Posto esperança degustação

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Posto

Esperanรงa



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Esperança

Jairo Avellar Pelo Espírito Marcelo Rios


POSTO ESPERANÇA Copyright © 2017 by Instituto Editorial D’ Esperance 1ª Edição | dezembro 2017 Coordenação e preparação de originais Maria Luiza Torres Teixeira Capa, projeto gráfico e editoração Instituto Editorial D’ Esperance Revisão Instituto Editorial D’ Esperance Instituto D’ Esperance Rua Iporanga, 573 - Novo Progresso Contagem | MG | Brasil Cep: 32.110-060 Tel: (31) 3357-6550 vendas@institutodesperance.com.br www.institutodesperance.com.br

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO PÚBLICA Marcelo Rios (Espírito) Posto Esperança / Marcelo Rios ; psicografado por Jairo Avellar. -- Contagem : Instituto Editorial D’ Esperance, 2017 392 p. ISBN 978-85-67800-24-0 1. Espiritismo 2. Psicografia 3. Romance espírita I. Avellar, Jairo. II. Título. CDD 133.9

É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio, salvo com autorização da Editora, nos termos da Lei 9.610/1998.


Comece pelo comeรงo, estude Kardec!



Índice

Prefácio Um cadinho de esperança .................................................................................. Introdução Sejam bem-vindos ................................................................................................ Breves considerações ............................................................................................ Capítulo 1 O Trabalho e o tempo perdido ........................................................................ Capítulo 2 Os anjos da morte ................................................................................................ Capítulo 3 O resgate ................................................................................................................ Capítulo 4 Posto Esperança ................................................................................................... Capítulo 5 As narrativas de Andrócolo ............................................................................... Capítulo 6 As áreas de socorros emergenciais ................................................................... Capítulo 7 O Mosteiro ............................................................................................................. Capítulo 8 As regiões umbralinas .........................................................................................


Capítulo 09 A internação de Deoclécio ................................................................................. Capítulo 10 Os recém-desencarnados ................................................................................... Capítulo 11 Os internos do Posto Esperança ...................................................................... Capítulo 12 Visita aos lares terrenos ..................................................................................... Capítulo 13 Visita ao Instituto Médico Legal ..................................................................... Capítulo 14 Visita às áreas especiais ..................................................................................... Capítulo 15 A coordenação de recolhimento emergencial ............................................. Capítulo 16 Um lugar especial ................................................................................................ Capítulo 17 Atendendo ao chamado ..................................................................................... Capítulo 18 O chamado à responsabilidade ....................................................................... Capítulo 19 “Os três enganos que eu não cometeria mais” .............................................. Capítulo 20 O retorno à Colônia Albergue Maria de Nazareth ....................................


Capítulo 1 O Trabalho e o Tempo perdido - Amigo Marcelo, encontro-o cercado de profundas reflexões! Eu há muito estou aqui, e você estava tão absorvido em seus pensamentos que eu preferi manter-me a margem. - Vejo que o amigo tem a mesma mania de nosso querido irmão Palminha, ele também adora me pregar pequenos sustos! - Ora meu amigo, custo a crer uma coisa destas. Um amigo que já finou e ainda de susto fica a tremer! - Meu irmão espera aí, medos são medos, tanto lá, quanto cá, fantasmas tanto assustam por aqui quanto assustam também por lá! - Marcelo meu querido irmão, o que deve nos assustar é sem dúvida o tempo perdido, a mágoa e o ódio no coração, o amor esquecido e principalmente o evangelho sem ação! - Ora querido irmão José Grosso, diante dos quadros a que temos assistido, testemunhado em nosso dia a dia, somos mesmo impelidos a reflexões pontuais no sentido de melhor nos preparar para futuros embates no caso de um novo renascimento. - Meu amigo, em momento algum nós podemos perder estas oportunidades preciosas de buscarmos a luz onde quer que ela esteja. O hábito de refletir diariamente, passando em revista tudo o que nos cerca é o que nos leva a melhorar interiormente. Tudo na exata medida em que vamos construindo conceitos mais consistentes e aplicando-os corajosamente em nós mesmos. 11


A reflexão realizada sem medos, sem rodeios e sem máscaras torna-se remédio precioso para os processos de autocura. Isto mesmo menino, continue assim, aplicado, determinado e nada de perder tempo. - Querido Irmão, considero as reflexões como ancoras maravilhosas que vamos lançando no dia a dia em torno de nossa embarcação pessoal. O que não podemos é permitir que a embarcação fique à deriva no tempestuoso mar das repetições sistemáticas. Vemos, pouco a pouco, conceitos velhos sendo substituídos por conceitos renovados, posturas retrogradas sendo desalojadas de nosso “id” liberando o “ego” para avançar em novas direções e abraçar posturas mais dinâmicas e cada vez mais modernas, e assim, vamos avançando, quebrando preconceitos e paradigmas. - Observava-o em pleno regime de mentação em torno das posses. O quanto o ser em questão ainda se mantém agarrado ao ninho das posses? - Sim, restando ao final da marcha, tão somente a satisfação mórbida de possui-los e muitas vezes de tê-los em profusão, contudo o corpo muitas vezes já cansado, vergado sob o peso dos anos já não possui mais resistência e disposição para usufruir e nem mesmo condições em participar de tudo. Assim temos, temos e temos, mas na realidade não possuímos nada, pois a exaustão provocada pela profusão dos anos retirou-nos totalmente o poder sobre as coisas. - Amigo Marcelo, uma grande realidade! - E assim, já velhos, desgastados e desalentados, passamos a olhar a nossa volta e a perceber tão somente a presença de uma velha cadeira. Aliás, ela nunca fora a nossa preferência e nem mesmo dávamos conta da sua existência, entretanto, começamos a perceber e a sentir que ela naquela fase de nossas vidas é tudo o que nos resta de necessidade. Precisamos dela para assentar, relaxar e descomprimir, tornando-se para nós um ponto maravilhoso de pacificação para os espíritos perdidos sobre os escombros do ontem. - Olha, perdemos a sensibilidade para o simples, para o usual. Amigo, muitos ambicionam pelo trono dos deuses quando na realidade qualquer cadeira nos basta. Quando a vida verdadeiramente nos assenta é que passamos a perceber e a sentir que aquela cadeira sempre foi a maior de todas as nossas posses. Marcelo permita-me extrapolar um pouco mais! 12


