Acontece que eu te amo - Edna Guedes

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mulher? Quem é ela? Se me enviaram as fotos, por que não disseram o nome dela e onde encontrá-la? Naquele momento, senti raiva de Guilherme, que havia viajado e até então não entrara em contato comigo, apenas falava com a filha, senti raiva da pessoa que me enviou aquelas fotos com a intenção de me envenenar a alma, senti raiva de seu silêncio, de tudo. Eu sentia raiva de mim por haver me apaixonado novamente por Guilherme e, agora, encontrar-me naquela situação enquanto ele estava com outra mulher. Eu não merecia isso mais uma vez. Eu pensei que estivéssemos começando a nos entender, que cedo ou tarde um de nós se renderia e declararia o amor que sentimos. Pelo visto, me enganei novamente. Eu não despertava mais sentimento algum nele, só o orgulho de ser sua posse. Antes de ir para a cama, senti um pouco de fome e resolvi descer até a cozinha para tomar um copo de leite para relaxar. Desci as escadas e na cozinha peguei o leite e o esquentei. Acho que ele deveria estar vencido, pois o gosto era terrível. Eu o vomitei por completo. Credo, que gosto ruim. Olhei a caixa e ainda estava na validade. Mas por que eu havia sentido um gosto tão ruim nele? E que cheiro ruim! Desisti do leite, subi as escadas e me deitei, sentindo-me um tanto quanto fraca. Adormeci. Acordei tarde e, após um banho, desci as escadas e ouvia vozes vindas da cozinha. Era Helena que falava com alguém. Meu coração pulou de alegria ao vê-lo, tive vontade de correr para os seus braços, mas me contive, sentia que havia uma barreira intransponível em volta dele, a qual eu não podia ultrapassar. Cumprimentamo-nos apenas com um sorriso e um leve aceno de cabeça e mais nada. Decepção e frustração foram o que eu senti. Eu queria beijá-lo, fazer amor com ele, passar dias na cama compensando as noites em que eu não senti o calor de seu corpo. Almoçamos todos juntos, Helena tomou conta da conversa, falava, demonstrava alegria com a volta do pai, falava dos presentes que ele trouxe, das promessas de saírem juntos que ele fez, dos passeios que haviam programado, enfim, falavam de tudo, apenas os dois. Senti-me totalmente excluída da conversa. Beijei Helena e levantei-me da mesa. Eu não entendia por que ele mal havia me cumprimentado e agora não falava comigo, apenas me olhava quando Helena se referia a mim em algum assunto e, mesmo assim, sua expressão era indecifrável. À noite, ele estava no escritório falando ao telefone quando entrei. Ele vestia uma calça jeans e uma camisa branca completamente aberta, deixando o peito e a barriga à mostra, e descalço. Ele gostava de ficar à vontade em casa. De imediato, ele interrompeu a ligação com um “depois nos falamos” para o interlocutor. Desligou o telefone e me olhou, calado. Com aquela recepção, eu mal sabia o que falar, logo eu, jornalista, que tinha sempre o que perguntar às pessoas que entrevistava, que se pressupõe, tenho o dom do diálogo. Eu mal articulava as palavras e piorava com o olhar dele


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