Sandra brown esplendor secreto

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Sandra Brown

Esplendor Secreto

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ÍNDICE Capítulo 1 ........................ Error! Bookmark not defined. Capítulo 2 .................................................................... 14 Capítulo 3 ...................... Error! Bookmark not defined.3 Capítulo 4 ...................... Error! Bookmark not defined.3 Capítulo 5 .................................................................... 46 Capítulo 6 .................................................................... 57 Capítulo 7 .................................................................... 69 Capítulo 8 .................................................................... 78 Capítulo 9 .................................................................... 90 Capítulo 10 ...................... Error! Bookmark not defined. Capítulo 11 .................. Error! Bookmark not defined.10 Capítulo 12 .................. Error! Bookmark not defined.20 Capítulo 13 .................. Error! Bookmark not defined.31 Capítulo 14 .................. Error! Bookmark not defined.40 BIBLIOGRAFIA ............. Error! Bookmark not defined.47

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Capítulo 1 «Outra vez está aqui», pensou Drew McCasslin enquanto golpeava a bola com sua raquete; era a terceira vez naquela semana que ela estava sentada na mesma mesa, a mais próxima ao parapeito que dava às pistas de tênis. A sombrinha de cores vivas ocultava parcialmente seu rosto. Não estava ali quando Gary e ele começaram a jogar, mas Drew soube o momento exato em que chegou o terraço, uma extensão da cafeteria ao ar livre do clube; inclusive tinha falhado um golpe ao permitir que sua atenção se desviasse para os graciosos movimentos da mulher enquanto ela arrumava a saia para baixo da cintura e das coxas antes de se sentar. —A cada dia melhor — disse Gary quando ambos chegaram à rede para recuperar o fôlego, beber um pouco de água e secar os rios de suor que umas munhequeiras saturadas não podiam absorver. —Não o suficiente — comentou Drew antes de tomar um grande gole do refresco de limão. Acima da garrafa, dirigiu a olhar para a mulher sentada no terraço. Desde o primeiro dia que a tinha visto ali, tinha acordado sua curiosidade. Estava inclinada sobre a mesa, dando pequenos golpes com um lápis em um bloco de papel em um gesto que já associava com ela. Que era o que sempre estava escrevendo? Drew baixou a garrafa lentamente, e seus olhos azuis se estreitaram com suspeita; seria outra condenada jornalista? Deus esperava que não, ainda que não fosse estranho que alguma revista sensacionalista enviasse uma isca assim para a armadilha em uma entrevista. —Drew, você me ouviu? — Que? —voltou a olhar para seu adversário no campo; por uma vez, tratava-se de um oponente amistoso—. Despulpe-me, o que dizia? —Que tua resistência tem melhorado desde a semana passada; está fazendo que eu corra de um lado a outro da pista, e você nem sequer ficou sem fôlego. Os cantos dos olhos de Drew vincaram quando ele sorriu, e as pequenas linhas brancas em seu rosto bronzeado escureceram. Era um sorriso semelhante às dos dias antes que aprendesse a definição do que era uma tragédia. —Você é bom, mas não é Gerulaitis, Borg, McEnroe ou Tanner. Não me interprete mal, mas tenho que ser muito melhor que você antes de voltar a estar pronto para jogar com os grandes; e ainda me falta um longo caminho por percorrer para isso. O amplo sorriso que tempo atrás tinha sido famoso voltou a aparecer sob o sol de Hawaii. —Obrigado — disse Gary com tom seco—; espero ansioso no dia em que me arrastarei pelo campo enquanto você ainda terá energia suficiente para saltar a rede ao acabar a partida. Drew deu uma palmada no seu ombro, e caçoou: — Assim é que eu gosto! Tomou sua raquete, virando-a com uma soltura distraída resultado de anos considerá-la uma extensão de sua mão, e um grupo de espectadoras estourou em um caloroso e entusiasmado aplauso. Estavam sentadas ao outro lado da vala que rodeava as pistas, e seu entusiasmo aumentou quando Drew se dirigiu para a linha de fundo. —Tuas seguidoras parecem muito animadas hoje — disse Gary com certa inflexão zombadora na voz. —Condenadas fanáticas — gemeu Drew. 3


Virou-se e olhou com nojo às mulheres que se apertavam à vala como animais famintos à hora da comida... E ele era o banquete. Dirigiu a elas um olhar cheia de enfado, com o cenho franzido, mas em vez de apaziguá-las, o gesto pareceu corá-las ainda mais; falaram palavras escandalosas, e flertavam de forma desavergonhada. Uma delas, que vestia um diminuto top, afastou a parte lateral da peça para exibir um generoso peito com seu nome tatuado nele, decorado com flores, corações e bemte-vis. Outra levava um lenço atado na parte superior da coxa, igual que ao que ele levava na frente quando jogava, com a marca de seus patrocinadores. Drew apartou a vista com repulsão. Obrigou-se a concentrar na bola enquanto a jogava sem pressa e planejava sua estratégia; pensava servir com potência para o canto da área de saque, com efeito, para a esquerda, o ponto fraco de Gary. Uma das «admiradoras» de Drew gritou um convite lascivo, e ele apertou os dentes. Talvez não soubessem que o último que queria nesse momento era uma mulher? Deus, Ellie tinha morrido fazia só... «Maldito seja, McCasslin, não pense em Ellie», se disse. Não podia pensar nela enquanto tentava jogar, ou ia perder o controle...

— O senhor McCasslin? —Quem fala — conversava ao telefone com voz alegre; era um dia de sol no paraíso, quando o último que um homem esperaria era que sua mulher falecesse na emaranhado de metal e vidro de um acidente de trânsito. — Está sozinho? Drew tinha afastado o telefone de sua orelha e tinha-o olhado com uma perplexa diversão; então riu. —Sim, estou só com meu filho. Trata-se de um telefonema obsceno? —disse-o como uma piada, sem saber o obsceno que realmente chegaria a ser. —Senhor McCasslin, sou o tenente Scott, da polícia de Honolulu. Aconteceu um acidente. Não recordava muito após aquilo...

Drew tomou a bola e lançou-a várias vezes ao ar, como se estivesse comprovando seu peso; de fato, estava tentando aclarar sua mente, apagá-la de lembranças que faziam embrulhar seu estômago. Seus olhos voaram até a mulher sentada no terraço do bar; sua bochecha descansava em uma mão, enquanto olhava ao vazio com expressão ausente. Parecia alheia a todo o que a rodeava; é que não sentia o barulho das mulheres na vala?, Não sentia um pouco de curiosidade por ele? Ao que parece, não, já que nem sequer havia lançado um olhar ao campo. Surpreendentemente, sua indiferença o chateou, ainda que aquela reação fosse do todo irracional, já que no ano que havia ocorrido a morte de Ellie só queria que o deixassem sozinho. — Ouça, Drew! —Exclamou uma das admiradoras da vala—, quando acabar de jogar com tuas bolas, pode se entreter com algo meu! O duplo sentido era tão descarado e tão grosseiro, que Drew sentiu que fervia seu sangue, e quando serviu, a bola rasgou o ar a uma velocidade vertiginosa; seguiu jogando daquela forma agressiva durante o resto daquele set, e quando acabou, só tinha cedido dois pontos. Gary colocou uma toalha ao redor do pescoço e engasgou: —Se soubesse que tudo o que precisava para jogar em nível de campeonato era uma sugestão lasciva de uma de tuas seguidoras, as teria contratado por horas faz semanas. 4


Drew já tinha recolhido sua credencial, e colocado a raquete em sua bolsa, e se dirigia para as escadas que levavam ao terraço. —Estou seguro de que a maioria poderia contratá-la por horas. —Não seja tão duro com elas, são tuas admiradoras. —Preferiria ter mais admiradores que fossem cronistas ou comentaristas esportivos; não tenho nenhum seguidor nesse âmbito. A única coisa que dizem é que sou um fracassado, que estou acabado e que sempre estou bêbado. —Mas você estava sempre bêbado. Drew deteve-se no degrau acima de Gary e voltou-se para ele com enfado, para o olhar de frente; o rosto de seu amigo era sincero e condenadamente honesto. Ademais, suas palavras eram verdadeiras. A ira de Drew desvaneceu-se ante aquela clara mostra de amizade. —Sim, é verdadeiro, verdade? —perguntou com um suspiro envergonhado. —Mas isso ficou atrás: hoje você foi o Drew de antes, com uns serviços devastadores. A cada vez que uma bola rápida passava perto, minha vida passava ante meus olhos! Drew riu, e Gary continuou dizendo: —Movimentos bem pensados, e uma estratégia para sacar partido de meu ponto fraco, os golpes de esquerda. A expressiva boca de Drew curvou-se em um grande sorriso. —Achava que você não tinha percebido — disse. —Vamos, venha. Subiram rindo os últimos degraus até chegar ao terraço, e Drew percebeu de imediato de que ela continuava ali, com um montão de papéis espalhados na mesa e uma garrafa de água na mão direita, escrevendo energicamente em um bloco de notas amarelo. Ia passar junto a sua mesa, já que era o caminho aos vestiários, e evitar passar por seu lado só serviria para chamar a atenção. Ela levantou a cabeça quando estavam a ponto de passar junto a ela; foi um reflexo, como se interrompesse seus pensamentos e a mulher estivesse olhando involuntariamente para descobrir que a tinha molestado. Mas olhou diretamente para ele, e o impacto de seu olhar fez que se concentrasse completamente nela e que deixasse de ouvir o que ia dizendo Gary. Enquanto o olhar da mulher voltou a descer de imediato para os papéis, Drew pode perceber de que seus olhos eram de um incrível tom verde, e de que estavam rodeados por umas pestanas escuras e densas. Nesse momento, tomou a decisão: se ela continuasse ali quando ele saísse dos vestiários, falaria com ela; se ela não estivesse... Bom, não perderia nada; ele não estava realmente interessado em conhecer a nenhuma mulher, mas aquela o intrigava. Para ser honesto, devia admitir que a razão principal que chamava a atenção era que, aparentemente, ela não mostrava curiosidade alguma para ele. O deixaria em mãos da casualidade; se continuasse ali quando saísse dos vestiários, a saudaria ao menos. Não tinha nada mau nisso. «Ah, e outra coisa», disse-se, «não demore muito no banho».

O coração de Ardem martelava no peito. Fazia já cinco minutos desde que ele tinha passado tão perto que poderia o ter tocado, desde que viu seu rosto com tanta proximidade e em carne e osso pela primeira vez, e seu coração ainda não se tinha acalmado. Secou as mãos no guardanapo úmido que tinha apertado no punho, e os cubos de sua água com lima golpearam contra o copo quando tomou um gole. Ele a tinha olhado diretamente, seus olhos se tinham encontrado. Tinha sido um 5


contato breve, não mais de um segundo. E, no entanto, ao ver pela primeira vez a Drew McCasslin, consciente do laço que os unia, tinha sentido como se a golpeasse um raio. Eram perfeitos desconhecidos, e no entanto, guardavam um segredo que compartilhariam pelo resto de suas vidas. Abaixou a olhar para a pista, onde ele acabava de jogar de forma magistral; em vários meses atrás, ela sabia muito pouco sobre tênis, em especial sobre o tênis profissional, mas nesse momento seus conhecimentos sobre o tema a convertiam em quase uma experiente. E sua especialidade era a carreira esportiva de Drew McCasslin. Quatro mulheres entraram no campo, ridículas com roupa esportiva de desenho e jóias de ouro chamativas e diamantes. Dedicou-lhes um sorriso indulgente ao recordar a insistência de Roland em que escrevesse sobre às competições de tênis de seu clube em Los Angeles. —Isso não é para mim, Ron, não sou atlética. Não gosto de participar nas competições. —Preferiria ficar aqui sentada todo o dia em casa, escrevendo esses versos que guarda sob chave e não deixa ver a ninguém. Pelo amor de Deus, Ardem, não tens que jogar bem, não me importo, se sabe jogar tênis ou não; mas é bom para minha imagem profissional, por não falar dos valiosos contatos que poderia conseguir se fosse um membro ativo do clube. Relaciona com as mulheres dos outros médicos. Tinha-se conformado com que jogasse ao bridge. Nunca joguei muito bem, mas ao menos era o bastante boa para que a convidassem às competições que organizava o clube de campo; aquilo tinha satisfeito as exigências de Ron de que tratasse com as mulheres que ele considerava as amigas adequadas para a esposa de um médico importante. Então tinha chegado Joey, e havia dado uma desculpa aceitável para interromper suas atividades sociais; Joey havia proporcionado desculpas para muitas coisas, algumas das quais preferia esquecer. Entenderia seu filho, seu adorável, dolorosamente doce e inocente filho, a crucial decisão que havia tomado? Teria perdoado o que ela não podia se perdoar? Havia suplicado seu perdão no dia em que aquele ataúde desoladoramente pequeno era introduzido na pequena tumba. Também pedia o perdão de Deus, pela amargura que sentia ao ver como um lindo e inteligente menino se apagava na cama de um hospital enquanto outros, fortes e sãos, jogavam, corriam e faziam travessuras. Ardem obrigou-se a deixar de lado suas dolorosas lembranças, tomou outro gole de água e se felicitou mentalmente por saber jogar suas cartas com Drew McCasslin. Era do domínio público que, desde que se havia retirado a sua zelosamente protegida casa na ilha, o homem evitava as entrevistas e recusava qualquer classe de publicidade. Ardem havia pensado durante dias na forma de se aproximar dele; durante a longa viagem em avião, e inclusive após sua chegada a Maui, foi descartando um plano depois de outro. A única coisa, plano produtivo que havia feito havia sido conseguir uma quarto no clube onde ele treinava diariamente. A direção do centro havia garantido uma privacidade total, e aquele era o primeiro dia que não acedia aos vestiários pela porta metálica que dava diretamente às pistas. Não havia outra opção além que atuar com sutileza, se deixar ver e esperar a ver o que passava. Fingiria ignorá-lo, já que não era difícil de perceber que suas admiradoras mais descaradas o irritavam. Nesse dia havia-se fixado nela, o sabia de forma instintiva. Ela havia aparentado um desinteresse despreocupado, mas havia sido consciente da cada movimento do homem. O havia olhado em sua direção várias vezes, sobretudo após realizar algum 6


golpe especialmente bom, mas nunca a havia surpreendido o olhando. Uma pessoa famosa como Drew McCasslin não estava acostumado a ser ignorado. Se for o caso, sua arrogância estava justificada; seu cabelo loiro era muito longo, mas combinava à perfeição com seu atrativo demolidor, e seu poderoso corpo não mostrava os estragos de seus recentes problemas com o álcool. Seus braços e pernas, bronzeados pelo sol tropical, moviam-se com a precisão e a força de uma máquina bem engraxada, e era a personificação da elegância masculina; a pele morena contrastava com a atraente cor castanha do cabelo que a cobria. Seu peito era um pouco mais largo que o da maioria dos jogadores de tênis, mas qualquer que observasse o movimento daqueles músculos sob as t-shirts brancas feitas sob medida seria obrigado a perdoar aquele defeito. Era óbvio que, desde a morte de sua esposa, Drew McCasslin preferisse que as mulheres não percebessem seu atraente corpo viril, de modo que estava segura de que sua estratégia era a adequada. Nesse dia a havia olhado, quiçá ao dia seguinte... —Deve de ter um montão de amigos e parentes. Ardem girou-se rapidamente, sobressaltada pela voz masculina; consternada, encontrou-se de frente com o zíper de umas calças curtas de cor branca. O marcado pacote que ocultava depois do tecido só podia ser uma roupa intima diminuta e apertada, ou a um suspensório; ambas as possibilidades faziam que sentisse calor. Apartou os olhos das pernas de Drew McCasslin e subiu a vista pelo longo torso, coberto por uma caçadora de nylon azul marinho meio aberta, que revelava um peito coberto de cabelo dourado. Seu sorriso de dentes brancos e perfeitos, era o sonho de qualquer dentista, e sua forte mandíbula evidenciava um caráter teimoso; os olhos azuis eram tão deslumbrantes como se dizia. — Desculpe? —perguntou, com a esperança de que sua voz não deixasse entrever o esmagador nervosismo que sentia. —Está ocupada escrevendo em um montão de papéis, e pensei que seriam cartões; «oxalá estivesse aqui», e coisas assim. Sua voz límpida, com um tom de verdadeiro barítono e sem acento, resultava estranhamente íntima. Ardem recordou que devia atuar com fingida indiferença, e disse com um sorriso: —Não, nada de cartões; em casa não há ninguém que possa sentir saudades minhas. —Então, a ninguém se importará que me sente com você. —Talvez eu me importe. — Deveras? Ardem não se atreveu a mostrar sua euforia; depois de um segundo, disse: —Não, a verdade é que não. Ele deixou cair sua credencial sob a cadeira enfrente a sua, e se sentou; alongou uma mão acima da mesa coberta de papéis, e apresentou-se: —Sou Drew McCasslin. Ela tomou a mão, e comentou: —Ardem Gentry. Estava-o tocando! Ardem olhou suas mãos unidas, a pele do homem contra a sua, e se maravilhou do espantoso que era que aquele fosse seu primeiro contato, tendo em conta que... — Está aqui de férias? —perguntou ele com amabilidade. Ela soltou sua mão e se encostou na cadeira, tentando segurar a uma súbita sensação vertiginosa. —Em parte. É uma mistura de negócios e prazer. Drew fez um gesto para o garçom que estava depois do balcão ao ar livre. 7


— Quer outro? —perguntou, mostrando o copo de Ardem. —Desta vez tomarei um suco de abacaxi — comentou ela com um sorriso. —Está claro que não é daqui; ainda não tem tido tempo de aborrecer essa bebida. Ardem desejou que ele não fora tão atraente ao sorrir; sua flagrante atração sexual distraía-a da razão principal pela qual queria conhecê-lo, se ganhar sua confiança e, se fosse possível, chegar a ser sua amiga. —A senhora quer um suco de abacaxi, e eu quero uns quatro copos de água, por favor — disse ao garçom. —Sim, senhor McCasslin. Hoje tem jogado bem. —Obrigado. Apresse com a água, estou desidratado. —Sim, senhor. —É verdade, você hoje jogou bem — disse Ardem quando o garçom se apressou a ir buscar o que Drew pediu. O olhou-a por uns segundos antes de dizer: —Eu pensei que nem sequer se havia percebido a partida. —eu Teria sido cega e surda para não me dar conta; não sei muito de tênis, mas está claro que está jogando melhor do que a alguns meses. —Então, sabia quem eu era? —Sim, eu o vi na televisão uma ou duas vezes. Ele pareceu se decepcionar como um menino, e o sorriso de Ardem se alargou. Com tom tranqüilizador, sussurrou: —É você toda uma celebridade, senhor McCasslin; seu nome é conhecido no mundo inteiro. —Mas a maioria da gente não tem nenhum problema em me olhar diretamente quando apareço em público disse ele, em um desafio velado. — Como suas admiradoras aí embaixo? Ardem apontou com a cabeça para a parte exterior da vala, onde se haviam congregado as seguidoras de Drew; ao que parece, já haviam dispersado. Ele disse com um gemido: —Pode achar que comecei a treinar aqui porque me prometeram que teria privacidade e anonimato? E porque é o melhor campo de Maui, claro. Mas não nos demos conta que os clientes do centro de férias também têm acesso às pistas, e quando se corre a voz de que estou treinando... —suspirou com exasperação — bom, já vê o que passa. —As maiorias dos homens se sentiriam lisonjeados ante tal adoração. Ele fez uma careta sarcástica e se apressou a mudar de tema. —Em fim, que é tudo isto? —disse, mostrando os papéis espalhados pela mesa. —São notas; sou uma escritora independente. Ele se jogou atrás imediatamente de forma visível, enquanto não se moveu; seus olhos voltaram-se frios e implacáveis, e a sensual curva de seus lábios converteu-se em uma fina linha indignada. Seus dedos ficaram tensos com fúria ao redor do copo de água que o garçom acabava de lhe servir. —Já vejo — disse com voz cortante. Ela abaixou o olhar e tomou o guardanapo de papel que havia embaixo de seu copo de suco. —Acho que não. Não sou uma jornalista, senão uma escritora, e não busco uma entrevista. Foi você o que iniciou esta conversa, senhor McCasslin, não eu. Ao ver que ele não contestava, Ardem levantou suas longas e escuras pestanas e o olhou; a postura do homem não havia mudado, seguia sorrindo ligeiramente, enquanto com certa cautela, igual a ela. —Por favor, chama-me Drew. 8


Ele havia estabelecido as condições da trégua, e ela as aceitou. —De acordo, e você pode me chamar Ardem. —Que tipo de escritora é, uma novelista? Ela riu. —Ainda não, talvez em algum dia chegue a ser. Neste momento, estou tentando fazer um pouco de tudo até que encontre meu próprio estilo; sempre quis visitar as ilhas, mas nunca se apresentou a ocasião, de modo que consegui vários empregos para poder custear a viagem. Assim posso estar mais tempo e ver mais coisas sem ter que me preocupar de que minha conta bancária fique a zero. A Drew gostava do som de sua voz, a forma em que inclinava a cabeça de um lado para o outro enquanto falava, de forma que seu cabelo escuro se mover contra seu pescoço e seus ombros nus. O ar do oceano levantava fissuras tingidas de vermelho pelo sol, e soltava-os sobre seu rosto antes de deixá-los descansar; sua pele levava ali o tempo suficiente para ter adquirido um lindo tom damasco, longe do aspecto maltratado que ele considerava repulsivo. Ardem Gentry tinha uma pele muito atraente... Igual que seu cabelo e que seus lábios. Limpou a garganta e disse: —Que tipo de empregos? Ela explicou que tinha que escrever um artigo para a seção de viagens de Los Angeles Times, e outro para uma revista de moda; também ia entrevistar um botânico da área, para uma revista de jardinagem. Ele mal a escutava. Pela primeira vez desde que conheceu a Ellie, sentia interesse por uma mulher; era algo que o surpreendia, já que achava que não voltaria a ter uma relação séria. Aquilo não iria para além de tomar um par de copos juntos e conversar de coisas superficiais, mas conhecer a Ardem lhe dava esperanças de poder chegar a superar a morte de Ellie no futuro e buscar a outro casamento. Drew não podia evitar ser muito consciente de Ardem Gentry desde um ponto de vista físico; teria que ser um eunuco cego para que não fosse assim, já que era uma mulher linda. Além do mais, desprendia um ar de serenidade que ele encontrava muito atraente; tentou concentrar-se nisso e na suave voz feminina, e tentar afastar sua mente de outras características dela. Desde que havia sentado, evitou olhar seus peitos especulares e túrgidos, ela devia estar usando um sutiã sem alças sob o fino vestido verde de algodão, ou era sua figura natural. «Que demônios, vá em frente, olhe». Definitivamente, apostava pela segunda opção; graças à caricia da brisa fresca, podia detectar que os mamilos estavam ligeiramente franzidos. Sentiu que acordavam nele desejos que havia enterrado com Ellie, e não tinha certeza em se envergonhar ou se alegrar disso. Não havia admirado o corpo de uma mulher desde a última vez que havia feito o amor com Ellie; não sentia nada ao ver cruas exibições de carne nua. Sentia o mesmo interesse pelo corpo de uma mulher que qualquer homem, mas aquilo... Aquilo era diferente. Não só gostava do corpo de Ardem, mas também atraía sua personalidade, sua evidente inteligência, a verdadeira indiferença que mostrava para sua fama. Sentiu ressurgir uma faísca de sua antiga fantasia, e perguntou-se o que ela faria se inclinasse e dizer: «Por favor, Ardem, não se ofenda, mas, pela primeira vez desde a morte de minha esposa, não me repugna a reação de meu corpo para uma mulher». Havia tido mulheres... Corpos, nada mais. Foram proporcionados por amigos com segundas intenções que achavam que umas mãos e umas bocas versadas nos prazeres sexuais poderiam curar todos seus males. Se pudessem recordar os encontros quando voltava a estar sóbrio, adoecia pelo asco que sentia de si mesmo. Uma noite em Paris, após cair em descrédito com uma humilhante derrota no 9


campo, ele mesmo havia buscado a uma mulher, a prostituta mais sórdida que pôde encontrar. Era o castigo que se infligia sua penitência. Depois, quando esteve o suficientemente sóbrio, chorou e rogou a Deus não se ter infectado com algo humilhante. Aquele havia sido o ponto de inflexão, o último capítulo da dissipada etapa suicida de Drew McCasslin; só ele podia salvar a si mesmo. Além do mais, havia que pensar também em Matt. —A Quanto tempo você vive nas ilhas? A pergunta de Ardem devolveu-o a um momento bem mais feliz. —Levo aqui a maior parte de minha vida adulta; quando comecei a ganhar partidas e a ganhar dinheiro com os patrocínios, me pareceu o lugar ideal para um solteiro. Vivia em Honolulu quando conheci a Ellie, ela... Deteve-se bruscamente e abaixou a olhar para seu copo de água; seus ombros adotaram uma postura defensiva. —Sei sobre sua mulher, Drew — disse Ardem com macieza—; não tens que te sentir mau pela mencionar. Ele viu nos olhos femininos uma compaixão muito diferente à curiosidade mórbida que estava acostumado a ver nos rostos dos bisbilhoteiros; aquilo foi o que o impulsionou a continuar: —Seu pai era um oficial de marinha destinado em Pearl. Eleanor Elizabeth Davidson. Disse que para um nome de seu tamanho... Era bastante pequena... Era exagerado chamar-se como uma primeira dama e uma rainha. —De modo que a chamava de Ellie — disse Ardem com um sorriso de ânimo. Ele respondeu com uma ligeira risada, e disse: —Sim, apesar da indignação de seus pais — bebeu um gole de água, e com o dedo desenhou círculos na condensação do copo—. Em fim, quando morreu quis mudar de ambiente, de modo que me mudei a Maui, que é um lugar bem mais tranqüilo. Queria salvaguardar minha privacidade e proteger a Matt dos curiosos. O corpo inteiro de Ardem ficou tenso. — Matt? —Meu filho — disse ele com orgulho. A garganta de Ardem palpitava com a batida de seu coração, mas conseguiu responder: —Ah, sim também tenho lido algo sobre ele. —É um menino incrível, o mais esperto e lindo do mundo. Esta manhã, tem... — Drew deteve-se em seco no meio da frase—, perdoa-me, não há quem me pare quando falo dele. —Não me aborrece em absoluto — se apressou a dizer ela. —Sim, você me der corda; basta dizer que, nos últimos tempos, é a única coisa em minha vida do que posso me orgulhar; vivemos justo em frente da praia, ele adora. Ardem fixou a vista no horizonte enquanto tentava controlar-se; o sol era um reflexo cobrindo a superfície do oceano, e deslumbrava a qualquer que o olhasse daquele ângulo. A ilha de Molokai era uma sombra cor cinza azulado para o noroeste, as palmeiras se mexiam ritmicamente na suave brisa, e as ondas de espuma branca avançavam até beijar a areia da praia antes de retirar-se. —Entendo por que gosta viver aqui, é muito lindo. —Foi ideal para mim, é um lugar para se curar tanto mental como fisicamente. Drew perguntou-se por que estava falando com tanta naturalidade com aquela mulher, quando já sabia a resposta: Ardem inspirava confiança e irradiava entendiga-mento. Uma idéia súbita fez com que arqueasse uma sobrancelha iluminada pelo sol. 10


—Você disse antes que não tem ninguém em casa que sinta sua falta, você não é casada? —Eu já fui. Estou divorciada. — Não tem filhos? —Um, Joey — o olhou diretamente—, morreu. O murmurou um palavrão antes de suspirar e dizer: —Despulpe-me, sei o quanto é doloroso quando alguém nos faz relembrar de repente sem querer. —Não se preocupe, a única coisa que detesto é quando meus amigos evitam falar dele, como se nunca tivesse existido. —Sim, também tenho sofrido isso; a gente tenta não mencionar a Ellie, como se temessem que eu desmoronasse em um mar de lágrimas e os deixe em evidência, ou algo assim. —Sim — disse Ardem—, eu quero que Joey seja recordado; era um menino lindo, doce e alegre. — Que passou, teve um acidente? —Não, quando havia quatro meses contraiu meningite, e seus rins foram afetados. Desde então teve que se submeter a diálise, e eu achei que levaria uma vida razoavelmente normal, mas... Sua voz foi se atenuando até apagar-se de tudo, e ambos permaneceram calados longo momento; nem sequer eram conscientes dos sons que os rodeavam: os risos de uma mesa no outro extremo do terraço, o zumbido da coqueteleira do garçom, uma alegre exclamação desde as pistas embaixo deles. —Piorou. Teve complicações, e morreu antes que encontrassem um órgão compatível para realizar um transplante. — E teu marido? —perguntou ele com macieza. Quando havia pegado sua mão? Ardem não recordava, mas de repente ficou consciente disso, de como acariciava suas juntas com o polegar. —Divorciamos-nos antes que Joey morresse. Pode se dizer que deixou o menino a meu encargo. —Parece que o senhor Gentry é um verdadeiro bastardo. Ardem jogou-se a rir; seu ex-marido não se chamava Gentry, mas não podia estar mais de acordo com Drew. —Tens razão, o é. Riram baixinho durante uns segundos, alheios a todo os demais, até que foram conscientes do que estavam fazendo; assim que deram-se conta, o ar carregou-se de um nervosismo envergonhado. Ele se apressou a soltar sua mão e se inclinou a tomar sua credencial. —Já a mantive afastada bastante tempo de teu trabalho; além do mais, prometi a minha governanta que esta tarde eu me ocuparia do menino para que ela pudesse ir de compras. — Uma governanta ocupa-se de Matt? Porta-se... Porta-se bem com ele? —a preocupação que sentia fez que sua voz soasse lisonjeira. —Não sei o que faria sem ela; a senhora Laani já trabalhava conosco antes que chegasse Matt, e quando Ellie morreu, ela se encarregou de tudo e veio viver comigo. Tenho plena confiança nela. Ardem sentiu como seus tensos músculos se relaxavam com alívio. —É uma sorte que conte com alguém assim. Ele se levantou e alongou uma mão. —Passei muito bem, Ardem. Ela apertou a mão e falou: 11


—Você também. Sentia-se relutante em soltá-la, e quando o fez, seus dedos roçaram a palma de sua mão. Queria fazer o mesmo em sua bochecha, à parte inferior de seu braço, a seu ombro. Como seu cabelo, queria percorrer a pele de seu pescoço e de seu peito com sedutoras caricias. —Espero que desfrute do resto de sua permanência aqui. Os batidos do coração de Ardem haviam-se acelerado, e sentia um ligeiro formigamento na parte posterior da garganta quando falou: —Estou segura de que será assim. —Bom, adeus. —Adeus. Drew. Ele se afastou três passos antes de se deter, e repensou sua decisão por uns segundos antes de voltar atrás; ia fazer algo que não havia feito desde que conheceu a Ellie Davidson. Ia marcar um encontro com uma mulher. —Eh... ouça, eu estava me perguntando se você estaria aqui amanhã. —Não sei — disse Ardem com prudência; em realidade estava contendo o fôlego, rezando por seus modos — Por quê? —Bom, Gary e eu jogaremos pela manhã — moveu seu peso de um pé ao outro—, e estava pensando que, se vais estar por aqui, talvez poderia ver um ou dois jogos e depois poderíamos ir comer em algum lugar. Ela abaixou os olhos, os fechando quase em gesto eufórico. —Se não te apetece... —começou ele. —Não — disse ela rapidamente, voltando a levantar a cabeça—; quero dizer, sim, isso seria... Gostaria de muito. — Genial! —disse ele, recuperando a segurança em si mesmo. Por que importava tanto que ela tivesse aceitado? Podia conseguir uma mulher assim que quisesse, e não para comer precisamente. Mas quando Ardem disse que sim havia sido condenadamente importante para ele. —Então, vemos-nos aqui ao meio dia? —perguntou, enquanto tentava jogar uma olhar furtivo às pernas que ela mantinha decorosamente cruzadas sob a mesa. Talvez seus tornozelos fossem muito grossos. —Aqui estarei. Seus tornozelos eram uma maravilha. —Adeus — os lábios de Drew curvaram-se em um amplo sorriso devastador. —Adeus — Ardem esperava que o tremor de sua própria boca não fosse visível quando devolveu o gesto. Ele cruzou o terraço com passos fluídos e enérgicos, e ela o observou enquanto se afastava, admirando a forma desenvoltura em que se movia e o contorno atlético de seu corpo. Gostava, e alegrava-se tanto de isso... Era uma pessoa agradável; um homem extraordinário, mas humano afinal de contas. Já não era um sinal de interrogação sem rosto nem nome em sua mente, senão um homem com uma identidade e uma personalidade, que havia experimentado amor e dor, e havia sabido sobrepôr-se. Sentiu uma pontada de culpa por ter ganhado sua confiança: a teria convidado a comer se soubesse quem era ela? Se mostraria tão ansioso de voltar à vê-la se soubesse que ela era a mulher que havia sido inseminada artificialmente com seu seimen? Teria confiado tão abertamente nela se tivesse dito, sem mais, «sou a mãe de aluguel que Ellie e você contrataram, eu dei a luz a teu filho»?

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Capítulo 2 Em sua ausência, a camareira havia limpado a quarto e havia posto o ar acondicionado ao máximo. Depois de deixar sua bolsa e seu bloco de notas sobre uma mesa, Ardem ajustou o termostato da parede e abriu a ampla porta corrediça de vidro que dava a seu terraço privado com vistas ao oceano. A quarto era exorbitantemente caro, mas a paisagem valia a cada centavo. Respirou fundo e ao soltar o ar sussurrou um nome: Drew McCasslin. Seu objetivo. Enfim havia-o conhecido, havia ouvido pronunciar o nome de seu filho. Matt. Não demorou nada em tirar o vestido e pôr um roupão felpudo; saiu à acolhedora cálidez havaiana, e sentou-se em uma das duas cadeiras do terraço. Apoiou os calcanhares no assento e deixou que seu queixo descansasse sobre seus joelhos enquanto contemplava a vista marinha. Drew havia suposto que Gentry era seu nome de casada, mas não sabia que ela se havia despojado do nome de seu ex-marido, como um animal que mudasse a pele, assim que havia assinado os papéis do divórcio. Não queria ter nada em comum com Ronald Lowery, nem sequer seu odioso nome. Justo quando pensava que a raiva havia desvanecido por fim, a tomava por surpresa e voltava a corroê-la, como nesse momento. Ela era silenciosa e intangível como o nevoeiro, mas igualmente envolvente, e igualmente sufocante. Poderia chegar a esquecer a humilhação da noite em que ele havia levantado o tema pela primeira vez? Ela estava na cozinha de sua casa de Beverly Hills, preparando o jantar. Era uma ocasião fora do comum, já que Ron ia vir diretamente ao sair do trabalho; aquela tarde havia-a chamado para dizer-lhe que não havia nenhum nascimento previsto, que havia acabado cedo suas rondas no hospital e que sairia da consulta a tempo para jantar com ela. Em um casamento que não havia demorado em decepcionar a Ardem, inclusive compartilhar um jantar era todo um acontecimento. Se Ron estava tentando arranjar as coisas, ela faria a sua parte. — Celebramos algo? —havia perguntado ela quando seu marido apareceu com uma garrafa de um vinho muito caro. Ele a havia beijado com gesto enérgico na bochecha, e conversava com impetuosidade: —Poderia dizer que sim. Sabia por experiência própria que gostava de manter segredos, não pelo prazer que finalmente produziam nos demais, senão porque lhe davam uma sensação de superioridade. Havia aprendido muito tempo atrás a não o pressionar para obter informação; a maioria das vezes, as surpresas de Ron eram desagradáveis. —A carne estará pronta em seguida, por que não vai ver a Joey? Está em seu quarto, vendo Vila Sésamo. —Pelo amor de Deus, Ardem, acabo de chegar. O último que quero é ouvir o falatório de Joey. Prepara-me algo para beber. Estupidamente, ela havia obedecido, tal e como acostumava a fazer. —É teu filho, Ron — disse enquanto dava-lhe seu whisky com água — ele te adora, mas você fazem muito poucas coisas juntos. —Ele não pode fazer coisas normais. Ardem odiava a maneira em que ele havia apressado a bebida em um par de tragos, e como havia alongado o copo em sua direção, indicando sem palavras que voltasse ao encher. —Por isso é ainda mais importante que encontre... —Deus! Deveria saber que se viesse para casa com boas notícias, você estragaria com seus choramingos. Estarei no salão, chama-me quando estiver pronto o jantar. 13


Nosso jantar. Quero falar contigo de algo importante, de modo que dê comida a Joey e coloque-o para dormir antes. Depois de dizer aquilo, havia saído do quarto, e Ardem havia sentido imensamente feliz ao ver que suas calças haviam espaços vazios na parte traseira. Quando conheceu a Ron, era um jovem estudante de medicina que se orgulhava de seu físico atlético; muitas festas depois, seu estômago já não era plano e musculoso, seu traseiro era a cada vez mais chato e suas cintura cada vez mais larga. Não era nem muito menos tão afável e elegante como antes, e ele o sabia; só havia a seu favor a consulta ginecológica pela qual havia sacrificado todos os demais, inclusive o amor de sua mulher. Naquela noite, Ardem esforçou-se por mostrar-se atraente e afetuosa: havia deitado Joey após receber um apressado e pouco sincero beijo de seu pai, e o jantar que havia preparado era opulento. Naqueles dias, desfrutava cozinhando. —Bom — disse, sorrindo a seu marido do lado oposto da mesa, enquanto ele se servia uma segunda ração de pastel de maçã—. Vai me dizer o que estamos celebrando? —O fim de todos nossos problemas - falou de forma ambígua. O fim de todos seus problemas seria ver Joey completamente recuperado, vivendo como um menino de três anos normal. Mas perguntou com amabilidade: —Que problemas? A clínica vai bem, verdade? —Sim, mas... —Ron soltou um suspiro, e seguiu dizendo—: Ardem, sabe que ultimamente tenho precisado... Relaxar, ficar bem. Tudo o que ouço um dia depois de outro são mulheres queixando dos choques, ou vociferando ao dar a luz. Ardem engoliu uma áspera resposta; seu pai não havia sentido o mesmo pela consulta que havia demorado toda uma vida em converter em uma das melhores de Los Angeles. Não havia se mostrado intolerante ante a dor de seus pacientes, fosse imaginário ou não, da forma em que o fazia Ron. —Tenho apostado um pouco e, bom... —encolheu os ombros, e olhou-a com um sorriso que ele pensava que era adorável — estou quebrado, com dívidas até o pescoço. Ela demorou um ou dois segundos em assimilar o que ele estava dizendo, e um minuto inteiro em controlar o pânico. O primeiro em que pensou foi em Joey, já que seu tratamento médico era exorbitantemente caro. — Quanto... a quanto chegam as dívidas? —O suficiente para ver-me obrigado a vender o consultório, ou a usá-lo como garantia para pedir um empréstimo tão grande que jamais poderia saldá-lo, sem importar quantas crianças ajude a nascer. Ardem esteve a ponto de devolver o jantar que acabava de comer. —Oh, Deus meu, o consultório de meu pai. — Maldita seja! —Rugiu Ron, e deu um soco tão forte na mesa, que as louças e os copos ressoaram estrondosamente—; não é sua, é minha. Minha, me ouve? Seu pai era um medico de povinho com técnicas defasadas até que converti essa clínica em uma moderna... —Fábrica. Assim a gerência, sem compaixão nenhuma para as mulheres às que trata. —Ajudo-as. —Oh, você é um bom médico, isso está claro; um dos melhores. Mas não tens sentimentos, Ron, não vê à mulher que trata como a uma pessoa, você só se interessa por sua conta bancária. —Você não se importa de viver aqui, e pertencer ao melhor clube... —Você queria a casa e o clube, não eu. 14


—Quando uma mulher sai de meu consultório, se sente no topo do mundo. —Sei perfeitamente bem que seus modos são impecáveis, Ron, não sou tonta; pode enganar a uma pessoa para que ache que se preocupa com ela. O acomodou em sua cadeira, com as pernas estendidas em frente a ele e os tornozelos cruzados. Sua expressão era teimosa. — Falas por experiência própria? —disse arrastando as palavras. Ela abaixou a olhar até seu prato; após casar-se, não havia demorado muito em de perceber que os gestos românticos e as declarações de amor de Ron eram por que ele queria conseguir um consultório de renome e com bons dividendos, não uma amante esposa. —Sim, sei por que se casou comigo, queria a clínica de meu pai; de fato, acho que importunou de propósito até que sofreu o derrame cerebral e morreu. Agora já tem o que queria — sua ira foi se avivando, e terminou de falar gritando—: e está me dizendo que está a ponto do perder tudo, porque você ficou jogando! —Como sempre, está tirando conclusões precipitadas e não está escutando nem a metade do que te digo — serviu um generoso copo de vinho, e o bebeu em um par de tragos—. Surgiu uma oportunidade para conseguir um montão de dinheiro. — Como, com drogas? E a fulminou com um olhar, mas disse: —Recorda que no ano passado consegui aquele bebê para que um casal o adotasse? Não queriam problemas nem papelada, só um menino com os papéis em ordem. —Sim, lembro-me — falou ela com cautela. Em que estava pensando?, no mercado negro de meninos? Estremecendo. Ardem pensou que não descartaria que ele fosse capaz de tal coisa. —Hoje eu me reuni com uns amigos seus; foi em segredo, de forma muito discreta, porque são gente famosa. Deteve-se com dramatismo, e ela soube que queria que perguntasse de quem se tratava; tempo depois, se arrependeria de não o ter feito. —Este casal deseja ter um filho mais que nenhuma outra que eu tenha visto, e tentaram tudo pára que ela ficasse grávida. Nada tem funcionado, mas ele tem passado várias revisões e não há dúvida de que tem a pistola carregada — comentou de forma lasciva. Ardem escutou estoicamente, com uma expressão imperturbável. —Disse que tentaria encontrar um bebê para que o adotassem de forma discreta, mas a mulher se opôs. Quer que seu marido seja o pai. —Não sei se estou entendendo. —O fruto de seu ventre, de sua semente — entoou de forma teatral—. Querem que encontre uma mãe de aluguel adequada, que a insemine com seu esperma, e... voilá! Terão um bebê. —Tenho ouvido falar das mães de aluguel; acha que pode funcionar?, o faria por eles? Ele se jogou a rir. —Claro que o faria, oferecem cem mil dólares. Cinquenta para a mãe, e cinquenta para mim. Ardem deu um respingo, e comentou: —Cem mil... Devem de ser famosos milionários. —Só pedem um menino são e absolutamente confidencial; tudo em segredo. Ardem, de modo que estamos falando de dinheiro negro. Disseram que me pagariam em espécie. Era pouco ético, por não falar de ilegal; não podia achar que nenhuma mulher se prestasse a tais travessuras. 15


— Onde vai encontrar a uma mulher disposta a ter um menino só para te entregar? Os olhos de Ron fincaram-se nos dela, e Ardem sentiu que um calafrio percorria suas costas. Durante uns tensos segundos, olharam-se de lados opostos da mesa. —Não acho que tenha que buscar muito — disse ele. Ardem ficou pálida; não podia estar se referindo a ela, sua própria esposa! —Ron — disse, amaldiçoando a nota de desespero e pânico em sua própria voz—, não está sugerindo que eu... —Exatamente. Ela se levantou de um salto da cadeira e se virou como um raio para sair dali, mas ele já estava ao seu lado, e quase deslocou seu ombro quando a fez se girar para ele. Seu rosto Havia enrijecido, e a banhou em saliva quando gemeu: —Pensa por uma vez, Ardem. Se fizer isto por mim, conseguiremos todo o dinheiro que preciso; não terei... Não teremos que o compartilhar com ninguém mais. —Tentarei esquecer que tivemos esta conversa, Ron. Por favor, solta-me o braço, está me machucando. —Ainda farei mais dano e que te expulsem desta casa que tanto gosta de se enclausurar. Além do mais, que passa com Joey? Seus tratamentos estão nos sangrando. E o legado de teu pai, vai permitir que se vá á falência por seus preciosos princípios? Ela se libertou de seu agarre e esteve a ponto de sair correndo para se afastar dele, mas suas palavras a fizeram pensar apesar da loucura da situação. Não podia permitir que Ron destruísse com suas dívidas de jogo o trabalho de toda uma vida de seu pai; e Joey... Que fariam se não pudessem pagar as faturas de seu tratamento? —Estou segura de que esta... Este casal não era o que tinha em mente à esposa de seu médico quando ficou em contato contigo. —Nunca o saberão; não querem conhecer à mãe, nem que ela os conheça. Pretendem fazer passar ao menino como seu, e só querem uma mulher sã para que dê a luz a um bebê robusto para eles, um recipiente. — É isso todo o que sou para ti, Ron? A oportunidade de solução de seus problemas, um recipiente com o que conseguir dinheiro? —Não utiliza teu equipamento para nada mais, isso eu sei de primeira mão; pelo menos poderias usá-lo para ter um bebê. Seu corpo inteiro derrubou-se sob o peso do insulto; era verdade, a pouca freqüência de suas relações sexuais era objeto de discussão constante entre eles. Ardem não havia aversão ao ato sexual, havia crescido com a educação franca de seu pai sobre o tema, respeitando sua importância e o antecipando de forma sã. O que lhe causava aversão era o sexo que gostava a Ron; carecia de caricias prévias ou ternura, de amor. Ela havia submetido durante anos até que não pôde o suportar mais e começou a pôr desculpas a cada vez mais freqüentes. Em vez de começar de novo aquela discussão estéril, que sempre dava lugar a que ele estivesse a ponto da violar, Ardem disse: —Não quero ter um bebê, o filho de outro homem; tenho que pensar em Joey. A maior parte do tempo eu estou esgotada quando volto do hospital, não acho que seja fisicamente capaz; além do mais, não estou preparada do ponto de vista psicológico. —Estará preparada se você mentalizar; e esquece-se de todas essas tolices sobre o filho de outro homem, não é mais que um processo biológico. Esperma, óvulo e pam! Aparece um menino. Ela se voltou, enojada. Como podia falar de forma tão insensível de um milagre que pressênciava diariamente? Não sabia por que continuava ali discutindo aquilo... Talvez fosse porque ela também começava ao ver como sua possível salvação. — Que lhe diríamos à gente? Refiro-me a quando voltar do hospital sem o bebê. 16


—Lhes diríamos que o menino havia nascido morto, que estávamos destroçados e que não queríamos funeral nem cerimônia alguma, nada. —Mas, que passa com o pessoal do hospital? Há normas muito restritas que proíbem que os médicos tratem a seus familiares; como você fará, como você dará meu... Bebê a uma mulher que não estava grávida? Como conseguirá que achem que o meu morreu? —Não se preocupe com nada disso, Ardem — disse ele com impaciência — Eu me ocuparei de todos os detalhes, o dinheiro fecha a boca da gente. As enfermeiras da sala de partos são-me leais, farão o que eu lhes diga. Ao que parece estava acostumado a tais intrigas, a chegar a toda classe de acordos; tudo aquilo era alheio a Ardem, e o alcance das possíveis repercussões a faziam se sentir incômoda. — Como o... faremos? Achando que ia aceitar, a excitação de Ron aumentou. —Primeiro, temos que nos assegurar de que não está grávida — a olhou com um sorriso repugnante, e disse—: mas isso seria quase impossível, verdade? Mostrarei a eles seu histórico médico, que é impecável; não tive nenhum problema com tua primeira gravidez. Assinamos um contrato, e eu te trato no consultório. — Que acontece se eu não conceber? —O fará, eu me ocuparei disso. Ardem estremeceu. —Tenho que pensar. Ron. — Que há que pensar...? —começou a gritar: quando viu que o queixo de sua mulher se levantava com teimosia, suavizou sua estratégia e recorreu a seu encanto—: claro, certamente, pense por alguns dias, mas querem uma resposta no final de semana. Comunicou sua decisão à manhã seguinte, e ele se mostrou entusiasmado; então ela expôs suas condições. — O que você quer? —gemeu Ron. —Disse que quero a metade do dinheiro assim que te paguem, além dos papéis do divórcio assinados, selados e entregados. Não teremos relações íntimas até que eu dê a luz, e assim que saia do hospital com o dinheiro, não quero voltar a vê-lo em minha vida, —Não vai me deixar, querida, se alguém vai receber o pé no traseiro aqui, é você! Importa-se muito a reputação da clínica para deixar-me. —Importava-me antes; quando meu pai a dirigia, era o que eu supunha que devia fazer. Acho que sob tua direção irá desmoronar gradualmente, e eu não estarei aqui para o ver. Já não é algo do que possa me orgulhar — se ergueu ainda mais, e continuou dizendo—: você me usou para conseguir a clínica, agora faz com ela o que quiser; terei este bebê porque o dinheiro nos libertará a Joey e a mim de ti. Você me usará pela última vez doutor Ronald Lowery. Ele havia aceitado todas suas condições, e Ardem supôs que seus credores o estavam pressionando. Um homem desesperado não havia outra opção que aceitar os termos que lhe exigissem, fossem os que fossem. Quando saiu do hospital se sentindo suja, utilizada e vazia, mas livre, não se arrependeu de sua decisão. O dinheiro que havia ganhado por aqueles nove meses permitiria cuidar melhor de Joey. Mas nesse momento, quase dois anos depois, havia sentimentos contraditórios sobre sua decisão de ter o filho de um desconhecido. Os McCasslin haviam conseguido o que desejavam quando ela deu a luz a um menino; havia enriquecido suas vidas, e havia sido um apoio que Drew pode se apegar, uma razão para viver quando o resto de seu mundo se havia derrubado. Não era isso suficiente para expiar sua culpa? 17


Por que seguia se penitenciando? Em todo caso, já era muito tarde para mudar o sucedido. Não havia movido enquanto recordava os acontecimentos que finalmente a haviam levado até aquela formosa ilha; finalmente levantou-se e esticou os músculos, rígidos por ter estado tanto tempo na mesma postura. Passou uma tarde tranqüila em seu quarto, escrevendo um pouco, mas, sobretudo perguntando-se quando diria a Drew McCasslin quem era, e como poderia pedir que deixasse ver seu filho.

—Olá — Drew acercou-se até o borda da pista e levantou a olhar para Ardem, que estava sentada na mesa de sempre — Parece fresca como uma rosa. —E você está vermelho vivo. Ele se jogou a rir, surpreendido. —Assim é exatamente como me sinto, Gary está dificultando muito. —Eu diria que você também não está sendo nada fácil. Ardem havia visto os dois últimos e intensos jogos, e sabia que Drew estava ao mesmo nível que antes que a dor e muito álcool danificaram seu jogo. Ele pareceu satisfeito de que ela se tivesse percebido. —Sim, bom, tenho conseguido alguns golpes bastante bons — admitiu com humildade —; à hora da comida, estou faminto. —Não se apresse por mim, estou desfrutando da exibição. Ele a saudou com uma reverência e voltou à pista enquanto gritava a Gary, que parecia exausto, que havia acabado o descanso. Drew ganhou o seguinte jogo sem ceder nem um só ponto, mas quando Gary serviu, o fez fenomenal, e o jogo se igualou várias vezes antes que Drew conseguisse dois pontos seguidos e ganhasse a partida. Ignorando às garotas que de novo se haviam congregado na vala como vistosas borboletas para animá-lo, chegou cambaleando comicamente até a parede e levantou a vista para Ardem. — Não se supõe que o toureiro deve lançar à dama a orelha do touro, a fila ou alguma coisa para dedicar a corrida? —Acho que sim, mas, por favor, não corte a orelha a Gary — riu ela. —Só tenho uma bola de tênis... Ou uma toalha suada. —Prefiro a bola. Drew lançou-a, e depois de pegá-la habilmente, ela inclinou a cabeça com um gesto régio de aprovação. —Pede-me quatro copos de água, estarei contigo em um minuto. Ardem viu-o jogar sua credencial ao ombro e afastar-se a bom passo para os vestiários; saudou-a com a mão antes de desaparecer depois das portas metálicas. Enquanto fazia um gesto ao garçom e pedia a água e outro copo de chá gelado para ela, se perguntou se ele teria pensado alguma vez na mulher que havia dado a luz a seu filho. Se ele teria perguntado como se sentia, levando uma parte dele dentro de seu corpo? Intimidade sem intimidade.

Depois de vários dias tomando sua temperatura com um termômetro especial. Ron havia anunciado que havia chegado o momento, e disse para ir ao consultório após fechar. Nua e vulnerável, havia-se deitado na mesa de reconhecimento com os pés levantados em umas abraçadeiras, enquanto ele inseria o que havia chamado um capuchón cervical; depois havia injetado o líquido seminal congelado no receptáculo, que manteria o líquido contra a entrada do útero até que ela o extraísse de forma 18


indolor em casa. Com sorte, os resultados seriam positivos. —você não está se excitando mais com isto que quando o fazes para valer, Ardem — disse ele, a olhando maliciosamente. —Vá logo e acabe com isso de uma vez — falou ela com cansaço; suas piadas de mau gosto já não tinham o poder da provocar. — Não sente um pouco de curiosidade ao menos? Não se pergunta o aspecto que tem o pai, quem é? Devo admitir que é um tipo atraente. Quer se excitar um pouco antes, para que pareça mais real? —Agarrou um de seus peitos e o apertou dolorosamente—, poderia te fazer um favor, todo mundo foi embora. Ela apartou a mão de uma bofetada, e ele riu com crueldade; deveras achava que aquele sorriso insinuante de lábios murchos ia voltá-la louca de desejo? Desviou a olhar enquanto uma lágrima solitária deslizava-se por sua bochecha. —Acaba já, por favor. —Voltaremos a fazê-lo amanhã — disse quando ela se levantou. — Amanhã? —E ao dia seguinte; três dias seguidos enquanto exista a possibilidade de que esteja ovulando — se apoiou contra a mesa, acariciou sua coxa e acrescentou—: então nos sentaremos, esperaremos, e veremos que passa. Ela rezou ficar grávida naquela primeira tentativa; após suportar o trato vergonhoso de Ron, não acreditava poder voltar a passar pelo mesmo ao mês seguinte. Suas preces tiveram resposta: após seis semanas, Ron estava seguro de que havia concebido. Informou ao casal que a mãe de aluguel ia ter um bebê, e disse a Ardem que se haviam mostrado extasiados. —Assegura-te de cuidar-te como é devido — disse em tom de advertência—; não quero que nada o estrague. —Eu também não o quero — conversava ela, antes de fechar a porta do dormitório na cara. Não pensava na vida que levava dentro como um menino, uma pessoa, um ser humano, senão unicamente como uma maneira de conseguir uma vida melhor para Joey e para ela, longe da cobiça e do egoísmo de Ron. Durante as semanas de mal-estares matinais, e nos longos e esgotantes dias em que levava a Joey ao hospital, tentou não verter seu ressentimento no feto que jamais poderia se permitir amar. Quando seus amigos lhes davam a parabéns pela gravidez, se obrigava a sorrir e a aceitar suas felicitações e o braço possessivo de Ron sobre seus ombros. A primeira vez que sentiu o menino se mover em seu interior, sentiu um instante de alegria indescritível, mas o reprimiu de imediato, o ignorou e o escondeu em algum rincão afastado de sua mente. Só de noite, sozinha em seu quarto enquanto aplicava loção calmante em seu ventre dilatado, se permitia pensar no bebê, Seria um menino ou uma menina? Seus olhos seriam azuis ou castanhos? Herdaria seus olhos verdes? Foi então quando começou a se perguntar quem seria o pai, de quem era a semente que levava em seu seio. Como era? Era uma boa pessoa, seria um bom pai? Amava a sua mulher? Seguro que sim, ao menos ela o amava o suficiente para permitir que outra mulher desse a luz a seu filho; talvez estavam juntos quando ele recolheu...

