Sophie E. Jones - Pacto De Amor

Page 1

Pacto de amor Endless love

Sophie E. Jones

Suzan, Helen e Brian: um triângulo amoroso mal-resolvido. Jacqueline, Victor e Andrew: uma história a ser vivida. O que essas seis pessoas teriam em comum? Quando o pequeno Andrew passa a ter um comportamento estranho, tudo começa a se interligar, trazendo à tona acontecimentos que todos queriam ver enterrados para sempre. Este é um livro sobre o amor e suas mais variadas formas de expressão. Se acredita que nada, em tempo algum, tem mais poder do que um coração apaixonado, este romance foi escrito especialmente para você. Digitalização: Simone R. Disponibilização: Cláudia Revisão e Formatação: Deda Dantas


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie

Querida amiga, Você ainda se lembra das promessas que fez quando criança? Quantas vezes juramos às nossas amigas que jamais as trairíamos e quebramos essas promessas? Este livro oferece a você uma história emocionante, repleta de surpresa, amor e superação, em que o jogo da vida sempre dá a cartada final. Boa leitura! §ophie H. Jones

PACTO DE AMOR Título original: Endless love © 2006 MYTHOS EDITORA LTDA. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial sem a prévia autorização dos editores.

Mythos Editora Ltda. Rua Andrade Fernandes, 283 São Paulo — SP 05449-050 DIRETORES Dorival Vitor Lopes Helcio de Carvalho EDITORA Camila F. Nóbrega TRADUÇÃO Milene Stromm DIAGRAMAÇÃO Altair Sampaio REVISÃO Iná de Carvalho ILUSTRAÇÃO DE CAPA Alexandre Jubran IMPRESSÃO Gráfica Cunha-Facchini DISTRIBUIÇÃO Fernando Chinaglia Distribuidora ATENDIMENTO AO LEITOR Fone: (11) 3021-6607 michele@myttioseditora.com.br Aos meus filhos, para que saibam que nunca é tarde para recomeçar.

2


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie

Prólogo

Paris! Linda, radiante, florida, borbulhante. Não havia adjetivos suficientes para aquele lugar. Era como se a cidade tivesse fugido da cabeça de um sonhador, misturando história, modernidade, romance, aromas, sabores. Suzan caminhava pelos jardins, que pareciam explodir em flores multicoloridas, sentindo a vida se renovar em suas veias. Deixara toda a tristeza na América, junto com o marido e sua amante, grávida. Aquele era o seu momento, a sua chance de recomeçar. Enchou os pulmões com o ar da primavera e fechou os olhos por um segundo. "Vou ser feliz! Vou ser feliz!", disse a si mesma. Quando abriu os olhos, notou que um homem lhe sorria, vendo-a tão apaixonada pela cidade. — Bon jour! — cumprimentou ela, sorridente. — Primeira vez em Paris? — perguntou ele, notando o francês carregado de sotaque que a bela mulher demonstrou. — Segunda... — respondeu, olhando interessada para aquele rosto incrivelmente másculo. Maurice encantou-se pelo brilho daquele olhar. Suzan encantou-se pela beleza dele. Começava ali o mais louco caso de amor que ela já vivera. Para ela, uma aventura. Para ele, um grande amor. O final, só o tempo diria...

3


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie

Capítulo 1

Montains Hollow — Massachussets —junho de 1945 As ruas da cidade amanheceram coloridas de azul, branco e vermelho, e em cada casa podia-se ver uma bandeira dos Estados Unidos hasteada. A pequena banda da cidade, em seu uniforme azul, cheio de galões dourados, estava a postos. As pessoas usavam suas melhores roupas, o prefeito suava sob o sol de verão, enfiado em um terno quente e apertado. Preparou a cerimônia daquela manhã com esmero e, após o seu tradicional discurso, programou uma recepção alegre, regada a muita comida e bebida. Montains Hollow estava em festa: Cari Milani e Elliot Spencer, os dois grandes heróis da cidade, estavam voltando da guerra! Na verdade, já haviam voltado uma semana atrás, mas, como chegaram de surpresa na cidade, só agora era possível render-lhes as merecidas homenagens. Cari voltou para casa trazendo no peito 5 medalhas por sua astúcia e coragem, pilotando um caça batizado de hellfire — fogo do inferno. Elliot carregava, orgulhoso, um ferimento na perna e muitas condecorações no peito por bravura em combate. Dois heróis. Dois homens que viviam seu momento de glória. Duas figuras sorridentes, orgulhosas e, aparentemente, realizadas. As aparências enganavam. A festa ainda não havia acabado, quando Cari teve lembranças que o dominaram com violência e o transformaram em uma pessoa brutal, gritando infâmias, preso a alucinações macabras, plantadas irreversivelmente em sua mente pela guerra. Elliot tentou contê-lo, mas acabou derrubado por um golpe dele, assim como a maioria dos que tentaram acalmá-lo. Sem ter mais o que fazer, o velho médico da cidade aplicou-lhe um potente sedativo, enquanto, em meio à crise, Cari se distraía, socando o pobre prefeito, gritando: "Morra, nazista dos infernos!". A esposa de Cari debulhou-se em lágrimas e foi amparada pelo pastor local. A filhinha do casal, Helen, na época com 11 anos, assistiu a tudo, apavorada. O pai enlouqueceu A mãe nem pensava nela. Tudo que lhe restava era a sua vizinha e amiga, Suzan Spencer, que correu para ela e a abraçou, levando-a dali. — Vai ficar tudo bem. — disse-lhe — Meu pai também não é mais o mesmo. Nunca fala com ninguém e anda pelos cantos da casa, sabe? Mamãe diz que devemos ter paciência, porque ele está traumatizado com as coisas horríveis que viu na guerra. 4


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Eu sei. — soluçou Helen, a cabeça enfiada entre os joelhos dobrados, o vestido rodado de rendas brancas se empoeirando no chão. — Mas seu pai não grita assim nem fala palavrões e quebra as coisas... Suzan não soube o que dizer. Apenas a abraçou e ficou com ela, até que tudo se acalmasse. A partir daquele momento, as duas meninas, que eram amigas desde o nascimento, passaram a se tratar como irmãs. Ambas dividiam a mesma tragédia, o mesmo mundo de desencanto e dor. A guerra, aquele ser abstrato que elas não conseguiam imaginar muito bem o que fosse, havia contaminado a alma dos seus pais para sempre. Após aquele episódio, Cari ficou internado durante uma semana, voltou para casa e teve outra crise. Dessa vez, além de quebrar metade dos móveis, agrediu severamente a esposa, chamando-a de porco nazista, alemão nojento e outros tantos impropérios. Apavorada, Helen refugiou-se na casa de Suzan, enquanto o pai era amarrado em uma camisa-de-força e a mãe levada ao hospital. Permaneceu na casa da amiga pela semana seguinte, enquanto sua mãe era tratada e seu pai, transferido para um hospital militar. — Não entendo. — disse ela uma noite a Elliot Spencer, enquanto se sentava a seu lado na varanda. — Por que meu pai não pode ser como você? Elliot, cada dia mais calado, distante e depressivo, olhou-a com tristeza: — Cada um reage como pode aos horrores que presenciou, criança Mas nunca se esqueça de que seu pai é um herói e arriscou a vida muitas vezes para que a guerra terminasse. Helen não respondeu, mas pensou que preferia seu pai menos heróico e normal, a vê-lo cheio de medalhas e completamente insano. As semanas se passaram. A mãe de Helen voltou para casa, a vida entrou nos eixos. O pai, completamente louco, continuava internado e, nos dias de visita, quando ele estava em condições favoráveis, ela podia vê-lo, mas sempre sob a vigilância dos médicos e enfermeiros. Para Suzan, a situação não era muito melhor. Elliot vivia como se fosse um fantasma. Mal falava, mal comia e ficava horas sentado na varanda, olhando para o nada. Duro golpe para a família que tanto esperou pelo seu retomo. A solidão que se instalou em ambas as casas, se não teve nada que servisse de consolo, pelo menos serviu para unir ainda mais as duas meninas. A mãe de Suzan acabou se divorciando do marido e, assim como sua vizinha, tratou de recomeçar a vida. O tempo passou, os meses viraram anos e a amizade das garotas se fortalecia. Nada neste mundo parecia poder separá-las. Às vezes pareciam a mesma pessoa dividida em duas. 5


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Mas elas não se separam nunca! — comentou Mary Milani uma tarde, vendo as meninas brincando juntas. — E verdade. Nada do que aconteça parece capaz de afastá-las. — concordou Judy Spencer. Ninguém jamais se intrometeria naquela amizade. Ninguém, a não ser Brian McLay, um rapazinho de 14 anos, que havia se mudado para lá há apenas uma semana — e já era o colírio das meninas. Alto e mais forte do que o esperado para a sua pouca idade, ele reunia todas as características de príncipe encantado das adolescentes do final dos anos 40. Os poderosos olhos azuis brilhavam muito, o cabelo louro caía sobre sua testa de forma charmosa, e seu sorriso derretia até corações de pedra. Absolutamente todas as garotas da escola estavam apaixonadas por ele. Suzan e Helen não eram exceção. O menino, que na época estava mais interessado em garotas mais velhas e, portanto, mais sexies, na sua imaginação de adolescente, mal reparava nelas. Por outro lado, elas sempre davam um jeito de aparecer onde ele estava, cruzar com ele na rua, na lanchonete, no boliche. Faziam isso em dupla, já que ele não ligava para nenhuma das duas. Até o dia em que, finalmente, pareceu reparar nelas. — Você é filha de Cari Milani, não é? — perguntou a Helen, que o olhava encantada, com cara de boba. —Sou... — Ele é um herói! Meu pai serviu com ele na Força Aérea e diz que nunca mais haverá um piloto como Cari Milani! Será que eu posso conhecê-lo? — Bem... Ele não está mais aqui. Ficou com neurose de guerra e foi internado... Mas, se você quiser ir lá em casa, posso te mostrar o uniforme e as medalhas dele. — convidou, absolutamente hipnotizada pelo menino. Suzan, enciumada, retrucou: — Meu pai também é herói de guerra... Elliot Spencer, já ouviu falar? — Não...— disse o menino, notando o desapontamento nos olhos dela. — Mas é que não conheço todo mundo... Seu pai serviu na Força Aérea também? — Não... exército, infantaria... — Ah... — fez o menino. E, virando-se para Helen, perguntou: — Posso mesmo ir ver as medalhas dele? Quando? — Quando você quiser... hoje à tarde, amanhã... — Amanhã à tarde eu vou. Hoje tenho treino... mas amanhã, sem falta. O sorriso de Helen ia de orelha a orelha e ela nem percebeu quando Suzan se afastou: — Parece que sua amiga se aborreceu com alguma coisa... 6


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Não ligue, ela é assim mesmo, toda esquisita. Espero você amanhã, então... — disse e ficou parada, olhando para ele. Brian pensou que ela era meio maluca, mas quem não era? Despediu-se e foi se juntar aos amigos. Assim que Helen dobrou a esquina, Suzan a agarrou pelo braço: — Traidora! Como pôde fazer isso comigo? Não fiz nada! Foi ele que veio atrás de mim! Não tenho culpa, o seu pai não faz tanto sucesso como o meu! — Seu pai é maluco! Como pôde me trair assim? — E o seu é o quê? Normal é que não é! E eu não traí ninguém, você está com ciúmes. — respondeu Helen, dando-lhe as costas. — Nunca mais fale comigo, Helen Milani, nunca mais! — disse Suzan, as lágrimas de raiva e frustração descendo pelo rosto. Helen nem se importou. Brian tinha falando com ela! Brian ia até a casa dela! Suzan que se danasse. De repente todos os anos em que foram amigas, confortaram-se e apoiaram-se, as palavras de carinho, os sonhos de meninas, tudo desapareceu como por encanto. Para Helen, só Brian importava. Para Suzan, aquilo era a maior traição que podia acontecer. Claro que, nem por um segundo, ela pensou como teria reagido se fosse ela e não Helen o alvo das atenções do rapaz. Muito provavelmente da mesma forma que a amiga, mas, quando se tem 13 anos, quem pensa nisso? Para desencanto de Helen, tudo que interessava a Brian eram mesmo as medalhas e condecorações de Cari. O garoto a via como uma criança, nada mais. Porém, se não tinha nenhuma intenção romântica com a menina, pelo menos passou a notar sua existência, cumprimentá-la e ocasionalmente tomar um sorvete com ela. Enciumada, e para não ficar por baixo, Suzan deu um jeito de ganhar as atenções do garoto. Um belo dia, quando o viu sozinho, descendo a rua, fingiu cair e raspou o joelho propositalmente na calçada. Ele, sem nenhuma intenção que não a de socorrê-la, ajudou-a a se levantar e se ofereceu para levá-la em casa. Da mesma forma que fazia com Helen, Brian passou a cumprimentá-la e ocasionalmente trocavam algumas palavras durante o intervalo das aulas. E, como acontecia com Helen, na cabeça adolescente de Suzan, isso significava que o rapaz gostava dela. Os meses se passaram e as duas não se falavam mais. Quando se encontravam, faziam questão de virar o rosto uma para a outra, ostensivamente. Coisa de crianças, quem já foi adolescente sabe muito bem como é. Provavelmente a vida teria seguido nesse ritmo, se o destino não se intrometesse. 7


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Mas ele sempre se intromete e então, chegou o Halloween de 1948. Os pais de Brian decidiram que era hora de dar uma festa em casa e permitiram que ele convidasse os amigos que quisesse. Sem ter a mínima noção do que fazia, convidou, dentre outros, Helen Milani e Suzan Spencer, com a maior naturalidade deste mundo. Elas aceitaram, claro, e ficaram eufóricas. Ambas pensaram que o convite tinha intenções ocultas e que o garoto, afinal, ia se declarar. Prepararam as fantasias e, quando finalmente chegou 31 de outubro, elas estavam se sentindo deslumbrantes: Helen, de bruxa, Suzan, de fada. Como morassem na mesma rua, com apenas duas casas separando-as, uma viu perfeitamente quando a outra saiu. Suzan, que caminhava alguns metros atrás da amiga, estranhou que ela seguisse pelo mesmo lugar, e Helen, olhando para trás, gritou: — Pára de me seguir! — Não estou te seguindo! Estou indo à festa de Brian... Ele me convidou, sabia? Helen espantou-se. Por que Brian faria aquilo? Bem, só se ele planejava se declarar na frente de todos e acabar de vez com as investidas de Suzan. Claro, só podia ser isso. Chegaram com 10 passos de diferença à elegante casa do menino, com o mesmo pensamento: ele as esperava com grande ansiedade. Helen, entrando no jardim, espantou-se e parou. Suzan, logo atrás, fez o mesmo. A poucos metros, sob a luz indireta da varanda, Brian beijava, apaixonadamente, Bárbara Parsons, a menina mais bonita da escola. Decepcionadas, furiosas e sentindo-se as idiotas do ano, elas trocaram um olhar muito significativo. — Ele... ele... você está vendo? — perguntou Helen, incrédula, as lágrimas começando a descer pelo rosto.. Suzan nem respondeu. Apenas pegou a amiga pelo braço e a levou dali. Sou uma cretina! Estava certa de que ia se declarar, e esse tempo todo ele andava de olho na peituda da Bárbara! — desabou, entre lágrimas. — Também tinha essa certeza. Pensei que estivesse apaixonado por mim, mas creio que meus peitos precisam crescer mais... Helen riu entre as lágrimas. — Desculpe... Fui uma verdadeira bruxa com você, a minha melhor amiga! Suzan não respondeu, apenas a abraçou. Brian se foi. A amizade voltava. — Nunca mais, eu juro, nunca mais nada nem ninguém vai nos separar! — disse Helen, chorando outra vez. 8


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Nunca, nunca, nunca! — ecoou a outra. — Eu prometo, eu juro! — Eu também juro. E sabe do que mais? Vamos fazer um pacto. De sangue. Suzan encarou a amiga, sem entender muito bem, mas concordou: — Está certo! Podemos tirar uma fita de nossas roupas e trançá— las. Depois, nós as molhamos com nosso sangue e as enterramos em algum lugar. Bem macabro, bem Halloween... O que acha? — Na árvore da bruxa! Vamos enterrar lá! Suzan piscou. Não queria ir até lá. A árvore ficava longe dali e, além disso ela não tinha certeza de que havia uma bruxa enterrada no lugar, conforme diziam as lendas da cidade. E se tivesse mesmo? Por outro lado, não queria passar por covarde perante a amiga. Não agora, que tinham acabado de reatar a amizade. E, muito sinceramente, Suzan sentia falta de Helen, das suas conversas, dos planos que faziam. Elas voltaram para casa, pegaram tudo que consideraram necessário e saíram novamente. O vento de outono soprava forte, forrando as ruas de folhas amarelas, enquanto as árvores lançavam sombras sinistras pelo chão. Seus corações batiam forte. De alguma forma, aquilo deixou de ser uma brincadeira de crianças e se tomou mais sério do que o esperado. Enquanto trançavam as fitas, iam repetindo que nunca se envolveriam uma com o amor da outra, que ninguém podia separá-las e que, se algum dia uma delas quebrasse a promessa, toda a família seria amaldiçoada. —Por que a família? — perguntou Suzan. —Você quer fazer isso ou não? A idéia foi sua! Agora, se quiser desistir, diga logo. —Não... Vamos em frente. Quando concordaram que já estava tudo dito, Helen pegou uma navalha, cortou o próprio pulso levemente, apenas para o sangue escorrer, e fez o mesmo em Suzan. As gotas vermelhas pingaram sobre a trança de fitas, misturando-se. Depois, acrescentou uma mecha do seu cabelo e outra do cabelo de Suzan. — Está feito. — disse Helen. — Agora é só enterrar. — Eu, Suzan Spencer, e minha amiga, Helen Milani, pedimos permissão para enterrar este fita aqui e juramos que jamais quebraremos nosso pacto. — disse, com voz solene. Uma rajada de vento gelado passou por elas e as meninas fecharam o buraco com terra. A partir daquele momento, estariam ligadas para sempre. Começava ali uma história de amor, traição, morte e maldições que levaria muito 9


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie tempo até ser quebrada. Se é que algum dia o seria.

Capítulo 2

Montains Hollow — Massachussets — Verão de 1952 A festa estava fantástica! Os rapazes, elegantes, em seus ternos, as moças, faceiras, em vestidos rodados. O último ano da escola finalmente havia acabado. A maioria dos jovens formandos da escola de Montains Hollow já havia escolhido o curso que fariam e para qual faculdade iriam. Os meses de apreensão, nos quais esperavam os envelopes de confirmação das universidades, finalmente chegaram ao fim e, ao som das músicas que os mais velhos chamavam de "infernais", a turma relaxava e se divertia. Era o rock and roll dando seus primeiros passos. James Dean ainda não havia surgido como símbolo de toda uma geração de rebeldes e, portanto, os modelos de comportamento ainda não estavam definidos. Era mais uma mistura do que foi com o que viria a ser, o comportamento daquela geração. Dentre os jovens que comemoravam o final da trajetória escolar e o início da vida acadêmica, estavam Helen e Suzan. Ambas iam para a Universidade de Boston e seguiriam a mesma carreira. Seriam pedagogas. Depois de formadas, iriam a Paris, seu grande sonho. Embaladas pelas produções açucaradas de Hollywood, que mostravam a Cidade Luz como berço de romances e paixões, onde o amor era livre e acontecia em cada esquina, Helen e Suzan mal viam a hora de chegarem lá. Eram 23 horas quando um dos rapazes deu a idéia: — Vamos dar uma volta e agitar um pouco! — É, — concordou outro, tão bêbado quanto o primeiro — vamos sacudir Montains Hollow! — Cada um leva três garotas e dois rapazes! — gritou um terceiro, segurando o copo de cerveja. Alegres, cheios de entusiasmo e querendo começar logo a exercitar a liberdade que teriam quando deixassem as casas paternas rumo às universidades, lotaram os 10


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie carros e saíram queimando pneus. Suzan e Helen seguiam em automóveis separados; a primeira ia na caminhonete velha de Jason Wálsh, a segunda, em um sedã último tipo de Patrick Bean. O carro em que Suzan estava acabou ficando por último, já que o motor não rendia e velocidade era uma palavra desconhecida para a velha picape. Por fim, de tanto Jason tentar fazer o automóvel render mais que podia, o motor não agüentou e ferveu. Pararam no acostamento e viram os outros automóveis sumirem, depois da curva fechada. O som de violentas freadas e de lata amassada chegou até eles, misturado aos gritos assustados dos amigos. Parados na estrada escura, com a fumaça do motor dando à noite um aspecto estranho, Suzan, Jason e outro colega chamado Johnny demoraram alguns segundos para entender o que havia acontecido. — Eles bateram! Vamos! — disse o rapaz, saindo do torpor inicial. — Meu Deus! Helen!! — gritou Suzan, apavorada, correndo atrás do amigo. "Senhor, não deixe nada acontecer a ela, por favor, por favor!", suplicou, apavorada. Suzan ria daquilo, pensando que, para uma virgem do interior de Massachussets, a garota tinha sonhos estranhos. De qualquer forma, ela também queria ir a Paris. Mas veio o trágico acidente que arrebatou a vida de Helen, destruindo seus sonhos de cursar a universidade e da viagem à França. E Suzan entrou em depressão: não saía de casa nem falava com ninguém. A mãe, temendo que ela tivesse herdado as tendências depressivas do pai, apavorou-se e sem saber o que fazer, pediu ajuda aos amigos, familiares, vizinhos. Mas foi Mary Milani quem resolveu a situação. Em uma tarde fria de outono, foi conversar com Suzan. — Como está você? Sua mãe anda muito preocupada, tem medo que termine como o seu pai. — Não é isso... Papai sofria por causa da guerra, eu sofro por Helen... — E vai parar a vida por causa disso? Acredita que minha filha gostaria de ver a melhor amiga desistindo de viver por causa dela? Helen era cheia de vida e de planos, Suzan! Ir para a universidade e depois a Paris é uma forma mais inteligente e eficaz de honrar a memória dela, que se enclausurar no sofrimento da sua perda. — A senhora não entende! E dentre todas as pessoas é a que melhor devia compreender... — Julga sentir mais a falta dela do que eu, que sou sua mãe? Você não a gerou, não a amamentou nem cuidou dela e a viu crescer. Você não faz idéia, não faz idéia! 11


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Perdão, senhora Milani... Eu não quis... Só que não consigo olhar o mundo e saber que Helen não está mais nele. A mulher suspirou e sentou-se na cama: — Quando era menina, adorava minha avó. Adorava mesmo, mais do que a qualquer outra pessoa. Ela era tudo pra mim— Mas ela adoeceu seriamente. Sofria dores atrozes, tinha crises que a deixavam cada dia mais cansada e infeliz. Finalmente, após anos de padecimento, faleceu, quando eu estava com 10 anos. Na época, fiquei assim como você. Não comia, não falava com ninguém, não ia à escola, não saía para brincar... Estava sofrendo muito! — Eu sei como é... — concordou Suzan, solidária. — Então, um dia, minha mãe sentou-se comigo e me perguntou: Por que está assim? E eu disse: "Porque vovó morreu". Ela sorriu e me abraçou, dizendo: "Mary, você não está chorando por sua avó, que estava doente e sofrendo muito. Está chorando por você mesma, por tê-la perdido que você chora, nada mais". Suzan não soube o que dizer. — Bem, eu já vou. Se quiser conversar, sabe onde me encontrar. Pense no que eu disse, querida, e lembre-se de que Helen amava a vida e a alegria. Sofrer não estava nos seus planos. Uma semana depois, Suzan foi para a Universidade de Boston. A saudade da amiga ainda era grande, e não havia um único dia em que não pensasse: "Helen gostaria disso" ou "Helen ia rir daquilo". Mas o tempo é o melhor bálsamo para almas feridas e, no caso de Suzan, ajudou-a a superar e dor e a continuar seu caminho. E agora, lá estava ela. Paris! Olhou para o céu azul de primavera e mais uma vez admirou aquela construção imponente, que outrora abrigou a realeza e hoje é o mais famoso museu do mundo. Havia tanta coisa para ver ali, que Suzan duvidou que conseguiria fazê-lo em um único dia. Como a maioria dos turistas, decidiu que começaria pela ala onde a famosa Mona Lisa estava exposta, olhando o mundo com olhos atentos e sorriso indecifrável. Caminhava pelo longo corredor, quando alguém a chamou: — Suzan? Suzan Spencer? Meu Deus! Não acredito! Diante dela, um homem alto, forte, de cabelos dourados e olhos azuis cintilantes, sorria com entusiasmo. Suzan demorou alguns instantes para entender quem era o elegante desconhecido. De repente, seu coração parou e a respiração fugiu. Brian! Brian McLay! Meu Deus, que homem maravilhoso ele se tomou! — Brian? — perguntou em dúvida. — Você se lembra! Meu Deus! Deixe-me dar uma boa olhada em você! Está linda! 12


