DC 15/06/2012

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DIÁRIO DO COMÉRCIO

sexta-feira, 15 de junho de 2012

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15 ITÁLIA Governo apresenta hoje medidas a favor do crescimento

conomia

REINO UNIDO Unilever fechará quatro fábricas e demitirá 800 empregados

Yorgos Karahalis/Reuters

Ameaça de ruptura: o líder radical de esquerda Alexis Tsipras faz campanha em Atenas: ele diz que, se vencer, vai rever as imposições da UE para a recuperação da economia.

Em jogo, o destino da Grécia. Os gregos vão às urnas no domingo em momento decisivo para o país. O resultado deve indicar se aceitam as regras da União Europeia e querem ficar no euro. Murad Sezer/Reuters

Renato Carbonari Ibelli

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Grécia realiza novas eleições no domingo após o fracasso na tentativa de criar um governo de coalizão no início de maio. Independentemente do resultado, o novo governo terá o desafio de reorganizar uma economia devastada pela crise, tendo de ponderar entre o risco de sair da zona do euro e as consequências da adoção de impopulares medidas de austeridade. As condicionantes impostas pela cúpula da União Europeia (UE) para que a Grécia permaneça sob a égide do euro são duras. Os salários foram rebaixados, os impostos aumentaram e os investimentos públicos foram paralisados. São medidas para tentar diminuir o endividamento público, que hoje equivale a 150% do Produto Interno Bruto (PIB) grego. Em contrapartida, os bancos centrais da UE têm disponibilizado, a conta-gotas, 130 bilhões de euros na tentativa de diluir a dívida do país. Claro que essas condições não foram bem recebidas por parte da população grega. Por que a Grécia toda teria de pagar pelos pecados de governos irresponsáveis? Essa tam-

bém passou a ser a bandeira levantada por líderes políticos locais, em especial os de extrema esquerda, contrários à interferência do bloco no problema grego. Esse posicionamento radical vem ganhando força, a ponto de a saída da Grécia da zona do euro não ser mais tratada como tabu. A cúpula da UE já teme por esse final, tanto que reduziu a última fatia do empréstimo a Grécia. Inicialmente o montante era de 6,8 bilhões de euros, mas foi limitado a 4,2 bilhões de euros. Caso a esquerda radical vença as eleições do dia 17, a opção por uma Grécia autônoma pode vir a ser o caminho natural. Dracma – Para o economista Evaldo Alves, professor de economia internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a saída da UE seria a pior alternativa possível. Abrir mão do euro implicaria a adoção de uma nova moeda – ou na volta da antiga, o dracma –, que dificilmente teria valor de mercado comparável à moeda comum da região. "Isso significa dizer que os valores das dívidas seriam multiplicados e as aplicações perderiam valor. Ou seja, seria a agonia da economia grega", diz Alves. De acordo com o banco grego BNG, o principal do país,

Os gregos em ato decisivo de sua tragédia: permanência no euro (notas, na foto) ou a volta ao dracma (moedas com a figura de corujas)?

abandonar o euro resultaria na redução pela metade da renda e na escalada do desemprego, que hoje já atinge 20% da população economicamente ativa. A saída do bloco significaria deixar de receber 130 bilhões de euros. Sem acesso ao recurso, a tendência no curto prazo seria do déficit primário do país aumentar, comprometendo ainda mais a capacidade de honrar compromissos, inclusive os domésticos. Destaca-se que o custo da máquina estatal grega é elevado: cerca de 50% dos trabalhadores do país estão ligados ao setor público.