—Dou um centavo por eles. — Oh! —Ardem deu um respingo, levou uma mão ao peito e girou em redondo; o objeto de seus pensamentos se referia a ela, sorrindo, com uma mão descansando no respaldo da cadeira, perto de suas costas nuas. 19


—Despulpe-me — disse ele com sincero arrependiga-mento—, não pretendia te assustar. —Não, não passa nada — era consciente de que ardiam suas bochechas, e de que seus olhos refletiam o desconcerto que sentia — Estava a um milhão de quilômetros de aqui. —Espero que o sonho tenha valido a pena. Seus olhos eram incrivelmente azuis em contraste com sua pele bronzeada, e estavam marcados por umas densas pestanas castanhas de pontas douradas. Desprendia um maravilhoso aroma, mistura de sabonete e de colônia cara que não conseguia identificar; ao que parece, ia deixar que o sol secasse seus cabelos, já que algumas mechas úmidas descansavam em sua testa, dando a ele um aspecto travesso. Após o que havia pensado. Ardem não queria o ver como um homem com um rosto e um corpo reais... um rosto aposto, um corpo sexy. Se ruborizou ao recordar aquela injeção capaz de criar uma vida nova que Ron havia introduzido em seu corpo, e apartou a olhar enquanto umedecia os lábios com um gesto nervoso. —Não era exatamente um sonho — disse, com o que esperava que fosse um tom despreocupado e indiferente—. Só estava sumida em meus pensamentos, o meio é realmente hipnótico; o som das ondas, o suspiro do vento... bom, já sabe. Ele se sentou com aspecto relaxado em frente a ela; levava umas calças cor marfim e uma camisa azul marinho. Tomou um longo gole de água e disse: —Às vezes desço até a praia que há em frente de minha casa, sobretudo pela noite, e me sento durante uma hora ou mais, sem me dar conta de que passa o tempo. É como se estivesse dormido, sem o estar. —Acho que a mente pode isolar-se de tudo, quando sabe que precisamos escapar. — Ajá!, de modo que era isso o que fazia? Estavas tentando escapar de mim. Ardem jogou-se a rir, pensando que nenhuma mulher quereria escapar de um homem com um sorriso tão devastador. —Nem pensar, ao menos até que tenha pagado a comida — caçoou. —Você se parece com Matt; sempre me pede algo antes de me dar um abraço ou um beijo — ante a expressão sobressaltada dela, se apressou a dizer—: Ardem, eh... Maldição. Ardem, não tenho queria dizer que parece, não espero nada deste encontro, isto é... —Sei o que queria dizer — disse ela, sorrindo de novo—. E não me ofendeu, para valer. Ele abaixou ligeiramente uma pálpebra enquanto contemplava a boca feminina, sem tentar ocultar que era atraente. —Mas vale a pena pensar em isso, não? O de se beijar. —Não entendi — falou ela com certa hostilidade. Havia passado toda a manhã tentando decidir o que colocar, e nesse momento desejava não ter sido tão atrevida. Depois da morte de Joey havia sumido em sua dor, abandonando-se totalmente. Antes de entrar naquela missão, começou a fazer exercício com regularidade, começou a cuidar sua alimentação, suas unhas e seu aspecto, havia cortado o cabelo e havia comprado um novo vestuário que havia posto ao limite seu orçamento. Os resultados eram assombrosos; quanto Ron a havia reprimido? Estava melhor que nunca, e nesse dia não era nenhuma exceção. O corpete negro sem alças que levava se ajustava provocativamente a seus peitos, revelando sua forma ao detalhe. A saia branca havia um corte moderno, com botões na parte esquerda desde a cintura até o cóccix; havia-a deixado descoberta até meio coxa, e suas pernas contrastavam, bronzeadas e sedosas, contra o tecido branca. Levava também umas sandálias de couro negras e planas que se abotoavam com 20


correias ao redor dos tornozelos, e as únicas jóias que luzia eram uma pulseira e uns pendentes de aro brancos. De pé ante o espelho de seu quarto, havia pensado que seu aspecto era elegante e à moda, por que se sentia sedutora nesse momento? Porque os olhos de Drew faziam-na sentir-se assim ao percorrer seu corpo inteiro com uma olhar de evidente admiração; inclusive podia sentir como endureciam os mamilos. Jamais havia se considerado uma pessoa sensual, mas nesse momento, com aqueles olhos azul celeste a percorrendo languidamente, todos os receptores sensoriais de seu corpo pareciam ter enlouquecido. —Talvez deveríamos começar com a comida, e depois já veremos —disse ele quando seu olhar voltou finalmente aos olhos dela. —De acordo.

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Capítulo 3 Levou-a a um dos restaurantes do complexo: com uma deferência reservada às personalidades, o maître sentou-os em uma mesa com vistas ao oceano. Ainda que a maioria dos freqüentadores se vestiam de forma informal, a sala cheirava elegância, com uma decoração em cores verde menta e pêssego, cadeiras laçadas em branco, e jarros de flores naturais repartidos por todas partes. — Quererão algo para beber os senhores? —perguntou o garçom. — Ardem? —Um bloody Mary sem vodka, por favor. —Perrier com lima — disse Drew. Quando o garçom se foi, Drew tomou um pão, o partiu em dois e lhe ofereceu uma das metades. — Pediu isso por mim? —perguntou com secura. — O que? —Ela ficou em guarda ante aquele tom cortante—; a bebida? —A bebida que não é uma «bebida para valer». Se quiser outra coisa, pede-a — parecia tenso, a ponto de brigar —; prometo que não tirarei para beber eu, já superei a fase dos suores e os tremores — como se quisesse provar o que dizia, untou com manteiga sua metade do pão com um cuidado exagerado. Ardem deixou seu pedaço de pão no prato e pôs os punhos apertados em seu colo. —Pedirei o que quiser, senhor McCasslin. Sua gélida afirmação fez que ele levantasse a cabeça para a olhar. Ela continuou dizendo: —Qualquer um que saiba teu nome sabe que tens tido problemas com o álcool, mas, por favor, não haja como se eu fosse uma espécie de missionária empenhada em te resgatar do demoníaco rum. Se achasse que não tens superado a fase do suor e os tremores, não estaria aqui contigo. —Tenho feito que te enfades. —Sim. E te agradecerei que não voltes a pensar por mim. O garçom apareceu com as bebidas, e ofereceu-lhes o menu. Ardem olhou a Drew com firmeza; estava molesta, e não fez nenhum esforço pelo ocultar. —Desculpe-me — disse quando o garçom se retirou — sou muito sensível às críticas, ainda que ultimamente mereça-as. Converti-me no clássico paranóico, crendo ver ofensas onde não as há. Ela tinha a vista fixa na mesa, e se enfadou consigo mesma por ser tão suscetível; queria ganhar sua amizade ou afugentá-lo? Quando voltou a levantar seus olhos verdes, estes se tinham suavizado consideravelmente. —Eu também o sinto; durante anos permiti que meu marido pensasse e falasse por mim, e é uma dinâmica perigosa para qualquer, mulher ou homem. Acho que ambos temos tocado pontos delicados — sorriu com diplomacia e levantou seu copo — Além do mais, gosto o suco de tomate. Rindo. Drew levantou o seu e tocou o de Ardem em um brinde. —Pela dama mais encantadora da ilha; desde agora, confiarei sem mais em todo o que diga ou faça. Ela desejou que tivesse dito outra coisa, algo que não tivesse haver com a confiança, mas lhe devolveu o sorriso. — Que queres comer? —Drew abriu a carta. —Adivinha-o. —Fígado. 22


Ela se jogou a rir com espontaneidade. —Isso é algo que nunca comerei de nenhuma das maneiras. Drew respondeu com um amplo sorriso devastador. —Perfeito, eu também não o suporto; acho que esta amizade estava predestinada. Enquanto dava uma olhada no cardápio. Ardem não pôde evitar em pensar que era provável que Matt também chegasse a odiar o fígado. Pediu uma salada de camarão, que serviram em um abacaxi natural decorada com abacate e orquídeas; o prato quase era tão bonito para comê-lo. Por sua vez, Drew tomou um pequeno filete e uma salada verde. Durante a comida foram se conhecendo melhor; quando ele perguntou a seu respeito. Ardem contou que sua mãe tinha falecido quando ela estudava Escritura Criativa em UCLA, e que seu pai tinha sido médico e tinha morrido de um derrame cerebral poucos anos depois. Não entrou em detalhes, sobretudo no que se referia a seu especialização em ginecologia. Drew tinha sido criado em Oregon, e sua mãe ainda vivia ali; fazia vários anos que seu pai tinha morrido. Ele tinha começado a jogar no tênis no primeiro ano do ensino médio. —Foi antes que muitas escolas públicas tivessem equipes de tênis; quando o treinador percebeu que eu era bom, me pediu que me unisse à nova equipe que estava formando. A verdade é que eu preferia o basquete, mas continuou insistindo até que cedi. Não demorei em melhorar meu desempenho, e quando comecei a faculdade, já ganhava campeonatos locais. —Mas, você foi à universidade. —Sim, contrariando meu treinador e representante, Ham Davis, que começou a trabalhar comigo em meu segundo ano. Os exames sempre davam problemas com o treinamento e as partidas, mas sabia que meu corpo não me permitiria jogar tênis pelo resto de minha vida, ao menos em nível de competição, de modo que pensei que era melhor me preparar para fazer outras coisas. —Mas você não demorou em atingir o nível dos demais, verdade? Você foi um ganhador assim que começou a jogar nos campeonatos mais sérios. Ardem levou o último pedaço de papaia à boca; tinham pedido compotas de fruta fresca de sobremesa, e as estavam saboreando enquanto tomavam o café. —Tive alguns anos bons — disse com modéstia—. Tive a vantagem de ser mais velho e maduro, e não passava noites inteiras em festas como fazem alguns jogadores no primeiro ano — tomou um gole de café, e continuou — O sistema não é equilibrado; quando começa é muito caro, você tem que custear o transporte, o alojamento, a comida... Mas quando consegue, quando está ganhando dinheiro com os prêmios e te oferecem contratos de patrocínio, tudo é grátis. Encolheu os ombros, rindo. —Expus-me a perder contratos milionários quando nem sequer os melhores tênis podiam evitar que entrasse cambaleando na pista após embebedar-me. —Você os recuperará. Levantou a cabeça e olhou-a nos olhos. —Isso é o que diz Ham; você acredita de verdade? Era tão importante assim sua opinião, ou simplesmente precisava que o animassem? —Sim, eu acredito. Assim que o virem jogar como está fazendo, quando tiver ganhado um ou dois prêmios, voltará a estar no topo. —A cada dia aparecem garotos mais jovens que podem ocupar meu lugar. —Eles não têm a mais mínima possibilidade — disse ela com um gesto 23


desdenhoso da mão. —Oxalá tivesse tanta confiança — ele comentou com um sorriso irônico. —Eh... perdoe, senhor McCasslin... O cenho de Drew se enrugou com gesto irado quando girou e viu um casal de pé depois dele com aparência desinibida. Vestiam umas t-shirts hawaianas com umas chamativas flores estampadas, e mil e uns detalhes inconfundíveis deixavam claro que eram turistas. — Sim? — a saudação de Drew foi, no mínimo, gélida. —Gostaríamos... Isto é... —a mulher duvidou, e por fim disse—: Nós estávamos nos perguntando se nos daria um autógrafo para nosso filho. Somos de Albuquerque, está aprendendo a jogar ao tênis, e acha que você é fantástico. —Tem um pôster seu em seu quarto — disse o homem—, inclusive... —Não tenho onde escrever disse Drew, e lhes deu as costas de forma descortês. —Eu sim — interveio Ardem ao ver a mistura de vergonha e incômodo em seus rostos queimados pelo sol. Tirou de sua bolsa a bola de tênis que Drew tinha lançado do campo, e a ofereceu enquanto sugeria com tom calmo — Por que não assina nisto, Drew? No instante seus olhos fulminaram com intransigência e obstinação. E ela pensou que ele lhe diria que se metesse em seus próprios assuntos, mas quando ele viu a suave reprovação em seus olhos, sorriu e tomou a bola. Depois de aceitar a caneta que a mulher lhe oferecia, assinou na turva superfície amarela. —Muitíssimo obrigado, senhor McCasslin, não tenho palavras para lhe dizer o que vai significar esta lembrança para nosso filho... —Vamos Lois, deixa que desfrute de sua comida; lamentamos tê-lo molestado, senhor McCasslin, mas queríamos que soubesse que estamos desejando voltar a vê-lo jogar, boa sorte. Drew levantou-se, deu a mão ao homem e beijou a mulher; se o rápido pestanejar que o gesto causou podia servir de indicação, a senhora tinha estado a ponto de desmaiar. —Espero que seu filho também tenha sorte, e que passem umas agradáveis férias. Afastaram-se enquanto contemplavam sua valiosa lembrança, murmurando o amável que tinha sido, e que os jornalistas que afirmavam que era antipático e violento estavam equivocados. Drew olhou a Ardem, e ela se preparou para receber um comentário mordaz; no entanto, a voz dele era rouca quando perguntou: — Já acabou? Quando Ardem assentiu, ele a levantou pelo cotovelo e a ajudou a se levantar; saíram do restaurante, e não voltaram a falar até que tomaram um dos caminhos ajardinados que uniam as instalações do complexo turístico. —Obrigado — disse ele simplesmente. Ela se deteve e o olhou. — Por quê? —Por avisar-me de forma sutil de que me estava portando como um néscio. Seus olhos a atraíam muito para olhá-los diretamente, de modo que Ardem fixou a vista no terceiro botão de sua camisa; no entanto, o cabelo que assomava por em cima a distraiu de imediato. —Não deveria ter interferido. —Alegra-me que o fizesse; verá, é que se trata de outro ponto delicado para mim. Depois da morte de Ellie, os jornalistas perseguiram-me durante meses, pedindo «um comentário» a cada vez que saia à rua. Em pouco tempo, bastava que alguém 24


me reconhecesse pára me enfurecer. —Imagino que ser tão conhecido pode chegar ser muito difícil. Que textura teria aquele cabelo ao toque? Era de uma fascinante cor dourada contra sua pele bronzeada. —No melhor dos casos, é difícil; no pior, é um autêntico inferno. Quando estava no fundo do poço, teve gente que me vaiava das grades, e chegaram a me atirar coisas por tão ruim que jogava. De forma irracional, eu os culpava por tudo. Meus seguidores estavam me dando as costas porque bebia, e bebia porque meus seguidores estavam me dando as costas; era um círculo vicioso. Ainda me mostro cauteloso quando alguém me apróximo, porque acho que talvez queiram me lançar algum insulto à cara. —O que acabo de pressênciar era idolatria para um herói — Ardem se obrigou a arrancar o olhar do peito masculino e sua mente dos eróticos pensamentos que este acordava, e o olhou sua face — Ainda tens milhares de admiradores esperando que volte a competir. Drew contemplou por longo um momento seu rosto sincero, e esteve a ponto de perder nas profundezas daqueles olhos verdes. Cheirava a flores. Refletia tranqüilidade e segurança em si mesma, mas também calor e generosidade. Levantou a mão com a intenção de tocar o cabelo negro que acenava delicadamente contra sua bochecha, mas mudou de opinião e voltou à deixar cair. Finalmente, disse: —Conhecer-te foi uma de melhore coisas que me aconteceram ultimamente, Ardem. —Alegro-me — disse ela com sinceridade. —Eu a acompanharei ao seu quarto. Atravessaram o vestíbulo do edifício principal, e quando chegou ao elevador, ele disse: —Espera-me aqui, volto agora mesmo. Antes que Ardem pudesse perguntar que estava fazendo, ele já tinha ido; apertou o botão, mas teve que deixar que se fossem dois elevadores vazios antes que Drew regressasse correndo com algo envolvido em papel branco. —Perdoa — disse sem fôlego — Em que andar? Enquanto subiam, a curiosidade estava-a matando, mas os olhos dele brilhavam de entusiasmo; se era uma surpresa, não queria a estragar. Quando chegaram ao seu andar, ela alongou a mão. —Obrigado pela comida, passei-o muito bem. Em vez de contestar, Drew desenrolou o pacote e sacou uma colar de tulipas e orquídeas; deixou cair com descuido o papel ao solo, e sustentou as flores sobre sua cabeça. —Provavelmente as terão dado dúzias destas desde que chegou, mas queria te presentear uma. A fragrância embriagadora das flores e da proximidade dele fazia que o oxigênio parecesse escassear, e Ardem se sentiu um pouco mareada; a garganta contraiuse por causa da emoção, mas conseguiu dizer: —Não, é a primeira que me dão. Obrigado, as flores são preciosas. —Elas realçam a sua beleza. Deslizou o anel de flores perfeitos acima de sua cabeça e colocou-o com macieza sobre seus ombros nus, e ela sentiu contra sua pele a umidade e o frescor das frágeis pétalas. Em vez de retirar as mãos de imediato, Drew deixou-as sobre seus ombros, e ela sentiu confusão e uma série de sensações contraditórias, que fizeram que afastasse o olhar. 25


Sentia-se oprimida por aquele homem e por tudo relacionado a ele; inundava sua mente e seu coração, provocava nela uma letargia desconhecida, mas maravilhosa, que fazia que ansiasse se render e apoiar em sua dureza. As flores que descansavam contra seu peito tremeram com os batidos erráticos de seu coração, e as tocou tentativamente com dedos umedecido. Pelo rabinho do olho, viu que os dedos dele se aproximavam dos seus até que se roçaram e se tocaram, até que ficaram entrelaçados; os dedos masculinos estavam escurecidos pelo cabelo dourado que salpicava as juntas e eram cálidos, seguros e fortes. Ela levantou a cabeça e o olhou com olhos que, como as flores, pareciam brilhar pelo orvalho. —Aloha — sussurrou ele. Inclinou-se e, depois de beijá-la primeiro em uma bochecha e depois na outra, posou seus lábios na fissura de sua boca. Com uma bochecha um tanto áspera pela barba incipiente roçando ligeiramente a dela, sussurrou seu nome—: Ardem... Os polegares de Drew deslizaram até sua clavícula, e seu fôlego banhou seu rosto e fez cócegas em sua orelha. —Agora que já comemos... « Oh, não!», gemeu ela para seus pensamentos, enquanto sentia que encolhia seu coração. «Agora é quando chega á proposta indecente». Ele se separou dela e soltou seus ombros. —Gostaria de jantar comigo?

Enquanto se arrumava para o encontro, Ardem era consciente de que deveria ter recusado a convite de Drew. Teria sido lógico que tivesse falado algo como «me desculpa, eu ficaria encantada, mas esta noite tenho que trabalhar em um artigo». Mas em vez disso, tinha ouvido sua própria voz dizer «me encantaria, Drew». Ele tinha sorrido e voltava para o elevador, e ela tinha entrado em seu quarto em uma nuvem de romantismo; no entanto, não tinha demorado muito em recordar por que queria conhecer àquele homem. Por uns segundos, enquanto as mãos dele a tocavam e seu fôlego arrumava seu cabelo, ela tinha esquecido de seu filho. Ficou pensando em Drew como homem não como pai, e se sentia perigosamente atraída para ele. Depois de seu horrível casamento e a repugnante vida sexual com Ron, achava que jamais iria voltar a ter uma relação, de modo que era chocante o quanto desejava passar algumas horas a mais com Drew... Pelas razões equivocadas. Seria melhor ele não fosse tão atraente sexualmente, que não fosse viúvo, que não se sentisse tão só. Não seria tudo bem mais fácil se os pais de seu filho estivessem vivos e felizes, e que ele fosse apenas um homem agradável? Um tipo baixo e gordinho, com uma calvície incipiente, ou algo assim. Ao princípio, o aspecto físico e a personalidade do casal não tinha tido importância; a única coisa que queria era localizar o filho que tinha tido, mas que nunca tinha visto. Não tinha sido fácil. A cada vez que recordava do dia cinza, chuvoso que tinha enterrado a Joey, sentia como se uma ferida voltasse a abrir. Jamais, nem sequer depois da morte de seus pais, tinha se sentido tão sozinha. Após conseguir o divórcio, tinha-se entregado em corpo e alma ao cuidado de seu filho; ele esteve hospitalizado durante os últimos meses de sua vida, e ela tinha visto como ele ia deteriorando dia a dia, lutando contra o impulso de implorar que outro menino morresse pára que o seu conseguisse o rim que precisava. Deus nunca responderia a uma petição assim, 26


de maneira que jamais tinha chegado à pronunciar. Quando chegou a hora, morreu tão docemente como viveu, pedindo que por favor não chorasse, dizendo que guardaria uma cama a seu lado no céu. Após seu último suspiro, ela sustentou sua delgada mãozinha na sua e contemplou seu plácido rosto, memorizando-o. No funeral, Ron tinha interpretado toda uma cena de agoniada dor aos escassos amigos seus que tinham assistido, e sua hipocrisia a deixava doente. Joey ocultava sua decepção com valentia a cada vez que Ron não cumpria suas promessas do ir vê-lo ao hospital. Após o funeral, Ron a encurralou. — Você ainda tem o dinheiro que me tirou? —Isso não é mais teu problema, esse dinheiro eu ganhei. —Maldita seja, eu preciso dele. Ardem não pode evitar ao perceber que os sinais de descontrole eram cada vez mais evidentes; seu desespero era quase palpável, mas ela não sentiu a mínima compaixão. —Esse problema é teu. —Por Deus, Ardem, ajuda-me. Só desta vez, eu te prometo... Ela tinha fechado inesperadamente a porta da limusine em sua cara, e pedido ao motorista que saísse de dali imediatamente; inclusive no funeral de seu filho, Ron pensava só em si mesmo. Nos meses que seguiram, esteve tão imersa em sua dor que nos dias passavam sem perceber; só podia expressar seus sentimentos sobre o papel, só escrever a ajudava a buscar resignação. Obteve um grande sucesso com um artigo que vendeu a uma revista feminina sobre o que significava a perda de um filho, e ainda pediram que escrevesse mais, não tinha sentido nenhum interesse no fazer. Sentia que só estava enchendo as horas até sua própria morte, que não restava nada pelo que viver. Exceto aquele outro menino. Num dia a idéia apareceu em sua mente. Assim teve uma razão para viver: em alguma parte do mundo, tinha outro filho seu. Foi então quando tomou a decisão do encontrar; não queria alterar a vida do menino, não podia ser tão cruel com uns pais que tinham chegado a tais extremos para tê-lo. Só queria o ver, saber seu nome se era um menino ou uma menina. Pediu a Ron que a anestesiasse para não recordar o parto, para não se inteirar sem querer de algo relacionado com um bebê que tinha dado a luz para outras pessoas. — Como pode ser que não tenha o histórico? O rosto do gerente tinha permanecido empedernido. —O que quero dizer, senhora Lowery, é que ao que parece seu histórico desapareceu, e ainda não pude o encontrar. Este tipo de coisas pode ocorrer em um hospital tão grande como este. —Sobretudo quando um médico influente lhe pede que o «desapareça»; e meu nome é Gentry! Em todas as partes acontecia o mesmo; inclusive os registros de nascimento da prefeitura e do hospital tinham desaparecido misteriosamente. Mas Ardem não tinha nenhuma dúvida de quem era o responsável de tão surpreendente falta de eficiência. Não sabia que advogado tinha redigido os documentos oficiais, mas o Ron tinha contratado, portanto não lhe diria nada ainda que o encontrasse; o mesmo aconteceria com Ron depois da morte de Joey ela tentaria encontrar a seu segundo filho, e tinha se adiantado, alertando a todos os implicados para que não 27


dessem nenhuma informação. Seu último recurso foi uma macadeira que a tinha assistido durante o parto; encontrou-a numa clínica sem fim lucrativos especializada em abortos. Ardem tinha notado de imediato o temor da mulher assim que a viu ao sair de seu trabalho. — Lembra-se de mim? —tinha perguntado sem preâmbulos. Os olhos da enfermeira percorreram o estacionamento furtivamente, como se estivesse buscando uma via de escape. —Sim — respondeu com tom temeroso. —Você sabe o que passou com meu bebê — era uma suposição, mas Ardem sabia de forma instintiva que era verdadeiro. — Não! Ainda que a resposta parecesse sincera, soube que a mulher estava mentindo. —Senhorita Hancock — disse com tom suplicante—, por favor, diga-me qualquer coisa que saiba, um nome. Por favor. Isso é todo o que peço só um nome. — Não posso dizer! —Exclamou a mulher, e cobriu o rosto com as mãos—, não posso, ele... Ele me vigia, me disse que se dissesse algo a você, me implicaria também. — Quem a vigia? Meu ex-marido? A mulher afirmou com a cabeça com movimentos convulsivos. Ardem perguntou: — Com que a está chantageando? Não tenha medo dele, eu posso a ajudar; podemos denunciar à polícia... — Não! Deus meu, não, você não imagina... —a mulher tentou conter os soluços que sacudiam seu corpo, e conseguiu acrescentar—: não o entende, tive... Tive alguns problemas com tranqüilizantes, e ele descobriu. Fez que me despedissem do hospital, mas conseguiu um trabalho aqui, e... —seus delicados ombros sacudiram — e me disse que se alguma vez eu dissesse algo a você, me denunciaria. —Mas se já está limpa, se... —a voz de Ardem apagou-se quando leu a culpa no rosto contorcido da mulher. —Não se trata só de mim, meu pai morreria sem... Seus remédios. Eu preciso dos remédios para ele. Era inútil seguir tentando, e Ardem voltou a desaparecer num poço negro de auto-compaixão e desesperança. Os dias se fundiam uns com outros, sem nada que os diferenciasse, por isso estava sentada no salão em um domingo pela tarde, olhando a televisão com expressão vaga. Não sabia o tempo que levava ali, nem o que estava vendo. Mas, de repente, algo captou sua atenção. Um rosto, uma cara familiar que a câmera estava enfocando cada vez mais de perto. De forma similar, seu cérebro centrou-se nela. Sacudindo a depressão que a aprisionava, subiu o volume do programa esportivo. Estavam reprisando um torneio de tênis... Atlanta? Não importava. Os individuais masculinos. Conhecia aquele rosto! Atrativo, loiro, grande sorriso perfeito. Onde? Quando?... O hospital? Sim, exato! No dia que saiu dali com só uma bolsa com cinquenta mil dólares. Tinha um grande relevo nas escadas, repórter com microfones e câmeras, equipe de televisão nos degraus de mármore, tentando encontrar melhores ângulos de visão. Estavam ali pelo lindo casal que saía do hospital com seu novo bebê; o homem, alto e loiro, rodeava protetor com o braço a sua pequena e igualmente loira esposa, que levava um pacote de flanela que não deixava de se mover. Ardem recordava a felicidade que irradiavam, e tinha sentido uma pontada de inveja pelo 28


amor no olhar do homem ao contemplar a sua mulher e a seu filho. Seus olhos tinham-se inundado de lágrimas enquanto abria passagem entre a multidão, para o táxi que a esperava. Pois recusara a oferta de Ron de levá-la a casa. Não tinha voltado a pensar naquela cena até aquele momento, e esse era o homem. Prestou atenção às palavras do comentarista enquanto o corpo masculino se arqueava ao servir. —Drew McCasslin parece estar fazendo um esforço heróico hoje, depois de sua contundente derrota em Memphis na semana passada. Seu jogo tem sofrido um contínuo declive durante os últimos meses. —Isso acontece, sobretudo à tragédia pessoal que sofreu neste ano — outro comentarista disse caritativamente. —Por suposto. Drew McCasslin perdeu o ponto, e Ardem leu em seus lábios uma forte explosão que não deveria sair pela televisão; ao que parece, o apresentador pensou o mesmo, porque optou por outro ângulo de câmera que mostrava o tenista na linha de saque, concentrando na bola que estava botando metodicamente. O serviço foi muito bom, mas um juiz de linha cantou-o fora. McCasslin jogou sua raquete de alumínio contra o chão, e foi para o juiz de cadeira lançando xingamentos e insultos; os responsáveis do canal de televisão foram sensatos e colocaram o intervalo. Após um anúncio que detalhava todas as virtudes de um carro fabricado nos Estados Unidos, voltaram a partida. Ardem escutou com atenção enquanto os comentaristas desculpavam com tom condescendente a atitude do tenista, afirmando que era por sua dor por perder a sua mulher em um terrível acidente de trânsito em Honolulu, onde o casal vivia com seu pequeno filho. McCasslin seguiu jogando com atitude beligerante e mal humorada, e perdeu a partida. Aquela noite, Ardem se deitou pensando naquele jogador, e perguntando-se por que a intrigava tanto se só o tinha visto uma vez. No meio da noite, recordou que o tinha visto em outra ocasião. Levantou-se inesperadamente na cama, com o coração a ponto de sair do peito e a cabeça dando voltas. Ela era incapaz de memorizá-las lembranças antes que desvanecessem. Saltou da cama e passeou pelo quarto, enquanto dava pequenos golpes nas rosto com os punhos. —Pensa, Ardem, pensa — por alguma razão, era de vital importância que recordasse. Com uma lentidão angustiosa, as peças começaram a encaixar. Tinha sentido dor, via luzes, luzes em movimento... Isso era! Levavam-na em uma cama por um corredor do hospital, e acima de sua cabeça as luzes passavam; ia de caminho à sala de partos, tudo estava a ponto de acabar. Só tinha que dar a luz ao bebê, e se libertaria de Ron para sempre. Tinha visto ao casal pelo rabinho do olho ao passar diante de um vestíbulo; a luz realçava as duas cabeças loiras, e ela voltava ligeiramente a cabeça. Nenhum dos dois a viu; estavam sorridentes, apoiando-se o um ao outro com felicidade, sussurrando excitados de forma íntima. Que era o que não encaixava? Tinha algo estranho, mas que era? —Recorda, Ardem — murmurou enquanto deixava-se cair na borda da cama e punha a cabeça entre as mãos—. Estavam felizes, como qualquer outro casal a ponto de ter um filho; pareciam... Tudo se deteve. Sua respiração, a batida de seu coração, seus pensamentos turbulentos. E então todo se reiniciou, lentamente, ganhando velocidade enquanto o ponto de luz ao outro lado do escuro túnel se ia ampliando, até que a 29


solução apareceu em sua mente. A mulher não estava grávida! Não estava a ponto de dar a luz, estava falando excitadamente com seu marido; tinham um verdadeiro ar de sigilo, como meninos planejando uma fantástica travessura. Os McCasslin tinham muito dinheiro, eram famosos em todo mundo; ele era atraente, e Ron tinha dito que o pai de seu filho o era. Tinham saído do hospital com um menino recém nascido no mesmo dia que ela tinha saído dali. Tinha tido o bebê daquele casal. Ardem rodeou-se com os braços e se embalado para frente e para atrás na cama, em uma silenciosa celebração; sabia que tinha razão, devia ser assim. Tudo encaixava. Se acalmou consideravelmente ao recordar o que tinha ouvido pela televisão: a senhora McCasslin tinha morrido. Seu filho... Os comentaristas tinham dito que o tenista tinha um menino, estava crescendo sem o amor de uma mãe, e com um pai que não era estável nem mental nem fisicamente. Drew McCasslin converteu-se em sua obsessão. Durante meses leu tudo o que encontrava sobre ele, já fosse passado ou presente, e passou horas na biblioteca, lendo páginas e páginas que relatavam histórias de seus anos de glória. Dia a dia, leu sobre seu declive. Num dia, leu que tinha se retirado durante um tempo: ao que parece, seu representante tinha dito: «Drew sabe que seu jogo não é o que era; vai concentrarse em recuperar seu nível de jogo, e em passar o máximo tempo com seu filho em Maui». Nesse momento, Ardem começou a planejar sua viagem a Hawai para conhecer a Drew McCasslin. —E agora que o conhece, que pensa fazer? —perguntou a seu reflexo no espelho. Mas a imagem olhou-a zombadora; não parecia uma mulher tentando conservar a imparcialidade. O vestido da cor jade de seda sem mangas enfatizava sua figura; o cinto fúcsia rodeava sua esbelta cintura, e destacava as redondas curvas. A jaqueta cor creme que tinha posto só conseguia que os ombros nus que cobria parecessem ainda mais sugestivos. Tinha colocado o cabelo para trás em um laço perfeito, mas seu aspecto severo ficava suavizado por umas mechas onduladas que tinham escapado; alguns descansavam sobre seu pescoço, outros formavam um sedoso floco. Além do mais, tinha optado pela colar em vez de jóias, e as flores com a cor igual do cinto. A mulher de olhos verdes que devolvia a olhar parecia pronta para uma aventura apaixonada. —Deus meu — suspirou, pressionando seus dedos frios e trêmulos contra sua face — tenho que deixar de pensar assim nele, senão jogarei tudo a perder. E tenho que fazer que deixe de pensar em mim como uma... Como uma mulher. Teria que fazer com que ele desistisse, advertiu todos os seus instintos femininos. Ainda que tivesse amado a sua mulher, e provavelmente ainda a amasse, era poderosamente viril; não era o tipo de homem que pudesse viver sem uma companhia feminina a seu lado por muito tempo. A eletricidade que tinha entre eles, cuja existência já não podia negar, ameaçava seu plano. Sua intenção tinha sido conhecê-lo e ganhar sua confiança como amiga; quando tivesse provado que não representava nenhuma ameaça para ele nem para seu filho, diria quem era e faria seu pedido: «eu ficaria eternamente agradecida se me deixasse ver meu filho de vez em quando». «Recorda», disse quando ouviu que chamavam à porta, «tem que ser objetiva»; devia esquecer qualquer outro sentimento referente a Drew McCasslin. 30


No entanto, foi impossível manter aquela promessa assim que viu-o aparecer com calças azul marinho, uma jaqueta esportiva de uma cor parecida ao do cabelo que realçava o pescoço, e uma camisa azul celeste que fazia par com seus olhos. Uns olhos que também estavam ocupados a olhando; percorreram-na desde a ponta da cabeça até os saltos de suas sandálias, e quando voltaram a levantar, se detiveram em seu rosto e no colar. Ardem teve a clara sensação de que não estava olhando as flores, senão o contorno de seus seios. —Realça a beleza das flores — disse com uma voz rouca que confirmou suas suspeitas. —Obrigado. —De nada — só então seu olhar se cruzou com a de ela — Você está pronta?

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Capítulo 4 Jantaram juntos as três noites seguintes; Ardem sabia que estava fazendo era impossível, mas era incapaz de recusar seus convites. Drew e ela tinham uma relação cada vez mais estreita, mas no sentido equivocado. Em seu plano não tinha lugar para o romantismo, pelo que a quarta noite se desculpou com a tênue desculpa de ter que trabalhar em um artigo sobre a sobrevivência das plantas tropicais em climas menos benignos, um artigo que já tinha entregado. Em vez de esquecer de Drew, passou aquela noite perguntando-se onde e com quem estaria jantando. Estaria em casa com Matt? Com um amigo? Com outra mulher? Duvidava o último, já que, quando estavam juntos, ele concentrava sua atenção por completo. — Estou indo muito rápido, estou monopolizando sua atenção ou colocando-me em território alheio? — perguntou ele quando ela declinou o convite. Perguntou-o com tom despreocupado, quase caçoando, mas Ardem soube por sua gracinha ligeiramente franzida que falava sério. —Não, Drew, já te disse no dia que nos conhecemos que não tenho que prestar contas a ninguém. Mas acho que deveríamos passar uma noite sem ver-nos, e realmente tenho trabalho á fazer. Cético, relutantemente, ele tinha aceitado a negativa. Ardem sentia-se aterrorizada do que sentia a cada vez que estavam juntos; sabia que estava flertando com o desastre, mas as horas que passava sem ele eram tristes e monótonas. A única vez que a tinha beijado foi quando lhe deu o colar, e nunca a tocava além do estritamente cortês. E, no entanto, fazia-a sentir-se jovem e formosa. Aquelas emoções eram sintomas de que estava se apaixonando, algo simplesmente impossível. Tinha ido a Maui para ver seu filho, esse era seu objetivo principal, e Drew McCasslin era só um meio para tal fim. Ainda assim... À manhã seguinte a noite que tinham passado separados. Ardem dirigia-se para as pistas de tênis, jurando que não ia ali para o ver. Talvez nem sequer estivesse jogando. Drew estava bebendo água quando a viu, e depois de passar a garrafa a Gary, foi para ela. —Olá. Ia chamar-te depois, jantamos juntos hoje? Por favor. —Sim. Seu fulminante convite e a aceitação espontânea dela fizeram que ambos se surpreendessem encantados. Riram juntos suavemente, com timidez, enquanto saboreavam um a presença do outro. —Passarei para te pegar às sete e meia. —De acordo. —Fica para me ver jogar? —Um pouco, depois tenho que voltar a meu quarto para trabalhar. —E eu prometi a Matt que iria jogar com ele à praia. Sempre que ele mencionava ao menino, o coração de Ardem dava batia mais forte de ansiedade. —Não roubo muito o seu tempo de estar com ele, verdade? —Não saio a noite quando ele já está deitado; não tem saudades, se assegura de que eu seja o segundo em acordar pela manhã. Ardem jogou-se a rir. —Joey também o fazia. Vinha a meu quarto, levantava minhas pestanas e 32


perguntava-me se já estava acordada. — Pensava que Matt era o único que conhecia esse truque! —Voltaram a rir juntos, e ele acrescentou — tenho que voltar ou perderei o ritmo de jogo, te verei esta noite. —Joga bem. —Estou tentando-o. —Sim, isso é verdade. Ele piscou o olho e se afastou para o paciente Gary, que não tinha perdido o tempo e estava flertando com o grupo de seguidoras. Ardem se perguntou se qualquer um que a observasse com Drew pensaria que era uma delas, e a idéia a fez sentir incômoda. Era isso que era, só uma admiradora mais?

Ainda não estava pronta do todo quando Drew chamou à porta: ainda que houvesse pensado nele toda a tarde subconscientemente, se sentiu inspirada e esteve trabalhando com afinco em um de seus artigos. Mal pode suas coxas e lavar o cabelo antes que ele chegasse, e ainda estava fechando o zíper do vestido quando correu a lhe abrir. —Desculpe-me — disse sem fôlego. Drew estava apoiado com indolência no vão da porta, como se não o tivesse feito esperar mais de um minuto inteiro, e sorriu ao ver suas bochechas lavadas, os pés cobertos só com meias, e sua aparência desleixada. —Valerá a pena esperar. —Entra, estarei pronta assim que colocar os sapatos e os complementos: tens reserva? Espero que não percamos... Ele fechou a porta depois de si, a segurou pelos ombros e disse: —Ardem, não passa nada, temos muito tempo. Ela respirou fundo e comentou: —Bem, já me acalmo. —Perfeito — riu ele, e a soltou. Drew passeou o olhar pelo quarto antes que seus olhos voltassem a se centrar em Ardem enquanto ela colocava umas sandálias de salto alto. Apoiando uma mão contra a parede, levantou um esbelto pé para ajustar-se a correia em um elegante e feminino movimento que era inconscientemente provocativo. Olhou admirativamente aquelas suaves pernas cobertas de seda; os músculos das panturrilhas femininas ficavam suavemente definidos enquanto ela estava nas pontas do pé, e Drew pensou que encaixariam perfeitamente em sua própria mão. Ao vislumbrar o enfeite de encaixe que contornava a combinação sob o vestido, a feminilidade do detalhe fez que sorrisse. E quando ela se inclinou para diante, não pôde evitar ao perceber de como seus peitos enchiam e tendiam o corpete do vestido. O amplo decote em forma de “v” revelava o aveludado vale em sombras entre seus peitos, e mentalmente posou os lábios contra a plenitude a lado e lado. Se excitou de imediato, e obrigou a seus reticentes olhos a posar-se em território mais seguro. O cabelo de Ardem sempre parecia sedoso e atraente, inclusive quando o prendia para trás; aquela noite levava-o solto, e os dedos de Drew coçaram pelo desejo de acariciar as escuras mechas, de provar sua textura sedosa, de comprovar se era tão suave como parecia... Em todo o corpo. —Já estou pronta — disse ela, e foi até o longo tocador que tinha em frente à enorme cama. Drew não tinha se permitido pensar na cama, no sedutor corpo que estava 33


observando com tanta atenção. —Agora os complementos — comentou Ardem enquanto pegava uma caixa de jóias. Seu vestido sem mangas era de algum tipo de tecido cingida de cor água-marinha que se ajustava a uma cintura formosamente redondas sem chegar a ser muito grandes. Todo o que vestia ficava fenomenal, fosse sofisticado ou informal; poderia vestir uns jeans e um moletom e fazer que parecessem roupa de alta costura. Claro que também estaria fantástica sem nenhuma roupa. Maldição! Seus pensamentos estavam tomando uma direção que tinha prometido evitar. Com dedos hábeis, Ardem ficou uns pendentes de ouro, e Drew fantasiou tocar com a língua os lóbulos de suas orelhas. Seu coração começou a martelar no peito quando ela levantou os braços para pôr um colar de ouro ao redor do pescoço, e seus peitos se levantaram sobre o decote. —Deixa-me ajudá-la — disse ele com voz pouco firme. Colocou-se atrás dela, e por um momento, antes que tomasse os extremos da cadeia, seus olhares se cruzaram no espelho. Os braços dela ainda estavam levantados, seus peitos permaneciam elevados e voluptuosos, e a suave parte interna de seus braços estava ao descoberto em uma pose tanto atrevida como vulnerável. Ardem baixou lentamente os braços quando ele tomou o colar e inclinou a cabeça para ver bem o intrincado fechamento. Quando o teve fechado, ela se apressou a afastar uns passos dele. —Espera — Drew deteve-a agarrando-a suavemente— teu zíper está emperrado. —Ah — mal ficou fôlego para murmurar aquilo, que soou como uma pequena exclamação. Drew baixou o zíper com uma lentidão hipnótica, e ela sentiu como o ar refrescava a acalorada pele de suas costas; imóvel, sem atrever-se a respirar e romper o sensual feitiço, Ardem permitiu que ele abrisse o vestido até a altura das costas. Os olhos de Drew seguiram o movimento descendente com uma lentidão similar à de suas mãos; pela superfície da pele nua ao descoberto, soube que não tinha sutiã entre ela e o corpete do vestido. Seus olhos, escurecidos e ardentes como o lume azul mais puro, voltaram a se encontrar com os dela, que brilhavam de desejo. O tenso corpo masculino irradiava silenciosas mensagens eróticas, e Ardem sabia que se movesse o mínimo para trás e permitiria que sua cintura roçar na frente de sua calças, sentiria sua dureza cheia de desejo. Duvidava que fossem jantar, e ela sabia que a decisão estava em suas mãos. Mas deitar-se com Drew era impensável, já que acrescentar uma relação sexual àquela situação que já de por si era insustentável seria uma loucura. E em algum rincão escuro de sua mente temia levar-se uma decepção ou, ainda pior, que fosse ele quem se decepcionasse. A mordacidade com que Ron tinha desprezado sua sensualidadee ainda a atormentava. Era melhor deixar a relação como estava, puramente amigável; por que não podiam uma mulher e um homem ser só amigos platônicos? Não era isso o que queria desde o princípio de Drew McCasslin? Judiciosamente, com sensatez, mas covardia, Ardem baixou a cabeça e sacudiu-a ligeiramente; Drew entendeu a mensagem e subiu o zíper. —Um fio tinha-a emperrado, já está pronta. —Obrigado — disse ela, e se apartou um pouco dele. Mas não ia escapar tão facilmente. 34


— Ardem? Ela tomou sua bolsa antes de se girar para ele. — Sim? —Faz muito tempo que não estou rodeado de artigos femininos, que não vejo vestir a uma mulher que me importo. Não me tinha dado conta até agora do muito que tenho ter# saudades viver com uma mulher. Ela eludiu seus olhos e seu olhar se perdeu na paisagem para além da janela, onde as palmeiras eram umas silhuetas negras contra o céu anil. —Viver sozinha também tem desvantagens para uma mulher. Ele deu um passo para ela. — Como quais? —disse em um sussurro carregado de urgência. Tinha que deter aquilo, e era ela quem devia se encarregar do fazer. Depois de levantar o olhar para ele, se forçou a aparentar uma alegre despreocupação e sorrir alegremente. —Como não ter ninguém perto para desemperrar um zíper. O leve relaxamento de seus ombros revelou que estava decepcionado, mas Drew ofereceu um sorriso de rendição em uma tentativa de aliviar a tensão que tinha se criado. — Viu? O que faria as mulheres independentes sem nós? Seguiram com aquele ambiente relaxado e animado enquanto Drew conduzia seu Cadillac Seville pelas estreitas estradas de Maui; a praia de Kaanapali era uma das poucas áreas desenvolvidas da ilha, transbordante de elegantes hotéis, restaurantes e clubes. Drew parou o carro sob a entrada coberta do Hyatt. — Você esteve aqui alguma vez? — ele perguntou ao chegar ao seu lado, depois que um empregado a tivesse ajudado a descer. —Não, mas queria vir antes de voltar a casa. —Prepara-se, não há nenhum hotel igual no mundo. Aquilo ficou óbvio de imediato; a maioria da entrada de hotéis tinha teto, mas aquele não. O céu estrelado cobria o edifício de vários andares, e o a entrada era uma autêntica selva tropical, com árvores exóticas e plantas em todo seu esplendor; quando chovia, o efeito parecia completamente real. As áreas cobertas estavam elegantemente decoradas com enormes jarros chineses que diminuíam inclusive a Drew; tapetes de um valor incalculável e antiguidades orientais davam ao hotel um aspecto palaciano sem alterar a atmosfera informal e caseira. Cruzaram a imensa entrada, mas Drew não deu tempo para ela pudesse contemplar as elaboradas lojas e galerias, e a fez descer por umas escadas curvadas até o pátio dos cisnes. —Sinto-me como uma interiorana recém chegada à cidade; estou de boca aberta? —Gosto dos produtos do campo — disse ele, e deu um ligeiro apertão na cintura—; e tua boca, como o resto do teu corpo, tem um aspecto delicioso esta noite. Ardem sentiu-se aliviada quando o maître elegeu aquele momento para os conduzir até uma mesa iluminada com velas, justo ao lado do tanque, onde os cisnes deslizavam pela superfície com um altivo desdém próprio da realeza; como a maioria de restaurantes da ilha, a sala estava ao ar livre. Parecia um pequeno lago, com uma catarata e rochas vulcânicas. Os freqüentadores vestiam de etiqueta, e Ardem alegrou-se de ter elegido seu traje mais elegante; Drew pareceu adivinhar seus pensamentos. —Não se impressione muito — sussurrou ele por trás de seu cardápio — pela manhã, esta sala está cheia de gente em traje de banho e chinelos para desfrutar 35


do bufê. Ardem deixou que o ambiente do restaurante a amparasse, e só ficou vagamente consciente de que Drew fazia um gesto ao garçom. — Quer vinho, Ardem? Ela devolveu a olhar desafiante de Drew sem piscar. —Sim, obrigado. Pediu uma cara garrafa de vinho branco, e ela se negou a mostrar sua surpresa; no tempo todo que ficaram juntos, ele não tinha bebido nem uma gota de álcool. —Às vezes bebo um copo de vinho no jantar — disse Drew. —Eu não perguntei. —Não, mas seguramente está se perguntando se vou poder resistir. —Já te pedi uma vez que não pensasse por mim; você é adulto, sabe se pode resistir ou não. — Não tem medo de que me embebede e cause um escândalo? —provocou-a. Ela arrojou sua própria luva; inclinando-se para ele, sussurrou: —Talvez eu queira que faça alguma coisa escandalosa. As traças iam instintivamente para os lumes. —Não precisaria nem um só gole de vinho para fazer alguma travessura contigo — comentou ele, entornando os olhos sedutoramente. Ela se jogou atrás antes queimar as asas. —Mas confio em que não a fará. O aceitou sua retirada, e pelo tom de sua voz Ardem soube que estava disposto a mudar de tema. —Você tem todo o direito de se preocupar; neste ano, fiquei mais tempo bêbado e fora de controle que sóbrio. Não acho que posso superar meu comportamento — apertou os dentes com a mesma força com que apertou o punho e golpeou suavemente a mesa — Deus, daria o que fosse por desfazer algumas das coisas que fiz. Ardem conhecia bem a frustração e o desgosto consigo mesmo que ele sentia; tomavam decisões que depois lamentavam, e muitas delas eram irretocáveis. —Todos nós cometemos erros, e depois desejaríamos refazer as coisas, mas não podemos; temos que viver com nossas decisões — sua voz voltou dolorosamente reflexiva quando acrescentou—: Algumas vezes pelo resto de nossa vida. Ele soltou um riso ligeiro e disse: —Isso soa derrotista, definitivo; não acha que devemos ter segundas oportunidades para tentar arranjar as coisas? —acho sim, graças a Deus; de fato, acho que somos nós os que creiamos nossas segundas oportunidades. Podemos tentar corrigir nossos erros, ou aprender a viver com eles. —Isso é o que fazem os perdedores, se render. —Sim. E você é um ganhador. —Não podia seguir com o desastre em que tinha convertido minha vida, tinha que fazer algo. —Eu também — murmurou ela para si. — Perdoa? Deveria dizê-lo nesse momento? Drew falado sobre os fracassos pessoais e as tentativas de retificar, ele mesmo o estava fazendo: seguramente entenderia o desejo que ela sentia de corrigir seus erros, não? Mas, que aconteceria se não fosse assim? E sairia furioso e deixava-a sozinha, e não voltasse mais a vê-lo? Então, também não veria nunca a Matt. Não, era melhor esperar até que ao menos tivesse visto uma vez seu filho, então diria que era a mãe do menino. 36


