Onde Está Sophia?

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DĂŠrick Pacheco Caitano

“Um verdadeiro amor, resiste a qualquer coisa? 1


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DÉRICK PACHECO CAITANO

SÚMÁRIO Introdução Capítulo I Capítulo II Capítulo III Capítulo IV Capítulo V Capítulo VI Capítulo VII Capítulo VIII Capítulo IX Capítulo X Capítulo XI Capítulo XII Capítulo XIII Capítulo XIV Capítulo XV Capítulo XVI Capítulo XVII

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Edição Única Diretor Editorial DÉRICK PACHECO CAITANO Apoio de Divulgação MY EBOOK Direitos Reservados DÉRICK PACHECO CAITANO Autoria DÉRICK PACHECO CAITANO Contato com o Autor DERICKPACHECO@HOTMAIL.COM 48 84749524 / 99988960 Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização do autor.

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Introdução E quando você pensa que tudo está conspirando ao seu favor, mas na verdade o que acontece é apenas um momento de sorte, onde tudo pode ser facilmente confundido por conta do estado de euforia? Aquele estranho rumo que você pensa em seguir, mas a sua consciência não deixa, por que você sabe que se o escolheres pode ser dar mal. Era assim que eu me sentia, um garoto sem sorte, sem azar, sem nada! Amargo, sem vida, afinal, alguém que não tinha movimento na vida, não estava vivendo no mundo, estava apenas existindo. O que acontece mesmo é uma incredulidade do estar bem, do conformismo. Ninguém é realmente aquilo que gostaria de ser, a sociedade prende todos nós. Eu por exemplo, gostaria muito de viver um louco romance, queria ler histórias de romance sem ser julgado, mas eu sou um garoto e a sociedade condena um garoto que lê romance, e não gosta de futebol, julgando-o! Eu tinha nove anos e já pensava em viver uma história de amor louco. Algo totalmente extraordinário, nada comum, afinal o que é comum não me agrada nem um pouco. Por que eu tinha que seguir um protocolo de vivência? Por que eu tenho que ser como os outros garotos? Ser apaixonado por carros, gostar de “pegar” garotas, quando na verdade o que eu sempre quis foi conquistar uma e guarda-la para mim para sempre? Jamais imaginava que Deus, tinha algo preparado pra mim, algo que eu nunca imaginei, uma verdadeira história de amor.

Dedicatória Dedicado a toda família Caitano e Pacheco, aos meus amigos mais íntimos e que sempre estiveram do meu lado!

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Capitulo I Meu nome é Mike. Você deve estar pensando, “Ah, Mike é um cachorro então?”, não! Eu não sou um cachorro, eu sou gente, mesmo! É que não sei por que motivo meus pais escolheram esse nome, mas, eu não tenho problemas com ele não. Pra mim o que me valoriza não é meu nome e sim minhas demais qualidades. Não estou querendo me sobressair, falar que sou único no mundo como muitos caras fazem, só estou citando que meu nome não é meu forte. Eu moro num vilarejo, um cubículo pra falar a verdade. Um lugar o qual meus pais chamam de bairro. Torres, esse é o nome do bairro em que vivemos. Aqui é legal, conheço muita gente, senão todo mundo que mora nele, afinal ele é composto por duas quadras, depois já muda para um bairro vizinho, o qual não frequentamos por receio. Dizem que muitas pessoas que foram lá não voltaram bem. Nesse bairro mora um dos meus maiores inimigos. Ronald Chipdong. Esse cara sempre teve o dom de acabar com tudo que eu construía de bom na minha vida, parece que o prazer dele era destruir, acabar, liquidar com tudo que eu conseguia adquirir. Eu nunca soube se era por prazer, ou, se era algo que ele fazia sem saber. Ronald sempre foi apaixonado por Sophia Biorelly, garota a qual, eu também sempre amei. Eu sei que é complicado, afinal quem é o cara louco que é apaixonado pela garota, a qual seu inimigo, um cara louco e perigoso que mora no bairro sombrio ao lado do seu, também é apaixonado? Pois é, acho que eu fui louco suficiente. Eu sempre li livros de romance, e desde quando eu tinha oito anos, todos me condenavam por isso. Sim eu sempre fui meio precoce com os estudos. Sempre procurei ser o melhor. Nunca gostei de futebol, quer dizer, não que eu não goste, é que simplesmente eu não curto jogar. Sempre fui mais caseiro, o típico dono de casa. É incrível como o tempo passa agente cresce e aos poucos não vai ligando pro que os outros dizem; pra opinião alheia. Pra mim aquilo que

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nada me acrescenta nada me importa, por que passa pela minha vida de forma insignificante, então pra que me importar com isso. Embora eu pareça um cara convicto de tudo, um cara que tem opinião imutável, eu sou bem mutável. Na verdade tudo que acontece na minha vida depende do meu humor, não que eu tenha acessos de bipolaridade ou que seja como muitos falam, multipolar, não é isso. Simplesmente não consigo me adequar a algo que já está formulado sabe? Pra mim cada um tem uma opinião diferente, e eu não preciso concordar com a opinião de todos. Já tive muitos problemas em empregos e em relacionamentos por conta disso. É, eu sou uma pessoa um pouco complicada de lidar, acho que nem eu conseguiria lidar comigo mesmo, sem entrar em um ataque de nervos. Sempre falei que a menina que se apaixonasse por mim, teria de me amar muito e também saber ceder, afinal, eu sei ceder. Ah, tem uma coisa que dizem ser exclusivo da mulher, mas eu não acho não. Sabe essa coisa de TPM (tensão pré-menstruação)? Então. Pra mim o homem também tem, só que se muda um pouco o nome. Passa a ser TPNM(tensão pré não-menstruação). Eu tenho uns momentos de ataque depressivo, em que choro sem motivo e momentos de felicidade incontrolável em que o sorriso, e alegria tomam conta do meu físico e do meu psicológico de forma que tudo em mim passa a ser afetado. Não gosto de surpresas, acho que mulher fazer surpresas para um homem é quase pedir separação. Aliás, acho raro homem que gosta de surpresas. Tá bom, não é que eu não goste de surpresas, ou que qualquer outro homem não goste de surpresas, na verdade, não conseguimos de forma alguma retribuir isso de forma alegre, por que, estamos nos roendo de vergonha pro dentro, daí não conseguimos tomar nenhuma outra atitude a não ser dizer que não gostamos de surpresas. Na verdade acho que tudo isso de não conseguir demostrar sentimentos, vem daquela história imposta pela sociedade de que homem não chora. Acho isso uma tremenda besteira.