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Onde foi parar aquela garota de trancinhas e cheia de sardas, que eu conheci? Ela sorriu, lembrando-se do quanto ela e Helen haviam brigado por ele. Helen... Ela queria tanto vir a Paris! Será que pressentia alguma coisa? — O que está fazendo na França? — perguntou ele, ainda admirado. — Turismo... Vim passar algumas semanas. É um sonho antigo, sabe? Meu e de Helen. Na verdade, esta viagem é por nós duas... — É, eu soube do acidente... Estava em Princeton na época, mas soube. Lamento muito. Sei o quanto eram ligadas. Suzan olhou para ele sem saber o que dizer. — Então, está de férias... Creio que posso ajudá-la a conhecer Paris melhor que qualquer pessoa. Moro aqui há dois anos. — Não brinca! Pensei que fosse se tomar um próspero industrial ou algo assim. O que faz aqui? — Meu pai decidiu montar uma filial da empresa na França e adivinhe quem foi o escolhido para dirigir o negócio. Ela riu: — Sua esposa veio também? — Que esposa? Continuo solteiro, Suzan. E desimpedido, se quer saber. Você quer? — Quero o quê? — Saber... — disse ele olhando-a nos olhos. Embaraçada, ela apontou as pinturas, convidando Brian a caminhar ao seu lado. Aos poucos, foram conversando sobre suas vidas e planos. Ele trabalhava nas empresas da família, Suzan ia procurar colocação assim que retomasse à América. Ele perguntou sobre seu pai e soube que Elliot havia falecido dois anos antes. — E Barbara Parsons? — perguntou ela, sentindo-se a mais idiota das criaturas. — Que tem ela? Casou-se, creio eu. Nunca mais a vi... Por que está perguntando sobre ela? — Por nada... Apenas pensei que havia alguma entre vocês, que talvez fossem namorados... Ele riu do comentário dela. Imagine, namorar Barbara Parsons! — De jeito nenhum! Ela era a menina mais cobiçada da escola, e eu, como todos os outros bobocas do colégio, corria atrás dela feito louco. Eu me lembro que nos beijamos uma noite... Foi em um Halloween, creio, mas Barbara me descartou em seguida. Disse que eu era muito criança e que preferia homens experientes. Suzan riu, pensando em como ela e Helen haviam sido tontas. Mas não foi só o que 13


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie pensou. Pela primeira vez, em anos, Suzan lembrou-se do pacto que fizera naquele Halloween. "Coisa de criança, como a gente era idiota!", riu. Brian acompanhou-a pelo museu, levando-a às melhores obras, e depois convidou-a para um café: — Minha hora de folga está acabando, mas, se quiser, podemos nos ver amanhã, talvez almoçarmos... Suzan não sabia o que responder. Ainda estava se acostumando com a idéia de rever o rapaz, agora transformado em um belo homem. — Eu não sei, talvez... Você não trabalha? Ele riu alto. — Trabalho, mas, como sou o patrão, posso escapar de vez em quando. No dia seguinte, almoçaram juntos, depois passearam pela cidade. No outro dia repetiram a dose e, no terceiro, Brian a convidou para jantar em um restaurante sofisticado e glamouroso, desses que as atrizes adoram freqüentar. Suzan escolheu um vestido azul bem claro, quase branco, com decote drapeado, que deixava à mostra os ombros e o colo, e realçava seus vistosos cabelos escuros. Ele, como sempre, usava um temo feito sob medida. Olhou-a cheio de admiração: — Não canso de me surpreender com sua beleza. Quem diria que aquela garota magrela se transformaria em uma mulher tão linda? Ela sorriu, sentindo o rosto esquentar. Jantaram, beberam vinho, dançaram, caminharam sobre o Sena e, quando estavam na ponte Alexandre III, Brian a beijou. Suzan, que até aquele momento tinha evitado encarar seus sentimentos, não pôde mais fugir deles. A antiga paixão de adolescente voltava, agora como algo mais forte e profundo: ela estava apaixonada. O beijo do rapaz, longo e apaixonado, derrubou qualquer barreira que ela pudesse sustentar, acendendo em seu corpo virgem as chamas de um desejo que até então lhe era desconhecido. Após beijá-la com paixão, Brian a abraçou, sentindo seu corpo delicado. O calor que vinha dele invadiu seu coração. — Sei que está de férias e que em Paris tudo é diferente, mas você deixou alguém nos Estados Unidos? Namora, tem algum amante ou algo assim? — Não! — respondeu, embaraçada. Brian estava pensando que ela era experiente! Será que tudo que queria era um caso? — Bom, muito bom. — disse ele, abraçando-a com um sorriso. — Nesse caso, você já arrumou um. Se quiser, é claro...

14


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Arrumei um o quê? — quis saber, olhando de frente para ele. — Um namorado, o que mais? Você quer? Os olhos dela brilharam e Brian beijou-a mais uma vez, apertando-a contra seu corpo. E novamente Suzan sentiu o desejo percorrer suas veias. Seis meses depois, casaram-se em uma cerimônia luxuosa, realizada para 300 convidados na elegante mansão dos pais do rapaz. Antes de dizer o sim perante o padre, Suzan teve a impressão de ver Helen em pé no altar e seu coração interpretou essa visão como uma bênção: a amiga estava ali para testemunhar a sua felicidade e abençoar aquela união cheia de amor e ternura. Mas abençoar não era bem a palavra correta. Usando um vestido bordado a mão, vindo diretamente de Paris, e um conjunto caríssimo de tiara e colar em diamantes, que Brian lhe dera como presente de casamento, Suzan jogou o buquê para os convidados, o coração feliz e estourando de alegria. De lá seguiram para a suíte nupcial do mais caro hotel da cidade, levados por uma carruagem puxada por cavalos, como em um conto de fadas. Suzan, nervosa, entrou no quarto, carregada pelo marido, que não parava um segundo de beijá-la. Brian fez a sua vontade: esperou até o casamento para fazê-la sua mulher. Porém não estava disposto a esperar nem mais um segundo. Colocou-a sobre a cama e beijou-a cada vez mais apaixonadamente, enquanto percorria o seu corpo com as mãos. — Me ajude a tirar isso. — disse com voz baixa, referindo-se ao vestido. Ela o beijou mais uma vez e mais outra. Então, lentamente, para provocá-lo, tirou o longo vestido branco, deixando que tombasse a seus pés. Os olhos dele quase saltaram quando a viu totalmente nua, apenas as meias brancas, presas por ligas de renda cobrindo as belíssimas pernas. Os seios eram delicados e firmes, o ventre liso, os pêlos íntimos acetinados. Devagar, ela tirou as luvas e a tiara. Brian mal conseguia respirar, o desejo latejando forte. Suzan virou-se de costas para ele e começou a soltar os cabelos sedosos que desceram, macios, sobre suas costas, enquanto Brian admirava suas formas perfeitas e arredondadas. — Você é linda... — foi tudo que conseguiu dizer, antes de agarrá-la com força e começar a sugar-lhe os seios. Nada do que a moça pudesse ter imaginado se comparava à sensação daquela boca quente e macia em seus mamilos nem das mãos que a tocavam com vigor, descendo por sua barriga e acariciando seus pêlos com firmeza. Brian estava enlouquecido. Ela era a mulher mais linda que já havia visto. E ele viu muitas em sua vida... Suzan merecia o melhor e ele lhe daria o melhor. Levantou-se, 15


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie olhando fascinado para os seios da esposa e se despiu. Era a primeira vez que Suzan via um homem completamente nu. A imagem musculosa e viril do marido aumentou seu desejo. Excitado demais para dizer o que quer que fosse, ele se deitou sobre ela, esfregando-se no corpo virgem que o esperava. Suzan sentiu o desejo dele forte e ereto apertar-se contra sua barriga, enquanto Brian mordia sua boca, sugava sua língua e apertava seus quadris quase com brutalidade. Ela estava pronta, molhada, quente para recebê-lo. Mas Brian não a penetrou. Ao contrário, recomeçou a acariciar seus seios, arrancando dela gemidos altos que apenas o excitavam mais. Mordeu os mamilos duros e desceu a língua pelo ventre, até chegar à sua virilha. Suzan tremia de prazer, esperando que ele lhe fizesse aquele carinho íntimo que as amigas de universidade viviam dizendo que era maravilhoso. Mas ele não fez. Voltou a sugar-lhe os seios, deixando-a ainda mais louca de desejo. Virou-a de costas, beijou e lambeu seus ombros, passou a língua por toda a sua coluna, até alcançar o começo das nádegas, e deitou-se sobre ela. Suzan se assustou. O que ele ia fazer??? Brian encaixou-se entre suas nádegas macias e firmes, e lentamente começou a esfregar-se nela. Embora aquele gesto fosse considerado um sacrilégio e condenado pela Igreja, ela achou muito prazeroso sentir o peso do marido sobre as costas, a dureza dele comprimida em sua maciez. Ele mordeu sua orelha e sussurrou: — Deliciosa, minha mulher é deliciosa... Ela gritou de excitação e ele a virou, não suportando mais. Deitado sobre ela, colocou-se entre suas pernas e penetrou sua virgindade de maneira a dar-lhe o máximo de prazer e mínimo de desconforto. Suzan gritava de prazer, de ardor, de desejo, de loucura. Tinha sensações indescritíveis, enquanto ele finalmente a possuía por inteiro, colocando-se todo dentro dela. — Você é minha, agora. Só minha e de mais ninguém, entendeu? Só minha, Suzan, só minha... — ele sussurrava essas palavras com malícia, fazendo-a gemer cada vez mais, até que, sentindo que ela estava pronta para ele, começou a se movimentar dentro dela, levando-a ao mais prazerosos dos mundos: o do amor. Suzan acompanhou o ritmo do marido, acelerando mais e mais a dança dos seus quadris, até não suportar mais. Agarrada àquele homem maravilhoso, entregou-se, sentindo Brian junto dela em cada palmo daquela estrada. Ainda ofegante pelo prazer, olhou-o, cheia de paixão, sem saber o que dizer. Os olhos estavam cheios de lágrimas de prazer, de emoção, de surpresa. — Eu te amo. — murmurou. 16


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Ele não respondeu. Mordeu sua boca com volúpia. Seu desejo por ela ainda não havia acabado e ele duvidava muito que um dia fosse terminar. Suzan o excitava de tal forma, com seu olhar inocente, a voz suave, o corpo perfeito, que mais uma vez ele enlou— queceu de vontade. Colocou-a sobre ele, penetrando-a novamente. Suzan sentiu o corpo inteiro queimar de desejo e novamente eles chegaram ao clímax. Desse jeito vamos ter uns 20 filhos — disse ele, acariciando os cabelos dela, que repousava sobre seu peito. — Se você quiser... Eu adoro crianças. — Se eu quiser? Suzan, é o que mais quero! Sempre quis encontrar a mulher perfeita e ter filhos com ela. — Então teremos muitos, meu amor, muitos... Ele a beijou e sorriu. Suzan era linda demais e ele estava completamente louco por ela. Adormeceram colados um ao outro e, pela manhã, antes de seguirem para o aeroporto, ele a amou mais uma vez, mostrando-lhe novas maneiras de fazer amor. Suzan estava dando uma última olhada no quarto onde se entregou ao marido, quando novamente teve a impressão de ver Helen a sua frente. Foi um instante, mas ela pôde ver a expressão de sofrimento nos seus olhos. "Preciso parar com isso... Não tive culpa de me apaixonar... Além disso, já faz tanto tempo que Helen morreu...", pensou, fechando a porta atrás de si. — Está tudo bem com você? — perguntou o marido, preocupado com a expressão que via em seu rosto. — Creio que seja cansaço, falta de costume com... Você sabe. Ele riu e a beijou. Ninguém era mais feliz naquele momento do que Brian McLay. A lua-de-mel, 15 dias em Roma, foi passada quase totalmente dentro do quarto. Brian não conseguia se afastar de Suzan e ela adorava estar com ele. Durante um dos raros passeios que fizeram, o assunto dos filhos voltou à baila: — Sabia que eu sempre quis ser pai? Sempre... Creio que seja uma forma de compensar o que não tive, entende? — Como assim? — Meu pai sempre foi muito ocupado, sem tempo para a família e depois da guerra tudo piorou. Por isso quero ter muitos filhos e dar a eles o carinho que não tive... — Nós teremos, Brian, muitos... Todos correndo pela casa e nos enlouquecendo. Ele sorriu e abraçou a mulher dos seus sonhos. Suzan voltou de Roma grávida. Quando o resultado do teste deu positivo, ela pensou que Brian fosse explodir de felicidade. Todos os dias, ao voltar para casa — 17


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie uma charmosa construção que havia comprado para eles -, levava-lhe uma jóia de presente. — Para agradecer a você pela alegria que me dá.— dizia, quando Suzan protestava, achando aquilo um exagero. Ela estava no terceiro mês de gravidez, quando, após um sangramento inesperado, perdeu o bebê. Brian não saiu do seu lado e garantiu que havia tempo para tentarem outras vezes. E eles tentaram, mas nenhuma das vezes Suzan conseguiu ficar grávida mais que dois ou três meses. Era sempre a mesma coisa: tudo ia bem e então, inexplicavelmente, ela perdia os bebês. Preocupados, consultaram médicos pelo mundo todo, mas ninguém foi capaz de dar uma explicação para o que acontecia. Suzan era saudável e seu corpo, perfeito. Brian submeteu-se a exames, pensando que talvez o problema fosse com ele, mas nada foi encontrado. Simplesmente não havia razão para o que acontecia. Aos poucos, conforme os anos de casamento passavam, o fato de Suzan não conseguir lhe dar um filho, aliado à frustração que sentiam pelas diversas vezes em que ela engravidava e não chegava ao final da gestação, começou a influenciar no relacionamento dos dois. Então ela engravidou novamente. Dessa vez, conseguiu levar a gestação até o fim e tudo parecia perfeito. O quarto do bebê estava pronto, decorado e arrumado para receber não uma criança, mas um príncipe herdeiro. Brian não cabia em si de felicidade e Suzan sabia que dali em diante tudo voltaria ao normal. Mas o bebê nasceu morto e esse foi o golpe definitivo em suas vidas. A paixão que havia entre eles esfriou, o desejo diminuiu, o amor deixou de transparecer em suas palavras e gestos. Tornaram— se dois estranhos sob o mesmo teto. Eles ainda se amavam, mas o sentimento estava enterrado sob as decepções e acusações mudas que se faziam. Brian pensava que de alguma forma ela rejeitava as crianças, não queria lhe dar filhos. Suzan pensava que o marido era injusto, culpando-a por algo que, afinal, não era causado por ela. Com o tempo, mal se falavam, e Brian chegava cada vez mais tarde em casa, até que começou a passar as noites fora. Ninguém precisava dizer nada. Suzan sabia que ele havia arrumado outra mulher. Durante uma das longas noites que passou esperando em vão que ele voltasse, a sensação de que Helen estava ali voltou. Suzan interpretou isso como alguma culpa inconsciente que a perseguia. Sabia que a amiga estava morta e que a paixonite dela por Brian fora, assim como a dela, coisa de criança. Não havia amor ali, apenas o entusiasmo tão comum da adolescência. Racionalmente, ela pensava que Helen, caso 18


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie fosse viva, jamais interferiria em seu casamento. Ao contrário, ficaria feliz por ela. Mas isso era racionalmente... "Preciso falar sobre isso com meu psiquiatra", pensou. "Devo ter alguma culpa inconsciente por ter me casado com ele". Suzan não se lembrou do pacto feito com a amiga, nem dos objetos enterrados sob a árvore da bruxa. E essa era a única coisa de que devia se lembrar. Boston — Massachussets — Outono de 1973. Quando tudo parecia não poder ficar pior em seu casamento, ela encontrou em um dos bolsos do marido uma carta de amor. Não que fosse surpresa saber que Brian tinha amantes, mas o que descobriu naquele pedaço de papel era insuportável. A carta falava das noites ardentes que ele e a tal mulher partilhavam e do quanto ela o desejava. E o pior, falava do filho que ela estava esperando. Suzan ficou alucinada. Não, tudo menos aquilo! Ele ia deixá-la para ficar com uma qualquer! Ela estava casada há 15 anos e conhecia bem o marido que tinha: Brian jamais deixaria o filho crescer longe dele. Desorientada, jogou-se na cama e chorou durante horas seguidas. Ao seu lado, Helen a olhava intensamente, sem que ela pudesse vê-la. Naquela noite, Brian chamou-a para conversar e, sem pestanejar, contou-lhe o que estava acontecendo. Suzan procurou controlar a raiva, a decepção, a culpa, a vontade de esbofeteá-lo e mais o oceano de emoções que a invadiam, e simplesmente perguntou: — O que quer fazer? Nesse momento, em que tudo parecia ruir a seus pés, em que ela estava pronta para saber que o amor da sua vida ia deixá-la, ele a surpreendeu mais uma vez: — Você sabe o quanto eu sempre quis um filho. Você sabe o quanto é importante para mim. Mas, Suzan, eu não quero te deixar. Por isso, conversei com a mãe da criança e ela concordou em deixar que eu a crie... que nós a criemos. — O quê? — ela parecia não entender. — Ela vai ter todos os cuidados necessários durante a gravidez, terá o filho e então irá embora. — Que espécie de mulher faria isso? — perguntou atônita. — Nenhuma criatura decente entregaria uma criança assim! — Talvez não uma criatura decente... mas essa pessoa que está grávida, bem... nós não nos amamos, Suzan. Ela é apenas alguém... — Você está me dizendo que engravidou alguém e quer que eu crie seu filho com 19


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie outra mulher? Que veja uma criança crescer e correr por esta casa, sabendo que não fui eu quem a gerou? Você enlouqueceu! — Não! Esta é a chance de salvarmos nosso casamento, de sermos felizes! — Jamais, entendeu? Jamais! E sabe por quê? Por que eu não vou amar essa criança, mas odiá-la a cada dia, porque, Brian, ela será a prova da minha incapacidade, do meu fracasso, e eu sinceramente não quero conviver com isso. — Não vou deixar meu filho, Suzan. Não me force a escolher... Ela se levantou e saiu. Sua cabeça martelava de dor, os olhos estavam vermelhos, a alma revoltada. Quem ele pensava que era? Quem ele pensava que ela era? Aquilo era demais para qualquer pessoa! Demais! Sentindo-se a mais infeliz e abandonada das criaturas, Suzan mal se deu conta do que fazia, quando pegou o vidro de calmantes que o médico lhe receitou, virou o seu conteúdo na boca e engoliu tudo de uma vez. Ela queria ter paz, queria que tudo voltasse ao normal. Ela queria não ter traído Helen. — Perdão. — disse, já caindo, inconsciente. Brian a encontrou meia hora depois. Quando a ambulância chegou, o pulso de Suzan praticamente desaparecera e sua respiração era imperceptível. — Ela vai ficar boa? — perguntou o marido, desesperado. O olhar do médico foi suficiente para que Brian soubesse a resposta.

Capítulo 3

Filadélfia — Pensilvânia — Outono de 2005. Jacqueline Théry desceu a Market Street, procurando pela entrada do Liberty Bell Center — Centro do Sino da Independência -, um dos marcos da história americana na cidade: o sino anunciou a primeira leitura pública da Declaração de Independência dos Estados Unidos. De lá para cá, vem anunciando várias outras coisas também. De qualquer forma, é um símbolo importante para os americanos e um ícone da expressão da liberdade. A moça, parisiense de nascença, entendia muito bem o respeito e a adoração que os americanos têm por tudo que se relaciona à sua Independência da Coroa Britânica. Afinal, Jacqueline era francesa! E quem mais, senão a França, influenciou os 20


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie americanos a fazerem o que fizeram? Foram os ideais iluministas dos seus compatriotas e seu lema de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que os impulsionaram. Isso e mais algumas outras coisas que não vinham ao caso, naquele momento. Curiosa, ela percorreu todo o conjunto, leu tudo que havia para ler, viu tudo que havia para ver, inclusive os vídeos e as palestras, e depois olhou para a lista de lugares que faziam parte do seu roteiro naquele final de semana. Estava nos Estados Unidos há poucos meses e, apesar de tudo que ouvira sobre aquele país antes de partir, gostava dali. Pedagoga renomada, apesar dos seus 27 anos, Jacqueline se formou na importante e famosa Universidade da Sorbonne de Paris, destacando-se imediatamente pelo novo método experimental de ensino que estava desenvolvendo. Conseguiu que uma escola de Paris aceitasse aplicar suas idéias a um grupo aleatório de alunos, e os resultados, após um ano de ensino, foram tão espetaculares, que Jacqueline ganhou fama mundial em sua área. Quando o convite para ir à Filadélfia chegou, há oito meses, ela pensou que seria um desafio interessante a enfrentar. A escola que a convidou era uma das mais caras e exclusivas de toda a América, e várias figuras públicas de expressão haviam sentado em seus bancos, entre elas políticos, cientistas e diplomatas. Pessoalmente, não ligava muito para esse tipo de coisa, mas profissionalmente era um desafio e tanto. E nada a prendia a Paris. O pai, seu maior amigo e incentivador, estava morto há dois anos; não tinha namorados nem compromisso. A América pareceu-lhe, então, uma boa pedida. Além disso, a Filadélfia não era uma cidade qualquer. Havia tanta história naquele lugar que ela com certeza não sentiria falta dos monumentos e palácios da sua terra. Estava enganada. Sentia e muita. Ou sentiu, logo que chegou. Agora já começava a se acostumar. Jacqueline sentou-se em um banco da praça e pensou no que fazer em seguida. Apesar de estar naquela cidade há meses, não fizera amigos a quem pudesse visitar; nem mesmo conheceu seu vizinho de apartamento. Apenas sabia ser um homem que tocava sax de forma ensurdecedora a tarde inteira. Sem mais nada para fazer, resolveu trabalhar. Havia pedido relatórios sobre alguns alunos e decidiu que era melhor trabalhar do que não fazer nada. Além do quê, estava frio demais para continuar na rua. Após bater várias vezes na parede do apartamento e gritar para o vizinho parar com o barulho, sentou-se no sofá, coberta até o pescoço por uma manta quente, serviu-se de um copo de vinho e começou a ler. De maneira geral, as crianças estavam indo bem, embora ainda fosse muito cedo para dizer alguma coisa. Leu atentamente cada um dos relatórios, anotando o que julgava mais importante e descartando informações desnecessárias. Já era noite quando pegou a ultima pasta para ler. Cansada e com fome, decidiu que era hora de 21