Endireitou-se e olhou-o com um radiante sorriso. — Por que falamos de coisas tão sombrias? Aqui vem o vinho, não façamos questão de recordar erros passados esta noite. O filé estava delicioso, igual ao resto de pratos; só pediram uma garrafa de vinho, e a metade ainda estava intacta quando acabou o jantar de duas horas. Cheia e satisfeita, mas sentindo-se ligeira como uma pluma, Ardem pareceu flutuar ao subir as escadas. Não estava bêbada pelo vinho, senão pela romântica atmosfera e pelo magnetismo do homem junto a ela. No bar do vestíbulo, um músico estava interpretando baladas de amor em um pequeno piano de fila. A brisa oceânica agitava as folhas das árvores e transportava o perfume de pikakis e tulipas. Pararam sob a suave luz de um lustre. Drew tomou suas mãos nas suas e balançou-as para frente e para trás. —Gostou do jantar? —perguntou. —Sim. Ardem estava contemplando seu cabelo, perguntando o que sentiria ao percorrêlo com suas mãos, ao colocá-los em seus dedos enlouquecidos de paixão. Então fixou a olhar em sua boca. A cena mais erótica que jamais tinha visto num filme foi um close da boca de um homem no peito de uma mulher. Recordava vivamente o movimento da língua enquanto movia-se em círculos ao redor de uma escura aureola a flexão das bochechas quando chupava o mamilo com ternura, a úmida caricia dos lábios sobre a suave pele. A boca de Drew a fazia recordar, e seu corpo inteiro ardeu com a fantasia. Ron nunca a acariciava assim, e jamais tinha perguntado o que gostava; provavelmente não o teria desfrutado com ele, mas fazer com Drew seria maravilhoso. — Que? — Que? — O que você disse? — perguntou ele. Seus olhos percorriam seu rosto, detendose em cada detalhe antes de passar ao seguinte. —Não — sussurrou ela — não disse nada. —Oh. Pensava que sim. Nesse momento ele estava contemplando seus lábios, e Ardem havia ruborizado pelo que estava pensando, teria morrido de vergonha se soubesse onde tinha posto sua boca na fantasia dele. Para salvaguardar sua sensatez, Drew correu um grosso véu sobre a eroticamente detalhada imagem mental. — Que gostarias de fazer? —Não sei, o que quer fazer? « Oh, Deus, não me pergunte isso!». — Você quer dançar? —Soa divertido — disse ela, alisando desnecessariamente a frente de seu vestido. Atividade, isso era que precisavam. Quando ficavam quietos, se perdiam o um no outro e não existia nada mais. —Há um clube abaixo; nunca estive lá, mas poderíamos ir ver come está. —De acordo. Desceram por uma escada com gradeado de metal que recordava no final de século, e ao abrir a porta forrada de couro, foram saudados por uma empregada sorridente, o ensurdecedor som da música disco, o murmúrio das conversações e os risos, e uma nuvem de fumaça. Drew baixou a vista para ela, com uma pergunta muda nos olhos. Ela o olhou com a mesma expressão. Eles deram-se a volta e subiram as escadas. Para 37


quando chegaram ao vestíbulo, riam a gargalhadas. —Devemos de estar envelhecendo — disse Drew— A música desse piano soa-me melhor. —Sim, a mim também. —E não quero ter que gritar para que me ouça — se inclinou para ela e acercou os lábios ao seu ouvido antes de sussurrar — Talvez diga algo que não quero que ouça ninguém mais. Quando se endereçou, o ardente brilho de seus olhos sublinhava o caráter íntimo de suas palavras, e Ardem sentiu que um calafrio percorria suas costas. — Queres beber algo? Ela negou com a cabeça. — Por que não me leva para ver as piscinas? Drew tomou sua mão e entrelaçou seus dedos com os dela antes de conduzir para os caminhos empedrados que atravessavam um verdadeiro jardim do Éden. Os caminhos estavam iluminados por tochas bastante espaçadas, cujos lumes se agitavam com o vento. As piscinas constituíam uma obra de arte arquitetônica; estavam construídas a diferentes níveis, ao redor de uma gruta de pedra vulcânica. Ardem respondia apreciativamente à cada comentário dele, mas a verdade era que não se importava o que dissesse ou a ensinasse; era maravilhoso ouvir sua voz perto de seu ouvido, cheirar a fragrância de seu cálido fôlego, sentir a protetora força de seu corpo enquanto ele dirigia seus passos com sutis movimentos. O pulso de Ardem parecia bater ao ritmo das ondas que varriam a praia a poucos metros de ali. Os casais escondiam-se entre as sombras, abraçando-se, falando em sussurros; dava-se por concreto que o objetivo de qualquer um que passeasse pelo jardim àquelas horas da noite era encontrar alguma privacidade. E, quando Drew a levou depois do abrigo de uma rocha coberta de videiras. Ardem não protestou. — Concede-me esta dança? —perguntou ele com uma formalidade lúdica. Ardem riu, e tentou permanecer séria ao responder: —Por suposto. Fundiu-se em seus braços, e pela primeira vez desde que o conheceu, desfrutou da emoção de abraçá-lo, de que a abraçasse. Colocaram-se na posição tradicional da valsa; ele rodeou sua cintura com o braço, suas palmas unidas subiram até a altura dos ombros, e Ardem posou a outra mão no ombro dele. Não podiam se mover muito sem sacrificar seu precioso espaço privado, e ambos sabiam que ele a tinha convidado a dançar para ter uma desculpa para poder abraçá-la, de modo que dançou ao ritmo da música que chegava do piano no bar do vestíbulo. As canções foram sucedendo-se enquanto passavam os minutos; eles seguiram grudados, sem afastar o olhar um do outro. Seus corpos aparentavam uma enganosa calma, mas por dentro ardiam, clamavam por um contato mais íntimo, moviam-se ofegante até que finalmente os seios dela roçaram o peito masculino. Drew deixou escapar um pequeno gemido e fechou os olhos ante o extraordinário prazer. Quando voltou aos abrir, os dela estavam cobertos pelas pálpebras mais frágeis e de pestanas mais perfeitas que jamais tinha visto. Queria beijá-las, mas em vez de fazê-lo deslizou a mão da cintura para cima e aumentou a pressão sobre as costas dela, até que aqueles seios plenos estiveram esmagados contra ele. Os olhos de Ardem abriram-se com languidez, e depois de colocar uma mão em sua nuca, colocou os dedos naquele cabelo loiro adoravelmente despenteado. Sem 38


afastar o olhar de seus olhos, Drew levou a outra mão aos lábios, e roçou as juntas com a boca; acariciou os delicados montículos, umidecendo-os com seu fôlego. Pouco a pouco, foi levantando o braço dela até o colocar ao redor de seu pescoço, e então sua mão desceu pela pele feminina, passando pelas costelas até a rodear pela cintura e a atrair para ele. —Sabe o quanto que me custou manter as mãos afastadas de você? —Sim — disse ela com um tom gutural, enquanto arqueava seu corpo contra o dele. —Tenho desejado tanto abraçar-te. Ardem... —E eu tenho desejado tanto que você me abraçasse... —Só tinha que me pedir — sussurrou ele antes de enterrar o rosto em seu cabelo e acariciar com seu nariz, com seu queixo e sua boca — Cheira tão bem, e te tocar é maravilhoso; tens um corpo lindo. Tenho imaginado a cada centímetro dele, tenho desejado te ver, te tocar, te saborear. Ardem deixou escapar um trêmulo suspiro que a sacudiu, e seu rosto se encaixou na curva da garganta masculina; tencionou as mãos ao redor de seu pescoço, e apertou-se um pouco mais contra ele. Drew gemeu em êxtase, com a mandíbula apertada; uma de suas mãos baixou pelas costas dela, se parou um momento em sua cintura, e continuou até abarcar a curva do traseiro feminino. Sem afastarse, conseguiu mover os pés até que uma de suas pernas descansou entre as dela. Era duro e cálido, tão cálido... Ardem sentia que o ardor masculino atravessava suas roupas e a abrasava, fundindo seus corpos. Quando Drew a sujeitou com uma mão no quadril e se esfregou contra ela, Ardem deixou escapar uma exclamação sobressaltada que ficou abafada contra a camisa dele. —Desculpe-me, não queria perder o controle, mas Deus é uma sensação tão adorável... —Drew... — Quer que eu pare? —Drew — jogou a cabeça para trás para olhá-lo com valentia aos olhos — não — estremeceu — não — então, com uma ponta de histeria, outra de delírio e bastante desespero, implorou — Beije-me. A boca de Drew cobriu a sua com o mesmo desespero que tinha o tom de suas palavras; foi um beijo violento, uma liberação explosiva de desejo acumulado e emoções contidas. Os lábios dele se apertaram contra a boca feminina de forma quase brutal, mas ela aceitou com prazer a rude caricia, já que nunca se tinha sentido tão viva. Era como uma borboleta saindo de uma opressiva crisálida, uma prisioneira desesperada e infeliz que via a luz da vida pela primeira vez. O levantou a cabeça e olhou-a com olhos brilhantes e respiração tão entrecortada como a dela. Ardem podia sentir sua rígida virilidade contra aquela parte de seu corpo que parecia palpitar de gozo. Com um esforço titânico, Drew conseguiu controlar seu feroz desejo, e levantou uma mão para levantar com ternura a mandíbula dela. Percorreu com a ponta do polegar o dolorido lábio inferior feminino e franziu o cenho, mas Ardem mostroulhe seu perdão com um sorriso. Drew voltou a beijar sua boca, mas essa vez foi com o mais ligeiro dos roces; acariciou-a com lábios úmidos e suaves, e o contato reconfortante foi aumentando lentamente em intensidade. —Drew — seu nome brotou como uma prece do fundo de sua alma. —Não era minha intenção ser tão brusco. —Já o sei. 39


—Fazes-me enlouquecer de desejo. —Eu também queira. O peito masculino reverberou com um gemido animal quando sua boca voltou a descer: sua língua moveu-se com doce agressividade enquanto percorria o lábio inferior de Ardem, banhando-o com o néctar de sua própria boca. Ela o recolheu com sua língua e murmurou um som apreciativo. Drew cobriu a boca dela com a sua e abriu os lábios lentamente. Ela fez o mesmo. Durante um longo momento permaneceram assim, saboreando a expectação, suas pulsos acelerados, a excitação de seus corpos. Finalmente, ele introduziu a língua na boca feminina, a tirou, voltou à meter uma e outra vez, até que Ardem esteve segura de que ia morrer; podia sentir como seu corpo florescia e se abria, preparado para se unir ao dele. Seus mamilos tinhamse endurecido, inaceitavelmente sensibilizados contra o suave e sensual tecido do vestido. O beijo voltou-se lúdico; Drew explorou o interior da boca feminina provocativamente, mudando as cadencias e os ângulos com tanta habilidade que ela se apoiou fracamente a ele e sussurrou seu nome quando teve que se afastar um pouco para respirar. As mãos dele levantaram até rodear seus peitos, e os juntou com uma suave pressão; quando estive a ponto de desbordar o decote, Drew murmurou um elogio sem fim e beijou com ardor a flagrante pele. Introduziu Sua língua no profundo decote, e a caricia foi tão evocativa que um delicioso sentimento de vergonha inundou o corpo de Ardem. Precisava aquilo durante toda sua vida adulta, a um homem que a ensinasse o que era se sentir adorada, amada por si mesma, adorar por sua feminilidade. Não se considerava uma mulher atraente até que conheceu Drew; a cada olhar e a cada gesto dele revelavam que a achava extremamente sexy e desejável, tinha sido honesto e direto desde o primeiro momento. Mas ela não. O que sentia era puro e sincero, mas o creria ele quando soubesse a verdade? Quando se inteirasse de que era a mãe de Matt, ela teria que dar muitas explicações; queria acrescentar a seus problemas tê-lo provocado sexualmente? A idéia a deixou doente. Tinha que deter aquilo de imediato, ou seria objeto de seu menosprezo. —Drew — murmurou contra seus lábios, que voltavam a cobrir sua boca. — Mmm? —estava imerso na caricia. —Drew — repetiu com mais firmeza, e apoiou em seus ombros—. Não... Uma mão masculina deslizava sob o tecido de seu vestido, arrastando-o para baixo, e Ardem deixou-se levar pelo pânico. Se não detivesse aquilo de imediato, não seria capaz do fazer. A única solução que ficava era conseguir que ele se enfadasse, já que era impossível o fazer parar. — Eu já disse para parar! —separou sua mão de uma bofetada e se libertou de seu abraço. O rosto dele mostrava um assombro total; piscou rapidamente até que pôde enfocar seu olhar nela. Ardem viu como seu desconcerto inicial se transformar em irritação. —Vale — disse ele com voz tensa — você não tem que me tratar como se fosse um menino desobediente, tinha todo o direito de pensar que estava gostando dos meus beijos. Ela evitou olhar seus olhos. —Gostei que você me beijasse, mas não sou uma de essas seguidoras tuas que... 40


— Acha que é isso? —Passou uma mão pelo cabelo, tentou arrumar com movimentos frustrados a gravata, e insistiu—: Acredita isso de verdade? Ela queria que ele se aborrecesse, mas não percebeu que teria que lidar com um caráter tão volátil. Disse com voz trêmula: —Sim... achava que... —Vale, de acordo, por que você será diferente das demais? Por quê? Esteve mais que disponível, e não nos une nenhum tipo de compromisso; que outra coisa ia pensar? Ou é diferente porque não ia chegar até o final? Nada de sexo, só apoio moral para minha tão noticiada alma perdida — Drew estava furioso— Que passa, talvez me considere um caso digno de sua caridade? Ardem estava tendo dificuldades para controlar seu próprio gênio. —Como falei no primeiro dia, você veio até mim, e não ao contrário; e no que diz respeito a te considerar «um caso digno de caridade», direi que não me importo nem um pouco se você for direto ao inferno, ou bebe até se matar, ou tropeça e cai em todas as pistas de tênis do mundo. A verdade é que duvido que valha a pena te salvar. Ele a ignorou e inclinou a cabeça, como se estivesse a vendo sob uma nova luz. —Talvez não seja tão diferente, apesar de tudo. Há seguidoras obcecadas com deitar com uma pessoa famosa, para alimentar seus egos; você ia fazê-lo para recuperar tua confiança destroçada depois de um casamento frustrado? — Aproximou o rosto até que esteve a centímetros do dela, e acrescentou—: O que aconteceu, sentiu medo? A fúria fez que Ardem saísse de seu buraco. — Escuta, porco presuntuoso, não sou nenhuma divorciada frustrada! Estive adorei me livrar de meu marido, e o pensarei muito antes de ficar novamente com outro homem. E se minha confiança estivesse destroçada, coisa que não é certa, seria bem mais difícil recuperá-la me deitando com um estúpido tenista acabado. Pode combinar com o que tem embaixo das calças, senhor McCasslin, vivi em trinta e um anos sem isso, acho que posso viver outros trinta e um. Virou-se rapidamente e se afastou tropeçando pelo caminho mal iluminado, mas ele a atingiu e gemeu: —Você está indo na direção errada. Ardem tentou libertar seu braço, mas ele não permitiu. Como não estava disposta a engajar em um indigno estica e puxa, deixou que a guiasse através do vestíbulo, e esperaram que levassem o carro imerso num silêncio hostil. Nenhum disse uma palavra na viagem de volta. —Não preciso que me acompanhe, obrigado — disse Ardem ao abrir a porta do veículo assim que chegaram. Sem olhar atrás, apressou-se a tomar o elevador e a entrar em seu quarto. Ele não a seguiu. Só percebeu do que tinha feito quando finalmente dissipou seu enfado depois de dar várias portadas enérgicas, e fechar inesperadamente um par de gavetas e se desafogar murmurando imprecações. Matt! Tinha arruinado qualquer possibilidade de conhecer ao menino. As lágrimas inundaram suas bochechas, e Ardem disse uma e outra vez que não era por Drew, senão só porque tinha voltado a perder a seu filho.

Na manhã seguinte, Ardem sentiu que seus olhos inchados ardiam ao tentar os abrir. Voltou e escondeu o rosto no travesseiro. Quando voltaram a chamar com força à porta, gemeu: 41


—Vá embora, não preciso nada! Um terceiro golpe, ainda mais imperioso, sacudiu a quarto, e Ardem amaldiçoou a insistência do serviço de limpeza. Percebeu que sua única opção era ir até a porta e dizer à camareira que voltasse mais tarde. Saiu da cama e foi tateando as paredes, já que seus olhos pareciam ter ficado selados com as lágrimas; no entanto, abriu-os de par em par quando jogou um olhar pelo olho mágico e viu Drew de pé do outro lado. Viu como voltava a golpear a porta, e o ouviu dizer: —Ardem, abre esta porta. —Nem sonhando. —De modo que está acordada. Seu tom alegre reconfortou-a tanto como uma lasca sob a unha. —Não quero te ver, Drew. —Bom, pois eu sim quero vê-la, para me desculpar. Agora, abre a porta antes que todos os hóspedes deste andar ouçam uma desculpa capaz dos acordar mais rápido que uma caneca de café bem carregado. Ardem mordeu o lábio inferior enquanto pensava suas opções; não estava preparada para o ver, a noite anterior a tinha insultado e ainda não podia o perdoar. Inclusive se pudesse, sabia que tinha um aspecto horrível. Seus olhos provavelmente estavam enrijecidos além de inchados, e tinha o cabelo completamente enredado. Queria enfrentar ele com a cabeça erguida e com seu melhor aspecto. Por outra parte, ela o tinha enfadado de forma deliberada; nenhum homem, sem importar o amável que fora, tomaria com humor aquela frustração sexual. Ela tinha passado a metade da noite se amaldiçoando entre lágrimas por permitir que sua relação com Drew tivesse arruinado suas possibilidades de ver a Matt. Engolir o orgulho era um pequeno preço que pagar, não? Tirou o trinco e abriu a porta. —Não estou vestida. —Claro que o está — disse ele ao ver o pescoço e as mangas de sua camisola a listras brancas e azuis. —Se faz questão de ver-me, me reunirei contigo no vestíbulo. Dá-me... —Não tenho tempo — seu sorriso era travesso e ganhador — Vamos, Ardem, deixa-me passar. Com gesto relutante, abriu a porta e foi até o centro do quarto. Depois de fechar a porta depois dele, Drew percorreu seu corpo com um lânguido olhar, e Ardem se sentiu incômoda e nervosa por ter as pernas e os pés nus; a camisola não era reveladora, mas de pronto desejou que a barra fosse maior. Um tanto inibida, cruzou os braços sobre o peito e tentou parecer aborrecida. —Tem razão, sou um porco presuntuoso. Drew passou por seu lado e aproximou-se à janela; abriu as cortinas sem pedir permissão, e o quarto inundou-se com uma luz cegadora que a fez entrecerrar os olhos. —Estava-me comportando como um adolescente, te tocando e te acariciando na escuridão; Deus... — suspirou e massageou a nuca — não me estranha que pensasse que te considero mais uma fã, eu estava te tratando assim. E não sei por que disse aquelas coisas quando se negou a continuar; não falava a sério, o que te disse não era verdadeiro, e eu sabia. Drew olhou acima do ombro, e ao ver que a postura rígida dela não tinha relaxado nem um pouco, continuou dizendo: —A única desculpa que posso te oferecer é que, quando Ellie morreu, me vi 42


rodeado de mulheres que achavam que podiam curar minha dor; davam a impressão de serem algo como trabalhadoras sociais do ponto de vista sexual, dispostas a me salvar de minha própria destruição. Para elas eu não era mais que outro entalhe na cabeceira de suas camas. Ardem baixou os braços e relaxou um pouco; ela tinha percebido a mesma atitude nos homens após seu divórcio. Amigos de Ron, também separados, tinham começado à chamar por telefone para oferecer sua «ajuda». Sua resposta sempre tinha sido de forma invariável «não, obrigado», até que finalmente se deram por vencidos. —Em fim — seguia dizendo Drew — por isso tinha que te ver hoje a primeira hora. Assim que sai daqui ontem à noite, soube que tinha me portado como um estúpido. Você tinha que me ter dado um chute no meio das pernas, ou algo assim. —Pensei nisso. O começou a rir e comentou: —Bom, talvez não tivesse me feito mudar de opinião em seguida, mas teria conseguido obter toda a minha atenção. Ardem riu também, e Drew juntou bateu palmas e se apressou em dizer: —Agora que voltamos a ser amigos, por que não vêm comigo a Oahu por alguns dias? — Que...? —Espera um momento — disse ele, levantando ambas as mãos para impedir qualquer objeção — não há compromisso nenhum, só vou estar ali alguns dias. Tenho uma suíte de vários hotéis reservado, e pode ser que consiga alguma idéia para outro artigo — era um argumento bastante vago, mas estava desesperado para convencê-la. —Mas não posso renunciar a este quarto, tenho... —Não estou sugerindo que o faça, leve só o que vai precisar; diremos ao gerente que ficará fora por alguns dias, mas quer conservar o quarto. Drew aproximou-se dela e segurou suas mãos. —Gosto muito dessa sua camisola — disse, arrastando as palavras com um tom muito sexy — encanta-me ver teu cabelo revolto, e tuas bochechas ruborizadas. Tens a boca mais doce que jamais tinha provado, e não posso achar que permitisse que algo tão fantástico como o de ontem à noite acabasse tão mau. —Você é um idiota, sabia? É muito atrevido ao vir aqui esta manhã após o que me disseste ontem à noite, e ao insinuar que tenho bom aspecto quando sei muito bem que devo de estar horrível. Seu arrebato fez que ele sorrisse, e isso avivou a indignação de Ardem. —Sais-te sempre com a tua? —Sou um competidor nato, Ardem, e gosto de ganhar. Pelo feroz brilho de seus olhos, ela soube que era seu seguinte objetivo. Enquanto permanecia presa de seu atrativo pessoal e da intensidade de sua olhar, ele insistiu suavemente: —Vêem a Honolulu comigo, nos conheceremos melhor. Não tinha nada que ela desejasse mais, mas sabia que só conseguiria se meter em mais problemas. Respirou fundo e negou com a cabeça. —Drew, não acho que... —Por favor. Além do mais, assim poderá conhecer a Matt. Ela ficou uns segundos o olhando boquiaberta, e o arsenal de razões que ia enumerando em sua mente para não ir com ele se desmoronou. Finalmente, conseguiu dizer: 43


—Matt... Matt também vai? —Sim, ele é a principal razão da viagem; ele precisa fazer sua consulta periódica com o pediatra, iremos levá-lo. E no outro dia a senhora Laani queixou-se de que está crescendo tão rápido, que a roupa dele estava ficando pequena. Quer ir comprar todo o necessário. A mente de Ardem estava sumida no caos. Ia acontecer! Ia ver seu filho, a passar dias inteiros com ele. Tinha esperado aquele momento durante meses, tinha sonhado com ele, tinha imaginado como se sentiria. Mas não tinha previsto o pânico que a agarrava. Isso era o que sentia... Um pânico gelado e cego; pois chegava o momento pelo qual tinha rezado, estava aterrorizada. Tentou encontrar desculpas para não ir. —É uma viagem em família, e não gostaria intrometer.

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Capítulo 5 Ele... Talvez Matt goste, e a senhora... Laani? À senhora Laani talvez não goste que leve uma... Que eu vá com vocês. —Sim, é uma viagem em família, e a cabeça desta família sou eu. A senhora Laani me repreende por tudo, incluindo a falta de uma boa... E sublinho a «boa»... Mulher em minha vida. Está quer te conhecer. E Matt só tem vinte meses, adora a quem quer que lhe dê de comer — sua voz se aprofundou de forma perceptível quando acrescentou — Não quero estar longe de ti nem sequer por alguns dias. Oh, Deus, por que não estava dando saltos de felicidade? Por que duvidava? Talvez se sentisse culpado? Ardem não conhecia a sensação que agarrava seu coração e não deixava lugar para nada mais. Drew a olhava com uma expressão ansiosa, contemplava-a como uma mulher com que tinha uma relação sentimental, não como à mãe biológica que sua amada esposa e ele tinham contratado. Quanto tempo mais poderia seguir enganando-o? —Drew, não acho que é uma boa idéia ir com você. — Ainda está chateada por ontem à noite? —Não, mas... —Não te culpo por se chatear, disse umas coisas terríveis e insultantes — acariciou sua bochecha com o polegar—, estava equivocado, mas todas tuas palavras foram verdadeiras. Estou acostumado a sair com as minhas fãs, e se não é assim sou capaz de montar um número. Sou um estúpido tenista acabado. —Não, isso não é verdade. Disse-o deliberadamente para ferir-te, nada mais. Suspirou. —Ainda está por ver se é verdade ou não. Mas sim sou um homem que se sente atraído para uma mulher, ainda que jamais pensasse que voltaria a se sentir assim. Tenho muitíssimo medo. Ardem, a você e de meus sentimentos. Não deixe tudo tão difícil. Estou tentando acostumar-me a voltar a ser uma pessoa, a agir como um ser humano, e não como um animal ferido; às vezes tenho lapsos e ontem à noite foi uma dessas ocasiões. —Não estou jogando contigo, Drew. —Já o sei. —Ontem à noite também não. E a beijou com ternura e admitiu: —Isso também o sei. —Há uma razão pela que não deveria ir. —Não me deste nenhuma boa razão e não acho que exista alguma, ao menos que seja válida. Vêem conosco, o avião sai dentro de uma hora. — Que? —Ardem deu um respingo, separou a um lado e jogou um olhar ao relógio digital que tinha sobre o criado-mudo—. Uma hora! Oh. Drew, não posso... Por que não me disse antes... Não conseguirei estar pronta... —parou-se em seco quando percebeu que ainda não tinha aceitado. O começou a rir ao ver sua expressão sobressaltada, sentou-se na cama e pegou o telefone. —Será melhor que se arrume rapidamente, eu pedirei um café. Quando saiu da ducha, ele estava chamando à porta do banheiro. —Serviço de quarto. Ardem entreabriu a porta e tomou a caneca que ele oferecia. —Trinta minutos — disse ele— Quer que vá colocando algumas coisas na mala para você? 45


A idéia de que ele tocasse sua roupa íntima iniciou uma reação em cadeia que acabou com uma sensação acalorada entre suas pernas. —Não, já estou saindo. Ardem tomou um gole de café e tentou controlar o tremor de suas mãos enquanto se maquiava. Disse a si mesma que estava nervosa porque havia dormido pouco na noite anterior; sua tensão não tinha nada a ver com o fato de estar nua a poucos metros de Drew, de que só os separava uma porta. Não, que era só porque daqui a menos de uma hora conheceria o filho que tinha levado em seu ventre durante nove meses, mas que nunca tinha visto. Drew vestia umas calças informais cor caqui e uma t-shirt branca de algodão com mangas largas que tinha dobrada até os cotovelos. Ardem usava umas calças de seda e uma t-shirt a jogo com mangas ajustadas, e usava uma trança solta; não estava espetacular, mas era o melhor que podia conseguir em tão pouco tempo. Olhou a Drew com nervosismo quando saiu do banheiro quente; estava sentado em uma cadeira próximo da porta do terraço, lendo o jornal matinal. Baixou uma esquina de papel para olhá-la, e deixou escapar um longo e suave assobio. — Como consegui com tanta rapidez? Coloque na mala roupa informal, calças curtas, maiô, algo para sair para jantar, mas nada sofisticado. Ela começou a encher uma mala, com cuidado de incluir todos os complementos necessários. Ficou muito nervosa quando começou a escolher a roupa interior que precisaria, ainda que ele continuasse com o jornal em frente a ele. Mas os olhos de Drew não estavam na letra impressa, Ardem podia os sentir observando todos seus movimentos enquanto ela metia na mala biquíni e sutiãs quase transparentes. Quando lançou um olhar indignado, ele respondeu com um enorme e inocente sorriso. —Estou pronta — disse ao fechar o zíper da mala, onde tinha conseguido embutir maquiagem, jóias e sapatos além da roupa. —Inacreditável — disse ele ao se levantar e olhar seu relógio — E justo a tempo, nos encontraremos com a senhora Laani e com Matt no aeroporto, Mo, que se ocupa do terreno da casa, os vai levar de carro. Nós iremos de ônibus do hotel; espero que não te importes, não queria deixar meu carro no aeroporto tanto tempo. —Não há problema — Ardem pôs um chapéu de palha de asa larga e um grande óculos de sol — Recorda que estou acostumada a viajar com um orçamento limitado. —A verdade é que não o aparenta — disse ele, e foi para o elevador com a mala dela ao ombro; enquanto esperavam-no, notou todos os luxuosos detalhes que os rodeavam, e acrescentou com voz suave — Tem toda minha aprovação. —Obrigado — comentou ela em um sussurro. Uma vez dentro do espaço fechado, Drew disse: —Você se esqueceu de algo. — Você deixou algo no quarto? —Não, me esqueci disto — dobrou os joelhos para pôr a sua altura, inclinou a cabeça sob a asa do chapéu e cobriu a boca dela com a sua. Os lábios masculinos mal se moveram, mas Ardem sentiu a doce pressão em todo o corpo. A ponta da língua dele roçou a dela, mas parecia que estivessem tocando seus dedos, seus mamilos, os recôncavos secretos de seu corpo, porque ela sentiu a estimulante caricia em todos aqueles lugares. Quando ele se separou, Ardem se sentia acalorada, e um formigamento a percorria. —Você pegou meus óculos de sol? — disse com voz rouca. 46


— Que? Ela sacudiu a cabeça; para quando abriu a porta do elevador, eles estavam no meio do segundo beijo. Ruborizada, Ardem disse: —Tenho que deixar arranjado o meu quarto. —Eu reservarei praça no ônibus. Ardem atravessou o lobby até chegar ao balcão de recepção. Naturalmente, àquela hora estava abarrotado; tinha hóspedes que chegavam e outros que se iam, pessoas que reservavam excursões por terra, mar ou ar a outras áreas da ilha. Olhou várias vezes acima de seu ombro com nervosismo até que por fim chegou sua vez. Explicou rapidamente que ia pagar pelos dias que levava em seu quarto, mas que queria conservar até sua volta ao cabo de três dias. Após repetir seu petição várias vezes, conseguiu que a entendessem apesar do ruído; o estressado empregado encontrou sua ficha de registro, passou seu cartão de crédito pela máquina, ofereceu um grande sorriso, desejou uma feliz viagem e expressou sua gratidão por que tivesse elegido aquele estabelecimento. Ela teve a incômoda sensação de que aquilo parecia uma despedida, mas antes que pudesse voltar a conseguir a atenção do homem, ouviu que Drew a chamava. —Ardem, o ônibus está esperando. —Já vou — respondeu, e avançou entre a gente até que ele atingiu sua mão e a levou até a porta. — Algum problema? —Não. —Bem. Vamos chegar com o tempo justo. Uma vez que estiveram sentados no veículo á caminho para o aeroporto percebeu que em só uns minutos ia ver seu filho. Seu coração martelava no peito, e sua respiração era entrecortada. —Não tem medo a voar, verdade? —perguntou Drew, mal interpretando a causa de seu óbvio nervosismo. —Não, mas prefiro os aviões maiores. —Eu gosto mais dos pequenos, porque a visibilidade é melhor. Além do mais, este aeroporto está a só cinco minutos de casa; a companhia aérea é pequena, mas de confiança, a estas alturas conheço a quase todo o pessoal. Como Drew tinha dito, o aeroporto de Kaanapali era bastante humilde em comparação com os que tinham nas grandes cidades: o edifício era aproximadamente tão grande como um posto de gasolina, mas com muita atividade. Enquanto um avião aterrissava e saiam os nove passageiros, outro decolava. Quando o ônibus parou bruscamente, Drew jogou a mala dela ao ombro, se adiantou e ofereceu uma mão para ajudá-la a descer. —Devem de estar por aqui... ah, ali estão. Drew levantou o queixo, indicando que olhasse depois dela. Ardem respirou fundo, fechou os olhos com força por um segundo e virou-se. Teve que fortalecer seus joelhos trêmulos para que não cedessem. Drew não percebeu nada, e estava andando já para umas árvores. — Matt! —exclamou. Ardem viu-o, e seu coração disparou. Vestia uma camisa branca e uma calça curta vermelha, com suspensórios cruzados nas costas. De meia branca até o joelho cobriam suas panturrilhas roliças, e levava uns sapatos fechados. O movimento das roliças pernas parou em seco quando Matt ouviu a voz de seu pai, e o menino se voltou, deu um grito e 47


correu para Drew. Uma mulher com um uniforme alvo, tão alta como larga, o seguiu bufando; seus pés eram surpreendentemente pequenos para alguém de seu tamanho. Ardem só tinha olhos para o menino loiro que esteve a ponto de cair de entusiasmo; Matt lançou-se contra as pernas de seu pai, e Drew levantou-o acima de sua cabeça. —Ouça pequeno dínamo, baixa o ritmo ou vai machucar as pernas novamente — disse ele enquanto mexia ao menino, que encheu com seu riso o ar matinal. — Acima, acima! —gritou. —Depois — disse Drew, descendo até a curva de seu braço — Quero que conheça a uma senhora. Voltou-se para a pálida e paralisada mulher que estava junto a ele, e disse: —Ardem, este é Matt. Os olhos dela eram ávidos enquanto tentava devorar todos os detalhes que pudesse. Buscou algo que fosse familiar, mas não o encontrou; o menino tinha o mesmo colorido que Drew, cabelo loiro e olhos azuis, ainda que a forma de seu queixo lembrasse à de seu próprio pai. Ardem não viu nada seu, mas não podia estar mais segura de que aquele era seu filho. Sabia-o pela forma em que inchavam seus peitos, como se estivessem produzindo o leite que não tinha tido ocasião de subir até eles; sabia-o pelas contrações de seu útero ao recordar a cada vez que tinha notado o movimento de um punho ou de um pé, as ocasiões em que dado risada quando sentia em seu próprio corpo um ataque de contrações; sabia-o pelo anseio que sentia do tocar, de apertar seu doce, jovem e saudável corpo contra si. —Olá, Matt — deu com voz rouca. O menino olhou-a com inocente curiosidade. —Dei aloha, Matt — disse-lhe Drew, acariciando-lhe o estômago. —Oha — balbuciou o menino antes de voltar nos braços de seu pai e esconder o rosto contra seu pescoço com timidez. Drew abraçou com força seu filho, e enquanto esfregava suas costas, olhou a Ardem acima dos cabelos loiros do menino. —Ainda estamos trabalhando em seus modos — disse com um sorriso de desculpa. —Achei que seria melhor deixar que corresse pára que se cansasse um pouco antes do vôo, senhor McCasslin — engasgou a governanta quando chegou até eles. —Boa idéia. Senhora Laani, apresento-lhe à senhorita Gentry, que vai ser nossa convidada nestes dias. —Aloha, senhora Laani — disse Ardem, afastando os olhos da suave pele da nuca de seu filho. Costumava fazer cócegas ali em Joey com a boca, chamavam-no «buscar açúcar». A mulher polinésia de meia idade contemplou-a com franca curiosidade: pareceu gostar do que viu, porque em seu rosto redondo e sem rugas apareceu um amplo sorriso. —Aloha, senhorita Gentry. Alegra-me que nos acompanhe, às vezes lidar com dois homens é muito para mim. —Perfeito — disse Drew—, seu trabalho será lidar com Matt, deixe que Ardem se ocupe de mim. Ela era senhorita, mas a senhora Laani se jogou a rir, e Ardem entendeu imediatamente. A aparência da mulher era impecável; levava o uniforme muito engomado, e seu escuro cabelo com fibras prateadas, curto e encaracolado, 48


parecia coroá-la. Um dos empregados da companhia aérea saiu do edifício. —Senhor McCasslin, estamos prontos para que embarquem quando queiram. — Já colocou toda a bagagem a bordo? —perguntou Drew ao assistente, enquanto o homem marcava seus nomes na lista de passageiros. —Sim senhor, estou seguro de que sim. —Acrescente isto — deu a mala de Ardem. —Posso levá-la eu — disse ela. —Desculpe-me, senhora — disse o homem — mas os assentos são muito pequenos, toda a bagagem deve na adega. Um homem em mangas de camisa, que Ardem supôs que era o piloto, deu um tapinha nas costas de Drew. — Quando vai voltar a jogar comigo? Por fim poderei recuperar-me da última partida. Conversando, foram até o avião; Drew ainda levava a Matt nos ombros, e Ardem não podia afastar a vista do menino. Sentiu-se agradecida quando, no meio da confusão à hora de subir ao aparelho, pôde o observar sem que ninguém percebesse. A senhora Laani mal conseguiu entrar pela estreita porta, e se sentou na parte traseira para não ter que ir pelo corredor. — Quer sentar a meu lado? —perguntou o piloto a Drew. Ele sorriu como um menino. —Já sabe que meu assento favorito é o do co-piloto — se voltou para Ardem, e disse — você se importa de se sentar junto a Matt? Ela negou com a cabeça, sem se atrever a falar, e se sentou junto à janela para que o menino não se sentisse tão confinado. Drew sentou seu filho no assento que estava junto ao de Ardem e por trás do seu próprio, e apertou o cinto de segurança. —Já está chateado.Você será o comandante, de acordo? Matt sorriu, revelando seus oito dentes; no entanto, seu entusiasmo apagou-se um pouco quando o piloto acendeu os ruidosos motores. Tencionou as costas, abriu os olhos como pratos, e seu lábio inferior começaram a tremer. Ardem colocou uma mão em seu joelho, e sorriu quando ele a olhou com temor. Drew voltou-se, piscou o olho ao menino, e alongou a mão para acariciar sua cabeça. Matt permaneceu quieto e rígido até que o avião ganhou altura e se convenceu de que não corria um perigo imediato. Só tinha outro homem além deles, e se tinha ficado dormido em seguida, igual que a senhora Laani. Quando Matt começou a se impacientar e a contorcer-se contra o cinto de segurança, Ardem o soltou depois de consultar Drew e o piloto. —Mas não deixe que ele vá de um lado para outro — disse Drew—. Ele fica muito nervoso, mas depois passa. —Não te preocupe, não terá problema. Drew voltou a sua conversação com o piloto, e ela concentrou sua atenção em Matt, tal e como desejava, como qualquer menino, não podia ficar quieto; se remexeu e virou no assento, tentou levantar-se, cambaleou um pouco e voltou a sentar-se enquanto olhava tudo que o rodeava. Ardem observou cada movimento, adorou-o e o saboreou para quando tivesse que deixa-lo novamente; seus planos não tinham ido para além desse momento, só tinha pensado em ver seu filho. Sabia que não podia arrancar da vida que tinha; não podia fazer aquilo a seu pai, e também não séria o melhor para Matt. Nesse momento só queria amar seu filho, em silêncio e em segredo, mas só como uma 49


mãe podia o fazer. Quando Ardem deu uma bateu em seu colo, o menino duvidou só um segundo antes de subir nele. Estudou-a detidamente, e alongando um braço tocando nas lentes dos óculos de sol com um punho úmido. - Obrigado — caçoou ela enquanto os tirava para limpá-las — entre seu papai e você, sempre estão nubladas. O menino sorriu e apontou para a nuca de Drew. —Papai. —Sim — riu ela. Tocou a bochecha de seu filho, adorando com sua macieza, e seu cabelo se enroscou nos dedos: tinha um tom quase platino, mas quando crescesse iria escurecer até chegar à cor trigueira de Drew. Acariciou com ternura seus braços, e deixou que ele fechasse com força seus punhos úmidos ao redor de seus dedos. Com uma canção inventada, brincou com ele pressionando suavemente suas perninhas até que o menino soltou uma risada encantado. —Um menino bom será / não chorarás nem rirás / quando estas cócegas / te faças no joelho. Atraiu-o contra seu peito e ele não tentou se afastar, de modo que o abraçou com tanta força como ele permitiu. Cheirava a sabonete de bebê, a roupa limpa e luz do sol. A senhora Laani cuidava-o bem, seu aspecto era impecável e tinha as unhas perfeitamente cortadas. Ardem adorava a solidez de seu corpo, Joey tinha sido tão terrivelmente frágil... Quando deixasse a Matt, iria sabendo que era um menino são e normal. E, como qualquer menino saudável e normal, rapidamente se rebelou diante tanto afeto; retorceu-se contra ela, fazendo que caísse o chapéu, e quando o pôs na cabeça dele, pareceu que o engulia. Jogaram durante um momento, até que Ardem colocou seus óculos no nariz dele; Matt ficou muito quieto para que não caíssem, e os olhos do menino seguiram todos seus movimentos por trás das lentes escuras quando ela tirou um pó compacto de sua bolsa. Ardem sustentou o espelho diante do rosto de Matt, e ele soltou um gritinho entusiasmado. — Papai, papai! —gritou, ficando em pé no colo de Ardem e golpeando a Drew na cabeça. O chapéu e os óculos caíram, mas Matt não percebeu. Drew voltou-se e começou a rir da cômica aparência de seu filho. —Estás pior que E.T. com o vestido de casamento — exclamou. Matt moveu-se agitadamente para cima e para baixo, até que ficou muito nervoso e teve que se acalmar. Quando ao fim se cansou do chapéu e os óculos, Ardem os deixou no assento do menino e voltou a sentá-lo em seu colo. O ronco dos motores e suas ternas caricias no seu cabelo o fizeram adormecer, e em poucos minutos sua cabeça descansava sobre os peitos dela. Ardem não podia achar que tivesse sido abençoada com aquele momento, era mais do que tinha permitido sonhar. Gostava de seu filho e ele confiava nela de forma instintiva, o suficiente para ficar dormido contra ela. Podia sentir a batida de seu coração contra o seu, e pensou no laço irrevocável e eterno que os unia. Não tinha nenhum nexo de união em todo o universo que parecesse ao de mãe e filho; seu corpo tinha-o alimentado, tinha respirado por ele, o tinha desejado. Inundou-a uma emoção como jamais tinha sentido. Drew lançou um olhar e parou, surpreendido, ao ver a expressão de adoração de Ardem olhava seu filho. Estava absorta na pequena mão que sustentava na sua, as juntas. Como se tivesse notado seu olhar, ela levantou a cabeça, e ele assustou ainda mais ao ver as lágrimas que inundavam seus olhos. Ela sorriu tremulamente, e de novo baixou os olhos até o menino que dormia em seu colo. 50


O piloto aterrissou com destreza e levou-os para o terminal; assim que apagou os motores, desculpou-se e foi à parte traseira do avião para ajudar à senhora Laani. O outro passageiro baixou assim que encontrou sua bolsa. Drew sentou-se ao lado de Ardem, e contemplou-a durante uns segundos com seus intensos olhos azuis antes de falar. —Vejo que vocês se deram muito bem. —Eu acho que sim. É precioso, Drew, simplesmente encantador, um menino maravilhoso. —Sim, o é. Ardem acariciou os cachos dourados. —Foi um bebê bom? —Ellie e eu não tínhamos nada com que o comparar, mas achávamos que se portava muito bem. Foi um caminho difícil até que chegou, de modo que nós não nos importaríamos se ele berrasse todo o dia. A seguinte pergunta seria como lançar de cabeça a uma piscina em chamas; a adrenalina bombeava por suas veias. — Ellie teve dificuldades para tê-lo? A pausa que seguiu foi significativa; Ardem continuou olhando ao menino dormido, examinando a cada sopro que descansava em suas bochechas rosadas. —Não exatamente — disse Drew com lentidão — teve dificuldades para concebêlo. —Ah — de algum modo, o fato de que Drew também estivesse mentido aliviava sua consciência; até onde poderia chegar com suas perguntas sem que ele começasse a suspeitar? —Parece-se a sua mãe? —Ellie era loira — comentou ele, de forma ambígua — Mas acho que se parece mais a mim. Ardem levantou o olhar para ele e sorriu, ainda que em seus olhos ainda ficassem lágrimas. —É seu orgulhoso pai, de modo que não é imparcial. —Sim, disso não há dúvida — comentou — a verdade é que não sei dizer quanto se parece a sua... Mãe. Ardem apressou-se a voltar a afastar o olhar antes que ele notasse sua dor, mas Drew viu a lágrima que deslizou por sua bochecha; levantando-lhe a cabeça ternamente com um punho sob seu queixo, limpou a lágrima com a ponta do dedo. — É pelo filho que perdeu? Formulou a pergunta com tal ternura e compaixão, que uma nova emoção desconhecida floresceu no peito dela, a deixando aturdida... E aterrorizada. «Agora, o faz agora», se disse; ele tinha oferecido a oportunidade perfeita para dizer que acabava de encontrar a seu filho, que ela tinha dado a luz àquele menino ao que ele adorava. Mas as palavras negavam-se a sair; era possível que Drew arrancasse seu filho de seus braços e não deixasse voltar a vê-lo, talvez pensasse que o havia usado para chegar até Matt. Não era isso o que tinha feito? « Não!». Nesse momento, para ela o pai era já tão importante como seu filho: não podia ferir a Drew quando acabava de reordenar sua vida, de recuperar a confiança em si mesmo. Não, não podia dizer ainda. O faria mais tarde, quando chegasse o momento oportuno. —Sim — disse — é pelo filho que perdi. Drew assentiu compreensivo; a respiração de Matt assobiava por sua boca de 51


querubim, e tinha manchado de saliva a t-shirt de Ardem. —Está-te molhando a t-shirt — sussurrou Drew, rompendo o silêncio. Ele não sabia o que encontrava mais cativante, a doce boca de seu filho, ou o lindo lugar contra o que descansava. O peso da cabeça de Matt no peito de Ardem destacava ainda mais e parecia maternal e reconfortante; Drew desejou tocá-lo, acariciar sua plenitude. —Não me importo. Era verdade, não se importava se o menino manchasse de forma irreparável toda sua roupa, enquanto pudesse continuar segurando em seus braços. Fascinada, viu como o dedo de Drew se aproximava à bochecha de seu filho e a roçava com carinho antes de baixar até os lábios abertos do menino e capturar as gotas que os banhavam. Fascinada tanto pelo que estava pressênciando como pelo amor que sentia dentro dela, seguiu observando aquele dedo enquanto avançava lentamente desde a boca de Matt até a mancha úmida em seu próprio peito. Drew tocou-a, mas foi um roce tão ligeiro, que ela não teria dado conta se não estivesse olhando. Então, movendo com uma lentidão extrema, ele balançou a cabeça de seu filho com as mãos, deixando que o reverso de uma delas descansasse contra o peito de Ardem. Sacudiu-a um estremecimento emocionado, um pequeno soluço escapou de seus lábios trêmulos e ficou cega pelas lágrimas; Drew levantou a cabeça inesperadamente, e a perfurou com a intensidade do olhar de seus olhos azuis. —Ardem, não chore mais. Movendo só a cabeça, Drew uniu suas bocas. Aquele beijo não era contido, como o que tinham compartilhado aquela manhã no elevador; transbordava emoções, e uma só delas bastaria para derrubar as defesas de ambos. A língua dele se submergiu na suavidade da boca feminina, e de forma inconsciente Ardem levantou uma mão e apertou suavemente a cabeça de Matt contra seu peito, segurando a mão de Drew. Nesse momento tinha-os a ambos contra si, ao filho e ao pai. Tinha sonhado durante tanto tempo com eles, tinha especulado tanto sobre como seriam... Sempre elusivos. Mas naquele instante podia sentí-los a ambos, seus sentidos podiam desfrutar dos sons que faziam, de seu aroma, de sua aparência. Seus corpos eram os mais lindos do mundo para ela; com um deles, tinha criado o outro. Drew gemeu suavemente e seus lábios moveram-se sobre os de Ardem, enquanto seus dedos acariciavam a cabeça de seu filho e roçavam os mamilos dela com um ritmo que imitava o de sua língua. O desejo dele passou ao corpo feminino, baixou por sua garganta para seu interior até que chegou a sua feminilidade e a banhou de calor líquido. Nesse momento Ardem soube como teria sido se tivessem concebido a Matt de forma convencional, e se sentiu roubada por não ter experimentado aquele milagre em sua totalidade. —Deus — gemeu Drew, e ao fim separou-se dela e levantou a Matt, que ainda dormia, em seus braços — Se você continuar me beijando assim, serei eu o que começará a chorar, e por uma razão completamente diferente. Ajudou-a a descer do avião, sob a cálida luz do sol; levava a Matt apoiado no ombro, e quando a tomou da mão, foram para o terminal.

A suíte no Sheraton era espaçosa, e dava ao oceano com uma vista perfeita do cone vulcânico Cabeça de Diamante. Uma pequena sala separava a quarto que compartilhariam a senhora Laani e Matt com o de Drew, e Ardem ocuparia um quarto em frente da suíte. 52


—Aqui está a chave da suíte, se você precisar — disse Drew enquanto subiam no elevador — Está em tua casa. Colocou a chave na palma da mão, deixando claro o significado implícito do gesto. Quando Ardem teve coragem suficiente para olhar à senhora Laani, viu que a mulher tinha um amplo sorriso no rosto, mas sabia que se decepcionariam se achavam que ia utilizar a chave. O primeiro que fiz foi esquecer o engano. Assim que comeram e Matt acordou de sua soneca. Drew e a senhora Laani levaram-no ao pediatra. Ele tomou a mão de Ardem quando estavam a ponto de subir ao carro que tinham alugado no aeroporto. —Voltaremos em uma hora, estás segura de que estarás bem? —Sim, mas não me importaria acompanhar-los—de fato, desejava ferventemente ir com eles, mas sabia que seria estranho insistir. —É muito generoso de tua parte, mas não desejo essa experiência a ninguém — riu com macieza, e explicou — Matt não é um paciente muito cooperativo. Saía para comprar e a passear, e nos veremos na suíte às cinco em ponto. —De acordo — disse com resignação. Ele lhe deu um rápido beijo na bochecha e se foi. Era óbvio que Matt estava amuado com a senhora Laani e com seu pai quando voltaram ao hotel: tratava-os como inimigos que o tivessem submetido a uma experiência terrível, e não quis saber nada deles durante o jantar num dos estabelecimentos do complexo hoteleiro. Só Ardem tinha permissão para se ocupar dele. —Só o está piorando — disse Drew enquanto ela lhe dava sorvete de sobremesa ao menino — pensará que você é sua fada madrinha. Ardem esteve a ponto de deixar cair a colher, mas conseguiu se recompor, e olhou à senhora Laani e a Drew com expressão suplicante. —Deixem-me que o mime, tem tido em um dia duro. Para quando o jantar terminou, o menino estava muito inquieto, de modo que Drew sugeriu que fosse melhor que se retirassem já. A senhora Laani comentou: —Assim que Matt dormir, gostaria de sair um momento; minha irmã quer que vá conhecer o noivo de minha sobrinha. —De acordo - disse Drew. —Por que não vai agora — se apressou a dizer Ardem — não me importo deitar a Matt, de fato, me encantaria: não faz sentido que tenha que adiar sua visita. — Estás segura de que sabes o que te espera? —perguntou Drew, franzindo o cenho e olhando-a com ceticismo. —Sim — Ardem voltou-se para a mulher, e insistiu — Sério, Matt e eu estaremos bem. A senhora Laani marchou-se poucos minutos depois, e os dois, Drew e Ardem conseguiram dar banho e colocar o pijama no menino, que seguia enfadado. Ardem sentiu que se ele não estivesse tão sonolento e rebelde, gostaria de brincar com ele mais um pouco. Foi ela que o deitou no berço transportável que o hotel tinha facilitado, e deu bateu nas suas costas até que dormiu. Drew já estava no outro quarto, mas ela ficou junto ao menino até que ouviu que a chamava. Quando Ardem entrou na pequena sala o viu no sofá com as pernas estendidas em frente a ele. Tinha mudado de roupa, levava umas calças curtas e uma t-shirt e estava descalço; ela contemplou com admiração a musculatura de seus braços e suas pernas, seus peitorais marcados, a forma em que seu dourado cabelo corporal reluzia contra a pele bronzeada sob a suave luz do lustre. 53


—Vêem e sente-se — disse, estendendo uma mão para ela — Eu me levantaria para te buscar, mas não posso nem me mover. Ela riu e se sentou a seu lado. —Um garoto grande e forte como tu, derrotado por um menino de vinte meses — caçoou. Drew soltou um rosnado. —É capaz de esgotar-me mais rapidamente que uma partida de tênis. De verdade, tenho que praticar enquanto estou aqui, quer vir me ver amanhã pela manhã? —Claro que sim. —Escaparemos antes que Matt se dê conta, a senhora Laani pode levar ao parque; estou cauteloso com meu filho por toda a atenção tua que está oferecendo. Voltou-se para ela, desfrutando de sua aparência desleixada: Ardem conseguia parecer elegante ainda nas situações mais domésticas. —Não tens por que — disse ela, desejando ter o valor suficiente para afastar as mechas de cabelo que caíam sobre a frente de Drew — gosto tanto porque é teu. —Para valer? —disse ele, com olhos brilhantes de prazer. —Para valer. E era verdade: não só queria a Matt porque fosse seu filho, senão também porque era de Drew. Era lógico que amasse a Drew, mas, que classe de amor era o que sentia por ele? Queria-o só porque era o pai de seu filho? Não, estava apaixonada por aquele homem, e não tinha nada que ver com seu filho. Ele a contemplava com a mesma intensidade que ela a ele. —É a segunda vez hoje que meu filho te molha — disse, percorrendo com o dedo o rastro que o corpo de Matt, molhado pelo banho, tinha deixado na camisa que se tinha posto aquela tarde. A mão masculina parou na curva superior do peito dela, e seus olhares se encontraram. —Desde o princípio foi algo mais que um entretenimento momentâneo, que uma aventura de uma noite. Diga-me que o sabe. Ardem sacudiu a cabeça e fechou brevemente os olhos antes de dizer: —Sim, sei-o — voltou a olhar aos olhos, consciente de que se estava equivocando. Sua consciência estava-a avisando a gritos, mas ela a ignorou porque o desejava muito—. Ontem à noite, tive medo. — De mim? —De... disto. — E agora? Negou com a cabeça, e o rosto dele se tencionou pela emoção que o inundou; a mão masculina desceu até cobrir seu peito, e quando Drew baixou o olhar para contemplar o que estava tocando, o gesto comoveu a Ardem. Sentia tanto prazer pela expressão absorta em seus olhos azuis que por suas excitantes caricias. Os olhos de Drew ardiam de desejo quando levantou a cabeça, e a manteve cativa naquele inferno em chamas. Olhou-a diretamente aos olhos enquanto roçava com a ponta de um dedo um mamilo, que se endureceu sob o contato. Exclamaram ao uníssosso o um o nome do outro. A boca masculina desceu com impulso sobre a dela, e a rodeou com seus braços. Ardem entrelaçou as mãos em sua nuca e abriu os lábios, permitindo a entrada de sua língua para que começava uma sensual dança com a sua, esfregando, pressionando, empurrando num íntimo e primitivo ato amoroso. —Deus, que como você é doce — murmurou Drew contra a garganta dela. Cobriu seu pescoço de beijos, mordeu com cuidado a frágil pele, provou-a com a 54


ponta da língua; tomou a generosa curva de um peito em sua mão, acariciou-o com ternura, roçou o mamilo com o polegar até que ficou perfeitamente rígido, e então baixou a cabeça e o tomou entre seus lábios. Apesar da roupa que a cobria, Ardem sentiu como a envolvia a tremenda suavidade úmida de sua boca, e a cadencia sensual da sucção a enlouqueceu. O peso do corpo masculino fez que caísse sobre as almofadas, e estremeceu de emoção ao sentir contra sua coxa a rígida prova do desejo dele. As mãos femininas deslizaram sob sua t-shirt, e começou tirar-la enquanto ele começava a desabotoar a camisa. A boca de Drew voltou à sua para depositar nela uma série de rápidos beijos. —Quero te amar. Agora. Ellie, agora. Ardem ficou gelada. Drew levantou-se inesperadamente ao ouvir as palavras que tinham saído de sua boca. Que era o que tinha dito? Uma simples olhar ao macilento rosto de Ardem disse tudo. Levantou-se de um salto do sofá, e apertou com força as mãos contra seus olhos enquanto seu rosto transformava-se em uma feroz máscara de fúria e agonia. Quando não pôde o conter por mais tempo, uma forte explosão apareceu dentre seus lábios.

