Revista Leia ABC - Janeiro 2014

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Índice

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6 Entrevista 10 Editorial 12 Consumo 16 Educação 20 Economia 22 Capa 28 Saúde 32 Cidades 36 Cultura 40 Gastronomia

Marcelo Gil afirma: brasileiro precisa evoluir para aceitar e respeitar a população LGBT

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Pedagogia Waldorf prova que ensino e brincadeira podem caminhar juntos

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Riscos e excessos na busca do corpo saudável e bonito

Colunistas 14

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Wallace Nunes

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Marcos Cazetta 4

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Comunidades alavancam desenvolvimento local com moedas sociais

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Luiz Paulo Bellini Jr.

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Tamyres Barbosa

Celso Pavani

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Ana Teresa Cury


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Com o desemprego em baixa, moradores do ABC se rendem a serviços especializados

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As vantagens de ir às compras depois do Natal

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Os próximos passos para amenizar os buracos das ruas e avenidas da região

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Gelato e sorbeto são as delícias geladas do verão

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Jazz conquista público do ABC Janeiro de 2014 |

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Entrevista

“O voluntariado do movimento LGBT caiu no estrelismo”

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ormado em teologia e filosofia, Marcelo Gil é um homem que ajuda o próximo de fato. Sua causa, mais precisamente, é dar auxílio ao homossexual que sofre abusos, seja o gay que foi discriminado pela família ou problemas de ordem sexual, como agressão ou estupro. Em entrevista à Leia ABC, ele afirma que na região o machismo predomina e que isso leva a consequências de omissão. “De todos os lados: da família, do poder público e do próprio homossexual, que não se assume porque tem medo”, diz. Para ele, a cultura “heteronormativa” vai prevalecer por muito tempo no Brasil Wallace Nunes - wallace@leiaabc.com

Leia ABC – Ser homossexual significa apenas transar com alguém do mesmo sexo? Marcelo Gil (Gil) – Não. Antes de mais nada, significa ter afinidade e um desejo pela pessoa do mesmo sexo. Ser homossexual não envolve apenas a relação sexual, mas como a pessoa se identifica e se orienta. Por exemplo, há homens que sentem atração por homens, lésbicas (mulheres que desejam mulheres) e os bissexuais, que sentem desejo tanto pelo homem quanto pela mulher. Além disso, tem ainda o indivíduo relacionado na identidade de gênero, que são os travestis e os transexuais. Hoje há programas de orientação sexual, pelos quais, após uma análise, os indivíduos podem descobrir de fato sua tendência. Leia ABC – Na sociedade, o indivíduo é educado para ser heterossexual, seja pela família ou pela mídia. Muitas vezes, a pessoa que construiu a identidade hetero e depois pode se perceber homossexual tem comportamentos conflitantes. Como é que o indivíduo pode 6

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se remoldar sexualmente? Gil – Vivemos numa sociedade heteronormativa, onde ainda existe a construção da cultura familiar propagandista/machista inserida numa relação heterossexual, e não homossexual. Ainda há a figura do papai com a mamãe e seus filhos, seja ela branca ou negra, e isso precisa acabar. A orientação sexual é o melhor caminho para pôr fim a este modelo. Leia ABC – Então, para isso, é necessário “sair do armário” e dizer ao mundo sou gay e ser feliz? Gil – Declarar-se gay nos dias atuais se tornou algo comum. Há muitas pessoas se declarando homossexuais. O problema é você viver seu sentimento gay numa sociedade heteronormativa. É preciso perguntar: e agora? Como será a minha relação interpessoal, com a família, com o mercado de trabalho ou nos estudos? Terei espaço? É uma questão muito mais ampla. Leia ABC – Não há espaço maior porque ainda há muito preconceito no Brasil? Gil – Não tenho dúvida de que o preconceito contra homossexuais existe e é

forte neste país. Estamos percebendo o crescimento de uma base fundamentalista religiosa, que só não consegue criminalizar os homossexuais porque é uma nação laica. O brasileiro precisa evoluir muito para aceitar e respeitar a população LGBT, o que não acontece. Leia ABC – E essa falta de respeito gera problemas graves? Gil – Sim, claro. Dou mais exemplos. Em 2012, tivemos mais de 300 assassinatos, em todo o país, de pessoas por causa da sua orientação sexual ou identidade de gênero. É a homofobia sustentada por uma base religiosa fundamentalista. É óbvio que melhorou, pois no passado tudo era pior. Hoje o preconceito é velado. Leia ABC – Como assim? Gil – A discriminação contra o gay acontece, muitas vezes, dentro da família. O gay é expulso de casa e se vê sozinho. Começar por onde, se não tem ajuda, não tem educação e não tem trabalho. Com certeza ficará à margem e, fatalmente, irá se prostituir para sobreviver. Leia ABC – Mas há outro lado: o de pessoas que conseguem sobreviver em face desses problemas. Gil – Sim. Mas qual é o preço? A maioria está inserida no mercado da moda, seja de cabeleireiro ou de maquiador, que o aceita mais rapidamente. Mesmo assim, a pessoa tem que justificar sua condição e trabalhar por horas a fio para ganhar dinheiro.


Sergio Cestari

to internacional, por isso há o apoio da prefeitura. Aqui no ABC, nem isso. Não existe nem patrocínio público nem privado. Os governos e as empresas não querem relacionar ou expor seu nome em negócio ligado aos homossexuais. E mais: muitos gays que dizem querer sair às ruas, mas não o fazem. Por quê? Por medo do preconceito. Leia ABC – E onde estão as pessoas que deveriam ajudar para destruir esse preconceito? Gil – Muitos que deveriam ajudar o movimento não fazem nada. Só pensam na autopromoção. Ganhar dinheiro. Na parada gay que aconteceu na capital no ano passado, pude observar dezenas de pessoas que não estavam ali por causa da parada em si, mas pensando apenas nelas. Um sentimento puramente mesquinho. Leia ABC – Mas autopromoção não ajuda a diminuir esse preconceito? Gil – Não. Mais um exemplo: a maioria das drag queens cobram para aparecer na parada, poucas são as que se apresentam de maneira voluntária. Não posso generalizar, pois existem muitas que vestem a camisa da causa. Mas hoje a militância do movimento gay caiu no estrelismo.

Leia ABC – Aos olhos de quem está de fora deste mundo, parece que tudo vai bem e é aceitável, não é? Gil – Não é bem assim. Dou um exemplo mais claro. Temos uma enorme dificuldade de organizar a parada do

orgulho LGBT na região ou mesmo na capital. Em São Paulo tem público que aceita a diversidade. Mas onde estão as empresas expondo suas marcas na parada? A parada acontece porque se tornou um even-

Leia ABC – MIsso ocorre porque é moda ser gay? Gil – O modismo gera dinheiro. Nos dias atuais criou-se um arquétipo maquiavélico de que o gay, que na maioria das vezes não tem filhos para cuidar, tem dinheiro para gastar. E muitos enxergam o movimento como um mercado e tentam de alguma maneira explorar esse mercado. Há casos em que isso ajuda, claro, como o turismo gay, mas não na sua totalidade. Existe, sim, um mercado consumidor que gera dinheiro, mas a população LGBT caminha de um lado e o movimento de apoio vai por outro completamente diferente. Leia ABC – Dá para ser mais claro? Gil – O indivíduo que se autopromoJaneiro de 2014 |

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Entrevista ve não percebe que é preciso, antes de qualquer coisa, lutar pelos seus direitos como cidadão comum. O gay precisa ter acesso à educação, à saúde, ao trabalho e à segurança pública. Ser gay não é só glamour. Leia ABC – A ONG da qual você participa não faz isso? Gil – A ONG ABCDS trabalha arduamente para viabilizar essas garantias básicas, mas ainda falta muito. Hoje a população LGBT não pode ter seu nome social, não tem direito a um emprego fora do mercado da moda e onde a pessoa possa se assumir gay. Ou seja, diferentemente de outros países, como os Estados Unidos ou a Argentina, no Brasil ainda não é possível ter uma projeção social sendo assumidamente gay. E a ONG luta por isso. Leia ABC – Mas há gays bem-sucedidos e respeitados na sociedade brasileira? Gil –Sim, mas alguns assumiram agora. Outros não. Um caso que ganhou repercussão é o da Daniela Mercury, que casou recentemente. Temos o Marco Nanini, mas e daí? Todo mundo aceita, mais pelo que eles são. Mas é preciso mais. Leia ABC –Por exemplo? Gil –Onde está o beijo gay na TV? Onde está o bom senso do respeito a todos os indivíduos? No Brasil, isso ainda não é possível, porque vivemos numa sociedade machista. Isso já está ultrapassado na América do Norte. Lá existe toda uma cultura de respeito à diversidade entre sexos. Leia ABC –Mas nesses países o avanço e o respeito à diversidade é mais sensível, a tal ponto que muitos já discutem outro ponto, o da relação. Por exemplo, o mito de que o gay masculino é sensível e o gay feminino, “durão”. A sociedade e os próprios gays podem se frustrar por acreditar nesse estereótipo? Gil –Sim. Muitos falam do gay masculinizado e do gay afeminado. O que 8

| Novembro Janeiro de 2014 de 2013

existe é uma diversidade com uma pluralidade. Todos são iguais. O desejo de amor e de amar é igual num relacionamento entre as pessoas do mesmo sexo. Leia ABC –Alguns dizem que em um casal gay sempre haverá um parceiro mais masculino e outro mais feminino. Isso é real, ou é uma forma sutilmente preconceituosa de fantasiar a relação como sendo um homem unido a uma mulher? Gil –Isso cai na visão da heteronormatividade. Querem reproduzir esse espectro dentro deste universo. Por exemplo, se existe o um casal de lésbicas, tem que haver uma mais masculina do que a outra. Não se deve encarar o homossexualismo desta maneira. Os casais podem ou não ser masculinizados ou afeminados. Leia ABC –Normalmente, heterossexuais não dizem aos pais ou aos amigos que são heteros. É importante ou necessário para o homossexual fazer isso? Gil –No Brasil, repito, ainda existe a cultura pela qual os pais estimulam o relacionamento entre pessoas de sexo diferente. Mas quando isso não acontece, existe a desconfiança de que há algo errado. E quando se assumem, acabam discriminados. Também descobrimos dezenas de homens que são obrigados a se casar apenas para deixar uma imagem social. Leia ABC –Hipocrisia? Gil –Muito mais do que hipocrisia. É um círculo vicioso, pois o homem, ao não se assumir por causa do preconceito ou da imposição dos pais, acaba tendo um relacionamento homossexual às escondidas. É um círculo vicioso. Leia ABC –E preocupante também. Gil –Sim, porque, quando descoberto, podem ocorrer problemas conjugais e o aparecimento de doenças sexualmente transmissíveis, como a transmissão do vírus HIV.

Leia ABC –Mas a política pública de auxílio ao homossexual não é forte na região? Gil –Existe, mas não é forte. O que existe é uma política ilusória de auxílio. Por exemplo, as meninas (travestis) que se prostituem na avenida Industrial, em Santo André, estão sendo iludidas com propostas de ajuda apenas para que deixem à região, porque há um projeto imobiliário em curso. Essa política de auxílio que o governo municipal está empregando vai fazer apenas com que a prostituição fique circunscrita às casas, como ocorre em São Bernardo. Lá há casas de travestis, que são exploradas pela cafetinagem. Porque não dar ênfase ao processo de inserção no mercado de trabalho do homossexual que se prostitui? Leia ABC –Os governos alegam que isso é caro. Gil –Acho que é mais por falta de vontade de quem tem o poder da caneta. É muito fácil reservar programas de capacitação e treinamento de profissionais para orientar o homossexual que se prostitui. Leia ABC –Ainda sim, houve avanço nas políticas públicas de auxílio à população LGBT? Gil –Nos últimos quatro anos, não. Sinto que houve uma estagnação. No governo Lula havia medidas mais claras e mais abertas. Hoje tudo parou. Leia ABC –Tudo isso que você está afirmando não é fruto da ignorância da população/sociedade, que pode aceitar o filho homossexual, mas não digere? Gil –Vivo me perguntando o porquê disso acontecer nos dias atuais. Mais especificamente na região do ABC, onde eu atuo, sinto a cultura bairrista que gera o provincianismo e o machismo. Isso está intrínseco nas raízes sindicais. Aquela cultura do homem provedor e da mulher dona de casa ainda se faz presente.


