DC 11/12/2012

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DIÁRIO DO COMÉRCIO

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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A popularidade da chanceler Merkel entre os eleitores alemães pode ser parte do problema. Roberto Fendt

pinião

DIRIGINDO VISUALMENTE Julian Stratenshulte/EFE

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o dia 4 último os delegados dos partid o s U n i ã o D e m ocrática Alemã e União Social Cristã reelegeram a chanceler Angela Merkel como sua líder por ampla maioria. Estes dois partidos são os mais importantes do país. Para esse resultado muito contribuiu a política seguida pela chanceler para lidar com as espinhosas dívidas soberanas dos países da periferia da Europa – notadamente com a dívida da Grécia. Essa política tem se caracterizado pelo sistema com que os alemães se referem à direção em suas autoestradas, sem limites de velocidade, em dias de intensa cerração: "auf Sicht fahren" – ou seja, dirigir visualmente. A expressão implica reduzir suficientemente a velocidade para poder enxergar qualquer objeto na pista que possa provocar um acidente de grandes proporções. A senhora Merkel tem baseado sua estratégia para com a Grécia calcada neste mesmo princípio. A renegociação da dívida grega está envolvida em pesada cerração; nessa circunstância, é preciso "dirigir visualmente" – ou, como diríamos aqui, "tocar de ouvido". Esse tocar de ouvido tem levado a chanceler e seu ministro da fazenda, Wolfgang Schäuble, a mudarem progressivamente suas atitudes com relação à matéria ao longo dos últimos anos, procurando tranquilizar o contribuinte alemão e cedendo paulatina e lentamente apenas quando a situação se encaminhou para próximo de um desfecho dramático. No final de 2009 o mercado já percebia que a Grécia se encaminhava para níveis insustentáveis de endividamento. Nesses casos, uma possível crise de dívida soberana se transforma em uma crise de confiança real – mani-

ROBERTO FENDT tiu-se que esse era o caso, e os credores aceitaram renúncias expressivas sobre o total da dívida a pagar, que o problema caminhou para encontrar sua solução – o retorno dos países ao mercado de capitais para girar a nova dívida.

Angela Merkel no dia de sua reeleição: a chanceler alemã vem "tocando de ouvido" a questão da crise que atinge a Grécia. festada, entre outros indicadores, pelo rápido aumento nos prêmios de risco cobrados na rolagem da dívida.

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m abril de 2010 ocorreu o rebaixamento da classificação de risco dos títulos da dívida grega no mercado, fechando-se as torneiras das fontes tradicionais de financiamento da dívida. Em maio, os países da zona do euro e o FMI ofereceram à Grécia um empréstimo de 110 bilhões de euros, com condicionalidades: implementação de um programa de austeridade para restabelecer o equilíbrio fiscal; privatização de ativos do Estado no valor de 50 bilhões de euros até o final de 2015 para evitar um aumento ainda maior na dívida do país; e a aplicação de um programa de reformas estruturais para aumentar a competitividade dos produtos gregos no mer-

cado externo e retomar o crescimento da economia.

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s resultados do programa são conhecidos e deixaram muito a desejar. Basta dizer aqui que em outubro de 2011, dezessete meses depois, tornou-se necessário um novo empréstimo, no valor de 130 bilhões de euros. Esse novo empréstimo tinha as mesmas condições do empréstimo anterior, acrescidas da exigência de que credores internacionais e gregos acei-

tassem taxas de juros menores e uma redução de mais de 50% no valor do principal da dívida a ser pago aos credores. Esperava-se, com as novas condições, que o estoque da estimado da dívida grega caísse de 198% do PIB para 160% em 2012, com uma queda adicional para 120% em 2020. O novo reescalonamento da dívida também não produziu qualquer resultado significativo. Diante da possibilidade de um calote nesse mês, uma nova reestruturação da dívida foi

O que está em questão sobre a estratégia da Troika para com a Grécia, após três anos de uma recessão que só se aprofunda, é a falta de credibilidade do governo grego.

acertada em 7 de novembro último. Questiona-se se o novo pacote acertado entre a Grécia e a Troika – Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI – produzirá dessa vez os resultados desejados.