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Capítulo 6 Estavam petrificados. A selvagem maldição de Drew tinha deixado um vazio totalmente mudo, como a ausência de oxigênio depois de uma explosão, como a descarga sulfurosa no ar depois da queda de um raio. E no meio daquele vazio silencioso como a morte, ambos permaneciam quietos, paralisados. Quando Drew voltou a falar finalmente, sua voz estava carregada de um grande cansaço. —Desculpe-me, Ardem — levantou os braços num silencioso gesto suplicante, e continuou — Droga, o que mais posso te dizer? Desculpe-me. Ardem levantou-se como se estivesse sonâmbula e cambaleou um pouco, mas finalmente pôde impulsionar seu corpo para a porta enquanto arrumava sua roupa. —Ardem — disse seu nome com macieza, com tom de desculpa, mas quando ela não se virou, repetiu com mais força. Ao ver que não a detinha, correu para ela — Ardem — segurou seu braço e a virou para ele—, escuta... —Solta-me, Drew —disse com voz acerada e gélida, mantendo a vista afastada dele. —Não até que escute minha explicação. Ela soltou um riso sem humor, um som oco e carente de vida. —Acho que a cena explica-se por si mesmo — tentou se livrar de seu tenaz agarro; se não fosse uma pessoa civilizada, o arranharia e o chutaria. Precisava sair dali desesperadamente — Solta-me! —Gritou — não queria estar aqui, não sei por que estou aqui. Está errado, solta-me. Ardem estava à beira da histeria, incapaz de controlar-se, e lutou contra a mão que agarrava seu braço. —Tem todo o direito a estar aqui, eu te convidei; quero que esteja aqui com Matt e comigo. — O que você queria é que Ellie estivesse aqui! —exclamou ela. O rosto de Drew mostrava a raiva que sentia de si mesmo e sua frustração porque ela tinha interpretado mal as coisas, ficou totalmente impávido; as cruéis palavras de Ardem apagaram toda expressão. Os dedos de aço relaxaram, e o braço do homem caiu ao seu lado. —Ellie está aqui — sussurrou ele — esse é o problema. Voltou ao sofá com passos instáveis, deixou-se cair nele, apoiou a cabeça nas almofadas contra o respaldo e fechou os olhos. Ardem teria dado o que fosse para apagar suas palavras e nunca as pronunciar; quando ele se virou, alongou uma mão para tentar o reconfortar, mas voltou à baixar. A última coisa que ele desejaria nesse momento seria sua compaixão. Mas não podia ir embora e deixar as coisas assim. —O que eu disse é imperdoável, Drew. Ele soltou um suspiro carregado da mesma amargura que ela tinha mostrado segundos antes. —O que eu disse é que foi imperdoável; sei que você se sente insultada, mas não deveria ser assim. Deveria se sentir lisonjeada — abriu os olhos e a olhou — Gostaria de explicar-me. —Não é necessário. —Quero fazê-lo. Seu tom era decidido, de modo que Ardem assentiu. Drew levantou-se, foi até a porta de vidro e abriu-a; o aroma e os sons do oceano Pacífico inundaram o quarto, que de pronto parecia sufocante. 56


—Ellie e eu nos conhecemos em Honolulu, vivemos juntos aqui, nos casamos aqui. Quando venho, um milhão de lugares e detalhes me recordam dela, as coisas que disse, as coisas que fizemos. —Sei o que é isso. Às vezes, após que Joey morrer, as lembranças eram tão vividas que parecia poder ouvir sua voz. O sacudiu a cabeça num gesto impaciente. —Ela esteve em minha mente desde que chegamos; costumávamos levar juntos Matt ao pediatra, amanhã vou levá-lo para que veja seus avôs maternos. Ardem ignorou a pontada de inveja que a atravessou. —Tenho sentido todo o dia como se... Como se estivesse sendo infiel a Ellie. — Por mim? —Sim. Ainda que se arrependesse do que tinha dito, Ardem sentiu como se ele acabasse de esbofeteá-la de novo. — Supõe-se que isso deve fazer que me sinta melhor? —perguntou com tom gélido. Ele se virou para ela, e Ardem voltou a vislumbrar uma sombra de impaciência nos olhos azuis, mas preferiu à angustiosa expressão vazia de antes. —Talvez fosse assim, se não te enfadasses antes de tempo e deixasses que me explicasse antes de chegar a conclusões precipitadas. —Faz com que pareça que sou uma destruidora de casais sem escrúpulos. —Maldita seja, quer escutar-me? —Drew murmurou um palavrão e se jogou para trás com gesto impaciente as mechas que caíam sobre a frente — Tive outras mulheres desde que Ellie morreu, Ardem, antes de conhecer-te. —A cada vez sinto-me melhor. Ele franziu o cenho diante seu tom sarcástico antes de continuar: —Aventuras de uma noite, mulheres sem nome nem rosto que depois me alegrava de não poder recordar — foi até ela e a olhou nos olhos para enfatizar suas palavras — não significavam nada para mim, nada — disse, com um gesto cortante da mão — Meu desejo era uma função fisiológica, nada mais. O que fiz com essas mulheres poderia descrever nos termos mais ordinários, porque se reduziu a isso. Não senti que tinha traído a Ellie, ao menos a nosso amor, porque para mim não existiu nenhuma implicação emocional. Respirou fundo, e seu peito expandiu até quase roçar o dela; sua voz baixou tanto em tom como em volume quando admitiu: —Você é a primeira mulher pela com que me sinto culpa. A indignação de Ardem foi-se desvanecendo, e umedeceu os lábios nervosamente. — Por quê? —Porque contigo sim que há uma implicação emocional; contigo não seria só... — buscou uma palavra menos grosseira, encolheu os ombros e disse — juntar-se. Tomando dos ombros, aproximou-a para si e acrescentou: —Seria fazer amor. Estou-me apaixonando por você, Ardem, e isso é algo surpreendente para mim; de fato, sinto-me consternado, e não sei como reagir. Ela engoliu o nó que obstruía sua garganta. —Ainda ama Ellie — não era uma pergunta, senão uma simples afirmação. —Sempre a amarei, fez parte de minha vida. Mas juro-te que não estou tentando a substituir contigo; vocês são muito diferentes, não tem nada em comum. Por favor, não aches que porque pronunciei seu nome estando contigo tinha sobreposto sua imagem a teu corpo. Não estava pensando nela, estava completamente imerso em ti, só em ti. Drew tomou o rosto dela em suas mãos e acariciou suas bochechas com os 57


polegares. —É só que é a primeira vez desde sua morte que meu coração foi parte integral do ato sexual; pronunciar seu nome foi um reflexo condicionado, porque não tinha sentido essa conexão emocional e espiritual desde a última vez que estive com Ellie. E, por favor, não busque nenhuma implicação freudiana. —Minha reação também foi um reflexo, feriu meu orgulho — disse ela — qualquer mulher teria sentido o mesmo. —Ou qualquer homem. Não estou tirando importância a meu erro, sei muito bem que foi terrível. Só queria que soubesse por que aconteceu. Por favor, diga-me que entende. Ardem não podia pensar quando o tinha tão perto, de modo que foi até a porta de vidro e olhou para fora. Perguntou se Drew estaria dizendo tudo aquilo se soubesse quem era ela; seguiria desejando-a se dissesse que era a mãe de aluguel que tinham contratado Ellie e ele? Como podia se arriscar a feri-lo e o perder se dissesse a verdade? —Entendo-o, Drew. Você e Ellie tiveram um casamento muito especial — disse, e poderia ter acrescentado «ela te amava o suficiente para permitir que outra mulher desse a luz a teu filho». —Sim, é verdade. Sempre fui fiel aos meus votos matrimoniais — riu suavemente, e acrescentou — Isso nem sempre é fácil quando um está competindo; a cada dia surgem oportunidades, tudo o que um deseja está disponível. Foi até ela, e apoiou o ombro no marco da porta. —Ellie viajava comigo quando podia, mas não sempre; às vezes eu precisava fazer o amor, e tinha multidão de mulheres dispostas. Mas sabia que depois me sentiria terrivelmente mau, e por algo mais que a culpa de ter sido infiel; após experimentar o sexo como parte do amor, não o queria de nenhuma outra maneira. Não queria que fosse só um exercício físico. Olhando aos olhos, admitiu: —Não sou um santo, algumas vezes estive muito tentado; sobretudo se tinha jogado bem, se tinha ganhado e queria celebrar. Com a adrenalina percorrendo minhas veias, precisava... Precisava fazer amor. Ela separou o olhar, e contemplou o movimento incessante das ondas. Baixinho, disse: —Posso entender que uma coisa esteja unida à outra, que tua resistência física te dê mais energia, que... Daquela vez o riso de Drew foi sincera, e tomou-a de queixo para fazer que o olhasse. —Sei o que está pensando, senhorita Gentry. —Não estou pensando em... —Acha que, como estava jogando bem no dia que nos conhecemos e você estava no terraço, serena e tranqüila e inaceitavelmente tentadora, automaticamente quis me deitar contigo para queimar um pouco de energia. Ardem odiou-se por ser tão transparente. Consciente de que ela tinha pensado realmente isso, Drew sorriu ainda mais. —Devo admitir que você me atraiu desde o primeiro dia; tenho pensado muitíssimo em fazer o amor contigo, sobretudo após o primeiro encontro. Tua aparência era sofisticada e intocável, mas quase me deixou louco com aquele corpete negro que se ajustava a teus peitos como uma segunda pele. Ela deu um respingo de surpresa, mas ele continuou: —Ardem, aqui... —tocou-se o zíper da calça — tenho estado pronto para fazer o amor contigo desde a primeira vez que te vi. Aqui... — tocou seu rosto — sei que é 58


hora de que volte a amar. Mas aqui... — disse, indicando seu coração — é onde tenho o conflito. —Não é o único — disse ela, passando junto a ele ao voltar a entrar no quarto — não te ocorreu pensar que isto também pode ser diferente para mim? —virou-se bruscamente para ele, e acrescentou — Não viajo de férias com qualquer homem que me pede. Evitou olhá-lo quando admitiu com tom mais acalmado: —O único homem com que me deitei foi meu marido, antes e após que nos casássemos; e foi um casamento desastroso, em todos os sentidos. Atreveu-se a lançar-lhe um rápido olhar, e viu que ele a escutava com atenção, com os olhos fixos nela. —Entre nós não existia a classe de amor que Ellie e tu tivestes a sorte de compartilhar, e quando o casamento terminou, dei todo meu amor a Joey. Quando também o perdi, me senti vazia, carente de emoções, uma casca sem alma. Até que… — mordeu seu lábio inferior com os dentes, consciente de que não devia revelar muito, e disse — Em fim, eu também não estou disposta a jogar com meu coração. Perdi meus pais, meu marido e meu filho, Não sei se estou disposta a me arriscar a amar a ninguém mais. —E se a pessoa em questão é um estúpido tenista acabado com um filho órfão de mãe, a perspectiva não é nada boa. —Você não deve falar assim — disse ela com firmeza — Não está acabado, nem é estúpido. E Matt é... Parou em seco quando viu o sorriso nos lábios de Drew. —Você acaba de se trair, Ardem. Você se importa mais do que quer admitir. Ela baixou o olhar, mortificada. Quando voltou à levantar, tinha os olhos cheios de lágrimas. —Tenho medo, Drew. Ele foi até ela e a envolveu em seus braços; sua mão, grande e forte, balançou cabeça dela e a apertou contra seu ombro. — De que? «Tenho medo de que, se descobrir quem sou, não acreditará no quanto eu te amo; eu queria um filho, mas agora acho que quero você ainda mais, e isso não está bem, verdade? Não o sei. Não o sei... ». —Tenho medo de voltar a amar. Ele se separou o justo para ver seu rosto, levantou sua mão entre seus corpos e a colocou sobre o coração dela. —Tens tanto amor para dar... Posso sentí-lo aqui, tentando sair à superfície. Não tenhas medo do libertar. Baixou a cabeça, acariciando a frente de Ardem com os lábios enquanto sua mão sustentava o peito feminino e acariciava-o com um movimento circular. —Deus, Ardem, seria tão fácil nos amar, seria tão perfeito... Sim, seria muito fácil. Seu corpo levitava para ele com a mesma naturalidade com a que um rio fluía para uma catarata. E, de forma igual de perigosa, Ardem desejava lançar pelo alcantilado da consciência e os princípios. Mas, seria tudo tão perfeito? Seguiria ele pensando o mesmo se soubesse que seu encontro não foi coisa do destino, que ela tinha planejado para conhecer a seu filho? Afogando as chamas de desejo que já estavam voltando a cobrar vida, Ardem pôs os dedos sobre os lábios masculinos quando estes se aproximaram a sua boca. —Não o faça, Drew, agora não. Se alguma vez fizermos amor, quero que tudo seja perfeito; com meu marido não foi assim. 59


Antes que pudesse acrescentar algo mais, sua boca foi silenciada. Era um beijo que prometia que o amar dele seria muito diferente a sua experiência anterior, e muito melhor inclusive suas fantasias mais selvagens. Quando por fim Drew separou os lábios dos seus, Ardem continuou com voz trêmula: —Até esse momento, temos que livrar nossa própria batalha; não quero que me culpe por qualquer sentimento de culpa que tenha a respeito de Ellie. —Você não é culpada de nada, e sim eu — sussurrou ele contra seu cabelo. Ardem separou sua boca da sedutora perseguição dos lábios masculinos. —Sejamos sendo bons amigos por agora. Por favor. Ele suspirou, decepcionado, mas ela sabia que ia aceitar. Com um sorriso irônico, Drew disse: —Está me deixando muito duro — roçou a orelha dela com o nariz, e acrescentou com voz picante — Se você não percebeu, a frase tem um duplo sentido. —Sim que me dei conta — comentou Ardem com tom seco, e o separou com um suave empurrão — Foi de muito mau gosto. —Já te disse que não sou um santo. —Então, será melhor que vá embora enquanto minha virtude segue intacta. A que horas treinas manhã? Lembraram de se encontrar para ir tomar um café antes de ir às pistas; ao chegar à porta, ele agarrou sua cintura com ambas as mãos e a apertou com um gesto de posse sem concessões, enquanto seus olhos azuis percorriam lentamente seus peitos. Ela fixou a vista em seu pescoço. —Ardem, para valer acha que vamos ser só amigos? Seus olhos traçaram a sensual forma da boca masculina, e admitiu: —Não. —Eu também não — comentou ele, com voz rouca de desejo.

À manhã seguinte, a tensão tinha-se desvanecido e a cordialidade reinou entre eles; Drew saudou-a alegremente com um ligeiro beijo nos lábios, e quando chegaram às pistas à hora prevista, apresentou seu oponente: Bart Samson era um profissional aposentado e quinze anos mais velho que Drew, mas ainda jogava muito bem. Ardem surpreendeu-se de que tivessem elegido o campo municipal, mas não fez nenhum comentário. Sentou-se sob o sol nas grades, que estavam um pouco desorganizadas, e seguiu a partida com interesse. Tinha levado uma caneta e um bloco por tinha vontade de trabalhar em algum artigo, mas tomou muito poucas notas, já que o maravilhoso jogo de Drew concentrou toda sua atenção. —Obrigado pelo treinamento, Bart — disse Drew ao homem quando se dirigiam ao estacionamento, ao acabar a partida. O outro jogador passou uma toalha pela cara e pela parte posterior do pescoço antes de dizer: —Graças a ti. Deste-me uma surra, mas foi fantástico — lançou um rápido olhar a Ardem, e acrescentou — Por que não ficamos em Waialee manhã? Um lugar assim — apontou as pistas, que estavam longe de ser perfeitas, não é adequado para alguém de teu calibre. Todos no clube estão desejando te ver, Drew. —Obrigado, Bart, mas não. Ainda não — tomou a mão de Ardem, e disse com tom gélido — Se não quer jogar comigo aqui, eu entenderei. —Não mereço isso — comentou o homem com acalma, e sem rancor — vemos-nos aqui amanhã às oito —saudou a Ardem com um gesto da cabeça antes de entrar 60


em sua Mercedes e ligar o motor. Já quase tinham chegado ao hotel quando Ardem disse: —Você e Ellie eram membros do clube de campo de Waialee, verdade? —Sim, por quê? —perguntou ele, afastando por um segundo o olhar do trânsito, —Por nada, simples curiosidade. Quando se detiveram no seguinte semáforo, Drew se inclinou para ela. —O que não queira jogar ali não tem nada que ver com Ellie ou contigo, ou com o fato de que nossos velhos amigos nos vejam juntos. Estou seguro de que todos se alegrariam de te conhecer. Não quero ir porque a última vez montei um autêntico “número”, e ainda não estou pronto para enfrentar a eles. De acordo? —Não. Deverias ir e jogar com a cabeça bem erguida, falar com teus velhos amigos. Não tens nada do que te envergonhar, Drew. Ele a observou por uns segundos, admirando reticente a sabedoria de suas palavras, agradecido por seu voto de confiança. —Dá-me um beijo. —Não. — Porque estou suado e cheiro mau? —Não, porque a luz está em verde desde faz uns trinta segundos, e os carros de detrás estão buzinando. Depois de murmurar um palavrão, Drew soltou o travão de mão e seguiu conduzindo, franzindo o cenho ao ouvir as suaves risadas dela. Assim que abriram a porta da suíte souberam que ruim estava acontecendo. Matt foi correndo para seu pai, com os braços estendidos para ele e lágrimas correndo pelas bochechas. Drew agachou-se e tomou-o em seus braços. — Que demônios...? — Senhora Laani! —gritou Ardem, atravessando correndo a quarto ao vê-la deitada no sofá. A mulher tinha um braço sobre os olhos e outro sobre o estômago, e gemia de dor. Ardem ajoelhou-se junto a ela, e perguntou com macieza: —Senhora Laani. Está doente? —Encontro-me muito mau — gemeu— o menino tem fome e está molhado, mas... Drew entrou em seu campo de visão, e a mulher exclamou: —Desculpe-me, senhor McCasslin, mas não posso me pôr de pé. Meu estômago — voltou a fechar os olhos. Matt tinha deixado de chorar e estava soluçando contra o ombro de Drew. — Chamamos ao médico? Acha que poderia ser apendicite? —Não, tiraram meu apêndice faz anos; é... Em casa de minha irmã, todos estavam doentes com um vírus, suponho que peguei algo. Não quero que Matt enferme também. Ardem comoveu-se pela preocupação da mulher pelo menino, e disse-lhe: —não vai passar nada A Matt, mas agora temos que fazer que você se cure; que precisa? —É uma wahine muito amável — disse ela, apertando a mão de Ardem — obrigado, mas a única coisa que quero é sair de aqui para que nenhum de vocês se contagie. Senhor McCasslin, chamei minha irmã, para perguntar se podia ficar com ela até que me recupere; meu cunhado já está vindo me buscar. Não gosto de falhar assim, mas... —Não se preocupe — voltou a intervir Ardem — eu posso me ocupar de Matt. Quando virá seu cunhado? —Seguramente já está aqui embaixo. —Drew, passa-me a Matt, lhe darei o café da manhã enquanto ajuda à senhora 61


Laani a descer ao vestíbulo. É esta sua mala? Tem, leva-lha tu. —Sim, senhora — disse ele, acatando suas ordens: apesar de sua preocupação por sua eficiente governanta, que sempre tinha tido uma saúde de ferro, seus olhos azuis brilhavam divertidos por como Ardem tinha assumido o controle da situação. Quando voltou do vestíbulo, com olhos ainda brilhantes, Ardem estava ajudando a Matt a se comer seus cereais; a senhora Laani tinha enchido a pequena geladeira da suíte com sucos, leite, fruta e petiscos para que o menino não tivesse que comer sempre no restaurante. A direção do hotel tinha-lhes facilitado pratos e cobertos. — Como está? —perguntou Ardem. —Bastante mau, mas aliviada por afastar-se de Matt; o menino era sua principal preocupação. Disse que, se sobreviver às próximas vinte e quatro horas, acha que tudo irá bem. —Sim, seguramente só é um vírus inofensivo. —E, enquanto... —Eu me ocuparei de Matt. —Não posso deixar que o faça. — Por que, não confia em mim? Ela levou as mãos à cintura com exasperação. —Claro que sim, mas não te pedi que viesse pára que ser babá. Ardem, que sentia uma feliz suavidade com seu filho em seu colo e Drew de pé ali, inaceitavelmente atraente na suada roupa esportiva, inclinou a cabeça e perguntou com fantasia: — E para que me pediu que viesse? —Para conquistar-te e convencer-te de que te deitasses comigo. —Bom, poderia suas coxas antes ao menos? —riu ela. Baixou á vista para olhar-se, sorriu de orelha a orelha e disse: —Sim, essa é uma boa idéia. Quando Drew saiu da ducha, ela já tinha sunga e mudado a Matt. —Estarei pronta em só uns minutos; vou a meu quarto, voltarei em seguida. Ela tinha dito que precisava algumas coisas para o menino, e tinham decidido sair a comprar. —Queria falar-te disso. —De que? —Ardem parou quando estava a ponto de sair. —De teu quarto. Não seria melhor que ficasse aqui? Ela o olhou com expressão receosa. — Melhor para quem? O sorriso de Drew a banhou com a suavidade da luz do sol. —Para ti. E para Matt, claro. —Ah, sim, claro. —Pensa nisso — disse, encolhendo os ombros com fingida indiferença. —Já o fiz, e a resposta é não. Ardem reuniu-se com eles no lugar lembrado do vestíbulo dez minutos depois, com um aspecto inaceitavelmente bom apesar de ter feito com tanta rapidez. —Gosto dos pequenos corpetes ajustados que coloca — disse Drew no seu ouvido enquanto rodeava os ombros com o braço. Matt ia caminhando diante deles, orgulhoso de sua independência. —Isto é um vestido — sorriu ela. —Sim, mas parece-se ao corpete que levavas naquele dia na comida; encantoume, porque... 62


—Porque está muito de moda. —Porque notam-se teus mamilos quando se contraem. Como agora. —Não digas essas coisas — Ardem tentou parecer indignada, mas não o conseguiu. —Faz que me pergunte a cor que têm, e como será sentir contra minha língua. Ela soltou um som queixoso. —Por favor, Drew, deixa de falar assim. —Muito bem. O farei, mas só porque dois marinheiros estão te olhando de uma forma que faz que deseje os esmagar. O último que quero é que vejam esse olhar lânguido nos teus olhos; é o convite mais óbvio que tenho visto em minha vida, e um homem teria que estar morto para não o perceber. Quando passaram junto aos dois pobres homens, a única coisa que faltou foi lhes rosnar. —Também tens umas pernas fantásticas — voltou a sussurrar em seu ouvido. Ardem começou a rir. Drew mostrou sua irritação quando descobriu que a compra incluía um pacote de fraldas. —Ele tem muito poucas — explicou ela. —Quero ir tirando-as, mas a senhora Laani diz que ainda não está pronto para aprender a usar o vaso. —E tem razão: tentar ensinar muito cedo pode chegar a ser traumático para o menino. —Já o sei — resmungou ele, e colocou as mãos nos bolsos das calças curtas azul marinho, que cingido contra os firmes músculos de suas coxas —, Mas é que parecerá um menino de forma oficial quando possamos ir ao banheiro juntos. Ela alçou os olhos para o céu. —O ego masculino. Adorável. Mudei as fraldas várias vezes, e vi-o duas vezes no banheiro. Não há dúvida de que é um menino. — Achas que tem herdado algo de mim? — perguntou Drew, lúdico, com as sobrancelhas arqueadas. Ardem sentiu que ardiam suas bochechas, e tentou que a ouvisse acima de suas gargalhadas. —Talvez aprenda antes leva-lo de vez em quando contigo ao banheiro, talvez assim começa a entender o conceito. —Está mudando de tema. —Sim. Ele lhe deu um beijo sonoro, mas breve. —Farei isso, parece uma boa idéia. Deveria ter pensado antes nisso. Quando regressaram ao hotel, era hora de arranjar para a comida com os pais de Ellie. Ardem sentiu-se desconcertada ao ver que tinham mudado seus pertences ao quarto que antes ocupava a senhora Laani. —Recorda-me que felicite ao gerente pela eficiência do serviço — disse Drew. Ardem voltou-se para ele e disse: —Drew, não vou passar a noite aqui contigo. —Comigo não, com Matt. Está em um lugar estranho, se sentirá melhor houver alguém no quarto dormindo com ele. —Então, dorme tu com ele. Drew posou um dedo sobre os lábios dela. —És muito pronta — os olhos azuis observaram como seu dedo desenhava a boca feminina, e ele insistiu — Por favor. Não passará nada que tu não queiras, te prometo. 63


Finalmente, Ardem cedeu; de fato, passar a noite com seu filho era como um presente para ela. —Podes vir conosco — repetiu Drew por terceira vez quando Matt e ele estiveram prontos para se ir. Ela negou com a cabeça enquanto penteava os sedosos cachos do menino. —Não, Drew, não posso fazê-lo. —Não me importaria; de fato, gostaria que os conhecesse. Ardem soube pela inflexão de sua voz que para ele era importante que acreditasse. — Agradeço, mas não quero me apresentar sem mais e estragar a visita. Sei que a esperam com impaciência. —Sim. Matt é seu único neto. «Então, realmente não têm nenhum, verdade?», pensou ela para si. — Era Ellie filha única? —Sim. Mudou-se ao continente para esperar a que... Nascesse Matt. Eles queriam que o... eh... Que o tivesse aqui, mas ela quis dar a luz em Los Angeles. Em fim, quando o trouxemos a casa, se mostraram entusiasmados. Esta noite se portará como um autêntico demônio, o mimam muitíssimo. De modo que nem sequer os pais de Ellie sabiam que a gravidez tinha sido uma montagem; o saberia alguém mais, fora de Drew e ela? E de Ron, por suposto. — Que vais fazer enquanto estamos fora? —perguntou-lhe ele. —Trabalhar em um artigo: perguntei-lhe ao concierge, e têm uma máquina de escrever que me vão deixar — Drew a tinha convencido de que não se levasse seu portátil—. Ou pode que vá à piscina para se bronzear um pouco. —Põe-te algo recatado, não quero que um desconhecido com intenções desonestas ache que estás disponível e decida que quer te conhecer. Ela se levou os punhos às cintura. —Assim é como te conheci. —Isso é o que me dá medo.

A sensação de sentir o tórrido calor banhando seu corpo era maravilhosa; a brisa oceânica era fresca, e sua pele, coberta por uma fina camada de loção bronzeadora, estava cálida sob o sol da tarde. Ignorando os sons dos risos dos turistas, dos meninos jogando e dos escandalosos adolescentes, Ardem só ouvia o murmúrio das ondas. Seu ritmo era tão hipnótico, que seu corpo ondulava quase com aquela cadencia. Era a ondulação que provocava aquela agitação na parte baixa de seu corpo, ou era a lembrança dos beijos de Drew, de suas mãos acariciantes, de sua língua em sua boca, saboreando sua pele? Ele tinha mostrado um mundo de sensualidade desconhecida para ela; até que o conheceu, ela achava aquele tipo de amor só existisse na imaginação de poetas e sonhadores, dos românticos que desejavam que a vida fora melhor do que era. Mas aquele mundo de vista, tato, sons, aromas e desejo apaixonado existia para valer, se um tinha a sorte de encontrar o casal adequado com quem o compartilhar. Não era algo que pudesse se experimentar na solidão. Ardem tinha estado sozinha durante grande parte de sua vida, mas nesse momento seu mundo estava tão cheio, que dava medo. Estava com o filho que ainda vivia, seu filho, e o queria tanto como tinha querido a Joey. Aproveitava qualquer desculpa para tocá-lo, para apertá-lo contra si, para cheirar sua adorável aroma, para maravilhar-se por sua capacidade de variar e por sua 64


destreza física. E amava, com uma paixão inclusive maior, ao homem que era seu pai. Ardem sentia uma mistura de alegria e tristeza; alegria por tê-los encontrado, por amá-los, e tristeza porque não podiam ser seus. Tinha perdido todas as pessoas às que tinha querido, e também os perderia. Chegaria no dia em que teria que renunciar a ambos, mas até então, ia desfrutar de sua presença. — Ah! — com aquela exclamação, levantou-se inesperadamente na toalha e topou com Matt, que caiu sobre seu traseiro na areia. —Fio — disse o menino, rindo, e pôs outro cubo de gelo sobre o estômago de Ardem. Ela deu outro respingo e encolheu o estômago enquanto tirava os cubos de gelo. —Sim, está fio, mas ainda que é muito cedo, não acho que podia planejar só você esta piada. Voltou-se e viu Drew depois dela, sorrindo de orelha a orelha. O vê-lo ali com sua sunga azul teve um efeito similar ao dos cubos: deixou-a sem fôlego. A brisa agitou o cabelo loiro dele, fazendo que parecesse selvagem, rebelde e terrivelmente masculino. —Culpado de todos os cargos — disse ele. —Isso pensava. —Mas Matt estava encantado com a idéia. —Tal pai, tal filho. Ele a rodeou, e se sentou em um extremo da toalha; Matt estava na orla, calcando tentativamente as ondas. —Acho que disse para você colocar algo recatado; se esta é tua idéia do que isso significa, precisa comprar um dicionário. Para levar na brincadeira, Ardem tinha elegido seu biquíni mais provocativo. Era um conjunto de alças de algodão negro, forrado de uma material cor carne; a parte superior estava formada por dois triângulos unidos por fios trançados, e a inferior era diminuta e se estreitava ambos os lados de sua cintura até formar uma só fibra. —Não vou permitir que me diga o que tenho que fazer; além do mais, ninguém me molestou... Até agora — acrescentou deliberadamente. — Estou te molestando? O tom sedutor da voz de Drew e a forma em que seus olhos acariciaram todas as áreas erógenas de seu corpo fizeram que os sentidos de Ardem florescer. Antes que ela pudesse encontrar uma resposta adequada, alguém o chamou da parede baixa de tijolos que separava a piscina do hotel da praia. — Drew! Drew, é você? Ele percorreu o homem com a olhar para ver quem o chamava, e Ardem viu uma mistura de irritação e cautela em sua expressão quando identificou ao homem. Com pouco entusiasmo, levantou a mão e saudou; voltou-se para ela, e disse: —Já volto. Você se importa em cuidar de Matt? —Claro que não — comentou ela, mais preocupada pela sombra que escurecia o rosto dele que pelo ativo menino. Drew amaldiçoou mentalmente enquanto avançava por entre os banhistas para os pedestres que subiam ao terraço que rodeava a piscina. De toda a gente que podia o ter visto... a última pessoa com a que queria se encontrar. Jerry Arnold, o diretor do programa de tênis do clube de campo de Waialee. —Olá, Jerry — disse, e estendeu a mão para o homem. —Drew... vá, alegro-me de ver-te, homem — apertou sua mão com entusiasmo—; teu aspecto tem melhorado muito desde a última vez que te vi. 65


Drew sorriu com ironia e comentou: —Bom, isso não isto é grande coisa, verdade? A última vez que me viste, tinha me agarrado pelo pescoço e me jogava à força dos vestiários, dizendo que não voltasse. Não estava tão bêbado para não lembrar. Jerry Arnold era muito menor que Drew, e bem mais corpulento; tinha jogado no circuito profissional, mas soube antes que ninguém insinuasse que não era o suficientemente bom para jogar a um nível competitivo. Tinha renunciado a seus sonhos com esportista, e se conformado com o mais parecido: trabalhar com os tenistas. —Desculpe-me, Drew, você não me deixou outra opção. —Não te culpo, Jerry; deveria ter rompido minha carteira de sócio e ter-me dado uma boa surra. —Não podia — disse o homem, sorrindo, e esfregou a mandíbula — Você tem um gancho de direita muito perigoso. Drew riu entre dentes: —Comportei-me de forma violenta e abusiva. Desculpe-me. —E eu também; detesto ver um talento como o teu ser desperdiçado — o olhou com atenção, e comentou — Tenho ouvido algumas coisas muito interessantes. — Sim? —Estás recuperando teu nível de jogo. —Sim. —Prova-o. Drew continuava observando a Ardem e a Matt brincando na areia; ela tinha umas coxas formosas, e a curva de seu traseiro era adorável. Fez falta um ousado desafio como o de Jerry para que seus olhos e sua atenção se afastassem deles. —O que você disse? —Que prove que está recuperando teu nível de jogo. — Como? Voltando ao clube? Bart Samson já me pediu esta manhã, e me neguei. —Voltando ao clube... e jogando uma partida de exibição. Amanhã. Drew sentiu que sua boca secava, e num gesto involuntário fechou as mãos apertando o punho igual ao nó que formava no estômago. —Não posso — sussurrou, aterrorizado. —É claro que pode. Você precisa, McEnroe ia vir a jogar uma partida beneficente contra a distrofia muscular, a cinquenta dólares por cabeça, mas machucou o polegar em... —Eu sei, li no jornal. —O caso é que seu treinador diz que nada de jogo, nem sequer uma exibição: preciso de você, amigo, e você precisa desta partida. —Você é um corno. —Um corno que não. Tens que começar alguma vez, Drew; demonstre á todos os que não tinham fé em ti que pode voltar a ser o número um. —Neste ano não, talvez o próximo — detestava como retorciam suas entranhas, como suas mãos escorregavam de suor, o amargo sabor do medo em sua boca. —Como te disse, você tem que começar alguma vez; falei com Bart, e disse-me que estavas aqui. Também me confessou que você deu uma surra nele esta manhã, que foi incapaz de devolver a metade de teus serviços. — Que é, uma animadora? Está me pedindo que jogue porque precisa de alguém que o ajude a sair do aperto, ou porque realmente se interessa pela minha carreira e meu possível regresso? —Pelas duas coisas — olhou o rosto tenso de Drew sem piscar nem ceder nem um pouco; estava sendo brutalmente honesto com ele, e Drew deveria ao menos o 66


valorizar. Drew foi o primeiro em afastar a olhar. —Não estou seguro. Jerry. —Olha, se eu pensasse que você faria ridículo na quadra, eu não te pediria, pelo bem de ambos; você recuperou a sensatez, vejo que está com uma puta nova, de modo que... —Não é uma «puta» — espeitou Drew entre dentes. As sobrancelhas de Jerry expressaram a grande surpresa por ele sair a sua defesa, e olhou à mulher na praia. Estava brincando com o filho de McCasslin. Os olhos de Jerry voltaram a posar em Drew, que seguia indignado. —Desculpe-me, não pretendia te ofender — seu rosto refletiu uma ansiedade genuína—. Drew, tenha cuidado com que você sai, e me alegro que alguém ou algo te faça voltar ao lugar que te corresponde: entre melhore-los. Drew permitiu que os músculos de seu corpo relaxassem; assombrava-o sua atitude possessiva e protetora para Ardem, por um momento tinha feito que deixasse de lado toda sensatez. Esteve a ponto de matar Jerry por faltar ao respeito. Nesse momento, deu-se conta da profundidade de seus sentimentos para ela, e se sentiu eufórico e cheio de confiança. — Quem joga? —Ted Gonzáles. Drew soltou um palavrão muito explícito. —Obrigado, Jerry — suspirou pesadamente, sentindo como se extinguia a faísca de otimismo. —Sim, sei-o, é teu principal rival. —E mais onze anos jovem que eu, com mais onze anos de resistência. —E você tem mais onze anos de experiência. É muito emocional, Drew, completamente apegado a si mesmo. Planeja tua estratégia, joga com suas emoções — Jerry dirigiu um agudo olhar, e perguntou — Está assustado? Drew elegeu uma expressão bastante grosseira para deixar claro o assustado que estava, e Jerry se jogou a rir. —Bem isso fará que jogue melhor. Diga-me que conto contigo, Drew; tu precisas desta partida bem mais que eu, se não acreditasse nisso, não teria dito nada. Juro que é verdade. —Obrigado, Jerry. Olharam-se por uns segundos, com honestidade e companheirismo, e então Drew buscou a esbelta forma de Ardem com os olhos. Justo nesse momento, ela se voltou para ele e sorriu. Matt caiu na areia, e ela o ajudou a se levantar. — Posso responder esta noite? —Claro, ligarei para você as oito — apoiou no ombro de Drew e deu um abraço — espero que diga que sim — ele já havia se afastado quando parou e acrescentou — Ah, e verdade, a dama é muito linda. Drew voltou à toalha e deixou-se cair nela. Arrumou o cabelo de Matt, e abraçouo com força antes de deixar que o menino voltasse à orla. Só então olhou a Ardem. Deus, era formosa, só com um olhar inundava uma segurança que substituía ao medo; se a olhasse tempo suficiente, desapareceria de todo? — Era um amigo teu? —perguntou ela com macieza. —Não estou seguro. Ela não insistiu, mas Drew pôde ver a pergunta em seus olhos verdes. —Quer que jogue uma partida beneficente em Waialee, para arrecadar fundos para distrofia muscular; amanhã, em frente a Teddy Gonzales. — E você aceitou? 67


— Acha que deveria fazê-lo? —Por suposto.

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Capítulo 7 Ele queria que o convencesse, e Ardem o sabia; quando voltaram da praia, estava muito nervoso, incapaz de ficar quieto; enquanto ela banhava a Matt para tirar a areia, Drew andava de um lado a outro do quarto. —Não estou pronto. —Talvez não esteja. Faria de advogada do diabo; se tentasse animá-lo, ele continuaria resistindo com obstinação, e refutaria todos os comentários positivos que ela fizesse. E se perdesse a partida, poderia culpá-la por tê-lo convencido que jogasse. —Por outro lado, não saberá se está pronto se não começar a competir de novo, verdade? —Verdade. —Mas é amanhã, por que não podia ser na semana que vem? —Sim, é uma lástima que não seja assim, teria sete dias inteiros para se preocupar. Não estava a escutando realmente, ou teria notado seu tom cáustico; enquanto caminhava de cá para lá com o cenho franzido, Drew ia dando pequenos golpes nos dentes com a unha do polegar. —Mas se tivesse em uma semana para pensar em isso, provavelmente acabaria dando para trás. —Provavelmente — disse ela, escondendo um sorriso. —Talvez seja melhor que tenha que tomar uma decisão rápida. —Sim, talvez. Drew seguiu-a quando ela levou Matt ao quarto para o vestir. —Terei que chamar a Ham; ficou insistindo durante meses que eu começasse a jogar, mesmo sendo partidas não oficiais, mas talvez não ache que esta seja uma boa idéia. —Não, talvez não ele não ache isso. —Mas teria que comentar, de todas as formas — disse ele enquanto ia até o telefone — o chamarei agora mesmo. Seu treinador mostrou-se encantado, e disse que tentaria tomar um avião de Los Angeles para chegar a tempo de ver a partida. —Mas seria contra Gonzales… Drew pedia um suculento filé, mas não havia comido quase nada; Ardem pedia por Matt e por ela quando ficou claro que ele estava muito preocupado para fazêlo. —A última vez que joguei contra ele, ele riu de mim. O bastardo virou-se para o público nas grades, abriu os braços de par em par e começou a rir. Se Drew queria compaixão, teria que buscar em outro lugar; a última coisa que ele precisava naquele momento era que o protegesse. —É uma lástima que não seja alguém menos intimidante que Gonzales; se fosse assim, os paparazzi esportivos diriam que estava fazendo o que devia, começando pouco a pouco, que não tentava abraçar mais do que podia. —Diriam que sou um covarde — disse ele, e depois de ensartar um pedaço de carne com o garfo, o mexeu em frente ao rosto de Ardem enquanto acrescentava — Não. Talvez seja bom que seja Gonzales; ao menos, não poderão dizer que tenho medo de jogar. Seus olhos acenderam com um brilho vingativo, mas quando percebeu do sorriso satisfeito de Ardem, sua expressão se suavizou e deixou o ameaçador garfo no 69


prato. — A que horas vai ligar seu amigo para saber sua resposta? — perguntou ela. —Às oito em ponto. —Então, será melhor que voltemos à suíte — disse, enquanto limpava o purê de batatas da boca de Matt. Haviam jantado cedo em diferente horário do menino, e assim que voltaram a suas habitações, o cansaço do agitado dia se fez sentir e Matt esteve mais que pronto para se ir a dormir. A mente de Drew seguiu imersa em seu dilema enquanto ajudava a Ardem a deitar seu filho. Quando regressaram a pequena sala, o telefone estava soando, e Drew ficou gelado; ficou olhando o aparelho por uns segundos, antes de atravessar a quarto com passo decidido e o atender. — Sim? — Disse bruscamente — ah olá, senhora Laani. Ardem viu como os ombros dele se afundavam com alívio, e sentiu que os seus se relaxavam. —Alegra-me ouví-lo; estamos com saudades suas, enquanto Ardem dá-se muito bem em controlar a Matt — a olhou acima do ombro e piscou o olho — bom, se está segura de que está melhor, mas não faz falta que se apresse por nós... não, não há nenhum problema. De fato, talvez jogue uma partida amanhã, de modo que me iria bem que alguém se ocupasse de Matt... de acordo... sim, descanse esta noite, e nos veremos manhã. Pendurou o telefone, e explicou: —Diz que pode voltar amanhã mesmo, de modo que virá cedo para levar Matt de compras; sua irmã os levará em seu carro. Ardem sentiu uma pontada de decepção, já que teria encantado ir ás compras com o menino; seria uma grande experiência comprar roupa para seu filho, mas não ia poder o fazer. Além do mais, se Drew jogasse a partida, e estava segura de que o faria, ela queria estar presente. —Vou deitar-me já, Drew. Ele deixou de passear e a olhou com assombro. — Agora? Nem sequer são as... —Sei-o, mas precisa estar só para pensar. Ele cruzou o quarto e rodeou a cintura com os braços. —Tenho me comportado como um lunático desde que falei com Jerry; Despulpeme, não pretendia te ignorar. Não está chateada, verdade? — Claro que não! Tem um pouco mais de confiança em mim, Drew; está tentando tomar uma decisão muito importante, é normal que esteja distraído. —Mas não quero me distrair de você — sussurrou ele, enquanto acariciava o pescoço dela com o nariz — Me virão bem teus conselhos e teu apoio, fica comigo. —Não. Ninguém pode te ajudar a tomar esta decisão. Ela sabia muito bem o que era ter que tomar decisões de vital importância; a noite que havia passado acordada até o amanhecer, tentando decidir se tomava parte ou não nos planos de Ron, havia sido a mais longa e terrível de sua vida. Ela havia suportado o peso daquela responsabilidade, e nesse momento, ninguém podia tomar a decisão por Drew. Além do mais, negava-se a ser sua muleta; havia que o fazer sozinho, ou não conseguiria voltar a se levantar. — Que deveria fazer Ardem? — perguntou ele, com o rosto enterrado em seu cabelo. Ela o separou e perguntou: —Quer voltar a jogar tênis de forma profissional? —Sim, até que eu possa me retirar estando entre os melhores, e não porque 70


esteja acabado; as carreiras no circuito profissional costumam ser curtas, sempre surge alguém mais jovem e melhor, e o sei. Mas queria retirar-me a pleno ápice, não fazendo o ridículo. —Então, acho que sabe o que deves fazer. —Devo jogar — sua boca curvou-se em um grande sorriso—, vou jogar. O telefone voltou a soar, e essa vez não havia nenhuma dúvida de quem chamava. —Boas noites — disse Ardem antes de entrar em seu quarto e fechar a porta depois dela. Não pôde entender o que Drew dizia ao telefone, mas notou a segurança em sua voz; sorrindo, tomou o bloco e a caneta e começou a tomar notas para o artigo que ia escrever para a seção culinária de Los Angeles Times, sobre receitas polinésias simples. Quando Ardem acordou, o berço de Matt estava vazio; levantou-se e piscou várias vezes, tentando orientar-se. Separou os lençois, foi à janela e jogou um olhar; ainda não havia amanhecido, e o oceano em calma era um reflexo rosado e violáceo do céu. A porta do quarto estava aberta, e atravessou na ponta dos pés a pequena sala até o outro dormitório, que havia a porta entreaberta: a luz do amanhecer enchia de rosa a quarto, que a diferença da que havia compartilhado com Matt, não tinha duas camas individuais, senão uma de casal. Matt estava encostado contra seu pai, e ambos dormiam profundamente. Impulsionada por algo mais poderoso que o sentido comum ou a prudência, Ardem entrou no quarto e se aproximou à cama; Matt estava no lado oposto, e seu traseiro, que parecia fofinho e desproporcionado pela fralda, descansava contra o peito de seu pai. O menino roncava suavemente através dos lábios entreabertos. Drew rodeava com o braço seu filho; a mão que descansava em frente ao peito de Matt era graciosa e elegante, de longos dedos, e a tênue luz matinal enfatizava o cabelo dourado que cobria o braço, que inclusive em repouso havia uma aparência poderosa. Os olhos de Ardem se encheram de lágrimas ante a onda de emoção que sentiu ao percorrer com a olhar aquele braço, até os largos ombros dele; estava de costas a ela, e admirou a beleza da parte posterior de seu corpo. Ansiava percorrer aquela superfície bronzeada e musculosa com os dedos, com os... lábios? A olhar de Ardem desceu por suas costas até sua cintura; através do lençol que o cobria, podia apreciar suavemente a silhueta de seus glúteos. Seu bronzeado embaixo da cintura era só um pouco mais claro que no resto de seu corpo, e se estremeceu pelas sensações que percorreram seu corpo ao o imaginar tomando o sol nu. Seu cabelo era uma bagunça loira sobre o travesseiro; Ardem rodeou a cama para observar seu rosto, e admirou aquele nariz perfeito, a boca sensual e o queixo que transmitia uma masculina autoridade. Havia umas pestanas longas e tépidas, mais claras na ponta que na base, que era quase negra. Era um rosto que atraía às mulheres, conhecessem sua reputação ou não. A cada vez que saíam, Ardem sentia os olhares de inveja; olhos cobiçosos observavam ao homem, à mulher a seu lado e ao menino entre eles, e ela sabia que pensavam que eram uma família. O eram do ponto de vista biológico, mas nada mais... Ao recordar que era uma intrusa, Ardem se virou silenciosamente, e havia caminhado dois passos antes que um puxão na camisola a detivesse. Girou-se alarmada, e viu que Drew estava acordo; havia dado a volta e estava de cara à 71


beira da cama, agarrando com uma mão o dobra da camisola. Os olhos azuis pareciam sonolentos, preguiçosos, igual que seus movimentos quando lentamente foi envolvendo o tecido em seu punho, reduzindo a distância que os separava até que os joelhos de Ardem deram contra o colchão. Enquanto Drew agarrava o tecido com força eram seus olhos os que a havia prendido: seu olhar arrebatou sua capacidade de mover-se enquanto com sua mão livre ele afastava o lençol. A respiração de Ardem ficou entrecortada; as batidas de seu coração, fortes e irregulares, retumbavam em seus ouvidos; sentiu as extremidades aprisionadas em uma lassidão plumosa mais poderosa que umas simples cadeias, e no entanto se sentia cheia de energia. Drew sentou-se na borda da cama com um ágil movimento, sem se importar com sua nudez; seus olhos seguiam fixos nos de Ardem, e nenhum dos dois parecia capaz dos afastar. Colocou-a entre seus joelhos abertos, pressionando com suas duras e cálidas coxas a parte exterior dos de Ardem. Ela cedeu a um impulso que havia sentido desde que o conheceu, e levantando uma mão, deixou que seus dedos se enredarem em seu cabelo. Ele a deixou fazer durante uns segundos, mas finalmente tomou sua mão e a levou até seus lábios. Ao princípio, o beijo foi tentativo, um simples roce contra sua palma; mas quando sua língua fez cócegas na sensibilizada pele, Ardem estremeceu. Sua mão pareceu arder com as caricias daquela boca, e o fogo desencadeou em seu interior uma explosão de novas sensações. Drew mordeu e beijou a cada um de seus dedos, seus punhos, e uma onda de calor percorreu os braços de Ardem até chegar a seus peitos, que doloridos pelo desejo, enchiam e abriam o corpete de encaixe da camisola. Depois de contemplá-los com admiração, Drew cobriu-os com suas mãos, e quando a pele de ambos se tocou através do delicado tecido, um fogo descontrolado arrasou o corpo de Ardem. Ele a acariciou com ternura até que os mamilos endureceram, se inclinou para diante e os roçou com os lábios; então posou a cabeça sobre aqueles peitos exuberantes, encostando contra eles, inalando seu cálido e sonolento aroma. Abaixou a cabeça ainda mais, e a apertou contra o estômago dela. Drew colocou uma mão nas costas, e foi tomando um punhado de tecido a cada vez maior até que a camisola se converteu em uma reveladora funda de nylon que se ajustava a seu corpo e a fazia se sentir mais exposta que se estivesse nua. Os olhos azuis percorreram-na, flamejantes, e ao descobrir a fissura do umbigo feminino o beijou, delineando apaixonadamente a pequena cratera com a língua. Ardem viu como a mancha úmida na camisola ia crescendo enquanto ele seguia beijando-a ali, e sentiu que seus joelhos fraquejavam. Suas mãos, que haviam se apoiado nos ombros dele, se enredaram em seu cabelo enquanto a cabeça masculina seguia baixando por seu corpo. Ardem conteve o fôlego para impedir que um gemido de prazer escapasse de seus lábios quando ele traçou com o dedo índice o sulco diagonal sobre sua coxa; jogou para trás a cabeça, e se arqueou instintivamente contra ele quando acariciou de igual forma a outra perna. Então beijou o ponto onde ambos os sulcos se encontravam, e ela sentiu que os alicerces de seu mundo caíam e a deixavam suspensa no vazio sem nenhum ponto de apoio. Agarrando ao cabelo dele, exclamou seu nome com um soluço. Drew soltou a camisola, levantou-se e colocou a mão nos cabelos de Ardem; sua boca abateu-se sobre a dela com paixão, mas a língua masculina fez amor com 72


lânguidos movimentos e uma surpreendente temperança. Tomou-a em seus braços e levou-a através da pequena sala até o outro quarto; Ardem podia sentir seu membro excitado contra o quadril, o havia visto, descansando em um ninho dourado. Como tudo o que tinha haver com aquele homem, também aquilo era magnífico. Ardem sabia que o ato seria algo excepcional, mas era consciente de que não podia permitir. Desejava-o, a cada célula de seu corpo clamava por uma libertação daquela febre que a atormentava; desejava que Drew enchesse aquele vazio que crescia a cada vez que se tocavam. Seus peitos almejavam a suave sucção de seus lábios, as caricias de sua língua, mas aquele não era o momento adequado. Se fizessem amor, o resultado poderia ser desastroso para ambos. Alheio a suas dúvidas, Drew deixou-a de pé ao lado da cama e começou a acariciá-la de novo; suas mãos fecharam-se sobre seu traseiro, e atraiu-a para seu corpo. Ardem queria esfregar-se contra ele, mas resistiu o impulso. Havia tantas razões pelas quais não podiam fazer nesse momento... Afetaria fazer o amor a seu jogo na partida daquela tarde? Que passaria se o ato lhe recordava a Ellie? Se fazer amor com ela não fosse tão satisfatório como o havia sido fazer com sua mulher, se sentiria mortificado depois? E se era melhor, se sentiria culpado? Fosse como fosse, Drew estaria pensando em isso, e não na partida. E depois, quando ela confessasse quem era, ele acharia que havia vendido seu corpo para estar com seu filho. Não, não podia fazer o amor com ele até que ele o soubesse tudo. E, que passaria se o faziam? Se depois ele ganhava a partida, talvez lhe agradecesse sua ajuda e a mandasse de volta a casa. E se perdia, talvez a culpasse por distraí-lo. Em ambos os casos, o perderia e perderia Matt. Não, não, não... não podia se arriscar, apesar de que o desejava desesperadamente. —É formosa — murmurou ele contra seu pescoço, enquanto descia as alças da camisola — Estava sonhando contigo, acordei te desejando e te encontrei inclinada sobre mim, me olhando enquanto dormia. Deus, Ardem... —Drew, não... eh... Ele estava beijando seus peitos, banhando-os com sua língua. —Não, por favor — colocou suas mãos e o empurrou, mas ele nem sequer se mexeu. —Você é tão linda... —sussurrou, e tomou um peito na mão para levar até sua boca e acariciar o mamilo com seus lábios — sabia-o, Deixa que veja todo teu corpo — disse com voz rouca, enquanto tentava baixar toda a camisola. —Não — disse ela entre dentes, e separou dele. Conseguiu atingir a escorregadio tecido, e tentou voltar a colocar as alças em seu lugar — Não — repetiu com mais macieza, o olhando com cautela. Drew cambaleava um pouco e seus olhos estavam desfocados, era óbvio que ainda não havia assimilado o que ela estava dizendo. — Não? Que quer dizer isso? Ardem umedeceu os lábios e entrelaçou as mãos em frente a ela; já o havia frustrado uma vez, e as repercussões não haviam sido agradáveis. —Não acho que devamos… que devas... já sabes, antes de uma partida... O começou a rir, deu um passo para ela e traçou com um dedo a curva de sua bochecha. —Se isso fosse verdade, teria muitos menos esportistas. Ardem... —Não, Drew, por favor — disse, afastando a mão que ele havia posto em seu quadril. — Que é o que te passa? 73