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie parar. Enfiou alguma coisa congelada no microondas e ligou a televisão. Parou em um programa sobre o Louvre. "Melhor que nada", pensou, imaginando o que diria seu pai se a visse ali, em pleno sábado à noite, jantando uma porcaria qualquer, enrolada em frente à televisão. Com certeza faria um de seus discursos sobre a juventude não saber mais viver e terminaria perguntando o de sempre: "Pra que serve ser tão bonita se não aproveita o que tem?" Jacqueline sorriu, pensando que o pai talvez tivesse razão. Ela era séria demais, focada exageradamente no trabalho. Quanto a ser bonita, bem, não era nenhuma Vênus, mas também não era de se jogar fora. Tinha 1,70 m, cabelos bonitos, cortados à altura dos ombros, olhos claros e um corpo razoável. Só que não pensava em romance. O único homem por quem se apaixonou e com quem engatou um namoro era um antigo professor vários anos mais velho, que no final das contas decidiu que era melhor encontrar alguém da própria idade e parar de enganar a ela e a si mesmo. Para Jacqueline foi um golpe. Ela gostava dele de verdade! "Quem gosta de velho é bengala, minha filha", dissera o pai para consolá-la. Mas o que podia fazer se todos os homens que conhecia com idade compatível com a sua não tinham nada que prestasse na cabeça? Ela queria uma pessoa madura, instruída, inteligente, com quem pudesse conversar sobre tudo, que acreditasse que a vida era mais que dinheiro, propriedades, esportes e aposentadoria. Alguém educado, charmoso, com um toque de mistério e drama, segundo as suas palavras. — Isso é bom pra filme: mistérios e dramas... Tenha paciência, Jacqueline! — resmungou o pai, olhando cheio de ternura para ela, enquanto se acabava de chorar pelo professor que não a queria. Aquilo fazia tanto tempo... Quanto? Uns cinco anos? De lá para cá, não tinha namorado ninguém e sequer saído ocasionalmente com algum homem. "Preciso dar um jeito na vida", ponderou, vendo as imagens da sua querida Paris desfilando na tela da televisão. Sem perceber, adormeceu ali mesmo, o televisor ligado, a bandeja jogada no chão, o copo de vinho pela metade. Acordou na manhã seguinte, ouvindo o infalível sax do vizinho, sem saber que horas eram ou onde estava. Levantou-se, ainda zonza, para socar a parede, e enfiou o pé no resto de comida sobre a bandeja. "Maravilha! Bela maneira de começar um domingo!", pensou, irritada. — Cale a boca, cale a boca! — berrou, enquanto socava a parede e depois, desistindo, enfrou no chuveiro, imaginando quando daria um jeito na sua vida. Victor Hamilton sempre acordava cedo. Desde menino, quando o pai ia buscá-lo aos finais de semana para passearem na cidade onde morava, nos arredores de Boston. Sentia falta dele, era um bom homem. Com ele aprendeu a nadar, remar, jogar hóquei, 22


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie cavalgar, esquiar e mais um monte de coisas. Aprendeu a valorizar o conhecimento, a ler bons livros e também a respeitar as mulheres e observar a vida. Agora, com 31 para 32 anos, via que muito do que o pai lhe disse durante a vida era mais que pura filosofia: era a realidade. — Vamos, Andrew. Você vai chegar atrasado! — gritou para o filho, que caminhava pelo gramado da casa. Olhou o menino de 8 anos e lembrou-se de si mesmo, quando tinha aquela idade, "ele é mais bonito que eu", pensou, orgulhoso. Abraçou o garoto e foram juntos para o carro. — Você está bem? Anda calado ultimamente... Está apaixonado? — perguntou, brincalhão. O garoto fez que não com a cabeça. — Pai, quando você era criança, imaginava pessoas que não existiam falando com você? — perguntou o menino, abraçado à sua cintura. — Amigos imaginários, você diz? Sim, creio que sim... Por quê? — Nada. E que ultimamente tenho imaginado uma moça falando comigo... — Moça, é? Hum... e é bonita? — Victor não estava levando o assunto muito a sério. — Bastante... Mas é mais velha que eu... Deve ter uns 18, acho. Victor riu: — Você está me saindo melhor do que a encomenda, filho. Meus amigos imaginários normalmente eram uns pivetes, arteiros como eu. Como é essa amiga imaginária? — Bonita... Loira, tem olhos azuis... — Ela tem nome? — Bem, eu a chamo de Blue, por causa dos seus olhos... Victor ficou sério por um instante, mas depois ponderou que não havia com o que se preocupar. Afinal, todas as crianças imaginavam coisas. Mudando de assunto, perguntou: — E na escola, como você está? — Bem, eu acho... Cheia de modificações. Você sabe, aquela moça francesa está bagunçando tudo. — Ela é muito famosa.... E nós estamos pagando um dinheirão de mensalidade para ela bagunçar tudo, como você diz. O menino riu e entrou no carro. Victor olhou para ele, pensando em como Andrew se parecia com a mãe, Caroline. 23


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Você acredita que a mamãe vai voltar pra conversar comigo, um dia? — Que novidade é essa agora, Andrew? Você sabe que a mamãe não vai voltar. Ela morreu, filho, e mortos não voltam para falar com as pessoas. — Mas Blue disse que voltam, sim. Ela voltou. — Quem voltou? — Minha amiga... Ela voltou. Victor parou o carro e olhou para o filho. — Andrew, você inventou essa Blue porque sente falta da mamãe? — Não! Não é isso! Não inventei ninguém, pai. Victor não comentou mais nada. Pensou que era melhor não insistir. Caso Andrew continuasse a falar sobre o assunto, ele procuraria ajuda. "Caroline, que falta você faz! Como é difícil sem você!", pensou, lembrando-se da esposa. Eles se amavam tanto... Não era justo ela ter morrido daquela forma, vítima de um câncer fulminante. Caroline era uma luz em sua vida: alegre, divertida, bonita, apaixonada... e completamente louca pelo filho. Victor lembrou-se das suas últimas palavras, antes de perder a consciência: "Diga a Andrew que eu o amo mais que tudo neste mundo". Seis anos... Já fazia seis anos! — Por que você não namora ninguém, pai? — perguntou o menino, parecendo ler os pensamentos de Victor. — O quê? Não sei... Não estou interessado nisso. Mas que conversa é essa, agora? — perguntou, sorrindo. — Nada, é que Blue disse que você ainda é jovem e devia namorar. — Andrew, quero que me ouça com atenção. Não existe Blue alguma, entendeu? Você está inventando isso... Quero que prometa que vai esquecer esse assunto. — Tá bom, pai. — disse o menino, resignado — Mas eu não inventei nada! Victor lançou um olhar que Andrew conhecia bem, então, calou-se. O pai podia pensar o que quisesse, mas ele sabia que a moça era real. A semana começou com frio e vento gelado. Jacqueline, que havia passado o domingo inteiro enrolada no cobertor, assistindo à televisão e brigando com o vizinho, deu graças a Deus por poder sair para trabalhar. Os relatórios que estudou mostravam que as crianças estavam respondendo bem aos novos métodos de ensino e ela concluiu que já podia começar as próximas modificações que tinha em mente. A diretoria da instituição havia lhe dado carta branca, depois que 98% dos pais responderam a um questionário, no qual diziam aprovar as alterações feitas até então. Pais satisfeitos representam dinheiro no caixa e, portanto, Jacqueline começou a ser vista como a nova Piaget da América.

24


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Estava sentada, trabalhando na apresentação que faria a seus superiores sobre como as novas medidas melhorariam o aprendizado das crianças, quando foi chamada com urgência à enfermaria. Um dos meninos havia se metido em uma briga e machucou dois coleguinhas. Agora estavam os três recebendo cuidados médicos. Preocupada, mas acreditando que tudo não passava de desentendimento normal entre garotos, assustou-se ao ver o estado em que as crianças estavam. — O que aconteceu? — perguntou, chamando a enfermeira de lado. — Brigaram feio desta vez... — O que quer dizer com desta vez? — Não é a primeira briga entre eles. Os dois, ali, — apontou dois meninos cheios de arranhões, com os olhos roxos — adoram infernizar a vida do outro. Creio que hoje ele não agüentou e explodiu. — Mas como conseguiu machucar os garotos assim? São bem maiores que ele! — E melhor a senhorita conversar diretamente com o menor. Seu nome é Andrew Hamilton, tem 8 anos. É um bom aluno, inteligente, e vai bem nos esportes. — Certo... Vou falar com eles. Você já avisou aos pais? A mulher disse que sim e que as famílias já estavam a caminho. Jacqueline sentou-se entre os garotos e pediu que contassem o que havia acontecido. Peter e Larry, os dois que haviam levado a surra, começaram a falar ao mesmo tempo e disseram que Andrew era maluco, que via coisas e falava com quem não existia. Por isso, começaram a debochar dele, que reagiu às provocações com violência. — A gente só estava brincando! Não queríamos fazer mal a ninguém! — É ele é maluco. Voou em cima de nós! Andrew não disse uma palavra. — O que tem a dizer, Andrew? — perguntou Jacqueline, olhando para ele com simpatia. Era um menino bonito e bem desenvolvido para a idade, embora menos que os outros dois em quem tinha batido. Ele não respondeu. — Venha, vamos conversar em minha sala. Quero saber exatamente o que houve, entendeu? Já ouvi seus amigos, agora você precisa me contar a sua versão da história. Andrew a acompanhou em silêncio, parecendo assustado demais para falar. Quando se sentou em frente à Jacqueline, a portas fechadas, perguntou: — A senhorita vai avisar meu pai? isso?

— Já foi avisado... Deve estar a caminho da escola, agora. Está preocupado com

25


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Ele fez que sim com a cabeça. — Ouça, Andrew, por que não me conta tudo que houve? — Eles me provocaram... Peter e Larry me chamaram de aberração e de monstro. Sempre fazem isso... Só que hoje eu reagi... Blue me disse como fazer, e eu fiz. — Quem é Blue? — perguntou ela, pensando que, com certeza, outra criança tinha ajudado a bater nos dois maiores. — E minha amiga... Ela é bonita e gosta de mim. — Blue? Desculpe, Andrew, mas eu não entendi muito bem... essa Blue estuda aqui também? Ele fez que não com a cabeça. — E como ela entrou na escola? — Comigo... Ela está sempre comigo. Jacqueline continuava sem entender. — Ela é real? — perguntou, procurando alguma pista que a ajudasse. — Bom, real ela é, mas só eu que vejo "ela". Mais ninguém. E hoje, quando Larry começou a rir de mim e Peter a me xingar, Blue me falou que eu não devia deixar ninguém fazer isso. — E o que mais? — Bem, aí ela me ensinou como derrubar os dois e a bater neles. Jacqueline continuou conversando com ele, até os pais dos outros dois chegassem. — Fique aqui, ok? Eu já volto.. — disse a Andrew, enquanto se preparava para enfrentar a fúria das duas famílias. Para sua surpresa, a mãe de Peter ficou encantada por saber que o filho havia apanhado: — Já era hora de alguém dar uma lição em você. Bem feito! — e saiu, levando o garoto pelo braço. A mãe de Larry ouviu o que Jacqueline e o menino disseram e seu único comentário foi: — Vamos ver o que seu pai vai dizer sobre isso, mocinho. Jacqueline, então, voltou para sua sala e encontrou o garoto sentado exatamente no mesmo lugar. — Vamos continuar. — disse, sorrindo — Você estava me falando sobre sua amiga Blue. — Ela gosta de senhorita... Diz que é bonita. Blue gosta muito de Paris... A senhorita nasceu lá, não foi? 26


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Sim, eu nasci em Paris... Mas não é sobre mim que estamos falando agora e sim sobre você e sua amiga Blue. Se entendi bem, ela é invisível, certo? — Não exatamente... Blue falou que apenas algumas pessoas podem ver os que são como ela... E eu posso, por isso ela conversa comigo. Ela se sente muito sozinha, não tem amigos... — E você? Também se sente sozinho e sem amigos? — perguntou, olhando com ternura para o menino. — Não... Mas antes de Blue, sim. Meu pai trabalha muito e eu não tinha ninguém pra conversar comigo... Blue diz que papai ainda sente falta da minha mãe e que precisa arrumar uma namorada, porque ele é bonito demais pra ficar sozinho. Jacqueline riu. — E o que você pensa disso? — Nada... Por mim, tudo bem. — Sente falta da sua mãe? O menino explicou que a mãe morreu quando ele estava com apenas 2 anos e que não se lembrava muito bem dela. Pensava que devia ter feito alguma cosia muito ruim, porque a mãe não voltou mais para falar com ele. — Sua mãe morreu, meu bem. Não pode voltar. — Pode, sim! Blue voltou! Ela morreu e voltou! Jacqueline procurou disfarçar a surpresa e perguntou: — Blue, a sua amiga... Ela é um fantasma? Não é assim que chamamos os mortos que falam com os vivos? — É... Acho que é... — E ela está aqui agora? — Não... — O que houve com meu filho? — perguntou Victor, entrando na sala sem bater, a secretária logo atrás, tentando impedi-lo. — Andrew, você está bem? Está machucado? — ajoelhou-se Victor ao lado do menino e o abraçou. Jacqueline observou a cena, sentindo o desespero daquele homem e o amor que tinha pelo filho. Reparou também que Victor realmente era um belo homem. Alto, atlético, com rosto forte e marcante, olhar profundo e maneiras viris. — O que aconteceu? — perguntou ele, parecendo finalmente notar a presença da pedagoga. — Uma briga no pátio. Nada muito sério, mas Andrew deu uma boa surra nos colegas. 27


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie —— Por que fez isso? Sabe que não deve bater nos outros. O menino abaixou a cabeça e não respondeu. — Senhor Hamilton, será que podemos conversar em particular? Andrew, por que não vai lá para fora, brincar um pouco? Quero falar com seu pai... — pediu ela, acompanhando o garoto até a porta. Assim que o menino saiu, Jacqueline pediu a Victor que se sentasse e narrou, o mais fielmente que pôde, tudo que Andrew lhe contou. — Está me dizendo que meu filho é perturbado? — a expressão no rosto dele tomou-se ameaçadora e ela pensou que não queria Victor Hamilton como seu inimigo. — Absolutamente. Apenas quero entender o que se passa. Andrew já havia falado ao senhor sobre essa Blue? Ele contou o que sabia. — Qual a sua avaliação? — perguntou ele, olhando Jacqueline nos olhos. — Bem, não sou psicóloga, mas me parece que ele inventou uma amiga para se sentir seguro. Normalmente meninos inventam amigos da mesma idade e sexo que eles. O fato de Andrew criar uma amiga mais velha pode indicar que sente falta da mãe, de carinho materno, o senhor sabe. Jacqueline sabia bem o que era isso. Jamais conheceu a mãe. — E o que sugere? — perguntou Victor, aborrecido. Só faltava essa. Aquela ilustre desconhecida, que nada sabia sobre sua vida e problemas, resolver se meter onde não tinha sido chamada. — Apenas que observe seu filho e tente conversar com ele para descobrir mais sobre essa Blue. Sem censuras ou críticas, apenas conversar... Vou pedir às professoras que o observem também e, se for o caso, volto a falar com o senhor. — Muito bem, senhorita Théry, posso ir agora? — Claro... Eu o acompanho. E, senhor Hamilton, por favor não leve a mal o que eu disse. Não pretendia me meter na sua vida. Ele não respondeu. Apenas pegou o menino e o levou para casa, deixando Jacqueline refletindo sobre o acontecido. Enquanto dirigia pelas ruas arborizadas, Victor pensava em Jacqueline. Uma bonita mulher, educada, elegante... e intrometida. "Caroline, Caroline! Por que nos deixou tão cedo?", torturou-se. — Quer comer alguma coisa? Creio que precisamos ter uma conversa, não? O menino fez que sim com a cabeça e Victor passou a mão pelos seus cabelos com carinho. — Eu te amo, meu filho. — disse, com o coração pesado. 28


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Também te amo, pai. — respondeu o menino. No banco de trás, Blue observava a cena com um sorriso misterioso, certa de que seus planos dariam certo.

Capítulo 4

Durante as semanas seguintes, a temperatura esfriou ainda mais e os ventos aumentaram de intensidade. Jacqueline dividia seu tempo entre o trabalho no colégio e os socos na parede, suplicando para que o vizinho diminuísse o barulho. O episódio com Andrew Hamilton não havia se repetido, mas, mesmo assim, ele continuava sendo observado. O que mais chamava sua atenção eram os desenhos dele: mostravam uma fixação inexplicável por árvores. Até quando a professora pediu que as crianças desenhassem os planetas do sistema solar, Andrew colocou uma árvore em cada um. Também havia relatos de professores e colegas, dizendo que Andrew ficava cada vez mais isolado dos amigos e por diversas vezes foi visto falando sozinho. Entretanto seu aproveitamento escolar progredia, e suas notas e avaliações estavam cada vez melhores. Informalmente, Jacqueline resolveu consultar a psicóloga do colégio e ouvir suas opiniões. — Fantasma, ele disse? — perguntou a Dra. Marcy Weiss, olhando atentamente para ela. — Eu disse... e ele concordou. — E por que disse isso a uma criança de 8 anos? — Queria chamá-lo à realidade, nada mais. — Hum... mas podia ter usado outra palavra... espírito, por exemplo. Fantasma reflete algo que nos assusta e persegue. O que te assusta e persegue, Jacqueline? — perguntou Marcy, de forma totalmente direta e inesperada. — Nada! Que idéia! A questão não é sobre mim, mas sobre Andrew! — Ok, se prefere, vamos voltar ao garoto. Você me falou em árvores. O que pensa que pode ser? — Bem, andei lendo sobre simbologia e encontrei informações de que a árvore pode ser interpretada como a imagem que resume o passado nas raízes, o presente no tronco e folhas, e o futuro nos galhos que apontam para o céu. 29


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Marcy sorriu: — Entendo... acredita que seja isso? — Não... Creio que pode representar o pai. Ele é um homem forte, marcante e visivelmente apaixonado pelo filho. — Ah, forte e marcante. Impressionou você? Seu pai também era assim, forte e marcante? — Do que está falando? Eu não vim falar de mim! — Vamos fazer assim: deixe a pasta de desenhos do garoto comigo, para que eu possa analisá-los, e depois procuro você. Enquanto isso, se eu fosse você, trataria de vasculhar melhor os meus sentimentos em relação a essa história toda. Jacqueline se irritou. Quem essa mulher pensava que era para falar assim? Revoltada, voltou para sua sala, decidida a esquecer tudo aquilo, mas não pôde. As palavras de Marcy continuavam dançando em sua cabeça. "Psicólogos são todos malucos!", dizia o pai e estava certo. Aquela Marcy com certeza era! Ralph Burton e Victor Hamilton eram amigos desde que se conheceram em Berkeley, onde estudaram. Na época, a mãe de Victor morava na Califórnia e a de Ralph, bem longe dali, na Carolina do Norte. Quando, depois de formado e recém-casado, Victor aceitou uma proposta de emprego na Filadélfia, eles se separaram. Mas, em uma dessas coisas do destino, Ralph também se mudou para a cidade, alguns meses antes da morte de Caroline. Desde então, ele e Victor retomaram a amizade e sempre que possível passavam algumas horas juntos. Solteiro e sem filhos, Ralph "adotou" Andrew como seu sobrinho, e o menino o adorava. — Tio Ralph! Não sabia que vinha hoje! — e jogou-se nos braços do rapaz. — Nem eu. — respondeu, abraçando o garoto. — E aí, como estão as coisas? Andrew contou as novidades e o levou para dentro. Victor ainda não havia chegado, mas não devia demorar. — Por que não me ajuda com o trabalho, enquanto seu pai não chega? Tenho de escrever uma matéria sobre crianças e você podia fazer uns desenhos para mim, o que acha? — propôs. — O que quer que eu desenhe? — Bem, estou escrevendo um artigo sobre bebês para uma revista. Podia desenhar alguns para mim. Será que consegue? — Claro! Meia hora depois, Victor chegou, interrompendo o trabalho dos dois. — Seu tio está explorando você! Deixe-me ver por quanto podemos vender essas ilustrações. — brincou, pegando os papéis em cima da mesa. 30


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Enquanto olhava as imagens, sua expressão mudou radicalmente: — Por que desenhou isso? — perguntou, olhando para Andrew assustado. — Onde viu imagens assim? — O que foi? — perguntou Ralph pegando as folhas das mãos do amigo. No papel, ele viu desenhos de fetos torcidos e deformados, e de um bebê morto. — O que mostrou a ele para que fizesse isso? — perguntou Victor. — Nada! Só pedi que desenhasse alguns bebês, nada mais. — Por que fez estes desenhos, Andrew? — perguntou Ralph, olhando assustado para o menino. — Eu não sei! Foi o que vi quando você falou em bebês. Não é culpa minha! — Ninguém está culpando você, filho. Só queremos saber por que desenhou estas... coisas. — Foi o que Blue me disse para fazer. São os bebês dela! — Dela quem? De quem está falando? Quem é Blue? — Ralph estava perdido. — Eu já disse pra você parar com isso! Não há ninguém, é apenas sua imaginação! Andrew encarou o pai com os olhos cheios de lágrimas e correu para o quarto. Victor fez menção de ir atrás, mas o amigo o deteve: — Deixe. — disse em tom conciliador. — Ele está confuso. Dê— lhe um tempo. — Sinceramente, não sei o que pensar... Aquela francesa acredita que isso seja conseqüência da falta que ele sente de Caroline... — Francesa? Que francesa? — E ainda tem essa tal Blue. É tudo culpa dela! Isso me assusta. Já perdi alguém que amava, não quero perder meu filho também! — Quem é Blue? Quem é a francesa? Victor dardejou um olhar irritado ao amigo: — Não comece! — Mas eu não falei nada, homem! Só perguntei quem é Blue... O outro respirou fundo, acalmando-se. — Vamos beber alguma coisa e eu conto o que está acontecendo. Jacqueline decidiu que não suportava mais e, já que socar a parede parecia não ter efeito algum sobre seu vizinho artista, socou a sua porta, até que ele atendeu. Não sabia o que esperar, mas mesmo que o sujeito tivesse dois metros de altura e pesasse 150 quilos, ainda assim ia ouvir uns desaforos. Quase caiu de costas, quando uma moça loira e magrinha, pesando no máximo 55 quilos, abriu a porta e sorriu para ela, cheia de simpatia. Jacqueline, pronta para descarregar um caminhão de desaforos sobre o 31


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie vizinho, ficou desconcertada. — Pois não? Posso ajudar em alguma coisa? — perguntou a loirinha simpática. — Eu... Eu... sou a vizinha do lado, Jacqueline Théry. — A que bate na parede? Entre... Estava mesmo querendo falar com você. — convidou. Jacqueline, mais encabulada ainda, aceitou o convite e também o café que a moça lhe ofereceu. Duas horas depois, quando voltou para casa, fizera uma amiga. A moça, Terry Mason, tinha mais ou menos a sua idade, era corretora imobiliária e tocava sax por indicação médica: "Para aliviar o estresse, mas creio que não está funcionando, sabe? Toco mal à beça". Jacqueline ficou tão feliz em ter alguém para conversar, que se esqueceu do barulho que a irritava e tirava sua concentração. Só voltou para seu apartamento porque ouviu o telefone tocando. — Ainda não comprei uma secretária eletrônica... Também, não conheço ninguém que possa me ligar... Provavelmente é engano. — disse, despedindo-se da moça. — Venha quando quiser... — Você também... Podemos tomar um vinho, qualquer hora dessas. Atendeu rapidamente, certa de que não era nada importante, mas mudou de idéia, assim que ouviu a voz de Marcy. — Estava ocupada? Estou ligando porque prometi dar um retomo sobre o caso de Andrew Hamilton. Sei que é tarde, mas estava pensando se não podemos jantar em algum lugar e bater um papo. Jacqueline concordou, anotou o endereço, trocou de roupa e saiu. Conversou com Marcy no começo da semana, e não estava entendendo por que não podiam esperar até segunda-feira para se falarem. "Psicólogos!", pensou, lembrando-se do pai. — Andrew está falando com um fantasma? — perguntou Ral-ph, incrédulo. — Não! Ficou doido? E alguma coisa que ele imagina, só isso. — E estes desenhos, o que acha que significam? Você pode não gostar, mas creio que a tal francesa acertou em cheio quando disse que o menino sente falta de carinho materno. — Eu sei disso, mas o mundo está cheio de órfãos que não reagem assim... — Cada um é um, Victor. Sei que teme por ele, mas talvez uma terapia ajudasse. Até mesmo pra você. Sei lá, conversar com alguém pra ver como lidar com essa fase complicada... — Não sei...Vou pensar nisso... — Por que não saímos? Andrew adora comer no Dilly. Assim, ele se distrai e você areja a cabeça. Eu falo com ele, se quiser. 32