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Essa história ridícula de que homem de verdade não demonstra seus sentimentos, que homem de verdade tem que ser rude, rigoroso, e ser o legítimo “cavalo”, me irrita um pouco. Que isso sociedade? Na verdade acho que homem mesmo, não é aquele que sai em uma noite “pegando todas”, não sei se sou uma exceção, mas, não acredito que “pegar” uma garota seja digno de um homem. Um verdadeiro macho conquista uma única mulher e faz dela sua esposa. Aliás, acho que amar de verdade, é isso! Amar de verdade é saber reconhecer que uma única mulher pode lhe fazer feliz. Amar de verdade é saber que uma mulher pode torna-se especial apenas pelo fato de existir ao seu lado, pelo simples fato de ser dona de seus pensamentos. Não acho legal, homens sem personalidade, que funcionam pelos pensamentos dos outros homens. Já tive oportunidades de sair na noite e ficar com muitas garotas, beber todas, mas, pra que? Sabe, não acredito que existem más influências, pra mim existem apenas mentes fracas, sem opiniões. Muitos já me falaram pra desistir da Sophia, que eu sou louco em insistir nisso, que o Ronald pode até mandar me matar. Mas me diga, tem algo pior do que morrer de amor? Tem algo pior do que a incerteza? A dúvida é torturante, não saber o que ela sente por mim me corrói. Na verdade, eu sou aquele tipo de homem que só quer amar e ser amado, casar na igreja com um lindo smoking, ser chamado de noivo, e ver minha esposa entrar pelas portas toda de branco, com véu, grinalda e um lindo buquê nas mãos. Ver as damas de honra entrarem lindas posterior a minha futura esposa, jogando pétalas de rosa, e com uma almofada nas mãos onde nela estão as alianças com pedras de diamantes embutidas. Essa é a parte em que você deve estar pensando, “ah esse cara só pode ser rico!”, não! Na verdade eu trabalho numa empresa, aqui perto da minha casa, uma espécie de agencia de tele atendentes. O stress muitas vezes tomou conta da minha rotina, por que afinal, sempre tem aquelas pessoas amadas que sempre te atendem com uma ignorância toda especial que só elas são capazes de demonstrar.

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Assim como todos os dias, hoje é mais um dia de trabalho, e a rotina continua. Hoje é o típico dia, onde chego as oito da manhã no serviço, faço o login no sistema e começo as ligações. Eu tomei um grande susto, e me senti impactado. Meu coração começou a bater como um carro que vai de zero a cem em um segundo. O primeiro nome da lista chamou minha atenção. Sempre esperei por isso, não podia perder essa oportunidade. Sophia Biorelly, a minha amada havia caído no meu usuário de sistema, onde agora eu poderia ter meu primeiro contato com ela, ligar para meu amor, ainda que seja um romance nada recíproco, poderia ouvir pelo telefone sua voz e respiração.

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Capitulo II Sophia Biorelly. Alguém pode me dizer de onde tiraram esse nome? Pegaram de um filme americano, pra parecer chique? Nós somos pobres, não temos nem uma renda fixa direito. Meu cabelo é negro e não loiro como a das tão famosas patricinhas. Nunca entendi direito essa história de ser filha única, parece que você tem o dobro de responsabilidades. Antes minha única preocupação era brincar no jardim, fazer a lição. Hoje parece que tudo mudou, lavar a louça, cuidar da casa e arrumar eu quarto virou meu esporte. Eu sempre fui a menina meiga do colégio, sempre tive responsabilidades de ser a menina mais inteligente, tudo por causa de uma maldita reputação que minha família insistia em criar. Isso nunca foi bom. Ter uma reputação a zelar não me deixa ser feliz. Hoje sendo uma mulher, vejo o quanto eu perdi na minha infância, o quanto podia ser feliz e não fiz, tudo por que tinha uma reputação a zelar. Minha mãe é louca pra que eu me case com Ronald, um menino aqui do bairro. Ele se diz o machão, fica com todas as garotas, mas, minha mãe não enxerga isso, pra ela ele é rico e isso que importa. Meu amor nunca foi o Ronald, aliás, eu tenho um amor de infância. Sabe aquele primeiro cara que você fica quando é criança? Então, eu não fiquei com esse cara! Mas mesmo assim, foi amor à primeira vista. Nunca entendi direito essa história de bater o olho na pessoa e se apaixonar, pra mim isso nunca existiu, até que aconteceu comigo e eu provei desse “veneno” chamado amor. Eu sempre fui uma menina quieta por que meus pais e a sociedade me exigiam isso. Meu limite era o jardim da minha casa, onde brincava na grama todos os dias, era ali o meu playground. Eu me divertia muito, afinal pra quem queria sair de casa, ir até o jardim dela, era sinônimo de liberdade. Tudo por que tinha sete anos. Ai você vai pensar, “mas que menina em, com sete anos já queria sair de casa pra brincar!”. O problema, é que todos os meus amigos, primas, brincavam com sete anos e eu era obrigada a ficar em casa, sozinha. Isso não é legal!

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Nunca gostei de bonecas, mas tinha muitas, muitas mesmo. Minha família fazia questão de me empurrar esse tipo de brinquedo, mas eu era aquela legítima criança, brincava uma semana e depois destroçava o brinquedo como um urubu que despedaça sua presa, sabe? Eu cresci, cresci muito. Hoje tenho um metro e oitenta de altura. Já estou pedindo a Deus que mande um cara alto, por que eu amo salto, e não seria capaz de andar sem salto. Um metro e noventa no mínimo, foi o meu pedido. Eu sempre estive de olho no bairro ao lado, onde todos são livres, brincam, se divertem e vivem. Eu só existo. Minha vida é parada, não posso fazer nada, por que tudo que eu fizer pode me condenar, justamente, porque desde criança criou-se uma imagem de mim. Apenas uma imagem, que não reflete nem um pouco o meu interior. Tudo que eu sonho pra mim, é um amor de verdade, aquele amor que nos aprisiona, que nos deixa cega de tanto amar. Mas pra isso, eu não quero um cara como o Ronald, eu quero um homem. Um homem que me queira e somente a mim. Que não olhe para as outras garotas, ou que ao olhar, diga a mim, que ela não são melhores que eu. Isso não é ser convencida, ou sei lá o que. Isso é simplesmente o desejo de qualquer garota. Da mesma forma, quero olhar para meu esposo e dizer que o amo tanto, ao ponto de qualquer homem, ser nada perto dele. Sabe qual a teoria de amor verdadeiro pra mim? É aquele amor que nos deixa extasiados, sabe? Aquele amor que nos prende, que não nos deixa mentir sobre nada, por que o simples fato de tê-lo já revela quem somos. Não nas nossas palavras, mas no nosso olhar. Eu amo amar. Sei lá, queria que meu futuro esposo fosse assim também. Tá bom, eu vou falar a verdade. Tem um motivo para que eu fique olhando sempre para o bairro ao lado. Lá mora um cara pelo qual eu tenho uma queda, ou melhor, um despenque. O nome dele é Mike, não, não é um nome de cachorro, ele é gente. Vamos falar a verdade, eu não sei de onde os pais dele tiraram esse nome. Desculpe-me se você se chama Mike, mas, a verdade é cruel

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né? Mike é lindo, ele é loiro de olhos verdes. Meu sonho sempre foi namora-lo, só tem um porém que impede minha mãe de deixar isso acontecer; ele é pobre. Sim, eu também acho isso uma besteira, pra mim amor não escolhe finanças, beleza, raça, cor, língua, sexo ou qualquer coisa que o valia. Pra mim amor é amor. Pra mim amar é ver o outro completar as qualidades que em você sobressaem. Por que pra mim amor não é aquele que te muda, mas sim, aquele que te completa.

