Sandra brown dois estranhos (rainhas do romance 49)

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Rainhas do Romance 49 – Dois estranhos – Sandra Brown

Um delas sacudiu os cachos loiros intencionalmente enrolados, fazendo com que o lenço Hermes em seu pescoço deslizasse. Os doze ou mais braceletes em seu pulso tilintaram como guizos nos pescoços das renas de Natal. — E tão corajosa, Rusty! Acho que preferia morrer a passar por tudo que passou. Rusty estava a ponto de responder, quando se lembrou que não muito tempo atrás teria feito o mesmo comentário superficial. — Sempre pensei assim, também. Ficaria surpresa em descobrir como são fortes os instintos de sobrevivência. Em uma situação como aquela, são eles que nos comandam. Mas as amigas não estavam interessadas em filosofia. Queriam ouvir as futilidades. Os detalhes sórdidos. Uma delas se encontrava ao pé da cama e a outra sentada na cadeira ao lado do leito, com o corpo inclinado para a frente. Pareciam aves de rapina prontas para lhe separar a carne dos ossos tão logo sucumbisse. A história sobre o acidente e os eventos que se seguiram estampava a primeira página do jornal aquela manhã. O autor da matéria, errando apenas alguns pequenos aspectos, detalhou a provação por que haviam passado Rusty e Cooper. A reportagem era séria e de cunho jornalístico. Porém, o público tinha tendência de ler entrelinhas. Queriam saber o que foi omitido. Incluindo as amigas de Rusty, os leitores queriam os fatos esmiuçados. — Foi apenas tenebroso? Quando o sol se punha não era terrivelmente escuro? — Tínhamos várias lanternas na cabana. — Não, estou me referindo ao lado de fora. Antes de irem para a cabana, quando tiveram que dormir na floresta. Rusty suspirou, exausta. — Sim, era escuro. Mas tínhamos uma fogueira. — O que vocês comiam? — Na maioria das vezes, coelhos. — Coelhos! Eu morreria. —- Eu não morri — disparou Rusty. — E você também não morreria. — Por que estava fazendo aquilo? As amigas pareciam magoadas e confusas, sem entenderem o motivo de sua agressividade. Por que não dizia algo agradável, como o fato de a carne de coelho ser servida nos melhores restaurantes? Seguindo aquela linha de pensamento, não pôde evitar recordar de Cooper. Uma pontada aguda de saudade a invadiu. — Estou muito cansada — disse, sentindo necessidade de chorar e não ter de explicar por quê. Mas a sutileza não funcionava com aquela dupla, que não aproveitou a deixa e partiu. — E sua pobre perna! — A que ostentava os braceletes levou a mão a boca, horrorizada. — O médico está certo de que pode consertar isso? Rusty fechou os olhos, enquanto respondia. — Razoavelmente certo. — A quantas cirurgias terá de se submeter para se livrar dessa cicatriz horrorosa? — Rusty sentiu o ar se agitar contra seu rosto, enquanto a outra amiga acenava, frenética, para que a dos braceletes se calasse. — Oh, não quis dizer isso. Não está horrorosa, quero dizer... 115


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