Pela primeira vez Ardem detectou um matiz áspero em sua voz, que soava tensa com crescente impaciência. —Não me digas que não te apetece, sei que não é verdade. Abaixou a olhar para seus mamilos, e Ardem sentiu o rubor acalorado que se iniciou naquele ponto de seu corpo e se estendeu por seu peito e seu pescoço como tinta derramada. — Por que entrou de mansinho em meu quarto, se não querias fazer amor? Enfureceram-na tanto o arrogante gesto de seu queixo como o autoritário tom de sua voz. —Estava buscando a Matt; preocupei-me ao acordar e ver que não estava. —Sabes que às vezes ele sai do berço; além do mais, você soube que estava comigo com um simples olhar, não era necessário que ficasse junto à cama cinco minutos com a respiração agitada. —Com a respiração... és... eu... —Admite-o; se eu tivesse te encontrado nua na cama, também teria tido dificuldade para respirar. Não é nenhum segredo que nos atraímos sexualmente, de modo que, qual é o problema? —Já disse, não acho que seja uma boa idéia, esta tarde tens que jogar. — Por quê? Tens medo de se comprometer antes de saber se vai se deitar com um ganhador ou com um perdedor? Inundou-a uma feroz onda de indignação que arrepiou os cabelos da sua nuca, e o esbofeteou na bochecha com todas suas forças. O silêncio que seguiu reverberou no quarto até que Ardem recuperou o controle suficiente para dizer: —Isso foi injusto, Drew cruel, egoísta e injusto. —Você também não foi muito justa comigo, senhorita Gentry — assobiou ele — Você se comporta como uma ninfomaníaca depois se transforma numa gélida e ofendida virgem em menos de um segundo, e o fazer não uma, senão duas vezes, não é jogar limpo. Ardem tremia de fúria. —Bom, então está claro que nenhum dos dois está desfrutando do jogo. —Estou começando a achar que só é isso para ti, um jogo. O que você esconde depois desta farsa? Estava-se aproximando tanto à verdade, que diminuiu seu pânico; olhou-o sem dizer nada, aterrorizada de que de alguma maneira inexplicável ele descobrisse a verdade. Demorou um momento em perceber de que o golpe que ressoava na suíte não era seu coração, senão alguém chamando à porta. Drew virou-se, tomou uma toalha do banho, colocou-a ao redor da cintura e foi abrir. Era a senhora Laani. Ardem apressou-se a entrar no banheiro antes que a mulher a visse, e recolheu seus pertences do quarto de Matt em cinco minutos; ao sair, encontrou à senhora Laani sozinha na pequena sala, olhando a televisão até que o menino acordasse, e ouviu o som da ducha de Drew. Alegro-me de que se encontre melhor — disse com um sorriso forçado enquanto ia para a porta; a mulher era muito faladora e no geral amável, mas Ardem não poderia suportar seu falatório aquela manhã — Diga a Drew que desejo boa sorte na partida. —Mas, senhorita Gentry, ele... —O verei depois. Entrou na relativa segurança de seu quarto, tomou uma ducha e colocou rapidamente um vestido, tomou o chapéu de palha e os óculos de sol, e em menos de quinze minutos já foi. Passou a manhã concentrada no artigo que estava escrevendo, entrevistando a chefes de vários restaurantes de renome, mas não 74


pôde evitar olhar com freqüência seu relógio. Drew tinha razão, não joguei limpo; não deveria o ter alterado antes da partida. Mas o que ele ignorava era que não joguei limpo desde o princípio; deveria ter-lhe dito a verdade, ter-lhe dito quem era, assim que o conheceu. Em vez disso se havia infiltrado em sua vida, tanto a pessoal como a profissional. Ela não tinha um lugar em nenhuma das duas. Mas havia-se apaixonado tão profundamente dele... Esse era o fator com o que não havia contado. Desesperada, perguntou-se que iria fazer. Ao meio dia fez um descanso, entrou em uma cafeteria e pediu um sanduíche, que não tocou, e um copo de chá gelado, que se foi aguando à medida que os cubos iam se desfazendo. Não restava outra opção além de ir embora, deixar Drew e seu filho. Pára que a queriam? Drew desejava-a, mas seguia amando a sua mulher, e ela não podia se conformar com aquilo. Havia vivido durante anos com um homem que não a queria; se alguma vez vivia com outro, não seria uma relação unilateral. Não voltaria a passar pelo mesmo. Matt era um menino feliz, bem integrado e saudável que tinha na senhora Laani uma figura materna; Drew estava ressurgindo de seu exílio, ia voltar ao tênis profissional e era um bom pai. Ela só levaria o caos a suas vidas. Já tinha o que quis em um princípio: sabia quem era seu filho. Talvez pudesse chamar a Drew periodicamente, em qualidade de amiga, para saber como estava Matt. Talvez inclusive ir vê-la alguma vez ao continente com o menino. Drew acharia que havia partido por sua briga de «apaixonados», e era o melhor; se fosse depois dela, essa podia ser sua desculpa, que as coisas não haviam funcionado. «Despulpe-me. Drew, mas estas coisas sucedem, já sabes como é. Mas gostaria de seguir sendo tua amiga, saber como vão Matt e a ti». Sim, era melhor que se fosse antes que ele se inteirasse da verdade. Saiu da cafeteria totalmente decidida: ia voltar a Maui. Só ficava um artigo por escrever, de modo que poderia estar em Califórnia em menos de uma semana. Olhou seu relógio, e seguindo um impulso, chamou a um táxi. Ficava uma coisa por fazer. —Ao clube de campo de Waialee — disse com tom firme ao motorista. Os espectadores estavam em completo silêncio, todo mundo continha o fôlego. A tensão acumulada e a ansiedade eram quase palpáveis. Fazia muito calor, mas ninguém parecia o notar; a atenção de todos estava centrada no campo. Os dois jogadores estavam completamente imersos na partida, tão alheios ao calor e a suas roupas suadas como à multidão. Ambos haviam ganhado um set, e já estavam no terceiro e definitivo; iam cinco jogos a quatro, com vantagem de Gonzales. Tocava-lhe servir, de modo que se ganhasse aquele jogo, ganharia a partida. Ao sair à pista, a multidão havia-o aclamado; seu atrativo moreno e latino contrastava com a brancura de seu amplo sorriso. Era um campeão, e comportava-se como tal; mostrou-se altivo e cheio de si quando apertou a mão de seu oponente na rede, mas sua atitude mudou radicalmente ao ganhar o primeiro set por uma mínima vantagem de seis a quatro, e perder o segundo sete a cinco. Já não estava tão preocupado por agradar à multidão e posar para os fotógrafos; estava tentando ganhar o jogo, e estava custando o seu. Levantou-se na ponta dos pés e lançou um potente serviço que entrou dentro. Seu adversário restou com força, e teve um intenso intercâmbio de golpes. Gonzales colocou uma bola justo na esquina, e ganhou o ponto. —Quinze a nada — disse o juiz de cadeira. 75


Ardem engoliu com dificuldade e secou as mãos na saia do vestido, que já estava úmida; era uma roupa larga e cômoda, e alegrou-se de não se ter posto algo mais restrita. Enquanto parte do suor que caía pelo estômago e as coxas eram devido ao calor, em sua maioria se devia aos nervos. Jerry Arnold havia-se aproximado dela assim que desceu do táxi, e disse que Drew o pediu para que a levasse ao assento que havia reservado para ela. —Seu treinador está com ele — havia dito o homem com voz alegre, enquanto ela não lhe havia perguntado nada — é como nos velhos tempos. Está tranqüilo, mas notei-o enfadado; isso é bom. Em fim, queria assegurar-se de que estavas aqui; se precisar algo, diga a algum empregado que me chame. —Obrigado — disse Ardem, um tanto confusa. Esperava-a apesar da discussão daquela manhã? E com quem estava enfadado? Com ela? Quando ele entrou na pista, seu atrativo a havia deixado sem fôlego; levava um tênis branco, e tanto na t-shirt como na calça curta destacava um familiar logotipo. Luzia seu habitual lenço na frente. O público não havia mostrado muito entusiasmo, e só algumas pessoas aplaudiram. Estavam reservando seu julgamento. Tinham pago cinquenta dólares para ver a McEnroe, e estavam decepcionados; iam pressênciar outra birra de Drew McCasslin? A ele não pareceu afetar a falta de entusiasmo; seus olhos haviam buscado entre a multidão até que a viu, a havia saudado com um frio gesto da cabeça, e não havia voltado à olhar desde então. Drew ganhou o seguinte ponto, e Ardem fechou os olhos; «só mais dois, Drew, e terá parado o game; só mais dois». Mas Gonzales ganhou o seguinte com um ponto direto. —Trinta a quinze. Gonzales confiou-se muito, e o letal revés de Drew surpreendeu-o, tomando-o a contrapé. —Trinta iguais. Os espectadores removeram-se nervosamente, e começaram a aplaudir; Ardem ouviu gritos de apoio a Drew, e seu coração inchou-se de orgulho. Jogou de forma espetacular toda a partida, e enquanto perdesse, havia mostrado um tênis excelente. Gonzales ganhou o seguinte ponto. —Quarenta a trinta. Ponto da partida. Depois de um esgotante intercâmbio de golpes, Drew ganhou outro ponto. Gonzales soltou um palavrão. —Iguais. As juntas de Ardem estavam brancas, e tinha o lábio inferior marcado pelos dentes. O serviço de Gonzales foi rápido como um raio. Ardem deu graças ao céu quando Drew conseguiu golpear a bola com a raquete, mas o resto saiu fora. —Vantagem Gonzales. Ponto da partida. Inclinando-se para diante, Drew apoiou as mãos nos joelhos; quando abaixou a cabeça e respirou fundo, o cabelo carregado de suor caiu sobre a frente. Voltou a colocar-se para receber. Gonzales sacou com máxima concentração e potência, e Drew restou com uma precisão milagrosa. A bola foi de um lado ao outro da pista, mareando aos espectadores; nenhum dos jogadores cometia uma falha, ambos adivinhavam os movimentos do contrário e corriam ao longo da linha de fundo. Então, Gonzales recebeu uma bola em uma esquina da pista, e seu perfeito golpe de direita deu de cheio na bola e lançou-a à esquina oposta. 76


Drew reagiu de imediato. Lançou-se para a bola com a velocidade de um leopardo, e quando viu que não poderia a atingir, deu uma última investida. Seu corpo cortou o ar horizontalmente como uma seta, com a raquete estendida ao máximo em frente a ele. Aquela fotografia lhe daria mais adiante um prêmio a um fotógrafo esportivo. A raquete tocou a bola, mas sem a potência necessária; a bola chegou à rede, mas chocou contra ela e caiu no lado de Drew. Ele aterrissou e se deslizou pela pista, e um fio de sangue apareceu em seu cotovelo e seu antebraço. Ninguém se moveu, ninguém fez um só ruído. Com uma valentia memorável, Drew levantou-se e respirou fundo; então, lentamente, com dignidade, foi até a rede com mão direita estendida para apertá-la com Gonzales e felicitá-lo. Pareceu loucura. Ressoaram as aclamações, os salvas de aprovação... não pelo vencedor, senão pelo vencido. Os fotógrafos e os entusiastas de todas as idades saltaram à pista, e correram para Drew. Os olhos de Ardem encheram-se de lágrimas enquanto via como o rodeavam centenas de pessoas para o felicitar; havia voltado, estava de novo entre melhores e o último esforço desesperado provava que estava disposto a se esforçar ao máximo para voltar a ser um campeão. Podia ir tranqüila, ele estaria bem. Ardem abriu passagem entre a multidão, conseguiu um táxi e fez que a esperasse em frente ao hotel enquanto ela recolhia sua mala antes de ir ao aeroporto. Voou na mesma linha aérea que havia chegado à ilha, e as lágrimas banharam em suas bochechas ao recordar o peso da cabeça de Matt sobre seus peitos, e o sensual beijo que Drew havia dado ao aterrissar. Sempre recordaria esse momento que havia compartilhado com pai e filho. O balcão de recepção do hotel estava extraordinariamente silencioso, e então recordou que era a hora do jantar. Uma mulher jovem deu-lhe as boas-vindas com suavidade. —Boas tardes, em que posso a ajudar? —Sou a senhorita Gentry; tenho uma quarto, enquanto estive em Oahu nestes últimos dias. Quereria minha chave, quarto 317. A recepcionista digitou algo em um computador. — Quarto 317? —perguntou. —Sim — falou Ardem, começando a sentir o peso do turbilhão de emoções que havia sofrido naquele dia. —Um momento, por favor. A mulher foi a falar baixinho com o gerente; de vez em quando olhavam acima do ombro para ela, e Ardem começou a se sentir a cada vez mais irritada. — Senhorita Gentry? —o homem com o que havia falado a recepcionista se aproximou a ela. Sentiam muitíssimo, mas havia tido alguma tipo de mal entendido; achavam que havia ido embora do hotel, tinham o recibo de seu cartão de crédito. As coisas que havia deixado no quarto foram guardadas, segundo sua petição, nos escritórios do mesmo hotel. — Mas não me fui definitivamente! —protestou ela — disse ao homem que ia voltar, paguei o quarto para que não pensassem que fugiria. O erro era culpa do hotel; eles haviam dado seu quarto a outro hóspede, que ia ficar em várias semanas. —Gostava muito, mas foi dado a de alguém, não há muito que possa fazer; posso ir á outra, estou muito cansada... Havia outro desafortunado problema: o estabelecimento estava ao completo. — Está-me dizendo que não pode me dar um quarto após me deixar fora da 77


outro? Lamentavam que aquele parecesse ser o caso; mas estariam encantados de chamar ao resto de hotéis e centros da área, para tentar encontrar um alojamento. E estariam encantados de levar em seu ônibus. —Obrigado — disse ela com voz suave — esperarei ali — acrescentou, mostrando para umas cadeiras a plena vista do balcão, para que não pudessem fingir se esquecer dela. Passou meia hora, e as notícias começavam a ser repetitivas e desesperadoras. —Todos os lugares que ligamos estão cheios, mas continuaremos o tentando. Ardem apoiava a cabeça no respaldo acolchoado de uma das cadeiras, pensando nas opções que havia, quando a levantou inesperadamente. Drew dirigia-se para o balcão de recepção com passo decidido e a boca apertada em um gesto inflexível. Usava uma calça curta e uma caçadora meio aberta, como era habitual nele. E enquanto era óbvio que se havia lavado o cabelo depois da partida, o vento o havia despenteado. Havia uma ferida no cotovelo e o braço. Naquele momento viu-a sentada no vestíbulo, e de imediato mudou de direção. Parou em frente a ela, levou suas mãos às cintura e a olhou carrancudo. —Busquei-te em duas ilhas. Onde demônios você esteve após a partida? —A resposta é óbvia, não é verdade? —Não te faças de esperta comigo. Por que saiu correndo? — Por quê? Porque esta manhã nós brigamos — levantou-se e olhou-o com a mesma determinação que ele mostrava — não quero saber nada mais de tua atitude tirânica e teu mau gênio. A boca dele se curvou em um sorriso, e comentou — Terias que te chatear mais com freqüência, cai muito bem em teus olhos. Ela ia dar uma resposta indignada, mas a interromperam. — Senhorita Gentry! —o gerente apressava-se para ela, com uma folha de papel na mão — encontramos um quarto... Drew girou-se rapidamente para enfrentar o pobre homem, e o fulminou com o olhar. —Ela não quer — disse bruscamente. O gerente olhou Drew com cautela, e então lançou um olhar interrogante a Ardem. —Mas a senhorita Gentry disse que precisava um quarto, e... —Já disse que ela não quer — Drew virou de novo para ela — vem pra casa comigo — seus olhos se suavizaram quando se encontraram com os seus, e acrescentou com macieza — Por favor.

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Capítulo 8 Drew interpretou seu silêncio atônito como uma resposta afirmativa. Antes que Ardem percebesse, ele estava dando instruções para que levassem todos seus pertences a seu carro, que estava estacionado do lado fora. Carregou no ombro a mala que ela havia levado a Oahu, a rodeou com o braço e saíram juntos; o serviço mostrou-se extremamente solícito, oferecendo-se para levar as coisas por ele e se desculpando repetidamente por ter causado aquela inconveniência a sua amiga. Ela deixou que a ajudasse a entrar no carro, mas permaneceu sentada com uma rígida dignidade até que saíram à estrada. —Drew, não vou discutir com você, não vou ir a tua casa; por favor, leva a um hotel. Encontrarei um quarto. —Eu também não vou discutir. É uma loucura que queira passar a noite buscando um lugar onde dormir, quando eu tenho três ou quatro dormitórios livres. Além do mais, assim sairá de graça. — Grátis? —perguntou com ceticismo, deixando claro que queria dizer. O parou com uma freada o Seville num lado da estrada, e o corpo de Ardem inclinou-se para diante pela brusca manobra; quando se jogou para trás. Drew a prendeu contra ele. —Não, grátis não, vais ter que pagar. Puxou a mandíbula dela para impedir que se movesse, e manteve seus lábios a meros milímetros de sua boca durante uns segundos carregados de tensão; em vez do beijo brutal que Ardem esperava, foi incrivelmente terno. A língua de Drew pressionou suavemente contra seus lábios até que os abriu, e a submeteu àquele evocativo ritmo que a enlouquecia de desejo. Ardem sentiu que seu corpo se derretia contra o seu, e sua resolução de deixá-lo foi evaporando. Quando ele levantou a cabeça, ele separou com ternura as escuras mechas de cabelo que havia em suas bochechas. —Considera teu aluguel pago para o tempo todo que quiser ficar. — Não fará falta nenhuma outra compensação? Os olhos azuis percorreram seu rosto, seu pescoço, e voltaram a sua boca. —Não, a não ser que queira me dar um presente, um presente que sabe que desejo, mas que jamais tomaria à força ou por meio de chantagem. Ardem acariciou seu cabelo, traçou com um dedo em uma de suas povoadas sobrancelhas. —Hoje você jogou... — afogou-a um nodo de emoção ao recordar seu brilhante último esforço por salvar a partida, e ao fim pôde dizer — você jogou fantasticamente bem. Fiquei tão orgulhosa de você... —Então, por que me deixou? Não sabia que quando acabasse a partida queria te ver mais do que a qualquer outra pessoa no mundo? Ardem abaixou os olhos, e aquele gesto inconscientemente sedutor encheu-o de desejo. —Não, não sabia. Estava tão chateado após... do que passou esta manhã, que pensei que nossa amizade se havia acabado. Não podia suportar a idéia de não pressênciar a partida, mas não achava que quisesse voltar a me ver. Ele levou a mão dela ao seus lábios, a beijou e disse contra seus dedos: —Estava furioso, mas deve admitir que quando um homem está... eh... Preparado para fazer amor como eu estava, e o param de repente, não se pode esperar que esteja de muito bom humor. 79


Feliz ao ver que a boca dela se curvava em um tímido sorriso, Drew continuou dizendo: —E a verdade é que antes não estava de muito bom humor. Para ser sincero, tinha medo, aterrorizava-me enfrentar a Gonzales. —Mas no final da partida, era Gonzales quem tinha medo de você. Drew sorriu de orelha a orelha. —Obrigado, mas esse não é o tema agora. Quero que saibas que sinto ter perdido o controle esta manhã, tinha todo o direito de dizer que não. —Não deveria ter permitido que as coisas chegassem tão longe. Drew abaixou suavemente as pestanas em um gesto sedutor e disse: —Recorda isso a próxima vez; não sei que teria passado se a senhora Laani não tivesse chamado à porta. Voltou a beijá-la, e daquela vez Ardem não vacilou; respondeu à caricia com generosidade, movendo sua boca contra a dele. — O que pensará de você ter uma convidada? E só me vou ficar esta noite, amanhã eu encontrarei outro hotel. —Tenho umas doze ou catorze horas para convencê-la do contrário — disse ele com tom despreocupado, enquanto voltava a colocar depois do volante; acendeu o motor, e acrescentou—: e, no que diz respeito à senhora Laani, te direi que leva todo o dia me fulminando com a olhar, grunhindo em vez de falar, e me demonstrando o quanto está chateada comigo por fazer você ir embora. — Matt e ela compraram muitas coisas? —Pela quantidade de malas que trouxemos, eu diria que sim — disse, rindo—; o que me recorda algo; esta tarde, Matt foi à porta de seu quarto e começou a chamá-la, gritando «Andem, Andem». Aí foi quando a senhora Laani começou a bufar com indignação a cada vez que me olhava. Qualquer dúvida que tivesse ficado se desvaneceu ao ouvir que seu filho sentia saudades. Como podia renunciar àquela oportunidade de estar com ele, enquanto fora por pouco tempo? Quem poderia a culpar? Não havia manipulado a Drew para conseguir o convite, e só uma mártir a recusaria. Talvez não houvesse ganhado o privilégio de estar um tempo com seu filho? Não merecia algo por aqueles meses de angústia, de se perguntar quem seria, onde estaria, de não saber como era? E também havia Drew. Amava-o como nunca havia imaginado que poderia amar a um homem, intelectual, espiritual e fisicamente; queria-o com todo seu ser, e enquanto era um amor sem futuro, não era menos real e sincero, nem menos intenso. Nos seguintes dias... Porque não queria ir à manhã seguinte, isso estava claro... Teriam que servir para toda uma vida. Não ia renunciar a eles, merecia ser um pouco egoísta. Entraram na casa pela parte de trás, já que a frente dava ao oceano Pacífico, pela costa ocidental de Maui. Quando Drew apertou um transmissor, a grade de ferro se abriu para deixá-los passar, e depois fechou automaticamente depois deles. A ampla área com grama baixava com uma suave inclinação até a praia, que estava a várias dezenas de metros. O crepúsculo já havia ficado atrás, mas Ardem podia distinguir as enormes sombras dos coqueiros disseminados pelo jardim como sombrinhas gigantescas; as tulipas, de flores amarelas, rosadas ou brancas, perfumavam o ar. Cordilines, orquídeas e todo tipo de andares formavam exuberantes leitos de flores, e enormes cercas vivas brindavam uma privacidade total. A casa, ou o que podia vislumbrar depois da cortina de videiras em flor que a cobriam, parecia ser uma alternância de paredes de tijolo e vidro; umas amplas 80


varandas levavam as habitações abertas ao ar noturno e à fresca brisa oceânica. —É maravilhosa — disse Ardem. Desceu do carro, sem esperar que Drew fosse abrir a porta, e o ar brincou com seu cabelo e encheu seus sentidos com o aroma de flores e mar. —A comprei no ato. Vamos entrar, enviarei a Mo a buscar tuas coisas. Rodearam a casa até chegar à parte que dava ao oceano, e entraram no salão por uma abertura na parede de vidro. Uns altos postigos de madeira, que nesse momento estavam abertos, usados para tampar o vidro e proporcionar privacidade ou proteção das inclemências do tempo. O chão de mármore estava polido como um espelho e salpicado de tapetes orientais. Os móveis buscavam a comodidade, não a sofisticação; os estofados eram de um tecido sofisticado cor aveia, almofadas de cores vivas com diversos estampados contribuíam toques de cor, e repartidos por toda a quarto havia jarros com flores naturais. Um piano de ébano ocupava com grande dignidade uma esquina, e uma chaminé de pedra a outra; as mesas eram de vidro ou madeira, aparadas com metal. Era uma das habitações mais formosas que Ardem havia visto em sua vida, e marcava o tom de toda a casa. —O salão oficial, a quarto do café da manhã e a cozinha por ali — disse Drew, indicando a direção — meu escritório está no outro lado. O tocador está sob as escadas. A escada aberta havia uns sólidos degraus de carvalho, e um gradeado com filigranas de metal; Drew conduziu-a ao segundo andar. —Espero que minha governanta e meu filho voltem a me dirigir a palavra quando virem que consegui te trazer comigo. Avançaram por um amplo corredor até que Drew abriu a porta de um quarto. Ao entrar Ardem viu à senhora Laani, que encaixava seu corpo no berço, cantando suavemente a um Matt que parecia estar a ponto de se dormir. O menino levantou-se assim que os ouviu entrar, e quando viu seu pai e a Ardem, se libertou dos braços da senhora Laani e correu para eles. Lançou-se às pernas de Ardem, e rodeou com seus braços fofinhos suas panturrilhas. Drew, sorridente, ajudou-a a ajoelhar-se para abraçar ao menino. —Olá, Matt — disse, passando os dedos por seus cachos loiros — foi um menino bom hoje? Aquela manhã havia decidido deixá-lo, mas havia-se concedido o presente de umas valiosas horas mais com ele. Abraçou-o com força contra si, e quando sentiu que seus bracinhos rodeavam seu pescoço e devolvia o abraço, seus olhos se nublaram de lágrimas. Separando-se um pouco dela, Matt tocou com um dedo um dos botões de seu pijama e disse com orgulho: —ton. — Que esperto você é! — exclamou Ardem, e voltou a abraçá-lo; olhou para sua própria roupa, mas o vestido não havia nenhum, e disse rindo — Bom, às vezes eu também tenho botões. —Portou-se muito mau, de modo que não o felicite — disse a senhora Laani — fazê-lo provar uma roupa é como tentar vestir a um polvo. Enquanto a mulher estava tentando manter uma atitude de sólida autoridade, olhava radiante a Drew e a Ardem; continuou dizendo: —Devem estar com fome, o senhor McCasslin não quis parar a comer antes de nós recolhêssemos tudo e de nos fazer sair correndo para tomar o último vôo. Nunca o havia visto com tanta pressa. Drew olhou-a carrancudo e tossiu ameaçadoramente, mas a mulher limitou-se a 81


sorrir enquanto seus olhos escuros brilhavam alegremente. — Não tem nada que fazer? —gemeu ele. —Como ia sugerir — disse com tom lesado enquanto levantava da cadeira — fiquem com Matt... E creiam-me, a ajuda com ele será bem recebida... Prepararei um jantar ligeiro — cruzou os braços sobre seu enorme peito e olhou a Drew — Suponho que pediu à senhorita que fique para jantar. Drew captou a não muito sutil reprovação. —Ardem será nossa convidada durante... O tempo que consiga que fique. Importa-se em pedir a Mo que saque sua bagagem do carro? A senhora Laani foi até a porta e perguntou: — A que quarto digo que o leve? — sua indiferença era muito exagerada para ser real. —No quarto de convidados que você considere mais apropriado — falou Drew. Ardem ocultou sua confusão e suas bochechas flamejantes levando a Matt ao berço; quando a governanta saiu do quarto, Drew ficou em cócoras junto à cadeira e pousou as mãos nos joelhos dela. Seus olhos encontraram-se, e uma faísca carregada de eletricidade gerou entre eles. —Acho que a senhora Laani sabe que quero te comer inteira. — Drew! —exclamou ela. —E acho que sabe que você quer me comer. —Comer — disse Matt, franzindo as sobrancelhas. Os dois adultos riram. —Ainda bem que não pode interpretar no contexto que você usou - o repreendeu. —Mas você sim, verdade? — Que sei posso que? —fingiu estar muito interessada no estampado do pijama do menino. —Nada — disse Drew com uma voz carregada de promessas - continuaremos esta conversa depois — deu uma suave palmada na coxa a Matt, e disse — Bom, filho, ficou feliz de ter de volta a tua garota favorita? Sem saber que estava respondendo à pergunta de seu pai, o menino apoiou a cabeça no peito de Ardem e deu um sonoro bocejo. —Teve um dia muito agitado — disse ela, enquanto roçava a bochecha de seu filho com o dorso de um dedo. —Não gaste todo teu carinho nele, deixa algo para mim. Eu também tive em um dia difícil. Ela o olhou e o presenteou um terno sorriso de madona. —Isso é verdade. Este foi o primeiro de muitos outros dias fantásticos para você. Drew, eu estou certa disso. Que passou após a partida? —A imprensa me prendeu durante uma hora mais ou menos; todo mundo queria saber os escabrosos detalhes de minha vida durante o último ano... Por que me converti em um recluso, se havia deixado o álcool. — Que lhes disseste? —Que sim. Contei que o álcool foi o resultado da morte de minha mulher, que recuperei a sensatez faz uns seis meses, e que desde então tenho estado trabalhando a topo até me sentir preparado para um dia como o de hoje. —Estava mais que preparado; quando voltará a jogar? O detalhou o calendário de torneios que Ham estava preparando. —Ainda me vou com calma durante uma temporada; neste ano não poderei pôr ao dia, mas acho que o ano que vem posso obter uns resultados fantásticos. —Quantas vezes você ganhou Grand Slam? Em decorrência das averiguações que havia feito antes de viajar a Hawai, havia 82


aprendido que conseguir o Grand Slam significava ganhar no mesmo ano o Aberto da Austrália, Wimbledon, o Aberto dos Estados Unidos e Roland Garros. —Duas vezes, com dois anos de diferença, Não voltarei a conseguir, mas não me importo. Enquanto saiba que estou jogando o melhor que possa, ganhar já não é o principal; ganhei a batalha realmente importante. Ela alongou a mão para tocar sua dura e bronzeada bochecha; a força e a confiança novas que Drew havia encontrado em seu interior eram quase palpáveis. Quando seus dedos estavam a ponto de chegar à mandíbula masculina. Ardem deu um salto e soltou um gritinho. Matt havia metido a mão no corpete de seu vestido para pesquisar algo que nunca antes havia visto; intrigado pelo peito e pelo mamilo coralino, estava-o beliscando. — Ton, ton! — disse, orgulhoso de sua descoberta. — Matthew! — engasgou Ardem, afastando sua mão, e apressou-se a colocar bem o vestido. Drew caiu de costas no chão, rindo a gargalhadas, e comentou: —Ele não esteve com muitas mulheres. —Ele esteve com a senhora Laani — disse Ardem, sem atrever-se a olhar aqueles olhos risonhos. —Vinga, Ardem, a senhora Laani e você não têm a mesma constituição; Matt tem visto algo novo e lindo, e quis o examinar. —Bom, talvez fosse conveniente que tivesse uma conversa de homem a homem com ele, antes que faça muitas coisas deste tipo. Drew ficou de pé, tomou ao menino em seus braços e levou-o ao berço. —Sim, é uma boa idéia — pôs a boca no ouvido de Matt, e disse com voz suficientemente forte para que Ardem a ouvisse — Filho, você tem um gosto excelente com as mulheres.

A senhora Laani havia preparado a mesa no comedor «informal»; Drew olhou à mulher com o cenho franzido quando notou as velas que havia colocado, mas ela seguiu indo de um lado a outro muito ocupada, o ignorando. —Pensei que isto seria acolhedor e relaxante depois de um dia tão longo; espero que goste o salmão, senhorita Gentry. —Sim, encanta-me. O jantar, que consistiu em salmão frio com molho de pepino e eneldo, um guiso vegetal que a senhora Laani fez para acompanhar, e creme de sobremesa, esteve deliciosa. Mas parte da satisfação de Ardem não se devia à comida, senão ao homem que a contemplava com intensidade. Os olhos de Drew brilhavam à luz das velas enquanto falavam da partida; ao princípio mostrou-se relutante a fazê-lo, inibido e modesto, mas ela o animou a que contasse suas impressões. Ele pareceu comprazido de que ela tivesse seguido a partida com tanta atenção, e de que recordasse todos os golpes aos que ele fazia alusão. — Você não se importa em perder? Sempre me importo perder, Ardem; já te disse uma vez, gosto de ganhar. Mas se devo perder, quero fazê-lo com dignidade em uma briga justa; hoje saí vitorioso, apesar de ter perdido. —Sim, é verdade. Seus olhos encontraram-se de lados opostos da mesa. —Quando você fugiu do hotel, temi que não fosse me ver. —Eu não «fugi» — disse ela com tom defensivo. —Suponho que só foi uma coincidência que eu estivesse na ducha quando voltou 83


ao seu quarto, e por um descuido que não deixou nenhuma mensagem dizendo onde estaria. Ela traçou uma vela com o polegar e o índice. —Suponho que isso foi desconsiderado por minha parte, tendo em conta que era tua convidada; Jerry Arnold disse-me que estavas enfadado antes da partida — acrescentou, deixando no ar uma pergunta muda. —Sim, estava-o. Quando cheguei ao clube e ele não tinha uma entrada para você, montei um escândalo; disse que seria melhor que encontrasse um bom lugar para você, ou eu não jogaria. Como você sabe, em seguida se mostrou muito serviçal — seu sorriso era diabólico. Ela se inclinou para diante e disse: - Quer saber uma coisa? Acho que gosta de assustar à gente, sai sempre com a tua. É um idiota. Ele soltou uma suave risada e admitiu: —Claro que sim, sobretudo quando algo significa muito para mim — com expressão muito séria, acrescentou — e nunca saberá o quanto significou para mim que estivesse vendo essa partida; podia sentir teu apoio, teu fôlego. —Mas se nem sequer me olhou — disse ela com incredulidade. —Não precisava o fazer para saber que estava ali. O tom de sua voz fez que a percorresse um calafrio, mas naquele momento a senhora Laani os interrompeu. —Irei deitar-me se não se importa, senhor McCasslin — disse da porta — amanhã lavarei os pratos. Deixei as coisas da senhorita Gentry no quarto junto ao seu, parece-lhe bem? —Perfeito. Obrigado, senhora Laani, boas noites. —Boas noites — disse Ardem, com voz muito suave. —Vamos dar um passeio pela praia — disse Drew, enquanto ajudava-a a levantar-se; beijou seu ombro antes de dizer — mas será melhor que você coloque algo mais quente, esfria bastante depois do pôr o sol. Quando Ardem apareceu cinco minutos mais tarde com um conjunto de moletom cor damasco, Drew estava esperando ao pé das escadas. Ela tinha enrolado as calças até os tornozelos, e ia descalça; Drew pensou que seus pés eram lindos e delicados. Notou o tentador balanço de seus peitos sob o moletom, e soube que não levava sutiã; sentiu o forte desejo de cobrir com suas mãos, de sentir sua macieza sob o tecido. Sua cabeça começou a palpitar com um pulso a cada vez mais forte, que se transmitiu à parte inferior de seu corpo. — Estás segura de que não terás frio? —perguntou com toda a calma que permitiram seus alterados sentidos. Quando ela assentiu, rodeou seu ombro com seu braço e a levou para a noite. Ao que parece, ela também não podia falar, e Drew se sentiu agradecido de que não tentasse forçar uma conversa. Podia ver em seus olhos a emoção, a antecipação do que ia suceder, e as palavras seriam supérfluas ante a linguagem de seus corpos. Baixaram em silêncio pela suave costa do cuidado jardim, passaram por cima de um muro baixo de tijolo, e chegaram à areia que levava à orla. A praia de Drew estava em uma pequena cala semicircular, e as ondas rompiam contra as rochas vulcânicas, perdendo seu impulso antes de chegar à areia. A lua brilhava no oceano em um cume dourado que se estendia desde a orla até o horizonte, e sua luz brilhava nas cristas das ondas. O vento acariciava as largas folhas das palmeiras. Era um palco maravilhoso. Apesar de todas as vezes que havia sentado ali soxinho, pensando que era um 84


lugar mágico, Drew sabia que a partir desse momento sempre faltaria algo se não estava Ardem. Ela fazia que a magia fosse real, tangível, palpável. A luz da lua empalidecia sua pele, mas fazia que seu cabelo fosse escuro como o ébano. As estrelas careciam de brilho comparado com as esmeraldas de seus olhos. Drew sentou-se na areia e atraiu-a para ele, com um joelho levantado depois dela, e a outra perna apertada contra o traseiro feminino; as costas de Ardem descansava em seu peito. Por uns segundos, não a tocou nem disse nada, não sabia como ia reagir quando lhe dissesse o que precisava lhe dizer. Havia tido medo de enfrentar-se a Gonzales, mas ela o aterrorizava; o resultado da partida de tênis era muito menos importante que o da conversa que iam manter. —Eu te amo. Ardem. Uma confissão simples, uma verdade revelada com singeleza. O cabelo dela caiu na cara quando se voltou para ele; os úmidos lábios que queria reclamar como seus para sempre estavam abertos em gesto surpreendido. — O que você disse? —Eu te amo. Drew olhou para o oceano, e pensou nas semelhanças que havia entre eles; parecia tão plácido na superfície, mas por dentro estava agitado e turbulento, igual que ele. —Nunca pensei que voltaria a dizer isso a outra mulher. Quis muito a Ellie, e não achei que voltaria a querer assim a ninguém; e tinha razão. E eu te amo ainda mais. Ardem ficou sem fôlego, e o peito contraiu-se dolorosamente; Drew ia matá-la com suas doces palavras, não podia permitir. —Já estou em tua casa, não tem necessidade de dizer algo assim. Ele percorreu sua bochecha com um dedo, sorrindo com ternura. —Não digas bobagens para voltar a me chatear — seus lábios mal roçaram seu rosto—, só te disse por que é verdade. Você tem o de não confiar em mim, às vezes me portei mal, mas não te dás conta de que era uma defesa? Sentia-me culpado porque estava chegando a amar-te mais do que jamais amei a Ellie, e era duro aceitar algo assim. Hoje, quando achei que tinha me abandonado, estive a ponto de enlouquecer. —Mas, durante a partida... —Não, após a partida, quando ninguém te encontrava por nenhuma parte — se jogou a rir, e admitiu — De fato, durante a partida ainda estava enfadado pela cena desta manhã; não acho que teria jogado com tanto impulso se não tivesse estado tão furioso. Ardem abaixou a cabeça, envergonhada, e os dedos dele se enredaram em seu cabelo remexido pelo vento; Drew adorava sentir sua textura macia enquanto deslizava-se por sua pele. —Fizeste o correto; não te mostraste compassiva comigo, nem tentaste me convencer de que jogasse ou caso contrário. Percebi que a decisão devia ser minha, enquanto sabia que não havia outra opção além de jogar. —Sim. Sabia que tinha que fazer, que queria fazer, mas não podia te dizer; você tinha que perceber sozinho. —A isso me refiro, Ardem. Não me disse o que eu queria ouvir, como Ellie costumava fazer. —Drew, por favor, não continue. —Quero que o saiba. —Mas não preciso o saber. —É necessário. Lembramos que quando fizéssemos o amor não queria fantasmas 85


nem segredos entre nós. Ardem apressou-se a afastar a olhar, mas não pelo motivo que ele cria; ela guardava um segredo que podia custar o amor daquele homem. —Ellie apoiava todo o que eu dizia ou fazia. Inclusive quando sabia que estava equivocado; não me ia ver jogar, porque tinha medo de que perdesse e não suportava me ver deprimido. Ardem olhou-o, surpreendida. —Estranho, não é? — ela comentou ao ver sua expressão incrédula — quando viajava comigo, não se aproximava ao campo, e não era objetiva quando perdia. Se hoje estivesse aqui, teria encontrado desculpas, teria me desculpado e teria se compadecido de mim; não sei se entenderia que foi um triunfo pessoal, como você fez. Drew pôs uma mão na parte posterior da cabeça dela e a atraiu para o oco entre seu pescoço e seu ombro. —Ellie podia compartilhar o sucesso comigo, mas não acho que tivesse podido compartilhar a derrota. Inclusive após tudo o que passamos para ter a Matt, me preocupava que passaria se nossa paixão acabasse algum dia. Ardem fechou os olhos ao ouvir o nome de seu filho; que teria passado se não tivesse nascido perfeito e são? O teria recusado Ellie? Ron jamais criaria o filho de outro homem, talvez fosse capaz se desfazer do menino. Estremeceu-se, e os braços de Drew apertaram-na ainda mais. —Eu era mais preocupado no futuro quando jogava bem e vivia o presente com Ellie; não acho que ela fosse capaz se recuperar de uma tragédia — seus lábios se aproximaram ao ouvido dela, e o encheram com seu cálido fôlego — Ardem, sinto que nós poderíamos enfrentar a qualquer coisa juntos. Você faz que me sinta forte e seguro, em paz comigo mesmo, mas com vontades constantes de melhorar. Quando alguém acha que é perfeito, não há muito pelo que se esforçar. Capturou o rosto dela entre suas mãos e contemplou seus olhos cheios de lágrimas. — Entendes o que tento te dizer? —As comparações são injustas, Drew, para todos. —Sei-o. Só queria que soubesses que não é uma substituta sua em minha vida. És diferente, melhor para mim. —Drew... — sussurrou, e posou à frente contra seu queixo, movendo de um lado a outro. Não estava preparada para aquilo. Deus, o último que havia esperado era que ele se apaixonasse dela, era ainda mais inusitado que o que ela se apaixonasse dele. Era muito, não podia aceitar tanta felicidade, a assustava. Que preço teria que pagar por ela? Mas ao sentir suas mãos cálidas e tranqüilizadoras, seus corações batendo ao uníssosso, ao ouvir suas palavras de amor no ouvido. Ardem não queria pensar no futuro. Só desejava gozar do amor dele. Deveria contar-lhe o de Matt nesse mesmo momento, quando a atmosfera era serena e ele se estava sendo sincero com ela, mas... —Ardem, Ardem... —ele sussurrou seu nome um segundo antes que sua língua enchesse a boca dela, a saboreou com ternura, redescobrindo seu sabor como se fosse a primeira vez que a beijava. A mão masculina deslizou-se sob o moletom dela, e acariciou aquela pele cálida e aveludada; ao tomar um peito em sua mão, Drew pôde sentir o batido de seu coração. Ela suspirou seu nome e se moveu contra ele; enquanto não o admitiu em voz 86


alta, seu desejo era inegável. —Não quero usurpar o lugar de ninguém em teu coração, Drew. O beijou seu pescoço enquanto seguia acariciando-lhe o peito. —Não o estás fazendo, és muito única. Ocupas um lugar que só te pertence a ti, porque ninguém mais tem podido o encher. Suas mãos eram tão eloqüentes como suas palavras, enquanto a tocavam com reverência; quando as sacou de embaixo do moletom e a envolveu em seus braços com uma posse indiscutível, a cabeça de Ardem se posou sobre o joelho dobrado dele enquanto a beijava. Suas línguas se acariciaram em uma dança erótica, e os lábios de Drew se esmagaram contra os seus, como se não pensasse a deixar marchar jamais. —Adoro teu sabor — disse ele enquanto sua boca se movia sobre a dela. Sua língua planou na fissura dos lábios dela, enlouquecendo-a até que Ardem alongou as mãos e capturou sua cabeça. Ela se arqueou para acima, esmagando seus seios contra a solidez de seu peito; em um gesto valoroso pressionou a língua para o interior da boca dele, e o beijou como nunca havia ousado beijar a ninguém. Suas inibições caíram a seus pés, e o beijou uma e outra vez, deixando claro seu desejo. —Deus meu — engasgou ele quando ao fim se separaram, tomando fôlego em busca de oxigênio. Tomou sua cabeça entre as mãos e olhou-a aos olhos — Vamos entrar? Ela assentiu, e se levantaram juntos. A casa estava em completo silêncio, e só estavam acesas umas lâmpadas de noite ao longo dos corredores. Quando chegaram à porta do quarto dela, Drew pôs as mãos em seus nos ombros. —Eu te pressionei muito, Ardem. Desde que te conheci, só pensei em meus desejos, mas isso acabou. Eu disse que te amo, e é verdade, mas é algo incondicional, que não te exige nada. Se você vier a mim, demonstrarei o muito que te quero, mas se não o fazer, entenderei. Drew fundiu-se nas sombras do corredor e entrou no quarto ao lado. Com movimentos automáticos e seguros. Ardem entrou em seu quarto, onde a esperavam já todos seus pertences fora das malas. Não prestou atenção alguma à decoração azul, abacate e bege que deixava tanto elegante como informal; o banheiro adjacente estava igualmente bem decorado. Se despiu, abriu o grifo da ducha até que a água saiu bem quente, e se banhou e lavou o cabelo meticulosamente; seguia aquele transe que não permitia que seus pensamentos fossem para além de seus sentidos, de seus instintos, que não permitia que sua consciência intrometesse. Secou o cabelo, salpicou generosamente seu corpo com um perfume muito caro para tais excessos, e aplicou brilho nos lábios. Com movimentos mesurados, envolveu-se em um quimono de seda e saiu do quarto. Chamou à porta contígua, e Drew abriu de imediato. Levava uma toalha ao redor da cintura, e seu cabelo só estava parcialmente seco; o cabelo que cobria seu peito estava suavemente curvado pela umidade, e seus olhos brilhavam como safira sob a tênue luz. — Ardem? —perguntou com macieza. —Eu te quero — ela admitiu com voz rouca. — Na cama? —Sim. — Nu? Ela respondeu se aproximando a ele e apoiando as mãos em seu peito; o cabelo lhe fez cócegas nas palmas e ela o acariciou, descendo pelo torso masculino. Sua 87


textura era sedosa logo acima do umbigo, e se estreitava em uma fina linha dourada. As mãos de Ardem lutaram um momento com o prega que mantinha a toalha em seu lugar, até que ao fim caiu ao chão. Quando seus dedos desceram ainda mais, o seu coração martelou e afogou qualquer outro som, inclusive o de sua respiração agitada; tocou por um momento naquele cabelo mais grosso e hirsuto, mas inundou-a uma súbita timidez e levantou uma olhar implorante para ele. —Não posso... não... —Cale-se — disse ele enquanto a atraía para si — você já percorreu mais de meio caminho, não era nenhuma prova. Não tem que fazer nada só porque acha que eu desejo ou espero que faça, aprendamos juntos a nos amar. Os lábios de Drew moveram-se com terna perseguição sobre a boca dela, até que sua momentânea timidez se desvaneceu e Ardem respondeu com verdadeira sensualidade que havia permanecido latente, sem sair à superfície, durante toda sua vida. Sua boca abriu e a língua dele penetrou nela, dando, tomando, oferecendo, devorando. As mãos dele tremiam de emoção quando as deslizou sob o quimono, e teve que conter o impulso de arrancar de seu corpo e segurá-la contra ele. Ela não era uma de seus efêmeros e insignificantes brinquedos noturnos. Isso pertencia ao passado. Ardem era seu presente e seu futuro. E era preciosa, tão preciosa para ele... Queria avançar lentamente, saborear a cada pequeno detalhe dela ao fazer amor. Pousou as mãos em sua cintura, acariciando-a com macieza, e finalmente, quando ouviu o calado gemido de desejo que brotou dos lábios femininos, separou a peça e deixou que caísse ao chão. Drew retrocedeu um passo e permitiu-se contemplar o presente de sua perfeita nudez. Suas mãos tocaram sua pele com ternura, seguindo o percurso de seus olhos, e Ardem sentiu-se consternada ao sentir que lágrimas de gratidão inundavam seus olhos. Ele a estava saboreando com languidez, e ela se sentiu oprimida. —Nunca me havia sentido adorada, só devorada — sussurrou. Sua expressão foi de uma tristeza incrível um momento, e ao segundo seguinte de uma felicidade absoluta. —Você é tão linda — disse com voz rouca. Levantou-a em seus braços e levou-a para cama; a colcha já estava afastada, de modo que a depositou sobre os suaves lençois e se deitou a seu lado, se apertando contra ela. A sensação da tosca textura do corpo dele contra a dela fez que ambos sorrissem de puro prazer. Ele tomou seus pulsos num puxão e as levantou acima de sua cabeça, enquanto sua outra mão massageava seus peitos. —Não parece que você já teve um filho. Ela esteve a ponto de dizer que não havia tido um, senão dois, mas se conteve a tempo. Drew continuou dizendo: —Teus peitos são firmes e redondos — rodeou-os com um dedo — teus mamilos são ligeiros e delicados — tocou-os, e responderam de imediato — eles não têm estrias. Ardem arqueou as costas quando seu dedo desceu por seu estômago até a escura sombra na parte superior de suas coxas. —Você é perfeita — sussurrou um segundo antes de cobrir sua boca com a sua. Depois de deixá-la sem fôlego, seus lábios desceram por seu pescoço; graças a suas caricias, os peitos de Ardem estavam prontos para receber a sua boca, que 88


os chupou com infinito cuidado. Sua língua acariciou os mamilos, lubrificando-os deliciosamente. —Solta minhas mãos — disse ela. Quando Drew obedeceu, Ardem colocou os dedos em seu cabelo e aproximou ainda mais sua cabeça. —Oh, Deus. Drew; nunca me amaram assim. —É isso que eu espero. Quero ser o único homem que recorde que a acariciou. —Ninguém mais me acariciou, assim não. Ele torturou sem piedade o umbigo dela com sua boca, saboreando-o com os movimentos ágeis de sua língua, amando com seus lábios. Ela se retorceu sob o corpo masculino, reagindo como nunca antes havia feito. Estremeceu quando Drew beijou o escuro delta de sua feminilidade, e exclamou seu nome, aterrorizada e extasiada, quando sentiu seus lábios na parte interior de suas coxas; ele os separou com lentidão, e Ardem soube o que era a intimidade nesse momento. —Por favor, Drew, por favor... Ele respondeu a sua rouca petição e à urgência com que suas mãos se apertavam a ele, e subiu por seu corpo até a cobrir; olhando-a diretamente aos olhos, penetrou-a. Não parou nem vacilou, seguiu avançando até que esteve completamente dentro dela. Então fez algo que seu ex-marido jamais havia feito ao fazer o amor: sorriu-lhe. Seguia olhando-a quando começou a se mover, catalogando o prazer dela, memorizando seu gozo, os movimentos que faziam que seus olhos nublassem de paixão. —Estar dentro de ti é tão incrível, Ardem... — Verdade? —Oh, Deus, sim — gemeu ele — mova-se comigo. Conversa ao fazer o amor? Surpreendente. Os únicos sons que havia ouvido com Ron haviam sido rosnados e gemidos incoerentes. —Sim, assim... Outra vez — gemeu quando ele acariciou sua entrada, e se afundou nela completamente — sim, sim, sim. Quando chegou a explosão, os envolveu a ambos numa luva aveludada de êxtase, os sacudiu, os deixou sem fôlego e os estremeceu, os elevou e os lançou aos céus, e os deixou cair em um reino glorioso que nenhum dos dois havia conhecido jamais. Longo tempo depois, Drew levantou a cabeça de seu ombro e separou com os dedos úmidos mechas de cabelo dos olhos dela; e quando aqueles olhos se abriram, cheios de satisfação sonolenta, ele a beijou e disse: —Obrigado. Ardem, por fazer-me renascer.

