manifestações. A pr'meira delas referiu-se à conduta da política externa, e principalmen te ao compromissamento militar dos Estados Unidos sem prévia anuência do Congresso, pelo cará ter de “guerra não declarada” de que se revestem os conflitos ideo lógicos como 0 do Vietnam. Con quanto uma intervenção militar, ainda que reativa e limitada, te nha sido autorizada pela famosa Resolução Senatorial do Golfo de Tonquim, de 1964, o engajamento

assumiu gradualmente proporções de mobilização bélica jamais con templada pelo Legi.slativo. A se gunda fonte de conflito é o “power of the purse”. Com os recla mos da clientela em favor do “welfare state" e a pressão de inte resses regionais competitivos, o Congresso tornou-se um órgão até certo ponto inflacionista, levando 0 Executivo, que é diretamente responsabilizado pela alta de pre ços, a corrigir excessos de deman da pela não utilização de verbas votadas pelo Congresso, que se sentiu frustrado em suas promes sas à clientela. A terceira fonte de conflito reside nas relações com os Estados. Nixon favorecia o sistema de dotações a ser gastas livremente pelos Estados, o que diminuiria o prestigio da interme diação do Congresso em favor da clientela, base política. Um quarto proble ma reside no “privilégio executivo”, que figurou centralmente na disputa entre Nixon e o Legislativo. Nixon, ao acrescer o poder dos As sessores e Coordenadores na Casa Branca, legalmente protegidos de inquisição legislativa, não só efe tuou uma “reforma administrati va” disfarçada, como subtraiu po der decisório aos Secretários de Estado, aprovados pelo Congresso c por este fiscalizados.

enfraquecendo-lhe a

Mais importante e mais básico é 0 fato de que o caráter renitente e crônico da inflação, assim como a necessidade de rapidez de deci sões sôbre câmbio e balanço de pagamentos, forçará, mais cedo ou mais tarde, uma gradual delegação

de poderes do Legislativo ao Exe cutivo, sem o que será impossível orquestrar adequadamente as po líticas monetárias, fiscal e de alo cação de rendas, assim como ma nipular adequadamente o câmbio o comércio exterior. O triunfo do Legislativo sobre o Executivo no caso dc “Watergate”, além de constituir exceção à tendência mundial de fortalecimento do Exe cutivo, será provavelmente apenas um episódio não conclusivo de luta entre Poderes.

COS incorridos com a limitação ds armas nucleares, foi outra reali zação política e diplomática de suma importância. Ela ensejou inclusive um importante subpro duto

a abstenção da União e

Soviética ante o dramático reingresso norte-americano no palco do Oriente Médio, promovendo uma pacificação que esvaziou a in fluência soviética conquistada a de vultosos investimentos.

peso

Mais recentemente, o abranda mento das tensões com os países

A história julgará Nixon mais da Aliança Ocidental, um pouco benignamente do que o julgou a ciumentos em relaçao ao dialogo noticia. Suas realizações são im- solitário das superpotências e portantes em política externa, e pouco humilhados pela sua p - vale a pena recordá-las. A recon- pria desunião, coroou uma obra di- ciliação com a China, que teve dois ploniática importante, subprodutos: a cisão frontal da li derança comunista mundial e a desorientação da politica soviética, impossibilitada de tentar uma guerra preventiva, receosa de um ronflito em duas frentes, e força da assim a uma reconciliação com o Oeste. Ao contrário do que se imagina, o revisionismo da poli tica em relação à China não é ins piração de Kissinger, pois se en contra embrionariamente em ar tigo de Nixon na revista “Foreign Affairs” em 1967. O desengajamento no Vietnam foi outra im portante e agoniante decisão de Nixon, que assumiu grandes riscos com a retirada gradual de tropas c, em momento difícil, com o bom- (Jq se ensaiou uma coordenação de taardeio do porto dc Haiphong, A “détente” com a União Soviética, em que pesem a suspicácia em re lação ao real desejo dos soviets de relaxamento de tensões, e os ris-

Se no plano de política externa de Nixon foi ousada e efi- a açao caz, na política econômica interna, foi ousada mas ineficaz. Partin do de um Presidente Republicano ruptura do tabu monetário pela desvalorização do dólar a adoção de políticas de ina assim como tervenção no mecanismo de presalários, foram medidas ines- ços e peradas, que se seguiram entre tanto a um longo período de hesi tação, durante o qual se comete ram erros: praticou-se uma polí tica monetária austera, obviamen te ineficaz, em se tratando de in flação de custos, a não ser à custa de recessão de desemprego. Quanpolíticas fiscais e de alocação de rendas, isso foi feito tarde demais e de forma incoerente. Também o dólar foi mantido sobrevalorizado

por período demasiado longo, agravando desnecessariamente o desequilíbrio de pagamentos dos Estados Unidos. A coragem das medidas não compensou o atraso das soluções... Inesperado como sempre, Nixon, o arquiconservador, acabou propondo ao Congresso um sistema de imposto de renda ne gativo, coisa sobre o que os demo cratas abundantemente falaram

sem passadcm à iniciativa concre tas.

rebílíntóofum

A soma al-

A história infelizmente não é feita da agregação aritmética de êxitos e sim da soma algébrica de sucessos e derrotas, gébrica de Nixon é favorável, a despeito da humilhação do pre sente.

A história, cm suma, é melhor que a notícia.

A"'' Workers, de Ge- tringtr asXncS? ^^^gurança, com o objetivo de res- Ihadores de fábricas de PVC^ causadas por câncer entre os traba- a seus afiliados internacion^'íJ" organização está solicitando companhias e nara r. alertem os trabalhadores e as drões de seeuranna exerçam pressão para o estabelecimento de pa- preendeu àqueles^ nnp^ap^'^°^' movimento da organização não sur- nos Estados^ Unido? acontecimentos mais recentes espécie rara de câncer mumeras mortes causadas por uma cionadas ao processament<???^^^^°^^ fígado) foram diretamente rela- gewerkschaft Chemie cloreto de vinil. A Industrie- informa crescentes exem^iln^^P^^r^^’ alemã da organização suiça, Ilha. Os Produíores SícL Hn ^ na Alema- Imperial Chemical Industrie?^ monomero do cloreto de vinil, como a federação. A federação tamhé^^^ sendo chamados a cooperar com a dial de Saúde esp^ecialmem? Procura a cooperação da Organização Mun- .jue poderíam estaTScrad.^à^p^odu^Êflo

área^da Sudam Aniagem. localizada na area da budam, fundada em 1962, e possuindo o maior parque aniageiro do pais com uma capacidade de produção de 10 mil t/ano de produtos manufaturados de juta (telas e sacos), com a entrada em funcionamento no proximo mes da sua nova fabrica, ingressará na era do sintético. Com uma capacidade inicial de 120 t mês de tapes e tecidos de polipropileno para a confecção de embalagem sintética para adubos e fertilizantes, sal e outros minerais não metálicos, produtos químicos, etc. A nova fábrica ainda no decorrer deste ano. terá sua capacidade duplicada com a instalação de mais 2 extrusoras e mais 20 teares Sulzer.

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