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Victor concordou e Ralph, com jeito, convenceu o garoto a enxugar as lágrimas, trocar de roupa e sair. — Meu pai não acredita em mim, tio Ralph. — Não é isso... Ele está assustado, Andrew. Seu pai ama você e tem medo de que algo de ruim lhe aconteça... — Como aconteceu com minha mãe? — perguntou, ainda chorando. — Mais ou menos isso... Olhe, vamos jantar no Dilly, e amanhã você me conta tudo sobre essa sua amiga Blue. O menino olhou Ralph com um ar estranho e respondeu: — Ela disse que você também não acredita nela. Com um arrepio subindo por sua coluna, ele perguntou: — Ela está aqui agora? Onde? Andrew apontou para o local e Ralph falou: — Oi, Blue, sou o tio Ralph. Por que pensa que não acredito em você? O menino a seu lado respondeu: — Você vai acreditar, quando eu terminar o que vim fazer... Você vai acreditar. Assustado, Ralph pegou o menino pela mão e o levou para baixo. Não diria nada a Victor, pois ele já estava perturbado demais. E agora, Ralph estava começando a pensar que não era sem motivo. A lanchonete do Dilly era um lugar alegre e bem iluminado, com bancos forrados de amarelo e azul, mesas de madeira e paredes coloridas. O cardápio era feito para agradar a adultos e crianças. O atendimento, feito por mocinhas usando jeans e camisetas com o logotipo do lugar, era rápido e simpático, e a comida excelente. Andrew estava mordendo um hambúrguer imenso, quando Jacqueline chegou. — Olha a senhorita Théry ali! Ralph olhou interessado para a moça bonita que estava entrando, e depois viu outra, mais gordinha e de cabelos castanhos, se aproximar. Jacqueline acenou para Marcy e a acompanhou, sem ver Victor ou Andrew. — Bonita! Quem é? — A tal francesa de que lhe falei, a da escola de Andrew, Jacqueline Théry. — Certo... Francesa, é? E a outra, a gordinha? — Não conheço... Deve ser alguma amiga... — Posso ir lá falar com ela? — pediu Andrew, entusiasmado. — Pode, claro... Mas não demore, ela pode estar querendo conversar... 33


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Ralph observou as reações de Victor. Pela primeira em anos, viu os olhos do amigo brilharem de forma diferente ao olhar uma mulher. Será que havia um romance no ar? Andrew beijou e abraçou Jacqueline, o que muito a surpreendeu, já que mal conhecia o menino. — Esta é Marcy Weiss, Andrew. — apresentou, quando ele se sentou na mesa delas. — Jacqueline me falou sobre você... Disse que tem uma amiga especial, é verdade? — É sim, a Blue, mas não posso ficar falando sobre ela, meu pai não quer. Jacqueline olhou preocupada para Marcy. Sabia que podiam se envolver em encrencas, caso alguém descobrisse o que estavam fazendo. — Seu pai não está aqui e eu gostaria muito de saber mais sobre sua amiga... O menino não caiu na armadilha, apenas respondeu: — Ela não gostou de você. Marcy insistiu: — Mas ela nem me conhece, como pode não gostar de mim? E eu quero ser amiga dela também. Andrew fez que não com a cabeça e agarrou-se a Jacqueline. — Vamos lá falar oi para o seu pai? Quando se aproximaram da mesa, Victor levantou-se para cumprimentá-la e mais uma vez Ralph viu aquele brilho nos olhos dele. E da moça também. Claro que nenhum dos dois demonstrou qualquer traço de interesse pessoal, mas os olhos não mentiam. — Por que não se sentam conosco? — convidou Ralph. — Bem, eu não sei... Mais tarde, talvez. — disse ela, com simpatia, afastando-se em seguida. — Bela mulher... Está interessada em você. — comentou Ralph, com voz desinteressada. — O quê? Não seja ridículo. Mal a conheço. — respondeu Victor, mudando rapidamente de assunto. O que Marcy tinha a dizer não era muito diferente do que Jacqueline imaginava. Andrew era solitário, sentia falta da mãe, criou alguém para substituir a figura materna. Não via nada demais nisso, e acreditava que a fase passaria com o tempo. — Então, eu me preocupei sem razão? — É o que tudo indica, não? Talvez pudesse fazer mais se conhecesse melhor o garoto. Mas, como viu, ele não confia em mim. Só em você.

34


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Não entendo isso... Ele nem me conhece! O engraçado é que, no dia da briga, ele comentou que gostava de mim por eu ser francesa... — A mãe dele era francesa? — Não... americana. Segundo ele, a tal amiga imaginária gosta da França... Marcy não respondeu a isso. — Você se identificou com o menino, não? Afinal, ambos não têm mãe, e vivem sob uma forte figura paterna... — O que é isso, agora? O assunto é Andrew, não a minha vida! — exclamou, irritada. Marcy, diplomaticamente, mudou o assunto: — Por que não vamos até a mesa deles? Quem sabe, conversando, ele se abre mais? Meio a contragosto, Jacqueline aceitou, e elas se aproximaram. — Ah, vão nos brindar com sua presença! — brincou Ralph, divertindo-se ao ver a expressão de Victor. — O que faz na vida, senhor Burton? — quis saber Marcy, que o achou extremamente simpático. — Sou jornalista, e você? — Psicóloga. — Ah... é daquelas que, quando a gente diz "bom dia", pergunta por quê? Marcy riu. — Meu pai é advogado! — disse Andrew, orgulhoso, abraçando-o. A conversa entre eles fluiu tranqüila e natural, e Jacqueline e Victor se entendiam cada vez melhor. Tudo parecia calmo e tranqüilo, até a hora de saírem. Foi quando Andrew teve a primeira de muitas crises. — Eu preciso de ajuda. — disse ele, de repente. Todos o olharam, sem entender, e Marcy notou que o olhar do garoto adquiriu uma expressão vidrada, como se estivesse inconsciente. — Vocês precisam me ajudar... Não agüento mais... Não é justo. — disse ele, sem olhar para ninguém, com a voz desesperada. — Andrew, o que foi? — perguntou o pai, segurando-o pelos ombros. — A árvore... Vocês precisam encontrar a árvore... Jacqueline e Marcy se olharam, pensando nos desenhos do garoto. — Andrew, querido, do que está falando? — a voz da francesa era suave.

35


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Ele está cansado, é só isso. Venha, filho, vamos pra casa. — Victor pegou-o pelo braço com delicadeza. Mas ninguém se levantou. — Todos os bebês morreram... Isso tem de acabar! — Do que ele está falando? Que bebês? — Marcy não tirava os olhos do garoto, certa de que ele estava tendo um surto. Ralph olhou para o amigo, depois para Andrew, assustado: — São os desenhos, não é? — Cale a boca. — a voz de Victor era dura. — Que desenhos? — insistiu Marcy. — Me ajuda, Jacqueline! — pediu o menino, ainda sem olhar para ninguém, e desmaiou em seguida. — Meu Deus! Andrew, fale comigo! — implorou o pai. Mas o menino continuava inconsciente, como se estivesse dormindo. Assustado, Victor o pegou nos braços e entrou no primeiro táxi que viu, esquecendo completamente que seu carro estava a poucos metros de distância. Jacqueline foi junto, largando os amigos para trás. Enquanto o carro voava em direção ao hospital mais próximo, Ralph contava a Marcy sobre o episódio daquela tarde. Ela ouviu tudo, pensando que o caso era muito mais grave do que parecia a princípio. O menino estava com distúrbios de personalidade mais profundos. A causa, ela desconfiava, era a falta da mãe. — Victor nunca mais se casou depois que Caroline morreu... E agora isso... Deve entender a reação dele. O filho foi tudo que lhe restou. — explicou, preocupado. Marcy, no entanto, estava mais preocupada com o filho do que com o pai. — Sabe há quanto tempo isso começou? — Não faço idéia... Meses, talvez. Andrew fica muito tempo sozinho, Victor trabalha muito... Mas é um pai atento e o ama desesperadamente. Meu Deus, que droga, isso! Marcy não respondeu. Sua experiência lhe dizia que a situação ainda ia piorar muito. E ela estava certa.

Capítulo 5

36


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Andrew foi examinado e medicado. Não havia, aparentemente, nada de errado com ele. Jacqueline conversou longamente com o médico, enquanto observava Victor caminhar de um lado para outro no corredor. Estava arrasado. — Ele vai ficar bem... Vai dormir durante algumas horas, mas, caso acorde bem, pode ir embora para casa. Se quer meu conselho, senhor Hamilton, seria bom procurar um terapeuta para o garoto. Isso pode ser estresse acumulado. Victor não respondeu, apenas encarou o médico com um olhar que dizia: "Do que está falando?" — Crianças tendem a se culpar por tudo que acontece com os pais. Talvez Andrew se culpe pela morte da mãe, e isso gerou tanta tensão que ele explodiu. — E por que não falaria comigo? Sou o pai dele! — Justamente por isso... Tem medo de decepcioná-lo, de que o senhor se volte contra ele... Victor mais uma vez encarou o médico, mas não sabia o que dizer. Sentou-se ao lado do filho e acariciou seus cabelos, apavorado com a idéia de perdê-lo também. Jacqueline saiu discretamente do quarto, pensando ser melhor esperar no corredor. Meia hora depois, quando Ralph ligou, ansioso por notícias e para saber onde estavam, Victor saiu para atender a ligação e deu de cara com Jacqueline. — Ah, desculpe, nem agradeci por seu apoio... obrigado. — Como pretende lidar com isso, senhor Hamilton? — perguntou. Ele soltou um suspiro cansado e se sentou ao lado dela: — Eu nem mesmo sei o que "isso" significa, senhorita Théry. Só sei que meu filho é saudável e normal e não quero que nada aconteça a ele. — Vai ficar tudo em ordem... Andrew vai acordar bem, o senhor vai ver. — Em outras circunstâncias, eu a levaria em casa, mas estou sem carro e não quero sair daqui. — Pretendo passar a noite no hospital, se não importa... De alguma forma, sinto que posso ajudar. Ele a olhou, surpreso, e depois agradecido. Seria bom ter companhia. Seria bom ter aqueles olhos solidários junto dele. — Quer tomar um café? Jacqueline concordou. Durante as longas horas daquela noite, eles conversaram, riram e trocaram segredos. Victor falou sobre Caroline, como foi difícil superar a sua morte e o quanto o apavorava a idéia de que algo ruim pudesse acontecer a Andrew. 37


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Jacqueline falou sobre a mãe que pouco conheceu, sobre o pai, sobre sua vida em Paris. E então, de repente, percebeu que Marcy tinha razão ao dizer que ela estava projetando a própria solidão nas experiências do menino. Quando o dia chegou, encontrou Victor adormecido sobre a cama do filho e Jacqueline na poltrona ao lado. Andrew acordou e olhou em volta, assustado. Onde estava? — Pai? — chamou, amedrontado. — O que aconteceu? Victor abraçou-o e, sem saber direito o que responder, olhou para Jacqueline em busca de auxílio. — Você se sentiu mal, não lembra? — perguntou ela, sorrindo. — Não... Lembro que a gente ia embora do Dilly e depois não sei mais... — Não se preocupe, filho, está tudo bem. Vou procurar o médico Assim que Victor saiu, Andrew perguntou: — Por que está aqui, senhorita Théry? — Esperei você acordar para saber se estava tudo bem... Logo vai embora para casa. — e se aproximou, abraçando-o — Vai ficar tudo bem, querido, eu prometo. Andrew fechou os olhos, sentindo o seu carinho e murmurou: — Eu confio em você... Jacqueline, naquele momento, sentiu o coração apertado. O que podia fazer para ajudar aquela criança que inexplicavelmente parecia gostar tanto dela? Victor voltou com o médico que, após examinar o garoto, liberou-o, com a condição de que recebesse ajuda psicológica. — Você vai com a gente, senhorita Théry? — perguntou Andrew, olhando para Jacqueline com olhos ansiosos. — Ela precisa descansar, filho, todos precisamos. Você foi o único que dormiu esta noite. — disse o pai— Mas podemos deixá-la em casa. Onde mora? Ela deu o endereço e todos entraram no táxi. — Mas queria ficar com ela... Não pode ir mais tarde? — pediu o menino. — Vamos fazer assim: vou pra casa, descanso, e mais tarde ligo pra saber como você está... — Janta com a gente, então... Por favor... Victor e Jacqueline trocaram um rápido olhar e, inesperadamente, até para si mesmo, ele reforçou o convite: — Venha jantar conosco... E o mínimo que podemos fazer para agradecer sua atenção. 38


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Um tanto sem graça, e incerta se aquilo não feria a ética do seu cargo, ela acabou aceitando: — Mas com uma condição: eu levo a sobremesa. — Torta de chocolate e sorvete? — Andrew sorriu ao perguntar. — Combinado! Ao se despedir deles, Jacqueline ainda pensava por que aceitou aquele convite. O menino parecia estar desenvolvendo laços emocionais profundos em relação a ela, mas será que aquilo era saudável? E havia o pai...Victor era bonito, sério, sedutor... Um homem com "um toque de mistério e drama", e ela sabia muito bem que isso representava perigo de se apaixonar. Antes de entrar em casa, bateu no apartamento de Terry e, com o máximo de cuidado que conseguiu, pediu-lhe que não tocasse aquela manhã. Ela precisava dormir. — Fique tranqüila... Mas o que houve? Quer entrar um pouco? — Não, mas posso lhe oferecer um café. Conto tudo enquanto isso, pode ser? Terry sorriu. A francesinha era simpática e, contrariando tudo que se dizia dos franceses na América, não era esnobe nem grosseira. Sentada na sala de Jacqueline, saboreando um autêntico café francês que Terry achou muito forte para o seu gosto, ela ouvia sobre Andrew e tudo o que havia acontecido. — Você disse que o menino vê uma pessoa que já morreu? — Segundo ele, sim. Mas é claro que não é isso... Está inventando essa tal Blue para compensar problemas emocionais. Crianças comumente fazem isso. — Sabe, creio que pode ser compensação mesmo, mas também pode ser outra coisa. Quem somos nós pra dizer que ele não está vendo um fantasma, alguém que precisa de ajuda e o utiliza como porta-voz? — Como assim? Você está falando sobre... — Você mesma disse que ele pediu ajuda e também que encontrassem uma árvore... Vai saber. Jacqueline riu. Que idéia! Mas, por educação, não comentou nada com a vizinha. Afinal, cada um podia acreditar no que quisesse. — Bem, vou deixar você descansar... Se precisar de alguma coisa ou quiser conversar, passe lá em casa. — Ok, faço isso. Obrigada, Terry. Cansada e um tanto perturbada por toda a situação, Jacqueline caiu na cama de roupa mesmo e, sem ter tempo de pensar em mais nada, adormeceu. Lá fora, o céu azul e o vento frio prenunciavam mais um gelado dia de outono. As 39


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie folhas caíam das árvores, colorindo as ruas com tons de marrom, vermelho e amarelo. Victor também estava cansado. Estava esgotado mais emocional do que fisicamente. A idéia de que o filho pudesse adoecer de modo grave lhe era insuportável. Ralph, que havia passado a noite dormindo no sofá, preparava o café, quando ele chegou com Andrew. — E aí, campeão? — perguntou ao menino. — Tudo certo? — Tudo... A Jacqueline, quer dizer, a senhorita Théry vai jantar aqui hoje! — E mesmo? — perguntou, encarando Victor com olhar indagativo. — Andrew insistiu... e ela foi um grande apoio. Passou a noite inteira no hospital. Você pode cuidar de Andrew? Preciso dormir um pouco. — Claro! Venha, amigão, vamos tomar um belo café da manhã cheio de porcarias, que só o tio Ralph sabe preparar. Agora, deitado no quarto, tentava tranqüilizar a mente. Estava mais assustado do que dava a perceber com a situação do filho. Talvez o médico estivesse certo e Andrew precisasse de terapia. O problema, pensava, era que, caso Andrew começasse a se tratar, fatalmente ele, Victor, seria chamado a participar das sessões. A morte de Caroline não estava mal-resolvida apenas na cabeça de Andrew. Victor sabia muito bem que aquele era um problema que ele se recusava a enfrentar, era uma sombra que o perseguia. Desde a morte da esposa, não namorou nem se interessou por ninguém. Apegava-se à idéia de que, mais dia menos dia, Caroline ia voltar. A verdade, entretanto, era que ele não queria mais amar ninguém. Tinha medo de passar novamente pela mesma situação. Foi nesse momento que pensou em Jacqueline. Ela era uma mulher suave e delicada, mas ao mesmo tempo forte e decidida ou não teria largado tudo e vindo para a América. Era inteligente, educada, discreta. Tinha um tom de voz agradável, um sorriso luminoso e um corpo fenomenal. O fato de ver nela tantas qualidades não lhe pareceu, naquele momento, nada demais. Afinal, ela estava apenas interessada em ajudar ao seu filho. E Andrew a adorava! Nunca o vira gostar tanto de alguém. Muito natural que ele a olhasse com bons olhos, certo? Ou será que havia outra coisa? "Preciso dormir, preciso dormir, estou vendo coisas onde não há!", pensou, fechando os olhos, para adormecer em seguida. Jacqueline chegou pontualmente às 19h30. Havia passado horas decidindo-se sobre o que vestir. Por fim, pediu ajuda a Terry: — Bem, vejamos... Que efeito você pretende provocar? — Efeito nenhum... Só quero estar bem-vestida... — Sei. Por isso me chamou? Tenha dó, você está interessada no pai do menino, 40


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie por isso essa dúvida em relação à roupa. Pronto, ponha esta calça e esta blusa. Vai ficar bem... — Não estou interessada em ninguém... — Vista! — disse Terry, rindo — E use botas pretas de salto alto, e pouca maquiagem. Tem a pele linda demais para escondê-la com camadas de cosméticos. Vestida com calças pretas e uma charmosa blusa de tecido leve, usando um elegante e grosso casaco de lã por cima, ela tocou a campainha. A casa de Victor Hamilton era uma bela propriedade, cercada de jardins, cuja fachada moderna era composta por grandes janelas e paredes pintadas na cor marfim. Uma casa elegante, sem dúvida. — Jacqueline! Você trouxe o sorvete? — perguntou Andrew, sorrindo abertamente. — E a torta de chocolate. Ela acompanhou o garoto, que pegou seu casaco com educação, e depois berrou: — Pai, a Jacqueline chegou! — Você está bem? Passou bem o dia? Ele fez que sim com a cabeça, correndo para a cozinha. Victor surgiu, vestindo um avental de cozinheiro, e ela riu ao ver aquele homem forte e másculo usando aquilo. — Desculpe por isto, sempre me sujo quando estou na cozinha. — Imagine... Fica bem em você...— respondeu, apertando-lhe a mão. — Tem habilidades culinárias? — Algumas, sabe como é... Tive de aprender. Ela sorriu e só então reparou em Ralph, que os observava com uma expressão que lhe pareceu extremamente engraçada. — Meu amigo Ralph Burton, que você conheceu ontem. Jacqueline sorriu e, enquanto Victor voltava para cozinha, Ralph a puxou de lado: — Olhe, não quis comentar nada com Victor porque ele já está assustado o suficiente; mas conversei bastante com Andrew sobre a tal Blue. Marcy, a sua amiga, me deu umas dicas ontem. — Ah... e o que descobriu? — Sabe, não pense que sou maluco nem nada, mas ele contou uma história tão cheia de detalhes que fica difícil a gente acreditar que ele inventou tudo... — Como assim? — Primeiro, a moça apareceu no jardim, perguntando se ele podia vê-la. Depois, 41


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie falou quem era e de onde vinha... Ouça, senhorita Théry, sou jornalista, e estou acostumado a lidar com pessoas de todos os tipos: Das mais lunáticas às mais sérias e, se existe uma cosia que conheço, é um mentiroso. Andrew não inventou a história que me contou... — Mas que história? Não entendi... E pode me chamar de Jacqueline. — Essa Blue disse a Andrew que morreu há algum tempo e que não pode ir embora porque está presa a algum tipo de compromisso... Droga, lá vem o Victor! Depois continuamos o assunto, pode ser? Jacqueline olhou-o, espantada, mas concordou. Não lhe parecia certo esconder o que quer que fosse de Victor, pois ele tinha direito de saber! E o que Ralph estava querendo dizer com aquilo? O jantar, excelente por sinal, rendeu a Victor rasgados elogios dos seus convidados. O vinho estava excelente e a sobremesa que Jacqueline levou, divina. A conversa, propositalmente, girou sobre assuntos leves e divertidos, e cada qual contou episódios divertidos das suas vidas. Pela primeira vez, em anos, Ralph viu o amigo gargalhar sinceramente. A tristeza pareceu de tal forma desaparecer do seu olhar, que era de se duvidar que algum dia esteve ali. Depois do jantar, Ralph sugeriu brincarem de mímica, e mais uma rodada de gargalhadas explodiu na casa, com as tentativas malsucedidas de Victor em imitar Charles Chaplin. Às 22h30, Andrew foi para a cama e pediu que, além do pai, Jacqueline o acompanhasse. Tudo parecia tão bem e tão normal que as preocupações com a saúde mental do menino cederam lugar a conversas amenas e tranqüilas. — Bem, também vou subir. — disse Ralph, depois de algum tempo, querendo deixar o casal a sós. — Ainda tenho uma matéria para escrever... Despediu-se e subiu, não sem antes dar uma piscada significativa para o amigo. — Quer mais um pouco de vinho? — perguntou Victor, meio sem graça. — Um copo apenas, já ultrapassei minha cota de álcool hoje. — Pensei que os franceses estivessem acostumados ao vinho. Ela riu. Ele sentou-se a seu lado. Ficaram olhando um para o outro, sem saber bem o que dizer. — Então, Jacqueline, o que está achando dos Estados Unidos? Fez amizades, conheceu alguém interessante? — perguntou, sentindo-se um tolo por não saber mais como conversar com uma garota. — Na verdade não... Quero dizer, estou gostando daqui, mas conheci poucas pessoas. Vocês e minha vizinha, apenas. E contou sobre o saxofone de Terry.

42


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Creio que deve ser difícil mudar de país e deixar a vida para trás... Amigos, família, namorados... — comentou, odiando-se pela pergunta camuflada em seu comentário. — Bem, o mais difícil foi deixar a casa em que morava e as lembranças. Quanto aos amigos, bem... ninguém que me prendesse à cidade. Ela não mencionou namorados e Victor, ainda que se detestasse por perguntar aquilo, insistiu: — E namorados? Deixou algum francês suspirando de amor por você? Ela riu: — Não... Na verdade, faz muito tempo que ninguém suspira por mim e que eu não suspiro por alguém. Ele não comentou sobre isso. Talvez ela fosse como ele e tivesse medo de relacionamentos. Novamente, ficaram sem assunto. — Você gosta de música? Comprei alguns CDs novos e não tive tempo de ou vir... Você se importa se... — Adoro música. Por favor... Ele se ergueu e acidentalmente esbarrou no copo dela, derramando uma quantidade minúscula de vinho em sua blusa. — Perdão, não sei o que há comigo... Como sou desastrado! — disse, inclinando-se sobre ela. Jacqueline levantou a cabeça e seus olhares se encontraram. Victor lutou contra a vontade de beijar com todas as suas forças aqueles lábios macios e sensuais. Ela fez o mesmo. — Creio que seja melhor eu ir... Já está tarde. Ele concordou com a cabeça. Era melhor ela ir, mesmo, antes que ele perdesse a cabeça e desse vazão aos sentimentos que o invadiam. — Vou levá-la em casa... Um passeio me fará bem. — e pegou as chaves do carro. — Não precisa, posso pedir um táxi, sem nenhum problema. — Faço questão... Afinal, nós a convidamos. Além disso, está tarde para ir sozinha. Jacqueline concordou. Não porque estivesse tarde ou houvesse algum perigo em ela ir sozinha, mas porque a companhia dele era agradável e ela estava terrivelmente caída por ele. "Não vou convidá-lo para entrar, não vou oferecer um café. Despeço-me na porta e pronto", prometeu-se. — Quer subir para um café? — convidou, quando ele a deixou na porta do prédio. 43


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Victor olhou para aqueles olhos luminosos, para a boca sensual, os cabelos macios que desciam sobre a gola do casaco e soube que, se subisse, não iria embora tão cedo. Seu coração lhe dizia: "Aceite!", mas sua mente lhe aconselhava: "Vá embora agora!". Ele decidiu ouvir a mente: — Já está tarde e nós dois precisamos de uma boa noite de sono... Mas, se não for atrapalhar seus planos, por que não passa o dia conosco, amanhã? Há muitos lugares interessantes na cidade... Talvez pudéssemos ir a um parque... Jacqueline, cuja vontade era ficar o máximo de tempo possível com aquele homem, enganou-se, pensando que aceitaria o convite apenas por Andrew: — E uma boa idéia... Eu aceito, claro. — Ótimo. Passamos aqui às 10h. — disse, despedindo-se dela. "Aceitei pelo menino", mentiu para si mesma, entrando em casa. "Convidei-a porque Andrew vai ficar feliz", mentiu Victor a si mesmo, enquanto dirigia. Naquela noite, antes de finalmente pegarem no sono, ambos pensavam no beijo que pairou entre eles, na atração que sentiam, no quanto um achava o outro interessante. Dormiram, lutando contra o sentimento que, alheio ao medo e à descrença, se instalava em seus corações.