- Ora claro que sim, estou aqui a aprender querido amigo! - Pois, é quando de repente uma ave canora de rara beleza pousa sobre uma árvore próxima desfiando seu canto maravilhoso, interessante, sentimos que nunca havíamos parado para observar que aquela árvore existia ali e que nem mesmo ela era possuidora de tanta beleza, de tanta harmonia, sendo tão exuberante em sua grandeza. Infelizmente nunca havíamos percebido que as aves canoras cantam e que aves belas também existiam, jamais nos demos a perceber que muitas delas pousavam justamente ali e que elas sempre cantarolavam gratuitamente ofertando-nos cânticos maviosos num espetáculo pleno em beleza e harmonia. Nesta hora então paramos em estado de êxtase pleno e, perplexos, passamos a admirar todo o conjunto que nos rodeia, chamamos a um, chamamos a outro, outro mais, explodimos de tanta alegria, queremos dividir com todos a nossa grande descoberta, “eureka”1. Naquele instante é como se tivéssemos acabado de descobrir a roda, embora ela já estivesse rodando a milênios, acabamos de descobrir que o simples também existe e que nele reside a perfeição de todas as coisas, e que é na simplicidade das coisas que nos colocamos em contato íntimo com Deus. - Meu irmão, muitos companheiros que aqui se encontram se deleitam com as nossas matas, com os nossos parques e com os bosques, como se também no ambiente terreno eles não existissem!

“Eureka é uma interjeição que significa ‘encontrei’ ou ‘descobri’. É normalmente pronunciada por alguém que acaba de encontrar a solução para um problema difícil. O termo tem a sua origem etimológica na palavra grega “eureka”, o pretérito perfeito do indicativo do verbo ‘heuriskéin’ que significa ‘achar, descobrir’. A palavra ‘eureka’ foi supostamente pronunciada pelo cientista grego Arquimedes (287 a.C. – 212 a.C.), quando descobriu como resolver um complexo dilema apresentado pelo rei Hierão. O rei queria saber se uma coroa encomendada ao ourives era de ouro puro ou se haveria algum outro material de qualidade inferior na sua composição. Arquimedes sabia que para tal deveria determinar a densidade da coroa e comparar com a densidade do ouro. O problema complicado era como medir o volume da coroa sem a derreter. Arquimedes descobriu a solução quando entrou numa banheira com água e observou que o nível da água subia quando ele entrava. Concluiu então que para medir o volume da coroa bastava mergulhar a coroa em água e calcular o volume de água deslocado, que deveria ser equivalente. Conta-se que ele saiu, ainda nu, correndo pelas ruas e gritando eufórico: ‘Eureka! Eureka!’ (Achei! Achei!).” Retirado do site https://www.significados.com.br/eureka/ 1

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- Sim Marcelo, passaram pela vida tão ocupados, tão absorvidos pelo ter, possuir, ganhar, arrecadar, investir, comprar, poupar, que não tiveram tempo de contemplar a beleza que os cercava. Depois de estagiarem perdidos pelas furnas da invigilância e da ganância é que, alquebrados, conseguiram chegar até aqui, extasiados como as crianças ao chegarem num parque de diversões! - Meu irmão temos registrado estas coisas com imensa tristeza, mas isso infelizmente é uma realidade que não podemos deixar de anotar, estes são os indigentes do caminho! - Sim meu amigo, quase todos chegam por aqui desapontados porque a sinfonia acabou e os gorjeios lindíssimos silenciaram. Os pássaros multicoloridos portadores de rara beleza voaram para sempre, indo cantarolar em outros arrebóis. São como aquele pássaro, que da mesma forma em que chegou ele também partiu. Muitos nestes momentos observam desesperadamente que também, a sua vida, voou para outros arrebóis e agora também, estão sendo convidados a continuar sua jornada cantando em outras árvores, em novos cantos e a empreender outros voos, e assim a vida passou! - Amigos queridos, vejo-os juntos. Boas coisas estão acontecendo por aqui, fui chamado pela sintonia, adoro instantes de reflexões, ouvia vocês trabalharem a questão da vida e de seus desdobramentos em função dos muitos desperdícios verificados hoje. - Sim querido Palminha, falávamos de problemas vistos frequentemente por aqui, desdobramentos das muitas perdas de tempo verificados na crosta terrena. - Sim, isto é a questão de nossos irmãos que se tornam cativos das ambições! - Quem muito quer, sempre acaba de mãos vazias, seja homem ou mulher, seja Pedro ou Maria. - Infelizmente, sem o hábito da reflexão perdemos a direção da razão, nos ausentamos do verdadeiro sentido da lógica espiritual e vamos nos distanciando da finalidade da vida que é atender aos imperativos da Lei de Progresso. 14