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Capítulo 9 As finas cortinas das janelas com vistas ao oceano entravam no dormitório. Os olhos de Ardem abriram-se languidamente, e suspirou com o maior prazer como jamais havia sentido. O quarto banhava com a etérea cor lavanda do amanhecer, envolvia-a como num sensual ninho de amor. Naquele lugar havia aprendido o significado da vida em sua dimensão mais sublime. A respiração de Drew era profunda e rítmica, e ela podia sentir em suas costas nuas; ele a apertava contra si, com um braço descansando sobre a coxa dela. Ardem virou suavemente a cabeça no travesseiro que compartilhavam, com cuidado de não o acordar, e passeou o olhar pelo quarto que a noite anterior não havia observado em detalhe por estar absorta em outras coisas. Estava decorado com o mesmo bom gosto que o resto da casa. O ligeiro estofado das paredes contrastava com o grosso tecido da colcha, e o grosso tapete era cor marfim; ressaltando nesse fundo neutro, havia pincelada de cor abóbora e chocolate graças as duas cadeiras próxima de uma mesa junto às janelas, as numerosas almofadas que tinham caído ao chão na noite anterior, e aos discretos quadros que penduravam nas paredes. A chaminé que havia na parede oposta às janelas era um luxo que encantou encontrar em um clima tropical; os tijolos que a formavam eram também da cor marfim, e havia uma tela com forma de leque. Gostava do quarto. Amava ao homem. Um raio de sol atravessou o tapete como a luz de um foco em miniatura, e Ardem percebeu que deveria voltar ao sua quarto antes que os demais acordassem. Com um sorriso, pensou que Matt levantaria de uma hora para outra, e quando isso sucedesse, ninguém poderia continuar dormindo. Separou o pesado braço de Drew de sua coxa, e moveu-se para a borda da cama; ficou de pé, cobriu-se com o quimono e foi na ponta dos pés até a porta; a sensação do grosso tapete sob seus pés descalços era muito sensual. Tinha a maçaneta da porta na mão e estava girando-a com cuidado, quando as mãos de Drew se apoiaram na porta por ambos os lados. Ardem afogou uma suave exclamação e derrubou-se contra a madeira. — Aonde você acha que vai? — gemeu ele contra seu pescoço enquanto inclinava o corpo para frente, segurando entre a porta e seu forte torso. —Ao meu quarto. —Nem pense nisso — beijou o pescoço, entreabrindo os lábios para que sua língua umedecesse um ponto vulnerável — Você não vai á lugar algum, além da minha cama. E ficar comigo. Ela estremeceu quando sua boca avançou até sua orelha e sua língua brincou com o lóbulo. —Eh... Drew, não... tenho que voltar ao meu quarto. Suas mãos baixaram pela porta até a cintura de Ardem, e deram um pequeno puxão; o cinto do quimono, que ela havia prendido com um descuidado laço, mas não se havia molestado em prendê-lo bem, caiu ao chão. —Dá-me uma boa razão. —Eh... Drew separou as pregas do quimono e percorreu suas costelas com os dedos; aproximando-se ainda mais a ela, apertou-a contra seu traseiro. Ardem sabia que estava tal e como havia dormido nu, e nesse momento não pôde pensar em uma só razão para que tivesse que ir. 90


Os braços dele a rodearam, e Drew tomou um seio em cada mão. —São tão lindos — murmurou enquanto suas mãos os massageavam com ternura — encanta-me esta linha que marca teu bronzeado — disse, percorrendo com o dedo índice — Claro que, se nadasse em minha praia, não teria nenhuma marca; eu estenderia a loção por todo teu corpo, e poderia bronzear-se completamente sob meu atento olhar. Suas mãos e suas provocativas palavras estavam arrastando-a à mesma esfera encantada da noite anterior; de forma instintiva seu corpo se relaxou, maleável, moldando-se às curvas e as formas dele. As ternas carícias haviam endurecido de desejo seus mamilos, e Drew murmurou em seu ouvido o muito que gostava, fazendo que ela se excitasse e ruborizasse por suas palavras. —Adoro sentir tua pele em minha língua; teu sabor é maternal e erótico, e engloba tudo o que é a feminilidade. Sem energia e nem vontade para resistir, Ardem apoiou a cabeça em seu ombro; com um ligeiro movimento esfregou-se contra ele, e sentiu sua feroz paixão contra seu quadril. O fôlego de Drew era como uma tormenta em seu ouvido enquanto acariciava seu estômago e seu abdômen; ele não parou até chegar ao seu destino, e sua palma abarcou com ternura o monte suavemente elevado enquanto seus dedos se dobravam para dentro, buscando os mistérios escondidos entre suas coxas. Esfregou com o polegar aquele ninho de cabelo escuro e admitiu: —Adoro esta parte de você. Enquanto falava seguia movendo o dedo com aquele ritmo preguiçoso e hipnótico que tirava o fôlego e a razão de Ardem; Drew acrescentou com voz rouca: —Escuro e sedoso, tão sedoso. Seus dedos a encontraram úmida e preparada, mas ele prolongou o erótico momento. Com ternura e com cuidado adorou-a com seus dedos, dando a ela um prazer indescritível sem pedir nada em troca. Acariciou-a até que ela enlouqueceu de desejo, encontrando e acariciando a chave secreta que libertou sua essência de mulher. Ardem estremeceu contra ele, pronunciando seu nome em silêncio, sem fôlego e de forma incoerente. Ele fez que virasse, e com as mãos sob suas cintura, a alçou ao encontro de seu membro viril. Ela desceu sobre ele e o aceitou completamente. Soluçou seu nome enquanto ele arqueava as costas uma e outra vez, a cada vez mais próximo do êxtase; quando o mundo ficou atrás em uma súbita explosão. Ardem apertou as coxas dele com as suas, e envolveu seu pescoço com os braços. Os peitos femininos afogaram os gemidos extáticos dele. Quando Ardem recuperou a sensatez, o recato impediu que levantasse a cabeça para o olhar; pressentindo sua timidez, e consciente da razão que a causava, Drew a levou de volta à cama e a deitou como se fosse uma menina. Mas ela seguiu sem olhar. Esboçou um divertido e terno sorriso amoroso enquanto acariciava suas costas. —Ardem — sussurrou — foi tão horrível? Ela se virou e levantou os olhos para ele. Negando com a cabeça, fechou os olhos e disse: —Foi maravilhoso. —Então, por que não me olha? — levou sua mão aos lábios e beijou o dorso dos dedos, e viu como uma tentativa de sorriso curvava a deliciosa boca feminina. —Estou envergonhada. Falou com voz tão suave, que ele mal conseguiu ouvir. —Não pretendia te envergonhar. 91


— Não! — seus olhos abriram inesperadamente — não me refiro a você. Você não me envergonha; envergonho-me de mim mesma. Nunca havia... Me comportado assim. Ardem contemplou o cabelo dourado que cobria o musculoso peito masculino; ansiava tocá-lo, mas sentia-se ainda um pouco inibida, assustada de como estava mudança de sua personalidade. —Nunca havia feito... Bom, coisas assim. Não me reconheço quando me comporto com tão pouco autocontrole. Apoiou a bochecha nos braços dele, dando voz ao que ia pensando. —É como se tivesse outra mulher em meu interior, cuja existência ignorava antes de te conhecer. Mas não é exatamente isso também, porque não é outra mulher, sou eu. Não sabia que essa parte de mim existisse e me está difícil me acostumar a ela. —Em outras palavras — disse ele com calma — você não sabia até que me conhecer que é uma descarada luxuriosa com um insaciável apetite sexual. Sobressaltada, ela levantou o olhar para ele, mas começou a rir com alívio quando viu o brilho travesso em seus olhos azuis. Ele acrescentou: —Na verdade, estou encantado. Ele a apertou contra si e continuaram a rir, rodando juntos pela cama. Drew estava delirante de alegria pelo prazer que sentiam ao estar um com o outro, porque podiam rir e se amar ao mesmo tempo. Desde a morte de Ellie, não havia tido alegria após o sexo, só uma espécie de desolação desesperada. Nesse momento a mera idéia repugnava-o, e não podia suportar a lembrança do vazio que havia estado sua vida. Não queria imaginar sequer uma vida sem Ardem. Manteve-a prisioneira em seus braços enquanto a beijava; não era um beijo de paixão, senão uma caricia que continha uma necessidade reveladora, uma mensagem do vital que havia voltado para ele. —Vamos tomar banho — disse ele com voz rouca pela emaranhado de emoções que o inundavam. O banheiro era hedonistico e opulento; a banheira era gigantesca, com jatos de hidromassagem ao longo de seus lados, e havia uma janela panorâmica com vistas ao mar. Drew conduziu-a até uma enorme ducha com painel de vidro transparente. Qualquer resto de timidez que tivesse ficado em Ardem desapareceu pelo ralo, para nunca voltar; os olhos e as mãos de Drew adoraram a cada parte de seu corpo, e em vez de sentir-se suja pelo franco interesse sexual dele, se sentiu apurada porque sabia que os sentimentos de Drew não estavam baseados só em luxuria, senão também em amor. Enquanto se beijavam, recolhendo com a língua as gotas de água em seus rostos, as mãos de Ardem baixaram pela musculosa costa dele. Desfrutou uns segundos de estreita sua cintura antes de baixar ainda mais até seus firmes glúteos, olhando com olhos valorosamente enquanto suas mãos se familiarizavam com cada curva, com cada linha masculina. E viu com incrédulo prazer como ela ensaboava suas mãos com um movimento lento, provocativo; seu pescoço se tencionou, e engoliu convulsivamente quando ela tomou seu sexo em suas mãos escorregadias pelo sabonete. Seus caricias foram tímidas ao princípio, mas Ardem foi ganhando confiança e incrementando a pressão ao ver que os olhos de Drew escureciam de paixão. —Ardem — engasgou ele — Você tem idéia de como você está me deixando? — Estou fazendo algo errado? — perguntou ela, alarmada, e se apressou a soltar. —Não, Deus, não — ele tomou sua mão e voltou a pôr sobre sua pele, enquanto 92


com o outro braço apertava o corpo dela contra o seu — é perfeita, tão inocente sexualmente, apesar de ter sido esposa e mãe. —Uma coisa não tem nada que ver com a outra. Ardem não só estava pensando em sua vida privada com Ron, senão também na estéril precisão com a que havia concebido a Matt. —Sou um maldito egoísta por dizer isto, mas fico feliz por isso. Depois de enxaguar-se, voltaram ao quarto. —Deite-se sobre teu estômago — disse ele o com ternura. Ardem obedeceu sem vacilar nem um momento; ele se deitou ao seu lado, e murmurou: —Realmente, temos que fazer algo com as marcas de biquíni. Suas costas estavam marcadas por várias tiras, e a palidez de seu traseiro contrastava com o bronzeado de pernas e costas. — O que sugere que façamos agora? —perguntou ela, sonolenta, com a cabeça apoiada em seus braços cruzados. — O que você acha? —disse ele com uma lasciva inflexão na voz. —Você é incorrigível. —No que respeito a você, sim — falou, massageando seus ombros e suas costas. — Que faremos se Matt entrar de repente? — perguntou ela. As mãos dele desceram por suas costas, e ao voltar a subir, levantaram as laterais plenas de seus peitos. Ardem suspirou, extasiada. —Não entrará, fechei a porta com chave — se inclinou sobre suas costas e disse ao ouvido — Não queria que ninguém nos interrompesse, nem sequer meu filho. Drew acariciou a curva de sua cintura, e abaixou até seu traseiro; quando o sentiu mordeu suavemente sua cintura, Ardem soltou um gemido, e obedeceu como uma boneca de trapo quando ele fez que se virasse. Os lábios dele deixaram um fio de beijos em seu estômago, e foram descendo a cada vez mais. Com um movimento ágil, ele se colocou entre as pernas de Ardem e encostou a cabeça em seu abdômen, esvoaçando com seu fôlego o cabelo escuro de seu entre as pernas; ela estava atônita por sua aceitação daquele novo grau de intimidade, por sua confiança implícita nele, pela forma já familiar em que seu corpo se derretia e se esquentava com desejo renovado. Quando ele beijou seu estômago, seus ossos pareceram derreter pelo calor da boca masculina. - Quero amar-te de novo. Ardem. Ardem estremeceu quando seu cálido fôlego acariciou sua pele; com voz rouca, sussurrou: —Sim, ama-me. Ele se colocou sobre ela, com o sexo contra o seu. Mas não a possuiu. —Você vai ficar com os seios um pouco doloridos — disse compungido, olhando sua plenitude e as tentadoras auréolas — para não mencionar o resto do corpo. Ela colocou uma mão por trás da cabeça, o empurrou para seu peito e sussurrou: —Beije-me aqui, carinho. Ele gemeu com macieza quando tomou um mamilo entre seus lábios. Acariciou-o com sua língua ternamente, com cuidado de não machucá-la, e depois de um longo momento, levantou a cabeça para contemplar sua obra antes de voltar a pintar com delicadas pinceladas. Seguiu adorando seus peitos até que brilharam sob a luz matinal. Ardem retorceu-se sob ele, desfrutando da doçura com que a tratava, sentindo cada movimento da boca masculina no coração de sua feminilidade. Moveu-se contra seu corpo, suplicando que enchesse o vazio que havia criado. 93


Com um firme empurrão. Drew obedeceu seus desejos; enterrou-se em sua suavidade, e ela o envolveu. Igual a antes, não foi uma culminação, senão um começo, um renascer; de igual forma que a vida de Drew inundou seu corpo, ela o encheu a ele com sua própria essência. Permaneceram caídos juntos, respirando a fragrância de seu ato de amor, sentindo-se repletos de nova vida e de energia. —Ardem — disse ele com macieza ao sair de seu corpo; se deitou a seu lado e atraiu-a para ele. — Mmm? —Esta aventura ilícita deve terminar. Ela sentiu que seu coração caía ao chão e rompia em mil pedaços. — Terminar? —Sim — disse ele com total seriedade — Você deve se casar comigo. —Você ainda não respondeu a minha proposta, Ardem. Haviam passado horas, e Ardem seguia sem saber como responder àquela proposta que a havia deixado estupefata. Estavam na praia, jogando com Matt, e o fato de que os três juntos parecessem uma família a aterrorizava. Fingindo estar tranqüila, encolheu os ombros e falou: —Devo lembrá-lo que não foi uma proposta, senão mais bem uma ordem. — Que se pode esperar de um tirano como eu? Enquanto seu tom era despreocupado, Ardem notou a seriedade subentendida em seus olhos. Não pedia uma resposta imediata, havia limitado a abraçá-la enquanto dormia; no entanto, Ardem havia sido incapaz de voltar a conciliar o sono, já que sua mente era um turbilhão com as lembranças do que haviam compartilhado aquela noite, com as sensuais descobertas do novo dia e com a inesperada proposta de casamento. Ela, casada com Drew McCasslin, um tenista famoso no mundo inteiro? Drew McCasslin casando-se com Ardem Gentry, uma desconhecida, a mãe de aluguel de seu filho? Quando Drew acordou, decidiram que era hora de se levantar; Matt já havia acordado, e ao os ver, os saudou entusiasmado com a mão, salpicando de cereais sua cadeira. Drew, vestido com a roupa esportiva, tentou convencê-la de que o acompanhasse ao treinamento. —Drew, minha roupa esteve uma semana metida dentro de uma mala em um armário cedido; tenho que organizar minhas coisas e separar o que deve ser lavado à seco. —Eu posso me ocupar disso — ofereceu a senhora Laani enquanto colocava um prato de fruta fresca em frente a Ardem e enchia uma caneca de café. —Eu agradeço — sorriu Ardem — mas me sentirei melhor fazendo eu mesma, assim saberei onde está cada coisa. Ninguém parecia duvidar que ficaria ali definitivamente, nem mesmo Ardem. Drew foi treinar só, e depois de pendurar sua roupa no armário do quarto de hóspedes. Ardem havia ajudado à senhora Laani a organizar o que ela havia comprado para Matt em Honolulu. — É lindo! — exclamou Ardem, enquanto levantava um pequeno traje com duas raquetes de tênis estampadas no peito. —Pensei que seu pai gostaria — disse a senhora Laani, rindo. Enquanto tiravam a roupa das malas e colocavam-na no armário e na cômoda. Matt esteve muito revoltoso e não deixou de estorvar e as interromper, mas a 94


Ardem nem sequer se importou quando puxou o papel higiênico e o deixou espalhado por todo o banheiro. De vez em quando o abraçava, contemplando seu rosto uma e outra vez e adorando com ele. Era incrível que a semente de Drew, introduzida de forma tão clínica em seu corpo sem a emoção que um milagre assim merecia, pode criar um ser tão perfeito. Ardem agradeceu a Deus que permitiu participar na criação daquela vida. Drew voltou bem antes da hora de comer, transbordando excitação. —Deveria ter visto a multidão que veio nos ver treinar hoje, inclusive ficaram em pé e me ovacionaram quando entrei na pista; as agências de informação narravam à partida de ontem, e a história percorreu o mundo inteiro. Ham está eufórico, me chamou e disse que o telefone não deixa de soar com convites para jogar tanto aqui como no estrangeiro; meus patrocinadores ligaram para felicitarme. Contou as marcas da roupa e os tênis que levava, das raquetes que ele usava e em que companhias voavam em suas viagens, a pasta de dentes que anunciava. Aqueles rendimentos igualavam, e inclusive superavam, as quantidades que ganhava nos torneios. Quando havia começado seu declínio como jogador, as ofertas publicitárias também haviam começado a desaparecer. —Havia medo de quando tivessem que renovar os contratos os patrocinadores não quisessem o fazer, mas agora falam de condições muito melhores. Ainda se mostram um pouco cautelosos, claro; após tudo, foi só uma partida, e além do mais não ganhei, mas ao menos não me deram por perdido. Preciso ganhar uma, agora sei que posso fazer. Seus olhos azuis resplandeciam quando tomou a mão dela por cima da mesa. — Só preciso uma coisa para ser completamente feliz. Ardem sabia a que se referia, não havia deixado de pensar nisso toda a manhã; saber que ele a amava o suficiente para se casar com ela a enchia de alegria, por que duvidava? Ela não havia se lançado aos seus braços para aceitar sua proposta assim que ele havia pronunciado as palavras porque se lembrou imediatamente da razão que a havia levado até aquele homem. Matt. Que mais podia pedir? Estaria com seu filho, viveria com ele e seria sua mãe em todos os sentidos, o veria crescer e converter em um adolescente, em um homem. Ela estaria ali, ajudando nos momentos difíceis, o amando. Por que não podia dizer a Drew que queria se casar com ele mais que tudo no mundo? Porque ele havia sido honesto com ela, e ela não havia sido com ele. Não podia se casar com Drew com aquela mentira por omissão entre eles, ela já havia vivido uma relação assim e o único que havia tido foi o desprezo. Ron havia-se casado com ela por seus próprios motivos egoístas, e ela nunca o havia perdoado, e o havia odiado por isso. E ele sempre a desdenhava por sua constante atitude submissa. O que aconteceria se Drew descobrisse quem era, e o papel que representou em seu passado? Acharia que havia se casado com ele só para poder estar com seu filho. A acreditaria se dissesse que havia chegado a amá-lo tanto... não, ainda mais... do que amava ao menino que havia concebido com sua semente? Conhecendo o orgulhoso que era, Ardem duvidava. «Fale para ele agora», pensou; «não se arrisque que descubra mais tarde não pode deixar este segredo entre vocês, de modo que fale agora mesmo». Estremeceu com apreensão; sem importar quem fosse a mãe de Matt, Drew não se alegraria de a conhecer. A cada vez que mencionava os problemas que Ellie e ele haviam tido 95


para poder ter Matt, seus olhos azuis traíam sua inquietude; não, não se alegraria de conhecer à mãe de seu filho, e depois não gostaria nada saber que a mulher que havia chegado a amar e em quem confiava, havia ocultado aquele segredo durante muito tempo. Sua mente continuou imersa em um turbilhão de indecisão quando baixaram à praia após comer. Nesse momento Drew a estava pressionando para conseguir uma resposta, mas Matt elegeu aquele instante para lançar contra o peito dela, fazendo que caísse de costas. — Ouça! — exclamou, agarrando-o pela cintura — acho que você vai ter que fazer um regime. Matt riu a gargalhadas quando Ardem o jogou sobre a toalha junto a ela e começou a lhe fazer cócegas em sua fofinha barriguinha. Quando a deixou exausta, o menino se levantou e foi para a orla. —Tem cuidado — disse ela. Matt parou, virou e voltou correndo para eles; jogando os braços ao pescoço de Ardem, depositou um entusiasmado beijo úmido em sua boca. Quando voltou tropeçando para as ondas, os olhos de Ardem estavam cheios de lágrimas. —Ele também te ama, Ardem. A voz suave de Drew fez com que se virasse para ele; quando viu suas lágrimas, ele sorriu. —Você também o ama, verdade? —Sim — admitiu-a, incapaz de negar a verdade. — A mim? Ou estou imaginando coisas que não existem? As lágrimas rodaram por suas bochechas, e Ardem alongou a mão para acariciar aquele cabelo remexido pelo vento. —Eu também te amo — percorreu com seus dedos o lábio inferior dele — te amo tanto que me dói. Ele tomou a mão dela e a apertou contra sua bochecha. —Então, diga-me que se casará comigo; Ham quer que eu comece a competir daqui a duas semanas, e quero que Matt e você venham comigo. Quero que me acompanhe como minha esposa. A idéia de ir sem ela era muito desoladora para sequer a contemplar, mas sabia que havia chegado o momento de começar a competir de novo. —Duas semanas — disse ela com voz queixosa. —Sei que não estou dando muito tempo, mas pára que esperar? Se você me ama.... —Sim eu te amo. —E sabe que eu também te amo; casa-se comigo de imediato, Ardem — olhou para o menino que perseguia uma onda na orla, e acrescentou — Nunca pensei que chantagearia a uma mulher para conseguir que se casasse comigo, mas vou jogar todas minhas armas. Suspirou com determinação e disse: —Matt precisa uma mãe, Ardem. —Tem à senhora Laani — disse ela num fraco protesto. O coração de Ardem parecia ancorado a um grande peso no fundo de sua alma, que a estava afundando mais e mais numa situação que não havia uma via de escape fácil. «Por favor, não use meu filho para me convencer de que faça algo que sei que está errado». —Não sei o que teria feito sem ela — disse Drew, referindo a sua governanta e amiga — Em vez de fazer as malas e ido embora, como teria feito qualquer outra 96


mulher menos compreensiva, agüentou o mau que a tratava quando me embebedava, e meu mau humor; é fantástica com Matt, considero-a mais um membro da família que uma empregada, mas jamais poderia ser uma mãe para ele. Para começar, é muito velha. Tomou a mão de Ardem entre as suas e continuou dizendo: —Ardem, dentro de um par de anos terei que me mudar de aqui. Quando Matt for um pouco maior e eu muito velho para jogar de forma profissional, não poderemos continuar vivendo com este isolamento parcial. Matt precisará uma mãe, sobretudo quando for ao colégio e veja que os outros meninos têm uma. Os olhos dela ainda mostravam indecisão, mas a Drew restava um último cartucho; era um recurso cruel, mas era um homem desesperado. —Seja para meu filho o que você não pôde ser para Joey. Ela se virou rapidamente e separou sua mão inesperadamente. —Você está sendo injusto, Drew. —Eu sei, maldição, mas sei que posso te perder, e não posso permitir. Estou lutando por minha vida, e vou utilizar todos os recursos a minha disposição. Seus olhos eram ferozes, sua mandíbula era dura e obstinada. —Já te disse que não você não é uma simples substituição de Ellie, e por Deus essa é a verdade. Matt também não pode ocupar o lugar do filho que perdeu, mas você mesma disse que o ama; dê a ele o que não tive a oportunidade de dar a Joey — tocou os lábios dela com os seus, e acrescentou — Poderíamos inclusive ter um menino juntos. — Oh, Deus! —exclamou ela. Cobriu o rosto com as mãos, e caiu sobre ele quando Drew a atraiu para si; a balançou no refúgio de seus braços, acariciando sua cabeça e murmurando palavras de amor. —Sei que te estou pressionando, mas a quero em minha vida, Ardem. Mais que ao tênis, mais do que tudo. Mas não te pediria se não achasse que você precisa de nós, a Matt e a mim, com o mesmo desespero que nós a ti. Ardem sentiu uma mão úmida no ombro, e ao levantar a vista encontrou Matt de pé junto a ela; tremia seu lábio inferior, e seus olhos, tão parecidos aos de Drew, brilhavam com lágrimas prateadas. —Aaden — disse o menino, à beira do pranto — Ardem. —Oh, carinho, não chore — ela secou as lágrimas de seus próprios olhos e forçou um sorriso — viu. Não foi nada — recordou que nada perturbava mais Joey como a vê-la triste; ver um adulto tão visivelmente afetado fazia que o mundo de um menino caísse — Estou bem, vê? Ele olhou seu pai com uma expressão duvida, mas os olhos de Drew permaneceram fixos em Ardem. Ela atraiu seu filho para si e o abraçou, angustiada por ter causado nele, um momento de insegurança e dor. —Olha, veja, estou muito contente — disse — Onde está seu umbigo? Já o vejo! Já o vejo! Fez cócegas nele ludicamente, e qualquer rastro de lágrimas desapareceu quando o menino apareceu em risadas. Naquele momento, ouviram a voz da senhora Laani repreendendo-os n muro que separava a praia do jardim: —Que vergonha, deixar ao menino correr assim nu. Vai criá-lo como um selvagem. —Assim Deus o trouxe ao mundo, senhora Laani — disse Drew, lançando a Ardem um sorriso de cumplicidade. —Que blasfêmia — resmungou a mulher enquanto ia ao menino. Tentou colocar nele uma sunga apesar de recuar com suas pernas cobertas de 97


areia, mas ele percebeu e protestou até que se deu por vencida com um suspiro de resignação e disse: —Viram? Já é meio selvagem. Levou o menino de volta à casa, que seguiu repetindo «sesta não» até que se perderam de vista. —Não sabia que ele ia me ver chorar, não deveria tê-lo perturbado. — Aceitará se casar comigo se eu começar a chorar? A expressão de Drew era tão travessa, e seus olhos tão tristes, que Ardem apareceu em gargalhadas; inclinando-se para ele, o beijou e disse: —Oh, Drew, eu te amo, mas há razões pelas que não deveria me casar contigo. —E muitas outras pelas que deveria sim o fazer. Ela apoiou a cabeça em seu peito, deixando que o cabelo fizesse cócegas em seu nariz; adorava o aroma almiscarado de sua pele. —Há uma razão muito importante pela qual não deveria me casar contigo, algo que tem que ver com meu passado; algo que fiz e que... Ele jogou suavemente a cabeça para trás para olhá-la diretamente aos olhos e disse: —Ardem, não pode ter nada tão vergonhoso em teu passado, e inclusive se tivesse, comparado ao meu, você viveu como uma santa. Não me importo nada com teu passado, só me preocupa teu futuro — seus dedos roçaram a bochecha dela e seguiu dizendo — E também há algo que eu fiquei com dúvida se contava ou não, mas que honestamente não acho que mude nada, porque não afeta de jeito nenhum ao amor que sento por você. Beijou a fissura de sua boca, e perguntou: —Esse segredo algo que ver comigo, com o que sente por mim? Faz que me queira menos? Ela falou com sinceridade: —Não, não diminui em nada meu amor por você. —Então, esqueça-o. Nossas vidas começaram quando nos conhecemos, manteremos nossos passados à margem; fecharemos esse capítulo de nossas vidas e começaremos a criar nossas próprias lembranças. A beijou profundamente, como se ele quisesse apagar fisicamente as objeções dela com sua boca. —Casa-se comigo. Ardem. —Drew, Drew... — ela buscou sua boca para outro longo beijo que conseguiu que tudo demais parecesse carecer de importância. Ele a rodeou possessivamente com os braços enquanto a devorava, os isolando simbolicamente do resto do mundo. —Tira-se a parte de acima do biquíni — murmurou contra a boca dela. Ela o tirou, fingindo estar exasperada. — Foi por isso que me pediu em casamento, para ter acesso carnal ilimitado ao meu corpo? —É uma das razões — falou ele, percorrendo com lasciva aprovação as curvas femininas. Ele ia ocultar como havia tido a Matt, e Ardem se perguntou se seu próprio segredo era muito pior. De repente, sentiu-se libertada das cadeias que a aprisionavam; queria celebrar seu amor, ser feliz, desfazer da culpa e as preocupações. — E se passar alguém e nos vê? — sua voz insinuava uma picante promessa. —Mo e a senhora Laani são as únicas pessoas que podem entrar na propriedade sem minha autorização prévia; os dois sabem que, quando estou sozinho em 98


minha praia com uma mulher, devem se manter afastados. — Ah, sim? E quantas vezes você esteve sozinho com uma mulher em sua praia? —Esta é a primeira vez. Esta manhã fiz circular um aviso. Ela mordeu o lábio para não rir. — E o que você me diz dos barcos? Se passar alguém navegando e nos vê nus? —Nós veremos o barco antes e correremos para nos cobrir. —Vejo que você já pensou em tudo. —Em tudo — disse a olhando através de suas longas pestanas douradas — É verdade, você aceitou minha proposta, ou tenho que deduzir por teus beijos que a resposta é «sim»? — rodeou-a com suas mãos; uma desatou a fita de seu pescoço, a outra a de suas costas. —Não disse que sim... — o vento brincou com a parte superior do biquíni, fazendo que ondeara por uns segundos contra ela antes de levá-lo voando — mas já que vou a andar... Drew ficou de pé e tirou sua sunga; era como um Adão moderno, perfeito, dourado e forte, uma comparação de beleza masculina. Quando voltou à toalha, o lenço que rodeava seu frente lhe dava um ar quase selvagem. Ela continuou: —Já que vou andar na praia contigo... — tirou sua parte baixa do biquíni sob o ardente olhar dele — nua... — ele a abraçou com um movimento felino, e caíram juntos — suponho que terei que me casar contigo. Drew a beijou com paixão, com um ardor quase tão tórrido como os elementos... areia, vento, sol... e igualmente primitivo.

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Capítulo 10 —Que lua de mel — murmurou Drew enquanto conduzia para a pitoresca cidade de Lahaina. —Eu acho que é maravilhosa — riu Ardem enquanto arrumava a camisa de Matt pela enésima vez. —Minha idéia de uma lua de mel em condições é tê-la nua em minha cama, ocupada com todo tipo de atos lascivos. —Teremos tempo para isso — sussurrou ela. Drew virou-se para olhá-la, e seu olhar ardente encheu-a de desejo. Ardem comentou: —Mas, por agora, te agradeceria que mantivesse os olhos na estrada. Quando ela concordou a se casar com ele, Drew correu para fazer as preparações necessárias, e tudo ficou pronto em poucos dias. A cerimônia foi completamente privada; havia-os casado um pastor que Drew conhecia, e só haviam assistido a senhora Laani e a mulher do oficiante. E Matt, claro. À pedido de Ardem, Drew não o havia notificado à imprensa. —Por favor, Drew — havia suplicado — eu não quero estar em primeiro plano; eu o acompanharei em todos os torneios, estarei te animando na cada partida, mas não quero que me fotografem nem me entrevistem. Ardem recordava como os paparazzis se haviam ajuntado ao redor de Ellie e dele quando saíam do hospital, e não entendia como haviam podido manter o segredo de que ela não era a mãe biológica. Ardem, queria guardar seu próprio segredo, ao menos durante um tempo; havia decidido dizer a Drew que era a mãe de Matt, mas só quando se sentisse segura em seu casamento. No momento, quanto menos gente soubesse que se haviam casado, melhor, e se manteria em um discreto segundo plano. —Mas estou orgulhoso de você — havia objetado ele — por que quer esconder que nos casamos? —Não quero esconder, é só que não quero publicidade — buscou uma desculpa aceitável, e disse — Por... Por Ellie. Era tão formosa, estava tão integrada em tua vida... Até que não aprenda a manejar em teu mundo, não quero que me comparem com ela. —Não há comparação — disse ele com ternura, acariciando seu cabelo. Ao final, Drew aceitado relutantemente; voltaram a Maui no meio da tarde para que Matt pudesse dormir, e ela lhe havia dito: —Ligue para Gary ir treinar com você um momento. —No dia de meu casamento? —havia protestado ele. —Quer ganhar as competições ou não? Ele havia se virado para a senhora Laani com as mãos estendidas. —Estamos casados só umas horas, e já está dando ordens. Sob seu tom de piada, Ardem percebeu de que se sentia comprazido de que ela entendesse o exigente que era sua profissão. —Irá comigo para me ver jogar, verdade? —Eu não perderia por nada do mundo. Com os braços enlaçados, subiram juntos ao dormitório principal; a senhora Laani já havia colocado a roupa de Ardem no armário, e seus artigos de beleza e maquiagem estavam pulcramente ordenados no banheiro. — Como o fez tão rápido? — perguntou-se Ardem com assombro. —Dei ordens estritas para trazer suas coisas para cá assim que fosse possível; 100


você que inventou a norma ridícula de não voltar a se deitar comigo até depois do casamento. Ele se aproximou dela e rodeou sua cintura com os braços, beijando suavemente seus peitos através da blusa de seda que ela havia posto embaixo do traje de casamento. A evidência do desejo masculino pressionou contra ela. —Desejo-te com loucura, Ardem — disse ele com voz rouca contra seu seio, que se inchou ansiosa — a partir de agora, não vou ter piedade. Suas bocas uniram-se com paixão, movendo com um desejo reprimido libertado ao fim; Drew tirou torpemente o vestido, e Ardem ficou coberta só por uma fina combinação de seda. Ele amassou seus peitos, e quando os mamilos ficaram tensos, desceu sobre eles para acariciar com a língua através do tecido. Ardem tirou a camisa e desapertou rapidamente o cinto até que ele pôde tirar a calça com movimentos desesperados. Ela deslizou as mãos sob a cueca e a deslizou sobre seus glúteos, acariciando os músculos tensos pelo controle que ele tentava exercer. Drew acariciou suas costas, seu traseiro, suas coxas, percorrendo com as mãos a sedosa combinação e as meias. Bem em cima das coxas dela, seus dedos rodaram eroticamente contra os ossos de sua cintura, mas quando suas juntas roçaram o triângulo de sua feminilidade, Ardem agarrou seu cabelo e separou a cabeça dele da sua. —Você tem que ir jogar — disse com respiração ligeira. —Ao diabo com isso — gemeu ele, alongando os braços para ela. —Aí é onde irá parar teu jogo se não praticar — disse Ardem, inflexível. Ele sussurrou uma explosão, mas se separou dela para acabar de mudar de roupa. Ela começou a guardar nas gavetas as coisas que haviam ficado sobre o tocador, tentando não se distrair com o corpo de Drew. Ele não mostrou nenhum recato enquanto ia de uma gaveta ao armário para buscar suas roupas de tênis, e Ardem não pôde evitar pensar que jamais havia visto um corpo masculino mais lindo que o seu. Ele estava pondo uma prenda de sujeição similar a uma cueca justa, que levava sob as calças curtas, quando capturou o olhar fascinado dela no espelho. Insolentemente, subiu a elástica prenda branca por suas coxas e ajustou seu corpo no apertado e restringido espaço. — Vê algo que gosta? —perguntou com um trêmulo. Ardem sorria, e fechou a gaveta com um movimento brusco. —Gosto de tudo que vejo — admitiu, e arriscou lançar outro olhar ao espelho. —Alegro-me de ouví-lo —disse ele; depois se aproximou a ela, separou seu cabelo para beijar sua nuca. Ela ainda estava arrumando as coisas que havia sobre o tocador quando Drew acabou de se vestir e começou a colocar uma muda em sua bolsa. — Após recusar minhas atenções amorosas porque não havia tempo, vai continuar me entretendo e conseguir que chegue tarde? Ardem sentiu-se como uma colegial, de pé em frente a ele coberta só por uma combinação e uma meia. — Por que não me esperas lá embaixo? Tenho que... eh... Estarei pronta em só uns minutos. — Por que...? —Drew parou em seco, foi até ela e colocou as mãos sobre seus ombros num gesto compreensivo — já faz tempo que você não compartilha um quarto com um homem, verdade? Ela engoliu com dificuldade e assentiu com a cabeça, se sentindo como uma tonta; ele a beijou na bochecha e lhe deu um ligeiro abraço nos ombros. 101


—Estarei lá embaixo, eu espero. Antes que saísse, ela o parou. — Drew? Ele se virou, e ela disse: —Obrigado. Ele sorriu e deu uma palmada na jamba da porta. —Pensarei em algo para que me devolva o favor — piscou outra vez o olho e se foi. Apesar de suas objeções sobre jogar tênis no dia de seu casamento, Drew jogou bem; de novo, multidões de espectadores foram ver o treinamento, e aplaudiram com entusiasmo a cada vez que executou algum golpe difícil. Ele estava em seu melhor, desfrutando da cada segundo, e enquanto parecia alheio a Ardem, ela sabia que era consciente de sua presença e de seu apoio. Drew havia planejado levá-la a um elegante jantar de celebração, mas Matt haviase queixado ao ver que saíam sem ele. — Não pode vir conosco, Drew? — havia perguntado ela, apertando ao choroso menino contra si. —Ardem, desde que beijei à noiva esta manhã, estive compartilhando com outras pessoas. Quero tê-la só para mim. —E eu também, mas não ficarei bem deixarmos Matt chorando assim. Drew havia apelado a sua sensatez. —Ele só está fazendo para poder ir conosco. —Eu sei, e também sei que vou ter que começar a lhe ensinar a se portar bem, mas esta noite não. Depois de murmurar várias imprecações, Drew deu seu braço a torcer. —Mas nem pense em levá-lo para cama conosco — disse enquanto saía à estrada com o carro. De maneira que ali estavam os três, rumo a Lahaina. O denso trânsito fez com que Drew diminuísse a velocidade, e Ardem aproveitou para perguntar: — Aonde vamos? —Como você fez questão desta saída familiar — disse ele com tom seco — vou deixar que me prepare o jantar. — Que? —riu ela com surpresa. —Espere, logo você vai ver. Levou-os ao Pioneer Inn, um histórico hotel que hospedava os marinheiros quando a cidade era um importante porto baleeiro. Estava construído ao redor de um pátio central a céu aberto, iluminado por lustres e tochas e cheio de espetaculares andares tropicais. — É precioso! — exclamou Ardem enquanto os conduziam a uma mesa. —Alegro-me, mas não estava caçoando quando disse que teria que preparar meu jantar. Olha ali. Drew apontou para uma grande churrasqueira ao carvão sob um toldo protetor; havia um relógio na parede, para que os clientes pudessem controlar o tempo, e ao longo da churrasqueira havia enfileirados toda classe de condiga-mentos e molhos. —Resulta que sou uma grande cozinheira — alardeou Ardem—; quando estava casada e tive a Joey me encantava organizar as comidas, mas depois... —um espasmo de dor refletiu-se em seu rosto, e ao fim pôde dizer—: perdi o interesse. Ele apertou sua mão. —Se gostas de cozinhar, podes fazê-lo para Matt e para mim sempre que queiras, a partir de hoje mesmo. Aproximaram-se à churrasqueira após ordenar o filete de Drew, o hambúrguer de 102


Matt e o mahimahi de Ardem. O pescado da ilha estava cortado, temperado e envolvido em papel de alumínio, esperto para assar. Quando Ardem tomou as longas espátulas metálicas, caçoaram e compartilharam conselhos culinários; Matt gritava a cada vez que aparecia uma luz assobiava. Quando os pratos estiveram espertos, os levaram à mesa e lhos comeram com umas enormes saladas e judias ao forno. Drew pôs os olhos em alvo, estalando os lábios e disse: —Delicioso. Matt imitou-o, e o coração de Ardem esteve a ponto de transbordar com o amor que sentia pelos dois homens de sua vida. Tentou não confiar muito, já que tanta felicidade a aterrorizava.

Organizar tudo para as viagens era uma tremenda responsabilidade; a senhora Laani e Matt compartilhariam um quarto, Drew e Ardem outro, e Ham ocuparia um terceiro. Por sorte, o gerente do hotel ocupou-se de todos os detalhes, e com a ajuda da senhora Laani Ardem aprendeu a fazer as malas com a economia de espaço em mente, a tarefa parecia interminável. Ardem se sentia nervosa ante a perspectiva de conhecer a Ham Davis. Resultou ser um homem de cabelo grisalho e não muito alto, que mastigava um enorme charuto fedorento; sua barriga transbordava os calças, e havia que lhos subir constantemente com mãos enormes e suaves. Mas seu encanto era inegável, e a Ardem gostou imediatamente de sua maneira de ser brusca e direta. Foi a receber ao Aeroporto Internacional de Los Angeles, e ao conhecê-la deu-lhe um ligeiro abraço nas mãos; seus olhos escuros olharam-na diretamente aos olhos, e pareceu aprovar o que viu neles. —Seja o que for o que está fazendo pára Drew, continue assim. Só disse aquilo, mas Ardem soube que havia ganhado sua aprovação total. No entanto, o homem não gostou nada de dois pedidos de Drew: em primeiro lugar, que aceitasse os desejos de Ardem de não estar em primeiro plano, e em segundo lugar, que deixasse em uns dias livres para ir visitar à mãe de Drew em Oregon. Aquela era outra apresentação que Ardem temia, e no vôo a Portland se sentiu muito nervosa; no entanto, não havia motivos para a preocupar, já que a senhora McCasslin era muito amável e hospitalaria. Depois do caos no aeroporto, e o relevo que se formou enquanto se instalavam em sua casa para a estância de duas noites, Ardem elas compartilharam uns momentos a sós. Estavam na imaculada cozinha, que era arejada e acolhedora, esperando a que a leiteira rompesse a ferver. —Você não é o que eu esperava — disse Rose McCasslin enquanto sacava uns saquinhos de chá do armário; seus olhos azuis eram idênticos aos de seu filho e seu neto. — E o que esperava? —perguntou Ardem. —Não estou certa. Alguém que destilara eficiência, alguém que se ocupasse da educação de Matt, e que reabilitara a Drew ou o condenasse ao alcoolismo; uma mulher muito menos formosa, muito menos... doce. —Obrigado — disse Ardem, comovida — mas Drew já estava reabilitado antes de se casar comigo. —Por isso sei que é a mulher adequada para ele; deixou que o fizesse — inclinou a cabeça, e acrescentou — Suponho que sabes que está muito apaixonado por você. —Bom, sim, acho que sim. 103


—Alegro-me. E sento-me aliviada, quando enterramos a Ellie e ele se mudou àquela pequena ilha, pensei que viveria ali pelo resto de sua vida. Mas é feliz de novo, e só quero te pedir uma coisa. — O que? Os olhos da mulher alumiaram-se com um familiar brilho de humor quando disse: —Faça com que meu filho os traga aqui, a meu neto e a você, para me ver com mais com freqüência. Viajaram a Phoenix, Dallas, Houston, Nova Orleans, San Petersburgo... Drew jogou impressionantemente bem, mas enquanto ganhava as rodadas classificatórias, perdia nas finais; no entanto, nem Ham nem ele se desmoralizarão, já que estava jogando com os melhores jogadores do circuito. Então ganhou em Memphis, em Atlanta e em Cincinnati. Começou a subir postos na tabela classificatória. Ardem estava cansada por tanta viagem, mas radiante por seu sucesso; a vida de torneios era dura, sobretudo com um menino tão enérgico e curioso como Matt. Havia acabado todos os artigos que havia sido contratada antes de ir a Hawai, e ficou satisfeita quando a informaram de que os iam publicar sem nenhum tipo de mudança ou correção; pelo momento, havia recusado outras ofertas para escrever mais. - Que fazes quando estou treinando? — havia perguntado Drew uma noite enquanto permaneciam abraçados depois de fazer amor — Você está se aborrecendo? — E se eu estiver? Tenho que perseguir Matt de um lugar a outro, de modo que não se preocupe comigo — se encaixou ainda mais contra ele, desfrutando da protetora sensação do corpo masculino — Espero com impaciência que você vá jogar, e sonho acordada com... Isto. Abaixou a mão pelo estômago dele, e o acariciou intimamente; quando seus dedos o rodearam, Drew soltou um suave gemido. — Deus meu, Ardem, está tentando me matar pelo dinheiro do seguro? Hoje joguei uma partida muita dura, cinco sets, e... Então fizemos amor... Deus do Céu... —Não parece que esteja a ponto do colapso, pelo contrário... — sussurrou ela, acariciando o duro membro. — Que fazes quando não está ocupada pensando em maneiras de mandar a teu marido a uma morte prematura? — engasgou ele. —Escrevo. — Escreves...? Não, não te pare... sim, assim... oh, Deus... o que escreve? —Coisas. Tomo notas para uma novela, escrevo poesia. — Poesia? O que me está fazendo é pura poesia. Fez-lhe rodar até pô-la de costas, deixou que o guiasse para o interior de seu corpo e acrescentou: —Escreve mil versos assim para mim. Alegraram-se de voltar a casa. Ham havia protestado e fez questão de que não o fizessem, inclusive tentou convencer a Ardem de que o apoiasse. —Tem que jogar todos os torneios que possa — disse, pontuando a cada palavra com um movimento taxante da mão que sujeitava o charuto. —Drew quer estar em casa por algumas semanas, Ham. —Você pode fazê-lo mudar de opinião. —Talvez, mas não vou fazer. —Imaginava-o — levou o charuto aos lábios, amaldiçoou, e então disse que ele os 104


levaria ao aeroporto. Mo tinha deixado a casa arejada e pronta para sua chegada, e recuperaram uma rotina razoavelmente normal. Drew jogava com Gary a cada dia no clube, trabalhando nos pontos fracos que Ham e ele haviam discutido. Ardem ocupavase de Matt e planejava a seguinte turnê, que seria na Europa. Só em pensar nisso a deixava exausta. Como ia explicar a uns garçons que falavam outros idiomas que Matt preferia um pouco de qualquer esquisitice de seus caros menus? Nem sequer pode convencer aos que falavam o mesmo idioma que ela. Uma tarde, estava relaxando em seu dormitório, sentada em uma das cadeiras próximas às amplas janelas, quando Drew entrou e deixou cair sua credencial justo ao lado da porta. Olharam-se o um ao outro em ambos extremos do quarto, transmitindo o amor que havia crescido entre eles durante as últimas semanas. —Estás formosa aí sentada, Ardem — disse ele com voz suave — O sol do entardecer faz que teu cabelo brilhe com reflexos vermelhos. —Obrigado. Queria estar pronta para quando chegasse, mas me entretive com algo — fechou o livro e o deixou sobre a mesa que estava a seu lado. Ele fechou a porta com chave antes de ir para ela. Ardem levava uma bata que gostava especialmente; o pescoço era largo e oval e caía sobre seus ombros, e peça cobria seu corpo como uma fina nuvem azul que chegava ao chão. —Você acabou de tomar banho — comentou ele. Cheirava a flores e a mulher, e sua pura feminilidade era um reclamo infalível para sua masculinidade; Drew ajoelhou-se junto à cadeira e pôs os dedos em ambos os lados de seu pescoço. Gostava de pensar que o coração dela se acelerava quando ele a tocava. Ela simbolizava a paz, o lar, o amor, todas as coisas que ele achava que nunca voltaria a ter; a cada vez que a via depois de breves ausências, voltava a se surpreender do muito que a amava, de como desde o princípio havia tido uma união entre eles que não podia entender nem explicar. —com o que você estava se entretendo? —Em nada fora do comum. Ele havia aprendido que aquele tom de voz despreocupado significava todo o contrário; quem a havia convencido de que sua opinião não tinha valor? O marido do que quase não falava? Drew amaldiçoava àquele homem quase diariamente; havia feito dano a Ardem, um dano terrível, e por muitas outras razões além da morte de Joey. Ainda ficavam vestígios do mau que havia passado, enquanto ela nunca falava disso. Enquanto demorasse toda a vida, Drew pensava que ensinaria a ela o quanto valiosa que era. —Você esteve escrevendo, verdade? Ela separou a vista dele. —É horrível, eu sei, mas é algo que quero passar para o papel faz muito tempo. — Posso lê-lo? —Não é bom bastante para alguém ler. —Eu não acredito. —É muito pessoal — disse ela, umedecendo os lábios num gesto nervoso. —Não insistirei se não quiser que eu leia. —Gostaria de conhecer tua opinião — apressou ela a dizer. Ele tomou o livro e o abriu; a primeira página estava titulada Joey. Levantou os olhos para os seus, mas ela os evitou; levantou-se da cadeira e foi até a janela, onde sua ficou silhueta contra o céu vermelho. Drew leu o poema de quatro páginas, e sua garganta foi se fechando mais e mais com a cada verso; era óbvio que as palavras haviam brotado diretamente de sua 105


alma, e que havia sido um processo doloroso. Eram comovedoras sem ser pegajosas, espirituais sem ser pomposas. Expressavam a abismal e impotente angústia de uma mãe ao ver morrer lentamente a seu filho; mas os últimos versos eram um depoimento de todo de bom que aquele menino havia levado ao mundo, e expressavam uma grande vontade de viver e singular alegria. Drew tinha os olhos úmidos quando se levantou; voltou a pôr com gesto reverente o livro sobre a mesa, e foi para ela. Deslizou os braços sob os seus por trás, e apertou-a com força contra seu corpo. Posou à frente sobre o ombro dela e disse: —É lindo, Ardem. — Está me dizendo a verdade, ou só disse para eu ficar bem? —É realmente lindo. É muito pessoal para compartilhar com os demais? — Você se refere a publicá-lo? —Sim. — É o suficientemente bom? —Deus, sim. Acho que qualquer pai, que tenha sofrido a perda de um filho ou não, entenderia teus sentimentos; eu o faço. Acho que deveria publicá-lo, talvez ajude a alguém que esteja passando pelo mesmo. Ela se virou para ele e apoiou a cabeça em seu coração; adorava seu forte e firme batimento. —Oxalá tivesse estado ali quando precisou de alguém; você me ajudou a superar minha crise, mas você teve que passar por um inferno sozinha. Despulpe-me, amor meu. Ardem soube pelo fervor em sua voz e a caricia de suas mãos em suas costas que suas palavras eram sinceras. —Vêem aqui — disse ele. E tomando sua mão levou-a para a cama. Quando se sentou e a colocou de pé entre suas coxas, Ardem olhou seu rosto cheio de amor e traçou suas sobrancelhas com um dedo. —Quisesse poder apagar com meu amor toda a dor armazenada dentro de ti — Drew se inclinou para diante e posou a cabeça sobre seu estômago. —Eu também queria apagar o que você teve, mas sempre fará parte de nós. Talvez amamos-nos mais por nosso sofrido passado. —Só sei que te amo mais do que achei que era possível amar alguém — disse ele. O fôlego dele era cálido e úmido ao se filtrar pelo fino tecido de sua bata; ele esfregou com ternura o nariz contra seus peitos, desfrutando do delicioso peso sobre seu rosto. —Ardem,você não está usando anticoncepcionais, verdade? — levantou a cabeça e olhou-a. Ela fez um gesto negativo antes de responder com voz estrangulada: —Não. —Bem. Tenhamos um bebê. Acariciou seus seios com ternura, contemplou sua forma, comprovou sua plenitude como se estivesse os vendo pela primeira vez. — Você amamentou Joey? —Até que ficou doente. Drew assentiu e acariciou seus mamilos; quando endureceram, esfregou o rosto contra eles, de um lado a outro. —Quero ter um filho contigo. Ardem tomou a cabeça dele entre suas mãos e a apertou contra a macieza de seu abdômen. Ele acrescentou: —Um bebê que seja só dos dois, que façamos juntos. Se ele soubesse o que estava dizendo... Ardem entendia por que ele sentia que 106


Matt não havia sido só de Ellie e seu. Havia chegado o momento de dizer que já tinham um filho de ambos, que haviam criado juntos um lindo bebê? Se dissesse, ele seguiria devorando-a com ternura? Talvez deixasse de amá-la, talvez a acusasse de manipulá-lo de forma imperdoável. Seus lábios se abriram para confessar, mas havia esperado muito; Drew estava beijando o delta entre suas coxas, adorando sua feminilidade com sua boca e suas doces palavras. Levantou o tecido de seu vestido por suas pernas e suas coxas até deixá-la em sua cintura, e enterrou a cara no suave material, inalando o aroma dela. Ardem estremeceu e se apoiou em seus ombros quando seus lábios tocaram sua pele nua; ele deixou ardentes beijos no sedoso e escuro cabelo que cobria seus segredos. —Deixa que te dê um bebê. Ardem — sussurrou — deixa que te dê o mais lindo dos presentes. Rodeou-a com suas mãos, balançou sua cintura e inclinou-a para cima, para sua boca. —Drew — engasgou ela — não pode fazer isso. Mas sim que pôde, e o fez. O corpo inteiro de Ardem apareceu em uma conflagração de paixão; a boca dele fez que os lumes atravessassem seu entre as pernas, seu coração, sua alma. Drew colocou as pernas dela sobre suas coxas e se ajoelhou em frente a ela. —Eu te amo, Ardem. Deixe que eu cure sua dor. Beijou sua feminilidade uma e outra vez com lábios possessivos e ao mesmo tempo suaves; sua atrevida língua levou-a a um clímax depois de outro, e a acalmava depois com ternura. À beira do abismo uma vez mais, Ardem enterrou os dedos em seu cabelo e levantou-lhe a cabeça. —Entre dentro de mim. Agora, por favor — disse, e engasgou quando voltou a convulsionar. Ele conseguiu tirar as calças, e seu membro, pleno e duro, a encheu completamente. Drew moveu-se com mais audácia que nunca antes, acariciando as paredes de seu sexo, se detendo e acariciando de novo até que ela só era consciente do ritmo de suas investidas. Ele a penetrou profundamente uma e outra vez, tocando seu útero, fazendo promessas e as cumprindo com uma selvagem explosão de amor tão sublime que as bochechas de Ardem se inundaram de lágrimas. Quando ele deixou seu corpo, se sentia pesada, letárgica, e ainda assim parecia desafiar à gravidade ao sentir que flutuava. Ele tirou o resto de sua roupa, deslizou o vestido dela pelo corpo feminino coberto de suor até o tirar por completo, e o deixou ao seu lado na cama. Mal Reunindo energia suficiente para formar as palavras. Ardem sussurrou: —Por que o fez? Os dedos de Drew desceram do centro de seu corpo até a sombra de seu sexo, e voltaram a seus maravilhosos peitos. Seus olhos brilharam com a luz interior de um fanático adorando a seu ídolo. —Para mostrá-la que meu amor por você não tem limites. —Sinto-me fraca de tanto amar-te. O sorriu com ternura e falou: —E eu me sinto fortalecido por meu amor por ti — roçou um mamilo com os lábios, e o percorreu com a língua — alegro-me tanto de ser um homem... — Acha que fizemos um bebê? — disse ela enquanto envolvia seus dedos em seu cabelo loiro. 107


Ele soltou uma suave risada, posou a cabeça ao lado da sua no travesseiro e se encaixou contra seu corpo. Seguiremos tentando até que o consigamos. E ficaram dormidos, cobertos só pela púrpura luz do entardecer.

—Vocês estão loucos — gritou Ardem àqueles dois grandes tenistas. Drew e Gary estavam jogando de um lado ao outro da rede, lançando a bola mais alto que podiam. Estavam fazendo palhaçadas para entreter Matt, que estava de pé ao lado do campo aplaudindo com as mãos. Quando Drew golpeou a bola entre as pernas, o menino gritou entusiasmado e saltou para cima e para baixo. —Vale, crianção — disse Ardem — antes que se machuque e eu tenha que dizer a Ham que não pode jogar, e leve o caso ao público. Talvez assim praticará á sério. —Estraga prazeres — caçoou Gary antes de ir falar com sua última conquista, que o esperava com uma toalha e um termo de água fria. —O mesmo digo — disse Drew, enquanto colocava uma toalha ao redor do pescoço; colocou outra em Matt, e ele lhe deu um grande sorriso — Tua mãe é uma tirana e uma esticada — disse ao menino, antes de beija-lo na frente; levantou-o e acrescentou com um sussurro — Exceto na cama, onde se transforma em uma fera selvagem. —Você é que é o rei da selva — disse Ardem com tom sedutor, esfregando seu nariz com o dele — me encantaria beija-lo, mas não posso encontrar nenhuma área seca. — Não disse isso Bette Davis? —Não, ela disse «te beijaria, mas acabo de me lavar o cabelo». Ah. Sabia que era algo assim. Bom, então você me deve um beijo; Você tem que ir? —Sabes que Matt é um monstrinho se não dormir á tarde; talvez poderíamos ir à praia quando voltes a casa. —E ficar nus. — Nunca pensa em outra coisa? —Sim — disse ele com fingida indignação — às vezes fantasio com que o fazemos com a roupa posta. — És incorrigível! — exclamou ela, atirando uma toalha à cara — jogou bem, nos vemos em casa. Ardem colocou Matt no quadril, sua mala no ombro do outro braço, e foi para o estacionamento onde havia deixado o Seville, poderia dizer que o havia herdado quando Drew comprou para ele um jeep. Estiveram três meses na Europa, viajando de país em país, de torneio em torneio, e haviam regressado na semana anterior. Drew ocupava já o posto número cinco do ranque mundial, e esperava atingir o número um ao ano seguinte. —Então me retirarei. — E a que te dedicarás? — O Que você acharia de montar uma cadeia de lojas esportiva? Poríamos um ênfase especial na participação familiar, já sabe, sapatilhas iguais para pai e filho, trajes de tênis a jogo para mães e filhas, jogos que toda a família possa praticar junta no jardim... Coisas assim. —Soa genial, gosto da idéia. —A mim também; vamos liderar o setor. — «Vamos»? —Ham também pensa se retirar, diz que é muito velho para voltar a começar com outro jogador; quer participar no negócio comigo. E tu... — deu-lhe um rápido 108


beijo — não há nem que o dizer. Quanto aos escritos de Ardem, primeiro uma revista feminina, e depois o Reader's Digest, haviam publicado seu poema Joey e a revista havia proposto uma possibilidade de que escrevesse um relato curto; Ardem tinha já várias idéias. — Você se comportou bem vendo o papai jogar? —perguntou a Matt. O menino havia celebrado seu segundo aniversário em Paris, e já era muito pesado para o levar nos braços, Ardem o fazia sempre que podia. Chamava-a «mamãe», e a cada vez que via a palavra em seus lábios, ela queria chorar de felicidade. —É fantástico, verdade? Claro que nem tu nem eu somos muito imparciais. Ardem não viu o homem no carro estacionado junto ao seu até que ele saiu do veículo; ela deu uma olhadela por cima do ombro, e gelaram suas entranhas. Sentiu que seus pulmões deixavam de funcionar, que seu coração parava. Ele havia engordado, e seu cabelo, mais grisalho e mau penteado, começavam a rarear; sua pele pálida contrastava com os capilares de seu nariz, que haviam enrijecido por seus excessos com o álcool. Sua papada assemelhava-se a uma grande bolsa vazia, sua roupa parecia muito apertada, e seus sapatos estavam gastos. Mas aquele brilho astuto ainda assomava a seus olhos, seguia sorrindo com aquela careta de suficiência que dizia que sabia algo e que estava impaciente por se aproveitar disso. Ardem esteve a ponto de sair correndo; engoliu a bílis que havia inundado sua garganta, e instintivamente, com o feroz instinto protetor da maternidade, apertou a Matt contra si. —Olá, senhora McCasslin. O tom de sua voz fez que o nome soasse como um insulto obsceno; Ardem sentiu uma onda de repulsão, e teve o irrefreável impulso de sair correndo tão rápido como pudesse; mas o que fez foi o olhar com olhos gélidos cheios de ódio e dizer: — Olá, Ron.

