Revista Cabra&Ovelha - Junho 2014

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Aproveite este novo mundo de informação e tenha uma boa leitura! Até a próxima.

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Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias. Salmos 23:6

Denis Deli Diretor/Editor

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Revista Cabra & Ovelha é uma publicação mensal da Sustentabilidade Editorial Telefone: (11) 4901-4904 (11) 4902-4904 redacao@cabraeovelha.com.br www.cabraeovelha.com.br

reciso começar pedindo aos nossos leitores, e especialmente os assinantes, minhas sinceras desculpas. Agradeço a compreensão e o apoio que recebemos de vocês. A Revista Cabra & Ovelha passou por uma série de reformulações nestes últimos cinco meses, buscando se adaptar a uma nova realidade do mercado editorial e do momento econômico vivo pelo país – não é um problema específico do nosso setor, mas um verdadeiro desafio que todas as empresas brasileiras terão que superar. Mas a caprinovinocultura é forte e tem atraído a atenção de investidores em todas as áreas, inclusive a editorial. Fechamos uma importante parceria com uma editora que acreditou neste segmento e vai nos ajudar a fazer uma revista ainda melhor. Aos poucos, vocês vão conhecendo os novos integrantes dessa equipe. Nosso time de colaboradores vai crescer e uma participação maior em exposições e eventos por todo o Brasil está sendo planeja. Voltaremos a fazer aquilo que sempre fizemos, e que se tornou nossa marca registrada nestes nove anos de publicação: botar o pé na estrada e mostrar cada cantinho deste país onde criadores e associações trabalham duro para fomentar a caprinovinocultura. Na minha modesta opinião, a espera valeu à pena. Conseguimos preparar uma boa edição, com notícias relevantes e um conteúdo com a qualidade que você espera – e já está acostumado a ver, na NOSSA revista. A matéria de capa trás uma reportagem especial que tenda desvendar “Os enigmas da carne”. Como juntar as peças que faltam para montar esse complexo quebra-cabeça que é a cadeia produtiva? Organização, incentivo governamental e estímulo à produção são alguns dos itens necessários para que o setor consiga demonstrar todo o seu potencial! Na editoria perfil, uma entrevista exclusiva – e franca, com o criador e empresário Paulo Franzine, da Cabanha Malu. Com apenas cinco anos nesta atividade Paulo já é presidente da ABCDorper, entidade que reúne criadores da raça ovina que mais registra animais P.Os no Brasil. O criador abriu as porteiras de sua propriedade e falou sobre família, seleção genética e investimentos num ambicioso projeto no Mato Grosso do Sul, onde pretende estabelecer uma criação de 50 mil ovelhas. Nosso giro pelo Brasil também está de volta, com matérias específicas sobre as regiões SUL e NORDESTE – dois grandes polos de ovinos e caprinos do país. Aqui, já temos outra novidade, que é a chega do Luiz Alberto Brito Mendes, conhecido em todo no nordeste como Luiz do Berro – e que agora veste a camisa da Revista Cabra & Ovelha. Seja bem-vindo ao nosso time! Entre as muitas curiosidades desta edição, vale destacar a matéria da editoria LEILÕES, que entre outros assuntos fala da FEOVELHA, um tradicional evento do RS, que este ano ofertou, em um único leilão, quase oito mil animais em quatorze horas ininterruptas de remate. Vale a pena conferir. E para quem procura uma opção de negócio capaz de viabilizar as pequenas propriedades, o exemplo do Capril do Bosque, um criatório de cabras Saanen do interior de São Paulo, mostra que com criatividade e empenho é possível verticalizar a produção, explorar as belezas do turismo rural e aumentar o faturamento. Tudo acompanhado de um bom queijo de cabra – produzido em queijaria própria, e servido num simpático restaurante construído próximo das baias, onde o visitante também pode apreciar uma boa carne de cabrito.

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Artigo

Associativismo na Caprinocultura e Ovinocultura União e organização podem ser os caminhos para aumentar a rentabilidade do produtor e, consequentemente, fortalecer todos os elos da cadeia produtiva

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Associativismo

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Qualquer iniciativa formal ou informal que reúna um grupo de pessoas ou empresas, com o principal objetivo de superar dificuldades e gerar benefícios comuns - econômicos, sociais e políticos. Na busca desses objetivos é comum a ocorrência de conflitos quando os interesses individuais entram em choque com o interesse coletivo A matéria-prima do associativismo são as pessoas, sejam elas produtores, consumidores, prestadores de serviços, enfim, pessoas com uma mesma atividade profissional. No nosso caso, criadores de caprinos e ovinos, que têm no associativismo uma opção para uma série de ações conjuntas, tais como: • Organização da comercialização (compra e venda); • Viabilização de equipamentos de propriedade e uso coletivo; • Busca e troca de informações: pesquisa e capacitações; • Desenvolvimento de pesquisas e mercadorias; • Ações coletivas de marketing, entre outras. O associativismo objetiva também o ganho de escala (volume), o poder de barganha, a representatividade, a capacitação, a profissionalização, o fortalecimento e o desenvolvimento setorial e regional. Como podemos observar, o associativismo promove a quebra de paradigma, minimizando a competição e maximizando a cooperação. Na formalização do associativismo podemos ressaltar: • Organização de associações de pessoas físicas: filantrópicas, de beneficência, profissio-

nais e de classe (advogados, professores, estudantes, religiosos, políticos e etc.) • Associações de pessoas jurídicas (bancos, empresas, indústrias, comerciais, etc.) • Cooperativas. As associações têm suas regras de funcionamentos fundamentadas no Código Civil Brasileiro, que estabelece um mínimo de três pessoas para sua constituição. Seu documento básico é o estatuto social que entre outras ações estabelece a regra de seu funcionamento. Esse documento deve ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos onde terá sua sede. Além dos Estatutos Sociais, as Associações, através de assembleias gerais ou extraordinárias, estabelecem um Regimento Interno que define as funções dos setores administrativos, financeiros e sociais da entidade.


É uma forma associativa criada na Inglaterra em 1844, portanto com 169 anos de existência. Suas origens datam da época da época da Revolução Industrial, quando um grupo de tecelões desempregados resolveram, para aliviar seus problemas financeiros, constituir a primeira cooperativa que a história nos revela – Cooperativa dos Pioneiros de Rochdale. Tratava-se de uma cooperativa de consumo, para fornecimento de gêneros alimentícios aos seus cooperados. Desse ano em diante, o cooperativismo foi sendo conhecido e praticado em várias partes do mundo. No estado de São Paulo a história nos revela seu início. • 1856 – Sociedade Paulista de Cultura – Peruíbe/Itanhaém (litoral) • 1887 – Cooperativa de Consumo dos Empregados da Companhia Paulista – Campinas (interior) • 1891 – Sociedade Cooperativa dos Empregados da Companhia Telefônica – Limeira (interior) As cooperativas brasileiras têm uma legislação própria que rege todo processo desde sua constituição, funcionamento e liquidação, quando for o caso: é a lei 5.764/71. O cooperativismo observa mundialmente sete princípios que são 1. Adesão livre e voluntária; 2. Gestão democrática e livre; 3. Participação econômica dos membros; 4. Autonomia e independência; 5. Educação, formação e informação; 6. Intercooperação; 7. Interesse pela comunidade; Como podemos observar, são princípios fundamentalmente democráticos que regem o funcionamento dessas entidades. Convém ressaltar que uma das principais causas do sucesso do

empreendimento está na participação efetiva de seus membros e na busca constante das inovações que o mercado exige. Ressaltamos o 5° princípio, que fala da educação, formação e informação. Normalmente, anoitecemos com uma noticia e amanhecemos com novas ideias e sugestões que são apresentadas. Nesse particular os cooperados estarão constantemente atualizados com tudo o que ocorre no segmento onde atuam. Outro princípio que nos últimos anos vem se fortalecendo é o da Intercooperaçao – cooperativas se integrando com outras de ramos diferentes - Agropecuárias com Saúde, com Transportes, com Trabalho. Consequentemente, fornecem maiores e melhores serviços aos seus cooperados. Atualmente no Brasil contamos com 13 ramos de cooperativas: Agropecuária, Consumo, Crédito, Educacional, Infraestrutura, Habitacional, Produção, Saúde, Trabalho, Mineral, Turismo e Lazer, Transporte e Especial. Podemos ressaltar alguns aspectos de sucesso, tanto nos casos das Associações, como nos casos das Cooperativas: Liderança, Comprometimento, Consenso, Visão de Futuro. E nos casos de insucesso: Falta de PlaBendito Roberto nejamento, Desconfiança, Egoísmo e Falta Zurita de Vibração. Membro do Finalizado, vislumbramos para a caprinoConselho Consultivo cultura e ovinocultura, que o cooperativismo da Organização poderá produzir cada vez mais efeitos de das Cooperativas do sustentabilidade e desenvolvimento aos seus criadores, como vem ocorrendo com Estado de São Paulo - OCESP outros setores do ramo agropecuário.