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Capitulo III Desde criança eu quis namorar com a Sophia, mas a mãe dela nunca iria liberar por que eu não tenho renda superior a do Ronald. Na boa? A gente podia combinar e mandar dar um sumiço nesse Ronald né? Brincadeira. Não sou desse tipinho não. Pra mim as coisas tem que rolar na sua ordem natural. Quer dizer, não tão natural, às vezes um empurrãozinho não faz mal a ninguém não verdade? Numa tarde de sábado, eu resolvi dar um pulinho na casa da Sophia. Nessa época eu tinha nove anos. Quando eu digo, pulinho era pulo mesmo. O muro era alto tá? Pelo menos pro meu tamanho. Tudo bem que hoje eu sou alto, tenho um metro e noventa e dois, mas quando isso tudo aconteceu meu apelido era meio metro. Minha primeira reação foi subir no muro e começar a sussurrar o nome de minha amada, pra ver se ela viria. Às vezes acho que nosso romance foi meio Romeu e Julieta sabe? Ou não, afinal nem sei se isso foi um romance. Eu chamava, chamava, mas ela não aparecia. Ficava imaginando o porquê dela não vir. Será que a mãe dela a prendia? Foi ai que eu tive uma ideia brilhante, resolvi pular pro outro lado. É... Eu só não esperava por um companheiro me aguardando. Uma dica: Nunca, nunca mesmo, em hipótese alguma, entre na casa de sua amada, sem saber o que te espera do outro lado. Eu estava distraído, até que ouvi um barulho, e notei que não era meu estômago. Quando virei um rottweiler preto, lindo com dentes bem afiados. É pela primeira vez meu coração foi de zero a cem em meio segundo. Minha única reação foi correr, embora, minha mãe sempre tenha dito pra nunca correr de um animal que estava prestes a te atacar. Nessas horas você não pensa, apenas age. Graças a Deus, minhas pernas foram compridas o suficiente para me livrar de um feroz ataque. Bom, o cachorro latiu, latiu de novo, e nada de Sophia sair. Cheguei a pensar que ela não estava em casa. Agora que eu já conhecia o território ficaria mais fácil falar com ela.

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No dia seguinte, tive a mesma ideia, pular o muro e falar com a garota dos meus sonhos. Desta fui preparado. Peguei um pouco de carne que havia do freezer, algumas distrações para o pequeno grande animal que me esperava do outro lado. Então eu fui. Comecei a escalar o muro como um especial da CIA, que com cuidado vai até o terreno inimigo. Quando pulei, esperando um ataque e com todas as minhas armar a postas, nada aconteceu. Fiquei estupefato, afinal, onde está aquele animal tão grande, que perto de mim parecia um cavalo, me sentia num filme de ficção cientifica perto dele. Só sei que nenhum ataque me foi dado. Lógico desta vez meu coração ficou mais calmo, não iria querer me sentir como da ultima vez, com meu coração disparando de forma louca. Após tocar o chão com meus pés, meu único objetivo era entrar na casa, e falar com Sophia. Tudo isso era uma verdadeira aventura pra mim. Para qualquer outra pessoa pode parecer infantilidade, mas, eu já amava. E por amar, já tinha necessidade de me sentir amado. Foi ai que comecei a chamar por Sophia. Não tive nenhuma resposta novamente. Minha autoestima foi ao chão. A decepção de não conseguir falar com minha amada, me fez perder o tapete. Como um pássaro que tem suas asas cortadas. Não tive escolha a não ser ir embora. Como isso foi possível? Ela sempre se mostrou tão interessada em mim. Pareceu sempre, que teríamos um romance. Antes de saltar do muro, dei uma ultima olhada para a porta, e avistei aquilo que não queria. Ronald, ele era o culpado de minha amada não vir falar comigo. Ele a prendi, em sorrisos, talvez falando coisas que a agradavam mais do que eu. Dizem que quem ama deve deixar ir, por que se for verdadeiro volta não é verdade? Acredito que o que é verdadeiro não se vai. Onde está Sophia? A menina a qual me apaixonei? Meu mundo ruiu! Tudo que eu queria agora era o colo de minha mãe dizendo que tudo ficaria bem, dizendo que isso era normal e que ainda não passei por tudo que um homem passa. Resolvi ir pra casa. Saltei do muro, e correr era

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a única coisa que eu sabia fazer depois de ter meu sorriso retirado com um filho retirado de sua mãe. Entrei pela porta da minha casa, e minha senhora parecia já saber de tudo. De braços apertos e um grande sorriso no rosto ela me acolheu. Entrelacei-me em seus braços, e chorei. Chorei muito. Com suas doces palavras ela me acalmava, tentava me fazer esquecer tudo que tinha acontecido, dizia que ainda passaria por muita coisa. Não conseguia acreditar que Sophia havia me trocado por um cara rude, que eu tinha certeza que não fazia seu tipo. Nove anos, e minha primeira decepção. A partir daquele momento eu via que crescer não era tão legal assim o quanto eu pensava. Estava entrando na adolescência. Começava a adquirir maturidade, a conhecer o mundo em que vivo, a sair da caixa de sapato a qual sempre fui criado. Como pode? Amar e desamar; funciona assim? Hoje você ama, amanha não mais. Eu sempre pensei que pra esquecer alguém se levava tempo. Pelo menos era isso que minha mãe sempre disse, que quando se ama de verdade, não se esquece tão fácil. Eu já começava a duvidar. Meu coração já começava a endurecer e virar pedra. Nesse momento jurei a mim mesmo que não me apaixonaria de novo, e que não me deixaria levar por nenhuma outra garota. Faria com elas tudo que Sophia fez comigo. Meu único objetivo a partir dali era viver conforme Ronald vivia. Livre, pegador. Afinal, parece que as garotas não se importam com homens sensíveis, que amam acima de tudo, e que tudo que sabem fazer é amar. A ira tomou conta do meu coração, minha mãe a partir daquele momento já ficou meio encabulada, pois nunca me viu daquele jeito. Meus olhos se enchiam de lágrima ao passo de que mais vermelhos ficavam. Meus dentes superiores roçavam nos inferiores como um animal que ao não conseguir sua presa fica desorientado. Minha mãe pedia para que eu me acalmasse. Mas, não conseguia, eu amava Sophia, e ver o homem pelo qual fui trocado me indignou. Como ela teve coragem? Como ela pode me trocar por Ronald? Logo Ronald.

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Não, minha vida, não tinha mais sentido, a partir dali, tudo mudou. Com nove anos deixei de ser o Mike sensível, e me tornei um novo Mike, agora sim, imutável. Agora sim, minha opinião é a que conta, e os outros? São só os outros.

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Capitulo IV Eu sempre amei Mike. Sempre esperei que ele viesse pedir minha mão, para minha mãe. Lógico, nessa idade minha mãe não tinha nem que deixar, já sou de maior, mando na minha vida. Desde criança amei Mike. Quando eu tinha sete anos, tive a impressão de que Mike tentou invadir minha casa. Mas toda vez que eu ia olhar, pra ver se ele estava lá, não era nada. Pelo menos acredito que não. Quando meu cão guarda latia, logo pensava que era Mike tentando entrar em minha casa só pra me ver. De novo me enganava Acho que Mike não teria coragem de vir até minha casa. Não encararia minha mãe, quiçá meu pai. Acho que Mike era medroso demais para isso. Como eu queria que Mike tivesse coragem de apertar a campainha da minha casa, e pedir para falar com minha mãe na época em que éramos crianças. Lembro-me bem, de um dia em que estava pensando nele, pensando no nosso futuro, até que meu cachorro começou a latir lá nos fundos de minha casa, próximo ao jardim. Corri desesperadamente pra ver quem era, louca para que fosse Mike. Quando olhei, não era nada. Meu cachorro estava louco eu acho, ou, deveria ter sido só um gato. Minha mãe logo veio, e pediu para que eu tomasse cuidado, afinal existiam muitos ladrões aqui perto da minha casa, e isso poderia ser perigoso. Mas nada me importava, ver Mike era meu único desejo. Eu mesmo me espantava. Afinal, uma garota de sete anos já estar amando. Como pode? Acho que o amor não escolhe idade, ele simplesmente acontece. Como um espinha que nasce na adolescência, você não espera um dia marcado para que ela venha, ela simplesmente aparece. E geralmente naquela hora nada propícia. Mas muitas vezes é ela que nos aproxima de novos amigos, afinal nunca vi tanta gente caçoar de uma bolha em sua cara. É dali que começam as brincadeiras. Da mesma forma é o amor, vem do nada, e toma seu coração por que se torna importante, ao ponto de te unir a uma segunda pessoa.