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Capítulo 11 O olhar vítreo de Ron percorreu seu corpo, e Ardem sentiu a necessidade de banhar-se; a única coisa que a impediu de gritar, foi que não queria que ele soubesse o medo que sentia. —Tens bom aspecto — disse ele quando acabou sua inspeção e voltou a olhar aos olhos. —E você tem um aspecto deplorável — disse ela sem inflexão alguma na voz, se perguntando de onde teria saído àquela nova coragem. Sem dúvida era o resultado do amor de Drew e da felicidade que havia descoberto junto a ele. Ron Lowery piscou, momentaneamente desconcertado pela desacostumada firmeza dela; sua boca curvou-se numa careta cruel e disse: —É verdade, mas é que não tenho tido a mesma sorte que tu, senhora McCasslin. Ardem deixou Matt no chão; o menino havia perdido todo interesse na conversa, e estava absorto no botão amarelo de metal que assinalava a praça de estacionamento adiante do carro. Ardem assegurou-se de que estivesse completamente fora do alcance de Ron. —Não me culpe por suas desgraças, Ron, você teve em bandeja de prata todas as oportunidades para ter sucesso... Ou deveria dizer que as teve num anel de casamento? Só pode culpar a si mesmo se não as aproveitou. Ele apertou os punhos aos lados, e deu um ameaçador passo para ela. —Nem pense em falar comigo nesse tom. Posso destroçar teu pequeno mundo de um só golpe, senhora McCasslin. Como soube que era ele? Ela decidiu que sua única defesa possível era não admitir nada; levantou o queixo com gesto altivo e disse: —Não sei do que está falando. Ron agarrou-a com dedos de ferro e atraiu-a para ele. — Como soube que era McCasslin? E não ache que sou tão estúpido como para pensar que é sua marcante esposa por uma incrível casualidade. Ela engoliu um nó de medo e piscou diante da dor de seu braço; estava vendo uma faceta de Ron que sempre soube que existia, apesar de que se negava em reconhecer de forma consciente. Ele seria capaz de ser impiedoso, cruel e violento para conseguir o que queria. —Foi uma dedução — disse ela, e respirou aliviada quando ele soltou seu braço — vi-os, a sua mulher e a ele, a manhã que saíram do hospital. —Vá, felicidades. Saiu-te bem a jogada, verdade? Ron olhou a Matt, e a expressão de seus olhos gelou o sangue nas veias a Ardem. —É um menino muito bonito; fiz um bom trabalho ao engravidá-la. Percorreu-a uma onda de náusea, e Ardem pensou que ia desmaiar; surpreendeuse ao ver que continuava de pé. — Você? —disse com voz estrangulada. O riso dele foi repugnante. — Que passa, senhora McCasslin? Acha que teve tantas moléstias para nada, que te casou com o homem errado? Seus debochas a ficaram vermelhas ainda mais, e perguntou desesperada: —Matt é filho de Drew? Ron olhou-a com expressão astuta, desfrutando da dor que tinha causado. —Sim, McCasslin contribuiu com sêmen, mas como você se lembra, eu fiz todo o trabalho. O alívio que sentiu foi tão grande que Ardem se apoiou contra a lateral do carro; a vertigem desapareceu ao cabo de uns segundos, mas o sabor metálico em sua 110


boca e a sensação enfermidade em seu estômago persistiram. Aquele homem era diabólico, capaz de qualquer coisa. —A verdade é que me fez um grande favor ao se casar com McCasslin — disse ele, enquanto tirava das unhas uma suposta sujeira... Que talvez fosse muito real. Ela se negou a lhe dar o gosto de perguntar a que se referia, e se limitou a olhá-lo com calma. —Estou com problemas, Ardem; você ficará chateada em saber que o consultório pelo que teu santo pai trabalhou tanto já não existe. —Quando me divorciei de você deixou de ter algum significado para mim — disse ela — deixou de ser o trabalho de meu pai, e havia-se convertido em teu brinquedo. Não queria nada teu. Ron encolheu seus ombros e disse: —Bom, o importante é que faliu, o que nos leva ao motivo desta agradável visita — se inclinou para ela e sussurrou com tom de cumplicidade — Você vai me ajudar a recuperar algumas de minhas perdas. —Você está louco, nem sequer cuspiria sobre você se estivesse em chamas. E esta «agradável visita», como você a chama, terminou. Não volte a me incomodar. Ardem agachou-se e levantou a Matt em seus braços, limpando seus joelhos num gesto ausente; abriu a porta do carro e colocou-o dentro, ignorando seus protestos. —Espera um momento, zorra — disse Ron, e agarrou-a do braço antes que ela pudesse entrar no veículo — que você acha se eu fizer uma breve visita a teu marido? Ardem deixou de respirar e conteve o fôlego enquanto olhava os olhos enraivecidos daquele homem. —Você tem uma má opinião de mim, mas recorda que tanto sua insípida esposa como eles me consideravam um ser supremo. Estou seguro de que se alegraria de me ver, quer que tenha uma pequena mentira com ele? Inundou-a uma onda de pânico, e Ardem rogou que ele não percebesse. No entanto, o brilho vitorioso em seus olhos revelou que ele havia notado sua reação. —O senhor McCasslin não sabe quem é seu anterior marido, verdade? Não sabe com que zorra cara se casou, qualquer um que vale cinquenta mil dólares. Não sabe nada, verdade? Vá que interessante... — deu-lhe um empurrão, e Ardem caiu sobre o assento do carro inesperadamente — estaremos em contato. Era uma promessa, uma ameaça que a deixou amortecida durante toda a viagem de volta a casa.

— Não gosta de escalopes de filé? Ardem deixou de brincar com a comida e sorriu a seu marido, que a observava com um preocupado olhar interrogante, e disse: —Despulpe-me, achei que gostaria de ter uma noite mais tranqüila. Naquela noite haviam saído para jantar á sós num dos locais mais conhecidos de Lahaina. —Você deveria ter me dito, poderíamos ter ido a outro lugar — Drew tomou sua mão e deu-lhe um suave abraço, olhando com uma expressão íntima capaz de derreter um coração — Ou poderíamos ter ficado em casa, ter jantado em nosso quarto e tê-lo passado muito, mas que muito bem. A insinuação de suas palavras, a lembrança de outras noites similares e o amor tão evidente nos olhos dele fizeram que Ardem sentisse a dor da culpa que vivia. Toda a tarde esteve receosa, temerosa de olhar acima do ombro e ver Ron. 111


Odiava-o. Era uma pessoa repugnante, e seu egoísmo a enojava. Mas, era ela melhor que ele? Havia manipulado a Drew de forma deplorável, por que não havia confessado quem era desde o princípio? Por que era tão difícil lho confessar nesse momento? Ambas as perguntas tinham a mesma resposta: porque amava-o, muito. Assim que colocou seus olhos nele, sua objetividade saiu voando, e não havia regressado jamais. Era tão difícil confessar nesse momento que era a mãe biológica de Matt como o havia sido no dia em que ele se aproximou pela primeira vez dela para cumprimentá-la. Mas sua culpa estava ficando insuportável, e a corroia como um câncer. Não suportava pensar que se parecia em algo com alguém da laia de Ron. —Sinto estar arruinando a sua noite — suspirou, desejando poder estar na segurança do corpo masculino, esconder-se de todos os perigos. —Nenhuma noite contigo pode ser uma ruína — disse ele com voz suave, e sorriu ao dizer — Bom, se não temos em conta as vezes antes de nos casar em que estava desesperado por me deitar contigo e a ti só te faltou me castrar. Ela se jogou a rir. —Comportei-me como uma dama — disse com fingida compostura. —Sim, claro, estou seguro de que o que realmente queria era... Parou em seco ao ver algo ao outro lado da sala que o deixou sem fala. — Drew? Demorou um momento em voltar a olhá-la, e pareceu incapaz de concentrar-se. —Eh... qúe? Oh, Despulpe-me, que me dizia? —Era você quem estava falando, não eu. Ardem virou-se para ver o que havia capturado sua atenção, e se fez um nó na garganta ao ver a Ron Lowery sentado só numa mesa, olhando seu cardápio com atitude despreocupada. Sua presença ali não era nenhuma casualidade, estava segura disso. Apressou-se a virar-se para Drew para ver se ele havia notado seu temor, mas ele seguia com o olhar fixo em Ron. — Conhece aquele homem? — perguntou ela com voz vacilante. Nesse momento, percebeu que havia optado por seguir jantando; havia tido a oportunidade perfeita para dizer-lhe «Drew, acho que conhece meu primeiro marido; Ellie e tu foram vê-lo faz três anos, e ele encontrou a uma mãe para seu bebê. Eu sou essa mulher». No entanto, havia decidido tomar o caminho mais fácil; não podia pôr a prova o amor de Drew, ainda era muito novo e frágil. E queria muito a Matt, não podia correr o risco. —Eh... se — falou Drew enquanto seguia olhando a Ron, que naquele momento estava caçoando com uma camareira. Ardem achou detectar certo matiz de amargura na voz dele, e viu como apertava os lábios em um gesto familiar que indicava que se sentia incomodado por algo. Ao que parece, não havia a Ron em tanta estima como seu ex-marido acreditava. —É... Ele é... Ellie e já o conhecemos no continente; teve um tempo em que foi um amigo nosso muito especial. —Já vejo — disse Ardem antes de tomar um gole de água. —É médico, e fez-nos um favor especial pelo que pagamos uma boa cifra, mas depois tentou me tirar mais dinheiro. Ardem sentiu-se doente ao saber que, após que Matt nascesse Ron havia tentado conseguir mais dinheiro do casal; talvez aquele homem não tivesse moral? — Por que te pediu mais do que tinha lembrado? —perguntou, tentando aparentar calma. —Disse que haviam surgido algumas complicações que não tinha, antecipado — disse ele com expressão ausente enquanto seguia olhando a Ron; então pareceu 112


perceber de que havia dito mais do que pretendia, e voltou sua atenção para ela. Esboçou um sorriso forçado e disse — Pergunto-me que faz em Maui; suponho que estará de férias. —Seguramente — Ardem perguntou-se como sua voz podia parecer tão normal quando estava à beira da histeria. —Se você acabou de mutilar o escalope, será melhor nós irmos. —Sim, já acabei. Enquanto Drew conduzia-a para a porta, Ardem percebeu que teriam que passar junto à mesa de Ron, e se perguntou se seria capaz de sobreviver àquilo. Sabia que ele os havia seguido até o restaurante, que era sua forma de demonstrar a seriedade de suas ameaças. Ele queria algo dela, e insistiria com a tenacidade de um bulldog até que ela cedesse. E Ardem sabia que, para salvaguardar sua vida com Drew e Matt cederia a suas demandas. Ron atuou com um ator digno de um prêmio; quando seu olhar pousou em Drew, seus olhos se abriram com alegre surpresa, mas não mostrou nenhum sinal de reconhecê-la. O coração de Ardem martelava em seu peito quando o ouviu dizer: — Drew McCasslin! Alegro-me de voltar a vê-lo. —Olá, Lowery, como está? Deram um aperto de mãos, e Ron disse com uma afabilidade excessiva: —Você está com um aspecto fantástico, ultimamente os jornais esportivos falam maravilhas de você — seus olhos se nublaram, e disse com voz compassiva — Sinto muito, por sua esposa, como está o menino? Ardem sentiu como os músculos de Drew se contraíam com uma grande tensão, mas ele falou com tom calmo: —Obrigado por suas condolências. Matt está muito bem, é um menininho de dois anos. —Alegro-me de ouví-lo. Drew atraiu suavemente a Ardem para diante. —E esta é minha mulher, Ardem. Carinho, eu te apresento ao doutor Ron Lowery. Ardem pensou de repente que nas comédias com freqüência apareciam situações assim, e se perguntou como alguém podia pensar que houvesse a mais mínima graça. A ironia era muito cruel. A ironia era que ele a ameaçou todo o dia e estava a ponto de sair à superfície, e não soube se começava a dar maníacas gargalhadas ou começava a gritar. De alguma forma, conseguiu manter o controle; no entanto, por nada do mundo daria a mão a Ron, e se limitou a dizer: —Doutor Lowery. —Encantado de conhecê-la, senhora McCasslin — disse ele com amabilidade. Seu sorriso sincero enfureceu Ardem, que desejava tirar sua máscara e revelar a fraude que era. Mas se delatasse Ron, delataria a si mesma. Os dois homens falaram de bobagens uns minutos: Ron disse que foi às ilhas para tirar umas semanas de férias, e Drew desejou que tivesse uma estância agradável. Ardem conseguiu conter seus nervos, enquanto seu sorriso era tão tenso, que sentiu que de uma hora para outra se romperia em mil pedaços. —Fiquei contente em vê-lo — disse Ron finalmente. —Eu digo mesmo. Espero que desfrutes das férias — disse Drew. Já no carro, ligou o motor, mas não arrancou, e limitou a olhar em silêncio acima do capô. — Aconteceu algo? —perguntou Ardem. —Não, é só que há algo em... A voz de Drew foi-se apagando enquanto ela permanecia tensa ao seu lado; só seu rígido controle impedia que caísse. 113


—O doutor Lowery foi uma pessoa importante para Ellie e para mim; já te disse que foi difícil para ela conceber, e ele... O fez possível que tivéssemos a Matt. Graças a ele tenho a meu filho, mas... Maldita seja, Ardem, não sei como o explicar. Ele sacudiu a cabeça, como se ao o fazer seus confusos pensamentos fossem adquirir uma verdadeira lógica. —É mais que o fato de que me pedisse mais dinheiro; há algo nele que eu não gosto, que me impede confiar muito nele. Não sei por que, mas o ver hoje aqui me inquietou. Não o havia visto desde que Matt nasceu, e não achei que voltaria a cruzar com ele. Soltou uma risada sem humor e arrancou. —Suponho que achas que estou louco. —Não — disse dia, com a olhar fixa nas luzes do asfalto — não acho que esteja louco. Eu também não confio nele.

— Você vai me dizer o que a preocupa, agora que já apaguei as luzes? Ardem já levava vários minutos na cama quando Drew apagou a luz e se deitou junto dela. Ambos estavam nus já que ela havia decidido deixar de usar pijamas. Com um sexy sorriso, Drew disse na primeira semana de casados que assim «poupavam tempo». Mas nessa noite Ardem não tinha posto nada, quis o fazer; havia precisado esconder-se, cobrir-se, e havia-se enroscado na cama olhando pára fora. —Não me preocupa nada — murmurou sobre o travesseiro. —Então você mudou completamente de personalidade desde que saiu do clube esta tarde, porque você está com nervosa; não jantou direito e não falou na viagem de volta, mas o mais surpreendente é que quase se esqueceu de dar um beijo de boas noites a Matt. Está claro que está acontecendo algo. Toda a ansiedade de Ardem saiu à superfície, e o pagou com quem havia mais perto: Drew. —Não quero fazer amor, e já pensa que tem algo errado; talvez não esteja de humor, vale? Deus, espera que eu me acenda e me apague como uma bombinha, não posso querer uma noite tranqüila? Teve vários segundos de silêncio antes que Drew afastasse os lençois e se levantasse de um salto da cama. —Parece-me que tens um problema de cor, porque não recordo te ter pedido que façamos o amor. Ele se afastou três passos antes que ela implorasse que voltasse. — Drew! — Gritou, e depois de sentar na cama estendeu os braços para ele — Despulpe-me, Despulpe-me... Por favor, volta, abraça-me. A luz de lua que se filtrava pela janela revelou o fio prateado de lágrimas nas bochechas dela; ele voltou a seu lado de imediato e, a abraçando com força, lhe acariciou com ternura o cabelo. — Que passa, Ardem? É algo que fiz ou algo que não fiz? —Não, não — gemeu ela — não deveria ter falado assim com você, não era minha intenção, o que passa é que... — Que? Me diga. Ela buscou em sua alma coragem para confessar tudo sobre Ron, e Matt, mas não pôde encontrá-la; nesse momento, sua coragem era tão elusiva como o feixe de luz da lua que refletia no cabelo dele. —Não é nada, para valer; é só que... Não estou de bom humor hoje, isso é tudo. 114


—Deite-se — disse ele com macieza, e se reclinou junto a ela sobre os lençois. Fazia calor suficiente para que dormissem sem se cobrir com nada, com só a brisa oceânica sobre a pele. Ele se deitou depois dela, a aproximando para si e envolvendo com seus braços com um gesto protetor. Seu fôlego acariciou o ouvido dela quando sussurrou: —Eu te amo, Ardem. —Eu também te amo — disse ela, apoiando sua cintura contra ele, sentindo seu membro cálido e orgulhoso. As mãos de Drew percorreram a parte frontal do corpo dela para cima e para baixo, traçando o vale que dividia seu torso em duas partes. — Estás preocupada porque não ficou grávida? Isso a havia preocupado, mas não havia dito nada; haviam tido a esperança de que ela concebesse desde o dia que ele havia lido seu poema. —Acontecerá cedo ou tarde — disse. —Eu também acredito nisso, mas a verdade é que não me importo muito se ficar grávida ou não. Eu te amo, Ardem. E não quero que ache que se não temos um filho te quererei menos. Ela levou uma das mãos dele aos lábios e a beijou. —Sou egoísta, quero tê-los todo para você. —O é. Já sento como se fosse a mãe de Matt; ao vê-los juntos, ninguém adivinharia que não o é. Ela afogou um soluço e se apertou mais a ele. Não merecia a confiança cega daquele homem, seu amor incondicional. —Quando faço amor com você, o último em minha mente é conceber um menino; a única coisa que existe é você, a única coisa que faço é te amar. Totalmente. Os soluços dela mudaram com um suspiro quando Drew tomou um de seus seios em sua mão, enquanto sua voz profunda murmurava palavras de amor em seus ouvidos. —Penso em teus peitos, em sua forma perfeita; adoro sua plenitude, tocá-los assim. Seus dedos roçaram os mamilos, que já estavam excitados, só por suas palavras. —Você é tão linda — sussurrou enquanto seguia acariciando-a — tua pele é suave, suave — sua mão desceu pelo estômago de ela — adoro beijá-la, sentir contra meu rosto e meus lábios. E isto... — seus dedos roçaram o cabelo escuro entre suas coxas — isto é tudo mulher — a suave exploração se intensificou, e acrescentou — Adoro esta parte de ti. Suas audazes carícias e a terna invasão de seus dedos fizeram que ela gemesse. —Quando estou dentro de ti, sinto algo incrível. —Drew — girou a cabeça para ele, e o beijou profundamente. —Nada do que faça fará que te queira menos. Não pode te ganhar meu amor, Ardem, porque já é teu. Um amor livre e sem exigências, incondicional e eterno. Ela se voltou em seus braços para olhar aos olhos e disse: —Mudei de idéia. Quero fazer amor. Quando Ardem pôs as mãos nos seus ombros e fez que a pusesse de costas, Drew sorriu com prazer e surpresa. Ela se colocou sobre ele, fazendo que gemesse de prazer; seus seios moviam-se sedutores em frente a seus olhos azuis, e sem acabar de crer sua própria audácia, Ardem tomou um em uma mão como uma oferenda. — Poderias...? Ele aceitou o presente com entusiasmo; banhou os tensos mamilos com sua língua, a enroscou ao redor dos escuros montículos até que ela sentiu o 115


movimento em seu mesmo centro. Ele tomou um peito em sua boca justo quando ela desceu sobre seu sexo. Drew murmurou contra seus seios coisas sem sentido enquanto ela se movia sobre ele, o afundando mais e mais profundamente. —Oh, Deus...— gemeu ele sobre a travesseiro. Ardem virou a cintura, alçou-as, abaixou-as; queria tê-lo completamente dentro de seu corpo, para que não pudesse ter dúvidas de que se pertenciam o um ao outro, de que seu casamento era real. Drew respirava com dificuldade, quase com violência, mas suas caricias demonstravam ternura; amassou seus seios, e deixou que uma mão se deslizasse até o lugar de união de seus corpos. Ardem estremeceu. —Oh, Drew, por favor, por favor... Ela não sabia se estava suplicando que parasse ou que não se detivesse jamais, mas ele sim. Continuou com aquele divino tormento até que sentiu que o corpo feminino se convulsionava, e se apoiou a sua cintura para a ancorar a ele enquanto compartilhavam o orgasmo final de prazer. Exausta, Ardem saiu de cima dele, e seus estômagos se moveram juntos enquanto ofegavam, tentando respirar. Seus corpos estavam cobertos de suor, seus músculos débeis e inúteis, mas seus corações transbordavam. Ao fim, Drew moveu-se até que deitou ao seu lado, e separou as úmidas mechas do cabelo escuro do rosto dela enquanto a apertava contra si. —Nosso amor encarna tudo que é bom, honesto e puro no mundo, Ardem. —Sim — disse ela com voz rouca, olhando com um sorriso. Quando Drew dormiu, ela se jogou a chorar de novo, em silêncio.

— Falo com a senhora da casa? Ardem apertou os dedos ao redor do telefone. Reconheceu a voz untuosa de imediato, durante dias havia temido ouvi-la. Sabia que Ron chamaria, mas não sabia quando, e nesse momento quase se sentiu aliviada: ao menos, a incerteza havia chegado a seu fim. A partir desse momento só teria que se preocupar pelo que ele quereria dela. —Sim — falou com tom cortante. —No Orchid Lounge. Às três em ponto. Ron desligou, e Ardem fez o mesmo com o cuidado de alguém que tivesse sido submetido a uma terapia física, e quisesse se assegurar que seus movimentos eram precisos e corretos. Ron não havia dado muito tempo, já eram mais de duas horas. Matt estava dormindo, e Drew estava em seu escritório falando com Ham num telefonema a longa distância na outra linha. Pensavam ir à praia assim que Matt acordasse. —Senhora Laani — disse Ardem, assomando a cabeça pela porta da cozinha — não quero molestar Drew enquanto fala por telefone, poderia lhe dizer que decidi ir fazer compras esta tarde? Diga-lhe que vá à praia com Matt sem mim, talvez chegue a tempo e me reúna com eles mais tarde. —Eu posso comprar amanhã qualquer coisa que precise para a casa — ofereceu a governanta. —Não, obrigado. Preciso umas coisas para mim, não acho que chegarei muito tarde. Saiu da casa um par de minutos depois, vestida com uma saia de popelina e uma camisa. Não pensava se arrumar para ver Ron. Sabia que o Orchid Lounge estava em um desorganizado bairro fora de Lahaina, 116


havia passado por ali muitas vezes de caminho à cidade. Mas era ser muito pior do que esperava: estava mal iluminado e cheio de fumaça, e o cheiro a cerveja velha impregnava a sombria atmosfera. Seus olhos demoraram vários minutos em acostumar à falta de luz, e então percebeu que era a única mulher no local. Podia sentir as olhares que a observavam com lascívia desde as esquinas em sombras. Ardem engoliu com dificuldade, dirigiu-se à mesa mais próxima e sentou-se. —Uma água com gás, por favor — disse ao garçom, que havia apressado a tomar nota. O homem havia o cabelo cheio de gel, e levava uma camisa larga com um estampado hawaiano não muito limpa. —Sim, senhora — disse em um tom de voz que arrepiou a pele de Ardem. Ela fixou os olhos no relógio de néon que havia na parede oposta, e não os separou de ali quando o garçom deixou com um pequeno golpe sua bebida na mesa, sem portas-copo nem guardanapo. Ardem não tocaria naquele copo nem por todo o ouro do mundo; ignorou os olhares inquisitivos e sinistros, os comentários sussurrados seguidos de fortes risadas. Ron estava-se atrasando já próximo de um quarto de hora, e Ardem sabia que estava fazendo de propósito para debilitá-la, para assustá-la, para humilhá-la; era exatamente o tipo de guerra psicológica que ele gostava. Ardem não estava disposta a ficar nem um minuto mais naquele lugar sórdido. Justo quando estava tomando sua bolsa para sair, Ron se sentou em frente a ela. — Aonde vais? —perguntou-lhe com tom beligerante. —Não gosto do lugar que elegeu para este encontro — disse ela com voz tensa. Os outros clientes do estabelecimento estavam lançando olhadas de suficiência, e sem dúvida pensavam que foi ali encontrar com um amante... Ou com um cliente. Ardem estremeceu de repulsão. —Não importa que se gosta ou não — disse Ron, e fez de um gesto ao garçom; depois de pedir um whisky puro duplo, olhou-a com aqueles olhos traiçoeiros capazes de derrubar as defesas de Ardem como aríetes, e disse — Preciso vinte mil dólares. Quando o garçom deixou o whisky de Ron sobre a mesa, perguntou a Ardem se queria outra bebida; ela pensou que era uma pergunta absurda, já que não havia tocado a primeira. Negou com a cabeça sem dignar-se a olhar ao homem, que lembrava a uma barata por como se movia na escuridão. Ron bebeu meio copo rapidamente, fez uma careta e engoliu com dificuldade, e voltou a tomar outro gole, dessa vez menor. —Você vai conseguir esse dinheiro para mim — disse. —Vai para o inferno. Não penso em fazer nada parecido. Os olhos dele percorreram seu peito, e a boca masculina se curvou em um desagradável sorriso. —Sim que o fará — tomou outro gole e acrescentou — Há uns tipos que estão atrás de mim, Ardem. Tipos duros, assassinos. Devo-lhes um montão de dinheiro, e querem que eu devolva. —Este problema é teu, não o meu. —Oh, claro que é teu problema, eu estou fazendo que seja. Você está casada com um tenista famoso, um vip, um tipo importante e com recursos; nem sequer o teria conhecido de não ser por mim, você me deve. Ardem fez algo que nunca achou que faria em presença de Ron Lowery: começou a rir. —Está louco — disse sem ocultar seu desprezo por ele — após todo o dano que 117


me fez, de me pedir que desse a luz ao filho de outro homem, dizer que eu devo algo a você. Ele encolheu seus ombros e disse: —Não importa, vai fazer o que eu digo, como sempre. Porque é uma covarde, Ardem. — Não sou! — assobiou ela. — Não? — perguntou ele com um sorriso cínico e outra risada sinistra. Jogou um olhar acima do ombro, e viu aos homens que os observavam — Não estava nem sequer um pouco assustada antes que eu chegasse? Não gosta nada ter que estar aqui, de verdade? Todos estes homens estavam devorando com a olhar, pensando no que você tem embaixo da saia; tive um pouco de medo? Não se sentiu um pouco nervosa? Aposto a que há um pequeno fio de suor baixando entre teus peitos, a que sim? Estão esses preciosos e grandes peitos teus cobertos de suor? —Deixa de falar assim. —E provavelmente também tem um fio de suor entre as coxas, verdade que sim? Com uma só palavra minha, aposto a que estes homens estariam encantados de comprovar. —Ron, por favor. Ele fingiu surpreender-se. —Como, ouvi certo tremor em tua voz, uma súplica? — Cruzou os braços sobre a mesa e inclinou-se para ela — assim quero te ver, Ardem; complacente — tomou outro gole, encostou no respaldo da cadeira e fez um gesto ao garçom para pedir outro whisky; quando teve seu nova bebida, disse — Agora, falemos de negócios. Preciso cinco mil de imediato, e os outros quinze mil pode me dar durante as próximas semanas. —Ron — disse ela, lutando por se manter razoável — Eu não tenho tanto dinheiro. — Sei que tem uma maldita conta corrente! —exclamou ele, e deu um soco na mesa. Ardem deu um salto, apesar de estar decidida a não mostrar seu medo. —Sim, tenho uma conta corrente — disse com uma serenidade forçada — mas como vou explicar a Drew uma despesa tão enorme? —Isso é coisa tua. Se pode enganar ao tipo para que se case contigo, pode pensar em algo para conseguir o dinheiro. —Não o enganei — disse ela com veemência. —Ele não opinaria o mesmo se eu dissesse em quem coloquei com seu sêmen? — Sacudiu a cabeça com zombadora aflição — não, acho que não seria um marido muito compreensivo soubesse disso. —Poderia negá-lo. Poderia admitir que foi meu marido, mas isso não prova que tive o filho de Drew. Diria que estava tentando nos chantagear. —Ardem, Ardem, ainda é tão ingênua? Lembrasse do advogado, carinho? É um amigo meu, e tem os documentos em uma caixa forte; só tenho que mostrá-los a McCasslin. Além do mais, já te disse que me tem num altar porque proporcionei o menino. Foi sua vez de mostrar-se zombadora. —Não conte com isso, Ron. Contou-me como tentou tirar mais dinheiro por umas complicações que surgiram. Não tem em tanta estima por você como acredita. —Ainda assim, não gostaria nada que contasse a imprensa do menino; prejudicaria sua imagem, por não falar da reputação de sua querida difunta esposa — a olhou com expressão calculista e disse — Diga-me, Ardem, não esta muito apertado os três na mesma cama? Tu, teu tenista e o fantasma de sua 118


mulher. Quis feri-la, e havia-o conseguido; soubesse-o ele ou não, havia descoberto sua única vulnerabilidade. —As coisas não são assim — protestou com tom desesperado. — Não? Estava loucamente apaixonado dessa mulher, inclusive alguém tão cínico em questões do coração como eu percebi; prefere acreditar, que conseguiu a substituir? Recorda que eu também estive casado contigo, Ardem, e como donade-casa, cozinheira e mãe é muito boa, como amante é patética. Ela sentiu uma onda de puro ódio; ardeu em desejos de alardear de sua vida sexual com Drew, de contar àquele bufão a cada detalhe de sua vida juntos. Tinha os punhos apertados com força a seus lados quando disse: —Drew me ama, e eu o amo. Queremos ter um filho e... Seu riso grosseiro interrompeu-a. —Um filho? —riu com mais força — Vocês querem outro bebê? De onde tirou a idéia de que ainda pode ter filhos?

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Capítulo 12 — Que... que quer dizer? — seus pulmões estavam-se fechando, não podia respirar, ia morrer ali. —Quero dizer, senhora McCasslin, que quando deu a luz a Matt eu a esterilizei. Esvaziei-te. Não mais meninos. —Isso é impossível — sussurrou ela — é impossível. — Não te lembras de que estavas anestesiada? —Mas... mas não teve nenhuma incisão, se me tivesses unido as trompas... Ele eliminou seus argumentos com um indolente gesto da mão. —Sempre há novos métodos que provar, e que cobaia melhor do que a esposa de um ginecologista? Temi que se arrependesse de renunciar ao bebê, sobretudo se Joey morresse; não queria ter outro filho se voltasse a acordar seus instintos maternais, o tratamento médico de Joey me custou uma fortuna. Ela soltou uma exclamação agoniada, como se ele a tivesse ferido de morte; como podia falar assim de Joel, seu próprio filho? Além do mais, aquele homem cruel e impiedoso havia destroçado todas suas esperanças de ter outro bebê. Sentindo-se completamente derrotada, buscou às cegas sua bolsa. — De quanto você precisa, cinco mil? Queria que Ron saísse de sua vida para sempre; se pudesse consegui-lo com dinheiro, daria o que ele pedisse. —Sim, para começar. E preciso-o amanhã. — Amanhã? — exclamou, perguntando como ia conseguir aquela quantidade em tão pouco tempo — não acho que possa o conseguir tão cedo, mas tentarei — se levantou e tropeçou, um pouco mareada. Ele a agarrou do braço e disse: —Você me dará o dinheiro amanhã, ou terei que fazer uma visita a esse suposto marido seu. Ele e eu temos muito de que falar. Emocionada ainda, Ardem conseguiu libertar seu braço e foi com passo instável para a porta. O sol a cegou... ou foram as lágrimas?

— Amanhã? —repetiu Ardem. Drew havia soltado a bomba justo quando ela levava o garfo à boca, e o deixou suspenso no meio caminho. Voltou a baixá-lo e insistiu—: Vamos-nos a Califórnia amanhã? «Amanhã, amanhã, amanhã...», a palavra parecia rodar por sua cabeça como a bola de uma roleta, ressoando incessantemente. —Já sei que é um incomodo, mas acabo de inteirar-me faz uns minutos. Drew havia esteve falando com Ham, e quando por fim apareceu na sala de jantar, já era bastante tarde. Como Matt estava inquieto e tinha fome, Ardem já havia começado a lhe dar de comer. —A senhora Laani pode preparar as coisas de Matt esta noite; tomaremos um avião à uma em ponto para Honolulu, e depois um vôo noturno a Los Angeles. — Por que tanta pressa? —Ardem estava consternada; como ia pagar Ron? Levava toda a tarde tentando encontrar uma desculpa convincente que poder dar a Drew quando pedisse o dinheiro. —Usa a guardanapo como papai, Matt — disse ele, fazendo uma demonstração para seu filho, e sorriu quando o menino obedeceu — Por várias razões: em primeiro lugar, há três torneios que Ham acha que deveria participar: não jogarão muitos dos melhores, de modo que é possível que consiga algumas vitórias. São 120


em San Diego, Las Vegas e San Francisco, de modo que as viagens não serão muito longas, e se celebram com só em uns dias de diferença. Além do mais, Ham e eu temos que ocupar de uns assuntos. Ardem ficou olhando seu prato; desde que voltou do encontro com Ron, era cada vez mais difícil olhar Drew nos olhos. Não tinha um, senão dois segredos para guardar... que era a mãe de Matt, e que não podia ter filhos. Se ele descobrisse qualquer um dos dois, teria razões mais que suficientes para odiá-la, e se isso não fosse pouco, ainda tinha que enganá-lo para conseguir dinheiro e pagar a um chantagista. Deus, como pode afundar tanto assim? Apesar do que Ron acreditava, ela não tinha fundos ilimitados; Drew tinha aberto uma conta corrente em seu nome, que mantinha atualizada com uma importante soma de dinheiro e onde também se ingressavam os cheques pelos artigos ou as histórias que ela escrevia. —O dinheiro é seu, faça com ele o que quiser — havia dito Drew ao fazer o depósito inicial — mas não o gaste em artigos para a casa, há outra conta para isso. Esta é para todos seus caprichos. Ardem havia consultado o saldo após falar com Ron, e a cifra estava bem longe dos vinte mil dólares que precisava; de fato, não chegava a cinco mil. Sabia que se não conseguisse dinheiro Ron contaria tudo a Drew, e para piorar tudo, no dia seguinte iriam viajar ao continente. Quando a senhora Laani foi recolher a Matt para levá-lo ao seu quarto e que eles pudessem acabar de jantar tranqüilo, Ardem se limitou a assentir com gesto distraído. Beijou a bochecha do menino, mas depois nem sequer recordaria tê-lo feito. Sentia-se como uma múmia, completamente envolvida em seu problema, aprisionada e imóvel, completamente afastada da vida. Quando estiveram sozinhos, Drew seguiu explicando as razões da viagem. —Surgiu a possibilidade de que Ham e eu compremos ações de um conjunto de lojas esportivas; é uma empresa que opera a nível nacional, e em um par de anos poderemos comprar as ações dos outros sócios para ter o controle total. — Isso é fantástico, Drew. —Consegui um crédito com um banco de Honolulu, de modo que talvez andemos um pouco curtos de dinheiro até que eu ganhe alguns torneios e comece a receber os rendimentos dos novos contratos com os patrocinadores. Importa-se que tenhamos que controlar mais as despesas por um tempo? Disse-o em tom de piada, mas Ardem mal pôde esboçar um sorriso; enquanto ela encontrasse uma boa desculpa. Drew não poderia deixar o dinheiro, porque ia gastar todo o efetivo que tinha para poder colocar num negócio que asseguraria o futuro de sua família. Ardem sentia que sua alma se afogava que seus sonhos saíam gota a gota de seu coração, que a consumia uma negra opressão. A ansiedade de Ardem pela viagem iminente alarmou Drew; de fato, á dias estava morto de preocupação por ela, desconcertado pela súbita mudança em seu caráter. Nunca antes se havia mostrado nervosa ou tensa, mas ultimamente se jogava a chorar ou se enfadava à mais mínima provocação. Se ele não lhe falava diretamente, ela adotava uma expressão ausente, completamente alheia ao que acontecia ao seu redor. Quando estavam falando, seus olhos com freqüência se nublavam e Drew sabia que, enquanto ela dava as respostas adequadas, não estava escutando o que lhe dizia. Inclusive Matt, que ela sempre havia tratado com infinita paciência, sofria com seu mau humor. Ao princípio, ele achava que a causa eram as mudanças hormônios mensais, mas havia durado muito tempo. Depois pensou esperançoso que ela poderia estar grávida, mas quando ele sugeriu com um grande sorriso, ela começou a chorar e 121


o acusar da querer só como yegua de criança. Depois de frear o impulso de soltar uma maldição e sair do quarto batendo a porta, ele havia aproximado a ela, a havia tomado entre seus braços e a havia consolado com declarações de seu amor sem limites. Mas com isso só conseguiu que ela chorasse ainda mais, Drew não tina nem idéia do que a preocupava, mas estava claro que passava algo. Por que não o contava, por que não se abria com ele? Sabia que podia a ajudar, só precisava que ela dissesse o que acontecia. Queria que sua mulher voltasse, a Ardem que ria e amava com a generosidade e a espontaneidade de uma menina. Ela pareceu ficar ainda mais agoniada ao inteirar da viagem. Por que, talvez não gostasse de sair turnê? Ele achava que se tinha aclimatado muito bem, nada parecia incomodá-la. Pelo amor de Deus, que estava passando? Tinha haver com ele? Não estava satisfeita com seu casamento? A idéia atravessou o peito de Drew como um punhal. —Não... não é realmente necessário que eu também vá, verdade? — disse Ardem, enquanto umedecia os lábios com gesto nervoso — isto é, talvez séria melhor para você que não eu tivesse… que nós não estivéssemos o estorvando. Você tem que ir a reuniões, e... Ele a olhou com atenção durante uns segundos, e finalmente disse: —Matt e você nunca poderiam me estorvar. Ardem, eu os quero sempre junto a mim. E quanto às reuniões, esperava que você me acompanhasse; quero que seja minha colega de forma visível e integral em todos os aspectos de minha vida, e como este projeto é vital para nosso futuro, pensava que você gostaria de se envolver. Fincou os olhos nos dela, e acrescentou: —Além do mais, há outra razão pela qual deve ir, mais importante que as demais: quero que você vá ao médico. Para impedir que tremessem suas mãos, Ardem se apoiou na cadeira até que as juntas se acalmaram. —Mas isso é... Isso é ridículo. Por que tenho que ir ao médico? —Porque acho que precisas uma revisão exaustiva. Claro que você não tem nada, mas quero a opinião de um profissional. — Que tipo de consulta quer que eu vá? —disse ela com voz irritada — à de um psiquiatra? —Acho que começaremos por um de médico geral — a expressão de Drew suavizou visivelmente, e acrescentou — Ardem, você não é uma máquina. Você teve que se acostumar a um novo marido, a outro filho e a outro clima, é normal que sua mente e seu corpo tenham que passar por um período de reajustes. Acho que ambos nos sentiríamos melhor se você fosse ver um médico. Sim, Ardem não tinha nenhuma dúvida de que ele se sentiria muito melhor quando o médico lhe dissesse: «Sua esposa tem uma saúde perfeita, mas é estéril; lamento-o, senhor McCasslin, sei que queria ter outro filho». Não sabia que ia fazer, pois a verdade era que não tinha por que se preocupar; quando Ron não recebesse seu dinheiro no dia seguinte, contaria a verdade a Drew. Então acabaria tudo, e ela não teria que se preocupar com nenhuma visita ao médico. De modo que não se oporia no momento, não tinha forças para fazê-lo; a dor e a culpa haviam-na deixado sem energia. —De acordo, irei ao medico. —Genial. Ham vai marcar uma hora. Aquela noite, em vez de fazer amor, Drew demonstrou seus sentimentos beijandoa profundamente e apertando-a contra sua suavidade. Ainda assim, Ardem passou toda a noite tremendo. 122


— Como não pode conseguir?—a voz de Ron era ameaçadora e desesperada. —Já disse, hoje posso te dar algo mais de três mil. É tudo o que tenho, e não posso conseguir nada mais. Ardem falava em sussurros, temerosa de acordar os demais. Logo após o amanhecer, afastou os braços de Drew, colocou um vestido e desceu em silêncio as escadas para ligar o número de telefone que Ron havia dado. Ele atendeu de imediato, mas não gostou de nada o que ela tinha dito. — Três mil não me basta! —gritou — preciso cinco mil. —Não os tenho — gritou ela. —Consegue-os. —Não posso. Ron, em menos de vinte e quatro horas, você tem que ser razoável. —Os tipos que me perseguem não o serão comigo. —Deveria tem pensado nisso antes de se misturar com eles — Ardem tentou afogar o pânico em sua própria voz, e acrescentou — Nós vamos ao continente, talvez quando voltemos... — E quando será isso? —Em umas três semanas. —Esquece-o, para então estarei morto. Ardem não disse que aquilo seria um alívio para ela, mas o pensou, e ele intuiu seus pensamentos. —Não aches que minha morte repentina te livraria de todos teus problemas. Antes que voem meus miolos, direi a eles onde poderiam conseguir o dinheiro e contaria toda a história. Se você acha que eu sou uma moléstia, carinho, é que não sabes como atuam esses tipos. Você ficará muito melhor se só tens que tratar comigo. — Conseguirei o dinheiro — disse ela com tom firme — só tem que conseguir que seus credores esperem um pouco mais. —Nada de trapaças. Ardem; será melhor que esteja ao meio dia no bar com os cinco mil, ou montarei uma cena encantadora no aeroporto — Ron pendurou depois daquelas palavras agourentas. Ardem sentou-se para contemplar o oceano durante um longo momento antes de subir as escadas. Sentia como se tivesse uma corrente com uma grande bola de ferro ao redor dos tornozelos, e a cada passo requeria um grande esforço. Drew tinha razão, a angústia mental que sentia era como uma doença física. Assim que chegou acima, sentiu o som de risos e movimento que provia de seu dormitório; abriu a porta, e viu que Matt foi acordar seu pai. Ambos estavam nus, e Matt ria a gargalhadas enquanto Drew fazia cócegas e rosnava como um urso. Ardem foi até o berço e sentou-se na borda; seu coração inundou-se de amor, e seus olhos de lágrimas. Eles eram tudo o que havia no mundo, e os dois a queriam muitíssimo... Até aquela tarde, quando soubessem que era uma fraude. Seu amor não era fraudulento, mas como sabia que deveria contar tudo a Drew naquele mesmo momento, temia sua fúria e sua incompreensão. Havia esperado muito. Talvez pudesse lidar com Ron sozinha, talvez pudesse conseguir algum tempo se levava o dinheiro que tinha. Cada dia junto de Drew e seu filho eram valiosos, de modo que acumularia tudo o que pudesse. Drew piscou o olho enquanto punha a Matt de pé sobre seu plano e musculoso estômago. —É um menino incrível, verdade? —Sim — a voz de Ardem estava rouca de emoção. 123


O moreno de Matt era vários tons mais claro que o bronzeado de Drew, seu pequeno traseiro redondo com duas covinhas na parte superior, suas perninhas roliças, e os dedos dos pés fofinhos. O menino desfrutou da adoradora inspeção de seus pais com descarada vaidade, e tomando seu pequeno pênis na mão, proclamou: —pipí. Drew apareceu em gargalhadas. —Sim, você conhece a terminologia, mas ainda não aprendeu as aplicações práticas — se virou para Ardem com um grande sorriso de orgulho paternal no rosto, que se desvaneceu assim que viu que ela tinha os olhos nublados pelas lágrimas. Inseguro, sussurrou—: Ardem...? Ela o olhou com um trêmulo sorriso e conseguiu dizer: —Eu amo tanto vocês... Vocês dois são o meu mundo, minha vida, são tudo para mim. O olhar de Drew se nublou pelas lágrimas que assomaram a seus próprios olhos. —Deus, esperei durante dias que você voltasse a dizer que me ama, começava a me perguntar se não havia conseguido te dar o que esperava ao se casar comigo. Ardem alongou a mão e tocou seu peito, acariciando o cabelo dourado que o cobria. —Você me deu bem mais do que jamais pude sonhar. —Parece-me que há muita gente nesta cama — disse ele com voz rouca. Ardem sabia que não deveria fizer amor com ele quando suas mentiras a tinham cativa, mas talvez fosse a última vez que sentisse suas caricias e seus beijos; abaixou as pestanas em um gesto recatado enquanto percorria os mamilos dele com as unhas. —Acho que tens razão. —Então, alguém tem que se ir — se levantou como se tivesse uma dobradiça na cintura, e ficou nariz a nariz com seu filho — adivinha quem tocou, amigo meu — levou ao menino até a porta, o deixou no chão, deu uma palmadas no traseiro e disse — Vê buscar à senhora Laani, Matt. Além do mais, acho que é a hora de teu banho. Matt saiu correndo pelo corredor, gritando: — Auni, Auni! Drew fechou a porta depois dele e se apressou a voltar à cama; não perdeu nem um segundo, devorando sua boca enquanto tirava seu vestido e a explorava com atrevidas caricias. Os dedos dela se enredaram em seu cabelo, sujeitando sua cabeça enquanto movia a boca sob a dele para poder beijá-lo mais profundamente. Ardem se arqueou e retorceu-se contra seu corpo, tocando nos lugares que sabia que mais gostava. Seus mamilos apertaram-se contra o musculoso peito, acariciando a sua vez, e suas coxas abriram-se para levantar os dele; o poderoso membro enchido batia de desejo. —Deus, como senti sua falta — disse Drew com voz frenética, como se ela acabasse de chegar depois de uma ausência — Tenho desejado tanto tê-la assim, livre do que a preocupa tanto. Não volte a se afastar assim de mim nunca mais, Ardem, faz com que eu morra de medo. Não posso te perder, não posso. Acariciou o pescoço feminino com a boca, e mordeu com macieza a delicada pele. Ardem gemeu de prazer ante sua selvagem ternura, e quando seus lábios se fecharam sobre um distendido mamilo, engasgou com frases inarticuladas o êxtase que lhe dava. As mãos dela acariciaram suas costelas, e percorreram sua pélvis até chegar ao 124


cabelo dourado entre as pernas dele. Acariciou-o com timidez, explorou-o, rodeou-o e massageou, fez saber que estava pronta se esfregando contra ele. - Minha doce, Ardem — os suspiros de Drew eram pura música, canções de amor compostas só para os ouvidos dela. Ardem se arqueou, e ele a penetrou até o fundo com uma poderosa investida. Seus corações e seus corpos batiam ao uníssosso enquanto ele iniciava primeiro um ritmo lento e lânguido, seguido de outro rápido e furioso, e ela seguiu com seu corpo as diferentes cadencias. Drew havia conseguido que seu desespero se desvanecesse, ele curava todos seus males e lhe dava toda a felicidade do mundo, seu amor. Aquela era a celebração de Ardem antes da morte, seu canto do cisne, o último desejo que se concedia como condenada. Gritou seu nome e murmurou-o em um suave gemido quando sentiu a corrente de líquido vital banhando seu útero. Seguiu aferrada a ele por um longo tempo após que seus corações se acalmassem, com as pernas enlaçadas ao redor de suas costas. Gravou a cada sensação em sua mente, para poder recordá-las quando não o tivesse ao seu lado. Ansiosa por seguir inalando seu intoxicante aroma, por seguir sentindo seu corpo musculoso contra sua pele úmida e sua dura plenitude em seu interior, puxou-o com mais força ainda em sua suavidade aveludada. Drew soltou um gemido de puro prazer animal e disse: — Sabes que? — Que? E começou a mover-se de novo. —Ainda não acabamos. —Mas... Drew... oh... não temos tempo... —Sempre... oh, amor meu, sim, assim... sempre teremos tempo para isto.

—Tenho que dar uns recados — disse Ardem com nervosismo. Após tomar banho e vestir-se haviam descido ao comedor, onde Drew e Matt estavam comendo. — Agora? —Disse Drew enquanto limpava umas migalhas da boca de Matt — não quer comer nada? —Não — se apressou a contestar ela — tenho que comprar umas coisas antes da viagem. —Bom, não te entretenhas muito, recorda a hora do vôo, já preparou a bagagem? —Sim, está tudo pronto menos as coisas de última hora. Ardem tinha já um pé fora do quarto quando a voz de Drew a parou. —Eu estava quase esqueço, Ardem, há uma carta para ti — levantou e saiu do comedor. Ardem sentou-se junto a Matt e deu um bocado de bolo que ofereceu ao menino, enquanto duvidava poder o engolir. Drew tinha feito amor com um fervor, uma ternura e uma devoção como jamais havia experimentado, e ela havia despedido dele em silêncio. Olhou o rosto de seu filho, adorando a cada traço, a cada detalhe; tocou-o com amor, perguntando-se como poderia sobreviver a voltar a renunciar a ele. —Aqui está — disse Drew, e depois de voltar a sentar em sua cadeira alongou um envelope. Era da revista que havia publicado seu primeiro relato curto, e continha um cheque de dois mil dólares. — Oh! —exclamou ela, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas — havia-me 125


esquecido disto. Apertou o cheque contra seu peito de forma inconsciente, e Drew começou a rir. —Parece muito aliviada de vê-lo, acha que não posso te manter? - Não, claro que não — gaguejou ela. Seu coração martelava de excitação, mas não podia revelar muito — Claro que podes me manter, mas ontem à noite disseste... o negócio... Drew a presenteou com aquele amplo e deslumbrante sorriso que ela adorava e disse: —Carinho, o que dissesse que vamos ter que controlar as despesas durante um tempo não significa que vamos viver como pobres. Eu dei esta impressão? — Deu nela umas palmadas na mão, e acrescentou — Gaste esse dinheiro no que quiser, é teu; eu me ocuparei das finanças familiares. Com uma súbita inspiração, Ardem pediu à senhora Laani uma caneca de café. —Acho que esperarei e farei minhas compras em Los Angeles ou em San Francisco, quero tomas café da manhã com meu marido e meu filho. Matt bateu palmas quando seu pai se inclinou sobre a mesa e envolveu a sua mãe em um abraço, selando sua boca com um beijo abrasador.

Ardem foi descontar o cheque e a sacar o dinheiro de sua conta, colocou os cinco mil dólares num envelope e ligou de uma cabine ao Orchid Lounge; pediu para falar com Ron Lowery, com cuidado de não se identificar. — Onde demônios você está? Já está meia hora atrasada. —Não vou ir — Ardem deixou uns segundos para que ele digerisse antes de continuar — Deixarei o dinheiro na nossa caixa de correio quando nós formos sair. Está na estrada enfrente a casa, e marcado com nossos nomes. — Que está tramando? Eu te disse que... —Se quiser seu dinheiro, já sabe onde o encontrar; saímos para o aeroporto as duas e meia. Adeus, Ron. — Espera! — Gritou ele — quando receberei o próximo pagamento? —Quando voltarmos da viagem. Ardem pendurou antes que Ron pudesse responder. Não havia nenhuma dúvida de que ele iria buscar o dinheiro ao caixa de correio, havia mais medo de seus credores que ela dele. Enquanto conduzia de volta a casa, alegrou-se de ter poder pagar com seu próprio dinheiro, em vez de pedir a Drew com enganos; aquilo significava uma mentira menos. Não sabia como conseguiria os seguintes cinco mil, mas havia comprado em outro mês de felicidade.

Drew contemplou da cama como sua mulher tentava abotoar o colar de pérolas; seus elegantes dedos, no geral tão firmes, estavam tremendo. O corpo que adorava, tão flexível e maleável sob suas caricias, estava tenso como as cordas de um piano. Parecia a ponto de explodir com um só roce. Estavam sozinhos na suíte; a senhora Laani saiu com Matt, já que Drew pediu que o mantivesse entretido por umas horas. Deixando a um lado o jornal matinal que esteve lendo, Drew se levantou da cama e foi até Ardem. Depois de tomar o intrincado fechamento de seus dedos e abotoando-o com destreza, olhou-a no espelho. Como temia, seus olhos verdes estavam nublados por aquela odiosa cautela, aquele medo. Havia-o desconcertado antes da viagem, e ainda mais nesse momento, já que nas últimas semanas haviam sido mais 126


felizes que nunca. Ele havia ganho os três torneios, e já era o número três do mundo. Já quase ninguém recordava ou mencionava nos meses que esteve afastado das pistas, ou as razões de seu retiro temporário. Provou que podia voltar, voltava a ser um campeão, e Ardem esteve a seu lado para celebrar a cada vitória com ele; mas nesse momento podia senti-la enclausurando-se naquela caparaça que não podia penetrar. Por Deus, não ia permitir que voltasse a fazer sem uma boa briga! Tomou-a dos ombros para que não pudesse o iludir, e disse: —Você está muito preocupa por uma simples revisão medica, Ardem. —É você o que atua como sim fosse muito importante — espetou ela. —Essa é a prerrogativa de um marido preocupado; se fosse eu o que tivesse que ir ao médico, você sentiria o mesmo. —Não ficaria tão preocupado como você. —Sim, você ficaria. Ardem admitiu que aquilo era verdade, mas ela não doente, nada exceto que em umas horas Drew descobriria que não podiam ter outro filho. —Estou bem, Drew. Talvez eu pareça doente? —disse enquanto colocava uns pendentes. —Não — respondeu ele com sinceridade. Desde que deixaram Hawai, Ardem havia sido tudo o que um homem poderia sonhar em uma esposa, em uma mulher, em uma amante; mas desde que ele fez questão de que visse um médico, depois que ela tivesse cancelado duas consultas em Los Angeles, e começado a se comportar daquela forma estranha. E, a cada vez que ele mencionava sua casa, a expressão dela escurecia. Drew sentiu de repente que retorciam suas entranhas; talvez ela achava que estava doente? Havia saído algum pacote, doía-lhe algo? Deus, não. Havia algo que não havia dito para não o preocupar? —Ardem — disse, voltando-a para ele; olhou-a aos olhos, como buscando algum sinal de dor — Não estás...? Não te dói nada, nem sentes algo raro, verdade? Carinho, se acha que está com algo, é melhor que te veja um médico. É por isso que não...? Ardem cobriu os lábios dele com seus dedos. —Sss... — Ardem sentiu que dava uma virada no coração ao perceber a preocupação desnecessária que havia causado, e tentou o tranqüilizar — Não. Não, minha vida, não me passa nada. O alívio de Drew foi visível, e depois de rodear com um braço sua cintura atraiu-a para seu corpo. Com a outra mão, acariciou seu lustroso cabelo. —Gostas de nossa casa em Maui, verdade? —Claro que sim — disse ela de imediato; viu as linhas de preocupação entre as sobrancelhas dele, e se odiou pelas ter causado. —É que, a cada vez que falo de voltar a casa, a idéia parece te perturbar; se não gosta de viver ali podemos nos mudar, comprei a casa como refúgio, mas já não a preciso. Só preciso de você e Matt, com vocês dois posso viver em qualquer parte. A muitas pessoas seria difícil viver em um lugar tão isolado... —Mas eu não sou uma delas; encantou-me tua casa na primeira vez que me levou ali, e agora é meu lar; poderia viver ali para sempre contigo e com Matt. Ele a apertou contra si, desfrutando da sensação de seu corpo contra o seu. Drew conhecia intimamente a cada curva, a cada vale, a cada delicado osso, e amavaos a todos. A cada vez que a tocava, fosse nua ou vestida, se sentia cheio de energia; ela havia dado a ele uma felicidade como jamais pode sonhar, e não 127


podia suportar pensar que talvez ela não se sentisse completamente feliz junto a ele. —Eu te amo, Ardem. Já te disse isso hoje? —Não me lembro — murmurou ela contra sua camisa. Deus, ele se sentiria tão traído se alguma vez descobrisse sobre Matt... Aquilo acabaria com ele. —Como você não sabe, eu direi novamente. Os lábios de Drew falaram por si mesmos quando desceram sobre os seus com ternura, e sua língua percorreu a boca dela preguiçosamente enquanto a pressão aumentava. As juntas de sua mão direita acariciaram um mamilo até que o sentiu florescer sob a blusa de seda fina cor crua. A ponta da língua dele tocou a sua sugestivamente, e Drew sorriu quando ouviu seu ronco gutural. Encontrou com a outra mão a firme curva do traseiro feminino e apertou-o com ternura, alçando-a ainda mais contra ele. Ela se jogou para trás, alarmada. —Drew, você está... —Sim — ele a olhou com um grande sorriso predador e começou à aproximar-se de novo. —Não, não posso fazer antes da revisão. —Maldição — gemeu ele, encerrando o rosto no flagrante oco de seu pescoço — me havia esquecido. Ardem teve uma idéia brilhante, voltou a apertar-se contra ele e deslizou a mão por seu estômago até o zíper de suas calças. —Poderíamos buscar outras opções — sussurrou, traçando a forma de seu membro com uma atrevida caricia. —Nem pensar — disse ele, a afastando com macieza — sei o que está pensando, e não funcionará — seu rosto se contraiu em uma careta de agonia quando se virou e pegou sua jaqueta — Pegue sua bolsa, e vamos antes que eu mude de opinião... ou de que perca a cabeça.