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Cooperativismo

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Perfil

Paulo Franzine Presidente da ABCDorper diz que a ovinocultura já é uma realidade, mas setor carece de organização para crescer

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Fotos: thiago regis

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ssumir o risco de ter seu próprio negócio pode representar a conquista da independência e a realização de um sonho. Essa é a veia principal do empreendedor. De qualquer forma, a ação exige planejamento, maturidade e orientação. Números recentes divulgados pela filial paulista do SEBRAE apontam que os brasileiros não tem medo de encarar esse desafio. Um homem que está inserido neste cenário é Paulo Franzine. Aos 49 anos, esse empresário paulistano, nascido no bairro do Ipiranga, zona sul de São Paulo, e criado na divisa da Capital com o município de São Bernardo do Campo, atua em três segmentos. “Sou sócio-proprietário da empresa de construção de rodovias e infraestrutura, a TCL Construções. Também atuo no setor de Silvicultura em que, com a empresa Florestas Inteligentes, fazemos a manutenção de árvores nativas de Mata Atlântica para compensações ambientais”, explica. “Comecei minha carreira profissional aos 14 anos e dois dias, com o primeiro presente ganhado do meu pai, uma carteira profissional. O primeiro emprego foi em uma empresa de material


Wallace Nunes

portuária, aeroportuária e de logística multimodal com sede em São Bernardo do Campo/SP. “Nesta empresa trabalhei cinco anos na área de novos negócios e logística. Após esse período na Ecorodovias é que montei as minhas empresas juntamente com meu irmão e meu tio mais novo. Estamos no ramo da construção pesada há cerca de dez anos”.

O terceiro negócio de Paulo Franzine, administrador de empresas por profissão e, como ele diz, gastrônomo por opção, é a criação de ovinos, que desenvolve há cinco anos, como proprietário da Cabanha Malu (iniciais de suas filhas Maria Paula, oito anos, e Luiza de quatro anos, frutos de seu casamento de dez anos com Carolina).

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para construção, como office boy. Na sequência, entrei para uma companhia chamada Constroeste, onde trabalhei por 27 anos e sai de lá como diretor comercial”, continua. Já como executivo, o passo seguinte foi atuar na área de concessões rodoviárias. Trabalhou no grupo Ecorodovias - empresa de gestão rodoviária,

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Perfil

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Em todos os segmentos onde atua ele atribui à persistência e a crença no seu trabalho o sucesso de seus negócios. “Não meço esforços. Sou uma pessoa que acredita. Quem mata o tempo da vida não é um assassino, mas sim uma vítima dele mesmo. Por isso, aproveito todo tempo da minha vida produzindo”, ressalta. À reportagem da Revista Cabra & Ovelha, Franzine, diz que a ideia de criar ovinos nasceu de forma inusitada. Quando comprou a propriedade, onde hoje é a cabanha Malu, localizada em São Roque, cidade a 70 quilômetros da capital São Paulo, ela era um haras com 100 a 120 cavalos das raças Apaloosa, Painthorse e Mangalarga. “Como não conhecia do negócio vendi os animais em 48 horas. Procurei outra atividade já aproveitando a estrutura existente. Do total dos animais, deixei apenas duas éguas”. Ele conta, ainda: “Parti para São Paulo em busca de ferradura para os dois cavalos e, numa loja de utensílios para pecuária, encontrei um cartão de vendas de um criador de ovinos. Era o cartão do Marcos Barbosa, proprietário da MB Dorper, cabanha localizada na região do Vale do Paraíba no estado de São Paulo. Liguei

e de pronto, me atendeu. Disse-me que como nunca havia trabalhado com ovinocultura, qualquer coisa que ouvisse dele por telefone seria tempo perdido e me convidou para visitar a fazenda”. Franzine disse que se encantou com a criação no primeiro momento em que viu os animais. “Sem ao menos saber para que serviam”. A partir daí, pediu a Barbosa que fizesse um projeto. Começou em pouco tempo. “E como todo projeto para uma pessoa que não tem embasamento em um negócio novo, investi muito dinheiro que se perdeu. Foi um aprendizado caro”, resume. Segundo ele, a ovinocultura não é atividade da pecuária que aceita o extrativismo. Ou seja, não basta colocar em qualquer pasto, dar tratamento raso ou sem investir em qualificação profissional. “É uma área que depende de profissionais especializados, de tecnologia, formas de manejo e procedimento.” Entretanto, segundo o empresário, qualquer pessoa que tiver uma propriedade de bovinos e for adaptar para ovinocultura não é necessário fazer muita coisa. “Basta meia dúzia de fios, formas de manejo e qualidade ao pasto e trabalhar a comida do animal”. Em sua visão como criador, Franzine

diz que a última coisa que se coloca dentro do processo da ovinocultura é a ovelha. Para ele, é preciso começar com comida. “Por exemplo, qualquer projeto que algum iniciante queira fazer, a lição de casa é começar montando a comida. Na sequência, é a infraestrutura e, por último, colocar os animais. E durante esse período é preciso dedicação à leitura sobre o assunto.”, opina. Para o empresário não há nenhuma dificuldade em compreender uma leitura técnica de ovinocultura. “Não sou especialista da área, mas por uma questão de amizade no setor e de relacionamento e com espírito de união, entendo a necessidade de passar as informações”. A cabanha em São Roque tem uma área de 42 alqueires - sendo que 50% do total é de área útil e especialmente voltada para a criação de ovinos da raça Dorper e White Dorper. O restante é vegetação nativa. A propriedade possui cerca de 300 matrizes P.O com padrão 4 e 5 (numa escala de 5), e utilizou reprodutores importados para iniciar o plantel. A fazenda dispõe de baias, auditório, centro de manejo e laboratório para trabalhos genéticos. O empresário também promove um projeto de conscientização e aproveita-


Projeto de longo prazo

Além da cabanha em São Roque, Franzine também possui uma fazenda no Mato Grosso do Sul, a 30 quilômetros da capital Campo Grande. Batizada de Soberana, a fazenda possui 2.000 hectares e aproximadamente 1.000 cabeças com matrizes P.O’s, cujos técnicos fazem uma criteriosa seleção, onde

os animais de destaque são enviados para a criação de elite, na Cabanha de São Roque. “O restante fica no Mato Grosso. Entre elas algumas cruzadas que um dia foram receptoras, e hoje formam nosso rebanho comercial”, explica. “A ideia é que em dez anos tenhamos 50 mil cabeças, mas quero acreditar que na metade deste tempo poderemos abater 10 mil animais”, diz confiante. Como todos os produtores estão ligados na possível ascensão do mercado, vários querem verticalizar a produção. Criar, abater e vender a carne é o objetivo de muitos. Franzine diz estar atento ao mercado, mas segue uma linha diferente. “Quero ser uma excelência na produção de carcaças. Quero colocar 1000 carcaças num frigorífico e ter a certeza de que

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mento de dejetos animais e vegetais para alcançar a referência em sustentabilidade. Ele iniciou a criação com embriões de origem sul-africana. Hoje, promove acasalamentos com reprodutores e matrizes do seu afixo. “Pensando comercialmente, a raça já provou o seu potencial e o mercado vem mostrando fortemente sua aceitação e demanda pela carne ovina”, ressalta.

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Perfil

“Carneiro só ganha título de pai de cabanha na minha propriedade cobrindo um grande volume de fêmeas. Elas, por sua vez, são obrigadas a desmamar borregos de excelente potencial genético. Sou empreendedor e não faz sentido manter uma criação que não gera lucro”, explica o empresário. Franzine é enfático ao dizer que para “crescer é preciso ser bom no que faz” e por isso sua disposição na produção das raças se dá não apenas pela vontade, mas também pela ajuda dos seus funcionários. “São dez e todos fazem a diferença”. Essa qualidade tem sido comprovada nas pistas, onde a Malu conquistou prêmios importantes nos últimos anos.

Organização do setor

terei padrão e regularidade. Não vou vender carne com a marca Malu. Hoje existem boas marcas que já fazendo isso. Criar uma marca não é tarefa fácil, nem barata”, alerta. Segundo ele, as raças Dorper e White Dorper reúnem características como fertilidade, rusticidade, boa qualidade materna e fácil adaptação ao ambiente de criação, que refletem na qualidade da carne como produto final. “Ressalto que isso não é possível apenas na Malu, mas em todas as cabanhas de diversas raças que possuem um manejo bem cuidado e profissional”.

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Ascensão rápida

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Com seu espírito empreendedor, em pouco tempo Paulo Franzine cresceu no setor de ovinocultura e se tornou presidente da ABCDorper. “Foi um rápido crescimento, mas tenho certeza de que não é por conhecimento do setor. Entendo que não é difícil aprender. Ovinocultura é bom senso e objetividade”. O presidente da ABCDorper exalta os técnicos e também os criadores que fazem o setor crescer de maneira homogênea. “Hoje há bons técnicos como Sérgio Nadal e Regina Valle, além de bons criadores e profissionais, como o veterinário Manoel, da Campo Verde, que é um profundo conhecedor. Mas, foi essa minha característica empreendedora é que me fez dirigente de uma importante entidade”. Participando ativamente da ABCDorper desde 2011 – época em que era presidida por Antonio Castilho, Franzine entende que a morfologia, ainda muito cultuada entre os produtores, é apenas uma parte da genética e que o objetivo para qual esses animais foram criados jamais deve sofrer desvios.

No posto de presidente da ABCDorper, Franzine mostra-se focado no trabalho de consolidação do setor. Ele entende que o momento vivido pela ovinocultura é de organização. “Isso já vem do meu antecessor. No entanto, estou vivendo o momento em que se não houver organização, não existirá ovinocultura no Brasil.” Para ele, uma das pautas preponderantes “é o aumento de locais estratégicos de abate de carne para os médios e grandes produtores, próximo aos grandes centros consumidores, unindo criadores e indústria, evitando o abate clandestino”. Paulo se mostra particularmente preocupado com a questão do abate clandestino e defende que a prática deve ser extinta, “O produto precisa primeiro chegar na indústria, antes de parar no prato. O frigomato faz com que a ovinocultura perca em todos os sentidos. Sem falar nas questões de saúde, que não são observadas no abate ilegal”, alerta. A forma em que todos fazem de maneira organizada e colegiada é o melhor a ser realizada. “Não há atravessador, pois são pessoas compromissadas. A ovinocultura é realizada por pessoas que acreditam na qualidade e no padrão da carne”.