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Nunca tive muitos amigos, muitos deles não se aproximavam de mim, por que achavam que não podiam. Tudo por que minha mãe dizia que para ser meu amigo, ou amiga, tinham que ser ricos, ter bens materiais. Nunca quis nada disso. Aliás, acho que uma pessoa sem amigos, não tem vida, ela simplesmente não existe. Aquele dia passou, eu continuei esperando por Mike. A campainha tocou, sai correndo para ver quem era, só que para minha surpresa, não era meu amor, e sim Ronald. Será que esse garoto ainda não percebeu que não quero nada com ele? Ele fazia questão de vir falar comigo, de tentar algo. Ele até que tinha umas piadas engraçadas. Eu ria com ele. Mas não é alguém que eu quero pra minha vida. Ele chegou na minha casa como quem não quer nada. Sentamos no sofá e conversamos durante uma tarde inteira. Eu já não tinha mais assunto, e minha vontade era manda-lo embora, afinal, criança é sincera. Mas, quando eu ia fazer isso, minha mãe olhava pra mim como quem iria me devorar com os olhos. Aí, eu mudava de ideia rapidamente. Sentamos próximo ao jardim, e começamos a conversar sobre a vida de Ronald. Como se isso fosse de meu interesse. Não, nunca me interessei por um segundo, sobre a vida desse garoto. Não sei o que minha mãe via nele. O que minha mãe queria, me ver feliz ou infeliz? Esse garoto é aquele legítimo vagabundo. Que vai crescer a mulher vai virar escrava. Ainda que minha mãe quisesse, eu não ia me casar com ele, quiçá namorar. Eu não gosto dele, alias eu não sinto nada por ele, nem carinho. Não sei mesmo o que ainda fiquei fazendo com ele próximo ao jardim. Depois de minutos já não aguentava mais a sua voz. Por alguns momentos me desconcentrava e minha mente se voltava para Mike. Meu verdadeiro amor. Por que Mike não possuía a mesma coragem de Ronald? Sempre sonhei com um amor louco, sei lá, tipo Romeu e Julieta sabe? Mas acho que Mike era fraco de mais, pra tentar algo.

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Como eu queria que Mike acordasse pra vida, visse que eu o amava acima de qualquer coisa. Eu tinha sete anos, Mike nove, mas e daí? Idade importa só no momento de namorar eu acho, mas de amar, amor não escolhe idade. Eu e Mike sempre fomos amigos, não tão amigos, quase nada. Mas e daí. Dizem que amor que nasce de uma amizade, é o amor mais verdadeiro que existe. Onde está ele agora? O fato de eu estar rindo com Ronald, não significa que estou feliz com as palavras dele, muito pelo contrário, eu queria expulsá-lo daqui. O fato de eu estar rindo, é simplesmente por pensar em Mike. Finalmente Ronald foi embora. Minha primeira reação após isso foi ir até o jardim, meu ponto de descanso e de liberdade. Ao andar encontrei uma foto. Uma foto três por quatro. De um menino, que não se parecia com ninguém que eu conhecia. Quem será aquele garoto? Por um momento meu coração disparou, como se já o conhecesse a tempo. Será que isso é amor de verdade? Será que tudo que eu sentia por Mike era apenas paixão? O que está acontecendo comigo? Um amor de verdade brotou em meu coração, algo que nunca havia sentido antes. Tudo mudou tudo que eu acreditava simplesmente desmoronou. Meu mundo trocou de figura. O álbum da minha vida passou a ter outra capa. Rasguei algumas páginas. Mas não queimei, o que não as impede de voltar pra minha vida como um quebra-cabeça.

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Capitulo V Agora, com quinze anos e morando a quatro quadras de Sophia, procuro seguir minha vida, parece que tudo perdeu o sentido desde o momento em que fui rejeitado pelo amor da minha vida. Fiquei sem chão. Conheci uma garota, o nome dela é Júlia, ela é linda, mas não chega aos pés de Sophia, por mais que eu tente, parece que Sophia me persegue, parece que ela está em cada atitude que tome, em cada passo que eu dê. Alguns amigos me disseram que isso é amor, que ela já tomou conta do meu coração, me deixando totalmente dependente de sua presença. Eu não consigo mais esquecê-la. Como posso eu, conviver com esse amor que não é recíproco. Já faz alguns anos que não nos falamos, e acho até que ela já está namorando, se duvidar já deve até estar com Ronald. Provavelmente ela já deve ter me esquecido, eu devo ter virado apenas mais um na multidão. Apenas mais um indivíduo que pra ela é indiferente. A Júlia faz tudo que eu peço, é uma garota inteiramente prestativa, mas, eu não quero alguém prestativa, eu quero alguém que mexa comigo, alguém que faça do meu mundo, uma montanha russa. Sem medo de arriscar, sem medo de me arrepender, simplesmente, sem medo de nada. A Júlia estuda comigo no ensino médio, no mesmo colégio. Ganhei uma bolsa num colégio particular, estou no primeiro ano do segundo grau. Sou um aluno dedicado, mas não aceito tantas opiniões como antes. Sei lá, parece que perder a Sophia só me fez ficar mais frio, ficar mais rude. Não é tudo que me convence. Passaram-se quase seis anos, ela deve estar com treze anos. Nem deve ter terminado o ensino fundamental. Embora, Sophia tivesse uma mentalidade e uma maturidade muito grande, muito ampla. Acho que foi isso que me fez amar Sophia. Alguns amigos dizem pra eu não continuar o namoro com a Júlia, dizem que estou enganando a ela, e a mim mesmo. Mas eu tenho uma necessidade de não ficar só, de não sofrer sozinho, como se tudo que acontece na minha vida fosse me isolar do resto do mundo, ainda que eu