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E que venha 2014 Embora muitos estejam pessimistas quanto às perspectivas econômicas, que há tempos vêm ditando o humor da sociedade, nós que produzimos a Leia ABC marcharmos na contramão e dizemos que o ano de 2014 pode, sim, ser positivo. Explico: pleno emprego, as pessoas contendo os gastos e equilibrando as contas. Isso ocorre porque há mais gente lendo, se informado, o que é bom. Ao menos a população demonstra que está atenta aos fatos do cotidiano e nós, formadores de opinião, devemos estar preparados para escrever de forma concisa e coesa para que o leitor entenda tudo facilmente. E esta é a proposta da edição de janeiro. Nossa matéria de capa fala sobre os novos serviços adotados pelo consumidor na região. Considerada a mola propulsora da economia nacional, por causa da presença do evento esportivo mais popular do planeta, a Copa Mundo, o setor terciário está aquecendo a economia e demonstra a vontade do morador da região em consumir de maneira consciente esses novos serviços. Outra pauta de destaque é a matéria de saúde. Nunca na história deste país o brasileiro ficou tão preocupado em manter o corpo saudável. Para tanto, muitos estão exagerando nos exercícios físicos para manter a forma. Segundo a reportagem, há quem malhe duas horas diariamente e adota dietas perigosas. É preciso saber qual é o limite dos treinamentos e o que pode prejudicar seu corpo. São duas importantes matérias de um conjunto de boas informações em outras editorias para que você leitor possa se informar a partir da Leia ABC. Mas não é apenas por isso que acredito que 2014 será um ano bom. Entendo que a coerência e a sabedoria se farão presentes no espectro de todos os brasileiros. Feliz 2014 e boa leitura! Wallace Nunes Diretor de Redação

RECADOS DA REDAÇÃO: Dúvidas sobre assinatura, reclamações e alteração de endereço. Telefone: 4902-4904. Cartas: Rua Macaúba, 82 - CEP 09190-650 - Bairro Paraíso, Santo André - SP. Email: redacao@leiaabc.com - Site: www.leiaabc.com. ATENDIMENTO AO LEITOR: Se você quer fazer comentários, sugestões, críticas ou tirar dúvidas, ligue para o telefone: 4901-4904 de segunda a sexta-feira, das 10 às 12 horas ou das 14 às 16 horas. Edições anteriores: Os exemplares anteriores devem ser requisitados formalmente pelo email: redacao@leiaabc.com O atendimento às solicitações está sujeito à disponibilidade no estoque. Anúncios: Tel.: 11 4902-4904 - Email: comercial@leiaabc.com

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Seu bolso

Tudo de novo

Divulgação

Marcos Cazetta Economista e especialista em finanças pessoais marcoscazetta@hotmail.com

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hegamos ao tão esperado ano-novo. Mal passaram as festas de fim de ano e já começam as contas típicas do período como IPTU, IPVA, matrícula e materiais escolares. Tudo isso em um espaço bem curto de tempo, em que muitas vezes o seu bolso não está preparado como deveria. Para quem poupou parte do seu décimo terceiro, como sugerimos na coluna anterior, o golpe não será tão grande, mas para quem não teve condições de se preparar para as contas de início de ano a coisa fica um pouco mais complicada. Isso porque a maioria das contas que se acumulam neste período do ano tem previsão de reajuste superior ao índice de inflação do ano de 2013. As principais contas que podem desequilibrar seu orçamento são: IPVA – Para quem possui carro com menos de 20 anos de fabricação e não escapa do tributo, uma boa notícia é que as taxas para o Estado de São Paulo permanecerão inalteradas para o ano de 2014, ou seja, poderão variar entre 3% e 4% para veículos de passeio. No entanto, o desconto para pagamento à vista também permanece o mesmo (3%). Outra opção é o pagamento parcelado em três vezes, porém sem desconto. IPTU – Para quem possui casa própria, esta é mais uma despesa para este início de ano. Uma noticia não tão boa é que, ao contrário do IPVA, esta taxa sofrerá reajustes para o ano de 2014. Na região do Grande ABC, a previsão do reajuste é entre 5% e 6%, baseado no Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA). Este índice é utilizado para medir a inflação do país. Para pagamento do IPTU à vista os descontos são gradativos e podem chegar até 20% para os contribuintes considerados bons pagadores nos anos anteriores. Aposentados e pensionistas também podem ter sua cobrança diferenciada, mas para isso é necessário procurar a prefeitura de sua cidade. Matriculas escolares – Para quem tem filhos pequenos na escola, as notícias também não são as melhores. A previsão para reajuste das mensalidades das escolas particulares para o ano de 2014 é superior ao índice de inflação e poderá chegar a 10% nas matrículas e men-

salidades, fora o aumento no preço dos produtos que compõem a lista de material escolar para o ano letivo. Neste caso, dificilmente existe alguma negociação com descontos para os pais, ou seja, você não tem muita alternativa: é preparar o bolso ou quebrar a cabeça para encaixar estas contas em seu orçamento. Estes são os três principais vilões do seu orçamento. Agora vale destacar alguns pontos para encarar estas contas tentando minimizar os estragos no orçamento. Em primeiro lugar, os descontos concedidos no IPTU e IPVA são interessantes para quem possui alguma reserva, pois se considerarmos uma taxa de aplicação de qualquer fundo de renda fixa ou poupança, nenhum rendimento será superior à taxa de desconto concedida. Caso você não seja um dos felizardos que conseguirão quitar estas despesas à vista e ainda não vai ter condição de honrar com o pagamento parcelado no prazo estipulado, sinto dizer-lhe informar que seu ano será um pouco mais apertado. Uma saída é recorrer ao empréstimo pessoal. Neste caso vale você somar todas as suas contas excedentes e apresentar este valor ao gerente da sua conta. A taxa para empréstimo pessoal hoje não será tão atrativa, pois o Banco Central vem elevando a Selic, ou taxa básica de juros, para conter a inflação e os bancos, por sua vez, repassam este custo aos seus correntistas. Por isso peça ao gerente do seu banco para que ele apresente mais de uma alternativa para este empréstimo. Analise qual das opções mais se encaixa à sua realidade e, assim, você poderá diminuir os efeitos dessas contas no seu orçamento. Outra alternativa é buscar uma linha de crédito oferecida pelos bancos para quitação do seu IPVA. Neste caso, a taxa de juros tende a ser inferior à taxa do empréstimo pessoal. Portanto, não deixe de analisar esta opção. Vale ressaltar que, mesmo em meio a toda esta turbulência das contas do início de ano, convém você revisar seu orçamento mensal e tentar encontrar uma folguinha para começar a poupar. Caso isso aconteça, com certeza em 2015 você iniciará o ano muito mais leve. Um ótimo 2014 a todos! Janeiro de 2014 |

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Consumo

Estratégia

que dá certo Além de preços acessíveis, liquidação pós-Natal é uma alternativa para manter a euforia nas compras no começo do ano

Shutterstock

Lívia Sousa - livia@leiaabc.com

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Assim, os lojistas que exageraram nas previsões de venda precisam “se livrar” dos estoques do ano anterior, tanto para abrir espaço aos novos produtos quanto para fazer caixa, pagar as contas e não sair no prejuízo. O resultado desta combinação é a esperada liquidação pós-Natal, geralmente realizada em janeiro, na qual, dependendo do tipo de produto, podem-se realizar compras com preços bem mais acessíveis. “Outra vantagem da espera é que muitas compras adiadas são simplesmente esquecidas ou canceladas e o consumo acaba menor. Com isso, têm-se mais tempo para refletir sobre a real necessidade ou o desejo do que se pretende adquirir, pesquisar melhores alternativas e até fazer melhores compras”, salienta Modernell.

Qualidade e variedade

No Natal de 2013, os eletroeletrônicos lideraram a procura dos consumidores nas lojas do Grande ABC. O Magazine Luiza da Marechal Deodoro, em São Bernardo do Campo, por exemplo, registrou grande demanda por TVs, tablets, smartphones e notebooks. Já a Armarinhos Fernando, também no centro de São Bernardo, teve como produtos mais vendidos os brinquedos e os artigos natalinos, tanto para o varejo quanto para o atacado. Com a chegada das liquidações, os consumidores afirmam que, apesar dos preços convidativos, algumas lojas da

região não mantiveram a mesma variedade dos produtos vendidos no fim do ano. No entanto, Modernell não vê motivos para que isso seja tratado como um grande problema. “O maior risco é não encontrar no mercado o que se deseja, caso a demanda tenha sido maior do que a oferta. Basta esperar alguns dias ou semanas a mais até que o mercado e os estoques se normalizem”, esclarece o educador financeiro. O que também pode atrapalhar na hora de levar as chamadas “sobras” para casa é o questionamento quanto à qualidade da mercadoria. Alguns consumidores, inclusive, ficam com receio e desistem da compra pela crença de que se está barato é porque tem algum defeito ou não é tão bom quanto parece. Para a organizadora escolar Sebastiana Aparecida, olhar bem o estado do produto – principalmente seus detalhes – pode evitar futuras dores de cabeça. “Gosto das coisas em estado de perfeição e, fazendo isso, nunca aconteceu de encontrar algum defeito naquilo que adquiri nas liquidações.” Apesar de ser uma boa alternativa para economizar, Álvaro Modernell recomenda que a compra pós-Natal, em muitos casos válida para aquisições domésticas e consumo próprio, não seja estendida às crianças, que nem sempre entendem os benefícios e podem ficar frustradas ao esperar para receber o presente depois da data. “Há desgastes e prejuízos psicológicos que não compensam qualquer ganho financeiro”, conclui.

Camila Bevilacqua

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asta chegar dezembro e uma multidão sai às compras para as festas de fim de ano. Considerada a principal data comercial dos 365 dias, o Natal é responsável pelo aumento de 30% nas vendas da capital paulista no último mês, de acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP). Embora comemorem o movimento intenso nas lojas, os varejistas não deixam de ficar de olho nas vendas pós-Natal, já que muitos consumidores esperam passar a euforia natalina para adquirir produtos sem enfrentar o empurra-empurra e as enormes filas nos caixas. “Sempre gostei de comprar em janeiro, porque tem menos gente na rua e não tem confusão”, afirma a organizadora escolar Sebastiana Aparecida Logaroto, de 63 anos. Para o início de 2014, o foco da moradora do bairro Barcelona, em São Caetano do Sul, será as roupas de praia. Há também quem não tenha essa intenção, mas entra no grupo por acaso e aprova o resultado. No ano passado, a revendedora Elismar Gomes de Oliveira, de 45 anos, assistiu a um comercial de TV com as liquidações de uma rede de lojas de variedades e decidiu conferir as promoções pessoalmente. “Fui até lá ver o que tinha e encontrei um jogo de sofá. Comprei e percebi que saiu mais em conta”, diz a moradora do centro de São Caetano, que agora pretende fazer o mesmo com uma panela de fritura. “Já estou pesquisando os preços para comprar depois.” Economizar ainda é a motivação que mais leva ao adiamento das compras, postura que para o educador financeiro Álvaro Modernell pode realmente ser o melhor caminho. Cercado pela pressão psicológica e mercadológica desta época do ano, o consumidor tende a correr para as lojas e, segundo o especialista, pagar mais caro pela mercadoria. “Nos períodos que antecedem o Natal, há um notório aumento nas compras motivado pela demanda e pelo 13º salário. A consequência natural é o aumento de preços”, explica. Passada a fase do consumo explosivo, a procura cai e o movimento diminui.

Antes de levar para casa, Sebastiana analisa os detalhes da mercadoria Janeiro de 2014 |

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Mirante “2014 será melhor”, diz Grana

Wallace Nunes Jornalista wallace@leiaabc.com

Num balanço geral do primeiro ano de seu mandato, o prefeito de Santo André, Carlos Grana (PT), diz que o orçamento participativo será peça-chave para uma melhor distribuição do dinheiro arrecadado na cidade. “É importante que as pessoas entendam a composição da arrecadação e o melhor gerenciamento a partir do Orçamento Participativo”, declara. O mandatário afirma ainda que o aumento do IPTU para 2015 é uma realidade, mas evitou polêmicas como o valor real da alta. “Não teremos problemas como aconteceu na capital”, garante.

Equilíbrio das contas e movimentação

Enquanto isso, seu adversário direto... ...Aidan Ravin, o ex-prefeito que se filiou ao PSB de Eduardo Campos e Marina Silva, confirma que será candidato a deputado federal neste ano. “Não tem essa de estadual. Disputarei uma vaga na Câmara Federal e está decidido”, contou-me o ex-prefeito, que está contente porque o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) aprovou os gastos de seu mandato relativos aos exercícios de 2010 e 2011.

Alguém tinha que fazer O deputado estadual Orlando Morando (PSDB) conseguiu as assinaturas necessárias e formalizou o requerimento solicitando a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para investigar os serviços prestados pelas empresas de telefonia móvel no Estado de São Paulo. “É preciso apurar a origem dos problemas causados aos consumidores, bem como aferir o vulto das consequências deste serviço, que é de grande importância para a população, que, por sua vez, paga um alto preço, mas enfrenta cotidianamente e sem expectativa real de solução”, explica o deputado. Os serviços de telefonia móvel são os líderes de reclamações dos consumidores. Até o fechamento desta edição, dia 30 de dezembro, foram registrados 52.940 atendimentos realizados pelo Procon e relacionados com os serviços prestados pelas empresas Vivo, Claro, Tim, Oi e Nextel.

Deputado atuante sempre

Gol de placa – 1

Gol de placa – 2

Membros do governo Luiz Marinho (SBC) comemoraram ao saberem que a presidente Dilma Rousseff havia se decidido pelo projeto FX2, que acertou a compra dos aviões de combate Grippen NG, da sueca Saab. A empresa vai montar parte da estrutura para fabricação dos caças na cidade – para isso haverá uma verdadeira revolução tecnológica no município. “Agora tenho certeza de que o parque de tecnologia será instalado aqui na cidade e vai trazer frutos ainda maiores para todos”, diz um secretário que prefere o anonimato.

Este ano será de fato intenso para governo Marinho. O prefeito promete para o segundo semestre o remodelamento do sistema de transporte, com corredores, terminais e faixas exclusivas que vão dar uma nova cara à cidade. Antes disso, sob a batuta do secretário de Obras, Tarcísio Secoli, já foi lançado um plano de contenção de enchentes, cujos investimentos beiram o meio bilhão de reais. É São Bernardo de cara nova.


