Diário do Comércio

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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

nternacional

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hoques entre a polícia iraniana e milhares de manifestantes que saíram às ruas de Teerã, ontem, resultaram na morte de pelo menos uma pessoa, enquanto grupos de oposição tentavam capitalizar o espírito da recente revolta popular que resultou na renúncia do egípcio Hosni Mubarak depois de quase 30 anos no poder. E não foram só os opositores que tentaram aproveitar a onda de protestos: a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, pediu a Teerã que garanta aos seus cidadãos as mesmas liberdades recentemente obtidas por manifestantes no Egito. Líderes opositores haviam pedido permissão para realizar uma manifestação de solidariedade aos tunisianos e egípcios, que recentemente derrubaram seus próprios governos, mas o governo iraniano não deu seu aval. Mesmo assim, os manifestantes foram para as ruas e realizaram a primeira grande demonstração de força contra o regime em mais de um ano. A passeata começou pacífica, com milhares de pessoas caminhando em silêncio pelas avenidas no centro de Teerã. Os confrontos começaram quando a polícia e membros da milícia Basij, favoráveis ao governo, usaram gás lacrimogêneo e balas de tinta para impedir que a multidão se concentrasse nas praças principais da capital. A telefonia celular foi cortada. Os manifestantes, que se dirigiam à praça AFP Azadi (Liberdade), local tradicional de protestos, responderam ateando fogo em latas de lixo para se protegerem contra a nuvem branca de gás lacrimogêneo. A agência F ar s, pró-goKarroubi verno, infore Mossavi: mou que uma mordaça. pessoa que passava por um dos locais onde ocorreram os choques foi morta pelos manifestantes. Testemunhas relataram que pelos menos três manifestantes foram atingidos por disparos de armas e levados ao hospital central de Teerã, e que dezenas de outros foram hospitalizados por causa de ferimentos provocados por espancamento. "Um iraniano morre, mas não aceita humilhação", gritavam os manifestantes, que também diziam "Morte ao ditador", referindo-se ao presidente linhadura Mahmoud Ahmadinejad. 'Hipócritas' - Membros das forças de segurança em motocicletas também foram vistos perseguindo manifestantes pelas ruas. A agência Fars chamou os manifestantes de "hipócritas, monarquistas, desordeiros e sediciosos", além de ridicularizálos por não gritarem slogans sobre o Egito, como haviam prometido em princípio. Forças de segurança cercaram as casas dos líderes oposicionistas Mir Hossein Mousavi e Mehdi Karroubi, impedindoos de participarem das manifestações, segundo seus sites. Houve ainda confrontos entre policiais e manifestantes e dezenas de prisões na cidade de Isfahan, a 320 km da capital. Apoio - Criticados pela demora em apoiar os protestos no Egito, os Estados Unidos rapidamente saudaram a "coragem" e as "aspirações" dos manifestantes iranianos. "Queremos para a oposição e o povo heroico nas ruas e nas cidades de todo o Irã as mesmas oportunidades que alcançaram seus homólogos egípcios na semana passada", disse Hillary. "Apoiamos os direitos universais do povo iraniano. Merecem os mesmos direitos (dos exigidos pelos egípcios), que são parte de seus direitos naturais", acrescentou. (Agências)

Uma nova revolução iraniana Confrontos entre a polícia e a oposição deixam ao menos uma pessoa morta. EUA pedem levante igual ao do Egito. AFP

Manifestantes em Teerã atearam fogo em latas de lixo. Agência oficial criticou 'hipocrisia' da oposição, que teria usado a revolta egípcia como desculpa para protestar contra o regime. AFP Fotos: Khaled Abdullah/Reuters

Iêmen: cada dia mais violento.

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Ativistas lançaram pedras para conter a repressão da polícia Jim Watson/AFP

artidários do governo armados com garrafas quebradas, punhais e pedras perseguiram milhares de manifestantes pró-reformas na capital do Iêmen, Sanaa, ontem, tornando cada vez mais violentos os protestos inspirados no levante egípcio. Pelo menos 17 pessoas ficaram feridas no quarto dia de protestos, uma das quais seriamente, após ter sido esfaqueada. A polícia, que vinha tentando manter os dois lados separados, bloqueou milhares de manifestantes em fuga dentro do campus da Universidade de Sanaa. "Depois de Mubarak, Ali", pediam os manifestantes antigoverno, aludindo ao presidente Ali Abdullah Saleh, que está no poder há 32 anos. "Chega de corrupção." (Agências)

Iemenitas exigem saída do presidente Saleh, há 32 anos no poder.

Simpatizantes do governo usaram punhais contra opositores

Hillary pediu compromisso do Irã com a abertura política Hamad Mohammed/Reuters

O 'Dia de Fúria' no Bahrein

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Jovens protestam diante da polícia, que disparou balas de borracha e gás lacrimogêneo para dispersá-los.

polícia do Bahrein usou gás lacrimogêneo e balas de borracha contra manifestantes, ontem, e uma pessoa morreu durante o "Dia de Fúria" motivado pelas rebeliões populares do Egito e da Tunísia. Helicópteros sobrevoavam Manama, capital do país insular do golfo Pérsico, onde os manifestantes deveriam se congregar – algo que não ocorreu por causa da presença das forças de segurança nos bairros xiitas. No entanto, mais de 20 pessoas ficaram feridas, uma delas em estado grave, em confrontos nas aldeias xiitas em torno da capital, segundo testemunhas. Os manifestantes no Bahrein disseram que não desejam

derrubar a monarquia, mas que desejam maiores liberdades e direitos civis. A maioria da população, muçulmana xiita, se sente sistematicamente discriminada pela minoria muçulmana sunita que governa o reino. Internet - Diplomatas dizem que as recentes manifestações no Bahrein, organizadas via Facebook e Twitter, servem como ensaio para protestos eventualmente mais volumosos. "Gostaríamos de salientar que o 14 de fevereiro é só o começo. O caminho pode ser longo, e as manifestações vão continuar por dias e semanas, mas se um povo um dia escolhe a vida, então o destino irá responder", dizia uma convocação pelo Twitter. (Agências)


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