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saiba que não é assim. Perder a Sophia me mudou de uma forma assustadoramente louca. Eu perdi muitos entes queridos durante todo esse tempo. Ganhei amigos, perdi amigos, hoje já não sei se as amizades perduram por muito tempo. Parece que o mundo é migratório, um trem, onde as pessoas entram e saem da sua vida, quando acham necessário. Às vezes acho que foi isso que aconteceu comigo e com Sophia. Ainda me lembro de quando fui a casa dela. Lembro-me da ultima imagem que vi. Enquanto eu estava ali tentando conquista-la, Ronald, a fazia rir com suas piadas. Mas, a vida me ensinou que devemos seguir enfrente, esquecer tudo que passou e viver a vida de acordo com o que nos convém. Sem arrependimentos, acho que é por isso que eu não deixo a Júlia. Querendo ou não, eu me apeguei a Júlia, sinto necessidade de estar perto dela, e sinto que juntos formamos um casal muito legal. Embora, o verdadeiro sentimento de amar, eu só sinta mesmo pela Sophia. Júlia me pediu para comprar pra ela, uma camisa, a qual ela havia visto e gostado numa loja aqui perto, que vende roupas e artefatos femininos. Chegando na frente da loja, que por fora era completamente rosa, ao ponto de me deixar quase cego, e louco, afinal nunca tinha visto tanto rosa na minha frente; fui tomado por uma vergonha inexplicável. Entrar ou não entrar? Se algum amigo meu visse, logo já surgiriam boatos, e não sei se acreditariam que eu fui até a loja para comprar algo pra minha namorada. Homem é uma coisa triste, quando a vergonha toma conta dele, pronto. É motivo para que ele pare tudo que está fazendo, para mudar seu rumo, sua história, como se a vergonha fosse algo bom, e não é. Ao pensar nisso, entrei na loja. Comecei primeiro a verificar as roupas, afinal, eu poderia achar algo a mais pra levar para Júlia. Ela merece, está ao tempo todo ao meu lado, me ouve, me compreende, acho que ninguém faria isso melhor. Júlia sabe tudo sobre mim e sobre minha vida, é minha confidente e amiga, antes claro, de ser minha namorada.

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Como vocês bem sabem, sempre achei que um amor que surge de uma amizade, é o amor mais sincero que existe, por que um amigo de verdade, é aquele que sabe tudo ao seu respeito, tudo de ruim, de bom, e ainda assim, ele tem a capacidade de te amar como ninguém amaria. A Júlia é tipo isso, eu sinto que ela me ama, que ela me aconselha da forma certa, eu sinto que a Júlia é a garota que eu sempre quis. Mas, só sinto, por que na minha mente e no meu coração, o único sentimento que carrego é o de saudade. Em momento algum eu consigo parar de falar da garota que mudou por completo a minha vida.

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Capitulo VI Treze anos. Nossa, quanto tempo se passou. E minha mãe ainda não tirou da cabeça a ideia de que eu tenho de namorar com Ronald. O garoto não sai mais daqui de casa, ele está com dezesseis anos, é três anos mais velho do que eu. Não é que ele seja uma pessoa ruim, não. Ele simplesmente, não faz meu tipo. Nesses quase seis anos, eu passei procurando o cara da foto, o garoto da foto. Não sei, eu sinto que ainda vou encontrar com ele, um dia ainda quero mostrar ao meu primeiro amor, o objeto que fez eu me apaixonar. Eu sei que isso parece impossível, mas eu acho que nada é impossível pro amor. Estou terminando a sétima série do ensino fundamental. Minha mentalidade não é como a das outras garotas. Acho que o fato de eu ter vivido uma história louca de amor desde jovem, só me prende ainda mais ao meu passado, e me organiza pro meu futuro. A verdade é que ainda sonho com esse amor. Sonho com o dia em que verei meus filhos correndo pela casa, chamando por mim e pelo pai. Brincando no parque, indo a escola. Sonho com o dia em tudo voltará a ser como minha infância. Ela não era lá essas coisas, mas, era melhor do que hoje. Agora vivo presa, por que não sei que atitude tomar. Não sei se largo tudo, não sei se desisto de viver um amor, não sei se espero. Eu pedi a minha mãe que me levasse a uma loja aqui perto da minha casa. Uma loja de roupas femininas. Essa loja também vende uns adereços legais pra mulher. Queria dar uma renovada no meu guardaroupa, afinal já vou fazer quatorze anos tenho que me vestir bem. Ela topou me levar, entramos no carro e então partimos pra loja. Não é que eu seja patricinha, mas, aquela fachada era completamente hipnótica. Toda rosa, e um letreiro totalmente chamativo que parecia nos arrastar para o estabelecimento. Assim que entrei, logo veio uma das atendentes perguntar se eu estava procurando algo em específico. Disse que estava em busca de uma blusa, de uma camisa, e se possível de uma calça nova.

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Ela não excitou em me mostrar peça por peça. Acho que vi umas vinte camisetas, umas quinze blusas e somando tudo, acho que dava o número de calças que passaram pelos meus olhares. Eu fiquei louca com tanta roupa na minha frente. Minha mãe lógico, dizia que não tínhamos muito dinheiro e que eu tinha que escolher as peças cautelosamente, para não me arrepender, por que ela não viria trocar, e não possuía dinheiro para comprar outras peças. Assim que virei, algo me chamou atenção. Uma calça com um diamante no bolso. Era aquela, aquela era a calça que eu queria. A vendedora disse que eu podia pegá-la para experimentar, como não sou boba nem nada, logo fui. Meti meus cincos dedos na calça, assim que tirei a calça da arara de roupas, avistei um boné. Esse boné não me era desconhecido. Um garoto muito familiar. Quando ele virou, era Mike. Não sei por que, nem como, mas novamente meu coração disparou, meus batimentos triplicaram de velocidade, enquanto olhava para Mike, sentia que o cabide escorregava de minhas mãos, como a água que escorre por entre os dedos. Um desmaio foi o que me restou. Assim que acordei, vi minha mãe junto com a vendedora e metade dos clientes que estavam na loja, vindo me acudir. Procurei pelo garoto assim que abri os olhos, mas ele já não estava mais lá. Havia sumido. Será que fora só uma visão, uma lembrança? Não é possível que tenha sido apenas isso, parecia tão real. Mike estava ali, eu tenho certeza que estava não posso estar ficando louca, não com treze anos. Minha mãe perguntava se eu estava bem, a minha única reação era fazer um sinal positivo com as mãos, pois estava com meu pensamento longe. Naquele momento nada mais importava, a não ser, encontrar com Mike. Uma certeza pelo menos me resta, ele mora próximo da minha casa. As chances de nos encontrarmos novamente é muito grande. E pra ser sincera, tudo que eu mais queria agora, era um abraço dele, dizendo que nunca me esqueceu, e que ainda me ama, ao ponto de chegar para

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minha famĂ­lia e pedir minha mĂŁo em namoro. Ainda que novos, tenho certeza de que minha mĂŁe, junto com meu pai, pensaria muito antes de me negar isso, depois do incidente.