Fogo amigo, não; palhaçada Correligionários do governo Marinho desmentem veementemente as notícias de que há um racha na cúpula do partido em São Bernardo. Informações plantadas por membros do governo dão conta de que uma cisão se aproxima à medida que o prefeito Luiz Marinho não se pronuncia pelo seu sucessor. Para muitos, o “piloto do Boeing” é o fiel escudeiro e secretário de Obras, Tarcísio Secoli. Outros dizem que Luiz Fernando Teixeira, pré-candidato a deputado estadual, pleiteia a vaga para a cadeira mais importante da cidade. O fato é que está tudo muito cedo para decisões precipitadas e muitos periódicos estão caindo no conto do vigário, aliás, dos fofoqueiros de plantão.

Prioridade para o esporte amador O novo secretário de Esporte e Lazer de São Caetano do Sul, Eder Xavier (PCdoB), afirma que a prioridade da pasta serão maior investimento no esporte amador e a oferta de práticas esportivas à população, em detrimento dos atletas de alto rendimento. Com orçamento de R$ 26 milhões, Xavier descarta abandonar as modalidades de alto rendimento na cidade, que já revelou medalhistas como o ginasta Arthur Zanetti e a judoca Edinanci Silva. “Se a gente perguntar aos outros vereadores que representam o povo sobre se vamos beneficiar somente o alto rendimento, eles não vão concordar”, diz. Xavier estima que menos de 20% das verbas da secretaria serão usadas para atletas de elite.

Vice-prefeito de Mauá agora é deputado federal Hélcio Silva (PT) oficializou sua saída do governo do prefeito de Mauá, Donisete Braga (PT), para assumir a vaga de deputado federal no lugar do Valdemar Costa Neto (PR-SP), que renunciou ao posto por envolvimento no escândalo do mensalão. Além de deixar o cargo de vice-prefeito, que conquistou nas eleições do ano passado, Hélcio também entregou a chefia da Secretaria de Habitação – em seu lugar assume definitivamente a pasta o até então secretário adjunto, Marcos Panini. A decisão de assumir a vaga Câmara dos Deputados, segundo o petista, foi tomada depois de ter sido aconselhado por Donisete Braga. Hélcio disputou as eleições de 2010, mas acabou conseguindo apenas a quinta suplência, por ter conquistado 64,9 mil votos. O petista terá apenas um ano de mandato e concorrerá à reeleição.

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Educação

Fotos: Camila Bevilacqua

Aprender brincando

Usando brincadeiras como recurso, Pedagogia Waldorf é pouco conhecida no Brasi e profissionais lutam para ganhar a confiança dos pais

A

Lívia Sousa - livia@leiaabc.com

prender alemão se escondendo dos amigos e decorar a tabuada pulando corda. Se o ditado diz que é brincando

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que se aprende, essa turma não poderia estar em um lugar diferente. Aqui, o conteúdo lecionado pelo ensino tradicional é passado de um jeito divertido, muitas vezes exigindo dos pequenos aquilo que toda criança gosta: gastar

energia e colocar a mão na massa. Comum entre o público infantil nos momentos de lazer, a brincadeira invadiu as escolas que adotam a Pedagogia Waldorf. Criado em 1919 pelo filósofo Rudolf Steiner, o método visa formar um indivíduo completo desenvolvendo a inteligência, o conhecimento, a vontade e as ideias sociais do ser humano, sempre respeitando as características de cada aluno. No Brasil há 57 anos, o movimento ainda é pouco conhecido no país, mas vem ganhando espaço. De acordo com a Federação das Escolas Waldorf no Brasil (FEWB), o número de colégios especializados mais que dobrou entre 2003 e 2010, passando de 40 para 85 unidades. “Na prática, a Pedagogia Waldorf vai além do método tradicional, que apenas informa”, declara Cinzia Cristina Ferreira do Ama-


ral, pedagoga responsável pelo Centro Educacional Pomar, escola de Ribeirão Pires que trabalha com o método. Responsável por cuidar de 83 crianças de 1 a 9 anos de idade, o local já apresenta sinais de diferença no espaço físico. Com o objetivo de ser uma extensão da rotina familiar e oferecer mais autonomia às crianças, os alunos do jardim da infância aprendem em uma sala com carrinhos, miniberços, bonecas e materiais recicláveis, além de armários individuais, para que cada um organize os objetos pessoais. Nesta fase, o ensino se restringe às crianças de 1 a 6 anos e às

atividades corporais – como pintura, por exemplo –, sendo que cada turma conta com alunos de idades diferentes. “Nas turmas multisseriadas não há uma hierarquia onde um é mais forte e lidera. O mais velho ajuda o mais novo, e assim aprendem a respeitar uns aos outros, como se fosse uma casa de verdade”, diz Cinzia. Já no ensino fundamental, o diferencial fica por conta da abordagem do conteúdo. Apesar de as matérias serem semelhantes às das escolas regulares, cada uma é lecionada em semanas específicas. A descontração com que algumas são transmitidas, no

entanto, cativa os estudantes. “As aulas são legais. Algumas vezes, a gente pula corda para aprender matemática e, na aula de alemão, brincamos de esconde-esconde: um colega vai, se esconde, e quem achar se esconde junto”, diz Flávio Roca Ferreira, de 8 anos. “Nunca estudei em outra escola, mas eu gosto daqui”, completa o aluno da terceira série do ensino fundamental. Os dois níveis também apresentam algumas semelhanças, como o número reduzido de alunos por sala, o contato direto com a natureza e o agradecimento ao alimento diário.

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Educação

Fotos: Camila Bevilacqua

Aprovação, desafios e receio

Cinzia: Pedagogia Waldorf vai além do método regular

Flávio nunca estudou em uma escola tradicional

Marta Ferreira: dois filhos e confiança no método 18

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Os pais que conheceram a Pedagogia Walford e matricularam os filhos em escolas especializadas garantem não se arrepender da decisão. Mãe do estudante Flávio, Marta Roca Ferreira, professora de música do Centro Educacional Pomar, afirma que crianças que passam por colégios especializados no assunto são mais carinhosas, calmas e concentradas. “Já convivi com alunos de outras escolas e noto que a calma vem do fato de aqui eles terem o momento de brincar e correr. Precisam expandir e extravasar, e aqui esse momento é respeitado. Mas, quando é exigida concentração, realmente conseguem prestar atenção”, explica ela, que, além de Flávio, matriculou no mesmo local a filha Bianca, de 6 anos. Quem também compartilha da opinião é o gestor de TI Alexandre Lima, de 44 anos. Com dois filhos (Guilherme, de 6 anos, e Luiza, de 3) estudando na escola da região, o morador de Ribeirão Pires notou nos filhos várias evoluções comportamentais, sendo as principais criatividade, expressão oral e corporal, gosto pela forma e conteúdo em atividades artísticas, independência nas atividades rotineiras, concentração e mais interesse e intensidade nos relacionamentos com outras crianças e adultos. “O ensino regular forma um indivíduo apto a competir em uma sociedade e mercado de trabalho atual, moldando-o às características desta sociedade. Não tenho nada contra, mas a Pedagogia Waldorf também forma o indivíduo socialmente adaptado, só que de dentro para

Método visa formar indivíduo completo, desenvolvendo inteligência, conhecimento, vontade e ideias sociais do ser humano

fora”, explica, dizendo ainda que, por meio do autoconhecimento, o adolescente será capaz de dominar sua natureza, sentimentos, emoções e fraquezas, e com valores éticos como colaboração, inclusão, compaixão e respeito ao próximo, além de usar sua capacidade na construção de uma sociedade melhor. Por outro lado, para que tudo dê certo e ganhe a aprovação dos pais, os professores encontram alguns desafios durante a jornada. Sem o auxílio de materiais já prontos como apostilas e livros didáticos, a professora Marta diz que é necessário construir o conhecimento junto aos alunos. “Até tem uma linha que você vai seguir, mas não tem uma fórmula. É preciso ir construindo junto com eles aquilo que vão aprender e, para isso, é essencial que o professor estude e pesquise constantemente”, declara. Outro entrave encontrado pelos profissionais da área é “quebrar” o receio de alguns pais de alunos que passam pela transição entre o Jardim da Infância e o ensino fundamental, já que ao mesmo tempo em que aprovam o livre brincar, também acreditam que a postura pode, de alguma maneira, interferir negativamente no aprendizado quando as crianças chegam a níveis mais avançados. “No jardim de infância, os pais querem mais é que as crianças brinquem. Só que elas continuam brincando quando chegam ao fundamental e alguns pais têm medo de que os filhos não aprendam. Tem muito essa coisa de o aluno fazer o jardim e, quando fica maior, o pai tira e coloca em outra escola”, declara Marta. Por este motivo, ela diz ser um desafio manter uma escola Waldorf e provar aos responsáveis que a metodologia dá certo mesmo quando as crianças começam a amadurecer. “O pai precisa acreditar e confiar para que a escola ande. E conseguir essa confiança é um desafio. Mas acho que, com o tempo, vai dar tudo certo, porque a metodologia ainda é muito nova. Os alunos do atual quarto ano do Centro Educacional Pomar são os pioneiros, estão puxando as futuras gerações. Então, com o tempo, isso vai melhorando e tirando essa coisa da cabeça de alguns pais de que não dá certo”, conclui.


Em forma

Ano novo com a dieta detox Tamyres Barbosa Nutricionista tatatri@gmail.com

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im de ano, festas e comemorações. Junto pois a lactose e o glúten (ingredientes que comcom tal alegria vem a mesa farta, e não há põem tais alimentos) têm digestão muito lenta e quem não caia em tentação. O ponteiro ação inflamatória (incham e estufam). A carne da balança sobe e aquele corpinho enxu- vermelha também deve ser evitada nesses dias de to conquistado durante o ano todo para o verão purificação do organismo, pois ela aumenta a proganha uns quilinhos a mais. E agora, o que fazer? dução de toxinas. Não se desespere, pois não é preciso desistir de Antes de iniciar a dieta detox, prepare-se com se manter na linha depois de um ou outro abuso. o “pretox”, preparação para a dieta detox, conforFalta de apetite pela manhã, gosto amargo me as recomendações abaixo: na boca ao acordar, inchaço, dor de cabeça, 1 – Suspenda o cafezinho. A cafeína dificulta a tontura, gases, queda na libido, memória e ação da enzima citocromo P450, responsável por concentração prejudicadas são indícios de que eliminar as toxinas acumuladas nas gordurinhas. o organismo está intoxicado. Isso deixa o organismo inflamado e resistente à Eis que surge a dieta desintoxicante, ou dieta perda de peso. detox, como ficou conhecida. Para mandar embo2 – Coloque no prato mais verduras e frutas ra as impurezas acumuladas depois de tais refei- ricas em água. ções regadas de gordura, açúcar e bebidas alco3 – Comece a reduzir produtos que tenham ólicas, adote essa dieta, que como ingrediente a farinha traz benefícios como resgate branca (doce, massa, biscoido equilíbrio do organismo to e pão), cremes e carnes e perda de peso. gordurosas, alimentos com A dieta de desintoxicacorantes e conservantes. Aução inclui o consumo de frumente o consumo de fibras tas, legumes, verduras, su- Ao acordar - Uma xícara (200 ml) de chá de (sementes, farelos, arroz incos e chás, que purificam as limão com gengibre. Obs.: Não adoce o chá. tegral). células e aceleram o metaApesar dos benefícios, bolismo. O consumo destes Café da manhã - Uma taça de salada de frufique atento. A dieta detox alimentos ajuda no funcio- tas (maçã, banana, uva e mamão) acrescida é recomendada por no máde uma colher (sopa) de farinha de linhaça, namento dos rins e do fíga- mais um copo (300 ml) de suco verde ximo uma semana, pois do, promovendo a eliminaminiminiza a ingestão de ção de toxinas acumuladas Lanche da manhã - Quatro castanhas-donutrientes essenciais ao orno organismo. Abacaxi, -pará ou de caju ganismo como carboidratos melancia, salsão, linhaça e (principal fonte energética Almoço - Um prato (sobremesa) de salada suco verde (preparado com de folhas verdes temperada com um fio de do organismo) e gorduras couve, limão, salsinha e azeite e limão, mais uma concha pequena (fundamentais na absorção gengibre) são alguns dos ali- de feijão, duas colheres (sopa) de arroz inde vitaminas lipossolúveis mentos que devem ser inge- tegral, um filé (120 g) de frango grelhado, e proteínas), necessárias ridos para ajudar a limpar o uma colher (sopa) de cubinhos de legumes para a reparação de tecidos. cozidos e uma fatia média de abacaxi organismo. Outra dica é opTambém impacta sobre os tar por produtos orgânicos Lanche da tarde - Vinte gramas de choconíveis de ferro, favorecenna hora das compras, assim late meio amargo mais um copo (300 ml) do o desenvolvimento de você irá diminuir a ingestão de água de coco anemia, caso mantida por de agrotóxicos. um período maior que o Jantar - Um wrap (massa de panqueca Alimentos como leite pronta passada na frigideira) recheado com recomendado. Utilize-se da e laticínios, pães e massas duas fatias de mussarela de búfala, dois todieta apenas para purificar o aparecem em menor quanti- mate secos e rúcula, mais um copo (300 ml) organismo e recomeçar uma dade nesse tipo de cardápio, de suco de melancia sem açúcar. alimentação balanceada.