Capítulo 6

— Desculpe, mas não entendi muito bem: vocês vão passar o domingo com quem? — perguntou Ralph, mordendo uma torrada. — Com Jacqueline. Pensei que era uma boa idéia, já que Andrew gosta tanto dela... — Claro... Andrew gosta dela. Ok, entendi. — O que está insinuando, posso saber? — Não estou insinuando, Victor, estou afirmando: você está interessado na garota e está usando seu filho como pretexto! Victor não respondeu. O amigo estava certo e, embora não admitisse, realmente estava usando o filho como pretexto para estar ao lado de Jacqueline. 44


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Andrew, é claro, adorou a notícia. O roteiro que Victor escolheu, composto por um passeio nos vários pontos históricos e depois um belo almoço em um restaurante um pouco distante da cidade, agradou a Jacqueline. Enfim, um domingo que não passaria sozinha! Passearam por vários edifícios antigos, por ruas cheias de tradições, museus e monumentos, conversando e brincando, como se fossem uma família. Andrew não desgrudava por um segundo dos dois e nem por uma vez mencionou Blue ou deu algum sinal de estar se sentindo mal. Tudo parecia finalmente ter voltado ao normal. Almoçaram em um lugar chamado Alice Place, e depois Vic— tor os levou para um passeio de carro pelos campos e árvores dos arredores, que formavam uma paisagem linda, tingida pelos tons outonais da vegetação. Andrew, que dormiu assim que começaram a rodar, coberto com o casaco de Jacqueline, parecia estar no céu, tão feliz era sua expressão. — Ele está tão bem... Nem parece que há dois dias esteve no hospital. — Crianças são assim mesmo... — disse Jacqueline, sorrindo. — Você acredita que essa história de amiga imaginária vai desaparecer assim como surgiu? — Não sei, Victor. Ele parece não sentir a falta dela... Está tão bem, não é? — Por que você está perto... E a primeira vez que uma mulher entra assim em nossa vida. Desde Caroline eu não... você sabe... Ele parou o carro e convidou Jacqueline para uma caminhada. O céu estava tão azul que mal se podia olhar para ele. O vento frio e as folhas caindo das árvores formavam o cenário ideal para um romance. — Este lugar é lindo! — exclamou ela, admirando a paisagem. — E uma bela região esta... Vai ver quando conhecê-la melhor. Ela sorriu, evitando olhá-lo nos olhos. — Jacqueline, sou um homem complicado, quero que saiba disso. Amei minha esposa desesperadamente. Quando ela se foi, senti que não ia agüentar e, se não fosse por Andrew, talvez não tivesse mesmo suportado. Por favor, me deixe terminar. — pediu, quando percebeu que ela ia dizer alguma coisa. — Você é a primeira pessoa, em todos esses anos, que me fez pensar na possibilidade de, talvez, recomeçar, ou pelo menos tentar, ser feliz novamente. Por isso, se não estiver interessada em mim e, se um homem viúvo, cheio de medos, com um filho instável não estiverem em seus planos, por favor, me diga agora. Eu vou entender e tudo ficará bem. Só não quero me enganar... Ela não sabia o que responder. Sentiu que estava sendo sincero, que havia 45


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie extrema honestidade nos seus olhos e em suas palavras. Só não estava esperando por isso. — Eu... nem sei o que dizer... eu... — Tudo bem, já imaginava que eu não fosse o seu ideal... — Não... não quis dizer isso, Victor. E que você faz tudo parecer tão sério.. — E sério, Jacqueline, muito sério. Não estou brincando nem querendo passar o tempo com uma moça bonita que conheci. Ela o olhou nos olhos e a força do que viu a comoveu. Sem saber o que dizer, beijou-o. Victor puxou-a para si e, sentindo as emoções represadas fluírem de uma só vez, esmagou os lábios dela em um beijo quente e desesperado. Jacqueline sentiu o corpo reagir fortemente àquele carinho viril. Ela o desejou como nunca havia desejado homem algum. Perturbada pela intensidade de Victor, afastou-se dele, arfando: — O que foi? Eu me descontrolei, eu... — disse ele, confuso. Mas Jacqueline beijou-o novamente e outra vez sentiu-se inundada por um mar em fúria que fazia seu sangue ferver. Os lábios dele eram vigorosos, assim como seu corpo e seu toque. Não havia ali uma gota de dúvida nem de hesitação. Victor a queria desesperadamente, como se seis anos de desejos frustrados resolvessem invadi-lo. Jacqueline sabia o que a esperava e se entregou completamente à sede dele, que também era a dela. Victor, esquecendo-se de onde estavam, apertou os seios dela por sobre as roupas grossas, gemendo em seu ouvido. Jacqueline não resistiu. Uma fome sem precedentes de sentir aquele homem maravilhoso e todos os carinhos que ele tinha a oferecer se apoderou dela. Então, lembrou-se de Andrew dormindo no carro. — Andrew... não podemos, agora não...Victor... Ah, Victor...— balbuciou essas palavras entre beijos alucinados, carregados de paixão. Ele a olhou com intensidade. Não sorria. Em sua expressão não havia suavidade, mas muita paixão e desejo. — Vamos, mais tarde, depois... — disse, olhando-a nos olhos, deixando a promessa no ar, o que excitou ainda mais a garota. Voltaram em silêncio. Ele acariciava a coxa de Jacqueline e ela o correspondia, com sua mão sobre a dele. Iam se ver à noite, assim que Andrew dormisse. Victor não quis deixá-la no apartamento: levou-a para sua casa. Tinha medo de que ela sumisse ou mudasse de idéia. Estava louco por ela, louco. Linda, suave e macia, seus lábios pareciam brasas, o hálito era delicioso e o corpo continha todas as promessas ardentes que um homem pode desejar. — Pai? Onde estamos? — perguntou Andrew, acordando de repente.

46


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Chegando em casa... E você vai direto para o banho, enquanto levo Jacqueline em casa. — Você vai jantar com a gente outra vez? Oba! — exclamou o garoto, todo feliz. Ela sorriu: — Vou, querido. E, se quiser, te coloco na cama como ontem... — Tio Ralph, tio Ralph! — gritou todo feliz, entrando em casa, deixando os dois para trás. — Ele está transbordando de felicidade. E você fez isso. — disse Victor, olhando para ela, cheio de ternura. — É um bom garoto, Victor. Vai ficar tudo bem. Ele a puxou novamente para perto e a beijou com intensidade, aumentando a vontade de Jacqueline. — Preciso ir pra casa, tomar um banho... Volto depois... — Não! Eu vou levá-la. Deixe apenas ver se está tudo bem por aqui... Ralph trabalhava no tal artigo e, assim que olhou para os dois, soube o que se passava entre eles. — Vá levar Jacqueline que eu cuido do Andrew e do jantar. Vai provar minha especialidade, querida: pizza por encomenda. Ela riu. Sabia que Ralph percebeu o que estava acontecendo e parecia aprovar. Nõ caminho para seu apartamento, ela sentia o corpo inteiro tremer de expectativa. O toque dele era forte e cheio de urgência, e a deixou completamente entregue. Ansiava por ele. De onde vinha aquele desespero, não sabia dizer. Victor era um homem incrivelmente sedutor e atraente. A voz, o olhar, aquele traço de drama e mistério que havia nele conquistaram-na por inteiro. — Você é linda. — disse, percorrendo-a com os olhos cheios de desejo. Jacqueline convidou-o a entrar. — Fique à vontade, vou tomar um banho rápido e já volto... Pegue uma bebida e... Ele a puxou pelo braço, trazendo-a para junto do seu corpo. Seus olhos se prenderam e o fogo que havia neles deixou claro que o banho dela ficaria para depois. Victor a apertou pela cintura, colando-se no corpo dela, enquanto a beijava com voracidade. Jacqueline, atordoada por tudo que sentia, parou de pensar e seguiu seus sentimentos. Aboca de Victor, quente e sedenta, percorria seu pescoço, as orelhas, e ela se soltou em seus braços. Seu casaco caiu, depois o dele. As blusas foram tiradas e o tórax musculoso e atlético dele tocou a pele dos seus seios, arrancando-lhe um gemido alto. 47


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Jacqueline...— murmurou ele, fechando os olhos e apertando-a contra o peito. Suas roupas sumiram rapidamente: a urgência deles era muita. Beijando-a vorazmente, olhou em volta e viu a mesa da sala de jantar. Deitou-a sobre ela, mordendo seus seios e ventre, apertando cada parte do seu corpo com mãos fortes. Completamente tomada por aquele desejo insano que aparecera do nada, Jacqueline gemia alto, enquanto ele a explorava de todas maneiras. Desceu as mãos por seu corpo e mergulhou os dedos por entre sua intimidade úmida, sentindo-a pronta para recebê-lo. Jacqueline arfou ainda mais, vendo sua masculinidade intumescida e potente. Com um gesto delicado, porém firme, ele separou-lhe as pernas e penetrou-a de uma só vez. Ela gritou de prazer, de desejo, de surpresa. Victor era o mais ardente dos homens. Olhando-se nos olhos, sentiam seus corpos pulsarem, clamando pelo momento final. Ele começou a se movimentar dentro dela e, embora pudesse sentir ternura naquela dança, sua firmeza e virilidade eram imperiosas. Cada vez mais rápido, ele a conduzia a um mundo só deles, até que, não conseguindo mais se conter, os dois explodiram de prazer, entre gritos altos e gemidos loucos. Do outro lado da parede, Terry sorriu: "Imagine se eu fizesse como ela e batesse na parede por causa do barulho...", pensou soltando uma gargalhada. Jacqueline, ainda completamente tomada por aquele fogo que se apoderou deles, não conseguia dizer uma só palavra. Victor pu— xou-a para ele e a abraçou forte. — Jacqueline... — murmurou, e em sua voz havia tanta intensidade e sentimento, que nada mais precisava ser dito. Ela soube que nunca mais se separariam. Abraçou-o forte, querendo sentir aquele corpo maravilhoso junto dela para sempre. Mas pouco depois foram interrompidos pelo celular dele, que começou a tocar, arrancando-os do seu momento de amor. — Volte imediatamente e traga Jacqueline! — gritou Ralph, apavorado. — Andrew está tendo uma crise e eu não sei o que fazer. Ainda sentindo o corpo vibrar pelo amor, eles saíram correndo e só então Jacqueline pensou que havia feito amor com um homem praticamente desconhecido, sem usar qualquer tipo de proteção. Parecendo ler os seus pensamentos, ele disse: — Não tive ninguém por seis anos... Ainda assim, devíamos ter usado alguma coisa... Ela se recostou nele, murmurando: — E verdade... Ralph os encontrou na porta. — Pelo amor de Deus, andem logo. Ele não está nada bem. Dentro de casa, cacos de vidro e papéis espalhados pelo chão indicavam que 48


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie dessa vez a crise do menino era bem mais séria. — Você tem o telefone de Marcy? — perguntou Jacqueline. Ralph fez que sim com a cabeça, enquanto subiam as escadas rapidamente. — Ligue pra ela. Conte o que está acontecendo e diga-lhe que venha pra cá agora. Andrew andava de um lado para outro do quarto, o olhar distante e vidrado, parecendo em transe. — Andrew. — Victor correu até ele, mas o filho o rejeitou. — Vocês me esqueceram, tão envolvidos que estavam um pelo outro! — Não, filho! Nós te amamos, Andrew! — Eu não sou Andrew! Andrew está dormindo, agora. — E quem é você? — perguntou Jacqueline, fazendo um gesto para Victor se calar. O menino não respondeu e ela insistiu: — Quem é você? E a mesma pessoa que pediu ajuda àquela noite no restaurante, não é? —-Ajuda que vocês não me deram, mais interessados em seu casinho de amor. Será que não entendem que bebês inocentes morrem? O seu, inclusive. — Do que está falando? Não tenho filhos nem nunca tive. — Jacqueline procurava a todo custo manter-se calma e ganhar tempo, até que Marcy chegasse. Victor olhava para ela e para o filho com desespero, completamente perdido e arrasado. Para ele, Andrew estava enlouquecendo ou tinha alguma doença incurável. — Não tinha... Agora tem. E, se quer que essa criança viva, é melhor me ajudar. — disse Andrew, ainda de olhos vidrados. — Quem é você? Precisa me dizer seu nome e o que quer! — pediu Jacqueline, certa de que estava falando com outra personalidade do garoto. Andrew virou-se para ela, mas seu olhar ainda não mostrava qualquer sinal de consciência. — Meu nome é Helen Milani e quero que vocês me libertem. Encontrem Suzan e a árvore. Agora Jacqueline estava assustada, sem saber o que dizer. — E quem é Suzan, Helen? — perguntou Marcy, entrando no quarto. — Vá embora! Não confio em você. — gritou Andrew. Marcy e a amiga trocaram um olhar, mas a psicóloga não cedeu. — Não vou sair daqui. Você se manifestou por uma razão e quero saber qual é. Posso ajudar você. 49


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Victor não suportava mais: olhava para o estado catatônico do filho e, achando toda aquela situação apavorante, gritou: — Deixe meu filho em paz! Por favor, vá embora! — Vocês não entendem, não é? Estou aqui porque preciso da sua ajuda e vocês da minha, se querem que este bebê sobreviva. Marcy encarou Jacqueline, mas ela se manteve firme. — Por favor, Helen, explique sobre o que está falando e quem é Suzan. — pediu, procurando controlar a voz. • — Suzan Spencer... Encontrem Suzan Spencer e a árvore. Eu preciso ir ou o menino não resistirá. — disse, e imediatamente Andrew caiu no chão, desacordado. Desesperado, Victor pegou-o nos braços, olhando para Jacqueline como quem pede socorro. — Hospital, agora! — disse Marcy, entendendo a situação — Vou com vocês. Ralph foi o único que não fez menção de se mover. — Vão vocês, eu fico aqui, caso alguém precise de alguma coisa. Apenas me dêem notícias. Marcy trocou um olhar estranho com o rapaz, mas, em meio a todo aquele desespero, quem ia reparar? Mais uma vez, Andrew foi examinado, medicado, e passaria a noite no hospital. A diferença é que, ao acordar, não iria embora. O médico queria fazer exames mais detalhados e ele teria de estar acordado. — Você é a terapeuta dele? — perguntou o pediatra, olhando Marcy, preocupado. — Sou. — mentiu ela. — E o que me diz? — Sinceramente, não sei... Nunca vi nada assim. Normalmente, manifestações de personalidades múltiplas não são transes. Ao contrário, a nova personalidade que se manifesta faz questão de se mostrar cheia de vida e vigor. Ele parecia mais "tomado" por alguma cosia, entende? — Não vá me dizer que você é dessas terapeutas que acreditam em incensos e fadinhas! — Não, longe disso, apenas nunca vi nada assim... — Bem, amanhã vamos fazer todos os exames e, quem sabe, descobrimos alguma coisa. — E se não houver nada? — perguntou Jacqueline, aproximando-se. — Nesse caso, não posso mantê-lo aqui. Talvez devam consultar um neurologista ou psiquiatra. No momento, é melhor manterem-se calmos e aguardar até amanhã. 50


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Ela sabia que o médico tinha razão, mas como dizê-lo a Victor? Ele estava sentado ao lado do filho, com uma expressão de dar dó. Parecia que o mundo inteiro havia desabado sobre sua cabeça. — Quer tomar um café? Marcy já foi e Andrew está sedado. Vamos? — convidou, murmurando, para não incomodar o doente. — Mais tarde, agora quero ficar com ele. Jacqueline sentou-se ao lado do homem que pouco tempo antes a enlouquecera de prazer, e segurou sua mão. — Obrigado por estar aqui. — disse ele. — Não sei se conseguiria sozinho. Ela não respondeu, apenas apertou a mão dele com mais força. Em sua cabeça, as palavras de Andrew, ou de Helen (ela já nem sabia mais quem era quem), ecoavam: "Estou aqui porque preciso da sua ajuda e vocês da minha, se querem que este bebê sobreviva." Será que ela havia engravidado de Victor?

Capítulo 7

Jornalistas são criaturas à parte. Nunca acreditam em nada, mas investigam tudo. Têm um faro apuradíssimo para coisas esquisitas que podem render boas matérias. E Ralph Burton não era exceção. Curioso ao extremo, profissional competente e apaixonado por Andrew, seu instinto dizia que ali havia mais do que uma perturbação psicológica qualquer. Não fazia idéia do que era, mas também não ia ignorar o que sua inteligência apontava como algo fora do comum. Assim que todos saíram para o hospital, Ralph pegou um café e sentou-se no computador. Buscou por Helen Milani, mas não encontrou nada que valesse a pena. Então procurou por Suzan Spencer. Entre as várias referências, encontrou algumas da Universidade de Boston. Anotou tudo e ligou para a plantonista da redação: — Myrthes, minha deusa, preciso que me faça um favor urgente. — Você é um cachorro, Ralph Burton. Vá falando, o que quer de mim, desta vez? — Preciso que localize duas pessoas pra mim e veja se há alguma ligação entre elas. Só não sei delimitar o tempo, portanto me passe tudo que encontrar. — Estamos em uma noite de domingo, sabia? — Eu sei, querida, e não pediria se não fosse absolutamente urgente, mas é. 51


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Myrthes soltou mais uma meia dúzia de reclamações, entre elas uma que se referia ao fato de Ralph nunca mais tê-la convidado para sair, e desligou. Sem nada para fazer, resolveu investigar o tal link da Universidade de Boston e ver o que encontrava. Depois de horas e sem nenhum resultado efetivo, foi se deitar, imaginando o que seria aquela história toda. Andrew era como se fosse seu sobrinho e, se dependesse dele, nada de ruim ia acontecer a ele. "Não tenha medo, campeão, tio Ralph vai te salvar", pensou, antes de adormecer profundamente. Andrew, como aconteceu anteriormente, acordou sem saber o que havia acontecido. Assustado, perguntou: — Eu vou morrer? — Claro que não, filho! Você vai fazer alguns exames e depois vamos embora, só isso. — Mas o que está errado comigo? Por que fico vindo pro hospital toda hora? — Você desmaiou, meu bem, e precisamos saber a razão disso, entende? — explicou Jacqueline. O menino foi levado para exames e, assim que saiu, Victor desabou. Toda tensão, medo e impotência que sentia e que vinha mantendo sob controle se apoderaram dele, no momento em que Jacqueline afagou seus cabelos e pousou um beijo em seu rosto. Como um dique que se rompe e libera toda a água represada, suas emoções fluíram e ele caiu no choro. Jacqueline sentou-se na cama e ele, com a cabeça em seu colo, desabafou seu sofrimento. — Vai ficar tudo bem, Victor, eu prometo. Você precisa tomar um bom banho quente e descansar um pouco. — Jacqueline, eu... nós... nem deu tempo de falar sobre o que aconteceu com a gente, mas, por favor, não vá embora. — Eu não vou... Vou ficar aqui com você e Andrew. Quanto a nós... depois falamos disso, está bem? Temos tempo. Ele agarrou-se nela, como uma criança assustada que se agarra à mãe, e ela pensou: "Como um homem tão forte e sedutor pode ser, ao mesmo tempo, tão frágil e carente? Eu o amo", e passou a mão pelos seus cabelos macios, sentindo que havia encontrado nele todo mistério e drama que tanto a fascinavam. Ralph acordou ainda vestido, esparramado sobre a cama, com o telefone tocando em seu ouvido. — Viu o e-mail que mandei? — perguntou Myrthes, com voz firme, nem parecendo que estava acordada há 24 horas. — Não... acabei de acordar... O que descobriu? Ainda está na redação? Céus! Vá dormir, mulher. 52


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Vá logo olhar e me ligue. — disse ela, desligando. Amarrotado e com um aspecto de bêbado que dormiu na calçada, ele obedeceu. Em sua busca, Myrthes encontrou várias Helens e Suzans, mas apenas duas tinham um traço em comum: nasceram em Montains Hollow, Massachussets, Helen, em 1934, e Suzan, em 1935. Bem, já era um começo. Ligou para Myrthes: — Pode refinar essa pesquisa pra mim? Tente descobrir onde andam essas duas, se é que ainda estão vivas... — Já fiz isso. Helen Milani faleceu em 1952, aos 18 anos, e Suzan Spencer formou-se na Universidade de Boston, em 1957. Fui até aí . O que quer que eu faça agora? — Vá dormir, Myrthes. Vou ver o que consigo daí em diante. — Ligue pra mim no meio da tarde, se precisar de alguma coisa. Fiquei curiosa; o que está querendo descobrir? — Um fantasma. — disse, desligando antes que ela comentasse mais alguma coisa. Andrew retomou dos exames muitas horas depois, dormindo, em função dos remédios. — E então? — perguntou Victor ao médico. — Do que vimos até agora, está tudo bem com ele. A tomografia apenas mostrou que é um garoto saudável. Nas próximas horas, vou receber os outros resultados e, se tudo estiver bem, assim que ele acordar, pode levá-lo. — Obrigado por tudo. — disse ao médico. — Senhor Hamilton, se me permite uma observação, ainda insisto em que o menino passe por uma avaliação psiquiátrica e que o senhor consulte um bom neurologista. O que fizemos aqui foram apenas exames de rotina... — Farei isso. — garantiu. Olhou para o filho com um misto de amor e preocupação, sem saber o que o aguardava. — Seria bom telefonar para Marcy e Ralph. Eles devem estar preocupados... — Vou fazer isso. — disse, saindo do quarto — Obrigado, Jacqueline. Ela sorriu e ele a abraçou forte. Marcy ficou aliviada ao saber que Andrew estava bem fisicamente, mas preocupou-se com o seu estado emocional. Assim como Ralph, havia passado boa parte da noite pesquisando casos semelhantes ao dele, e o que encontrou perturbou-a ainda mais. Todos eles, dados como inexplicáveis, apontavam para perturbações psicológicas que desapareceram misteriosamente com tratamentos espirituais feitos pelas famílias à revelia dos médicos. E suas preocupações só aumentaram quando Ralph, horas depois, ligou, convidando-a para um café. 53