— Você tem certeza? Ardem ficou olhando ao doutor com os olhos abertos de par em par, incrédula; graças a Deus que Drew havia consentido em que fosse ver àquele médico em San Francisco. Ham havia marcado uma cita com outro que a identificou de imediato como a ex-mulher de Ron Lowery. O médico que havia em frente a ela era um completo estranho, mas após o que acabava de lhe dizer. Ardem achava que o consideraria um amigo pelo resto de sua vida. — Está completamente seguro? O médico sorriu benignamente. —Estou completamente seguro de que não existe nenhuma razão, nem médica nem física, para que não possa ter outro filho; mas se está me pedindo uma garantia de que ficará grávida, temo que eu não possa dá-la — percebeu do assombro de Ardem, e perguntou — Por que achava que havia sido esterilizada? Ardem umedeceu os lábios, tentando assimilar o fato de que podia ter filhos e controlar ao mesmo tempo a fúria criminosa que sentia para Ron Lowery. Aquela só era outra de suas cruéis piadas de psicopata. —Tenho... Tive uma infecção, e o médico que me tratava naquela época pensou que não poderia voltar a ter filhos. O homem pareceu muito surpreendido. —Não vi sinais de nenhuma infecção, você é uma mulher completamente sã com 128


uns órgãos reprodutores em perfeito estado — entrelaçou os dedos sobre a mesa, se inclinou para ela e disse — Sente-se feliz com seu esposo, ama-o? —Sim — disse ela com fervor, sentindo como se desvanecia o grande peso que havia carregado durante aquelas semanas — Sim — repetiu, antes de começar a rir. —Então, vamos dizer a ele que você está perfeitamente bem — quando chegaram à porta, a tomou do braço e disse — Relaxe, senhora McCasslin, voltará a ficar grávida. Enquanto iam no Lincoln que haviam alugado de volta ao hotel, Ardem se mostrou impulsiva e lúdica como uma colegial: faltou pouco para sentar-se no colo de Drew, e rodeando seu pescoço com o braço esquerdo, roubou em beijo a cada vez que se apresentava uma oportunidade. Enquanto ele conduzia pelas coincididas ruas de San Francisco, ela se contentou em morder seu pescoço e sua orelha. —Pelo amor de Deus, Ardem, o médico te deu um tônico, ou um afrodisíaco? Você está me deixando louco. — Muito louco? — sussurrou ela, enquanto deslizava uma mão entre as coxas dele. Ali encontrou uma boa indicação do perto que Drew estava de perder o controle. — Que fez esse doutor para deixá-la tão excitada? —Isso foi muito grosseiro — o castigou com um suave abraço que fez que Drew estivesse a ponto de bater em outro carro — estou tão excitada porque tenho o marido mais lindo, inteligente, sexy... — colocou os lábios junto ao ouvido e terminou de dizer — e mais duro do mundo inteiro. É soltou uma maldição que revelou o acalorado que estava. —Vale, dois podem jogar a este jogo erótico. Sabe que cada vez que olho teus peitos estou pronto para fazer amor? Lembrasse daquela festa em San Diego, após a final? Você usava aquele vestido amarelo, e sabia que não usava sutiã por baixo. Todo o momento, enquanto falava bobagens com a gente, pensava em como desejava colocar a mão no vestido e tocar teus seios. —Drew — gemeu ela. Aproximou-se um pouco mais a dele, e pressionou seu peito contra o braço masculino; seu sensual monólogo estava produzindo o efeito desejado. —No outro dia, quando combinamos com Ham para comer, usava aquela saia com sandálias e sem meias. Fiquei te contemplado enquanto se vestia naquela manhã, e sabia que embaixo da saia só usava aquela calcinha cor lilás com a frente de encaixe; só podia pensar na última vez que a havia posto, e em como te havia beijado através daquele encaixe... — Pára! — exclamou ela, apoiando a cabeça em seu ombro — isto é uma loucura, não seremos capazes de cruzar o vestíbulo. Não se equivocou em muito; para quando Drew fechou a porta depois deles com um cartaz de Não molestar se balançando no pomo, ambos estavam sem fôlego de desejo. Ele já havia arrancado a jaqueta e a gravata, os sapatos e as meias, quando Ardem o parou. —Espera, quero fazê-lo eu. Primeiro tirou sua roupa com os sensuais movimentos de uma cortesã. A fina blusa de seda tinha uma fileira interminável de pequenos botões nacarados, e quando finalmente a deslizou por seus ombros e seus braços, os olhos de Drew estavam já nubladas de desejo. Seus peitos pungentes enchiam orgulhosos o sutiã de encaixe, e quando o tirou com uma lentidão deliberada, ele devorou com a olhar os cálidos montículos e os mamilos coralinos. Ardem tirou as meias com 129


um movimento grácil e ficou ali de pé com só as calcinhas que ele havia mencionado antes. A boca dele se curvou com humor enquanto começava a desabotoar a camisa, mas Ardem o parou e o conduziu até a cama. Sentou-se na borda, e subiu as mãos pelo peito dele até chegar ao primeiro botão; foi os desabrochando um a um com uma precisão meticulosa, enquanto seus dedos se entretinham de vez em quando no cabelo dourado que o cobria, em seus firmes músculos, na pele suave, nos mamilos masculinos. —Ardem, por favor — rogou ele com um estremecimento. Ela tirou a camisa dele, e levantou o olhar para aqueles olhos que brilhavam enraivecidos. —Deixa que te ame. Desapertou o cinto, o botão da calça e o zíper; seus olhos seguiam fixos nos dele quando colocou as mãos sob a cueca e balançou seus tensos glúteos. Abaixou as mãos, deslizando a peça para abaixo, e quando a tirou por completo, posou a bochecha sobre ele. —Eu te amo — sussurrou. E seus lábios levaram-no para além do paraíso.

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Capítulo 13 O Orchid Lounge era tão sombrio, e a freguesia tão desagradável, como a vez anterior; havia uns doze homens, agrupados por casais e trios, e suas conversas baixinho eram completamente indistintas para a única mulher que havia no local. O ar estava carregado com o cheiro de cerveja e cigarro. Ardem nunca esteve mais serena em toda sua vida. A viagem de regresso desde San Francisco foi carregada de risos e felicidade; Drew seguia eufórico por seu sucesso nos torneios, e igual mente contente pela atitude de Ardem desde que foi ao médico. Fora o que fosse o que a preocupava, parecia ter se resolvido durante daquela hora. Seu coração ainda se acalmou, seguia ficando sem fôlego a cada vez que recordava a generosidade com que o havia amado depois; passaram á tarde inteira imersos em tórridos jogos sexuais, e Drew recomendaria uma noite assim a qualquer casal. Enquanto Ardem o havia temido á princípio, nesse momento estava desejando voltar a casa; estava extasiada pelo sucesso de Drew, e desfrutava de seu amor. Durante o longo vôo sobre o Pacífico, mal pôde manter as mãos afastadas dele; aproveitou a cada oportunidade que teve para o tocar, e ele respondeu com entusiasmo. Matt notava a alegria de seus pais, e portou-se como um anjo. Cativou todas as aeromoças do vôo, até que a senhora Laani o sentou em seu colo e ficou dormido sobre seu generoso peito. Quando Ardem ficou um pouco zelosa, Drew abraçou-a e apertou-a contra seu corpo para uma pequena «soneca»: em numerosas ocasiões, teve que afastar a mão dele, quando se aproximava á territórios comprometidos. À manhã seguinte de sua chegada a casa, Ron chamou-a. —Já era hora de conversarmos. Nas duas primeiras vezes foi sua governanta que atendeu ao telefone, e eu queria falar com você. —Lamento ter causado tantos aborrecimentos. —Vai ficar descarada comigo? — Soltou uma desagradável risada, e disse—: Não esqueças que se aproxima outro pagamento. — Onde e quando? —No mesmo lugar, às duas em ponto. Ardem desligou sem dizer outra palavra, e nesse momento estava sentada na mesma mesa da vez anterior, e ele voltou a chegar tarde. Havia recusado o insinuante convite do garçom de que se tomasse um copo por conta da casa, e permaneceu sentada com as costas bem erguida e as mãos enlaçadas em seu colo. E dessa vez, em vez de ignorar os olhares de interesse, as devolvia com tanta condescendência que conseguia que se afastassem. — Está contente de ter voltado? — Perguntou Ron enquanto sentava-se na frente dela — você teve uma boa viagem? —A resposta a ambas as perguntas é sim. —Seu marido não vai nada mau, o que você sente ao estar casada com alguém tão famoso? —Estaria orgulhosa dele enquanto mesmo que não fosse. Ron ficou a mão sobre o coração e disse: —Tanta devoção me comove — gritou ao garçom o que queria, e se virou de novo para ela — Pergunto-me o que orgulhoso sentiria de você, se contasse que vendeu seu corpo por cinquenta mil dólares. —Não sei, mas vou descobrir. Vou contar tudo para ele. 131


Os olhos de Ron brilharam como os de um réptil enquanto a olhava, e nem sequer se moveu quando o garçom levou a bebida. —Você é um bastardo — disse Ardem em um tom calmo e inexpressivo, e com ele transmitiu seu melhor desprezo do que se tivesse gritado; Ron não merecia que ela gastasse sua energia nele — Não sabia que ninguém, nem sequer uma pessoa de tua laia, fosse capaz de inventar uma mentira tão desprezível como a que você me disse. Ele a olhou com um sorriso insolente e odioso. —Descobriu que menti sobre sua esterilização — e começou a rir, e o som foi digno do demônio — E a assustei, verdade? —Por que você me disse algo assim? —Porque estava muito segura de si mesma. Parecia pensar que podia me esquecer como se esquece um pesadelo, e queria que soubesse que falava muito á sério. Igual a agora. —Sinto muitíssimo decepcionar-te. Ron, mas os nossos negócios se acabaram. Suas ameaças careciam de fundamento; se não fosse assim, não iria se escondendo em antros como este e desligando o telefone se eu não atendo. Acusame de ser uma covarde, mas você é que é. Tem que ser homem para abrir caminho no mundo real, e você nunca foi capaz de fazê-lo. Nem sequer quando te deram todas as facilidades possíveis deste a talha como médico, nem como marido, nem como pai, nem como homem. Levantou-se com orgulho e dignidade e acrescentou: — Já não me assusta, você me aterrorizou e me usou pela última vez. Não há nada que possa fazer para me ferir, vai ao inferno. Ardem se virou e saiu do local. Tinha os joelhos trêmulos e a boca seca quando chegou a seu carro, mas o havia feito! Tinha-se livrado do doutor Lowery para sempre. Aquela noite contaria a Drew toda a história; já não tinha medo de que seu amor não fosse o suficientemente forte para suportar a verdade, suas vidas estavam fundidas em uma só. Arranjaria tudo pára que a atmosfera fosse perfeita, e contaria tudo, e por fim seria livre.

Esteve a ponto de cair no chão à garrafa de vinho quando conseguiu abrir a porta principal. — Senhora Laani! — exclamou, rindo; agarrou com força o ramo de flores, tentando que não ficassem esmagadas contra a caixa que continha sua nova fantasia. A senhora Laani apareceu com passo apressado da parte traseira da casa, mas assim que Ardem viu-a, soube que a governanta não corria porque fora à ajudar. — Senhora McCasslin, alegro-me tanto de que tenha chegado! — Passa algo? A mulher lançou uma olhar para a porta do escritório de Drew, que estava fechada. —O senhor McCasslin quer vê-la imediatamente, disse que assim que você chegasse — a mulher, que normalmente era a calma personificada, estava retorcendo as mãos. — Por que, que...? — Ardem apoiou o braço da senhora Laani, e perguntou desesperada — Matt? Aconteceu algo com Matt? —Não, o menino está comigo em na cozinha, será melhor que vá ver seu marido — Disse incapaz de olhá-la nos olhos. Os reflexos de Ardem entederam a situação; moveu-se mecanicamente, como se 132


não passasse nada, enquanto sabia que tinha ocorrido algo terrível. A senhora Laani não se alterava com facilidade. —Por favor, ponha o vinho na geladeira e as flores em um jarro em nosso dormitório, hoje jantaremos os filés. Será melhor que a comida de Matt esteja pronta antes. Ah, e ponha esta caixa em meu armário, por favor. —Sim, senhora McCasslin — disse a mulher. Ardem se alarmou pela expressão de lástima que viu em seus olhos quando tomou os pacotes de suas mãos e se afastou dela. Alisou a saia, e surpreendeu-se ao perceber de que havia as palmas das mãos úmidas; tentando controlar o pânico crescente, girou o pomo e entrou no escritório de Drew. —Carinho, tenho... A primeira coisa que captou sua atenção foi a garrafa de whisky sobre a superfície polida da mesa de Drew. Ficou olhando-a por uns segundos, antes que seus olhos passassem ao copo que havia logo ao lado; havia uma mão colada ao redor do copo, a mão de Drew. Foi naquele momento que percebeu a incongruência. Ardem alçou a olhar para ele, e deu um respingo ante o ódio que viu em seus olhos. Seu cabelo estava selvagemmente remexido, e não só pelo vento: umas mãos maníacas haviam atirado dele. Os músculos de sua mandíbula moviam-se espasmodicamente enquanto ele apertava os dentes com força, e em seu rosto batia um pulso furioso. —Entra, senhora McCassIin — disse em um tom que Ardem jamais havia ouvido, e que destilava sarcasmo e repugnância — Acho que conheces a nosso convidado. Ardem percebeu o homem sentado na cadeira em frente à mesa; ele se virou, e ela encontrou com o rosto zombador de Ron Lowery. Seus joelhos cederam, se apoiou na porta para não cair. Drew soltou um riso seco. —Parece surpreendida de ver seu ex-marido, mas Ron disse-me que vocês vêm se encontrado bastante ultimamente. Ardem sentiu como a bílis subia por sua garganta, mas engoliu com força para que voltasse a descer. Tinha que fazer Drew entender a verdadeira situação. —Drew — disse, alongando uma mão suplicante — Drew, que ele disse? —Oh, uma história muito interessante — disse ele, com uma risada sarcástica — Pensei que eu era o rei dos pecadores, não achei que nenhum tipo de traição humana pudesse me surpreender, mas te felicito por teu talento. —Drew, por favor — disse ela, avançando até o centro do quarto — me escuta. Não sei o que ele disse, mas... — Você deixou seu marido te inseminar com meu esperma? Levou meu filho dentro de ti nove meses, e o deu... Ou deveria, dizer vendeu, pela metade dos cem mil dólares que seu marido me pediu? Você fez tudo isso? As lágrimas corriam pelas bochechas de Ardem. —Sim, mas... — Mudou então de opinião e veio ao Hawai para ganhar minha confiança, para se infiltrar em minha vida? Você fez isso, não? —Não foi... —Maldita seja, tenho sido um autêntico estúpido. A cadeira saiu disparada para trás quando Drew se levantou inesperadamente; apressou o whisky, e jogou o copo na mesa. Voltou as costas como se só vê-los o deixava doente. —Não foi assim — disse Ardem — não o foi. Fazendo caso omisso de suas palavras agoniadas, Drew voltou a girar-se para 133


eles. — Quanto você pensava em tirar? Estava-lho perguntando a ela, não a Ron. —Nada. —Nada! Estás segura? Meu dinheiro, meu filho...? Quando ia ser suficiente? Já tinha a minha vida inteira a tua disposição com tuas mentiras. Ardem engoliu, tentando capturar as idéias que se agitavam em sua cabeça. Não podia pensar com Drew a olhando com fúria, com olhos frios e duros como diamantes. —Ron ficou em contato comigo faz em várias semanas, me disse que te diria quem era eu se... Drew lançou um selvagem rosnado que fraquejou, mas conseguiu seguir dizendo: —Se não eu desse para ele vinte mil dólares. Joga muito, e tem dívidas com uns mafiosos, por isso precisava do dinheiro faz anos, o dinheiro que você pagou a ele por Matt. Eu também precisava o dinheiro, para Joey. E queria libertar-me de Ron. Destroçada, Ardem esfregou-se a frente quando Drew endereçou a cadeira e se deixou cair nela. A expressão corporal dele refletia uma indiferença total para o dilema que ela havia enfrentado. Tinha que conseguir ele que a entendesse! —Paguei a ele cinco mil dólares antes que nos fôssemos ao continente; era meu dinheiro, Drew, não o teu. Meu. E eu pagaria o dobro para evitar esta cena. —De modo que teria continuado a dar dinheiro a este lixo de forma indefinida para que eu não descobrisse a tipo de zorra mentirosa com quem estou casado. Tua preocupação por meu bem-estar é comovedor. Ela soluçou e sacudiu a cabeça. —Não, Drew, eu mesma ia contar. — Quando? Quando, Ardem? Gostaria de sabê-lo. Quando Matt fosse ao colegial, quando se licenciasse na universidade? Talvez quando estivesse junto a sua noiva no altar pensava me dar um pequeno golpe no braço e me dizer «Ah, na verdade sou a mulher que o trouxe ao mundo». Pensava em dizer então? As depreciativas palavras foram como pequenos golpes diretos a sua cabeça; Ardem admitiu: —Não podia seguir vivendo com este segredo, eu amo a Matt e a você. Ia dizer-te o... Esta noite. Ele apareceu em gargalhadas terríveis e zombadoras. — Esta noite! Verdade que é comovedor? — Olhou-a com olhos cintilantes — realmente acha que vou acreditar o, quando esteve me enganando desde o princípio? — Não te menti! — Tudo foi uma maldita mentira! — Berrou, e voltou a levantar-se inesperadamente — quando penso em como me enganou... — sacudiu a cabeça, rindo sem humor — tão correta, tão amável, tão compreensiva, tão... — fez um gesto com a mão em direção a Ardem, e voltou a deixá-la cair em um gesto que revelava a patética que a considerava. Drew voltou sua atenção a Ron, que permanecia sentado, como um canalha esperando o cadáver sangrar que ficaria para que ele acabasse do devorar. —Saia daqui — disse Drew de forma concisa. O sorriso de satisfação desapareceu do rosto de Ron. —Espera um momento. Ainda não falamos de como vamos solucionar isto. —Se acha que vou te dar um só centavo, é um demente além de um criminoso. E se não sair de aqui agora mesmo, vou te dar uma surra e depois te entregarei à 134


polícia. Ron levantou-se, tremendo de raiva. —Não dirá o mesmo quando eu contar aos jornais a emocionante história de como tua insípida esposa. Você me pediu ajuda para encontrar uma mãe para vosso bebê. Isso converteria seu querido filho no centro de todos os olhares. E, o que é ainda melhor, está casado com a mãe biológica; talvez não diga que inseminou artificialmente a Ardem, talvez eu deixe que eles acharem que concebeu a Matt com o método natural. Desse modo, o menino seria um bastardo. Ardem estremeceu, mas Drew encolheu seus ombros teatralmente. — Quem se vai crer uma história tão rebuscada? Especialmente de um médico que perdeu seu consultório e o respeito de seus colegas, que tem dívidas com todo mundo, incluído a máfia, e que está vivendo como um vagabundo. A quem você acha que vão acreditar, em você ou em mim? As celebridades como nós sempre temos problemas com lunáticos em busca de dinheiro fácil, e os jornais sabem. Rirão em tua cara, Lowery. Ardem podia ver como Ron ia perdendo a confiança. —O advogado. Tem documentos, me apoiará. — Você acha? Se eu fosse ele, a quem daria a razão, a um tenista mundialmente famoso em alça, ou a um desgraçado que quer se vingar da mulher que o abandonou? Nem sequer um amigo de teu calibre seria tão estúpido, e se fosse, eu poderia pagar mais pára que ficasse calado que você para que falasse. O rosto de Ron estava macilento. Drew rodeou a mesa e disse: —Volto a dizer só uma vez mais, saia da minha casa. E se alguém de minha família ou do serviço, voltar a ver seu cabelo, farei que te prendam onde só teus amigos cretinos possam te encontrar, e sabes o que te farão quando o façam. —Você não pode se livrar de mim tão facilmente, McCasslin. —Sei que posso, e você sabe. Por isso morre de medo. Ron olhou a Ardem com olhos cheios de ódio. —Ao menos também destruí você. Ele te despreza tanto quanto eu. Saiu do quarto, e segundos depois Ardem ouviu o ruído da porta abrindo e fechando. Passaram os minutos, mas nenhum dos dois se moveu; uma nuvem mortífera parecia encher o quarto. Drew contemplava pela janela o incessante movimento do oceano, enquanto Ardem olhava suas costas, perguntando-se como poderia conseguir que ele a entendesse o suficiente para perdoá-la. Por que não o havia dito? Por quê? Se pudesse voltar atrás, diria tudo. Podia imaginá-lo tomando entre seus braços, sussurrando que compreendia. —Fez o que devia fazer naquela circunstância — diria ele — não posso te culpar por isso. Sei que você se casou comigo porque me ama, não porque queria estar com Matt. Seu sei e entendo. Em vez disso, ele estava furioso e com o orgulho ferido, e Ardem não reconheceu o rosto que se virou para ela. — Ainda está aqui? Pensei que talvez fosse embora com seu primeiro marido, para ver em que nova aventura você podiam embarcar juntos. —Nunca foi uma aventura, o fiz por Joey — disse ela, baixando a olhar. —De modo que realmente existiu um Joey. Na verdade, estava começando a duvidá-lo. Ela levantou a cabeça inesperadamente e foi para ele, furiosa. —Fiz sim para prolongar sua vida, fiz porque era a única maneira de escapar de um horrível casamento com um homem que desprezava a cada dia mais e mais. 135


Quando deixar de ter pena de si mesmo, talvez possa tentar me entender e se pôr em meu lugar. — Não me estou com pena de mim mesmo! — Gritou ele — só sinto asco por minha estupidez cega. A cada vez que penso na candura com a que te observava, no cuidado com o que planejei minha estratégia, em como estive ali sentado falando contigo com as calças a ponto de explodir, me dá vontade de vomitar. Como conseguiu aparentar tanta tranqüilidade? Não sei por que não explodiu em gargalhadas. —Não foi assim, Drew — protestou ela com veemência — sim, no princípio queria te conhecer por causa de Matt. Queria ver meu filho, é isso um pecado tão grande? Mas quando te conheci, também te quis a você, inclusive mais do que queria a Matt — custou muitíssimo admitir aquilo, mas sabia que era a verdade. —Só querias me seduzir. — Seduzir-te...? —Começou a dizer com incredulidade — você perdeu a memória além da razão? Se só tivesse querido isso, o teria feito na primeira noite. —Oh, não, você não, você é muito inteligente para isso. Se deitasse comigo em seguida, se arriscavas que eu não quisesse voltar a vê-la; não, você jogou o anzol com aquela resistência tão bem planejada. Para um homem que tem um montão de mulheres o perseguindo todo o dia, essa é a melhor estratégia. —Se, você quisesse uma mulher um montão de candidatas, elas continuar aqui aos milhares; de modo que não faça que eu pareça uma mulher fatal que te puxou com a promessa de sexo que não podia conseguir em outro lugar — a impaciência de Ardem com sua teimosia era a cada vez maior, e o volume de sua voz a cada vez meu alto — Você foi um presente com o que não havia contado. Meu objetivo era ser tua amiga, não sua amante. Então me apaixonei por você, e não tive a coragem te dizer quem era por medo de que reagisse como você está fazendo. Seu orgulho e Seu gênio feroz fazem que não seja razoável, Drew. Os peitos de Ardem subiam e baixavam por sua agitação, e quando Drew percebeu que os estava olhando, arrancou os olhos deles e amaldiçoou com fúria. Inclusive sabendo tudo o que sabia, ela o atraía como nenhuma outra mulher em sua vida. Era tão condenadamente formosa... ainda a desejava. Em sua memória permanecia viva a lembrança da primeira vez que a viu, sentada sob a sombrinha naquela mesa: sua serenidade havia-o atraído e quis estar próximo dela, absorver a paz que parecia desprender. Como pode se enganar? Por que não havia visto o olhar calculista que devia de ter brilhado em seus olhos verdes, mesmo quando ela o negava? Ardem havia planejado tudo muito antes do conhecer. Drew sabia que parte de seu aborrecimento se devia a seu orgulho ferido, mas que homem gostaria de inteirar-se de que o haviam manipulado para que se apaixonasse e se casasse com uma mulher? Que homem com um mínimo de dignidade toleraria algo assim? Enquanto dizia-se uma e outra vez que a odiava, queria beijá-la até a deixar sem sentido, esvaziar seu frustração, que estava a um passo de se converter em desejo. Por que seguia almejando o refúgio de seu corpo, a alegria de seu riso, o bálsamo de seu amor? Odiava-a pela debilidade que causava nele. —Tentei dizer-te uma vez — disse ela, com uma voz era pouco mais que um sussurro — e você disse que era melhor que não contássemos os segredos dos nossos passados, que se não afetavam o nosso amor, era melhor os deixar para trás. —Ardem, não sabia que teu pequeno segredo era dessa magnitude. Seu tom arrogante fez que o gênio de Ardem aflorasse. — Como se o seu segredo não fosse, Drew? Nunca me disse que Matt não era o 136


filho biológico de Ellie, tua amada esposa, senão o de uma mulher que não reconheceria se cruzasse com ela pela rua. Você deixou que eu me casasse com você sem saber, verdade? — Em que mudava as coisas? — Em nada! — Gritou ela — isso é exatamente o que queria dizer. Eu iria amar você e Matt igualmente mesmo que eu não fosse sua mãe. — Estás segura disso? A pergunta teve o impacto de uma explosão no quarto; nos segundos que seguiram à detonação, o silêncio foi absoluto. —Sim — disse Ardem com suave intensidade — sim. Ele a atravessou com a olhar e disse: —Mas nunca estarei seguro disso, verdade? Você vendeu uma vez teu corpo por um filho, não é isso que voltou a fazer? Ela o contemplou com impotente desespero enquanto ele ia até a mesa e tomava a garrafa de whisky. Drew aproximou-se à janela aberta, assomou-se e jogou a garrafa contra a parede exterior da casa. Arrojou o pescoço da garrafa entre os arbustos, e disse: —Não vou deixar que me empurre de volta a isso; sou um campeão de novo, e não permitirei que nem você, nem ninguém me tire minha dignidade.

—Está cometendo um erro. Ardem, que estava dobrando uma blusa para colocar na mala, se virou e viu à senhora Laani na porta de seu quarto. Levava um pano de cozinha ao ombro, e havia um reconfortante aspecto de domesticidade e normalidade. Ardem desejava ir para ela, posar a cabeça naquele peito maternal e deixar que fluíssem as lágrimas que achava ter esgotado. Chorou durante uma semana, desde que Drew tinha ido embora. Ele havia saído do escritório sem se despedir dela, e havia preparado sua bagagem em silêncio. Antes que ela percebesse, estava na porta chamando Mo para que o levasse ao aeroporto. Desde então, ele havia ligado três vezes para perguntar por Matt, mas não havia falado com ela, só com a senhora Laani. Estava em Los Angeles, trabalhando com Ham em seu serviço e fechando as negociações do acordo com a cadeia de lojas. —Não, não acho que seja um erro — falou Ardem à senhora Laani, e se virou para a mala aberta que havia sobre a cama; ao cabo de um par de segundos, ouviu os passos da mulher entrando no quarto. —É um homem obstinado, senhora McCasslin, muito orgulhoso; teria que ser surda para não ouvir a briga que tiveram quando aquele homem horrível se foi. Você é a mãe de Matt. Deveria tê-lo imaginado. Ardem sorriu. —Foi fácil ocupar o posto de forma real; às vezes pensei que meu amor era tão transparente que você ou Drew o adivinhariam, mas... — sua voz apagou-se em um trêmulo suspiro. —Foi uma grande surpresa para o senhor McCasslin, mas quando pensar nisso, se dará conta do irracional que foi. —Ele teve uma semana para pensar; não sei o que pensa fazer, mas não vou ficar aqui como uma ré esperando a execução. Sou a intrusa, ele já planejava voltar a competir antes de me conhecer; Matt e ele têm uma relação muito estreita, eles não precisam que eu interfira em suas vidas mais do que já fiz. A senhora Laani se esticou e cruzou os braços sobre seu estômago. 137


—De modo que vai fazer-se de mártir e fugir como uma covarde. Ardem sentou-se na cama e levantou o olhar para o rosto desaprovador da mulher. —Tente entendê-lo, senhora Laani. Fui uma covarde durante toda minha vida, fiz o que meu primeiro marido queria que fizesse, enquanto sabia que era errado. Antes disso, meu pai tomava as decisões por mim. Soltou um suspiro, enquanto brincava com o encaixe de umas calcinhas que estava dobrando; Drew gostava de cor pêssego, e comentava a cada vez que as colocava. Uma vez, caçoando, fingiu mordê-la no peito e mastigar com deleite, dizendo «mmm, a fruta mais deliciosa da árvore», e ambos começaram a rir. A atormentariam suas lembranças nos anos seguintes? —A solução covarde seria ficar e me submeter ao desprezo de Drew, viver com seu desdém, igual ao meu primeiro marido. Agora me dou conta de que Ron chegou a me odiar por como deixava que ele me pisasse; estava sempre me humilhando, talvez com a esperança de que eu desse alguma mostra de coragem e me opusesse a ele alguma vez. —Mas o senhor McCasslin nunca faria algo assim — protestou a senhora Laani com veemência. —Não. Não seria cruel comigo, mas ano após ano veria se desvanecer seu respeito. Faria tudo o que me pedisse por medo de voltar a ofendê-lo, estaria tentada a obedecê-lo em tudo pára que não me jogasse na cara meu erro uma e outra vez, me sentiria obrigada a não nunca dizer algo contrário para demonstrar meu amor. Ele não demoraria em chegar a me odiar, mas não mais do que eu odiaria a mim mesma. Olhou à governanta, a quem considerava uma amiga, e acrescentou: —Não posso voltar a viver assim. Se Drew não sabe a esta altura o muito que o quero, então nada poderá o convencer. Não penso em ficar o resto de minha vida o tentando. —Mas Matt... — os olhos da senhora Laani estavam inundados de lágrimas. —Sim, Matt. Ardem sorriu suavemente ao recordar na semana que haviam passado juntos. Havia estado junto a ele à cada hora do dia, e a noite costumava ir ao quarto do menino, se sentar no berço que havia junto a sua cama, e o contemplar enquanto dormia. Ardem sentiu uma grande dor no coração ao pensar no que devia fazer. —Espero que Drew me deixe o ver periodicamente, eu nunca seria tão ruim como para lutar por sua custodia. Esta é a vida à que Matt está acostumado, jamais poderia o arrancar de aqui — uma lágrima deslizou por sua bochecha, e depois de uns segundos, Ardem continuou dizendo — É só que muda tão rápido... Passarão os meses, e eu não o verei, e perderei tantas mudanças maravilhosas. —Por favor, não faça. A senhora Laani estava chorando abertamente, e Ardem invejou-a por poder fazêlo, —Você os amo muito e para ir embora. —Eu os amo muito para ficar — falou Ardem com macieza. Naquela noite, explicou a Matt quando o menino estava dormindo. —O seu pai não contará nada sobre mim; espero que um dia você saiba quem eu sou, e que me perdoe por renunciar a você. Estava tentando salvar a vida de teu irmão, Matt — sua boca curvou num comovedor sorriso — oxalá tivesse você conhecido a Joey, você se dariam muito bem — secou as lágrimas que inundavam suas bochechas, e continuou — Teu pai é um competidor nato, Matt, não pode suportar perder sem ter lutar em uma briga justa. 138


Ardem recordou a partida contra Gonzales; havia sido uma derrota, mas Drew não se importou, porque havia dado o melhor de si e jogado limpo. Mas ela não havia feito o mesmo; havia tirado a oportunidade de participar em um jogo honesto, porque estava segura de sua vitória. Drew não foi um jogador, senão um peão, e isso era o que ele não podia perdoar. —Amo a teu pai, Matt, e não quero deixar a nenhum dos dois. Mas ele me desprezaria e eu o odiaria por sua intolerância, e você não cresceria num ambiente familiar adequado. Talvez algum dia você entenda que uma pessoa não pode amar se tem que sacrificar sua auto-estima para fazê-lo: não posso voltar a ser um objeto para nenhum homem, algo incluído na casa, algo sem vontade própria nem opinião que tenha que ter em conta. Por favor, entende por que tenho que me ir. Ardem acariciou os suaves cachos dourados, traçou a bochecha do menino até sua boca, tocou as juntas de seu punho. —É a segunda vez que tenho que renunciar a você, Matt, mas nenhuma das duas vezes foi porque não te queira. Ardem levantou-se, foi cambaleando até a porta e apagou com mãos trêmulas o interruptor da luz; não olhou atrás antes de sumir do quarto em penumbra, uma penumbra que não era tão grande como a que escurecia sua alma.

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Capítulo 14 O quarto do motel era como um apartamento completo; estava em uma área diferente da avenida Kalakaua o que um queria era uma boa vista de Waikiki, e o complexo onde se encontrava tina visto dias melhores. Nesse momento, era só um motel insignificante e barato ultrapassado pelo progresso e pela arquitetura moderna. Mas ajustava-se ao orçamento e às necessidades de Ardem, e era um lugar tão bom como qualquer outro para deixar passar os longos e melancólicos dias. Não estava completamente inativa; dava longos passeios pela praia, e pensava em Matt, perguntando-se o que estaria fazendo, e tinha saudades. Pensava em Drew, no que estaria fazendo, se tinha saudades também. E escrevia. Idéias e impressões sem forma enchiam livro depois de livro, enquanto empurrava-a a necessidade de colocar seus sentimentos sobre o papel. Isso era o que estava fazendo no quarto dia depois de se ir de Maui. Mas as musas pareciam tê-la abandonado, e levava um quarto de hora olhando a folha em branco. Uma sombra cruzou o papel, e Ardem levantou a vista para a janela. Drew estava ali. Durante uma eternidade infinita, olharam-se o um ao outro através do vidro. Ardem era incapaz de pensar. Seus dedos umidecidos deixaram cair a caneta, que rodou pela mesa e caiu ao chão. Sem articular palavra, Drew foi para a porta. Ela teve que fazer um esforço consciente para que seus músculos se movessem; levantou-se com joelhos trêmulos, alisando o cabelo e passou as palmas das mãos pelos velhos jeans que cobriam suas coxas. Era ridículo, desejou ter-se posto um sutiã embaixo da t-shirt aquela manhã. Sentia-se vulnerável, desprotegida, e teria sentido mais segura depois da armadura de encaixe. Foi até a porta, e enquanto ele não havia chamado, a abriu. Seu rosto parecia tão devastado, que em um primeiro momento Ardem temeu que tivesse voltado a beber. Mas seu olhar era claro apesar das linhas ao redor de seus olhos, e seu maravilhoso corpo atlético moveu-se com agilidade e flexibilidade quando ele entrou no quarto. Tinha o cabelo mais longo e despenteado que o normal, e vestia umas calças curtas brancas e uma camisa amarela. Nunca esteve tão atraente, e a necessidade de tocá-lo era como uma dor física. Após percorrer o quarto com a olhar, Drew virou-se para ela. —Olá. —Olá — falou ela. — Você está bem? Ela abaixou a vista ao chão, e voltou à levantar com a mesma rapidez para seus olhos, incapaz de deixar de olhá-lo nem por um momento. —Sim — Ardem podia sentir nele uma tensão tão grande como a sua própria; o corpo masculino parecia irradiar uma suavidade à que o seu respondia, e seu peito se enchia de emoção—. E você, está bem? Como está Matt? — Voltou a Maui esta manhã. —Ah. —Não estive muito tempo em casa, mas Matt parecia estar bem, ao menos no que diz respeito a sua saúde, A senhora Laani diz que ultimamente chora muito — Drew pareceu se sentir fascinado por uma palmeira que havia na rua, e a olhou fixamente enquanto dizia — Ele sente saudades. Ardem abaixou a cabeça e admitiu: 140


—Eu também — uma dor aguda atravessou seu peito. «E também te tenho saudades de você », pensou. —Não... Não sabia que você tinha partido até que cheguei a casa — Drew tossiu desnecessariamente e tossiu: o som pareceu inusitadamente alto no pequeno quarto — Voei de volta a Honolulu imediatamente. Ela se voltou e olhou pela janela; seu pulso era tão forte que podia contar cada batida, e tremeu sua mão enquanto brincava com o cordel das vulgares cortinas. — Como você me encontrou? —Com uma mala de moedas. — Que? — perguntou ela, voltando a cabeça para ele. —Fui buscar uma mala de moedas ao banco, busquei uma cabine telefônica e comecei a marcar. —Ah — ela virou de novo para a janela, antes de esboçar um sorriso — Decidi ficar no Hawai enquanto faziam os preparativos em Los Angeles; como... Como eu não tinha uma data fixa para voltar, deixei meu apartamento. Uma amiga está buscando um lugar onde viver, estou esperando até que ela me diga algo. —Então, vai voltar... Para Los Angeles? Ardem acreditou detectar certa ansiedade em seu tom, mas não se atreveu a olhar, temerosa de que o tremor na voz masculina fosse de alívio. —Sim, suponho que sim — murmurou, Sentiu que ele se aproximava ainda mais, e que se detinha em frente à mesa onde ela esteve trabalhando; as folhas de papel que ela havia descartado nas mãos masculinas. — Esteve escrevendo? —Sim — falou ela com voz rouca. Ele não foi discutir sobre a separação, e ia deixá-la ir embora; estava-a condenando a uma existência estéril e incolor, sem vida; com uma despreocupação, forçada, comentou — Eu escrevo quando estou de humor. Teve uma breve pausa, na que Ardem sentiu o ruído a mais papéis. — De que humor você estava quando escreveu isto? Ardem viu de relance como uma folha de papel flutuava até a mesa. Virou-se lentamente, desconcertada, e olhou primeiro a Drew. Os olhos dele a atravessaram, e ela se apressou desviar a olhar para a folha à que ele se referia. Reconheceu a letra de imediato, e após ler a primeira linha, deu-se conta de que era um poema que havia escrito a mais de um mês. Como em tudo o que escrevia, havia anotado a data na parte superior da página. Estavam em San Francisco, a senhora Laani tinha levado a Matt para tomar o café da manhã no restaurante do hotel, e eles pediram no seu quarto. Após o relaxado café da manhã na cama, fizeram amor com pausada ternura; quando Drew saiu treinar, ela pegou papel e caneta e, ainda lânguida pela doçura de seu ato de amor, e compôs o poema. Era um tributo a ele, ao que significava para ela. Os últimos dois versos eram: Tua vida transformou uma vez meu corpo, / como teu amor molda agora minha alma. Os olhos de Ardem arrasaram-se em lágrimas, e comentou: —Acho que está claro de que humor estava — se atreveu a lançar uma olhar para ele, e viu que os olhos de Drew também estavam brilhantes e úmidos. —Encontrei-o ontem, no fundo da mala. —Não sabia onde o havia deixado. —Faz dias que decidi que era o maior cretino da história. Você tinha todo o direito do mundo de me odiar pelas coisas que te disse, por não mencionar meu maldito orgulho obstinado e meu mau gênio. Ia suplicar a você que me perdoasse, e te 141


prometer que nunca voltaria a te considerar minha oponente, e encontrar isto me deu a coragem necessária para voltar a casa e falar contigo cara a cara. Pensei que, se uma vez tinha sentido algo assim por mim, talvez pudesse voltar a sentílo. — Você ia me pedir para que eu o perdoasse? —Sim. Por comportar-me como um néscio, como um mau perdedor, como um menino malcriado. —Mas, carinho, teu enfado estava justificado. Você se casou comigo porque te enganei. Eles se inclinaram um para o outro, e de repente Drew tomou-a entre seus braços e a encostou contra seu corpo. Enterrou o rosto em seu lustroso cabelo, e disse: —Isso não é verdade. Casei-me contigo porque te quero, porque queria que fosse minha mulher, e ainda o quero. Deus, estive a ponto de morrer quando a senhora Laani me disse que tinha partido. Não me deixe, Ardem. —Não queria o fazer — exclamou ela — fui embora porque achei que não suportava mais me ver — o separou um pouco, e o olhou aos olhos — mas não posso viver sendo julgada a cada dia, preciso saber que entende o porquê do que fiz. Nas mesmas circunstâncias voltaria a fazer o mesmo, Drew, e não viverei o resto de minha vida sofrendo tua censura por isso. —Vêem aqui — disse ele com ternura. Levou-a até a cama, e sentaram-se sobre a descolorida colcha; ele tomou suas mãos entre as suas e lhe disse: —Você não fez nada de errado, Ardem: talvez fosse pouco ortodoxo, mas nada mais. Quando Lowery nos disse a Ellie e a mim que havia encontrado a uma mulher jovem e sã disposta a dar a luz a nosso filho, a pusemos em um pedestal. No dia que Matt nasceu, pensamos que era a mulher mais maravilhosa sobre a face da terra. Drew acariciava seu rosto e seu cabelo enquanto falava, em um gesto carregado de amor. —Não sei por que reagi daquela maneira ao me inteirar de que você era essa mulher, acho que me senti traído porque não me disse desde o princípio que era a mãe de Matt. Doeu-me que você não confiasse em meu amor o suficiente para me contar. Teria que ter feito ao me inteirar o mesmo que fiz ao ver pela primeira vez meu filho, deveria ter me ajoelhado a seus pés e tê-la agradecido do fundo de meu coração. — Não me considera uma pessoa horrível por vender meu filho? Ele puxou com a ponta de seus dedos as lágrimas que corriam pelas bochechas dela. —Não pensei nada parecido antes de saber quem era, por que ia pensar agora? Sei que você o fez para tentar salvar a vida de Joey; se Matt estivesse numa situação similar, eu faria um trato com o diabo. —Isso foi o que eu fiz. Ele sorriu com ironia e disse: —Após conhecer teu ex-marido um pouco melhor, estou completamente de acordo contigo. Não posso achar que em seu dia o considerasse um grande homem. — Você não tem medo ele que cause mais problemas? —Não acho que o faça, não é mais que uma doninha sem garras tentando escapar com o rabo entre as pernas. —Deveria ter percebido a primeira vez que contatou comigo em Maui, mas tinha tanto medo do que pudesse fazer... de que seqüestrasse a Matt ou algo assim, 142


podia tentar qualquer coisa. —Tem outras coisas das que se preocupar além de nós, mas se causar problemas, sei que posso enfrentar qualquer coisa se tenho você e Matt a meu lado — beijou com doçura a palma de sua mão, e sussurrou — Voltará para casa comigo, e nunca voltará a ir embora, verdade? —É isso o que você quer? —É o que quis desde a primeira vez que te vi, que te toquei, que te beijei. A boca dele se fundiu com a sua, e caíram sobre a cama; foi um beijo cheio de doçura, mas cheio de desejo. Drew saboreou a textura e o sabor de seus lábios antes de abrir com sua língua para reclamar a boca feminina com suaves avanços e caricias preguiçosas. Ardem sentiu que uma onda de desejo inundava seus peitos e a área entre suas coxas; no entanto, quando Drew se separou com gentileza e voltou a se sentar, ela se emocionou ao ver que ele tinha a sensibilidade necessária para de perceber de que não era o momento adequado para se deixar levar por suas necessidades físicas. Ele percorreu a quarto com a olhar, e disse: —Deus, este lugar é deprimente. Vamos-nos de aqui.

Matt estava encantado de ter uma audiência tão entusiasta; seus pais, sentados no tapete oriental do chão do salão, aplaudiam suas ocorrências e suas manias, que a cada vez eram mais exaltadas. O menino deu uma cambalhota, começou a dar saltos e a correr em círculos até que tropeçou se golpeou a cabeça com a pata do piano, e começou a berrar. —Será melhor que o deite antes que fique ainda mais nervoso — advertiu a senhora Laani. A mulher esteve secando as copiosas lágrimas de felicidade desde que Ardem e Drew entraram pela porta principal, com os braços enlaçados e aspecto desalinhado, mas radiante. —Vale, amigo meu, já ouviu a voz da autoridade. Para que Matt deixasse de chorar, o levantou montando-o sobre seus ombros; as mãos do menino se prenderam ao cabelo de seu pai, e Ardem rodeou com um braço a cintura de Drew enquanto subiam as escadas. Estava claro que haviam esperado muito para acalmar a Matt. Estava incontrolável, retorcendo-se enquanto punham as calças e repetia uma e outra vez: —Pipí. —Talvez não seja um falso alarme — disse Ardem. Drew olhou-a com ceticismo, enquanto perguntava-se quantas coisas mais iam surgir para impedir que Ardem e ele se fossem à cama. Seu corpo ardia de desejo contido. Rapidamente, tomou uma decisão. Tiraram o menino do pijama e da volumosa fralda, levaram-no ao seu banheiro e puseram-no diante do vaso. E, ante o esmagador orgulho de sua mãe e o assombro de seu pai, Matt fez o que havia que fazer. O menino sorriu encantado enquanto submetia-se a seus abraços e beijos de felicitação, e inclusive chamaram à senhora Laani para que se unisse à celebração. Mas tanta adoração era esgotante, e assim que voltaram a pôr o pijama, Matt dormiu abraçado a seu ursinho de pelúcia Pooh. —Fizemos um menino maravilhoso — sussurrou Drew, com um braço ao redor de Ardem. —Sim, é verdade — disse ela, encostando mais contra ele — Quando dei a Ron os 143


cinco mil dólares, ele me disse que me havia esterilizado após ter a Matt. Drew soltou uma maldição selvagem. —Não me estranha que andar pela casa como uma sonâmbula naquelas semanas. Ela se estremeceu, e ele a rodeou também com o outro braço. —Por isso não queria ir ao médico, não queria que te inteirasses; além do mais, já havia outro segredo que não te havia contado. —Não importa, Ardem, não precisamos outro filho... —Não — disse ela com ênfase, mas com voz suave, para não acordar a Matt — estava mentindo. Disse só para me machucar. —Maldito bastardo — gemeu Drew com firmeza. —O médico disse-me que podemos ter todos os filhos que quisermos. Ele a beijou na frente e disse: —Se é assim, os quererei com todas minhas forças, mas não me importo que não tenhamos mais. Vou ser cabeça de série no ano que vem — Olhou Ardem que lhe dava um ligeiro abraço na cintura, demonstrando que estava completamente de acordo com suas palavras — e então me retirarei dignamente; tenho um filho maravilhoso, e uma mulher à que amo com todo meu ser. Que mais poderia pedir? Após dar em Matt um beijo final de boas noites, saíram do quarto. O corredor abria-se ante eles e de repente se sentiram um pouco inibidos e nervosos. Drew olhou-a e disse: —Não posso evitar o desejo de levar à cama de imediato, mas sei que gosta que te cortejem. Os olhos dela brilharam com uma expressão sonhadora, e falou: —Isso era antes que me casasse. — E agora? —Agora quero fazer amor com meu marido. —Tenho que me lavar. —Eu também. —Utilizarei o banho do térreo; quinze minutos? Ela sorriu, se alegrando de que a deixasse só; assim poderia se preparar como queria para ele. —Ou menos. Ardem se banhou, lavou o cabelo e secou-o rapidamente, hidratou sua pele com uma loção e perfumou-se. A fantasia que comprou no dia que seu mundo caíra continuava na caixa longa e delgada, de modo que a tirou e a colocou; a peça transparente de cor violeta só servia para enfatizar a nudez do corpo que cobria. Estava recostada contra o travesseiro quando Drew entrou no quarto; ele levava só uma toalha ao redor de suas pernas, que chegava logo embaixo do umbigo. Os olhos de Ardem percorreram a intrigante linha de cabelo loiro até o ponto em que se abria para cobrir seu largo peito. Com o olhar fixa nela, Drew foi até a cama e tirou a toalha; Ardem contemplou-o sem sentir vergonha alguma. —É muito bonito — disse ele, se referindo a nova camisola. Os olhos azuis desceram pela esbelta coluna de seu pescoço, até as curvas de seus seios; podia ver seus mamilos sob aquele tecido quase transparente que se ajustava a suas coxas e a suas pernas, perfilando sua forma. Seus delicados pés estavam cruzados com recato. —Obrigado — falou ela. —Gosto como te senta dessa cor. 144


—O recordarei. A mim também gosto como te senta da cor que levas. O rosto dele se alumiou com um grande sorriso, e Drew falou: —Tenho que se bronzear um pouco mais, tenho empalidecido um pouco durante a semana passada — se inclinou para ela, deslizou um dedo sob seu decote e jogou uma olhadela ao que havia embaixo — Tu também tens que tomar mais o sol. A sensação daquele dedo próximo de seu mamilo deixou-a sem fôlego; os peitos de Ardem levantaram-se para ele até o tocar, e a lânguida expressão que alumiou seus olhos encheu Drew de desejo. Se deitou ao seu lado em sentido contrário, e pousou sua cabeça na coxa dela. —Ardem — sussurrou — eu te amo, não podia suportar estar longe de ti. Não nos separemos nunca mais. —Nunca — prometeu ela, enquanto percorria seu cabelo com os dedos. Ele separou as pregas da fantasia; e apoiou a bochecha sobre sua sedosa pele. —Cheiras tão bem — murmurou, e beijou seu umbigo, adorando com sua língua — você deu a luz ao meu filho, o levou... Aqui — seus lábios deslizaram-se por seu abdômen, enquanto sua língua saboreava a sensível pele. —Sim — engasgou ela. Ardem voltou a cabeça para sua suavidade, introduziu seu aroma em seu corpo com fundas inalações; ela adorava sentir o cabelo do corpo masculino em seu rosto e em seus lábios. Encontrou com a boca seu umbigo e explorou-o detidamente. —Oh, Deus, Ardem — os dedos de Drew se prenderam a seu cabelo, aproximando mais sua cabeça a seu corpo febril. —Pensava em ti a cada vez que sentia o bebê se mexer — disse ela, enquanto com um braço rodeava seu quadril — perguntava-me como seria, rogava que fosse um bom pai para meu filho, fantasiava com o que te diria se em algum dia chegávamos a nos conhecer. —Eu também pensava em ti; sabia que era uma mulher saudável, de modo que não a imaginava nem gorda nem muito delgada, mas sentia curiosidade por seu aspecto, por sua personalidade, por seus motivos por concordar em ter o filho de um desconhecido. Perguntei-me muitas vezes se alguma vez pensava em mim. Ela sorriu contra o cabelo dourado que rodeava seu membro viril. —Pois já sabe que sim. O corpo inteiro de Drew estremeceu quando ela o acariciou com seus lábios e com a ponta da língua. —Drew — murmurou ela — quando... quando recolheu o... o... — não podia formular a pergunta, e também não queria falar de Ellie nesse momento, com a mão dele fechando na curva de seu traseiro para atrair para sua boca. —Estava só — disse ele, adivinhando o que estava pensando; seu fôlego abanou o escuro cabelo que abrigava sua feminilidade — E se tivesse conhecido você antes, se tivesse visto você, talvez tua lembrança tivesse entrado em conflito com meus sentimentos para minha esposa — depois daquelas palavras, depositou um beijo ardente e íntimo, com toda sua boca, no vértice do triângulo escuro. O erótico jogo de amor continuou até que o desejo fluía entre eles como um cálido e denso mel. Ele se virou para ela, abriu suas pernas com ternura, lentamente, e se ajoelhou entre elas. Com o mesmo extraordinário cuidado, colocou as coxas dela sobre as suas e deslizou as mãos sob suas cintura, a levantando para ele. Seus olhares fundiram-se logo quando ele se submergiu em seu corpo. Drew subiu as mãos pelas costas dela com uma sensual massagem — e a alçou para ele até que estiveram cara a cara. Selou a boca feminina com um beijo 145


apaixonado que declarava seu eterno desejo por ela, e suas mãos subiram por sua caixa torácica até chegar a seus seios. Drew acariciou-os, adorando de sua plenitude, de seu peso, e seus dedos deram voltadas ao redor dos excitados mamilos. —Drew, faz o que nunca senti Matt fazer. Ele a entendeu. Baixando a cabeça, levantou um peito para sua boca, e com uma suave pressão puxou-o entre seus lábios. Drew começou a sugar com ternura, mas com uma urgência crescente. O corpo de Ardem respondeu massageando-o, contraindo-se e soltando-o até que sua paixão atingiu um ponto álgido. Quando o orgasmo era iminente, Drew a depositou suavemente sobre a cama e a seguiu com seu corpo, e com uma última investida se submergiu até o fundo e entregou todo seu amor. E o mundo girava ao redor deles sem sentido do tempo nem direção, em um caos total, mas não se importaram; haviam criado seu próprio universo, um no outro, e guardaram-no zelosamente. Passou muito tempo até que desceram a um mundo mais mundano e de menos esplendor. —Eu te amo, Ardem — com as mãos apoiadas na cama, Drew levantou suavemente o torso e abaixou os olhos para o satisfeito corpo feminino, olhando com um amor sem limites. —Eu também te amo. Desde o primeiro momento, irrevogavelmente. —Conta-me tudo, desde o princípio; todos os detalhes que eu não conheço, por insignificantes que sejam. Quero saber como se sentiu quando soube que havia concebido. O que pensou? O que sentiu quando descobriu que eu era o pai de teu filho? Como você descobriu? Deixa que eu o viva tudo contigo. Ela começou a lhe contar tudo e não omitiu nada, nem os momentos dolorosos nem os felizes; sua voz suave envolveu-se na brisa oceânica que entrava pelas janelas e acariciava seus corpos nus entregados. Seus lábios interrompessem com freqüentes mostras de amor, em uma terna promessa de que os melhores capítulos de sua vida juntos ainda estavam por escrever.

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BIBLIOGRAFIA

Depois da morte de seu filho Joey, Ardem sentia um terrível vazio; mas tempo atrás havia dado a luz a outro bebê, um menino ao que havia renunciado nada mais nascer em uma tentativa desesperada por escapar de um inferno emocional. Ardem estava convencida de que o filho ao que nunca conheceu podia aliviar a dor pela morte de Joey; no entanto, sabia que o encontrar poderia ressuscitar as médias verdades, as terríveis mentiras e os segredos relacionados com seu nascimento. Porque significaria encontrar também ao homem que o engendrou...

SANDRA BROWN

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