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Capitulo VII Dezessete anos. Estou terminando a terceira série do ensino médio, eu e Júlia ainda estamos namorando, estou cada vais mais envolvido nesse relacionamento. Como sempre disse, Júlia é uma menina meiga, e que com certeza pode me fazer feliz. Sabe, tenho a impressão de que minha história vai mudar, não sei porque, mas, ainda não estou completamente satisfeito com minha vida, sou um garoto muito indeciso, não sou completamente aberto a mudanças, mas, quando mudo é pra valer. Sei que Júlia me ama, sei que sou feliz ao lado dela, mas não posso continuar a enganá-la. Eu amo Sophia, e me ensinaram que devo lutar por meus sonhos, que devo seguir em frente e buscar ser feliz, ainda que eu não acredite que isso seja possível, por que a essa altura ela já deve estar namorando um cara, forte, lindo. Eu só queria ter respostas, saber onde está Júlia nesse momento, queria falar com ela, sorrir para ela. A ultima que a vi, foi numa loja feminina, quando fui comprar um presente pra Júlia. Naquele tempo eu não queria vê-la, então quando ela percebeu minha presença, e acho que desmaiou, eu sai da loja numa velocidade impressionante. Cheguei em casa e Júlia perguntou o que eu tinha porque eu estava pálido, e onde estava a camisa que ela havia me pedido, eu falei estava em falta e fui direto pra minha casa. Naquele dia, não quis ver ninguém. Não quis olhar no olho de nenhuma mulher, por que cada pupila que eu encarava refletia a imagem de Sophia me olhando. Não sei o por que. Queria entender o por que de eu ainda amá-la, depois de tudo que ela fez pra mim, queria saber o por que não consigo esquecê-la. Não é possível que alguém goste tanto assim de sofrer. Eu não posso gostar tanto assim de sofrer. Chegando em casa, minha mãe ficou me perguntando o que havia acontecido, e nada de eu falar, acho que ninguém precisa saber, afinal quem me garante que vou encontra-la novamente, depois disso tudo,

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acho até meio impossível nos vermos novamente. Aliás, acho que nem quero que isso aconteça. Meu maior medo é que Sophia seja meu ponto fraco e eu não consiga deixa-la, que Sophia me prenda com olhares, e que eu acabe traindo Júlia. Não isso que eu quero, embora eu saiba, que estar com Júlia, amando Sophia já é uma espécie de traição. Eu que sempre me disse diferente dos outros, pareço estar me tornando igual a eles. Mas não sei se Júlia entenderia, não sei se ela conseguiria raciocinar ao ponto de compreender que estou com ela, por que gosto, mas que não a amo. Acho que ela terminaria comigo, o que é justo, afinal, ela tem todo direito. Alguma pessoas disseram, para que eu deixe a Júlia ir, e correr atrás do sonho de namorar com Sophia, por que agora somos grandes o suficiente para assumir um relacionamento. Mas eu duvido muito que a mãe dela deixaria. Sim, isso ainda me atormenta, afinal uma menina linda, rica, namorando um pobretão e feio como eu. Não sei porque, mas cada vez mais, acho que é difícil conquistar uma sogra. Passaram-se alguns anos, hoje estou com vinte e Sophia com dezoito anos. Nós dois somos responsáveis pela nossa vida. De tanto os outros falarem que eu estava errado, e que deveria correr atrás do meu amor, eu larguei Júlia. Tentei ser amigo, por que acredito que duas pessoas podem sim ser amigas depois de um relacionamento, mas parece que ela não acredita nisso. Na primeira chance resolveu desaparecer, a única coisa que sei é que ela parece ter viajado para a casa de sua família no estado vizinho. Comecei a tentar descobrir onde Sophia mora, onde vive, se é aqui perto do meu bairro, como desconfio. Uma duvida ainda me persegue. O fato de ela estar ou não namorando. Já coloquei algo na minha cabeça, a primeira coisa que vou olhar é a mão direita de Sophia. Aqui no bairro temos a mania de dar um anel de compromisso para selar essa relação,

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então, se ela estiver usando um, ela está namorando, e a tristeza deve tomar conta do meu coração, de modo que fique totalmente cabisbaixo. Amo Sophia, será que ela ainda me ama?

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Capitulo VIII Nossa, dezoito anos. Graças a Deus, hoje eu mando completamente na minha vida. Minha mãe não tem mais que me impedir de alguma coisa. Pelo menos é isso que acredito. Acho que agora seria a hora exata de Mike vir pedir minha mão para minha mãe. Ela ficaria meio em choque, mas duvido muito que não liberaria. Resolvi sair de casa pra passear, dar uma volta. Depois de comemorar meu aniversário o que me resta é me divertir. Tem um boliche aqui perto de casa, fui direto jogar e me distrair um pouco. Eu não curto muito jogos, mas como minha cabeça estava cheia, resolvi fazer a primeira coisa que me desse na telha. Quando estava chegando perto do local, avistei um cara, um homem, alto, loiro. Não sei por que mas meu coração disparou. A foto, resolvi olhar a foto que achei quando tinha sete anos. Ao olhar, uma decepção, não era ele. O cara da foto era moreno. Não tinha como ser ele. Quando me virei, ouvi meu nome ser entoado. -Sophia. Disse o homem, loiro que fez meu coração disparar. Me virei rapidamente, quando olhei, logo reconheci, era Mike, meu amor de infância. Fui em direção a ele, conversamos, e começamos a falar sobre nossa infância. Chegamos à parte em que nos gostávamos, ou melhor, em que nos gostamos. Os dois ficaram vermelhos, vermelhos da cor de um morango. Não sabia pra onde olhar, só não conseguia olhar nos olhos dele. Minha vontade era beijá-lo, mas não podia, por que se o fizesse poderia me precipitar. Vai que ele estivesse namorando. Não sou uma menina que busca encrencas. Disse a ele que teria de ir embora por que minha família estava a minha espera. Essas horas, eu nem pensava em jogar boliche, queria sair dali antes que tomasse alguma atitude que me fizesse eu me arrepender depois. Quando dei as costas a Mike, senti uma mão em meu braço, que me puxava com certeza força. Mike me virou colocou sua outra mão em

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minha nuca, e n達o pude resistir, um beijo ardente em frente ao boliche foi a sequencia desse encontro inesperado. Foi incr鱈vel e marcante. Mike me fez sentir algo que n達o sentia a muito tempo, afinal, n達o namorava a um bom tempo.

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Capitulo IX Não sei se fiz errado. Mas segurá-la pelo braço e beija-la foi minha única reação ao notar que ela não usava um anel de compromisso. Isso dizia que ela estava livre, desimpedida. Depois que o beijo terminou, nos olhamos por alguns segundos, eu envergonhado me virei e sai. Fui direto pra minha casa, deitei em minha cama, e fiquei pensando no que acabara de acontecer. Como posso ter feito isso. Naquele momento fui tomado por uma coragem inexplicável. Minha única ideia era ir até a casa de Sophia e pedir para namorar com ela, embora, eu soubesse e estivesse consciente de que a mãe dela poderia não deixar, e até me expulsar da casa a base de vassoura. Nada importava, a única coisa que eu queria era estar junto com minha amada. A única coisa que eu queria era viver esse romance, essa história de amor. Não ligava para as dificuldades que poderíamos enfrentar. Faríamos isso junto. Eu sempre amei Sophia, e depois desse beijo não poderia deixa-la partir, assim, sem fazer nada. Resolvi adiantar as coisas de forma brusca. Fui até uma joalheria, comprei um par de anéis de compromisso, lindos, e comecei a procurar por Sophia. Encontrei a casa dela, uma campainha e um portão me separavam de minha amada. Criei coragem e apertei. Um barulho soou dentro da casa de Sophia, quando vi a maçaneta do portão girar, meu coração começou a acelerar. Quando o portão abriu por completo, era a mãe de Sophia. Ela me olhava como se me conhecesse. Como se eu não fosse estranho para ela. E acho que não era mesmo. Com uma cara nada receptiva ela perguntou qual era meu objetivo indo até ali. Eu logo falei que queria falar com Sophia. Ela alegou que Sophia não estava. Ao terminar de ditar as palavras, Sophia aparece rapidamente. Nosso olhares se cruzaram e como na