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Você não vai acreditar no que descobri, não vai acreditar. Nem eu acredito! — Descobriu sobre o quê? — Helen Milani e Suzan Spencer. Marcy, se isso for o que parece, estamos diante de uma manifestação mediúnica legítima, e Andrew não é doente, ele é médium! — Você acredita nessas coisas? — perguntou, com uma ponta de decepção na voz. — Não. Mas você conhece o ditado: "Não creio em bruxas, mas que existem, existem!", disse, antes de desligar. Jacqueline ligou para a escola e alegou não estar se sentindo bem. Pediu que a contatassem pelo celular, caso algo acontecesse. Não queria sair de perto de Victor e Andrew. Eles precisavam mais dela do que a escola, naquele momento. A alta do garoto só saiu no final da tarde, e sua aparência abatida e desanimada preocupou o pai. — Efeito dos remédios. Um dia em casa, com alimentação adequada e uma boa noite de sono, ele volta ao normal. — garantiu o médico. — Que quer fazer? — perguntou Victor a Jacqueline. — Quer que te deixe em casa ou fica conosco? O que prefere? — Fica comigo, Jacqueline. — pediu o menino. — Preciso de roupas e também ver se está tudo bem em casa. Desde ontem de manhã não tomo um banho. — disse e corou em seguida, lembrando-se da cena de sexo selvagem entre ela e Victor. — Mas, se esperarem um pouco, eu pego algumas coisas e fico com vocês. O menino sorriu, feliz. E Victor, também. Ele jamais pediria a ela que ficasse, pois devia estar esgotada, mas também não queria que ela se fosse. E, quem sabe, se tudo corresse bem naquela noite, eles não podiam finalmente ter uma conversa? A casa dela ainda mostrava os sinais da aventura sexual vivida no dia anterior: vários objetos jogados pelo chão, o sutiã sobre o sofá, cadeiras fora do lugar. — Eu já volto. — disse, sumindo por uma porta. — Você gosta dela, não é pai? — perguntou Andrew, ainda meio sonolento. — Claro, você também gosta. — Não. Tô perguntando se você gosta dela como os adultos gostam... você sabe. Victor riu: — Mas o que é isso, agora? E se eu gostar, o que você pensa sobre o assunto? — Que Jacqueline será uma ótima segunda mãe... porque a mamãe sempre vem antes, né? — Eu te amo, meu filho... 54


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Também te amo, pai. — disse, todo feliz. Jacqueline instalou-se no quarto pegado ao de Victor, um aposento confortável, com banheiro privativo, mobiliado com sobriedade e forte toque masculino. — Bem, creio que agora vamos todos tomar banho. — disse ela, sorrindo. — Uma boa pedida, realmente. — concordou Victor, carregando Andrew com ele. Só então notou a ausência de Ralph. Onde andaria o amigo? Trabalhando, com certeza. Afinal, a vida segue para todos. Enquanto Jacqueline e Victor, depois de banhados e mais descansados, preparavam o jantar, Marcy e Ralph, na casa dela, discutiam o que fazer. — Veja, sei que tudo parece perfeito, mas você está esquecendo um detalhe: fantasmas não existem! — disse ela, começando a se irritar com aquela insistência dele. — E quem está falando que existem? Estou falando em um desses fenômenos sem explicação que acontecem no mundo, como UFOs e lobisomens! — Uma mulher que morreu há 53 anos se manifestando através de um garoto... Como chama a isso? — Inexplicável? Surpreendente? Fantástico? — Sem comentários. E o que pretende fazer? — Falar com Victor... e essa vai a parte mais difícil. Espero que sua amiga francesa dê uma ajuda... — Jacqueline vai rir na sua cara, quando lhe contar suas idéias, isso sim. Aliás, nem sei por que não fiz o mesmo. — Porque você me acha uma graça e, no fundo, sabe que talvez eu tenha razão. Marcy suspirou. O pior era que ela pensava exatamente isso. — Talvez, eu disse talvez, tenha um fundo de verdade nessa maluquice toda. Bem, vou ligar para Jacqueline e então veremos. Eles estavam jantando, quando Marcy ligou, dizendo que ela e Ralph queriam vêla, mas sem a presença de Victor. Estranhando aquele pedido, Jacqueline marcou com eles para a manhã seguinte, na escola, e desligou. Andrew, ainda sob o efeito do sedativo, caiu no sono, logo após o jantar. Finalmente o casal ficou sozinho. — Um copo de vinho antes de dormir? -— perguntou Victor, olhando intensamente para ela. — Um copo e nada mais. Precisamos descansar, todos nós. Tenho de voltar ao trabalho amanhã e Andrew tem escola. — Será que seria bom ele ir? 55


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Acredito que não haja razão para alterar a vida dele. Já está assustado e, se não assistir às aulas, pode começar a se sentir ainda pior. Ele sentou-se ao lado dela, olhando-a cheio de temura. Ela sorriu. Ele a beijou. Todas as palavras morreram naquele momento. Nada que dissessem seria mais eloqüente do que o beijo que trocaram. Dessa vez, a sede do desejo deu lugar à ternura e ao carinho, e Victor beijou-a longa e apaixonadamente, expressando todos os seus sentimentos naquele gesto de amor. Sem uma palavra, olhou-a nos olhos e soube que Jacqueline o amava. Sua boca entreaberta e úmida era um convite para os seus lábios — que ele aceitou sem pestanejar, beijando-a cada vez mais intensamente. Jacqueline sentiu o desejo consumir seu corpo, quando as mãos dele desceram até seus seios, buscando os mamilos, que enrijeceram ao toque daqueles dedos hábeis. — Não... por favor, Victor... eu... aqui, não... — Não... aqui, não. — disse ele, levantando-se e pagando-a pela mão. Se a sua primeira vez foi quase um ato de desespero e impaciência, agora Victor e Jacqueline se exploraram e acariciaram durante muito tempo, começando a conhecer cada pedaço dos seus corpos. Ele a lambeu, acariciou e beijou em todos os lugares prováveis e improváveis, e ela correspondeu com carícias que o fizeram enlouquecer. — Sou louco por você, Jacqueline louco. — disse, pegando-a com vigor — Você me faz sentir vivo, me faz pulsar. Cada vez que te vejo, quero te agarrar e te despir. Nunca senti isso, nem mesmo... — ele se calou. Ela sabia que Victor se referia à esposa. — Então me agarre, me dispa, e me deixe como estou agora, entregue a você, completamente sua. — respondeu, beijando-o com paixão. — Eu te amo. — disse ele, com expressão séria e profunda. — Eu também. — murmurou ela, acariciando-lhe os ombros fortes com os lábios. Ele piscou e, com lágrimas nos olhos, novamente a fez sua mulher, sentindo a vida correndo pelas veias e o amor invadindo seu coração. Adormeceram juntos, completamente nus, abraçados, sentindo que a cada minuto pertenciam-se mais.

Capítulo 8

— Do que vocês estão falando? Ficaram loucos, os dois? — perguntou Jacqueline, 56


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie olhando zangada para Ralph e Marcy — E você? Você é psicóloga! Tenha juízo! Meu Deus... — Escute, Jacqueline, me deixe explicar tudo e então você emite sua opinião, pode ser? — perguntou Ralph, enquanto caminhavam pelos jardim da escola. Ela concordou. — Bem, depois que vocês levaram Andrew para o hospital no domingo, eu fiquei com aquilo tudo rodando na cabeça e resolvi, apenas para tirar a dúvida, procurar por Helen Milani e Suzan Spencer na Internet. Jacqueline olhou-o com o canto dos olhos, mas continuou ouvindo. — Bem, claro que achei várias referências, afinal não são nomes incomuns. Quanto a Helen, nada do que encontrei me chamou a atenção, mas havia uma referência a Suzan no site da Universidade Boston, que me pareceu interessante investigar. Foi então que pensei: por que não usar os recursos da revista para isso? Como nenhuma das duas pareceu considerá-lo nem uma gota mais inteligente por isso, Ralph continuou: — Bem, a moça que fez a pesquisa pra mim conseguiu encontrar uma conexão entre a Suzan da universidade com Helen Milani. Ambas eram da mesma cidade, Montains Hollow. Refinando a pesquisa, ela descobriu que Helen faleceu em um acidente de carro em 1952, aos 18 anos. Então, a partir daí, precisei dar tratos à bola e acionar todos os meus contatos, para, finalmente, chegar a algo que, creio, pode realmente nos ajudar. — E o que é? Até agora, apesar das coincidências dos nomes, não vi nada que tenha ligação com Andrew. — Primeiro, consegui uma foto de Helen Milani, tirada ainda no colégio. Ela era loira, bonita e tinha olhòs azuis, exatamente como Andrew descreveu a amiga imaginária, Blue. Segundo, e agora vem o mais interessante: consegui falar por telefone com uma senhora que foi professora delas no segundo grau. Imaginem, a mulher ainda está viva! E sabem o que descobri? — Não, Ralph, não sei. — disse Jacqueline, olhando diretamente para ele. — Helen Milani e Suzan Spencer eram amigas inseparáveis. Quando Helen morreu, Suzan entrou em depressão e quase abandonou a universidade. — E o que isso tem a ver com Andrew? Cadê o fantasma? — Jacqueline, se não estivesse tão preocupada, já teria caído na risada. — Não vê? Como Andrew podia saber sobre Helen e Suzan? E claro que a tal Helen está pedindo ajuda! Agora, só precisamos achar a tal Suzan... Jacqueline olhou para Marcy: — Você concorda com isso? — perguntou, incrédula. — Não exatamente, mas há casos estranhos, sabe? A psicologia não explica tudo 57


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie e a mente humana é um grande mistério... Não tenho opinião formada sobre o assunto. — Escute aqui, Ralph, mesmo que você consiga encontrar a tal Suzan, que, imagino, deve estar morta a esta altura, o que vai dizer a ela? "Encontrei sua amiga Helen"? Tenha dó! Ele ia dizer que já estava procurando por Suzan Spencer e, caso a encontrasse, pretendia levar Andrew até ela, já que o menino parecia ser o elo entre Helen e a amiga, mas não teve tempo. Uma das inspetoras da escola apareceu, aflita, chamando por Jacqueline: — Senhorita Théry, senhorita Théry, venha! ÉAndrew Hamilton. — O que aconteceu com ele? — perguntou, enquanto corriam de volta ao prédio da escola. — Começou a gritar e a quebrar tudo, falando coisas sem sentido. Ele está estranho, parece... possuído. — disse a professora, assustada. — Não repita isso nunca mais, está entendendo? Nunca mais! — Sim, senhorita.... Andrew estava em pé, em um canto da sala de aula, que havia sido esvaziada. — Andrew, está tudo bem? — perguntou Jacqueline, aproximando-se. — Seu bebê vai morrer! Por que não entende o que eu digo? — gritou o garoto, o olhar vidrado, o rosto pálido. — De que bebê ele está falando? — cochichou Ralph para Marcy, que encolheu os ombros como quem diz: "Eu sei lá!" — Helen? — perguntou Marcy, aproximando-se. — E quem mais? — respondeu, com ironia. — Sabemos quem é você... meu amigo aqui pesquisou sobre sua vida. Sabemos que nasceu em Montains Hollow, faleceu em um acidente de carro e que Suzan Spencer era sua amiga... Se quiser que a ajudemos, precisa nos dizer mais. — Marcy tinha noção exata da falta de lógica em tudo aquilo, mas, ainda assim, resolveu tentar. E se Ralph estivesse certo e o espírito de Helen quisesse mesmo se comunicar com eles? — Agora acredita em mim? — perguntou o menino, com voz irônica. A respiração de Andrew mudou, tornando-se pesada e difícil: — Os bebês morreram... todos eles... e eu não pude fazer nada... — lágrimas rolavam por seu rosto. — Achem a árvore, achem Suzan, por favor, achem Suzan. — pediu. — Precisa nos ajudar. — pediu Ralph, aproximando-se. — Nós amamos Andrew e você vai acabar matando-o, assim... Diga o que temos de fazer... Que árvore é essa? — A árvore da bruxa. — disse o menino, com voz fraca, e desmaiou em seguida. 58


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Ah, meu Deus, de novo, não, de novo, não! — Jacqueline pegou-o no colo e o levou dali. — Ele precisa ir para o hospital. — disse Marcy. — Ele precisa de repouso. Não vou levá-lo de novo para aquele lugar e deixá-lo ser picado e virado do avesso. Vou levá-lo para casa. Então, dirigindo-se a Ralph, pediu, com voz assustada: — Ache Suzan Spencer, por favor. — Vai falar com Victor sobre o assunto? — perguntou ele, antes de se afastar. — Não sei... Vou levar Andrew e então pensar em como falar com Victor. Ele não vai acreditar. E, sinceramente, nem eu acredito. — Nenhum de nós acredita, querida, nenhum de nós... — disse, vendo o carro dela se afastar. — O que fazemos agora? — perguntou Marcy, com olhar carregado. — Você, eu não sei... Eu vou para Montains Hollow. Alguém lá deve saber de alguma coisa. Devo estar de volta à noite ou amanhã, pela manhã. Qualquer coisa, telefone para o meu celular. Marcy acompanhou-o de volta ao carro: — Dirija com cuidado e dê notícias. — Farei isso. — disse ele, dando um rápido beijo na sua boca, antes de entrar no carro e partir, sem se dar conta de como o gesto havia sido natural e espontâneo. Muito depois que Ralph desapareceu de vista., Marcy continuou ali, em pé, a cabeça girando. Ela era gordinha e baixinha, sem nada de especial. Ele era um homem alto, com aspecto de galã de cinema. Será possível que estivesse interessado nela ou seu beijo foi apenas motivado pela pressão e preocupação do momento? Ela não sabia, mas Ralph se perguntava exatamente a mesma coisa. Victor estava em uma reunião importante, quando Jacqueline ligou. A secretária, não querendo interrompê-lo, anotou o recado, dizendo que ele não podia atender. Meia hora depois, Jacqueline ligou novamente e a mulher falou a mesma coisa. No terceiro telefonema, ela perdeu a paciência. — Escute aqui, moça, o filho dele desmaiou na escola e eu estou com ele aqui, na casa do Victor. Trate de colocá-lo na linha agora! — Claro...quem está falando, por favor? — a mulher assustou-se. "Idiota", pensou Jacqueline, dando seu nome Victor saiu, assim que falou com ela. Não era possível, não novamente. Concordava com Jacqueline em não levar o menino para o hospital. Andrew já sofrera o suficiente. Olhou-o dormindo no sofá e virou-se para Jacqueline: 59


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — O que houve desta vez? — perguntou, com voz arrasada. Ela contou, omitindo a parte sobre as idéias de Ralph. — Meu Deus, isso não vai ter fim? O que vamos fazer, Jacqueline? — Não sei... Vamos deixá-lo descansar e ver como acorda... — Eu fico aqui, você precisa voltar para o trabalho... Tenho exigido demais de você nos últimos dias... — Não se preocupe com isso. Você avisou que era um homem complicado. — disse ela, sorrindo — E eu aceitei que fosse assim. Ele a abraçou forte, sem saber o que havia feito para merecer alguém como ela a seu lado. Andrew acordou muito mais tarde, mais ou menos na mesma hora em que Ralph Burton chegava a Montains Hollow. Seu carro, um reluzente Porsche prateado, chamou atenção na cidade. Sem saber bem por onde começar, procurou um lugar onde todo mundo sabe da vida de todo mundo, em uma cidadezinha como aquela: o bar da rua principal. Entrou, pediu uma bebida quente e começou a puxar conversa com o atendente, um rapaz que não passava dos 20 anos. Era novo demais, precisava falar com alguém mais velho. — Escute, amigo, se eu quisesse saber tudo sobre a história das pessoas daqui, com quem deveria falar? — perguntou, deslizando uma nota de 20 dólares sobre o balcão. — Al Peterson. Ele sabe de tudo. Está escrevendo um livro sobre Montains Hollow? — quis saber, cheio de curiosidade, guardando a nota no bolso. — Mais ou menos isso... Onde acho esse Al Peterson? — Siga em frente nesta rua, dobre a segunda à direita e depois à esquerda. A casa de Al é a quarta ou quinta da rua... Não tem erro, tem uma bandeira na porta. Ralph agradeceu e saiu. Bandeira hasteada... grande coisa! Todas as casas do interior a tinham, pensou. Mas o menino tinha razão. Assim que viu a casa, soube que era a de Al. A bandeira não estava apenas hasteada, mas estampada na porta. Al era um sujeito grandalhão, gordo e vermelho, cuja barriga imensa denunciava seu pronunciado gosto por cervejas e comidas saturadas. Devia ter de 60 a 70 anos, mais ou menos, era difícil precisar. — Al Peterson? — perguntou ao homem que lhe abriu a porta. — É do imposto de renda? — perguntou, com cara fechada e voz ameaçadora. — Não... sou jornalista, Ralph Burton. Como vai? Disseram-me que você sabe tudo sobre esta cidade... — Isso depende de quem pergunta. — respondeu, ainda desconfiado.

60


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Quero fazer uma matéria sobre cidades pequenas e charmosas, e escolhi Montains Hollow como centro das minhas pesquisas. — mentiu descaradamente, sem nem ao menos se embaraçar. — Esta cidade tem mais que charme... é o berço de dois grandes heróis da Segunda Guerra! Mas você não deve saber nada disso... O que vocês, jovens modernos, sabem sobre esse assunto? Nada! Nem se importam... — Mas eu me importo e muito. Meu avô esteve na Guerra. — E mesmo? E quem era seu avô? — Thomaz Burton, segundo regimento de infantaria. Al diminuiu a desconfiança: — Elliot Spencer era da infantaria, mas seria de outro regimento? — Spencer? Pai de Suzan Spencer? — Esse mesmo. Conheceu nossa Suzan? Uma beleza de menina. Doce feito mel... Foi para Boston, sabe? Coitada... Ralph sentiu o coração acelerar no peito. — Elliot é um dos heróis que comentou? E quem é o outro? — Cari Milani... Era piloto. Várias medalhas. Derrubou mais nazistas do que qualquer um! — Milani? Algum parentesco com Helen Milani? — Pai dela. Não sei como sabe disso... Foi Suzan quem contou? — Não, na verdade não. Alguma chance de algum deles ainda estar vivo? Al riu: — Todos mortos. Entre, vamos tomar uma cerveja e sair deste frio dos diabos. Com medo de falar demais e assustar o velho Al Peterson, Ralph falou sobre a guerra, xingou os alemães e os japoneses junto com ele e, quando estava já na quinta cerveja, perguntou: — Você chamou Suzan Spencer de coitada... o que houve com ela? — Bem, primeiro o pai voltou esquisito da guerra. Malditos nazistas... — Concordo, mas você estava dizendo... — Ah sim... Depois, a amiga morreu daquele jeito, no dia da formatura. Elas eram muito ligadas, sabe? Suzan e Helen... e lindas, as duas. Pareciam mulheres de capa de revista, uma beleza. Ralph suspirou e aguardou que Al voltasse ao assunto. — Suzan ficou doente quando Helen morreu, .depressão ou algo assim. Ia desistir da faculdade, mas acabou mudando de idéia e se formou, alguns anos depois. Era o 61


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie orgulho da mãe... — Imagino... Mas o que houve com ela? — Foi pra Paris e lá reencontrou Brian McLay. Casaram-se pouco depois, um festão, precisava ver. E Suzan convidou a cidade toda... Não se esqueceu de nós, a nossa menina. — Desculpe, eu não entendi bem... quem é Brian McLay? — Ele morou aqui um tempo, mas depois foi estudar fora. — E onde mora agora o senhor McLay? — No cemitério de Boston. Morreu faz 10 anos. — E Suzan? — Ah, ela não sei... Deve estar lá também. — No cemitério? — Não, em Boston. A família dele era toda de lá. Ralph sorriu. — Al, mais uma pergunta e prometo que será a última. Você já ouviu falar em uma árvore da bruxa? Sabe do que se trata? O homem soltou uma gargalhada divertida: — Vocês, jornalistas, são mesmo uma praga! Até isso descobriu? — Então existe? — Claro, fica alguns quarteirões fora da cidade. É uma árvore velha que o povo antigo dizia que foi plantada para aprisionar a alma de uma bruxa enterrada ali. Lenda, nada mais. Outra cerveja? — ofereceu. — Não, já tomei minha cota do dia, obrigado. Você ajudou muito. Assim que a matéria sair, mando um exemplar da revista pra você. — disse, sentindo-se meio tonto por causa da bebida. Da casa de Al, Ralph foi até a tal árvore, que nada mais era que um velho carvalho, cheio de corações gravados em seu tronco. De lá, foi até o cemitério. Depositou algumas flores no túmulo de Helen, respeitoso. Saiu de Montains Hollow no final do dia, a noite começando a chegar sobre a linda Massachussets. — Suzan Spencer... Suzan McLay... Vou encontrar você. — disse, ligando para a redação. Andrew almoçou bem, conversou durante algum tempo com Jacqueline e Victor, e depois dormiu novamente, alegando que estava muito cansado. O pai olhou-o, cheio de ternura e carinho, e ficou durante um bom tempo deitado ao seu lado, perdido em pensamentos. Sem perceber, pegou no sono, abraçado ao filho. 62


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Jacqueline, por outro lado, repassava a conversa daquela manhã e procurava encontrar um jeito de tocar no assunto com Victor. Não que acreditasse naquilo, mas casos desesperadores pedem medidas desesperadas. Então, não custava nada tentar. Isso, se Ral— ph encontrasse a tal Suzan, se ela estivesse viva, se concordasse em recebê-los... Eram muitos ses para uma pessoa só. Porém Jacqueline não era a única que remoía aquela história. Marcy também não se conformava. Aquilo ia contra tudo o que aprendeu em seus muitos anos de profissão e também em que acreditava. Tinha de haver outra explicação, mas qual? Ainda tentando se convencer que Ralph estava vendo coisas onde nada havia, voltou aos livros e retomou sua pesquisa. Foi arrancada do seu estudo pelo toque do telefone: — Eu achei! Suzan Spencer se chama Suzan McLay e mora em Boston. Devo conseguir o endereço dela a qualquer momento! — ele estava excitadíssimo — Sabe se Jacqueline falou com Victor? Sabe do Andrew? — Não, ainda não falei com Jacqueline. Estava pensando em ligar mais tarde... Onde está? — A caminho daí. Ouça, assim que tiver novidades, ligo ou você me liga, está bem? Ela disse que sim e desligou. Nem uma palavra sequer sobre o beijo daquela manhã foi dita ou o episódio mencionado. Marcy concluiu que devia esquecer o assunto e se concentrar em Andrew e suas estranhas manifestações. Sem nada que pudesse fazer, ligou para Jacqueline e lhe contou as novidades: — Ele encontrou Suzan Spencer? Meu Deus, então ela existe mesmo? — perguntou incrédula — E agora? — Ralph vai tentar conseguir o endereço dela, depois, não sei... Você chegou a falar alguma coisa com Victor? — Não... nem toquei no assunto. Creio que Victor não vai reagir muito bem. E nem podemos censurá-lo, quero dizer, quem reagiria bem a uma coisa dessas? — Ninguém... Bem, qualquer coisa eu ligo ou você liga. — disse a psicóloga, desligando. — Vou reagir mal a quê? — perguntou Victor, aproximando-se — Desculpe, eu vinha descendo e não pude deixar de ouvir... — Andrew? — Dormindo, ainda... Com quem estava falando? — Marcy... Sente-se aqui, Victor, precisamos conversar sobre o que está acontecendo com Andrew. Ele obedeceu, olhando para ela de modo esquisito. — Antes de dizer qualquer coisa, Jacqueline, quero que saiba que eu te amo. — Eu também. Só espero que se lembre disso quando eu terminar de falar. — 63


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie brincou, e então contou-lhe tudo. Primeiro, ele ficou surpreso, depois atônito e por fim indignado. Estava ouvindo histórias sobre fantasmas, mortos e outras coisas que envolviam o seu filho! — Você é louca? Não pode estar falando a sério. — disse, por fim. — E não creio que brincaria comigo em uma situação tão grave. Então o que é, Jacqueline? Quer me enlouquecer? — Não, claro que não! Também não acredito nisso, Victor, mas Ralph encontrou as pessoas! Quero dizer, como Andrew podia saber que elas realmente existem? — Não sei e não quero saber! É do meu filho que estão falando! Meu e de Caroline! Só o que me sobrou dela nesta vida! Como ousam? Quem pensam que são? Jacqueline olhou para ele, sentindo as lágrimas quentes rolarem pelo rosto. Então era isso. Ele ainda amava Caroline e nada mais importava. Mantinha-se escondido atrás da couraça do luto e da saudade, protegendo-se. E nem pelo filho abriria mão disso. "Sou uma idiota", pensou. "Mais uma vez me enganei cm relação a um homem". Sem dizer uma única palavra, subiu, juntou suas coisas e tornou a descer. Victor continuava sentado no mesmo lugar, a cabeça enfiada entre as mãos, parecendo a própria imagem do sofrimento. Ela pensou em se despedir, mas concluiu que era bobagem. Saiu, fechando a porta suavemente às suas costas, ainda sentindo as lágrimas rolarem e o peito arder.