- Palminha, o que você acha mais razoável ser pensado pelos homens, ainda no curso da experiência física? - Ora, não se permitir estar atado ao tronco do materialismo até que as dores lhe venham como instrumento de despertamento para que então se perceba que a finitude física realmente existe! - Sim, esta noite terei compromissos em algumas casas espíritas e essa é a mensagem que quero levar a todos os grupamentos. Não vamos esperar que o aguilhão do materialismo nos devore para percebermos que são necessárias novas posturas ante a vida, e para que assim, não venhamos a nos surpreender com a novidade das coisas velhas! - Zé não precisa ficar bravo! - Como não? Um bando de cabeças duras que aprendem, aprendem, aprendem e nada! Continuam os mesmos e vivem movimentando um peditório sem fim! - Ora, recordemos as assertivas de Jesus! - De que fala Palminha? - Ora, “...E, voltando para os seus discípulos, achou-os adormecidos; e disse a Pedro: Então nem uma hora pudeste velar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca”.2 - Olha, me impressiona muito a quantidade de adormecidos, sonolentos, dispersivos em nossas casas espíritas. Os discípulos não podem velar por uma hora, e muitos, em nossas reuniões, na realidade, não estão aguentando velar dois minutos e já caem imediatamente em sono profundo, e ainda dizem que estão em desdobramento, e o pior é que nossos dirigentes têm se deixado levar por esses absurdos! - Tem faltado preparo? - Olha Marcelo, temos tido trabalhos maravilhosos nas linhas dos estudos, esforços e mais esforços têm sido vertidos em todas as direções. O que tem nos faltado mesmo é postura determinada, principalmente junto a mediunidade! 2

Mateus 26:40,41 15


- Ora, disse Jesus que o espírito está pronto, mas a carne é fraca! - Meu amigo Marcelo, sinceramente acho Jesus muito bonzinho ao falar desta questão. Para mim a carne é fraca e o espírito é sem vergonha mesmo. O que tem faltado a muitos é o que sobrou em Francisco Candido do Amor Xavier: responsabilidade, responsabilidade e responsabilidade. E sabe o que tem faltado mais meu amigo? - Não, querido José Grosso. O que mais tem faltado? - Responsabilidade! - Marcelo o nosso José tem lá as suas razões quando se expressa assim.. Todos os esforços têm sido vertidos para que possamos estar melhor preparados, mas o que acontece? Muitos são colhidos pelo desencarne silencioso e assim, despreparados, passam a viver em grande desespero. Mas porquê? - Ora querido Palminha, porque passaram toda uma vida alheios àquilo que existe de mais certo em toda experiência reencarnatória, ou seja, o momento de retorno ao mundo espiritual. Não existe nada mais certo que isto, mais pontual e mais exato, do que esse retorno, e ainda assim, vemos por aqui todos os dias um batalhão de invigilantes a perambular pelo além-túmulo sem que tivessem amealhado mínimos recursos no transcurso da experiência terrena - Sim, sim José, uma horda de desesperados, forçados a embarcar na nau dos náufragos, navegando ininterruptamente pelos mares dos sofrimentos infindos, até que num dia, num outro tempo qualquer, num momento longínquo e distante, sejam enfim recolhidos pela nau salvadora da misericórdia guiada pelo timoneiro do amor. - Por fim, mais dia menos dia, são todos recolhidos pela benevolência divina, apostos, no grande mar dos desesperados. Mas vejamos, quanto tempo foi desperdiçado? Quantas oportunidades mais foram perdidas? Quantas lutas inglórias, conquistas vãs e quantas vitórias estéreis foram vividas? - Marcelo, você tem sido diariamente testemunha das experiências vividas por aqui em nosso modesto albergue! - Sim, lentamente e debaixo de muito sofrimento, à custa de muito trabalho é que nossos irmãos vão concluindo que tudo poderia ter 16


sido diferente. Bastava que tivessem feito as coisas um pouco diferentes, aproximado mais das realidades maiores, tornando-se menos materialistas, mais benevolentes, e daí entornam-se nos tempos das lágrimas e dos arrependimentos. - Verdade Marcelo, pois começam a perceber que já é muito tarde, pois há muito deixaram para trás os oceanos das oportunidades, optando por singrar por mares procelosos guiados na direção das correntes dos arrependimentos. - É o que eu digo e vocês dizem que sou bravo, claro! Vejam o tempo perdido! Novamente passam a correr atrás do tempo em novos recomeços! Ser útil é imprescindível a qualquer um, a dinâmica da utilidade é o que move a existência, tudo aquilo que se estagna encaminha para o apodrecimento e para a inutilidade, e se encaminhará inexoravelmente para a morte. Desde as fagulhas infinitesimais situadas no microcosmo até os sóis exuberantes localizados nas galáxias que se movem initerruptamente pelas grandes avenidas dos universos, tudo se propõem ao trabalho incessante, cumprindo a sua jornada através dos campos da utilidade, e assim, vivem e sobrevivem enquanto se fazem úteis, enquanto mostram operosidade em seu labor servindo ao grande concerto da vida. - Marcelo, ou nosso irmão José está gastando tudo ou parece que incorporou nosso querido irmão Bezerra! - Ora Palminha, a água estagnada hoje transformar-se-á a amanhã em poço fétido que pouco a pouco irá ser dizimada pelo sol impiedoso até desaparecer por completo. O lago que não efetua trocas, recebendo e repassando águas, irá pouco a pouco perdendo o seu potencial de oxigenação e matando as vidas que lá vivem até tornar-se totalmente sem vida, encaminhando-se para a morte plena de seus recursos. Assim, também, somos todos nós! - Marcelo, ou nosso irmão está verdadeiramente mediunizado ou é Bezerra ou Scheilla! - Amigos, na Galileia existe um mar que é piscoso, cheio de vida e onde os pescadores se reuniam e munidos com suas redes e barcos efetuavam a pescaria de subsistência garantindo assim a vida plena para 17