Recentemente, Franzine disse ter recebido no escritório da ABCDorper membros de países do Oriente Médio, com a finalidade de compra de carne ovina. “Dei o endereço da Nova Zelândia. O Brasil ainda não está pronto. Sei que eles estão de olho na capacidade produtiva, pois é um país tropical com todas as características produtivas para que se possa criar, mas ainda não é o momento”. Paulo acredita que a organização levará o País a ser um grande produtor, mas em longo prazo. “O Brasil é a nação que melhor paga pelo quilo do cordeiro. Se fizermos vários Uruguais - onde há mais organização - dentro do Brasil, conseguiremos atender as necessidades do mercado”.

Crescimento exponencial

Paulo Franzine afirma que erra quem diz que a ovinocultura é feita para o pequeno empresário. “É feita para o médio e para o grande empresário também. É como a

bovinocultura, em que conheço pessoas que tem dez vacas, assim como pessoas que possuem 100 mil animais.” O setor tem uma característica especial. Segundo ele, há formas de criar e o mercado demanda a necessidade de produção de animais de qualidade. “Os criadores de todas as raças que cumprem as exigências de criação estão empenhados para fazer que o mercado cresça de maneira exponencial”, destaca. Ele continua ao dizer que o fenômeno da ovinocultura de corte já é “uma realidade capaz de produzir carne com o sabor e a maciez que o mercado busca”. Ele destaca, ainda, que o investimento de produtores e empresários que vêm acreditando na atividade é cada vez maior. “Nos últimos cinco anos, o registro das raças na Arco (Associação Brasileira de Criadores de Ovinos) aumentou 880%, o que significa um plantel de 34 mil animais, o maior do mundo da raça”, expõe o presidente.

Cada um fazendo a sua parte

De olho no crescimento do rebanho brasileiro, que segundo dados das entidades reguladoras do setor, não tem crescido, Paulo Franzine acredita que falta incentivo público como retenção de matrizes, benefícios tributários no sentido de compra, de alimentação, de capacitação de mão de obra, que não é capacitada para o setor, diferente da pecuária. “O mercado é o apoio para a consolidação. Mas que fique claro, projetos políticos de produção da ovinocultura não fazem o setor sair do lugar. Porque é tudo muito pequeno se colocarmos no papel”. Para ele, é preciso investir muitos recursos para acreditar num projeto como esse. “A ovinocultura só ficará em pé com o governo dando incentivos e fazendo campanhas de produção, e deixando o investimento financeiro para o investidor. Só assim, ele vai transformar o produto inicial em dinheiro. O papel do governo é fomentar, produção é o papel do investidor”, finaliza.

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E a exportação de carne?

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Sanidade

AFTOSA

OIE reconhece oito estados brasileiros como livres da febre aftosa com vacinação

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Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) reconheceu no dia 25 de maio, em Paris, mais oito estados brasileiros como área totalmente livre da febre aftosa com vacinação. A certificação internacional vai beneficiar a sete estados do Nordeste (Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe) e também o estado Pará, na região Norte. Essa conquista é de extrema importância para a pecuária brasileira diante do mercado mundial, favorecendo a abertura comercial para outros países e a redução do embargo da carne brasileira. Para criadores de caprinos e ovinos do Nordeste essa conquista será essencial para o desenvolvimento da atividade naqueles estados. Até hoje, era difícil participar de feiras e exposições em outras regiões do Brasil, já que ficava caro manter os animais durante um longo período em quarentena. Agora o setor de caprinovinocultura ficará ainda mais fortalecido no País. Ainda restam três estados que não são livres da febre aftosa com vacinação: Amapá, Amazonas e Roraima. Santa Catarina é o único estado brasileiro livre da febre aftosa sem vacinação. Uma delegação que incluiu integrantes do Governo Federal e do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV),

representado por seu presidente, o médico veterinário Benedito Fortes de Arruda, foi até a capital da França participar da cerimônia. Arruda avalia a conquista como fundamental para o fortalecimento da carne brasileira no mercado internacional, e ressalta a importância dos médicos veterinários na busca pelo status de zona 100% livre da febre aftosa. “O veterinário acompanha toda a cadeia produtiva, desde o trabalho de sanidade animal, passando pela qualidade e higiene de produção, conservação até comercialização”. Este profissional também fiscaliza frigoríficos, indústrias, fábricas de produtos e subprodutos de origem animal. Em resumo, é o veterinário que controla a qualidade dos produtos, assegurando a oferta de alimentos seguros para o consumo humano. O objetivo do Governo é conquistar o reconhecimento da OIE como área livre de febre aftosa com vacinação para todos os estados brasileiros. Atualmente, 15 unidades da federação já têm esse status: Acre, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Distrito Federal, além dos municípios de Guajará e Boca de Acre, no Amazonas; e a região centro-sul do estado do Pará.



Nordeste

O momento histórico do Anglonubiano Raça mostra sua força e, assim como o sertanejo, se fortalece em situações adversas

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arece que o pior já passou! O semiárido nordestino enfrentou uma das maiores secas já registradas, a pior dos últimos 50 anos. Foram 36 meses sem chuvas... As poucas que caíram somaram índices pluviométricos insignificantes, quando comparados às médias históricas seculares da região.

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Neste cenário, a caprinovinocultura, mesmo sendo a melhor ferramenta de resistência e prosperidade da região semiárida nordestina, também foi atingida. Foi obrigada a diminuir seus efetivos, em função da manutenção e sobrevivência dos melhores indivíduos, linhagens e famílias, sendo duramente desfalcada. Para a raça Anglonubiana, porém, o que poderia ter sido um desastre funcionou como uma ferramenta de seleção natural dos mais aptos, dos mais resistentes, dos mais produtivos. Milhares de animais foram comercializados e migraram para outras regiões mais amenas, onde certamente prosperarão e serão melhorados com o uso sistemático de reprodutores melhoradores. Os que aqui permaneceram, são os melhores indivíduos de seleções tradicionais, provados por suas descendências. Nesse caso também, faz-se necessário multiplicar


Luiz Alberto Brito Mendes é veterinário e correspondente da Revista Cabra&Ovelha na região do nordeste

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esse patrimônio genético superior. Com a chegada das – ainda escassas – chuvas desse ano, vivemos um momento histórico de recomposição dos rebanhos, sejam eles, puros, mestiços leiteiros ou cruzados de corte. Nesse momento histórico, somente a raça Anglonubiana, por suas virtudes zootécnicas de dupla aptidão e efetivo animal, tem capacidade para realização dessa tarefa. Também entre os selecionadores de rebanhos de elite, técnicos inspetores, juízes da ABCC / ABC Anglo e criadores da raça, é consenso que se maximize as virtudes e características da Anglonubiana,

padronizando julgamentos, definindo com fundamentação cientifica e fisiológica animal, as distintas características que definem as linhagens leiteiras e as linhagens de corte, unificando, padronizando e capacitando seus técnicos, para orientações zootécnicas dos rebanhos assistidos. Para tanto, realizou-se em Fortaleza/ CE o encontro de renomados técnicos e criadores, elaborando-se um competente programa de regulamentos de julgamentos e padrão fenotípico, que deverão balizar a raça, para uma melhor caracterização racial e fisiológica dos animais. Esse novo regulamento certamente influenciará positivamente a seleção e melhoramento genético da raça no Brasil e permitirá uma segurança genética e zootécnica que, em breve, tornará também os rebanhos de campo mais produtivos e lucrativos, gerando mais renda e prosperidade para o setor.

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Sul

FENOVINOS

Qualidade a toda prova

Setenta expositores de 25 municípios do Rio Grande do Sul e Paraná mostram o alto nível de seus animais

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Nos dias 14 a 18 de maio, a cidade de Santiago, no Rio Grande do Sul, foi palco da XXVI Fenovinos, realizada pela ARCO - Associação Brasileira de Criadores de Ovinos, juntamente com o Sindicato Rural das cidades de Santiago, Unistalda e Capão do Cipó. A feira aconteceu no Complexo Esportivo Aureliano de Figueiredo Pinto (Ginasião) e apresentou 207 animais em uma das mais importantes mostras de ovinos do sul do país. Na avaliação de Paulo Afonso Schwab, presidente da ARCO, a organização, o empenho e a união foram essenciais para realizar uma edição diferenciada. “O Sindicato Rural de Santiago, Unistalda e Capão do Cipó, com o apoio das prefeituras e outros parceiros, conseguiu reunir em torno da ovinocultura vários segmentos como comércio, maquinário agrícola, oficinas e palestras. Durante cinco dias foram realizadas inúmeras atividades que atraíram a população urbana e rural das três cidades, principalmente de Santiago. Os organizadores estão

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Presidente da Arco Paulo Afonso Schwab e Sandro Marques Ferreira, Presidente do Sindicato Rural de Caçapava do Sul cidade escolhida para sediar a próxima Fenovinos

de parabéns pelas inovações que só agregaram valor a um evento que já é consagrado”, afirmou o presidente.

Um termômetro para as principais pistas gaúchas

Os números e a qualidade dos animais apresentados durante a Fenovinos foi uma prévia de como serão


Andressa Besseler

em Vacaria/RS, participa das pistas de julgamento no Rio Grande do Sul. “Desde 1990 inscrevo animais em feiras e exposições, e sempre fiz questão de participar da Fenovinos, porque além de ser um excelente período para compra e venda de fêmeas, é uma maneira de verificarmos o nível dos animais concorrentes, que certamente irão para Esteio”, revela.

