Devarim 42 (ano 15, agosto de 2020)

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cócegas no raciocínio

ANIX1AÇÃO

Paulo Geiger

O

s motivos pelos quais uma anexação unilateral de parte da Cisjordânia agora, sem um acordo definitivo, é totalmente desnecessária, prejudicial a Israel hoje, e contra os interesses, no futuro, de um Estado de Israel judaico, sionista e democrático .

1. Nix: Termo usado para a recusa de se aceitar ou permitir algo; exprime veto, rejeição (traduzido e adaptado de www.merriam-webster.com/dictionary). Nix é também uma Deusa da Morte, a primeira rainha do mundo das Trevas. Conhecia o segredo da imortalidade dos Deuses podendo tirá-la e transformar um Deus em mortal (deuseseherois.webnode.com.br). 2 O rabino Eric H. Yoffie foi presidente, de 1996 a 2012, da Union for Reform Judaism (URJ), o braço congregacional do movimento do judaísmo reformista nos E.U.A., que representa 1,5 milhão de judeus em 900 sinagogas nos Estados Unidos e no Canadá.

Mbolina/iStockphoto

A síntese declaratória acima, em sua afirmatividade, estabelece como premissa uma posição inequívoca contrária à anexação. Para não dizer isso eu mesmo, cito o rabino Eric Yoffie2, para quem ela não é apenas um erro, é uma total estupidez (Haaretz, 6 de julho de 2020): Até o momento em que este artigo está sendo escrito, não se sabe exatamente se e quando e em que condições haverá, ou não, anexação de territórios da Cisjordânia. Não se sabe quais serão as prioridades de um Israel ainda mais ameaçado pela Covid-19, como agirão seus líderes, qual a força da reação a esta intenção na sociedade israelense. A bem da verdade, é bom lembrar que a ideia da anexação do vale do Jordão não é nova, foi apresentada logo após a ocupação da Cisjordânia (então anexada à Jordânia), em 1967, por Ygal Allon, do Achdut Avodá, partido de centro-esquerda. Escusado dizer que mais de 50 anos depois todos os fatores mudaram, mas não os que impediram que a proposta fosse então adotada... Os apologistas da anexação unilateral, parcial ou total da Cisjordânia (aka Iehu-

dá ve Shomron), ou os que simplesmente a aceitam, estão convictos de que ela pertence por definição bíblica (ou divina) ao povo de Israel, ou então não veem outra alternativa possível para a segurança de Israel, tendo em vista fatores políticos, estratégicos e geográficos. Esses fatores são, entre outros, desconfiança [aliás, justificada] quanto às intenções dos palestinos a partir de um estado independente com fronteiras a poucos quilômetros de Tel Aviv e do aeroporto Ben Gurion, o risco de uma futura dominação pelo Hamas, a possível aliança com o Hezbollah (o que traria indiretamente o Irã para o coração demográfico de Israel), a existência, a partir do vale do Jordão e do norte do mar Morto, de uma linha territorial direta até o Irã via Jordânia e Iraque etc. etc. etc. – São argumentos sérios que não devem ser desconsiderados, mas as consequências da solução que advogam podem ser ainda mais perigosas e danosas à existência de um Israel judaico, sionista e democrático. Na avaliação desse perigo e desses danos, vamos minimizar (mas não desconsiderar de todo) inicialmente, por um momento, as possíveis reações externas. Relativizemos momentaneamente, como exercício, todas as consequências imediatas, por parte de terceiros, a uma possível anexa-

ção [vamos citar essas consequências mais adiante], inclusive com base no duvidoso wishful thinking de que com o tempo tudo isso talvez se assente como a poeira da história, restando o fato consumado. Então, pensando agora apenas em nós mesmos, será isso (anexação unilateral, sem qualquer acordo, mesmo que de ‘apenas’ uma parte da Cisjordânia) o que devemos querer como ‘nossa’ solução para o conflito, ao menos como uma etapa da solução, na configuração, mesmo que parcial (por enquanto) do status futuro do estado nacional do povo judeu? A anexação é necessária? Conveniente? Desejável? Ela resolve, atenua o conflito, nos aproxima de uma solução verdadeira? Aumenta nossa segurança? Na introdução, antecipamos nossas respostas: a anexação é desnecessária, prejudicial a Israel hoje, contrária aos interesses, no futuro, de um Israel judaico, sionista e democrático. Resta demonstrar por quê. A anexação é desnecessária O único possível argumento de que a anexação seja necessária agora, como medida unilateral, ‘goela abaixo’ dos palestinos, seria o de que é urgente garantir a segurança de Israel ao longo da fronteira oriental da ‘Palestina’, tendo em vista a crescente ten-

Revista da Associação Religiosa Israelita-A R I

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