todos que para ali se dirigiam. Para ali as mulheres levavam suas roupas tornando-as novamente limpas e plenas para o uso. Na maioria dos dias uma brisa fresca sopra trazendo de longe o aroma das tamareiras, o perfume das flores de laranjeiras e levando para além-distante a umidade e o agradável cheiro de mar. Quando dos ventos mais intensos, as marolas se elevam tornando-se verdadeiras ondas, banhando e refrescando graciosamente os pés de todos aqueles que ali se encontravam, as suas brancas espumas deslizam docemente pelas praias definindo assim, o precioso trabalho da oxigenação e limpeza, fatores esses tão necessário para a manutenção da vida. Foi ali, nesse mar, que Jesus, o peregrino do amor, escolheu os seus amigos mais íntimos e realizou grandes feitos: “e Jesus, andando junto ao mar da Galileia, viu a dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, os quais lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores”3. - Marcelo nosso irmão José está demais hoje! - Querido Palminha, não me admiro, pois eu já o havia visto em dias realmente esplendorosos! - Jesus o Meigo amigo, sempre em sua dinâmica, andando, sem jamais parar, e andando numa faixa em que se encontravam várias pessoas dispostas ao trabalho, estavam ali em atitude dinâmica e àquela hora da manhã já se colocavam aguerridos ao labor diário. Por isso mesmo a sua visão repousa sobre os dois irmãos, Simão e André, que formavam na realidade um par perfeito, o sentimento e a razão. Eles não se encontravam ali escondidos ou se esgueirando no anonimato fugindo a identificação ou ao chamamento. Eles se colocaram como os homens certos, no local certo, na hora certa e numa postura plenamente correta, trabalhando, laborando em função da autossobrevivência. Ávidos por matar a própria fome e a fome de muitos, eles verdadeiramente sabiam que muitos dependiam do fruto de seus esforços e assim não regateavam labor. Naqueles dois homens não havia preguiça e nem existia ociosidade, àquelas horas eles já estavam prontos e plenos lançando as suas redes ao mar, já procuravam assim prender em suas malhas algum peixe que viesse a lhes coroar os 3

Mateus 4:18

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esforços e a mitigar a fome garantindo-lhes a sobrevivência. Como é importante em nossas vidas a disposição ao trabalho. “E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Então eles, deixando logo as redes, seguiram-no. E, adiantando-se dali, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, num barco com seu pai, Zebedeu, consertando as redes; E chamou-os; eles, deixando imediatamente o barco e seu pai, seguiram-no.”4

Nosso irmão José Grosso estava pleno de luz naquele instante, brilhando como um farol costeiro a sinalizar a distância para os insignes viajores, apontando com segurança rotas seguras a serem seguidas nas noites escuras de invernia a beira mar. Enquanto isto, eu e o querido amigo Palminha resguardamo-nos em nossa insignificância. Naqueles instantes éramos tão somente ouvidos. Nosso amado companheiro falava-nos com a autoridade moral do seu coração maravilhoso, ali estava ele diante de nós com a força daqueles que amam o Evangelho e que fazem dele o compêndio bendito de suas ações. Nosso irmão José Grosso, em nossa convivência, nos dá diariamente os mais profundos exemplos na lida diária a serviço do semelhante, mostrando-se um incansável trabalhador nas lides do amor, por isso mesmo, o Evangelho em sua fala ganhava contornos e coloridos especiais pelo pleno domínio daquilo que falava. Eu ali no meu cantinho, recolhido ao espaço de minha insignificância, acompanhava as reflexões desse irmão tão querido, mantinha-me em profundo agradecimento. Como são lindos os acontecimentos por aqui e como são belos os momentos de êxtase espiritual! Em nosso ambiente pairava um suave perfume de rosas, éramos inundados por uma brisa maravilhosa trazendo-nos uma sensação deliciosa de suavidade e leveza, eu fazia o possível para não perder uma só linha daquele pensamento, afinal de contas, não são todos os dias que temos tais oportunidades! 4