Qualidade genética foi destaque

Cerca de 305 ovinos passaram pelo julgamento criterioso dos técnicos Claiton Severo e Gaspar Pedroso, que destacaram o número de animais inscritos. “Esta feira vai marcar pela participação expressiva, bem como, pela qualidade do rebanho apresentado. Prova do investimento em melhoramento genético feito pelos proprietários das cabanhas”, comenta Pedroso, que há 33 anos atua como técnico em exposições e feiras pela SEAPA - Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio. As raças com maior número de animais inscritos foram a Texel, com 98, e a Corriedale, com 82. 70 expositores de 25 municípios do Rio Grande do Sul e Paraná prestigiaram o evento.

Leilões

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pesadas as pistas na Expointer, em Esteio/RS. “Pelo que vimos hoje, temos certeza que a Expointer deste ano será muito concorrida, principalmente, nas raças Texel e Corriedale”, afirmou Claiton de Almeida Severo, técnico da ARCO e um dos jurados de admissão. Há duas décadas, Luiz Alfredo Horn, produtor da raça Ile de France,

A Feira Nacional Rotativa de Ovinos também foi uma ótima oportunidade para firmar negócios, vender ou comprar genética de ponta. Dois remates foram realizados durante o evento, um na sexta-feira (16/5) da raça Texel; e outro no sábado (17/5) - “Ovino Multiraças” e rebanho geral. No remate de Texel, dez fêmeas e um macho foram comercializados, totalizando R$ 36.160,00. A média entre as fêmeas ficou em R$ 3.376 e o macho foi vendido por R$ 2.400. Já no leilão de sábado, foram ofertados 21 animais da raça Corriedale, dois Poll Dorset, um Merino Australiano e 64 ovinos gerais. A média geral dos animais Corriedale ficou em R$ 934. O Poll Dorset fechou média de R$ 2.000 e o lote de Merino Australiano foi arrematado por R$ 5.000. Já no rebanho geral, a média ficou em R$ 196,61. O faturamento total do evento foi de R$ 41.203.

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Sul

Principais resultados das pistas de julgamento: CORRIEDALE (Jurados: Bernardo Iturraldi e Daniel Barros) Machos •Grande Campeão – Box 77, de Luis Claudio L. Pereira e Fernanda Scardoelli e Filhos, Cabanha Santa Cecília, Dom Pedrito/RS • Reservado de Grande Campeão – Box 75, de Oscar Silva Vitorino, Cabanha Boa Nova, Santiago/RS Fêmeas • Grande Campeã – Box 52, de Luis Claudio L. Pereira e Fernanda Scardoelli e Filhos, Cabanha Santa Cecília, Dom Pedrito/RS • Reservada de Grande Campeã – Box 50, de Paulo Roberto Silva Assunção, Filho e Netos, Cabanha Santa Amália, Bagé/RS TEXEL (Jurados: Volnei Ávila, Cláudio Marimon e Jair Pereira de Lima) Machos • Grande Campeão – Box 171, de José Luiz Pereira Dias, Cabanha Dona Rosa, Cachoeira do Sul/RS • Reservado de Grande Campeão – Box 174, de Rogério Quevedo de Camargo, Cabanha Onitra Agropecuária, Bossoroca/RS Fêmeas • Grande Campeã – Box 118, de Ricardo Bitencourt, Cabanha Santa Maria, Santa Maria/RS • Reservado de Grande Campeã – Box 152, de José Luiz Pereira Dias, Cabanha Dona Rosa, Cachoeira do Sul/RS IDEAL (Jurado: Sérgio Muñoz) Machos • Grande Campeão – Box 26, de Sady Dornelles Ferreira e Kleber da S. Ferreira, Fazenda Paraíso, Santiago/RS • Reservado de Grande Campeão e Melhor Velo Macho – Box 30, Adilson Mario Pinto Kruel, Agropecuária Novo Rumo, Tupanciretã/RS Fêmeas • Grande Campeã e Melhor Velo Fêmeas – Box 18, de Adilson Mario Pinto Kruel, Agropecuária Novo Rumo, Tupanciretã/RS • Reservada de Grande Campeã – Box 09, de Sérgio Luis Nadal da Luz, Cabanha Tapera, Quaraí/RS

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ILE DE FRANCE (Jurado: João Vasco) Machos • Grande Campeão e Melhor Cabeça da Raça – Box 209, de P.A.P Ibirucua – Irmãos Torres, Cabanha P.A.P Ibirucua, Santiago/RS • Reservado de Grande Campeão – Box 210, de P.A.P Ibirucua – Irmãos Torres, Cabanha P.A.P Ibirucua, Santiago/RS

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Fêmeas • Grande Campeã – Box 194, de Fabiano Cândido de Paula, Cabanha São Miguel Arcanjo, Palmeira/PR • Reservada de Grande Campeã – Box 198, de Antônio e Rafael Paim, Cabanha Quatro Amigos, Muitos Capões/RS MERINO AUSTRALIANO (Jurado: Sérgio Muñoz) Machos • Grande Campeão – Box 06, de Paulo Roberto Moraes Arocha, Cabanha Infantada, Santo Antônio da Missões/RS • Reservado de Grande Campeão – Box 07, de José Luis Marona Pons, Cabanha Santa Ângela, Uruguaiana/RS Fêmeas • Grande Campeã – Box 05, de Geraldo da Paixão Jesus, Cabanha Nossa Senhora Aparecida, Bagé/RS • Reservada de Grande Campeã – Box 01, de José Octávio S. de Silveira e Sônia Maria C. F. de Silveira, Cabanaha M. Laneira, Sant’Ana do Livramento POLL DORSET (Jurado: Clairton Marques) Machos • Grande Campeão – Box 239, de Cabanha Don Cortes, Cabanha Don Cortes, Erechim/RS • Reservado de Grande Campeão – Box 243, de Cabanha Don Cortes, Cabanha Don Cortes, Erechim/RS Fêmeas • Grande Campeã – Box 231, de Agropecuária Vitória Ltda, Agropecuária Vitória, Sant’Ana do Livramento • Reservada de Grande Campeã – Box 230, de Cabanha Don Cortes, Cabanha Don Cortes, Erechim/RS SUFFOLK (Jurado: Clairton Marques) Machos • Grande Campeão – Box 222, de Vinicio Bastos e Celmis Bastos, Cabanha Minuano, Julio de Castilhos/RS • Reservado de Grande Campeão – Box 223, de Vinicio Bastos e Celmis Bastos, Cabanha Minuano, Julio de Castilhos/RS Fêmeas • Grande Campeã – Box 216, de João Augusto Botelho do Nascimento, Fazenda Descanso, São Martinho da Serra/RS • Reservada de Grande Campeã – Box 218, de João Augusto Botelho do Nascimento, Fazenda Descanso, São Martinho da Serra/RS


Mercado

o final de março, o mercado se surpreendeu com a notícia da realização de um Leilão de Liquidação da Fazenda Álamos. Porém, o que começou com apreensão, se mostrou – no final das contas, uma boa notícia. O criador Eduardo Bergstein, titular Eduardo Bergstein da Álamos, deixou claro que não está saindo da atividade, pelo contrário, vai ampliar sua atuação na caprinovinocultura e aumentar a variedade de raças em seu criatório. “Tínhamos um sócio investidor que, por razões pessoais, resolveu deixar a sociedade. Para darmos total transparência neste processo, como é de costume na Álamos, optamos por fazer uma liquidação. Assim o próprio mercado definiu os preços dos animais”, explicou Eduardo – que aparece na relação dos maiores compradores do leilão, deixando clara sua intenção de continuar investindo em alto nível. Ao final do remate, o criador comemorou o resultado obtido. “Tivemos boas médias, mas acima de tudo vale destacar a liquidez de 100% do leilão”. Sobre o futuro da Álamos na atividade, Eduardo se mostra otimista. “Agora teremos uma agilidade maior na tomada

de decisões da empresa. Também vamos diversificar as raças de caprinos e ovinos que serão trabalhadas na Álamos Genética que vai intensificar os trabalhos na prestação de serviços de T.E e I.A para criatórios parceiros”, afirma. O leilão ofertou 62 animais e faturou R$ 246.720,80. Nas fêmeas Dorper, a venda de 34 animais totalizou R$ 157.920 – com média de R$ 4.644. O destaque foi a ovelha Álamos AFS 28 – arrematada por R$ 10.320 pelo próprio Eduardo Bergstein. Já nos machos, 11 animais foram ofertados em nove lotes, com faturamento de R$ 28.080 e média de R$ 2.552. Destaque para o reprodutor Álamos Akin T.E 394 – arrematado por R$ 5.280 pelo criador Fabrício Yoneda. Na raça White Dorper foram ofertados nove fêmeas, com faturamento de R$ 31.200 e média de R$ 3.466. Já no Texel, oito fêmeas divididas em três lotes somaram R$ 17.040 e média de R$ 2.130.

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Leilão de Liquidação Álamos

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Leilão

Leilões que vão entrar para a história No Rio Grande do Sul um leilão ofertou 7.850 em 14 horas, enquanto que na ExpoZebu os remates ultrapassaram a marca de R$ 46 milhões!

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lá Amigos! Os números da ovinocultura são cada vez mais expressivos. Os leilões contribuem com a oferta de genética para o mercado. A seleção Dorper Campo Verde realizou dois leilões neste ano (um em janeiro outro em março), obtendo ótimos resultados financeiros e, o mais importante, com liquidez total. A seleção Álamos, do criador Eduardo Bergstein, realizou em março, pela internet, seu leilão de liquidação de plantel com êxito absoluto. Os leilões da raça Dorper estão soberanos na temporada, com médias acima de R$ 4.000,00 para a venda de machos e fêmeas. No começo do ano a cidade de Pinheiro Machado, uma das mais antigas do estado do Rio Grande do Sul, também conhecida como a “capital nacional do churrasco de ovelha”, realizou a Feovelha, no Parque Charrua, que este ano completou sua 30° edição. Foram realizados cinco leilões de ovinos durante a festa, com destaque para o Rematão, que realizou a maior oferta de ovinos em um pregão no Brasil, com a venda de 7.850 animais em um só dia!!!