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a década de 1980, diversos países da América Latina, o Brasil aí incluído, padeceram do mesmo mal. A insolvência, situação em que os passivos dos países dão maiores que seus ativos financeiros, rondou a maioria deles. Por diversas vezes, era possível visualizar o calote se aproximando. Por um longo tempo, o FMI, os bancos comerciais e os governos dos países envolvidos imaginaram que o problema era de iliquidez – situação em que os países detinham ativos financeiros não realizáveis no mercado – e não de insolvência. Foi somente quando admi-

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ara isso, foi preciso gerar credibilidade no mercado, ou seja, a sensação de que os países seriam capazes de honrar os novos compromissos a serem assumidos. A condição principal para a capacidade de pagamento é a retomada do crescimento. O que está em questão com respeito à estratégia da Troika para com a Grécia, depois de três anos de uma recessão que se aprofunda a cada ano, é justamente a falta de credibilidade do governo grego em honrar os novos compromissos. A popularidade da chanceler Merkel entre os eleitores alemães pode ser parte do problema, em lugar de contribuir para a solução. Quem sabe, os bancos que emprestaram irresponsavelmente à Grécia, e seus acionistas e depositantes, arcarão eventualmente com a sua parcela dos custos da irresponsabilidade, até agora atribuídos somente aos gregos. A conferir. ROBERTO FENDT É ECONOMISTA

O CARÁTER DO ENSINO UNIVERSITÁRIO CATÓLICO N EDSON uma universidade católica, por definição aberta a todo o mundo, ou seja, aos católicos, aos acatólicos e aos que não professam nenhum credo religioso, não pode haver rancor, ufanismo, orgulho, gueto ou fechamento de ideias. Devem sempre coexistir a afabilidade, o amor, a concórdia, a capacidade de compreender o outro e, precipuamente, a liberdade de pensamento. O caráter confessional da instituição católica implica um compromisso e uma missão da parte dos professores: inculcar os valores do evangelho através da mediação sociológica da universidade. Isso quer dizer um diálogo honesto e corajoso entre fé e razão, que permeie os

variegados setores do saber científico. Para tanto, é mister que haja docentes não só bem preparados do ponto de vista do manejo da riquíssima doutrina católica, mas espiritualmente convictos das verdades que a Igreja ensina. Outrossim, frise-se que todos quantos exerçam cargos representativos têm o dever de respeitar a identidade da instituição.

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omo se dá na faina pedagógica essa saudável permuta entre o catolicismo e a ciência? Demos um exemplo. É simples. Na faculdade de direito, ao se lecionar o tema da propriedade privada, ilumina-se a aula com os incrementos da doutrina social católica, com sua teoria da função social da

LUIZ SAMPEL propriedade, historicamente desenvolvida pela Igreja. É nesse nível que a dinâmica confessional atua! A Igreja, perita em humanidades (Populorum Progressio, 13), tem sempre uma palavra a dizer. Demais, é sabido que a própria universidade, surgida na idade média, é uma criação da Igreja católica, como no-lo recordou recentemente o prof. Ives Gandra, em brilhante palestra. Certa vez, disseram-me

que o que caracteriza a universidade católica é o respeito à dignidade humana. Não é verdade. Enaltecer e fomentar a dignidade humana é obrigação de todas as pessoas e de todas as instituições que existem na face da terra. Vejamos o que reza o artigo 5º das Diretrizes e Normas para as Universidades Católicas no Brasil (Doc. 64; CNBB): "Missão da universidade católica é servir à

Presidente Rogério Amato Vice-Presidentes Alfredo Cotait Neto Antonio Carlos Pela Carlos Roberto Pinto Monteiro Claudio Vaz Edy Luiz Kogut Érico Sodré Quirino Ferreira Francisco Mesquita Neto João de Almeida Sampaio Filho João de Favari Lincoln da Cunha Pereira Filho Luciano Afif Domingos Luís Eduardo Schoueri Luiz Gonzaga Bertelli Luiz Roberto Gonçalves Nelson Felipe Kheirallah Nilton Molina Paulo Roberto Pisauro Renato Abucham Roberto Faldini Roberto Mateus Ordine

humanidade e à Igreja: garantindo, de forma permanente e institucional, a presença da mensagem de Cristo, luz dos povos, centro e fim da criação, no mundo científico e cultural (...)." Numa universidade confessional católica, não se abdica da ciência. Muito pelo contrário. Princípio caro à Igreja é de que a fé e a razão não estão contrapostas. Destarte, escreveu João Paulo II no preâmbulo de sua inolvidável encíclica Fides et Ratio: "A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade." A confessionalidade não pode se restringir às aulas de Introdução ao Pensamento Teológico (IPT), ministradas nos cursos da PUC-SP. Com

efeito, essa disciplina é o mínimo que a legislação canônica exige. De fato, a genuína veia confessional da universidade católica tem de se manifestar o tempo inteiro, em todas as cadeiras universitárias, num respeitoso debate acadêmico entre a ciência e a fé. A PUC-SP é uma dádiva à sociedade paulistana: uma universidade de primeira linha, que não forma apenas profissionais, mas humanistas. EDSON LUIZ SAMPEL É DOUTOR EM DIREITO CANÔNICO PELA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE LATERANENSE, DO VATICANO; PROFESSOR DO INSTITUTO TEOLÓGICO PIO XI (UNISAL) E DA ESCOLA DOMINICANA DE TEOLOGIA (EDT) E MEMBRO DA UNIÃO DOS JURISTAS CATÓLICOS DE SÃO PAULO (UJUCASP).

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