Mateus 4: 18 - 22 19


E assim, eu me mantinha num estado de contemplação plena sorvendo aquela companhia tão agradável. Eu não queria perder mesmo uma mínima vírgula, pois por aqui, os encontros com o nosso irmão José Grosso são intensamente desejados por todos, e eu ali, tendo esse privilégio. Somente a mim cabia transportar sequiosamente aqueles instantes para os registros de gala de meu coração, tenho plena certeza de que jamais esquecerei desse encontro. Pessoas que na intimidade da longínqua Pedro Leopoldo puderam viver estes instantes íntimos com Francisco Candido do Amor Xavier, aqueles que tiveram a oportunidade de ouvir alguns momentos das explanações luzidias com Emmanuel, as materializações com Scheilla e outros queridos trabalhadores, somente essas pessoas são capazes de entender as sensações das quais eu estou falando! - Irmãos, desde os primeiros instantes, ao transitar pelas areias luzentes do Genezareth, chamando, requisitando, convidando ali os primeiros trabalhadores para a sua obra divina, o Mestre deixa para nós a sua marca indelével, marcando as linhas mestras nas quais se alicerçariam para sempre as suas escolhas. Ele não procurava beleza exterior e tão pouco fez escolhas pela pigmentação da epiderme e muito menos pela etnia. Ele não procurou os seus auxiliares pela condição social e muito menos pelos recursos nas linhas das posses transitórias que o mundo oferece. Todos ali eram almas que já vinham no aprendizado diuturno na longa esteira do tempo. São espíritos de uma têmpera diferenciada, amadurecidos nos ciclos das experiências doridas, vivendo principalmente momentos pesados de escravidão bordejados pelos sofrimentos infindos, almas cuja têmpera fora fundida na forja das lutas através das vidas sucessivas. Mas, Ele, o meigo Rabi, procurou detidamente um ponto comum em todos eles, como se procura um diamante raro incrustado nas minas do coração. Identificou-os pela capacidade de trabalhar! Contudo, Jesus, ali não buscava trabalhadores quaisquer, procurava pelos diferenciados, por aqueles que já estavam apostos nas primeiras horas do dia, firmes em seus postos e com as mãos prontas em suas redes. Marcelo, Jesus procurava por aqueles que já se encontravam prontos para o que seria no futuro a grande pesca! 20


Amigo, já parou para pensar como andam as vossas redes? Já estão prontas? Aptas ao trabalho diário? Elas estão bem cuidadas? E você, se vê disposto ao lançamento repetitivo sem que haja esmorecimentos ante os insucessos? Como anda a paciência? Tem estado diligente? Perseverante? Amigo, as redes são tecidas através de uma bem-entrelaçada sequência de fios, todos reunidos por mãos hábeis e experientes, mãos que confiam na eficiência da pesca. Lembra-te de que os fios que se destinam a pesca com Jesus devem ser resistentes, demonstrando ser de boa qualidade e tendo força suficiente para que não venha a arrebentar ante o menor esforço. Não te esqueças de que toda pesca com Jesus é sempre maravilhosa produzindo aos centos e aos mil. Por isso amigo, as nossas redes devem ser tecidas com fios extraídos do látex da fraternidade, da boa vontade e da confiança plena. Marcelo, lembremo-nos de Jesus: “E, entrando num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra; e, assentando-se, ensinava do barco a multidão. E, quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar. E, respondendo Simão, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a tua palavra, lançarei a rede. E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompiam-se lhes a rede. E fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os fossem ajudar. E foram, e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam a pique”.5

Amigo, temos sido insistentemente convidados para a pesca maravilhosa, entretanto, não temos estado preparados. As nossas redes ainda frágeis quase sempre cedem ou se arrebentam todas as vezes que somos exigidos um pouquinho mais, na realidade quando somos solicitados a algumas “milhas a mais” estamos sempre alegando impossibilidade. 5

Lucas 5:3-7 21


Marcelo é necessário doarmos um pouquinho mais, saindo do nosso comodismo de cada dia e assim darmos à vida uma cota que esteja além do costumeiro, do rotineiro. O cristão precisa ir além! - Marcelo, quando nosso querido José nos remete a reflexão em torno do trabalho, convidando-nos a ir um pouco além de nós mesmos, ele está nos lembrando simplesmente da necessidade de superação, de sairmos desse nosso ponto de saturação para irmos um pouco mais além, pois na vida, a cada esquina depararemos com alguém a esperar muito de nós, apresentando necessidades e inusitadas situações que não podem esperar para amanhã, precisando do nosso concurso para hoje, agora, neste instante. Por isso temos que buscar estar melhor preparados, para que ao sermos chamados possamos estar prontos, e assim, sermos os escolhidos para o trabalho da vinha. Para isso, torna-se necessário que estejamos sempre aptos e disponíveis, bem preparados, bem-dispostos a ofertar a nossa cota de colaboração sem meios-termos e sem resmungações! - Tenho muito bem entendido este recado por aqui querido Palminha. Uma pena meu amigo é que eu não tenha conseguido entender isso antes de transpor a aduana da vida, o que fatalmente me custou muito caro, ocasionando para mim uma enorme perda de tempo. Por isso mesmo, esse é um dos motivos que tenho procurado dar o melhor de mim, buscando superar a mim mesmo no sentido de recuperar aqui o tempo perdido lá. Tenho dedicado de corpo e alma ao trabalho no bem e procurado sempre estar na direção do meu próximo em necessidades e aflições, muito em especial daqueles que se encontram em momentos de dificuldades, caídos, sofridos, perdidos em si mesmos e muitas vezes implorando por uma rede amiga e estendida em sua direção! Querido Palminha, acho que eu tenho entendido o recado! - Amigo Marcelo, nessas condições estamos todos nós aqui, indigentes da misericórdia divina, agraciados por Jesus com novas e reais oportunidades com vistas ao nosso crescimento individualizado e coletivo. Felizes todos aqueles que entendendo suas carências e necessidades se disponibilizam ao grande trabalho na vinha! 22