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A raça Corriedale foi a mais ofertada, seguida pelo Texel. O faturamento ultrapassou a marca de R$ 1.100.000,00. O grande destaque do evento foi a venda de um único lote composto por 839 animais, onde na batida do martelo o criador Fernando Gottardi, da Cabanha Araçá, da cidade de Araçatuba/SP, arrematou este que possivelmente foi o maior lote em quantidade de ovinos em um único leilão do país. Outro dado curioso, e possivelmente cansativo, foi o tempo de remate, que durou 14 horas seguidas! Mas não apenas de leilões viveu a Exposição de Pinheiro Machado, a cidade leva o título da capital nacional do churrasco, e mais uma vez aconteceu o tradicional churrasco “Espeto no Chão”, onde 100 carcaças de ovinos foram oferecidas aos visitantes. Outro fato curioso é o “Concurso de Pelegos”, que está na sua 4° edição. O censo ovino da região de Pinheiro Machado contabiliza 150 mil animais, em um estado que tem 4 milhões de cabeças. Tenho certeza que muitos criadores apaixonados pela ovinocultura, geralmente de fora do estado do Rio Grande do Sul, não tem conhecimento deste evento que poderia ser divulgado com maior ênfase para que todos os criadores do


Guillermo Sanchez é Leiloeiro Rural

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Brasil, e até de fora, possam participar. Eu assisti ao Rematão que foi transmitido pela internet e vi algumas fotos gentilmente enviadas pelo meu amigo André Assumpção - APPA Assessoria. Fiquei impressionado! Fica então um convite para o próximo ano. Este ano a maior exposição de zebu do mundo, a Expozebú, chegou a sua 80° edição. Uberaba/MG recebeu 240 mil pessoas na mostra. Os Leilões deste ano arrecadaram mais de R$ 46 milhões. A grande estrela das vendas foi a fêmea nelore Beluga TE do Sabiá, vendida 50 % de suas cotas no Leilão Noite dos Campeões por R$ 1.160.000,00 para o criador Aguinaldo Ramos. A vice recordista de preço foi Polonia 4X FIV YC que atingiu a cifra de R$ 1.080.000,00 no Leilão Elo de Raça, arrematada

pela Agropecuária Vila dos Pinheiros e José Murilo Procópio. Mais uma vez a raça Nelore reinou absoluta nas médias de preços da exposição. Retornando da Agropecruz 14, em Santa Cruz de La Sierra - Bolívia, senti a angustia dos criadores Benianos, que passaran por um dos seus piores momentos. O departamento do Beni, a região da pecuária do país, foi atingida pela pior inundação de todos os tempo, e com isso os produtores perderam mais de 550 mil animais - afogados e por falta de comida, isso representa quase 10% do rebanho boliviano. E para agravar o problema, os produtores estão totalmente desamparados pelo governo do populista Evo Morales. O que mais impressiona é o brio e a fibra destes produtores, que miram para frente e dizem que o pior já passou e agora é a hora de trabalhar para reconstruir tudo o que foi perdido. Eles dizem que não falta vontade para trabalhar. Isso é para ficar emocionado! “Adelante Ganaderos”. Até a próxima edição!

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O desafio da carne Cadeia produtiva dá passos em direção à organização do setor

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á muito tempo se discute a produção, a comercialização e o consumo de carne ovina no Brasil. Estes assuntos sempre estiveram presentes nas rodas de conversas em exposições, feiras e eventos do setor. Como está a procura? Estão comprando aqui ou buscando no Uruguai? Estão conseguindo manter o padrão de carcaça? E a mais importante: a conta está fechando? Para todas estas perguntas, fica sempre a sensação de que a resposta não está completa. A verdade é que o brasileiro está sim consumindo mais carne de cordeiro. O aumento vem acontecendo aos poucos. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o consumo médio anual desse tipo de carne no Brasil está em torno de 0,7kg por habitante. Pouco, é verdade, mas com um enorme potencial para crescimento. Basta fazer a comparação com outras carnes consumidas no país: a suína chegou à casa de 17kg por habitante/ano, enquanto que a bovina e a de frango ultrapassam os 40kg por habitante/ano. É possível, e necessário, fazer um trabalho para aumentar o consumo de carne ovina. Um boletim divulgado pelo Sebrae aponta que entre os principais desafios para incrementar o mercado de ovinos no País está o estimuloà inserção desta carne na dieta do brasileiro. Mas para atingir metas é preciso traçar planos, e o mais impor tante, fazer a lição de casa. Segundo Paulo Afonso Schwab, presidente da ARCO - Associação Brasileira de Criadores de Ovinos, é “fundamental que os criadores conheçam a atividade e as tecnologias disponíveis para qualificar o processo de produção”. Ainda segundo o presidente, o setor projeta 2,5kg como consumo ideal de ovinos por habitante/ano – um crescimento de impressionantes 360%. Mas seria preciso aumentar o rebanho para atender à demanda, o que não acontece desde a década de 70. Aliás, esses dados já foram publicados pela Revista Cabra & Ovelha em outras oportunidades, mostrando que o efetivo de ovinos no Brasil é praticamente o mesmo desde 1970. O rebanho brasileiro é de 16,4 milhões de cabeças e Schwab estima que, para aumentar o consumo para 2,5kg, seria necessário um rebanho de 50 milhões de cabeças. Isso apenas para atender a demanda interna. Sem contar a procura do mercado externo.

Para o presidente da Arco, a “demanda para exportação vem crescendo, e países do Oriente Médio podem se tornar parceiros impor tantes no futuro. A União Europeia e os Estados Unidos também seriam alternativas interessantes para melhorar a rentabilidade da carne ovina, uma vez que essa é valorizada pelas classes mais altas e os produtores brasileiros


poderiam se beneficiar com esse crescimento”. Mas como pensar em exportar se nem conseguimos abastecer nosso mercado? Hoje, para atender parte da demanda, o Brasil importa carne ovina, principalmente do Uruguai. Nos últimos anos os brasileiros têm consumido em média 89 mil toneladas de cordeiro, e parte desse montante vem do país vizinho. No ano passado o Brasil trouxe do Uruguai 5.574 toneladas de carne. Isso representou quase um terço do que foi exportado por aquele país, colocando o Brasil como maior comprador da carne ovina uruguaia, passando à frente do poderoso mercado europeu.

Enquanto muitos apontam a importação como o grande “vilão” do mercado brasileiro, o pesquisador Juan Ferelli de Souza, da Embrapa Caprinos e Ovinos, acredita que os números não são tão significativos assim. “É claro que o Brasil tem plenas condições de ser autossustentável nesse segmento, mas as importações correspondem a apenas uma pequena parte do que é consumido por aqui. Em 2012 o consumo foi de 89 mil toneladas e as importações de apenas 6,5 mil. Estes dados mostram que as importações de carne ovina são importantes, mas que representam apenas 7% do que é consumido no País”, explica.

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Oteniel Ressude e Denis Deli

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Produtos do Uruguai

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É impossível falar em importação de carne ovina sem citar a Savana Food, a maior importadora de carne ovina do Brasil, reconhecida principalmente por atender o mercado de alta gastronomia. Para Robson Leite, diretor da empresa, o consumo tem crescido – principalmente nas grandes capitais, mas nada que seja realmente impactante. “Na verdade, houve uma mudança nos hábitos de consumo... As pessoas estão frequentando menos os bares e restaurantes, mas passaram a consumir em casa”, explica. Esta mudança de comportamento reflete a recente crise vivida pelo setor, que viu a frequência em bares e restaurantes diminuir em quase 40%. “Estes são dados da ABRASEL (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). O principal motivo foi a Lei Seca, mas o setor também enfrentou problemas com arrastões, crise econômica e forte elevação de preços, que afastou até mesmo Robson Leite a clientela mais abastada”, afirma Robson. Diante da nova realidade, a Savana precisou antecipar suas metas e, junto com o mercado, mudou de hábitos. “Deixamos de focar apenas na alta gastronomia e ampliamos os investimentos no setor de varejo. Isso já estava nos planos da empresa, mas precisamos acelerar o processo para conseguir superar a crise econômica do país e manter o ritmo de crescimento que havíamos estabelecido para a Savana”, conta. E o plano deu certo. Hoje a empresa importa quatro carretas de cordeiro por mês, sendo a maioria absoluta destes produtos oriundos do Uruguai. “Diminuímos nossas margens, mas aumentamos o volume”, justifica Robson. Entre as novidades, destaque para a linha de Temperados e

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Fotos: Márcio Giorgetto e Bruno Gonçalves Abra - publicidade e propaganda