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primeira vez que nos apaixonamos, meu coração foi de novo de zero a cem em um segundo. Eu sempre amei Sophia e agora estava a um passo de pedir a mão de minha amada, em namoro, e ter um relacionamento sério com ela. A mãe dela, pedia para que ela entrasse, ela não escutava a mãe. Olhando para sua mãe, Sophia pediu para que eu entrasse. Fiquei meio ressabiado, afinal não queria causar desentendimentos entre a família de minha futura namorada. Depois de entrar, fomos até a sala da casa de Sophia. Começamos a conversar, e fomos até altas horas, até que percebi que já era tarde, e que tinha de voltar para minha casa. Mas eu tinha um objetivo, e não poderia sair dali sem cumprir com ele. Olhei para Sophia, olhei para a mãe dela, e pedi para conversar com elas, seriamente. A mãe de Sophia desconfiada, olhou diretamente para minha mão, pois estava segurando uma caixa preta, onde dentro estavam os anéis. Sophia ao contrário de sua mãe mostrava-se alegre, e mostrava no rosto um sorriso que transparecia sua alegria. Cordialmente perguntei a mãe de Sophia se ela se importava de eu namorar com sua filha. Sophia cada vez mais sorridente, convicta de sua resposta, se assusta com a resposta de sua mãe, que nega de forma seca, e fria, o meu pedido. Minha cara foi ao chão, a dor que senti em meu peito foi a mesma de alguém que é pisoteado por cavalos furiosos. Não sabia mais o que fazer. Naquele momento em meus olhos, lagrimas de decepção, lagrimas de quem lutou e morreu na praia. Sophia me olhava, como quem pedia desculpas com o olhar. Depois de tento lutar eu e Sophia fomos proibidos de viver esse amor. Mas vivemos no Brasil, um país livre, Sophia já tem dezoito anos, eu vinte, por que não podemos viver esse romance. Estamos em pleno século XXI. Não é possível que a mãe de Sophia queira nos impedir.

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Sophia tentou conversar com sua mãe, pediu para que eu esperasse. Nesse momento meu coração começava a disparar. Chamei Sophia, pedi para que ela não se desentendesse com sua mãe, afinal não era esse meu objetivo. Então, disse a ela que iria embora, e que voltaríamos a conversar. Peguei seu número telefônico para que conversássemos. Com lágrimas nos olhos me despedi de Sophia. Um beijo na testa como sinal de carinho, foi o que nos restou.

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Capitulo X Não consigo acreditar que minha mãe havia feito isso. Ela havia me tirando um pedaço de meu coração. Eu amo Mike, ela não pode fazer isso comigo. Quando disse a ela que havia errado comigo, ela me mandou diretamente pro quarto, e em voz alta dizia que eu nunca namoraria com aquele rapaz, disse que ele só veio pra causar desentendimento na nossa família. Eu contrariando dizia, que o amava, e que viveria esse amor, por que nada, nem ninguém iria me impedir de ficar junto com Mike. Fui para meu quarto, fechei a porta, e o choro foi o que me restou. Olhei pela janela, e lá estava Mike, que em prantos deixava minha casa. Não pode ser real. Minha mãe me fazendo sofrer. Aquela noite se foi, eu mal preguei os olhos. No amanhecer, uma batida em minha porta, era minha mãe, pedindo para que eu a deixasse entrar. Ela sentou-se sobre minha cama, e pediu para conversar comigo, eu deixei claro. A única coisa que saia de sua boca, era que ela queria o melhor pra mim. Ela dizia que Mike não era um rapaz bem sucedido e que uma menina como eu, de nome, não poderia namorar com um homem como Mike. Eu tentava explicar a ela, que o amor não escolhe status social, ou idade, amor é amor. Ele escolhe o coração de dois indivíduos, e ele escolheu o meu e o daquele homem como minha mãe costuma falar suburbano. Não importa, é ele que quero como meu marido, é com ele que quero casar, ter filhos, viver uma vida. Naquele momento, já não tinha mais meu pai, e a decisão que inferia na minha vida, era a de minha mãe, mas ela não pode ser tão rude ao ponto de me prender esse amor.

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Em cada palavra de negação que saia da boca dela, era a quantidade de lágrimas que eu derramava por não poder estar junto do meu amado. Minha mãe via minha tristeza, tentava me consolar dizendo que, viria alguém melhor. Mas eu não queria alguém melhor, esse é o problema sabe? Eu quero Mike. Agora sim, parece que nossa história virou um livro. Parece que tudo que vivemos virou uma loucura, algo impossível. Embora parecesse, eu faria de tudo pra conseguir estar com Mike. Eu quero esse homem pra minha vida. Desde aquele beijo que trocamos em frente ao boliche, não consigo tirá-lo da minha mente. Minha mãe perguntava o que eu havia visto em Mike. A única coisa que eu respondia a ela, é que nada vi, apenas senti, e é por isso que o quero como meu parceiro. Minha mãe, já nervosa de tanto negar e eu tanto insistir, levantouse e disse que eu nunca namoraria com Mike, nesta hora o sangue me subiu a cabeça, foi quando ameacei sair de casa, morar sozinha. Minha mãe ficou sem reação, e acabara de ver a besteira que falei. Mas já estava decidida, ou minha mãe deixava eu namorar com Mike, ou eu saia de casa. Ela, dizia que tudo bem por ela, só que se eu saísse de casa para viver esse amor, eu não precisava aparecer nunca mais. Por que eu estaria traindo o nome da família, e desonrando o nome dela. Eu sei que devo honrar pai e mãe, obedece-los, mas embora minha mãe tivesse dito pra eu não viver esse amor, eu queria. Meu coração enchia de alegria cada vez que via Mike. Não posso deixar de ama-lo de uma hora para outra. Também não posso deixar esse romance acabar assim. Eu decidi. Vou sair de casa. Vou viver esse romance. Vou ser feliz como sempre quis ser, sem ligar em momento algum para uma reputação. Reputação a zelar, nunca nos deixa ser completamente feliz. Então, não quero mais ter uma reputação de menina boa, sempre certa. Eu erro poxa, eu vivo, sou humana, não sou perfeita.

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As pessoas tem de entender isso. E elas vão entender quando eu começar a viver esse romance. Eu amor Mike, e vou investir nisso. Está na hora de largar da saia de minha mãe, sair da caixa de sapato onde fui criada, e ver que existe um mundo lá fora, existem problemas, existem dificuldades, e que se eu quiser vencê-las eu terei de aprender caindo. Não dá pra aprender simplesmente olhando, por que só olhar o problemas dos outros é fácil, você nunca sabe ao certo o que a pessoa está passando. Mas eu vou, aprender do jeito certo. Fiz minha malas, me despedi de minha mãe, chorando. Mas fui.