Sugestão de cardápio detox

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Economia

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inheiro o povo

Pioneira no Nordeste, moeda social chega ao ABC, mas ainda carece de apoio para expandir e ganhar confiança nas comunidades da região

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Lívia Sousa – livia@leiaabc.com

stimular a economia, o desenvolvimento e atender às necessidades do consumidor local. Estes são os principais objetivos das moedas sociais, que, segundo a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), já somam 103 tipos diferentes em circulação no Brasil. Inicialmente adotada na região Nordeste do país – conhecida como Palma, a primeira surgiu no Conjunto Palmeiras, em Fortaleza (CE), onde conta inclusive com um banco comunitário –, a ideia incentivou outras comunidades a fazer o mesmo, inclusive no ABC. Criada pelo padre Leo Commissari (assassinado quando voltava de uma quermesse, em 1998), a moeda mais conhecida das sete cidades do ABC vem do Jardim Silvina, em São Bernardo do Campo. Além de atender ao local

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de origem há quatro anos, a chamada “commissari” também circula nas comunidades Vila São José e Golden Park, no mesmo município. “Os moradores procuram o Banco Commissari, dentro da Associação Padre Leo Comissari, fazem um empréstimo da moeda e utilizam o valor em estabelecimentos que aceitam este dinheiro”, expli-

Fotos: Camila Bevilacqua

Camila Bevilacqua

Utilização do commissari ainda é baixa, afirma Maria Vani

ca Maria Vani de Caldas Villani, agente de desenvolvimento do banco. Atualmente, 22 empreendimentos locais estão cadastrados no banco comunitário e autorizados a receber a moeda exclusiva. Porém, para que o empréstimo máximo de 50 commissaris seja liberado, o consumidor passa por uma avaliação estipulada pelos próprios moradores: o dinheiro é concedido somente após consulta do histórico financeiro de quem mora no local há pelo menos um ano. “Fazemos o que chamamos de Sistema de Proteção ao Crédito (SPC) social, no qual o consumidor fornece o número de telefone de três pessoas que não sejam parentes para verificarmos sua situação dentro da comunidade”, declara Maria Vani. Como cada commissari equivale a R$ 1,00, a agente frisa que algumas das vantagens do dinheiro solidário ficam com o fim das vendas a crédito (o famoso fiado, a maior queixa dos comerciantes), o pagamento ao banco comunitário em duas vezes sem juros, descontos em alguns dos estabelecimentos e a aquisição de produtos emergenciais, mesmo sem o real em mãos. “Se o gás acabar e o consumidor só tiver o commissari, ele con-


segue resolver o imprevisto”, argumenta. Quem também comprova os benefícios da moeda são-bernardense é Fabiana Aparecida Eduardo Ferreira, de 29 anos. Moradora do Jardim Silvina desde 2011, a auxiliar de escritório afirma não ter tido problemas com o formato de compra e venda. “Uso o commissari há um ano e meio em vários comércios próximos de casa. Tudo ficou mais prático”, declara. “Recebo meu salário uma vez ao mês e na segunda quinzena já não tenho mais dinheiro. O empréstimo da moeda ajuda muito para completar as despesas domésticas.”

confiança total dos moradores das comunidades em que circula. Além dos 22 comerciantes e da auxiliar de escritório Fabiana, somente quatro consumidores o utilizam entre as comunidades Jardim Silvina e Golden Park. “A moeda deveria circular mais, mas nem todos acreditam que isso dá certo”, aponta Maria de Lourdes Machado de Almeida, de 62 anos, uma das comerciantes que utilizam e apoiam a iniciativa dentro do Jardim Silvina. Proprietária de um pequeno espaço que comercializa de cinco a dez marmitex diariamente, a autônoma acredita que o impasse seria resolvido se os responsáveis pelo banco circulassem frequentemente na comunidade, explicando os benefícios do commissari para cada morador. Segundo a agente Maria Vani, a falta de divulgação tem explicação: ausência de patrocínio. “O banco comunitário ainda é utilizado, mas não com a intensidade que deveria, porque o contrato com o governo acabou e até agora não conseguimos patrocinador. Mandamos outro projeto para o Ministério do Trabalho e, se for aprovado, pretendemos voltar com força total em 2014”, explica. Enquanto a aprovação não chega, Maria Vani – que também ocupa a função de secretária da Associação Padre Leo Commissari – tira voluntariamente

Passos tímidos

Se antes os moradores enriqueciam grandes empresas ao sair da comunidade para comprar produtos variados em supermercados, hoje encontram esta diversidade ao lado de casa e, de quebra, ajudam a fomentar a economia do local onde vivem. Entre os estabelecimentos que aceitam o commissari, por exemplo, estão lojas de roupas e sapatos, salão de beleza e açougue. Mesmo oferecendo comodidade e valorizando o comércio da região, a moeda exclusiva ainda não ganhou a

Jucileia busca articulação para que a moeda Leste volte a circular

algumas horas do expediente para cuidar da moeda social. “Para ganhar confiança você precisa de tempo e, por falta dele, não consigo visitar todos os empreendimentos e moradores. Vou mantendo devagar e pretendo continuar porque é importante para a comunidade. Tenho muita vontade que dê certo e vou lutar por isso”, completa.

Estacionado

Diadema também conta com uma moeda social, o “Leste”, que, assim como o commissari, equivale ao mesmo valor do real. Implantado em 2007 – mas nomeado como “Leste” somente em 2010 –, o dinheiro solidário circulou durante a Feira de Trocas do Centro de Referência da Assistência Social (Cras), no bairro Promissão, seguindo os mesmos princípios dos clubes de trocas em que moradores de comunidades compartilham produtos, serviços e conhecimentos. “Contávamos com um espaço no qual os participantes apresentavam seus produtos e serviços no início da feira, sendo avaliados os valores pela moeda Leste”, diz Jucileia Aparecida Nascimento da Silva, coordenadora técnica do Cras Leste. Realizada a cada dois meses, a feira reunia em média 25 munícipes usuários do Cras, sendo a maioria moradores dos bairros Casa Grande, Nogueira, Promissão e Piraporinha. Entretanto, depois de três anos em atividade, o evento “estacionou”. “A Feira de Trocas representava um espaço de ação comunitária e possibilitava que as famílias acessassem o Cras para além das ações realizadas semanalmente. Considerando a dimensão que estava tomando, acreditamos que seria importante a articulação com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e a Incubadora Popular de Empreendimentos Solidários, visto que atuamos na área da assistência social e não teríamos conhecimento suficiente para continuarmos”, explica a coordenadora. Apesar do recesso, Jucileia garante que a proposta para dar continuidade ao trabalho da instituição será encaminhada aos respectivos órgãos já no próximo ano. Janeiro de 2014 |

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O boom dos ser Moradores do ABC adquirem novos hábitos e utilizam cada vez mais serviços considerados supérfluos, como lavanderias e empresas de limpeza

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Nani Soares - nani@leiaabc.com

lertas de inflação, crise e economia oscilante. Se os analistas apontam antigos fantasmas rondando a economia, alguns números contribuem para manter o otimismo do brasileiro. A taxa de desemprego, por exemplo, fechou o ano com índice histórico (pouco mais de 4%), o menor desde a série iniciada em 2002. Com a queda no desemprego e o consequente poder de compra, a população não só tem comprado mais como também fez o setor de serviços crescer acima da média. A expectativa é de que o setor terciário ultrapasse o comércio até 2015, de acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), divulgados na pesquisa Cenários 2020. Comer fora, usar serviços de limpeza e lavanderia, gastar mais com salão de beleza e clínicas estéticas e viajar são exemplos de despesas até então consideradas supérfluas, mas que são cada vez mais utilizadas pela chamada classe média. A mudança nos hábitos revela tanto a falta de tempo na correria da vida diária como também que o brasileiro encara abrir mão de tarefas corriqueiras como uma conquista, um avanço social. Leandro Prearo, coordenador do Instituto de Pesquisa da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (Inpes/ USCS), explica que é natural o desenvolvimento de um país quando sua economia é baseada no consumo – como parece ser o caso do Brasil no momento

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–, e isso resulta em uma busca maior pelo setor de serviços. No ABC, os serviços que mais crescem são alimentação fora do lar (food service) e beleza e estética, mas lavanderia e serviços médicos também tendem a crescer. Os moradores da região estão comendo tanto fora de casa que atualmente 16% da renda das famílias locais é destinada à alimentação, sendo 4,8% externa, afirma Prearo. Ao mesmo tempo, a tradição regional se mantém e a maior parte da população frequenta restaurantes da própria região. “O ABC tem uma situação socioeconômica privilegiada em relação ao Brasil e ao Estado de São Paulo. Nesse sentido, o crescimento do setor de serviços é maior aqui. A maior demanda desse tipo de atividade tem gerado muitos pequenos negócios na região, em especial na área de beleza e estética e comida preparada”, revela. Fotos: Camila Bevilacqua

O boom no setor é especialmente benéfico para os cofres dos municípios, já que o ISS gerado ajuda a compor a receita municipal, explica Prearo. O lado negativo é que a qualidade dos serviços oferecidos pode ser comprometida em virtude de haver uma demanda reprimida ainda muito grande por alguns tipos de serviço, o que tende a trazer problemas como o tempo de atendimento ou mesmo queda na qualidade. Segundo Sandro Renato Maskio, coordenador de estudos do Observatório Econômico e professor de economia da Universidade Metodista de São Paulo, em todas as economias desenvolvidas houve uma fase de transição da hegemonia da atividade industrial para o setor de serviços, transformação que ocorre agora também no Brasil. “Nos últimos 20 anos, com a abertura econômica e a reestruturação do modelo produtivo no Brasil, tem ocorrido um crescimento do setor de serviços, seja pelas mudanças na organização do tecido produtivo, pela ampliação das demandas por serviços industriais especializados ou pelo aumento das exigências na prestação dos serviços pessoais”, diz. O fato é que o consumidor brasileiro ficou mais exigente nos últimos anos, garante. Essa mudança de comportamento é resultado de fatores como a expansão da renda e a ampliação da diversidade de produtos, o que cria um círculo virtuoso: quanto mais opções, mais o consumidor torna-se seletivo e refina seu consumo, ampliando o processo competitivo para agradá-lo e faz as indústrias desenvolverem mais produtos. Contrariando a má fama das mulheres de gastadoras natas, são os homens que têm predisposição para abrir a cartei-

Renato Maskio, do Observatório Econômico: homens têm mais predisposição para gastar


ra. Pesquisas de intenção de compra realizadas pelo Observatório Econômico nos últimos anos revelam que eles têm mais disposição para gastar. Com uma maior inserção no mercado de trabalho e consequente participação na economia, as mulheres ainda são as principais responsáveis pelas decisões de consumo nas famílias. Maskio explica que a fama de consumista do público feminino é uma interpretação distorcida justamente por conta disso, já que, quando se fala em disposição para gastar, se consideram também as despesas familiares, realizadas geralmente por elas. Apesar dos inúmeros estudos e avaliações a respeito da classe média, o especialista afirma que é preciso saber quem ela realmente é, ou seja, definir o que está sendo denominando como tal. Ao longo do tempo, o governo adota um padrão de referência para a classificação de classe média diferente da utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, ou do método da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), também bastante utilizado. A chamada nova classe média tem uma renda média pequena, e isso determina o perfil do consumo. As demandas e exigências deste público são diferentes do perfil e da demanda da “classe média apurada pelos critérios da Abep”, explica ele. “Este perfil diferente, com demandas e potenciais diferentes, determina a aquisição de produtos e serviços com outros padrões.”

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rviços

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Jéssica Juliani, do Nova de Novo: em pouco mais de um ano, mais de 500 clientes por mês e planos de expansão

Diversão e comodidade

Aberto há um ano, o Nova de Novo foi a aposta da empresária Jéssica Juliani em duas frentes: investir no segmento de beleza e atuar em nicho ainda relativamente novo, os chamados nail bar, estabelecimentos voltados aos serviços de manicure/pedicure, mas com ares de bar aconchegante. Localizado em São Caetano do Sul, o espaço foge do tradicional conceito de salão de beleza e é uma espécie de reduto para mulheres: além das unhas, é possível fazer massagem, depilação e sobrancelhas, maquiagem e cabelo. Durante a espera, a cliente recebe um drinque de cortesia, que pode ser desde cafés variados a sucos, refrigerante, chás, água de coco ou um drinque alcoólico, como uma taça de espumante. O outro grande chamariz são os esmaltes, cujo portfólio inclui mais de 1.300 opções entre nacionais e importados. O espaço foi projetado para atrair e agradar às frequentadoras. Além de todos os “mimos” para as clientes, há também para as filhas. Um corner com mobília especial, brinquedos e esmaltes próprios para meninas é mantido para aquelas que queiram acompanhar as mães. Disposta a oferecer ainda mais, a proprietária Jessica realiza exclusivos eventos fechados, sociais e corporativos para grupos femininos. Com tantos diferenciais, o negócio 24

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deu certo. O Nova de Novo recebe cerca de 570 clientes por mês, principalmente mulheres da classe média alta. Depois das unhas, o design de sobrancelhas é o serviço mais procurado. “Acredito que as mulheres do ABC refletem um cenário global, onde os consumidores estão, sim, cada vez mais exigentes em relação aos seus investimentos do dia a dia e aos ambientes que escolhem para frequentar. Não é à toa que uma ideia nascida no exterior como o nail bar faz tanto sucesso no Brasil. As nossas clientes sabem o que querem e nos motivam a estar em dia com todas as tendências e novidades do mercado, o que faz que nosso trabalho seja muito estimulante”, avalia Jéssica. Sem nenhuma experiência anterior na área de beleza, Jéssica se aventurou no negócio a partir de algumas viagens feitas ao exterior, em especial uma feita para Londres, onde se apaixonou pelo