- Olha, eu já me encontro exausto de tanto falar sobre estas questões do trabalho com Jesus, das oportunidades, das necessidades, de obrigações, de dever, de pontualidade, de entrega, de responsabilidade, da exiguidade do tempo, da não perda de tempo, mas meus amigos isso parece a mesma coisa de fazer chover no molhado. Tem entrado por um ouvido e saído pelo outro, aliás, se pelo menos entrasse, estava bom, mas tenho cá minhas dúvidas se realmente alguma coisa entra. Êta pessoalzinho mais cabeça dura! Por mais que me aborreça Só a poder de machado, Rachando alguma cabeça Poderá haver aprendizado. - Não se irrite meu querido irmão E deixe os dias e o tempo passar Nem Jesus com o profético sermão Tocou as cabeças e coração!... - Nossa, fico sem saber o que dizer!... Mas me sinto convidado, Para esse banquete de luz!... Quero estar bem mais preparado, Para o trabalho com Jesus. - Você está muito prepotente, Seu mambembe escritor Trabalha, socorre ao indigente, Em tudo seja consolador, O Livro espírita é a boa semente Recorda “A Terra e o Semeador”!... - Nossa, desse jeito vamos longe, de improviso em improviso, vamos acabar ficando por aqui, pois essa conversa é longa e esse assunto é por demais cativante e importante! 23


- Ora Palminha, para mim esse é o assunto do momento, tenho andado cansado de tanto falar. Trabalha, trabalha, trabalha, mas isso parece mesmo chover sobre o molhado, porque não se vê uma reação, uma tomada de atitude, um posicionamento diferenciado. Estou sempre alertando para não deixarem as coisas para a última hora. Nada de deixar as coisas para amanhã, porque o dia é hoje e as necessidades acontecem hoje. Amanhã serão novas necessidades, novas oportunidades, mas as oportunidades de hoje passaram, deixando-nos com pesado comprometimento nas guias do tempo. - Amigo José, lembra-te de Paulo, quando ele escreve a Timóteo? “Procura vir antes do inverno. Eubulo, e Prudente, e Lino, e Cláudia, e todos os irmãos te saúdam.”6 - Claro que sim Palminha. Eu me lembro disso todos os dias, mas a minha pergunta é se o pessoal se lembra? Ora, você fica até com a garganta seca de tanto falar, de tanto pedir, mas você acha que adianta? Claro que não, entra num ouvido e sai pelo outro, e nada, nada, nada acontece. A turma continua chegando dez para as vinte horas, saindo nove e meia em ponto e mais nada. Acham que já fizeram demais. Chega, basta, os coitadinhos estão todos cansados, estafados, esgotados de tanto trabalho.Fora aqueles que ainda têm a coragem de se afastarem das mediúnicas alegando cansaço e exaustão plena, sob o terrível argumento de que estão trabalhando demais, estão desenergizados, desmagnetizados, exauridos em suas forças, mas pergunto eu, o que têm feito de especial? Ora meu amigo, que Jesus continue me dando muita paciência, mas tem que ser muita porque pouca não vai dar! Pense bem, neste último período avaliado, em sessenta casas, para onde carreamos constantemente irmãozinhos em sofrimentos para o socorro necessário, temos o planejamento de uma média de três reuniões semanais. Veja você que tivemos seiscentas e vinte faltas e, dessas, somente quinze faltas são justificáveis. No período, retornamos com trezentos e oitenta companheiros sem receber o devido atendimento, são fatos muito sérios.

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2 Timóteo 4:21

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- José, eu estava anotando aqui tudo que você falou e você tem razão, agora, essa de espírito de boca seca tenha dó! - Palminha, por favor, não faça troça em cima das minhas palavras, você entendeu o que eu quis dizer, não entendeu? - Claro que sim, grande amigo, foi apenas uma brincadeira para aliviar as pressões! - Irmão José Grosso posso lhe fazer uma pergunta? Tenho testemunhado muitos companheiros briosos, trabalhadores, saírem das mesas mediúnicas reclamando de terrível cansaço, exaustos, muitas vezes até mesmo combalidos vibratoriamente, então isso não existe? - Ora Marcelo claro que existe, um batalhão tem saído costumeiramente das reuniões mediúnicas em estado de precariedade, tanto nos níveis fisiológicos quanto perispirituais, podemos acrescentar a isso a precariedade das condições psicológicas, costumeiramente péssimas. Mas querido amigo, não tenha isso como responsabilidade da atividade mediúnica propriamente dita. - Não? - Claro que não, muito mais pelo contrário, contabilize isso na conta pessoal dos próprios médiuns! - Dos médiuns? - Sim claro que sim, o despreparo existe tanto no plano espiritual, como no mental, quanto no fisiológico. - Sim, disso eu tenho certeza. - Não é a mediunidade que lhes exaure as forças, eles mesmos é que se auto exaurem, tudo isso dado aos altos níveis de despreparo com que temos nos deparado. - Sim, cuidam muito pouco da harmonia interior, e o médium precisa estar sempre harmonizado interiormente. - Sim amigo, você disse tudo, harmonia interior. Os médiuns precisam se preservar mais mentalmente e para isso é preciso vigilância, o vigiai e orai. - Tudo isto aliado aos estudos sistematizados dentro do contexto mediúnico. 25