Porcionados de cordeiro, cuja facilidade no preparado tem agradado ao consumidor. “Também incluímos o porcionado de carne bovina em nossa linha de produtos, principalmente para atender as grandes redes de Food Service”, revela. Mesmo com todos os problemas econômicos, as soluções encontradas mostram um horizonte promissor para a empresa em 2014. “Pretendemos dobrar nosso faturamento com relação ao ano passado e, se continuar como está, vamos bater esta meta com certa facilidade”, comemora Robson. Para cumprir as metas de crescimento, a Savana intensificou a compra de carnes do país vizinho, que hoje representa 60% do volume total da empresa. “É triste, para um país como o Brasil, reconhecido mundialmente pela sua capacidade produtiva no setor do Agronegócio, ficar assim tão dependente do produtor uruguaio. Mas eles têm sido parceiros importantes nesta fase de crescimento”, destaca o empresário. Robson também faz questão de frisar que a qualidade da carne uruguaia tem melhorado nos últimos anos. “Já não é mais como antes, onde o foco estava na produção de lã e se vendiam apenas os animais de descarte. Hoje o produto principal é a carne, e isso aumenta a qualidade”. Ele também destaca que o a eficiência produtiva uruguaia é outro ponto que deve ser observado com atenção pelos produtores brasileiros. “Os caras são bons! É um país pequeno, com um rebanho bem menor que o nosso, mas que conta com uma cadeia produtiva totalmente organizada. Podemos aprender muito com eles”, alerta Robson. O empresário afirma ainda que, para funcionar bem, um projeto precisa ser integrado com uma visão de 360 graus. “Não significa ser grande e sim, organizado. Precisa ser o suficiente para atender aos interesses de quem compra e de quem vende. Mas isso só pode ser feito por quem realmente conhece o mercado a fundo, senão ficaremos nas tentativas e erros... E isso custa caro”, alerta. Sobre o futuro da atividade no Brasil, Robson acredita que o potencial é enorme, mas que só será alcançado se houver organização. “Em todos estes anos trabalhando no mercado de cordeiros, vi projetos sendo lançados em alguns estados, mas todos com profundo cunho político, de pessoas que buscavam apenas benefícios próprios, e não o sucesso de um empreendimento produtivo. É como construir uma casa sem alicerce. Um dia ela cai”, lamenta. Apesar dos entraves, Robson se diz confiante, e acredita no sucesso do setor. “O produto é bom e já caiu no gosto das pessoas. E esta é a parte mais difícil. Agora é preciso trabalhar com seriedade, e isso vai depender de quem estiver na ponta, liderando a atividade”, finaliza.


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Outra empresa que vem se destacando no mercado de cordeiros é a VPJ Alimentos, velha conhecida do setor, principalmente em função da VPJ Pecuária, do criador Valdomiro Poliselli Júnior, uma referência na criação de ovinos da raça Dorper e White Dorper. A VPJ, nos últimos anos, tem colecionado resultados importantes nas pistas de julgamentos e leilões de elite por todo o Brasil. A estratégia da empresa está pautada na produção e comercialização de carne nacional. “Todas as linhas da VPJ são produzidas no Brasil, utilizando o cruzamento de raças oriundas de outros países, como é o caso do Angus no bovino, do Duroc no suíno, e do Dorper nos ovinos”, ressalta Valdomiro. Para cumprir esta ambiciosa meta de trabalhar apenas com produtos nacionais, a VPJ tem investido em parcerias com criadores gaúchos. “Nossos principais fornecedores estão no sul. Lá, nós conseguimos cordeiros com a qualidade e volume necessários”, destaca o empresário. Quem dá mais detalhes sobre o assunto é Walter Celani, gerente de fomento da ovinocultura de corte da VPJ Alimentos. “Aumentar o volume é importante, mas o principal está na qualidade e padrão das carcaças. O mercado é exigente, não se consegue sucesso sem estes dois itens”, alerta. Para estar cada vez mais próxima do criador, e também reduzir os custos operacionais, ficando em condições de competir com o produto uruguaio, a VPJ tem investido na parceria com criadores gaúchos. “Temos uma planta frigorífica no Rio Grande, onde devemos abater 20 mil cordeiros este ano”, destaca Celani. Mas se engana quem pensa que a empresa se dá por satisfeita com a produção atual. Num mercado de “gigantes” – como é o varejo, para ser competitivo é precisa inovar sempre. E é isso que a VPJ tem feito. Uma das apostas da empresa está no Centro-oeste, região cujo potencial da pecuária já está mais do que comprovado. “Estamos trabalhando no Mato Grosso do Sul, onde o objetivo também é abater 20 mil cordeiros por ano”, destaca o gerente. Mas não é apenas na produção que a empresa tem investido tempo e dinheiro. As questões políticas também estão presentes nas pautas da VPJ. Uma das conquistas recentes foi a Certificação da carne, obtida em parceria com a ABC Dorper (Associação Brasileira dos Criadores de Dorper e White Dorper). “É um produto de alto valor agregado e que precisa seguir critérios de qualidade com padrão internacional. É isso que buscamos quando conseguimos esta Certificação”, explica Walter. Este ‘atestado’ de qualidade é feito por um instituto internacional, que avalia a qualidade da carne desde a sua origem (produção), envolvendo questões de manejo nutricional e sanitário, até o abate, corte e processamento da carne. Vale lembrar que esta certificação é específica para a raça Dorper. Portanto, para participar do programa, os cordeiros abatidos devem ser, ao menos, ½ sangue Dorper. Entre os principais nichos de mercado atendidos pela VPJ, des-

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VPJ Alimentos: produção 100% brasileira

Valdomiro Poliselli

Walter Celani

taque para as grandes redes de supermercados, que absorvem boa parte dos embutidos – hambúrgueres e linguiças, produzidos pela empresa. Os cortes nobres são distribuídos em boutiques de carne e, claro, restaurantes – principalmente na região Sudeste, tendo o Nordeste como um mercado em crescimento. Entre os principais problemas a serem enfrentados pelo setor, Poliselli destaca a complexidade do sistema de produção da carne ovina. “Estamos passando por um período de reestruturação, e isso não é simples. Também falta cultura empresarial para os produtores de cordeiro, principalmente fora do Rio Grande do Sul. Mas o consumo vem aumentando e a cadeia deve se organizar para atender a demanda. Acredito no potencial da ovinocultura e a VPJ vem fazendo a sua parte para o fortalecimento deste mercado”, garante.


Fiscalização e profissionalização

Fotos: Márcio Giorgetto e Bruno Gonçalves Abra - publicidade e propaganda

lideranças do setor, principalmente as entidades que têm representação nacional como as câmeras setoriais e a ARCO, para citar alguns exemplos. Assim como o frango de granja não pode se vendido como caipira ou galeto; assim como a carne de boi não pode ser vendida como vitelo, os carneiros e ovelhas de descarte não podem ser vendidos como cordeiro. Além de enganar o consumidor, isso se torna uma propaganda negativa para o produto. Afinal, quando o consumidor experimenta este “cordeiro” – que na verdade são animais velhos, com gosto e cheiro fortes – ele certamente apresentará resistência quando for apreciar, de fato, um bom cordeiro. Vai aí um alerta para as autoridades e lideranças do setor.

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Quem também acreditou na força do setor e já desponta como uma das referências na comercialização de carne ovina é a Agnus Bonus, do empresário Sidney Roberto Corá. A empresa Sidney Roberto Corá está instalada no entreposto da ASPACO (Associação Paulista dos Criadores de Ovinos), em São Manuel/SP. Quando assumiu as operações do entreposto, Sidney sabia que os desafios seriam grandes, mas que o potencial de crescimento do mercado justificava os riscos. Com determinação e coragem, o empresário apostou suas fichas na elaboração de cortes especiais e na produção de embutidos, como linguiça, kafta e kibe de cordeiro que hoje são responsáveis por boa parte do faturamento. Para o empresário, a aposta foi acertada. “Baseado na procura pelos nossos produtos, tanto nos cortes quanto nos derivados, tenho percebido um crescimento constante do consumo nos últimos anos”, garante. Entre os desafios que o setor precisa enfrentar, o empresário destaca a necessidade de profissionalização da cadeia produtiva. A Agnus também trabalha apenas com produtos nacionais, e a maioria dos cordeiros que abate é produzida no estado de São Paulo. “Nossa capacidade de produção e armazenamento é de 18 ton/mês. Este volume ainda oscila, mas temos conseguido trabalhar sempre perto do limite. Nossa meta agora é estabilizar nossas operações em 100% da capacidade”. Os produtos da Agnus são vendidos principalmente na capital paulista, onde a empresa atende algumas lojas de varejo e restaurantes renomados, além de empórios e boutiques de carne. Mesmo com o crescimento expressivo da empresa nos últimos anos, Sidney alerta que ainda há muito a ser feito. “Temos que trabalhar na orientação, divulgação e marketing para que o mercado de cordeiro alcance todo seu potencial. Também existe a necessidade de uma ação conjunta, de todos nós da cadeia produtiva, incluindo governo e associações, para combater o abate clandestino e a venda informal de carne. É preciso criar campanhas de esclarecimento ao consumidor, alertando sobre os riscos de se consumir uma carne oriunda de abate clandestino, sem os padrões de qualidade e higiene necessários”. Outro ponto importante destacado pelo empresário é a fiscalização. “É comum você encontrar, no ponto de venda, carne ovina sendo vendida como ‘cordeiro’, enquanto que na verdade, trata-se de carneiros e ovelhas de descarte. Isso é enganar o consumidor. Além de prejudicar as empresas que trabalham de maneira séria, primando pela qualidade”, desabafa. Esta preocupação tem fundamento e deve ser observada pelas