Foco dos brasileiros mudou: estimativa é que o setor de serviços ultrapasse o de comércio até 2015

conceito. Segundo ela, o Nova de Novo foi desenvolvido da forma mais fiel possível ao conceito europeu, sendo este o grande diferencial em relação a outras esmaltarias e espaços de beleza. Com alguns interessados em abrir uma franquia da marca e as perspectivas animadoras para o setor, Jéssica pretende expandir o negócio a partir de 2015, mas ainda não decidiu se será com unidades na capital ou em outros estados. Por ora, a meta é investir e aprimorar ainda mais a unidade de São Caetano e criar alicerces sólidos neste ano, para só então definir como será o projeto de expansão. “Cada vez mais mulheres de todas as idades são estimuladas a estar sempre bonitas e bem cuidadas e, em consequência disso, investem mais em beleza e estética. Nossa ideia é oferecer, além da beleza externa, cuidados para o bem-estar feminino, como tratamentos relaxantes, além do serviço do ‘bar’. Dessa forma, as clientes relaxam corpo e mente”, diz. Os serviços de limpeza e lavanderia também são alguns dos mais cotados entre a população. Por que o trabalho de lavar e passar a roupa em casa quando se pode mandar para uma empresa especializada, que a devolve limpa, passada e cheirosa? As franquias de limpeza e lavanderia ganharam ainda mais destaque depois da nova regulamentação da categoria, a


Em busca de comodidade, moradores da região aderem aos serviços das lavanderias chamada “PEC das domésticas”, que garantiu mais direitos a trabalhadores como empregadas domésticas, lavadeiras, cozinheiras, motoristas e jardineiros. Com as mudanças rígidas impostas pela emenda, muitos empregadores

ficaram assustados e passaram a optar por empresas especializadas. A procura cresceu tanto que foram criados diversos pacotes, inclusive para demandas específicas, variando conforme a necessidade do cliente: limpeza de manutenção, pré

Bia Santos

e pós-evento ou de mudança, pós-obra, entre outros. No caso das lavanderias, predominam as peças avulsas como limpeza de camisas, calças e blazers, mas muitas lavanderias oferecem vantagens progres-

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Alimentação fora do Lar é o segmento que mais cresce: comer fora para os consumidores agora é lazer 26

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sivas para clientes assíduos. A qualidade de limpeza superior, que garante durabilidade maior das peças e o acabamento final (passadoria), acaba atraindo o consumidor, que reconhece o custo-benefício. “O consumidor gradativamente está ‘sentindo a necessidade’ de usar a lavanderia. Os motivos vão desde o fato de a mulher trabalhar mais fora de casa até os custos adicionais com empregadas domésticas e mesmo apartamentos muito pequenos, falta de tempo do consumidor, entre outros”, revela Meire Carvalho, diretora comercial da rede de lavanderias 5àsec. O público-alvo da rede é composto em sua maioria por mulheres (65%), ante 35% de homens. A idade média fica entre 25 e 60 anos, das classes A, B e C. Camisas, ternos e edredons são os itens de praxe, mas atualmente os clientes estão levando também itens de uso pessoal e roupas de casa. Meire diz que as praças com melhor desempenho são São Paulo, Salvador (BA), Curitiba (PR), Recife (PE), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG) e Belém (PA), mas o número de clientes no interior dos estados também tem aumentado progressivamente. Para 2013, a estimativa é um aumento de 15% no faturamento. O comportamento do cliente do ABC também mudou e atualmente ele prioriza o conjunto preço, qualidade e atendimento, garante Meire, o que fez com que a 5àsec elaborasse um plano de expansão na região. Hoje são oito lojas em funcionamento, mas a estimativa é duplicar este número em cinco anos. “O consumidor está exigindo conveniência, que se traduz por ter bons serviços próximos de sua casa ou do trabalho, refletindo diretamente na demanda da região. Ele está deixando de consumir em São Paulo, por exemplo, para consumir em seu próprio município”, diz. Comer fora também virou hábito recorrente entre os brasileiros. De restaurantes sofisticados a lanchonetes e redes de comida rápida, o segmento de food service tem sido um dos alicerces do setor de serviços. Para os especialistas, comer fora passou a ser uma opção de lazer, na qual as famílias incluem outros programas como jantar fora e depois ir ao cinema, por exemplo. Empresas de todos os portes têm se aproveitado do momento positivo, mas aquelas que já atuam há mais tempo certamente saem na frente. Considerado um dos melhores de São Bernardo do Campo e fundado há 16 anos, o res-


taurante de origem portuguesa Bacalhau e Vinho Verde é um exemplo de que, se a coisa estava boa antes, agora está em um momento único. Pratos variados, uma vasta carta de vinhos e ambiente aconchegante são alguns fatores que contribuem para tornar o restaurante famoso. Segundo os administradores, as receitas de família e o toque pessoal de temperos também ajudam, bem como as sobremesas e iguarias típicas, como os pastéis de Santa Clara e os de Coimbra. O fato é que o restaurante entrou de vez na rota dos moradores da região, recebendo cerca de 2.200 clientes por mês. Os pratos mais pedidos são o Bacalhau a Gomes de Sá e o grelhado, que custam R$ 69,00 e servem duas pessoas. A clientela é variada, mas formada principalmente pelas classes A e B e moradoras da região, afirma Izabela Florentino, uma das administradoras. Mesmo assim, ela destaca o trabalho de divulgação feito em mídias como TV e revistas,

fundamental para tornar o restaurante mais conhecido e atrair clientes novos, inclusive da capital. Também ajudam a propagar a marca os quatro empórios mantidos e que levam o mesmo nome, além de uma loja virtual. “O consumidor do ABC mudou, está mais exigente e disposto a pagar pela qualidade. Ampliamos o restaurante e agora temos dois salões, um deles com ar-condicionado. Assim, podemos disponibilizar também para festas e confraternizações”, diz. Apesar disso, não houve necessidade de contratar mais

Food service, beleza e estética ainda lideram, mas lavanderias e serviços médicos mantêm crescimento

mão de obra e os 17 funcionários dão conta, garante ela. “As pessoas estão realmente comendo mais fora, optando pela comodidade e tranquilidade. Como as mulheres estão mais independentes e trabalhando fora, acabam optando por comidas prontas, ficando cada vez menos na cozinha”, conclui. De acordo com dados do IBGE, só em outubro de 2013 a receita bruta do setor de serviços cresceu 8,8%, em relação ao mesmo período do ano anterior, acumulando alta de 8,5% no ano. No início de janeiro, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) também divulgou que o Índice de Confiança de Serviços (ICS) subiu 2,6% em dezembro, em relação a novembro, interrompendo uma queda consecutiva de três meses. Parece que o brasileiro realmente está descobrindo os prazeres de ser servido e, com a efervescência decorrente da Copa do Mundo, 2014 será um ano marcante para os prestadores de serviços.

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Saúde

Armadilhas

à saúde Rígidos padrões de beleza e ditadura do politicamente saudável podem esconder ciladas Camila Bevilacqua - camila@leiaabc.com

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ens sana in corpore sano (“Uma mente sã em um corpo são”). A citação do poeta romano Juvenal é a indicação do que as pessoas deveriam desejar na vida e se tornou tão famosa que poucos sabem quem é o autor. Na verdade, se levada ao pé da letra, a máxima é de fato a melhor definição para alguém saudável. O problema é que, atualmente, há uma linha tênue entre o que faz bem ao corpo e o que pode prejudicá-lo. Em se tratando de aparência, os problemas de peso lideram a lista de preocupações. Para as mulheres, este é um tema dos mais complexos. As proporções 90 de busto, 60 de cintura e 90 de quadril (já praticamente impossíveis para mulheres comuns) foram substituídas pelo índice de massa corporal (IMC), pelo ângulo negativo da barriga e pela porcentagem mínima de gordura no corpo. A fórmula também vale para os homens, cada vez mais preocupados com a aparência. Para quem consegue manter o corpo em dia, a receita é relativamente simples: uma alimentação extremamente regrada com proteínas, pouquíssimo carboidrato e salada à vontade, além de suplementos e muita malhação. A prática de exercícios físicos é tão difundida (tanto pela questão estética quanto pela saúde) que o número de academias só aumenta, algumas funcionando até 24 horas. De acordo com Marcelo Ferreira, cardiologista especializado em medicina esportiva e diretor-técnico do Ambulatório Médico de Especialidades de Mauá, o

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que as pessoas precisam entender é que a moderação é a chave para tudo. “Exercício extremo tem efeitos negativos. Claro que precisamos dele, pois o sedentarismo é um dos males do século, mas sem dúvida existe um limiar de intensidade e duração que é saudável e outro que é prejudicial”, explica. A intensidade e periodicidade da prática são aspectos individuais e devem ser considerados sempre. É preciso passar por uma avaliação médica para, por meio de indicadores, mapear este nível de limiar inicial para exercitar-se com segurança. A dupla dieta balanceada e atividade física é ideal para atingir o equilíbrio que o corpo precisa. “A união das duas dá o balanço necessário para o rendimento e proteção contra o desenvolvimento de muitas doenças, mas a genética tem um peso importante na saúde das pessoas, na medida em que atua no metabolismo”, esclarece. Exemplo disso são os sedentários, que não fazem nenhum tipo de atividade, mas têm uma taxa metabólica basal alta (gasto energético necessário para manter as funções vitais), mesmo se comparada com a de alguém fisicamente ativo.

Suplementos e anabolizantes

Para muitas pessoas, um das formas mais rápidas para conseguir o corpo ideal é por meio de suplementos alimentares e anabolizantes. Adriano Ribeiro, social media de 26 anos, poderia ser considerado um exemplo invejável. Esguio por natureza, sempre comeu o que quis e na quantidade desejada, sem se pre-

ocupar. O problema é que a magreza o incomodava, já que para ele as proporções de altura x peso eram “estranhas”. Matriculado na academia, percebeu que para chegar ao corpo que julgava ideal precisaria de uma ajuda extra. “Usei suplementos proteicos, BCAA (complexo de aminoácidos) e creatina (composto de aminoácidos), mas anabolizantes eu nunca usei, nem usaria”, conta. Em conjunto, os elementos usados por Ribeiro costumam ajudar no ganho de massa magra e no aumento de força para fazer exercícios. Embora os produtos sejam facilmente encontrados em academias, a decisão de buscar algum tipo de ajuda foi do próprio jovem. Ele pediu indicação para amigos que usam ou usavam suplementos e/ou anabolizantes e para um educador físico, que disse que seria importante o complemento para alcançar o aumento de peso saudável. “Minha rotina era acordar às 5h, tomar o shake mais o BCAA e a creatina 40 minutos antes do treino. Fazia o ciclo de exercício em uma hora e tomava uma segunda dose quarenta minutos após o término. Às 16h, repetia o shake.” Em cerca de quatro meses, Ribeiro aumentou a massa magra em seis quilos. “Fiquei extremamente satisfeito com o resultado”, diz, cuja meta é reduzir dez quilos. Um dos empecilhos para atingir este objetivo é não se ater tanto à rotina cronométrica do shake. “Eu tomava o complexo proteico diluído em água três vezes ao dia, mas, ao longo do período, o gosto do shake fica enjoativo”, argumenta. De acordo com Lilian Litz, nutricionista esportiva da Clínica Sphera, o uso de suplementos


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não é prejudicial, desde que sejam observados os aspectos da saúde de cada indivíduo e o mesmo não apresentar algum problema. O ideal é ter uma dieta adequada e, principalmente, ser orientado por um profissional capacitado. “A alimentação balanceada e os exercícios ajudam na manutenção da saúde, mas há outros fatores que devem ser levados em consideração, entre eles genética, idade, gênero, preferências e aversões”, explica a nutricionista, pois são aspectos que influenciam diretamente na estruturação de um plano alimentar. “Todos nós temos particularidades e estas devem ser sempre observadas e respeitadas. Só assim a dieta será balanceada e funcionará como esperado.” O cardiologista Marcelo Ferreira salienta que anabolizantes podem ser prescritos em doses seguras por médicos, em casos específicos. O grande problema é que muitos profissionais de academias acabam fornecendo livremente aos

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alunos, o que configura crime e doping, alerta ele. “Os usuários costumam ser homens, entre 15 e 25 anos, fisiculturistas não competitivos e não atletas, que usam por razões estéticas.” Usados para atingir um nível competitivo mais alto nos esportes e até ajudar na recuperação de lesões, muitos anabolizantes são tóxicos para o fígado e podem causar aumentos na pressão arterial ou no colesterol. Quem é geneticamente propenso à perda prematura de cabelo tem a queda acelerada. Por conta dos efeitos colaterais, muitos consideram ideal fazer frequentes testes sanguíneos e de pressão para ter certeza de que os níveis ainda estão normais. Além de tudo isso, a droga aumenta os riscos de um ataque cardíaco. Foi exatamente o que aconteceu com um grande amigo de C.R., que também fazia uso dos esteroides – e preferiu manter o anonimato. “Eu comprava com os próprios profissionais que trabalhavam na academia. Na época, foi fácil conseguir. Acredito que, infelizmente, se tornou uma cultura comum nas academias,

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o que não é bom. Meu amigo faleceu depois de uma parada cardíaca por conta do uso excessivo da droga. Depois disso, parei”, desabafa. C.R. frequenta a academia há sete anos e procura se exercitar ao menos três vezes por semana. O objetivo inicial era perder peso, mas depois que atingiu a meta, iniciou um trabalho de ganho de massa muscular e passou a utilizar suplementos na dieta. Ela explica que o acesso aos suplementos alimentares, em geral, são mais fáceis se comparados aos anabolizantes. Isso porque não é necessária receita médica para adquiri-los. “Já os esteroides são mais difíceis de comprar. Entretanto, alguns profissionais da saúde receitam para seus pacientes, apenas com uma finalidade estética. Além disso, existe a venda ilegal destas drogas na maioria das academias”, conta.