- Mas na grande maioria das casas as quais eu compareço, todas elas possuem largos e profícuos ciclos de estudos, acrescente-se a isso os bons projetos sociais, além de uma ampla rede de apoio sempre disponível a todos os seus participantes! - Sim Marcelo, trabalho, apoio, amparo a mediunidade não tem faltado, o que mais tem faltado é a tomada de consciência da mediunidade. A estruturação de um nível mental bem ajustado às responsabilidades espirituais e bem postado naquilo que consideramos responsabilidades para com a saúde fisiológica! A mediunidade com Jesus e sob a luz da terceira revelação exige de todos os seus profitentes reciprocidade, digamos que ela tem um preço, muitos querem, só querem assentar-se nas mesas mediúnicas, um batalhão quer mesmo é somente “receber” espíritos, outros mais querem mesmo é “receberem” os ditos mentores e uma legião procuram mesmo são as passarelas e os holofotes, muitas vezes proporcionados por uma legião de irresponsáveis tietes a lhes bajularem incessantemente, poucos estão preocupados com os encargos da mediunidade. - Irmão Palminha, esse ponto trazido pelo amigo merece as mais amplas reflexões, a responsabilidade tem mesmo se apresentado como a guia certa para o encaminhamento seguro! Irmão José Grosso, o que você acha do que foi trazido pelo nosso dileto Palminha? - Ora, meu amigo, quem sou eu para lhe corrigir uma mínima afirmação! A mediunidade nos níveis que esperamos tem o seu preço, e para não deixar passar, temos ainda aqueles que pensam a mediunidade sob os pilares de projetos faraônicos quando mediunidade e humildade são linhas que ocupam o mesmo espaço! - Preço? - Sim, a vivência humilde, simples, discreta, distante dos flashes, longe dos bajuladores, sem o mínimo de arroubos financeiros e extremada disciplina! - Arroubos financeiros? - Sim, mediunidade e dinheiro são duas águas que jamais devem se misturar, aliás quando falamos em humildade e simplicidade insere-se aí 26


o distanciamento que os médiuns devem ter das posses, do ter. Senão o corpo e a mente acabam se acostumando com as facilidades e essas continuam arrastando grandes promessas ao nada! - Disciplina? - Marcelo a responsabilidade nasce da disciplina! O espírito quanto mais amante da disciplina mais responsável se torna. Dentre as coisas mais difíceis nos processos de tomada de consciência está a construção da disciplina inquebrantável, tem sido um desafio para muitos e um dos calcanhares de Aquiles da evolução, pois é aí que se define e se sustenta todas as nossas ações. Somos todos nós indisciplinados contumazes, sabotadores de nós mesmos, adoramos os autoenganos desde que eles atendam as nossas conveniências, e, diga-se de passagem, que muitos nada têm de disciplina, simplesmente procuram na maioria das vezes atender as comodidades e as facilidades que nos cercam. - Veja você meu amigo, quantos companheiros estagiam em nossa colônia Albergue que aqui chegaram doloridos. Muitos foram recolhidos por nossas caravanas depois de passar tempos e tempos em sofrimentos infindos, e destes muitos ainda ficam internos em nosso hospital em condições severas. Uma quantidade enorme frequenta regularmente os nossos cursos, participam das muitas atividades aqui desenvolvidas, adoram as praças, os parques, os jardins, os passeios, os folguedos. Daí eu te pergunto, quantos por aqui você já viu manifestar desejo sincero em servir? De participar ativamente de nossos trabalhos? E de atender aos muitos companheiros que aqui estão de maneira laborativa e misericordiosa? Quantos você já viu procurá-lo para o trabalho a benefício do semelhante? - Sim irmão José Grosso, são mesmo muito raros! - Pois é, viajam do berço ao túmulo ilhados pela inércia, e assim avançam sobre os umbrais da morte e desesperados percebem os danos que lhes foram causados pelo tempo perdido. No entanto, vês alguma reação? Tens observado o esboço de alguma resposta? Eu mesmo te respondo meu irmãozinho querido, n e n h u m a reação! - Concordo! 27


- Continuam por aqui a procura de cargos, de destaque, de posições honorificas, mas folha de trabalho mesmo não possuem nenhuma. - Há uma preocupação avassaladora por mando! - Mas trabalho nada! Continuam por aí parados, estáticos, petrificados, mortos, amigo a inércia tem tomado conta de uma grande maioria! ... - Sim irmão Jose Grosso, são grandes paralíticos, isso sim é a grande verdade! - Marcelo, quando algum membro residente de nossa colônia recebe o comunicado para reencarnação próxima, veja o reboliço que isso causa por aqui, estão aqui e querem permanecer aqui, e poucos são aqueles que querem de alguma forma conviver com uma nova imersão na carne. - Essa é mesmo outra realidade! - Realidade nua e crua, lei do menor esforço! - Então qual seria o motivo para rejeitarem com tal veemência uma nova reencarnação? - Comodismo, conveniências, lei do menor esforço! - A grande maioria argumenta com todas as forças que a Terra é um campo muito difícil, local de muitas lutas e de muito trabalho! - Esquecem-se de que não existe progresso sem lutas, sem trabalho, sem aprimoramento interior. - Sim, tenho percebido essas dificuldades junto aos nossos irmãos que são transferidos para as áreas da reencarnação! - Mas a questão tem sido uma só! - Qual seria esta questão meu querido irmão? - O trabalho! - Sim concordo, pois, trabalhar dá trabalho. - Eis a questão! Existe um bloqueio amplo nos dias de hoje acerca da palavra “trabalho”! - Trabalho? Trabalho meu querido irmão? - Sim, o grande incomodo tem sido na realidade o trabalho. Quando estão lá e recebem o comunicado de retorno próximo, a grande maioria não quer voltar de forma alguma. Todos alegam que na dimensão do 28