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Vontade política

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Se em números o rebanho não cresceu nos últimos 40 anos, não se pode dizer o mesmo da qualidade genética brasileira, considerada hoje uma das melhores do mundo. Vale destacar que todo este potencial é pouco aproveitado, já que o Brasil não tem protocolo de exportação de caprinos e ovinos para nenhuma parte do mundo, com algumas exceções na América do Sul. Um problema que precisa ser encarado com mais seriedade pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), que não vem tratando a questão da caprinovinocultura com a atenção que ela merece. Fotos: Márcio Giorgetto e Bruno Gonçalves Infelizmente depenAbra - publicidade e propaganda demos de vontade poprodutores, sem falar nas altas taxas tributárias. lítica. Mas se o cresciEsta opinião é compartilhada pelo pesquisador Juan Ferelli de mento se desse apenas Souza, da Embrapa Caprinos e Ovinos de Sobral/CE. “O estágio de pela qualidade genética, abate e processamento da carne ovina padece com os altos custos estaríamos caminhando de produção, impostos pela legislação sanitária em vigor, que é a passos largos para o muito antiga e acaba por inviabilizar a atividade em muitos casos. sucesso. Ainda neste setor, há uma grande carência de gestão profissional, Existe espaço para especialmente em relação ao relacionamento com os produtores expansão e demanda rurais que lhes fornecem os animais para o abate”, alerta. por carne ovina, mas O pesquisador vai ainda mais fundo na questão, dizendo que falta o crescimento do setor Juan Ferelli de Souza comprometimento das agroindústrias com os produtores, abrindo ainda esbarra em problemas como a espaço para os intermediários. “Os atravessadores utilizam estratégias de relaciofalta de padronização da carne, políticas namento muito mais eficientes com os produtores rurais do que a indústria formal, públicas insuficientes para auxiliar os o que faz com que criador lhe dê preferência na venda de seus produtos”, explica. produtores e a falta de aproximação enOs problemas criados na distribuição da carne ovina geram dois dilemas: o tre os diversos elos da cadeia produtiva. primeiro, com as grandes redes atacadistas e varejistas adotando estratégias Segundo Paulo Schwab“é preciso tra- de pagar pouco aos fornecedores de carne e cobrar preços altos do consumidor balhar a extensão rural”. Recentemente, final, mostrando que a carne ovina tem um bom mercado, mas que não é plena e ele esteve em Brasília/DF participando satisfatoriamente atendido; e segundo: que tem produção de ovinos, mas que não da Câmara Setorial do setor e voltou gera, para a cadeira produtiva,a riqueza que poderia. confiante com a ideia do Programa Ainda segundo o pesquisador, “é preciso que o setor de distribuição de carne Nacional da Ovinocultura, uma antiga ovina se aproxime da indústria de abate e processamento, que por sua vez deve reinvindicação do setor. estabelecer estratégias sustentáveis de relacionamento com os produtores rurais, Hoje, o Brasil ainda engatinha que devem estar supridos com os insumos necessários à produção”. quando o assunto é o uso de tecnoEste é o conjunto de fatores que a Arco quer e deve trazer para a ovinocultura, logias de produção. É preciso gerir com o apoio do Governo Federal. todas as etapas da cadeia produtiva, Apoio governamental, aliás, existe. Mas é insuficiente. Segundo Ferelli, falta princidesde o fornecimento de insumos aos palmente assistência técnica e de financiamento à atividade. Mas o principal problema produtores rurais até o setor varejis- “é a falta de estratégias privadas por parte dos estágios de abate e processamento, ta, passando pelos estágios de pro- e do setor de atacado e varejo de carne, que não têm sido capazes de estimular os dução rural, abate e processamento, produtores rurais a adotar tecnologias de produção e, consequentemente, melhorar ainda considerados onerosos para os sua produtividade e a qualidade dos animais”, ressalta.

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Abate clandestino

O abate ilegal é outro fator que atrapalha o desenvolvimento do setor. Segundo dados da ARCO, mais de 90% da carne ovina consumida no Brasil é proveniente de abate clandestino. Para Ferelli, só há uma maneira de resolver o problema: acabar de vez com essa prática. “É preciso intensificar a fiscalização. No entanto, devemos descobrir quais são as razões que levam à existência dos abates clandestinos. Recentemente, defendi minha tese de doutorado pela Universidade Federal de São Carlos/SP, em que identifiquei oito fatores determinantes da realização do abate não inspecionado de ovinos pelos produtores rurais no município de Tauá/CE”, explica. O resultado dessa pesquisa virou motivo de preocupação. De acordo com os dados colhidos por Ferelli, os produtores rurais são responsáveis por apenas 9,9% dos abates de ovinos comercializados naquela região. Aí vem a pergunta: e os outros 90%? O restante do abate clandestino é realizado por outros agentes da cadeia produtiva, deixando claro que o foco da fiscalização deve estar, principalmente, sobre estes indivíduos.Juan Ferelli toca em outro ponto que pode ser um divisor de águas entre ser profissional ou continuar no amadorismo: estimular o consumo de um produto baseado em sua qualidade. “Este é um ponto positivo a nosso favor, já que a carne tem melhorado muito nos últimos anos. O cordeiro comercializado hoje, principalmente nos restaurantes, já não é mais aquele ‘carneiro’ do passado”, ressalta. Baseado nisso, o pesquisador acredita que a divulgação e o marketing do cordeiro precisam ser feitos, principalmente passando a mensagem de qualidade, sabor e marmoreio da carne brasileira. “Mas esta é uma responsabilidade de toda a cadeira, que deve se organizar por meio das câmaras setoriais ou das associações para criarem campanhas de fomento e divulgação do produto”, destaca. Ferelli também admite que existem outras prioridades a serem resolvidas, principalmente aquelas de estímulo à produção. “Não adianta divulgar um produto se ele não estiver disponível quando a demanda surgir”, alerta. De tudo isso, os criadores, empresas e agentes de fomento da cadeia produtiva podem tirar uma conclusão: estamos com um grande problema para ser resolvido – temos um mercado em crescimento e consumidores dispostos a pagar pelo produto; mas falta produção. Este é ou não é um problema que todos os setores gostariam de ter?

Oito fatores do Abate Clandestino Pesquisa realizada para tese de Doutorado do pesquisador Juan Ferelli de Souza, da Embrapa Caprinos e Ovinos de Sobral/CE, identificou os principais motivos que levavam ao abate clandestino de ovinos na cidade cearense de Tauá. Esta realidade pode facilmente ser aplicada em diversas regiões do Brasil. Motivos: 1 - barreiras de acesso ao mercado formal devido ao alto custo para realizar o abate de acordo com as normas sanitárias; 2 - falta de fiscalização e baixo temor de sofrer sanções decorrentes da fiscalização; 3 - distância da propriedade em relação ao abatedouro inspecionado e altos custos de transporte; 4- o ambiente institucional informal (que são os aspectos de cultura e de tradição do local) aceita e estimula a compra da carne ovina diretamente do produtor rural; 5 - o produtor que faz o abate dos ovinos na propriedade está em busca de um preço mais alto pelo seu produto; 6 - a venda da carne ovina é importante para a composição da renda dos produtores que realizam o abate, ao passo que os produtores que vendem os ovinos vivos são mais velhos e tem grande parte da sua renda composta por aposentadoria; 7 - os produtores que abatem os ovinos têm um perfil empreendedor e estão dispostos a correr os riscos da fiscalização para alcançar os lucros da agregação de valor ao produto; 8 - os produtores que abatem os ovinos são aqueles que mais adotam tecnologias de produção, o que indica que eles realizam investimentos e que precisam recuperar seus custos por meio da agregação de valor aos produtos. Este último fator demonstra que existem produtores rurais dispostos a adotar tecnologias e melhorar os seus sistemas de produção, desde que eles sejam recompensados por isto.

O leitor mais atento deve estar se perguntando: cadê o Marfrig? A resposta é simples: o grupo encerrou suas atividades no Brasil. Apesar das tentativas de viabilizar a compra e comercialização de carne ovina brasileira, o volume de produção e as dificuldades de operar em uma cadeia produtiva ainda carente de organização foram determinantes para o encerramento das operações do Marfrig no país. Alguns produtores integrados, que apostaram no projeto da gigante frigorífica estão agora procurando alternativas para colocação de seus produtos. Um representante da empresa declarou que as dificuldades em operar no mercado brasileiro inviabilizaram o projeto, já que a empresa mantinha uma grande estrutura operacional.

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e o Marfrig?

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Leite

Turismo rural com boa gastronomia Criadora de cabras encontra, na verticalização, meios para aumentar o faturamento da propriedade

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Fotos: Capril do Bosque

Q

ue tal fugir do estresse causado pela correria do dia-a-dia e dos quilométricos congestionamentos dos grandes centros? Uma criadora de cabras de Joanópolis, interior de São Paulo, encontrou nesta atividade a fórmula perfeita para viabilizar o seu negócio e ainda criar uma opção de lazer para quem procura o turismo rural. Um modelo de negócio que pode ser implantado em várias regiões do Brasil, onde as belezas naturais são abundantes. Localizado a 120 km da capital paulista, o Capril do Bosque reúne uma criação de cabras para produção de leite, uma queijaria que fabrica queijos finos artesanais comercializados no próprio local, e um Bistrô Degustação com cardápio exclusivo, considerado um dos mais charmosos da categoria na Serra da Mantiqueira, região que faz divisa entre os estados de São Paulo e Minas Gerais e atrai um grande número de turistas, principalmente nas épocas mais frias do ano. No Capril, o visitante é levado a conhecer as instalações da fazenda, como a criação de cabras e cabritinhos recém-nascidos que encantam adultos e crianças, ouvem histórias e curiosidades contadas pelo criador e passeia pelo lindo jardim que cerca o Bistrô. Para fechar o dia, assiste ao pôr do sol com vista panorâmica para a Serra do Lopo, cartão postal da cidade, a 972 metros de altitude.