Corpo no limite

Além dos suplementos e esteroides, muitas pessoas exageram nos treinos e

Fotos: Camila Bevilacqua

Saúde

“Moderação é a chave de tudo”, afirma o cardiologista Marcelo Ferreira nas dietas milagrosas. A síndrome de overtraining é um problema que ocorre quando se faz mais exercício do que o corpo é capaz de se recuperar. Ao tentar melhorar seu desempenho ou alcançar mais rapidamente os resulta-


A nutricionista Lilian Litz diz que é preciso respeitar as particularidades de cada um dos desejados, é comum as pessoas exagerarem no volume da atividade física sem ter o descanso necessário. Isso, combinado a uma dieta incorreta, pode trazer prejuízos no longo prazo. O corpo reclama e podem surgir do-

res musculares, problemas nas articulações, queda no sistema imunológico e até mesmo afetar o psicológico. De acordo com o cardiologista Marcelo Ferreira, o excesso de exercício físico pode ser percebido por meio de alguns sintomas como tremores, movimentos involuntários e cansaço extremo. Neste caso, a intensidade e o número de sessões de treinos devem ser reduzidos e um médico especialista deve ser consultado para diagnosticar possíveis lesões. “É importante informar o instrutor ou treinador sobre o aparecimento de sintomas, para garantir que as atividades praticadas pelo indivíduo sejam saudáveis”, explica. Já as dietas milagrosas estão sempre ligadas à estética, vaidade, “saúde” e ao padrão exigido pela sociedade. Não importa a razão, mas é crescente a angústia pelo controle de calorias e pela perda de peso. Segundo o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças (Vigitel) do Ministério da Saúde, 48% dos brasileiros enfrentam o sobrepeso e 16% estão na faixa da obesidade.

A população nem sempre é informada como deveria e vai atrás de dietas e produtos que prometem sucesso em metas ambiciosas e o cardápio dos regimes mais populares muda a cada estação. “As pessoas devem ter uma postura realista: não existe medicamento ou dieta milagrosa para obesidade. Mesmo que em alguns casos a perda de peso seja rápida, com certeza ela não será mantida e ainda existe o risco de levar o paciente à deficiência de algum nutriente”, explica Ferreira. Diante de uma promessa milagrosa para perder peso, é preciso não cair em tentação. As dietas radicais podem apresentar efeitos quase que imediatos, mas podem causar danos sérios à saúde e resultar no famoso efeito sanfona. A nutricionista Lilian Litz comenta que hoje há um grande “bombardeio” tanto na mídia quanto em outros meios, que cultuam o corpo perfeito acima wde tudo. “Os indivíduos querem aquilo que pensam ser o necessário e o ideal, arriscando a própria saúde”, diz.

Dezembro Janeiro de 2014 2013 |

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Cidades

Sete cidades e muitos buracos Problemas na pavimentação do ABC são causados por falta de planejamento, muitas construções, sobrepeso dos veículos e intervenções de concessionárias de serviços Camila Bevilacqua - camila@leiaabc.com

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Fotos: Camila Bevilacqua

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ete municípios, cerca de 2,5 milhões de moradores e 825 mil quilômetros quadrados de extensão. A construção de novos empreendimentos, somada ao vai e vem frenético de veículos de passeio, ônibus e caminhões – além das chuvas recordes e das valas abertas pelas concessionárias de serviços – causam danos ao asfalto e atormentam a vida dos motoristas e moradores do ABC. A infraestrutura regional ainda é um problema e a quantidade de buracos impressiona. A situação é ainda pior nas áreas residenciais, afinal as principais vias estão em constante manutenção devido às famosas operações tapa-buracos. As consequências para os munícipes são diretas: estima-se que os defeitos no pavimento aumentem em 58% o consumo de combustível, em 38% os gastos com manutenção dos veículos e em 50% o índice de acidentes. Breno Cesar Reinaldo da Silva é morador da Vila Guarani, em Mauá, e acredita que faltam planejamento e estudo antes de se tentar solucionar os problemas. “Há regiões em que ape-


nas asfaltar não vai resolver, sendo necessária uma ação mais incisiva.” Para ele, como o foco está nas vias arteriais da cidade, há bairros que ficam “abandonados” por meses. “Há várias obras por conta da reestruturação do saneamento básico de Mauá, o que é necessidade crítica, mas isso evidencia uma falha, a meu ver”, diz. Aparentemente, não existem recursos humanos suficientes para terminar as obras, então cada trecho é feito até determinada etapa pela mesma equipe, que passa para o ponto seguinte, o que impacta no trânsito. Renata Viana S. Ribeiro, moradora do Parque Boa Esperança, também em Mauá, enxerga as operações tapa-buracos como soluções paliativas. “O ideal seria construir as ruas planejando o trânsito de forma que os carros ou quem quer que passe no local não prejudique a qualidade do asfalto, além de a prefeitura realizar manutenções preventivas. Remediar é fácil, mas em Mauá demora”, enfatiza. Para piorar, a rua onde Renata mora passou a ser itinerário de linhas de ônibus e, apesar da comodidade, a via não estava preparada para o peso dos coletivos, garante ela. “Os buracos começaram a surgir e a prefeitura demorou pelo menos seis meses para arrumá-los, depois de muita reclamação dos moradores. Mas o problema é recorrente.” A cunhada de Renata, Letícia Soares de Souza, moradora do bairro Itapark Novo, também em Mauá, explica que as avenidas principais (Itapark e Barão de Mauá) da cidade estão sempre esburacadas. Ela explica que os maiores problemas na pavimentação também estão relacionados à fornecedora de água e esgoto, Foz de Mauá/ Sama, e a um projeto da empresa para despoluir o rio Tamanduateí.

Defeitos no pavimento aumentam consumo de combustível, gastos com manutenção dos veículos e índice de acidentes

Luiz Theóphilo, secretário de obras de Mauá e Marcio Giudicio, de Diadema: operações tapa-buracos são constantes, dizem

Soluções ainda são paliativos

De acordo com Luiz Carlos Theóphilo, secretário de Obras de Mauá, estão sendo elaborados diversos projetos visando à captação de recursos junto aos governos estadual e federal para garantir as melhorias necessárias no município, que vive um novo momento com a chegada do Rodoanel e o consequente aumento no número de veículos. “Temos o atendimento paliativo do dia a dia com o programa permanente de tapa- buracos executado pela Secretaria de Mobilidade Urbana. Durante dez meses, até outubro de 2013, foram tapados 6.442 buracos de vias em 71 bairros”, conta. A outra frente de atuação é por meio da Secretaria de Obras, que apresenta os projetos para os investimentos necessários junto ao Ministério das Cidades, por exemplo. O secretário diz que Mauá será contemplada com recursos do PAC 2 nos eixos de pavimentação e mobilidade urbana, para o que serão encaminhados R$ 110 milhões para melhorias no viário (R$ 59 milhões para recapeamento) e para ações de escoamento de tráfego, como corredores exclusivos para ônibus e vias marginais às avenidas Barão de Mauá, no Eixo Barão, e Presidente Castelo Branco, no Jardim Zaíra. Além destas,

há previsão de outras obras, e todas serão executadas à medida que os recursos que estão previstos para o primeiro semestre de 2014 forem sendo liberados. Em Diadema, a operação tapa-buracos também é constante e deve continuar neste ano. Segundo Marcio Paschoal Giudicio, secretário municipal de Serviços e Obras, em 2013 mais de 7.200 buracos foram fechados e mais de 30 vias foram reconstruídas. “Entre as obras já programadas para o primeiro semestre estão a reconstituição asfáltica de trecho do Corredor ABD; drenagem e recapeamento da rua Mem de Sá e avenida Fundirem, no Jardim Casa Grande; e readequação viária e construção de rotatórias nas avenidas N.S. dos Navegantes com estrada do Alvarenga, no Eldorado, e na avenida Sete de Setembro com rua Bandeirantes, na Vila Conceição”, revela. Os investimentos totalizam mais de R$ 8 milhões, com verbas provenientes do próprio município, do governo federal e de emendas parlamentares. O secretário ainda explica que o maior problema da cidade é a intensidade de trânsito, que aumenta a cada dia. Depois que o Rodoanel começou a funcionar, muitos caminhões pesados passaram a circular pelas ruas de Diadema para não pagar o pedágio, o que causa problemas. “O plano é reforçar a manutenção Janeiro de 2014 |

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Cidades

Em São Bernardo, moradores contemplam o buraco surgido após o asfalto ter rachado e o pavimento cedido asfáltica, mas alguns pontos estão sendo discutidos via Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. O exemplo é PAC Mobilidade para o ABC, que, quando executado, não só irá melhorar o trânsito de Diadema, mas de toda a região”. Outra cidade que tem muitas vias esburacadas é Santo André. O município abriga boa parte da avenida do Estado, que também passa por São Paulo, São Caetano e Mauá, além de ser uma das principais ligações do ABC com a capital. A via é um acúmulo de problemas: carência de de iluminação, sujeira, sinalização da pista apagada e muitos buracos. A Prefeitura de Santo André, por meio da Secretaria de Obras e Serviços Públicos, esclarece que está atendendo os casos pontuais de recapeamento com a operação tapa- buracos e equipes

próprias de manutenção. Neste ano, um estudo de mobilidade urbana será finalizado e possibilitará traçar diretrizes sobre as adequações viárias necessárias, bem como o Projeto Rua Nova, de recapeamento das principais avenidas e ruas, que deve ser colocado em prática.

Moradores reclamam

Em São Bernardo do Campo, os novos empreendimentos e as valas das concessionárias de serviço são os grandes focos de problemas. Há dois anos começou a construção de um novo shopping na avenida Kennedy, no Jardim do Mar, com lateral para a rua João Azevedo Marques, inaugurado em outubro de 2013. Durante as obras das rampas de acesso, a rua serviu de estacionamen-

O que poderia ser feito para minimizar o problema 1. Criação e prática de um plano de gestão da manutenção viária 2. Uso de tecnologias mais modernas de pavimentação 3. Dotar os bairros de um fiscal do asfalto 4. Aumentar as equipes de manutenção 5. Limitar ônibus e caminhões em vias de tráfego intenso 6. Aumentar a fiscalização sobre as concessionárias de serviços 7. Ter maior agilidade para fazer reparos 8. Priorizar o programa de recapeamento 9. Controlar a expansão imobiliária em vias não projetadas para tráfego intenso 10. Criar alternativas para absorção da água da chuva

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to para muitos caminhões de concreto, betoneiras e caçambas. Consequência: há cerca de seis meses o asfalto começou a rachar e o pavimento cedeu, estragando não só o asfalto da rua, mas também as calçadas, sarjetas e bocas de lobo. As entradas das residências foram danificadas e os carros têm que desviar dos buracos para passar. Pedro Haber Filho, de 64 anos, mora nesta rua há 30 anos e nunca tinha passado por isso. “Prometeram que consertariam as calçadas e buracos, mas não cumpriram. Aí fizemos um abaixo-assinado explicando o problema e conseguimos com que todos os moradores, até os da avenida Kennedy, assinassem”, diz. O documento foi entregue para a construtora e administração do shopping no dia 8 de novembro e, desde então, não há resposta. O calçamento das casas do número 67 ao 109 foi danificado, além da esquina com a rua Luiz Nelo Rossi. Para minimizar o problema, Pedro Haber teve a iniciativa de encher o buraco em frente a sua casa de concreto. “Além de impedir a entrada e saída da garagem eu temia que acontecessem acidentes.” A residência mais prejudicada é a de Namica Yamawaki, 68 anos. A dona de casa tinha acabado de reformar a calçada, fazendo o acabamento com pedra decorativa Miracema, mas acabou com um prejuízo de mais de R$ 1.000. “Como o buraco é fundo, ‘bato’ o carro todos os dias. Além disso, meu marido faz quimioterapia e temos muita dificuldade para entrar e sair da nossa própria casa.” Os moradores dizem que aguentaram o período de obras, pois sabiam que seria bom para a cidade, pois geraria empregos, mas o empreendimento já foi inaugurado e até o fechamento desta edição não havia previsão de ajustes no pavimento. A Prefeitura de São Bernardo promoveu uma reunião com eles no dia 11 de dezembro e convocou a construtora e a administração do shopping para discutir uma solução para o problema. Apenas os moradores compareceram e o governo protocolou a solicitação de ajustes e pediu paciência, porém nenhuma data foi marcada para o início dos reparos.