Capítulo 9

Ralph chegou em casa cansado, o corpo todo dolorido pela tensão de se manter na estrada sob o efeito das cervejas que tomo. Myrthes ainda não havia ligado, sinal de que não havia encontrado o endereço de Suzan. Ainda. Myrthes sempre encontrava tudo. Era só dar-lhe tempo. Na secretária não havia nenhum recado que interessasse e Marcy não dera sinal de vida desde seu telefonema. Mais uma vez, caiu na cama ainda vestido, sentindo o corpo relaxar, enquanto adormecia profundamente. Assim que chegou em casa, Jacqueline tomou um banho quente e se enfiou na 64


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie cama, com o coração partido. Desligou o celular e não quis ouvir as mensagens da secretária eletrônica — que, afinal, havia comprado. Talvez Victor tivesse ligado e ela não queria ouvir a sua voz. Podia perdoar qualquer coisa: ele chamá-la de louca, repudiar a idéia de Ralph e até brigar com ela por tocar no assunto. Mas não podia perdoá-lo por se esconder atrás de Caroline ou por usar sua viuvez como arma. Sentindo-se a mais burra, infeliz e rejeitada das criaturas, adormeceu chorando, certa de que demoraria muito tempo para superar toda aquela situação. Marcy, após desistir de encontrar o que quer que fosse em seus livros e não querendo mais pensar sobre o beijo daquela manhã, também foi se deitar e dormiu em seguida. Victor, cuja raiva havia passado, dando lugar ao arrependimento, tentou falar várias vezes com Jacqueline, que não atendia aos seus telefonemas. "Sou um estúpido, um cretino", dizia a si mesmo, ciente da besteira que fez. Ainda julgava revoltante Ralph querer envolver seu filho em uma história ridícula daquelas, saída diretamente do Além da Imaginação, mas sabia que havia agido muito mal com Jacqueline. Ela não tinha culpa de nada, só queria ajudar. Era sincera, gostava de Andrew e, que diabos, ele a amava! Sentiu nos seus braços coisas que nem mesmo Caroline havia despertado nele, e agora agia daquele modo. Perturbado, deu uma olhada no filho, que dormia profundamente, serviu-se de uma bebida e sentou-se para curtir a própria idiotice. Acabou dormindo no sofá, o copo jogado sobre a mesinha ao lado. Enquanto todos dormiam, Andrew acordou. Chamou pelo pai, por Jacqueline, por Ralph, mas ninguém respondeu."Cadê todo mundo?", pensou enquanto se levantava. Abriu o armário, pegou as roupas mais quentes que tinha, agasalhando-se contra o frio da noite. Sem fazer ruídos, desceu as escadas e não viu o pai adormecido no sofá. Abriu a porta de casa e saiu. Tinha um único objetivo em mente: ir a Boston. Ralph acordou com o telefone tocando a seu lado, sem saber direito onde estava. Atendeu ainda grogue de sono e ouviu a voz desesperada de Victor, gritando coisas que não entendia. — O que foi? — perguntou, tentando acordar. — Andrew sumiu! Acordei e ele tinha desaparecido! — Você ligou pra Jacqueline? Vai ver, ele foi até a casa dela. — Ligue você, ela não me atende. Por favor... — Mas já brigaram? Meu Deus... Fique aí, falo com ela e retorno pra você. Jacqueline não tinha notícias de Andrew, mas saiu da cama, assim que soube do seu desaparecimento. Assustada, ligou para Marcy, que também não sabia de nada. — Alguém já avisou a polícia? — perguntou, preocupada. — Não sei, Ralph acabou de ligar, e eu e Victor não estamos nos falando... ele é 65


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie um idiota. — E que homem não é? Mas neste momento é um idiota que perdeu o filho. É melhor ligar pra ele, Jacqueline. Ela pensou alguns instantes e decidiu engolir o orgulho. — O que houve? — perguntou, assim que ele atendeu. — Não sei... Acordei muito cedo e ele não estava mais aqui. Encontrei o pijama sobre a cama e há roupas faltando no armário. Roupas quentes. O dinheiro que estava guardando para comprar um telescópio também desapareceu. — Já foi à polícia? — Polícia? Não, ainda não... Meu Deus, Jacqueline... Quando este pesadelo vai acabar? — Quer que eu vá com você à delegacia? Pegue uma foto atualizada dele e faça uma lista das roupas que estão faltando. Chego aí em 15 minutos. — desligou, sem dar tempo a ele de dizer o que quer que fosse. Mas, antes, pediu que Marcy a acompanhasse. — Não quero ficar sozinha com ele. Por favor? — Ok, dê-me uns 10 minutos. Encontro você lá. Saiu, dizendo a si mesma que fazia aquilo por Andrew. Mas, assim que estivesse tudo bem, Victor que se virasse com o filho. "Egoísta, manipulador!", pensou, entrando no táxi. Chegou minutos antes de Marcy e Ralph. — Fez o que lhe pedi? — perguntou a Victor, sem se virar para ele. — Sim... foto e roupas. — Então, vamos logo. — Não quero ser chato, — disse Ralph — mas a polícia só vai agir depois de 48 horas. Normalmente esperam esse tempo porque muitas pessoas voltam e eles economizam trabalho. — Meu filho sumiu e eles vão ficar sentados, esperando o quê? — vociferou Victor, desesperado. — É o procedimento, Victor. Não é pessoal, entende? Aliás, nem tudo se refere a você neste mundo. — disse Jacqueline, sabendo que estava sendo cruel. Ainda assim, foram todos para a delegacia. Victor registrou a queixa de desaparecimento, deixou a foto com a polícia e, quando estava saindo, um policial o chamou: — Victor Hamilton? — Sou eu... o que houve? 66


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Seu filho foi encontrado na rodoviária, tentando embarcar para Boston. Um policial já está trazendo o menino para cá. Os outros três trocaram um olhar significativo, pensando a mesma coisa: Andrew fugiu para encontrar Suzan Spencer. Mais calmo, Victor aproximou-se de Jacqueline e Ralph, estrategicamente, convidou Marcy para um café. — Nem sei como agradecer por tudo que você está fazendo, eu... — Não faço por você, mas por Andrew. Ele não tem culpa alguma do que acontece. — disse ela, com voz seca. — Quanto a nós, eu queria me desculpar... — Nós? Não há isso a que você chama de "nós", Victor. Você não pode se comprometer com ninguém, já o fez com o seu passado. — disse, novamente sendo propositadamente cruel. Ele não respondeu e ela se afastou, sentando-se em um dos bancos do corredor. Ralph e Marcy tomavam seu café, quando Myrthes ligou. Ela havia localizado Suzan McLay e tinha não apenas o seu endereço, como todos os seus dados. — Ela tem saúde frágil, portanto, se quer falar com ela, ande logo. Parece que piorou muito de dois meses pra cá. — E como sabe disso? — perguntou o rapaz, admirado. — Porque falei com o médico que cuida dela. Disse que era uma parenta distante e ele acreditou. Ah, mais uma coisa: Suzan teve vários abortos espontâneos em seu histórico, um bebê que nasceu morto e duas tentativas de suicídio. — Jesus, Myrthes, você me dá medo às vezes. — disse, desligando. — E então? — quis saber Marcy. — Ela a encontrou... e parece que, incrivelmente, tudo se encaixa. — e contou-lhe sobre os abortos da mulher. Andrew chegou logo depois, acompanhado pelo policial. Após Victor assinar vários papéis e ouvir um sermão por não trancar a casa, quando seu filho estava lá, foram todos liberados. — Por que fugiu? — perguntou, abraçando o filho. — Não fugi, pai, só fiz o que Blue pediu. Ela disse que ninguém acredita nela... — Helen, você quer dizer? — perguntou Marcy. O menino fez que sim com a cabeça. — E o que Helen quer que você faça em Boston, Andrew? — perguntou Ralph. — Ela quer encontrar a amiga dela... e só eu posso ajudar... — respondeu o menino 67


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie com simplicidade, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. — Parem com isso agora! — disse Victor, pegando-o pela mão — Meu filho não é atração de nenhum circo de horrores. Venha, Andrew, vamos para casa. — Você vem com a gente? — perguntou, olhando para Jacqueline. — Hoje não, querido. Preciso ir trabalhar antes que seja demitida... Mas telefono pra saber de você, está bem assim? — respondeu, beijando-o, sem olhar para Victor. Ele concordou e acompanhou o pai. Jacqueline, Marcy e Ralph ficaram olhando, enquanto Victor se afastava. — Sujeito mais teimoso que esse não conheço. — comentou o rapaz. — E, mas o filho é dele e, se não aceita levá-lo até Suzan, não podemos fazer nada, não é? — a conclusão de Marcy era óbvia. — Estão com fome? Eu estou faminta. — disse Jacqueline. — Que tal um bom café da manhã? Creio que todos merecemos. — Boa idéia! Conheço um lugar maravilhoso. Pode-se engordar uns 15 quilos com as coisas que servem lá. — disse Ralph, abraçando Marcy. Mais uma vez, o gesto foi espontâneo e natural. Ela o olhou, espantada, mas ele pareceu não notar. Deu-lhe um beijo no rosto e levou-as até o carro. Jacqueline achou melhor não fazer comentários. Afinal, tinha os próprios problemas para se preocupar. — Não quero ser pessimista nem parecer alguma pitonisa maluca, mas vocês pensam que Helen vai deixar Andrew em paz só porque Victor se recusa a acreditar no óbvio? — Para ser sincera, Ralph, nenhum de nós crê nessa história, apenas aceitamos o que está acontecendo. Acreditar, neste momento, implicaria rever valores e várias teorias científicas. — respondeu Marcy, devorando a refeição. — Espero que fique tudo bem. Victor está perto do ponto de ruptura; está lidando muito mal com tudo isso e não sei se resistiria a outra crise do menino. Jacqueline, mais uma vez, absteve-se de comentários. Sentia muito por Andrew, por ela, por Victor, mas o melhor a fazer naquele momento era cuidar da própria vida. O dia passou tranqüilo. No meio da tarde, Jacqueline ligou para saber do menino e ele lhe pareceu alegre e bem-disposto. — Meu pai está pedindo pra falar com você. — Agora não, Andrew, estou muito ocupada aqui. Falo com ele depois, está bem? Descanse bastante e amanhã espero por você aqui na escola. Ela desligou, sentindo os olhos arderem pelas lágrimas que lutava em não deixar cair. Sua história com Victor foi curta, mas muito intensa e ela sabia que não o esqueceria com facilidade. 68


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Foi um furacão que atravessou meu caminho... Agora preciso limpar os escombros e seguir em frente. — disse a si mesma, forçando-se a acreditar nessas palavras. Mas, se para ela não estava sendo fácil, para Victor era ainda pior. Durante os últimos dias, havia dividido a vida com ela, que era tudo que um homem podia esperar e que varrera a tristeza e as lembranças de Caroline para longe. Até que ele próprio, por estupidez, trouxe tudo de volta. Agora ela não queria mais falar com ele e tinha toda razão. Olhando a casa vazia, parecia que a sua presença estava em todo canto. Podia ouvir sua risada, sentir seu perfume suave. Impulsivamente, discou o número do telefone dela várias vezes, desligando antes que a ligação se completasse. Brincou com o filho e, como ele parecia bem, acreditou que podia voltar ao trabalho. — Vai para o escritório, pai? — Não, vou trabalhar em casa. Qualquer coisa, me chame. — Sabe, até que ficar doente não é tão ruim assim. Pelo menos você fica mais tempo comigo e presta atenção em mim... — Andrew! Do que está falando? Eu te amo, filho, amo muito. Ele olhou demoradamente para o pai, parecendo em dúvida, mas voltou às brincadeiras. Victor mergulhou no trabalho e tudo parecia estar voltando ao normal. Até que, próximo à hora do jantar, Andrew aproximou-se dele em silêncio. — Está tudo bem? Está com fome? Assim que eu terminar aqui, vamos jantar... — Você é um filho da mãe egoísta e teimoso. Escondendo-se atrás da lembrança da esposa morta! Como julga que Caroline se sente, vendo você usá-la desse jeito? — perguntou o garoto, olhos vidrados, rosto pálido. Victor arregalou os olhos, levantando-se devagar e caminhando até o menino: — Andrew! Pare com isso! — Andrew, Andrew... Você não acredita, não é? Não quer acreditar! Prefere deixar seu filho sofrer, perder a mulher que ama e arriscar a vida do bebê, a admitir que está apavorado... que não sabe lidar comigo. — Cale a boca! — gritou ele, arrependendo-se em seguida — Filho, desculpe, eu... — Meu nome é Helen Milani. — Pare com isso! Seja lá quem for, deixe o meu filho em paz! Vá embora! — Há algo que precisa ser desfeito... Desfaça e eu me vou. Ele não sabia o que fazer. Helen tinha razão: ele estava apavorado, não sabia lidar com aquilo.

69


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Muito bem. — disse, por fim — O que quer de nós? — Leve-me até Suzan... Leve-me até Suzan... — a voz de Andrew enfraqueceu e, como nos episódios anteriores, ele desmaiou. —Oh, meu Deus, quando isso vai ter fim?—gritou, desesperado, com o garoto nos braços. Então, acomodou-o no sofá e ligou para Ralph. — Venha pra cá agora... Andrew teve outra crise. Ralph ligou para Marcy, e ela, para Jacqueline. — Não vou... Desculpe, mas não vou. Não é problema meu e não quero ver aquele homem novamente. — Você gosta do menino, ele adora você. Faça por Andrew, não por Victor. — insistiu Marcy. — Eu não vou! — Escute aqui, qual é o seu problema? Por que não pode lidar com a rejeição? Por que tem de se comportar como a filhinha do papai que quebrou a boneca? Tenha paciência, Jacqueline, cresça! Sem resposta e perturbada pelas palavras da amiga, resmungou: — Passe aqui... vou com você. Chegaram todos praticamente juntos. Victor, impaciente, esperava-os na porta, com expressão carregada. — Você está bem? — perguntou Ralph, assustado com o que viu. — Como posso estar bem? Meu filho me disse coisas... Não sei mais o que pensar, Ralph....O que Andrew disse não pode vir da mente de uma criança inexperiente. — Victor, sei que não é fácil pra você aceitar o que está acontecendo. Sei que mexe com suas emoções e que desestabiliza a frágil segurança que você construiu à sua volta, depois que Caroline morreu. Mas creio que chegou a hora de enfrentar seu medo da vida. Seu filho precisa de ajuda, Helen precisa de ajuda e, pelo jeito, essa tal Suzan é a única capaz de fazer isso. — Marcy olhava com firmeza dentro dos olhos dele. Jacqueline não ficou para ouvir a resposta dele. Entrou com Ralph para ver Andrew, que dormia no sofá. — E muito difícil pra mim, Marcy... Sofri muito quanto Carol morreu. Jurei a mim mesmo que jamais passaria por aquilo novamente. Então Andrew começou com essas crises, Jacqueline apareceu, e toda essa história de assombrações surgiu pra me atormentar... Não sei o que fazer. Marcy olhou-o com simpatia. Em sua profissão já vira muitas pessoas como ele, que, ao sofrerem uma grande dor, encolhem-se diante das novas experiências, por medo de sofrerem novamente, recusando-se a seguir em frente. Mas a vida é sábia, 70


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie sempre dá um jeito de obrigar as pessoas a enfrentarem seus piores medos. -— Vai ficar tudo bem... Apenas precisa parar de querer controlar o incontrolável. Ninguém controla tudo o tempo todo, Victor. Quem pensa que o faz só está acumulando ilusões que acabarão em mais sofrimento. Venha, vamos entrar. Andrew precisa de você, e você precisa se decidir. Ele passou o braço em volta dos ombros dela e brincou: — Sempre pensei que psicólogos eram inúteis, que eu podia resolver sozinho os meus problemas, sabe? Ela riu: — A maioria das pessoas pensa assim; não se preocupe, estou acostumada. Jacqueline evitava olhar ou se aproximar de Victor. Marcy pensou que talvez fosse hora de conversar com ela também, porém as pessoas tinham primeiro de reconhecer que precisavam de ajuda. Só depois é que podiam recebê-la. — Muito bem, estamos todos aqui. — disse Ralph, com ar sério — O que vamos fazer? Levamos Andrew ao hospital ou tentamos outra coisa? A pergunta pairou no ar. Ninguém se atrevia a dizer o que quer que fosse. Apenas uma pessoa podia decidir o que fazer: Victor. Ele passou os olhos por todos, sabendo que aquele momento era crucial: ou enfrentava seu medo da vida ou deixava que os próprios demônios o dominassem, arriscando a vida do filho. — Vamos para Boston, procurar por Suzan Spencer— disse, por fim. — Agora. — Mclay, Suzan Mday...é o nome de casada dela. — corrigiu Ralph. — Mclay? — Victor empalideceu um pouco ao ouvir este nome. — É... Mclay... Porque, você conhece? Victor não respondeu, apenas empalideceu um pouco mais e calou-se, perdendo-se outra vez em seus próprios medos.

Capítulo 10

Suzan McLay estava dormindo profundamente, sob o olhar vigilante da 71


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie enfermeira que a acompanhava desde que sua saúde passou a se deteriorar sensivelmente, alguns meses antes. A vida não foi fácil para ela. Seu casamento, que começou como um conto de fadas, reduziu-se à frieza e a um acúmulo de acusações mútuas que, entretanto, jamais foram verbalizadas. Tanto ela como Brian acabaram consumidos pela mágoa e tristeza. E ele morreu, sem nunca ter sabido do segredo mais precioso de Susan — que estava para ser finalmente revelado, quando, às 5h da manhã, a campainha da sua casa tocou. Quando o empregado abriu a porta, a vida de Suzan começou a vir à tona. Ao ver Victor e Ralph olhando para ele com ar ansioso, alegou que a patroa estava dormindo: — E muito cedo, não vou acordá-la. Além disso, vocês não ligaram e madame não atende a qualquer um. — Não somos qualquer um. — disse Victor, com firmeza. — Avise à senhora que trazemos um recado de Helen Milani. Ela nos vai receber. — Ela está dormindo! Se não se retirarem agora, chamo a polícia. — advertiu o homem. — Quem esta aí, John? — perguntou uma voz de mulher, com um tom cansado. — Senhora McLay? — perguntou Victor, entrando na casa sem fazer conta do empregado. — Sim, eu o conheço? — Não, senhora, não me conhece. Sou Victor Hamilton e este é meu amigo Ralph Burton. Acabamos de chegar da Filadélfia e precisamos muito conversar com a senhora. Suzan desceu as escadas com dificuldade. Mesmo com 70 anos e com a saúde abalada, guardava fortes traços da beleza de sua juventude. A cabeça mantinha-se firme e resoluta, a expressão do rosto levemente divertida, como se para ela a vida não passasse de uma grande piada de mau gosto. — Muito bem, e o que tem de tão urgente para tratar comigo que os fez viajar a noite inteira e baterem à minha porta ainda de madrugada? — Senhora, — disse Ralph, adiantando-se — viemos aqui falar sobre Helen Milani. — Helen? — ela engoliu em seco. — Helen está morta há muito tempo, meu jovem. Minha amiga querida... — Creio que seja melhor nós sentarmos, senhora. Esta conversa não vai ser fácil. Suzan mandou que o empregado preparasse um café da manhã reforçado e conduziu os homens até a biblioteca. — Muito bem, senhores, o que têm a me dizer? — perguntou, encarando-os. "Mulher de fibra", pensou Ralph, enquanto Victor, da forma mais calma e pormenorizada que conseguia, começou a contar a história. 72


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — O que será que está acontecendo lá dentro? — perguntou Marcy, esfregando os braços para espantar o frio. Jacqueline olhou Andrew, que dormia em seu colo, e suspirou: — Não faço idéia, mas espero que tudo isso acabe logo. Esta criança já sofreu demais. — O pai dele também, não? Basta olhar o rosto dele... está uma máscara de tortura. — Ele é egoísta, manipulador e teimoso... — E você, não é? Teimosa e egoísta, quero dizer. Jacqueline encarou-a com expressão incrédula e Marcy sorriu, sabendo que a hora de conversar seriamente com a amiga havia chegado. Meia hora depois, quando foram chamadas para entrar, a francesa pensava profundamente em tudo que Marcy lhe falou. Ela era como Victor. Sua única paixão foi um homem que não podia lhe oferecer nada e, portanto, não representava risco algum. Prendia— se à figura do pai, assim como Victor fazia com a de Caroline, escondendo-se do amor, da vida e do sofrimento. Quando finalmente encontrou um homem capaz de arrancá-la do seu mundinho seguro e perfeito, ela fugiu diante do primeiro obstáculo. — O senhor espera realmente que eu acredite nisso? — perguntou Suzan, erguendo as sobrancelhas e encarando os dois homens à sua frente, com aquele ar divertido que beirava o desencanto. — Sabemos que é difícil... Não foi fácil para mim, senhora, ver meu filho dizer essas coisas e ser acometido por crises inexplicáveis. Mas que outra explicação pode haver? Como um garoto de 8 anos pode saber tanto sobre alguém que nunca viu? — Não tenho resposta para isso... — Os bebês... quem são? Helen disse que todos os bebês morreram... Suzan empalideceu. — Meus filhos... Todos mortos, todos... — E o que há na árvore da bruxa? Helen insistiu nisso... Estive em Montains Hollow, mas não vi nada de especial lá.. — Como sabe disso? — perguntou Suzan, assustada. Ninguém sabia da árvore, ninguém! Foi uma brincadeira de crianças, nada mais, que importância podia ter? A não ser... — Helen falou... Desculpe, creio que esqueci de mencionar esse detalhe. — disse Victor, aborrecido. — Onde está seu filho, senhor Hamilton? — Lá fora, no carro, com duas amigas.