Turismo – Segundo o economista da FGV, a vantagem em deixar o euro estaria no fato de a nova moeda, menos valorizada, contribuir para o aumento da competitividade dos produtos gregos. "O problema é que a Grécia não tem nada para exportar além de uns poucos produtos agrícolas. Ela vive de serviços. Além disso, deixando a União Europeia, os gregos perderiam o privilégio do livre fluxo de bens junto de seus principais parceiros comerciais, que estão no bloco", observa Alves. De acordo com o economista Manuel Enriquez Garcia, presidente do Conselho Re-

gional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), a nova moeda grega teria valor 60% inferior na comparação com o euro. Segundo ele, isso seria bom para o forte setor de turismo grego. Mas Garcia lembra que os gregos tentariam tirar o dinheiro aplicado no país por causa da desvalorização. "Isso comprometeria definitivamente a Grécia. Mas a União Europeia tem mecanismos para impedir que essa fuga de capital ocorra", afirma o presidente do Corecon-SP. O mecanismo consta do tratado de Schengen, segundo o qual os bancos da UE devem suspender temporariamente

as transferências de bancos e pessoas físicas oriundas de países problemáticos. "É uma medida preventiva, mas decretaria o isolamento total da Grécia", diz Garcia. Permanecer na zona do euro não implica em soluções mais simples. A economia grega está destroçada. Desde 2008, o PIB do país acumula queda de 15%. Os recursos emprestados pelos bancos europeus ajudam basicamente a pagar os juros da enorme dívida. Mas as contrapartidas pelos recursos significam redução da renda e demissões no funcionalismo público, como forma de conter os gastos do Estado. Como desempregados não gastam dinheiro, a economia fica estagnada. O dilema do próximo governo grego será encontrar um meio para reativar uma economia fraca. Na opinião do professor da FGV, os gregos precisam reinventar sua economia. "A Grécia precisa se aproximar das economias emergentes, que é onde estão o dinheiro e o crescimento hoje em dia. O problema é que novos acordos comerciais levam tempo para se efetivarem, e não sei quanto tempo a Grécia ainda aguentará", completa Alves. Leia mais sobre o drama grego no DCultura.

Hiroko Masuike/NYT

Os magnatas e a pobreza Landon Thomas Jr. e Eleni Varvitsioti

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Andreas Dracopoulos, da Fundação Stavros Niarchos: cupom de comida para crianças.

omente no ano passado, estima-se que 8 bilhões de euros em impostos estavam em atraso – quase a metade do déficit orçamentário do país. Os magnatas da Grécia têm todos os incentivos para manter o país na união do euro. A questão é: eles estão dispostos a arcar com os custos disso? "Os oligarcas querem manter o euro – em grande parte por causa dos bancos, profundamente integrados ao sistema do euro", explicou Costas Lapavitsas, economista da Universidade de Londres. "Mas eles estão em silêncio sobre o assunto."

Enquanto crianças passam fome em escolas gregas porque seus pais não têm dinheiro para alimentá-las, e com as ruas de Atenas sendo tomadas por números crescentes de pessoas sem emprego e desesperadas, a pressão está se acumulando sobre os ricos do país – para que eles façam o que o Estado já não consegue fazer com eficiência: assinar cheques. Afinal, filantropia é uma palavra grega. Mas, com muitos gregos ricos ainda receosos de exibir sua mão financeira, as doações privadas têm sido relativamente magras. "Tenho a sensação de que praticamente nada está sendo feito", afirmou Andreas Dracopoulos, copresidente da Fundação

Stavros Niarchos – criada na década de 1990 para colocar os ganhos de seu fundador magnata na caridade. "Todos estão dizendo para deixar que outra pessoa ajude, e até agora vi pouca coisa acontecer." Em janeiro passado, a fundação Niarchos – que se autodescreve como uma entidade internacional de caridade – declarou que doaria 100 milhões de euros a uma série de projetos com foco em ajudar os gregos com a crise. Os planos incluem cupons de comida para pais que não conseguem alimentar seus filhos. "O maior problema não é alimentar os jovens. É lhes oferecer empregos", disse Thanassis Martinos, da Eastern

Mediterranean, indústria do setor naval da Grécia. Vários armadores afirmaram ter doado recursos para a campanha do grupo que representa os proprietários de navios em Atenas – embora seu presidente, Theodoros Veniamis, não divulgue o valor. O que os magnatas do transporte naval não estão fazendo, porém, é pagar os impostos. A empresa de Martinos, por exemplo, tem a base de sua frota de petroleiros em alto mar – como fazem todas as empresas de transporte naval daqui –, embora os escritórios administrativos sejam localizados em Atenas. * The New York Times


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