Tech

Como a tecnologia está mudando sua casa Luiz Paulo Bellini Junior bellini@awdigital.com.br

A

coluna de novembro de 2013, celular notificando que seu filho saiu da Reviravolta para o futuro, deu escola e chegou em casa. 2) Por meio de bastante repercussão. Agradeço um aplicativo, você saberá qual é a temaos e-mails recebidos, com dúperatura da sua casa, se alguma lâmpada vidas, elogios e até divergências. Dado ficou acesa, se algum alimento na geladeique os leitores gostaram do assunto, nesta ra está com o prazo de validade chegando edição vou discorrer sobre as inovações ao fim, entre muitas outras informações. tecnológicas que existem ou estão chegan(3) Usando o tablet, você poderá ligar o do para mudar a nossa casa. ar-condicionado, ou o chuveiro, para já A tecnologia de automação residendeixar o ambiente preparado quando você cial já existe há décadas em habitações de chegar do trabalho. Muito disso já existe. luxo, mas este é um mercado que tem deE quanto ao que está para chegar? Pesmorado para decolar. A culpa é da complequisadores estão desenvolvendo uma pelíxidade dos sistemas, da dificuldade de uso cula fina que capta energia solar para ser e dos preços elevados, embora isso tenha aplicada em janelas – com isso, você terá ficado cada vez mais no passado. energia sem ter que se preocupar em pagar A evolução e popularização dos smara conta no final do mês. Se seu filho dertphones e tablets possibilitou à automarubar o pote de iogurte no chão, ou largar ção residencial chegar em nossas mãos. os brinquedos pela casa, quem vai limpar? Seu uso está se tornando mais fácil e Não se preocupe, você terá um robô para acessível de forma nunca vista antes. O tarefas como limpeza e organização. Os mercado global de tecnologia para resijaponeses têm feito grandes progressos na dências deverá movimentar US$ 14 birobótica doméstica, com tecnologias que lhões até 2018, de acordo com a ABI Rereconhecem a fala e respondem. search. O maior volume disto deverá ser Alguns produtos são superinteressannos Estados Unidos. tes para você dar de presente para sua Segundo Mike Harris, diretor da Zocasa, como o iRobot Scooba 390, um robô noff, empresa americana que desenvolve para limpeza de chão, cujo fabricante softwares de conectividade para interapromete uma higienização de 98%. Pretividade de produtos, nos próximos anos ço: US$ 499,99. O Spotter Multipurpose qualquer pessoa poderá ir até uma grande Sensor é um dispositivo Wi-Fi de “tudorede varejista e comprar um equipamen-em-um”: ele monitora lâmpadas, tempeto que faz todos os aparelhos trabalharem ratura, som, umidade e movimento, como de forma integrada. O melhor de tudo, também envia notificações sobre uma de acordo com Harris, é que será por um série de atividades. Preço: US$ 49,99. valor em torno de R$ Similar ao Spotter, 300,00, mas com persexiste o SmartThings, pectiva de redução de com um diferencial: preço conforme a evoconecta sua casa nas lução tecnológica. Os avanços em tecnologia redes sociais. PreMas como isso ço: a partir de US$ doméstica incluem robôs funcionará na prática? 199,00. Vamos entender por Em breve, quando que limpam e acesso às meio dos seguintes menos esperar, você tarefas de forma remota exemplos: 1) Você reterá alguns destes proceberá uma mensagem dutos ao seu lado, ou de texto (SMS) no seu na palma da mão. Janeiro de 2014 |

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Fotos: Camila Bevilacqua

Cultura

O jazz pede

passagem Aumento do interesse por shows demonstra a inclinação da região para a música de qualidade

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Três lugares para ouvir jazz no ABC

Bar da Japa - Avenida Industrial, 3413, Bairro Campestre, Santo André - Telefone: (11) 44214391 Asgard Pub - Rua das Bandeiras, 421, Bairro Jardim, Santo André - Telefone: (11) 364438-7743 | Janeiro de 2014

Shutterstock

Tupinikin Bar - Rua das Monções, 585 – Jardim, Santo André - Telefone: (11) 44369231

Ana Teresa Cury - anateresa@leiaabc.com

anifestação artístico-musical originária dos Estados Unidos, o jazz tem seu berço na cultura popular e na criatividade das comunidades negras. Surgido por volta do início do século XX na região de Nova Orleans, o gênero musical parece ter encontrado no ABC um cenário fértil para o encontro de músicos e apreciadores. Em outubro de 2013, o jazz ganhou espaço no ABC por meio do projeto Divas do Jazz. Promovido pelo Sesc Santo André, o público teve a chance de assistir, durante as quatro quintas-feiras do mês, a uma programação que homenageava as clássicas intérpretes do gênero. Sempre com entrada franca, cantoras como Alessandra Grani, Teresa Dalme e Bibba Chuqui e o grupo Martina Marana Quinteto mergulharam no cancioneiro de mitos femininos do jazz como Sarah Vaughan, Etta James e Billie Holiday. O Sesc foi também o palco escolhido pela aclamada Erykah Badu, em dezembro passado. A americana foi a estrela maior do evento Batuques, que contou com filas quilométricas na bilheteria e ingressos esgotados em meros 15 minutos. Em sua apresentação, a cantora e compositora deixou claro o peso de sua formação jazzística. Apesar do avanço, os artistas da região ainda se queixam da falta de oportunidade para apresentarem seus trabalhos ao grande público, já que grande parte dos shows de maior alcance é promovida pelas prefeituras, em eventos esporádicos. “São raros os espaços privados destinados especificamente a este estilo. Existem algumas casas no ABC que dedicam uma de suas noites ao jazz, e vamos nos alternando entre elas”, conta Luiz Galvão, guitarrista do Otis Trio, referência do gênero musical na região. Aos poucos, contudo, isso começa a mudar. Alguns bares resolveram abraçar a causa e não mostram arrependimento quanto ao resultado. Segundo Ricardo Lopes, proprietário do Bar Tupinikin, existem inúmeros artistas de qualidade, mas o ABC se mostra carente de espaços para recebê-los. “É por isso que fazemos questão de abrir nossas portas para os apreciadores do jazz. Percebemos, inclusive, que se trata de um público diferenciado, que realmente aprecia música de qualidade e tem poder aquisitivo para consumir.” Outra casa que incluiu o jazz em sua programação foi o Bar da Japa, com seu projeto Fuego Jazz, em que várias linguagens artísticas são agregadas aos shows, como


projeções, sombras e sobreposições de imagens. Por lá, rola solto a free improvisation, também denominada música criativa, ou composição instantânea, em que a música é criada e executada como experimentação, desprendida de gêneros preestabelecidos. Também em Santo André, há um ano, o Asgard Pub abria espaço para que os músicos do gênero pudessem mostrar suas habilidades em improvisações no palco do bar. Era o início das Noites de Jazz. Clássicos do estilo, compostos por nomes como Dave Brubeck e Charlie Parker, invadiram a noite do ABC em versões matadoras. No repertório, além dos clássicos, acontecem as famosas improvisações, tão próprias do jazz. Assim, se você presenciar a fusão entre as geniais sonoridades de Miles Davis e John Coltrane, por exemplo, não se assuste. Você estará diante da fascinante espontaneidade do jazz.

De Santo André para a Europa

Embora ainda não tenham um disco produzido no Brasil, os músicos de Santo André fazem parte do seleto time de artistas divulgados pela londrina Far Out Recordings. O EP do Otis Trio tem angariado boas vendas junto ao exigente mercado europeu. O grupo é composto pelo guitarrista Luiz Galvão, João Ciriaco, no baixo acústico, e o baterista Flávio Lazzari. Juntos desde 2007, os três mergulharam nas múltiplas vertentes do jazz, de onde pinçaram os ingredientes para criar seu repertório totalmente autoral e instrumental. É Ciriaco quem define a performance do grupo. “Não tocamos standards e as composições são todas nossas. Fazemos uma música instantânea e completamente intuitiva.” Contando com divulgação nas redes sociais e gravações de shows transmitidos via internet, a trajetória dos músicos

Sucesso na Europa, Otis Trio é referência do gênero musical na região do ABC ilustra bem o cenário musical contemporâneo, onde os próprios artistas cavam seus espaços e conquistam novos públicos. Além disso, cada músico do trio mantém projetos paralelos em outras bandas, o que não apenas consolida a bagagem individual, como também traz novas influências ao trabalho que realizam em conjunto. Em suas apresentações, o Otis Trio sempre conta com parceiros criativos. “Já chegamos a tocar para sete pessoas. Sempre tem algum convidado”, afirma Galvão. Assim, o show é tomado também por improvisos que nascem da confluência entre os músicos. “A nossa mola propulsora é a improvisação, o que torna cada apresentação única”, arremata o guitarrista. Tudo muito visceral e autêntico, como reza a cartilha do jazz.

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Cultura

Dicas Livros

Fotos: Divulgação

Romantismo de botequim A mente por trás de Antônio é Pedro Gabriel. Em outubro de 2012, ele inaugurou na internet a página Eu me chamo Antônio para compartilhar o que rabiscava com caneta hidrográfica em guardanapos nas noites em que batia ponto no Café Lamas, um dos bares mais tradicionais do Rio de Janeiro. Em seu primeiro livro, ele apresenta histórias vividas por seu alter ego, desde a cuidadosa aproximação da pessoa desejada, o encantamento e a paixão, até o sofrimento provocado pela ausência e a dor da perda. Leia: Eu me chamo Antônio, Pedro Gabriel Preço médio: R$ 29,90

Suspense à japonesa Tóquio, 1984. Aomame, uma mulher que esconde sua profissão de assassina, é enviada para matar um homem numa missão que mudará drasticamente sua vida. Em paralelo, Tengo, professor de matemática e aspirante a escritor, se envolve em um misterioso projeto de reescrever o romance Crisálida de ar, composto por uma menina de 17 anos. De forma alternada, as duas narrativas convergem, e aos poucos o leitor descobre o verdadeiro elo entre elas.

Leia: Trilogia 1Q84, Haruki Murakami Preço médio: R$120,00 (três volumes)

DVDs

Delicioso e intrigante jogo Um garoto de 16 anos consegue entrar na casa de um de seus colegas da aula de literatura e resolve escrever sobre o fato no seu trabalho de francês. Impressionado com o dom natural do 38

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aluno e o progresso do seu trabalho, seu professor redescobre o gosto por lecionar. Entretanto, a invasão do intruso desencadeia uma série de eventos incontroláveis. Assista: Dentro de casa, François Ozon Preço médio: R$29,90

Romance lapidado pela vida Uma história emocionante sobre duas almas que encontram força uma com a outra depois de uma tragédia que as une. Marion Cotillard dá um show de interpretação no papel de Stephanie, uma instrutora de baleias orca cuja vida se transforma depois de uma grande tragédia durante um show. Diante de circunstâncias insuportáveis, ela procura Ali, um boxeador de rua que se encontra lutando com situações que mudam sua vida. Conforme as histórias se cruzam, eles navegam um relacionamento no qual o amor e a coragem aparecem sob muitas formas. Assista: Ferrugem e osso, Jacques Audiard Preço médio: R$39,90

CD

Garota prodígio Red é o aguardado novo álbum da cantora Taylor Swift. Com apenas 22 anos, Taylor já vendeu 22 milhões de álbuns, ganhou seis Grammys e é a artista mais jovem da história a receber a maior honra da indústria da música, o Grammy de “Álbum do Ano” (por Fearless, lançado em 2008). Seu álbum de 2010, Speak Now, foi incluído na

prestigiosa lista dos “50 Melhores Álbuns de Todos os Tempos” (artistas femininas) da Rolling Stone e a Time a nomeou uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Em 2011, foi nomeada Mulher do Ano pela Billboard. O novo álbum possui 16 novas faixas incluindo o hit #1 em mais de 30 países ao redor do mundo. Ouça: Red, Taylor Swift Preço médio: R$21,90 Música de praia Bebel Gilberto escolheu a praia do Arpoador, no Rio, para gravar seu primeiro DVD. Com direção e cenário de Gringo Cardia e produção musical de Kassim e Liminha, o projeto é uma celebração dos trabalhos anteriores da artista que se firmou como uma das maiores representantes do Brasil no cenário musical internacional. O show acompanha o trajeto do sol e termina quando ele se põe, com a tradicional salva de palmas do Arpoador. “Vou cantar uma música que nasceu aqui nesse lugar”, conta Bebel antes de entoar Preciso Dizer que Te Amo, parceria com Cazuza e Dé Palmeira, que ganhou coro da plateia..

Ouça e assista (Digipack – CD + DVD): In Rio, Bebel Gilberto Preço médio: R$29,00

Exposição

Imagens de viagem A exposição reúne imagens do fotógrafo Claudio Edinger, que, em viagens por diversas regiões do país, registrou paisagens e personagens brasileiros. Com curadoria de Leone Kas, as fotos apresentam paradoxos da identidade brasileira. Vai lá: Até 7 de março na Cecape Dr. Zilda Arns – Rua tapajós, 300, Bairro Barcelona, Tel.: (11) 42244726, das 8h às 17h – Grátis.