Heloisa Collins

Hobby que virou negócio

Depois de dedicar anos à carreira acadêmica, Heloisa Collins resolveu expandir e profissionalizar um sonho antigo de cultivar, consumir e desenvolver queijos. “Há anos comecei a fazer queijos por hobby mesmo. Sempre dava de presente e convidava amigos para provar. Até que os elogios renderam a ideia de vender os produtos”. A propriedade foi comprada na década de 70. “Nesta época fazia queijo

de vaca. Depois, nos anos 80, comprei as primeiras cabras. Até meados dos anos 90 só fazia queijo fresco, curado, curado de massa cozida e mussarela. Mas quando a internet chegou, muitas foram as descobertas de fermentos e mofos em diferentes países, além de livros sobre queijos em livrarias no exterior. Iniciei, então, algumas experiências com queijos finos de leite de cabra. E eles começaram a ficar bons”, relembra a ex-professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) que optou pela caprinocultura, iniciando seu projeto com apenas cinco animais. As cabras são da raça Saanen e cabritas mestiças, provenientes de cruzamentos com bode Toggenburg, raça rústica e também bastante produtiva. O peso dos exemplares fica entre 45 e 60 kg nas fêmeas e de 70 a 90 kg nos machos. A altura é de 70 a 83 cm nas cabras e 80 a 95 cm nos bodes, com animais que se adaptam bem em regiões de clima temperado. Heloisa conhece todo o rebanho pelo nome. Ela começou a criação com dez fêmeas e cinco filhotes, que comprou de um criador em Piedade, interior de São Paulo. Hoje, o Capril tem um rebanho de 30 matrizes, além de 14 cabritas e alguns bodes. “Em breve, teremos 45 matrizes, e então poderemos dar início ao programa de seleção, mantendo apenas as 30 ou 35 melhores fêmeas,


aumentando a pressão de seleção. O objetivo não é apenas aumentar a quantidade, mas manter a qualidade do leite”, enfatiza a criadora. A produção começou com 30 litros de leite por dia, que rendiam, em média, cinco quilos de queijo diariamente. Hoje o rebanho produz em média 50 litros de leite. “Compro leite dos produtores artesanais da região para complementar a minha produção. Então, trabalho com uma média de 100 litros por dia e a produção de queijo beira 400 quilos mensais”.

Queijo gourmet

As receitas dos queijos são mantidas em segredo. “Cada queijeiro tem seus truques, seus toques, e isso a gente não revela”, afirma Heloísa. Hoje, a Capril do Bosque trabalha com nove diferentes tipos de queijo caprino: Queijinhos do Lobisomem (Chevre à l´huile), Lua do Bosque (Camembert), Pirâmide do Bosque Cendré (Valençay), duas variedades Rolinhos do Bosque (Sainte Maure Blanc ou Cendré); Caprino do Embaixador (Caprino Romano), Azul do Bosque; Coração em Brasa (maturado com carvão e recheado com pimentas mexicanas); Grego do Bosque (queijo feta que

está em processo de registro). Os quatro destaques da produção são o Azul do Bosque, o Pirâmide do Bosque, o Caprino do Embaixador e o Lua do Bosque. O primeiro é cremoso e feito com um mofo azul, chamado Penicilium Roqueforti , usado em todo o mundo na produção de queijos do mesmo tipo, como o famoso Roquefort Francês. O Pirâmide usa no processo de fabricação carvão vegetal importado da França. “Esse queijo é envolto em carvão e, sobre ele, desenvolve-se um mofo branco, que confere à casca do queijo uma cor acinzentada”, explica Heloísa. O Caprino do Embaixador é um queijo de massa cozida, perolado, enformado em peças de 3 e 5kg e maturado por um ano em temperatura e umidade controladas. Já o Lua do Bosque é um queijo recoberto por mofos brancos, cremoso por dentro, de sabor muito suave e baixíssima acidez. Uma vez por mês a queijaria se transforma em sala de experiências tipo “mão na massa”. “Oferecemos uma oficina gourmet de queijo de cabra na qual os alunos aprendem uma porção de coisas sobre queijos em geral e queijos de cabra em particular, fazem queijo e discutem sobre diferentes usos do queijo de cabra fresco cremoso na cozinha”, revela.

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Andressa Besseler

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Leite

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Controle de qualidade

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No Capril do Bosque, Heloisa optou pelo estábulo suspenso, todo ripado de madeira, em função de ter um rebanho leiteiro pequeno. “Com esse sistema, os animais estão sempre secos e os dejetos caem sobre os vãos das ripas. Assim, o resíduo é todo despejado no chão e limpo a cada semana”, declara. O manejo alimentar também é diferenciado e garante uma nutrição completa aos animais, buscando o máximo de produção e qualidade. “Desenvolvemos queijos refinados, por isso, é preciso ter um padrão de leite muito bom”. A criadora também revela um dos segredos que garantem o sucesso da sua produção. “Uso folhas de amora que são plantadas na propriedade. Ela é compatível com a alfafa em termos de proteínas”, explica. Segundo Heloisa, no meio do inverno as cabras comerão silagem de milho, que dá ao rebanho a possibilidade de manter a produção do leite com a alta qualidade que ela precisa. Além disso, os animais também pastejam, pra ativar o metabolismo. “O nosso pasto é básico e composto de braqui-

ária normal, com aproximadamente 12% de proteína”. Heloisa mantém as cabras longe dos bodes, o que interfere positivamente no sabor final do produto. “Nosso queijo não tem gosto e nem cheiro de bode, ele é um queijo suave, com o sabor característico do queijo de cabra”, afirma. Investindo no manejo natural, os animais não são mochados, como acontece em alguns criatórios. Para alcançar o sucesso, Heloisa revelou que o maior investimento financeiro feito foi na queijaria, que juntamente com estábulo demandaram maior esforço para serem construídos. “Foram três anos e meio de construção e investimentos contínuos, muito planejamento e dedicação. O estábulo suspenso de 200 m² foi nossa primeira obra. Depois vieram a sala de ordenha, o restaurante e, por fim, a queijaria”, conta ela. No que diz respeito às certificações para venda e comércio, o Capril do Bosque conquistou o Sistema de Inspeção Estadual de SP (SISP) que possibilita iniciar vendas em todo o estado, inclusive na Capital. “Ao mesmo tempo em que atuava com a certificação de Joanópolis, estava com o processo do SISP já encaminhado, pois é mais demorado, requer exigências maiores e tem uma burocracia considerável. Agora, todos os nossos queijos estão registrados e prontos para ser vendidos em qualquer lugar do estado”, comemora. Collins conta ainda que não tem o objetivo de buscar a certificação federal (SIF), já que trata-se de uma queijaria artesanal que pretende se manter no pequeno porte. “Nosso modelo de negócio é pautado na alta qualidade e não no volume de produção”, finaliza. Com criatividade e dedicação, o Capril do Bosque mostra que a verticalização da produção pode ser uma alternativa viável para quem tem uma pequena propriedade e quer “viver” da criação de cabras. Pontos turísticos e belezas naturais não faltam nos quatro cantos do Brasil, mostrando que o mercado para cabras de leite (e seus produtos) ainda tem muito a crescer.


Apreciar uma comida do campo com toques de requinte. Essa é a proposta do bistrô Capril do Bosque. O salão é charmoso, acomoda 30 pessoas, com pé-direito alto, decorado com móveis e objetos de artesãos locais. Quem assina o menu é Juliana Raposo, filha da proprietária. O cardápio serve mais de duas dúzias de opções de pratos frios e quentes, desenvolvido com base nos tipos de queijo, e reúne pratos cuidadosamente preparados com ingredientes naturais, em grande parte orgânico e artesanal. “Fazemos tudo na hora, por isso não adianta ter pressa”, diz Juliana. As grandes estrelas são os risottos. A chefe destaca o de “queijo azul com molho de figos”, de “camembert com ervas e limão siciliano”, e “funghi italiano”. Cada risotto é preparado individualmente. “Nosso estilo é artesanal e nossos instrumentos principais de trabalho são o fogão e a lenha. Como bons adeptos do Slow Food, tiramos do forno à lenha nosso pão, especialmente desenvolvido para acompanhar a delicadeza de nossos queijos”, conta a chefe. Do forno à lenha do restaurante, dentre outras delícias, saem: o cabrito assado ao vinho, batatas dauphinoise, crepes gratinados, o stinco – corte especial de cabrito, cuja carne é comprada no mercado especializado e produzida a partir de raças de corte. “Não abatemos animais na propriedade”, avisa Juliana. A carta de bebidas inclui vinhos elegantes, equilibrados e acessíveis, que se harmonizam perfeitamente com os queijos. Para os aperitivos e digestivos oferecem-se caipirinhas de cachaças locais (a região é famosa por seus alambiques artesanais), conhaque francês e whisky 8 e 12 anos, além de vinhos do Porto e Madeira. SERVIÇO Capril do Bosque, Joanópolis, 120 km de São Paulo Fins de semana e feriados, com reservas Contato: (11) 99609-0773 e caprildobosque.blogspot.com

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Estilo artesanal no fogão a lenha

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Nota

EXPOVALE 2014

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Evento no vale do São Francisco reuniu mais de 600 animais em exposição

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A

Expo Vale 2014, realizada pela ACCOSF – Associação dos criadores de caprinos e ovinos do Vale do São Francisco, de 14 a 18 de maio em Juazeiro/BA, reuniu mais de 600 caprinos e ovinos das raças Dorper, White Dorper, Santa Inês, Boer, Anglonubiana e Savanna, além de alguns exemplares de caprinos e ovinos nativos: Cocorobós, Pardas, Graúnas, Nambis e Curaçás. Foram a julgamento 149 caprinos e ovinos. A comercialização de animais nos boxes e leilão, vendas de máquinas e equipamentos agrícolas, veículos, bens de consumo e serviços

foi superior a R$ 1,2 milhão, valor considerado satisfatório pelos realizadores do evento. A região de influência do rio São Francisco, em seu bioma de Caatinga, é detentora de um rebanho caprino e ovino superior a cinco milhões de cabeças, sem graves problemas de déficit hídrico e forrageiro, apresentando-se como uma promissora região para o desenvolvimento de atividade agropastoril, fundamentada na caprinovinocultura em moldes empresariais de agronegócio, devendo em breve fornecer para o mercado interno cabritos e cordeiros industriais de corte.




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