espírito tudo é muito incerto, muito difícil, que existem muitas lutas, grandes barreiras de readaptação e por certo muito trabalho! - E o pior, quando estão aqui também não querem retornar para as procelas terrenas. - Certa vez, conversando com o nosso Palminha e como sempre aproveitando alguns momentos para as troças construtivas, ele brincando foi ao cerne da questão, dizendo que o problema era de Deus, do nosso Pai de Misericórdia e Amor, que quando criou todo esse sistema de evolução, ele acabou cometendo uma falha! - Deus cometeu uma falha irmão José grosso? Uma falha? - Olha meu amigo, isso não fui eu quem disse, mas sim o nosso querido Palminha, então isso é da responsabilidade dele! - Irmão Palminha, por favor, não me deixe mais curioso, me fale dessa falha de Deus! - Marcelo, me desculpe a brincadeira, mas nos dá a impressão de que sim, de que Deus falhou ao colocar o trabalho como a grande oração do universo. Veja você, querido Marcelo, que tudo trabalha, a vida no lugar em que ela se manifeste está sempre em oração, no seu dinamismo constante. Amigo, não existe vida na inércia. Viver é trabalhar e trabalhar é viver, e é dessa forma, que se verifica a sintonia do ser com o Todo Universal, sempre através do trabalho. Nada existe, nada há que esteja fora dessa grande mecânica laborativa. O trabalho é a grande lei! - Sim, claro que sim, pensando assim percebemos mesmo a importância do trabalho em nossas vidas! - Meu amigo, infelizmente por grassar nos dias atuais uma ignorância, a grande pedra de tropeço para muitos tem se tornado a necessidade do trabalho evolução! - Me permita, neste instante, meu querido Jose que eu faça um pequeno apontamento. Entendo que se a pedra for pequena uma grande multidão passará desatenciosamente por cima, e se a pedra for muito grande eles contornam e fingem que não a viram, e, muitos acharão mesmo que aquela pedra não lhes pertence ou mesmo que nem existe. 29


- Uma grande verdade irmão Palminha, e assim completamente desatentos acabamos tropeçando nelas e de forma contumaz, e daí meu amigo, consequentemente vem os tombos, tombos e mais tombos, e porque não dizer também das grandes quedas! ... - Ora, querido Marcelo, o sofazinho da nossa sala de cada dia tem mantido muita gente sob forte algema, a mesinha de buraco dia e noite tem engolido avidamente a utilidade de muitos nobres companheiros, a paixão pela cama, pelo travesseiro tem mantido muitos algemados a uma inércia plena! - Se não bastasse temos também a gulodice, as farras, a bebidinha social de cada dia. Quantos estão trocando o Lar pelo bar, pelas noitadas irresponsáveis, pela sexualidade sem a mínima expressão de afetividade. Tudo isso tem sido vivido de forma muito passageira, descompromissada, momentânea. A moda, as posses, as circunstâncias, tudo sendo visto como se fosse tão e simplesmente uma grande ventania. Por isso, tanto aqui em nossa colônia como lá nos campos mais densos da matéria, as dores têm se multiplicado e acontecido sem tréguas. O homem moderno tem vivido o flagelo do menor esforço, poucos são aqueles que tem dado notícias de sua passagem pela crosta terrena, poucos hoje tem buscado uma tomada de consciência em torno do papel a desempenhar perante a vida e, por isso mesmo, temos anotado tanto sofrimento, que, quando há o chamamento ao retorno passa a grassar um despreparo real em torno do inexorável processo de finitude. - Bom, meus queridos irmãos, outras responsabilidades me chamam, preciso me ausentar com urgência. Neste momento estou sendo chamado na “Coordenadoria do Auxílio”, parece que irmãos queridos se encontram em necessidade na crosta terrena, paz e alegria! - Nossa, e não é que ele já desapareceu. Por mais que me esforce não consigo me acostumar com isso, esse desaparecer assim instantâneo. Às vezes sinto que estava conversando com fantasmas, e isso acaba me provocando um friozinho de corpo inteiro, alguns chamam isso de medo, eu com medo? Isso de forma alguma, eu chamo isso de um ligeiro despreparo para lidar com a pressa destes meus amigos. 30


- Ora Marcelo, você ainda vem se mantendo ligado a estes medos? - Claro que não irmão José Grosso, isso é um despreparo em lidar com essa pressa com que todos vocês vivem por aqui! - Bom meu amigo também eu preciso me ausentar. Tenho que atender a outras necessidades que, com urgência, reclamam a minha presença. Preciso visitar um interno temporário para ver como ele está reagindo! - Querido amigo José Grosso eu poderia acompanhá-lo? Estou disponível por estes dias, aguardando novas designações. Seria muito bom poder aprender um pouco mais com o amigo em suas tarefas diárias! - Ora, claro que sim, temos que ir até a “praça da misericórdia”! - Claro que sim, podemos então descer por aqui e cortar caminho pelo “parque das nuvens” e rapidamente estaremos lá! - Não temos tempo a perder, deixemos este itinerário para aqueles que ainda possuem tempo, nós temos que ganhar tempo, multiplicar o tempo para melhor aproveitá-lo! - Mas, não há outro caminho! - Há! Existe sim, um bem mais curto e mais rápido! ... - Mas, não podemos ir pisando por cima dos jardins e nem atropelando os meios de locomoção. - Existe sim! - Existe? - Claro que sim, lembra-se daquele velho pinheiro logo no sopé da praça? Pense vigorosamente nele, nos encontramos lá!

Fim da degustação...

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