Bastidores

A cultura brasileira está morrendo? Ana Teresa Cury Especialista em cultura anatcury@gmail.com

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ecentemente reli o polêmico artigo de Mino Carta acerca da falência cultural de nosso país. O texto, encabeçado pelo título “A imbecilização do Brasil”, francamente autoexplicativo, lança luz a uma questão que muita gente prefere colocar debaixo do tapete. Nele, o editor e jornalista diagnostica o estado terminal da cultura pátria dizendo que “os derradeiros, notáveis intérpretes da cultura brasileira já passaram dos 60 anos, quando não dos 70” e que perdura, há tempos, “o esforço concentrado dos senhores da casa-grande no sentido de manter a maioria no limbo”. Sem papas na língua, Mino Carta atribui à grande mídia parte da responsabilidade pelo problema, apontando nominalmente o Big Brother Brasil, as lutas do MMA e do UFC, os programas de auditório e as novelas que falseariam a sociedade que supostamente se propõem a representar. As reações ao texto foram inflamadas, incluindo acusações de elitismo, falta de interação com o novo universo cultural brasileiro, rabugice, entre outros adjetivos pouco lisonjeiros. Muitos argumentos contrários alavancam inclusive a ideia de que haveria hoje uma renascença cultural na periferia e que ela estaria mantendo o tradicional alto nível da cultura pátria. Refletindo a respeito, penso que é inegável a constatação de que alguns setores historicamente oprimidos vêm cada vez mais produzindo cultura, muitas vezes de bom e até mesmo de ótimo nível, seja por meio da música, do grafite, da dança, das artes circenses e do audiovisual. Contudo, para além desse endeusamento precipitado, ressinto-me da ausência de uma visão que leve em conta os indicativos socioeconômicos que determinam a produção da cultura em nosso país. Afinal, quem produz e quem consome cultura no Brasil? Sob que condições, a que preços, quais os produtos oferecidos? Parece evidente que, para cada item de qualidade que a TV, por exemplo, digna-se a lançar, se desova uma edição inteira do Big Brother Brasil e afins. Uma verdadeira avalanche de ignorância e exibicionismo oco a assolar a programação televisiva brasileira, o

grande prato onde a esmagadora maior parte come todos os dias. Ao voltarmos os olhos para as artes cênicas e cinematográficas, o cenário não muda muito. Durante um longo período de tempo, o cinema brasileiro foi uma espécie de oásis de reflexão e de experimentalismo em um universo cultural notadamente mercadológico. Hoje, o espaço para filmes inovadores está dramaticamente reduzido, o que faz com que muitos cineastas trabalhem anos em um filme que, se lançado, ficará uma ou duas semanas em cartaz, para então desaparecer, sem deixar rastros ou expectadores. Do mesmo modo, o teatro brasileiro, que desde a montagem de Vestido de Noiva, de 1942, dirigida por Ziembinski, apresentou ciclos de inovação e vanguardismo, com forte entonação política a partir da virada dos anos 1950, transformou-se numa filial da televisão. Os palcos são praticamente monopolizados por peças em que o destaque é a fama, algumas vezes respaldada pelo talento. Criatividade e transgressão encontram-se hoje relegadas a guetos, sem visibilidade e sem público. O modo persuasivo com que a mídia corporativa ajuda a modelar um mercado cultural pasteurizado, destituído de poder transformador e ideologicamente inepto parece-me corroborar com a opinião de Mino Carta sobre o papel imbecilizante da mídia. O que causa espanto, entretanto, é a paradoxal constatação de que tal fato ficou explícito após uma década de governos ditos de centro-esquerda, evidenciando a manutenção de um aspecto retrógrado justamente quando o que se espera são avanços. Na última década, o país experimentou inegável progresso econômico e social e a história ensina que, quando isso ocorre, o aprimoramento cultural costuma vir a reboque. Por outro lado, é sabido que o novo consumidor não adquire automaticamente a consciência de cidadania. Despojada de avanços na educação, especialmente no que diz respeito ao ensino público, a sociedade brasileira permanecerá apartada do capital cultural a que tem direito, seja como produtora, seja como consumidora. Janeiro de 2014 |

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Quanto mais quente melhor Síntese de sabores, cores e sensações, os gelatos e sorvetes fazem a alegria dos paladares mais exigentes do ABC

Ana Teresa Cury – anateresacury@leiaabc.com

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rigor, o verão começou oficialmente em 21 de dezembro, mas nem o calor nem aquela vontade súbita de tomar um sorvete tem momento exato para surgir. Feitos cada vez mais de modo artesanal e criativo, os sorvetes, gelatos e sorbettos (veja as diferenças na página ____) impressionam cada vez mais pelas cores e sabores inusitados. Seja na praia, após as refeições ou em uma pausa qualquer da correria cotidiana, não dá para negar que os queridinhos da estação mais quente do ano são sinônimos de felicidade doce e gelada. No ABC, as casas especializadas investem na qualidade dos produtos oferecidos para fidelizar a clientela. Na Gelateria Parmalat, a especialidade são os gelatos cremosos, bem ao estilo dos legítimos italianos, e justificam a fama da marca. No balcão diariamente ficam expostos 24 sabores e o cardápio inclui novidades como figo com conhaque e iogurte com papaia. O espaço conta ainda com uma linha de sorvetes feita à base de água e sem nenhuma gordura, ideal para quem não quer perder a boa forma.

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“Para os italianos, o gelato está presente no dia a dia, independentemente da estação do ano. Em nossa loja, quase não sentimos o peso da sazonalidade. A cremosidade e a qualidade da matéria-prima com que são preparados nossos produtos, que podem ser acompanhados inclusive por um petit gateau quentinho ou uma calda mais encorpada, permitem degustá-los a qualquer momento”, explica Pedro Berti Zucca, proprietário de uma bem-sucedida franquia da Gelateria Parmalat, localizada no ParkShopping São Caetano. No entanto, a popularização do gelato não tem ofuscado o bom e velho sorvete. Em São Bernardo, a Sorveteria Granello é uma prova de que o

Fotos: Camila Bevilacqua

Gastronomia

consumidor não perdeu o gosto por sorvetes tradicionais. A casa oferece 50 sabores de sorvete, revezados na vitrine, que incluem dos clássicos que agradam a adultos e crianças como novidades como os sorvetes de iogurte com limão siciliano, amora ou maracujá. Para incrementar e deixar o doce ainda mais irresistível, há coberturas de morango, chocolate e caramelo. E, para derrubar qualquer desculpa, a Granello ainda serve sobremesas geladas como a “ula-ula”, montada em

Você conhece as diferenças? E na hora de provar, você sabe a diferença entre sorvete, gelato e sorbetto? Na verdade, são muitos os detalhes que distinguem as iguarias: – O verdadeiro gelato não contém aromatizantes, conservantes ou corantes artificiais. O sorvete, sim. – O gelato apresenta em média 50% a 60% menos gordura que o sorvete. Além de ser mais saudável, isso permite que você sinta melhor o verdadeiro sabor dos ingredientes. Já os sorbettos (que são os sabores à base de água) não contêm gordura. – A quantidade de açúcar utilizada no gelato também é inferior em comparação ao sorvete, já que é rigorosamente balanceado com a água, para que ambos atuem como agentes anticongelantes. – O sorvete tem muito mais ar que o gelato. – O gelato é mantido e servido em temperaturas mais altas que o sorvete e é isto que cria a diferença de textura e cremosidade. Por esta característica, o gelato também pode ser apreciado em dias frios, geralmente acompanhado de alguma calda quente.


um abacaxi com três bolas de sorvete da fruta, mais cereja picada, chantilly, cobertura de chocolate e biscoito. Segundo Juliano Grana Tonon, representante da segunda geração de proprietários, no início de dezembro ocorre o “boom” no fluxo de clientes. “As vendas sobem de 40% a 50% e temos que ficar atentos à reposição de cada sabor para que nenhuma cuba fique vazia, afinal temos clientes que nos prestigiam desde a inauguração, há quase 30 anos. Muitos cresceram junto com a empresa”, declara orgulhoso. Apesar de apreciados pela maior parte dos consumidores, os sorvetes e gelatos ainda sofrem com os efeitos da sazonalidade: a população ainda prefere saborear estas delícias em estações mais quentes e resistem ao consumo no frio. Tanto a indústria como os pequenos e grandes comerciantes têm se esforçado para mudar o hábito e popularizar o consumo dessas gostosuras também em épocas mais frias, como acontece em outros países. Também há uma estratégia para combater o estigma de “alimento engordativo”, divulgando os benefícios do sorvete, composto principalmente por leite. Em doses moderadas, gelatos e sorvetes

podem e devem integrar a dieta do brasileiro. “As opções com menor teor de gorduras e açúcares, acrescidas de leite e/ou frutas, podem ser muito saudáveis. O valor nutricional e as características de alta digestibilidade fazem desse produto um alimento ideal para todas as idades, associando nutrição e prazer”, atesta a nutricionista Gabriela Lopes Amaral. Quando falamos em sorvete, os neozelandeses ainda estão no topo do ranking entre os maiores consumidores do mundo. Para efeito de comparação, enquanto lá o consumo anual de sorvete é de 26,3 kg por habitante ao ano, aqui no Brasil o consumo fica ainda na faixa de 4,7 kg, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Sorvete (Abis). O número ainda é baixo para uma terra tão tropical como o Brasil, onde, ao contrário da Nova Zelândia, com a temperatura média anual em 6ºC e 7ºC, predominam o sol e o calor na maior parte do ano e em quase todo o território nacional. Mesmo na região sul, onde o clima é mais ameno, muitos pontos de venda de sorvetes não fecham no inverno e oferecem produtos à base de chocolate e coberturas quentes para driblar a sazonalidade. Assim, o consumo de sorvetes no país ainda tem muito para crescer.

Pedro Zucca, da Gelateria Parmalat do ParkShopping São Caetano n Serviço Granello - Avenida Caminho do Mar, 3167 - Rudge Ramos, SBC Telefones: 4362-4836, 4367-4045/4597 Horário: das 11h às 22h (domingo, a partir das 11h30) Gelateria Parmalat - ParkShopping São Caetano – Piso São Paulo Telefone: 4233-8300 e 3427-9648

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Harmonizar

Verão refrescante Celso Pavani celsopavani@ig.com.br

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ebidas leves como cerveja Pilsen e a Mesmo que seja aquele consumidor fiel dos democrática sangria são opções para tintos, aproveite o calor para provar vinhos harmonizar e tornar seu verão mais brancos – neste caso, os mais ácidos como os fresco Sauvignon Blanc (há excelentes rótulos chileSol, mar, piscina e calor são as palavras nos desta cepa), que provocam a mesma senmais pronunciadas nesta estação, que é sinô- sação de frescor. nimo de férias, alegria, diversão e descanso. Começo de ano geralmente é o momento Também é a estação de pratos leves como sa- para aproveitar aqueles espumantes que não ladas, peixes e frutos do mar, além de refei- foram abertos nas festas de fim de ano. Outra ções baseadas nas frutas. O dilema então é: o dica são os vinhos rosés, sendo que os mais que beber além da tradicional água de coco? famosos são da região da Provence (FranA água de coco é realmente bem-vinda na es- ça). A dica é o Château de L’Escarelle, vinho tação. Vai muito bem com muitos pratos leves e que exala aromas potentes e florais, redondo com final de boca adocicado e para o tradicional e franco e que acompanha agradavelmente a happy hour das tardes de final de expediente, que cozinha meridional, à base de peixe. Embora fica ainda mais frequente por conta da sensação os vinhos rosés desta região tenham a elegânde dias mais longos com o horário de verão. cia inata dos grandes vinhos, podem ser viAlém dela, no entanto, há diversas outras gorosos quando harmonizados com os sabores opções. Para degustar em boa companhia pen- surpreendentes da gastronomia brasileira. se em bebidas leves, como as cervejas Pilsen, Caso queira surpreender, experimente sergeralmente mais apropriadas por possuírem vir uma sangria, bebida ou coquetel feito com “drinkabilit” mais comum ao gosto dos bra- base numa mistura de vinho tinto ou branco, sileiros, sendo uma bebida típica de países de sumo, pedaços de frutas e açúcar. Também é clima tropical. possível fazê-la com vários tipos de bebida Há também as cervejas drifit, igualmente alcoólica como cachaça. É costume misturar leves e que produzem, portambém outras bebidas na tanto, uma sensação mais sangria. Só não esqueça refrescante. Sugiro tomar de que deve bebê-la bem com uma rodela de limão, fresca e com cubos de que potencializa o frescor. gelo. Em Portugal, tradiEm casa ou em um lugar Ingredientes cionalmente adicionam-se descolado, reúna as pessoà sangria especiarias (pau 2 maçãs argentinas picadas, 1 abacaxi as que você gosta e escolha pérola picado sem o miolo, 1 cacho grande de canela) e ervas aromáseu rótulo predileto ou en- de uva Itália sem sementes, açúcar refinado a ticas frescas (hortelã). Na gosto, 1/2 copo de suco natural de laranja ,1 tão aproveite para experi- garrafa de vinho tinto seco, 5 cravos-da-índia, verdade, existem várias mentar as diversas opções 2 paus de canela ,1 lata de refrigerante de livariedades de sangria. no mercado. Caso queira mão,1/4 de xícara (chá) de licor de laranja, gelo Algumas versões podem extrapolar e pedir aque- picado a gosto. incluir ainda o licor Beila porção de croquetes, rão ou Macieira. Outras Modo de preparo prefira cervejas no estilo são feitas com vinho es1. Coloque as maçãs, o abacaxi, as uvas e o Weiss Beer. Lembre-se das açúcar numa jarra grande de vidro ou em um pumante e adicionam-se regras de cervejas carbo- recipiente com concha. frutas vermelhas como 2. Adicione o suco de laranja, o vinho, os natadas para acompanhar morango, mirtilo e framcravos, os paus de canela, o refrigerante e o pratos mais gordurosos. boesa. É uma ótima opção licor. Por último, acrescente o gelo picado. Quanto aos vinhos, de bebida para ser servida ao contrário do inverno, Dica: decore a jarra com cascas de laranja, de na beira da piscina. o verão pede vinhos mais limão ou com folhas de hortelã. Não esqueça o protetor leves e menos alcóolicos. solar e um brinde à vida!

Receita de sangria


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