73


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Meu Deus, neste frio? Vou mandar meu empregado chamá-las, e então conversaremos todos juntos. — Senhora Mclay...há ainda uma coisa que gostaria de saber... — disse Hamilton com expressão pesada, como se internamente travasse uma batalha terrível consigo mesmo. Suzan olhou para ele, imaginando o que mais havia para ser dito. — Brian Mclay era seu marido? Ralph virou-se para o amigo e seus olhos adquiriram um brilho de espanto. — Sim...Por que? — A senhora saberia me dizer se por acaso ele teve algum filho antes de casarse com a senhora? Suzan empalideceu. Do que aquele homem estava falando? — Não...nenhum. Victor agradeceu e calou-se, evitando o olhar interrogativo do amigo. Levando Andrew ainda adormecido nos braços, Jacqueline entrou na casa, sem saber o que encontraria. Suzan ficou olhando para ela com ar de quem via um fantasma. — Quem é você? — perguntou, mal conseguindo respirar. — Jacqueline Théry... Sou a diretora do colégio de Andrew. — Théry? Não é possível... É francesa? — Suzan continuava a olhar para a garota, sem acreditar no que via. — Sou... — respondeu, desconfiada, olhando para os amigos sem entender. Suzan pareceu se desinteressar dela e focou a atenção no menino — Que criança linda! Que traços bonitos... Puxou ao senhor, senhor Hamilton. É um belo homem. Victor apenas sorriu, sem saber o que dizer. — Supondo que eu acredite no que me disseram, o que querem de mim? — perguntou Suzan, enquanto tomavam o café da manhã. — Bem, esperávamos que a senhora nos esclarecesse. Helen pediu que a encontrássemos, falou sobre os bebês e sobre a árvore. Nossa esperança é que a senhora pudesse relacionar todos esses dados... Suzan novamente pousou os olhos em Jacqueline e, mudando completamente de assunto, pediu: — Fale-me sobre você, senhorita. Como se chamavam seus pais? — Maurice e Therese.. Théry... Mas não conheci minha mãe... ela faleceu quando 74


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie eu ainda era um bebê de colo. Suzan levou mão ao peito, sentindo as forças lhe faltarem. Não era possível, não àquela altura da sua vida, não depois de tudo! — Está sentindo alguma coisa, senhora? — perguntou a enfermeira, correndo até ela, mas Suzan a afastou com um gesto impaciente. Andrew, que dormia no sofá da sala, abriu os olhos de repente e se aproximou da sala de café, como se conhecesse aquela casa desde sempre. — Suzan! — disse o menino com voz firme. Victor fez menção de se levantar, mas Marcy pousou a mão sobre o seu braço, pedindo que não se aproximasse. — Suzan! — repetiu o menino — Eu sinto tanto! Tentei tantas vezes falar com você! Quis avisá-la. Suzan, perdoe-me! Não foi por querer, eu juro que não! Sem saber o que fazer, Suzan olhou, estarrecida, para Andrew, que continuou a falar: — Precisa ir até a árvore... Desfaça tudo, por favor. Não suporto mais tanta dor! — Helen? — murmurou a mulher, assustada. — Queria tanto que fosse feliz com Brian, minha amiga, tanto! E vi sua vida ruir, vi os bebês... cada um deles... até que aquele sobreviveu... Suzan empalideceu tanto que Marcy pensou que ela estivesse morrendo. — C-como...? Ninguém sabe! — Mas eu sei, Suzan, de tudo. Por favor, desfaça o que fizemos. Queime tudo. Salve seu neto, por favor, salve seu neto. Ele vai morrer, ele é neto de Brian também! — Senhora? — perguntou a enfermeira, correndo até Suzan, que desmaiou na cadeira, enquanto Victor amparava o filho, que voltou à inconsciência. — Meu Jesus, e agora? — perguntou Jacqueline, apavorada. — Do que Helen falou? Nenhum filho dela sobreviveu... e que neto é esse? — Ralph cochichava essas perguntas para Marcy, que olhava para ele como quem diz: "E como é que eu vou saber?" — Me deixe! — disse Suzan, voltando a si e empurrando a enfermeira. — Senhor Hamilton, eu acredito no que me falou. Não posso explicar, e nem sei se quero, mas eu acredito. — A senhora sabe do que se trata, então? — perguntou Victor, sentindo uma ponta de esperança voltar. — Quando eu e Helen éramos meninas, fizemos um pacto... — Suzan contou sobre Brian, a briga com a amiga e a subseqüente reconciliação. Também contou sobre o casamento e tudo que aconteceu depois. Eles ouviam as suas palavras com surpresa, 75


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie sem procurar compreendê-las, apenas aceitando os fatos como eram. — Então seu marido teve mesmo um filho fora do casamento? — Victor sentiu o chão tremer sob seus pés e precisou usar todo o seu controle para não desabar ali mesmo. — Sim... mas não antes de nos casarmos, enquanto estávamos casados...o menino foi criado pela mãe, longe de nós. Brian, entretanto, jamais o desamparou e ia vê-lo com frequência... mas o que isso tem a ver com o caso? — Nada...por favor continue... — pediu ele, passando a mão pelo rosto, em um gesto de desespero. — Depois da minha segunda tentativa de suicídio, Brian e eu decidimos que era melhor eu me afastar, pois uma viagem me faria bem. A mulher que carregava o filho dele estava para dar à luz e aquilo tudo me era insuportável. Então, como última tentativa de salvar meu casamento, decidi ir a Paris... Afinal, era lá que havia reencontrado meu marido. Fiquei um ano na França. Ninguém dizia nada, mas Jacqueline instintivamente sabia que a mulher falaria algo sobre ela e, sem perceber o que fazia, aproximou-se de Victor. — Estava em Paris havia apenas 15 dias, quando conheci um homem encantador, que entendeu minha situação, dando-me apoio e força para que eu afastasse de mim o ódio que sentia da mulher que engravidou do meu marido, e a mágoa que tinha de Brian por haver procurado outra. Apaixonei-me por esse homem e, embora tenhamos ficado juntos por pouco tempo, eu o amei com sinceridade. Jacqueline agarrou a mão de Victor sem notar o que fazia. Suzan parou por alguns minutos, para se refazer da emoção e, tomando fôlego, continuou: — Descobri que estava grávida, poucos meses após iniciar meu caso com ele, e fiquei apavorada. Esse homem, entretanto, cuidou de mim e me cercou de carinho, amparando-me até o bebê nascer. Uma menina! Linda, saudável, corada e cheia de vida. — as lágrimas corriam pelos olhos de Suzan e Jacqueline olhou-a assustada, o coração disparando no peito. — Assim que minha dieta acabou, tive de decidir o que fazer. Brian me escrevia e telefonava constantemente. Sabia que o filho dele havia nascido e ele instalara a amante em uma casa perto de Boston. Ele não a amava, mas adorava o filho. Meu marido me queria de volta e eu queria voltar para ele. Foi a decisão mais difícil que tomei e da qual mais me arrependo. Na ânsia de voltar a viver o sonho do meu casamento, deixei minha filhinha na França e retomei para minha casa. Lembro-me, como se fosse hoje, do olhar de Maurice, a compreensão em seus olhos, dizendo-me que cuidaria dela e que compreendia meus motivos. Nesse ponto da conversa, Jacqueline chorava abertamente. Não era possível... Aquela mulher não podia ser sua mãe, não podia! Ela passou anos levando flores no túmulo de Therese, desejando que a mãe voltasse, falasse com ela... 76


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Suzan olhou Jacqueline e tudo o que pôde dizer foi: — Perdão. Jacqueline começou a soluçar e Victor a abraçou forte. Aquela história ficava cada vez pior. Mas ainda estava longe de acabar. — Durante cada dia da minha vida, pensei em minha filhinha. Escrevi a Maurice várias vezes, pedindo notícias, mas ele nunca respondeu. Por fim, decidi procurá-lo, mas Brian adoeceu e minha vida mudou completamente. — E o que houve com o filho do seu marido? — perguntou Marcy. — Bem, Brian o visitava todos os finais de semana, ele era a alegria dos seus dias. Amparou a ele e à mãe com um sólido fundo financeiro, e nunca deixou que nada lhes faltasse. Quando adoeceu e já não podia mais visitá-lo, enviava-lhe cartas, dizendo que estava fora, a negócios. O menino jamais soube da verdade. — E onde ele está, agora? — perguntou Victor. — Não sei, senhor Hamilton, nunca quis saber. Proibi Brian de tocar no assunto comigo. Deixei minha filha por ele e concluí que o justo seria que ele deixasse o menino por mim. Mas Brian sempre foi melhor do que eu... Ele jamais faria isso. Meus sonhos de recomeçar meu casamento, de viver feliz ao lado do meu marido, jamais se concretizaram. — Meu Deus, que história! — disse Ralph, assustado. — Nunca soube por que meu pai não ficava mais tempo conosco...ou porque quando estava em nossa casa, aos finais de semana, ele e minha mãe não dormiam no mesmo quarto... — começou Victor, mais pálido e pesaroso que antes. Ralph ia falar alguma coisa, mas Marcy fez sinal para que se calasse. — Amava tanto meu pai e ele a mim, que não queria fazer qualquer tipo de pergunta que pudesse nos afastar. Ele era um grande homem...sábio, correto, inteligente. Ensinou-me tudo que eu sei e até hoje eu sinto sua falta... Suzan encarou Victor e soube que estava diante do filho de Brian. Mais uma vez o destino a obrigava a enfrentar as situações das quais fugira durante quase toda a vida. Jacqueline, parecendo recobrar um pouco o autocontrole, encarou a mulher e depois Victor. Estava confusa demais. Ela era filha de Suzan, Victor, filho de Brian. Meu Deus, era demais para um dia só! — Como pôde me abandonar? Como pôde abandonar meu pai? Ele a amou a vida inteira! Nunca mais se casou, nunca mais... E eu sofri tanto, pensando que Deus era injusto por tirar minha mãe de mim! E você estava viva, viva! — Jacqueline agora gritava. — E por que éramos pobres, não é? Não quis abrir mão disto tudo! Você é um monstro! Um monstro! — E o que fez a Victor? Você impediu que o pai convivesse com ele! — gritou e novamente caiu no choro. 77


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Suzan fez menção de se aproximar, mas Marcy tomou a frente, levando a amiga dali. Suzan e Jacqueline choravam, e Victor olhou para Ralph, desesperado. — Senhora, eu lamento muito, mas ainda temos de ajudar Andrew...Sinceramente eu...eu não sei o que dizer...jamais imaginei algo assim. — Parece que todos os meus pecados vieram me atormentar, não é? Todos... Ralph calou-se e julgou melhor deixar Suzan a sós com Victor que, com suavidade, procurando ser o mais gentil possível, começou a conversar com ela. Pela primeira vez, estava preocupado com alguém que não fosse Andrew nem ele mesmo. Preocupava-se com Suzan, com Jacqueline, com seu pai. Aquela mulher era a mãe da mulher que ele amava, mas também era a responsável por mantê— lo longe de seu pai e agora, por um capricho do destino, havia se tomado a única capaz de salvar seu filho. Mas eram anos de mágoa e sofrimento acumulados nos corações de todos... Ia demorar mais que algumas horas para que eles finalmente conseguissem se encarar e conversar com calma. No meio da tarde, Suzan, que havia se recolhido, reapareceu. Seu abatimento e sofrimento eram evidentes. Jacqueline havia dormido à custa de alguns sedativos que Marcy lhe deu, e Andrew continuava mergulhado naquele sono sem fim. O mundo de Victor parecia cada vez mais escuro e distante, como se nada, nunca, pudesse melhorar. — Senhor Hamilton, estou pronta para acompanhá-lo a Montains Hollow. Já está na hora de começar a consertar os erros do passado. Mas antes, quero lhe pedir perdão. Agi mal, mas não gostaria que me visse como algum monstro, como minha filha parece pensar. Brian o amava desesperadamente. Se orgulhava do senhor, da pessoa que se tomava. Antes de morrer ele disse que gostaria que o senhor estivesse com ele... — Quando meu pai morreu, minha mãe mentiu, dizendo que havia sido um acidente e que o corpo jamais havia sido encontrado e que por isso, faríamos um funeral simbólico. E eu acreditei! Jesus, eu acreditei! Ralph aproximou-se do amigo e tocou-lhe o braço: — Não se torture, Victor. Não vai mudar nada agora...seu pai foi um grande sujeito e o amou acima de tudo. E nisto que deve pensar, nada mais. — Sr. Hamilton, nunca estranhou por não usar o nome de seu pai? — Muitas vezes, mas minha mãe dizia que eles não eram casados e que ela havia achado melhor assim...e eu não insisti... — Eu sinto muito... — Suzan não sabia mais o que dizer. — Vamos? — perguntou Ralph. — Andrew precisa de nós e Helen também. — Mas como podemos sair, com Jacqueline naquele estado? — Vão vocês. — disse Marcy. — Eu cuido dela. 78


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie Montains Hollow estava bem parecida com o que Suzan tinha na lembrança. As mesmas casas, a mesma tranqüilidade. Passou em frente à casa que morou com a família e pareceu ver-se correndo pela rua, brincando com Helen. Tantas lembranças... Ralph parou o carro e perguntou: — Está pronta? Ela fez que sim. Andrew continuava dormindo no carro, e Victor julgou melhor deixá-lo lá. Caminharam até a árvore em silêncio. Suzan olhou em volta, lembrando-se daquela noite de Halloween tanto tempo antes. Quanta coisa aconteceu depois! Quantas alegrias e dores! Então pensou em Jacqueline, o único dos seus bebês que não era de Brian..O único que sobreviveu... Com a ajuda dos dois homens, abaixou-se, procurando se lembrar do local exato em que enterraram as coisas. — É aqui, se não me engano. Ralph fez menção de ajudá-la, mas ela agradeceu: — E algo que preciso fazer sozinha, senhor Burton. Lentamente, começou a cavar a terra úmida, deixando as lembranças da infância voltarem. Brincadeiras, risadas, sonhos, planos, o pai, a mãe, Brian e Helen, todos desfilavam em seu pensamento, enquanto ela cavava a terra. Finalmente encontrou o vaso onde estava a trança com seus fios de cabelos. Victor ajudou-a a tirar o pacote da terra, olhando com seriedade para ela. — Helen disse que devemos queimar tudo. — Não... eu devo queimar, libertando a ela, a mim e a seu filho desta loucura. Tem fósforos, senhor Hamilton? — perguntou, com aquele seu ar de refinamento que tanto impressionou o rapaz. — Suzan, obrigada! — a voz de Andrew vinha de trás deles. — Vai ficar tudo bem... Poderá amar seu neto e cuidar dele. Victor, não censure...ela já sofreu demais! — Helen calou-se, as lágrimas descendo livremente pelo rosto. Victor riscou um fósforo e o entregou a Suzan, que ateou fogo à trança e a tudo mais que havia ali. Uma rajada de vento gelado passou por eles e, por instantes, Suzan teve a impressão de ver a imagem de Helen desfazendo-se em um casulo de luz. Estava feito. Com lágrimas nos olhos, segurou o braço de Victor: — Obrigada, senhor Hamilton... por tudo. — Pai, que aconteceu? Que lugar é este? — perguntou Andrew, voltando a si. Victor não respondeu. Apenas o abraçou e caiu em um choro compulsivo. Dois meses se passaram, desde aquela tarde em Montains Hollow. Jacqueline retomou a Filadélfia, sem sequer olhar para Suzan, cheia de mágoa e ressentimentos 79


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie por ela. — Dê tempo a ela, senhora McLay. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo... — consolou Marcy, sabendo muito bem que demoraria muito até que Jacqueline compreendesse e aceitasse a mãe. Andrew recuperou-se rapidamente, voltando ao colégio e aos esportes, como se nada tivesse acontecido. O pesadelo que se abateu sobre eles finalmente chegara ao fim. O inverno congelante tingia a cidade de branco, e a escola entrou em recesso para os feriados de final de ano. Jaqueline estava em uma loja com Marcy, escolhendo os presentes de Natal, quando se sentiu mal. Empalideceu visivelmente e mal conseguia ficar em pé pela tontura. — O que foi? Quer que chame alguém, quer ir ao hospital? — Não... logo passa. Tenho me sentido assim nas últimas semanas. No começo, pensei que fosse sistema nervoso, estresse, por tudo que aconteceu. Tem sido difícil enfrentar, sabe? Minha mãe, Victor... — Imagino... Mas uma hora ou outra vocês vão ter de conversar, Jacqueline. Não pode evitá-lo para sempre. Vocês se amam! — Marcy, eu estou grávida! — anunciou, assustada. — Então Helen estava certa! Este era o bebê que ela queria salvar! — Marcy! Ouviu o que eu disse? Eu vou ter um filho de Victor! —Mais um motivo pra vocês terem uma conversa, não acha? Já não basta toda essa história de mortes, sofrimentos, mentiras e negações? — Fico pensando nesta história toda...só sobrevivi porque meu pai era outro...e meu filho só tem a oportunidade de nascer porque Helen o salvou. Quando mais penso nisso, mais insano parece sabe? — Então não pense..apenas fale com Victor. — Não tenho coragem de falar com ele... Tenho medo do que ele pode pensar... — Mas precisa ter! Como vai esconder a barriga? Ou pretende mentir sobre este filho? Vai repetir os erros de sua...— ela ia dizer mãe, mas mudou de idéia — Vai repetir os erros de Suzan? Jacqueline não respondeu. Sentindo-se melhor, voltou aos presentes, deixando a pergunta no ar. Sabia que precisava falar com Victor, mas ainda não se sentia pronta. Desde que voltaram de Boston, nunca mais se viram a sós. Nas ocasiões em que jantaram juntos ou saíram para passear, Marcy, Ralph ou os dois estavam presentes. Encará-lo sozinho requeria uma coragem e segurança que ela não tinha. — Escute, amanhã é Natal e vamos todos cear juntos. Aproveite e fale com ele. — disse Marcy, deixando-a em casa. 80


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Vou pensar. — prometeu Jacqueline, sabendo que estava mentindo. Mas, se ela fugia de qualquer momento a sós com Victor, o mesmo não se dava com ele. A cada dia que passava, ele se convencia mais e mais que Jacqueline era a mulher da sua vida. Ele foi um idiota, um cretino, estragou tudo. Então, cabia a ele consertar aquela situação. Disposto a esclarecer tudo de uma vez, foi procurá-la em casa e, quando não a encontrou, sentou-se em sua porta e esperou por ela. — Victor! Não sabia que viria! — exclamou ela, quando saiu do elevador. — Aconteceu alguma coisa? Andrew... — Andrew está ótimo. Resolvi esperar você voltar... Não tivemos oportunidade de conversar sozinhos ultimamente e eu preciso falar com você, Jacqueline. — Entre... Vou fazer um café... Está gelado demais, hoje. Victor correu os olhos pela sala do apartamento, fixando-os na mesa de jantar, pensando na loucura que sentiu ao tomá-la sua pela primeira vez. Jacqueline fingiu não perceber e, encaminhan— do-se para a cozinha, perguntou: — O que quer falar comigo? Sem saber muito bem como entrar no assunto, ele simplesmente disse: — Eu não aguento mais viver sem você. — Victor! Eu... — Por favor, me deixe falar. Isso não é fácil pra mim, mas, depois de tudo que aconteceu, é algo que eu tenho de fazer, entende? Ela se calou. — Tenho pensado muito em tudo que aconteceu, não apenas entre nós, mas de maneira geral. Foi difícil demais ouvir sobre meu pai e saber que poderia ter estado com ele todo o tempo e não pude...Foi difícil para todos e creio que principalmente para você, com a confissão de Suzan sobre seu pai... Ela baixou os olhos. Não queria tocar naquele assunto. — Quando te conheci, tive de lutar muito com meus sentimentos, até que eles se tomaram tão insuportavelmente fortes, que assumiram o controle e eu enlouqueci. Você me provocava, excitava, instigava. Tinha de ter você, estava louco de desejo, de paixão. Mas, depois que estivemos juntos, percebi que, mais que desejá-la, eu te amava. Amava como nunca amei ninguém. Com você conheci um prazer sem igual e isso me apavorou, Jacqueline. Ela viu a sinceridade expressa no seu olhar e permaneceu calada. — Durante anos, eu me mantive escondido da vida atrás da imagem de Caroline, seguro e protegido do que eu pensava que era sofrer. Então veio você e destruiu tudo, me mostrando que, por mais que eu tivesse amado minha mulher, e eu amei muito, acredite, eu te amava ainda mais. Quando te senti, quando te possuí, me libertei das 81


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie paredes invisíveis que ergui à minha volta. E essa liberdade me apavorou. Tudo estava ruindo. Meu filho doente, minha segurança abalada... foi demais pra mim. Por mais que Jacqueline quisesse argumentar que ele a havia ferido e magoado, as palavras não saíam. Victor estava lavando a alma diante dela, o que não era pouca coisa. — Sei que fui egoísta, cruel, idiota. Sei que a magoei e sequer pedi perdão. Sei que você não tem razão alguma para acreditar em mim agora, mas, Jacqueline, eu te amo. Em cada momento do meu dia você está comigo, em cada canto da minha casa, no sorriso do meu filho. Desejo você como louco, quero você comigo e, se não viesse aqui lhe dizer tudo isso, ia acabar ficando maluco. Ela estava pensando em responder, quando a tontura voltou. Apoiou-se no encosto de uma cadeira para não cair, e ele correu para ela. — Jacqueline, o que foi? Está doente? — Victor... Você falou sério quando disse que me ama? — perguntou, sentindo o toque das mãos dele em seus braços — Nunca falei tão sério em minha vida. Nunca amei ninguém como amo você. Nunca! — Victor... preciso te contar uma coisa... mas não sei como dizer... — O que foi? — ele olhava para ela, cheio de preocupação, temendo o que estava por vir. "Ela ama outra pessoa, é isso!", pensou, assustado. — Victor eu... nós... Deus, como é difícil! — Por favor, Jacqueline, seja o que for, diga. Eu te amo, nada vai mudar isso, nada! — Nem mesmo um filho? — perguntou, olhando dentro dos olhos dele. — Não, nem mesmo um filho, claro! Filho? Que filho? — Eu estou grávida, Victor... nós não usamos proteção, lembra? Ele arregalou os olhos, pasmo, parecendo não entender direito o que ela estava dizendo. — Do que está falando? Você está dizendo que você... que nós... Ela fez que sim com a cabeça e ele se levantou, afastando-se dela. "Pronto! Sabia que isso ia acontecer!", pensou Jacqueline, arrependida de ter falado. Victor controlou-se e perguntou, ainda de costas para ela: — Quando você pretendia me contar? — perguntou, sentindo os olhos úmidos. Ele ia ser pai!!! — Logo, em breve... assim que houvesse uma oportunidade... Não sabia como você ia reagir, tive medo que pensasse que estava usando a criança para... para... 82


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Para que, Jacqueline? — perguntou, ainda de costas para ela. — Para ter você de volta! Não queria que pensasse isso, que me julgasse... Ele sorriu, mas não se virou: — Você ainda me ama, então? Ainda me quer de volta? Ela não respondeu imediatamente. Sabia que o que dissesse seria definitivo: — Mais do que qualquer coisa neste mundo, Victor. Tentei te esquecer, arrancar você da minha vida, mas não pude... — as lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto e, quando ele se virou para ela, Jacqueline viu que Victor chorava também. — Eu te amo! — disse ele, correndo para ela — Eu te amo... Jacqueline jogou-se nos braços dele, soluçando. — Eu te amo, meu amor, minha mulher... Eu te amo. Meu Deus, um filho! Vamos ter um filho! — Vamos. — murmurou ela, entre lágrimas. Victor beijou-a, louco de alegria, de amor, de paixão. — Está indo ao médico? Está tudo bem com o bebê e com você? — perguntou, preocupado, lembrando-se do passado da família dela. logo..

— Está tudo ótimo... o bebê é saudável e, segundo, o médico, os enjôos vão parar — Ah, Jacqueline! Um filho! Eu te amo! Andrew precisa saber disso. — Será que ele vai receber bem? — Está brincando? Ele adora você! Ela sorriu. Ele a beijou. A vida, finalmente, parecia voltar ao normal...

Epílogo

casa.

Jacqueline sentia o coração apertado, conforme se aproximavam da imponente

Victor segurava sua mão com ternura e, no banco de trás, Andrew olhava, encantado, para o irmãozinho — o pequeno Maurice.

83


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie — Estou com tanto medo... — disse ela, ao cruzarem os portões majestosos. — Vai dar tudo certo, querida, estou aqui com você... Eu te amo, Jacqueline. Com o bebê nos braços, ela aguardou a porta ser aberta. A primeira coisa que viu foi a enorme pilha de presentes que esperavam por Maurice e Andrew. — Entre, senhora. Madame os aguarda na sala principal. Lentamente, Suzan se aproximou. Victor e Andrew ficaram para trás. Aquele momento era apenas dela. Dela e da sua mãe. Suzan levantou-se, quando a viu entrar com a criança nos braços. — Jacqueline... Ela não se moveu e Suzan se aproximou: — Posso vê-lo? Ela olhou para o rostinho perfeito do filho e, banhada em lágrimas, estendeu a criança para ela. — Pegue. É seu neto... Dizem que colo de avó é o melhor que existe. Suzan segurou a criança nos braços, murmurando: — Olá, pequeno Maurice... venha aqui com a vovó. Então se voltou para Jacqueline e disse: — Obrigada... por tudo, obrigada. — Foi difícil, sabe? Mas, quando ele nasceu, percebi que seria impossível abandoná-lo e como deve ter sido terrível para você ter me deixado pra trás. Eu não a perdoei, mas sei que vou conseguir, com o tempo. Se quiser tentar, eu também quero. Suzan abraçou-a: — Ah, Jacqueline, Jacqueline... Victor entrou na sala, com Andrew pela mão. — Ele não é lindo? — perguntou o menino, sentando-se ao lado de Suzan e encostando a cabeça no seu ombro. — É a minha cara. Ela sorriu e, por um instante, teve a impressão de ver Helen parada a sua frente, acenando. Tudo que a vida tão cruelmente lhe negou pareceu desaparecer, e só a felicidade e a paz teriam lugar dali por diante. Suzan Spencer finalmente estava feliz.

84


Amor e Sedução 06 - Pacto de amor – Lorelei McKenzie

85


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.