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Capitulo XI Nesta tarde estava na cozinha, quando a campainha toca. Será mesmo? Será que minha amada resolveu viver essa loucura? Não podia acreditar, não podia ser verdade, que tudo que eu sonhei agora se tornou realidade. Excitei um pouco em abrir a porta, com medo de algo que nem eu mesmo sabia o que era. Mas vi que esse medo era algo desprezível, então fui. Coloquei a mão na maçaneta e uma alegria imensa tomou meu coração, como se já soubesse que quem estava do outro lado era meu amor. Ao abrir a porta, lágrimas correram dos meus olhos, e entre olhares dois sorrisos brotaram em nossos rostos, como se aquele momento fosse tão esperado, e tivesse acontecido da maneira a qual sempre sonhamos. Simplesmente a abracei como quem abraça um desejo, um pedido, um momento, como quem abraça algo que espera a muito tempo. Minha amada estava ali, eu tocava em sua face como se não acreditasse, meu coração pulava de alegria e eu tentava acreditar que tudo aquilo não passava de uma miragem, ao passo de que eu sabia muito bem que não era e que aquele momento, era real. Um beijo selou aquele fato histórico. Fechando a porta nos dirigimos para o quarto onde depositei juntos as minhas roupas, todas as peças de minha amada. Cada roupa que desdobrávamos era como uma chave de liberdade. Embora eu estivesse feliz, algo me incomodava. Minha amada havia saído de casa sem a permissão de sua mãe. Ao mesmo tempo em que ela deixava um coração alegre, entristecia grandiosamente o coração de sua família. Eu não podia deixar isso tudo assim. Estava entre viver com minha amada sob a negação de sua família ou conversar com ela, e convencê-la a voltar pra casa e viver esse amor corretamente.

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Sem que minha amada soubesse fui até a casa de sua mãe, para conversar com ela. Ao chegar no portão fui barrado pelos seguranças, que me proibiram a entrada, me isolando do lado de fora da casa. Gritei pro dona Eva, mãe de Sophia. Ela fingia não me ouvir, mas, eu sabia que ela estava escutando meu chamado, e que não vinha pelo simples fato de não aceitar meu namoro com sua filha. Percebi então, que de maneira alguma os seguranças permitiriam que eu entrasse na casa, então, foi ai que resolvi repetir a façanha que um dia eu tentei realizar na casa de Sophia. O muro. Bom agora eu estava maior, a probabilidade de eu me machucar era quase nula, e as chances de um cachorro estar me esperando do outro lado, era mínima, afinal eu tinha quase certeza que Sophia não possuía nenhuma animal de estimação. Resolvi, e fui. Lá de cima tudo me era visível, desde a casa de dona Eva, até a casa do vizinho. O muro era maior do que eu pensava, eu nem conseguia acreditar que tinha acabado de escalá-lo. Mas eu consegui, o próximo passo era pular e então falar com minha futura sogra, afinal, ainda que ela não quisesse isso, ela era minha sogra. Ao ver que o território estava seguro, pulei. Senti algo muito profundo, algo que mexia na minha alma, e no meu corpo. Notei então que acabara de machucar meu tornozelo. Não podia desistir, agora já estava ali, e não conseguiria voltar pelo muro. Fui rezando do muro até a casa para que não houvesse nenhum cão. Graças a Deus não havia. Dona Eva, estava na cozinha, e não queria nem ouvir meu nome. Mas eu amava pronunciar o dela. Então chamei. Maldita hora em que estava com as mãos na janela. Ela fechou com tudo, e agora a dor foi duplicada. Não podia gritar, afinal se gritasse os seguranças perceberiam minha presença e logo viriam, e essa não era minha intenção. Pedi a minha sogra que conversássemos como gente civilizada. Ela me olhou como quem quisesse me matar, mas não pudesse, porém, me deixou entrar.

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Sentamos no sofá e começamos a conversar. Contei a ela que meu intuito, não era em hipótese alguma, lhe tirar a filha, ou fazer com que ela se voltasse contra a mãe. Tudo que eu queria era viver esse amor, se feliz, como sempre sonhei ser ao lado de Sophia, porém, nada que eu dizia parecia entrar no coração frio de Eva. Eu tentava de todas as formas convencê-la de que queria o bem para sua filha, e que eu não era tudo aquilo que ela julgava que eu fosse. Embora eu parecesse um rapaz louco, eu era são, embora parecesse um rapaz sem juízo eu era muito ajuizado. E além de tudo, ainda falava sobre meu amor por Sophia. Eu estava disposto a sacrificar tudo pelo amor de Sophia. Eu deixava claro que faria qualquer coisa pelo bem de Sophia. Nesse momento dona Eva, me olhou como que se tivesse uma ideia, porém, era algo desagradável, pois seu olhar era como de uma naja prestes a soltar seu veneno, um olhar hipnótico que prendia nossa alma. Ela me olhava como se soubesse de algo. Ela perguntou a mim, se realmente eu estava disposto a fazer qualquer coisa pelo bem de Sophia, eu não me contrariei em nenhum momento e logo afirmei com a cabeça. Ela sorriu venenosamente. Ela disse a mim, que tinha algo que eu podia fazer para o bem de Sophia. Eu logo perguntei o que era esse algo. Ela então não demorou em contar que Sophia queria ser rica, e que seu maior sonho era casar-se com um homem rico, e ser dona de vários estabelecimentos e casas. Eu sabia que não podia dar essas condições a Sophia, não tinha tanto dinheiro, não possuía tanto poder monetário. Meu coração começava a se entristecer naquele momento. Dona Eva, sabia que eu não tinha todo esse dinheiro. Então, ela fez com que eu tivesse. Disse que me daria todo esse dinheiro, e que como Sophia existiam outras garotas no mundo que dariam tudo por dinheiro, para serem ricas. Ela me ofereceu um valor irrecusável. Mas eu amava Sophia, e nenhum dinheiro do mundo poderia me tirar esse amor, eu faria de tudo pra ver Sophia sorrir.

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Ao passo de que dizia isso a ela, era contrariado, onde ela afirmava que Sophia queria ser rica, e que eu não poderia realizar esse sonho. Que sempre iria faltar algo, eu não conseguiria em momento algum, fazer Sophia completamente feliz. Ela assinou o cheque e o pôs em minha direção. Minhas mãos tremulas seguraram o pedaço de papel, que era mais valioso do que tudo que eu possuía. Eu não podia trair o amor de Sophia, mas ao mesmo tempo não poderia vê-la infeliz. Tomei o cheque nas mãos, e sai cabisbaixo da casa de dona Eva.

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Capitulo XII Eu estava ansiosa pela chegada do meu amor. Tinha acabado de arrumar tudo no quarto, havia feito um café para tomarmos atarde, havia feito um bolo que aprendi com a empregada na casa de minha mãe, tudo estava pronto para comemorarmos nosso primeiro dia como um casal de verdade. Agora não precisaria mais me despedir dele todas as noites, poderia olhá-lo nos olhos e dar boa noite. Enquanto colocava a mesa, ouvi o barulho de a maçaneta girar, e corri para a porta para abraça-lo. Pulei em seus braços como uma noiva após um casamento. Ele não parecia alegre. Perguntei o que havia acontecido, ele mudo não me falava nada, simplesmente sentou no sofá, e começou a chorar. Sentei ao seu lado e não sabia mais o que fazer, pois não suportava ver meu amor sofrer daquela maneira, não podia aguentar tudo isso. O que me agoniava era o fato de ele não me falar o que estava acontecendo. Insisti por muitas vezes, ele não me falou. Naquele momento meu coração começava a doer, como se um pressentimento ruim tomasse conta de minha alma, como se algo ruim fosse acontecer. Ele se dirigiu ao quarto e lá se trancou. A única coisa que ouvi foi o telefone tocar. Ele atendeu e em prantos falava que já tomara uma decisão, e que a colocaria em prática. A porta do quarto se abriu, os olhos dele estavam muito vermelhos, ele estava completamente encharcado pelas lágrimas. Perguntei pela ultima vez o que havia acontecido, ele pegou a mala que eu havia trazido de casa, onde estavam minha roupas, e apontou para ela, solicitando minha saída daquele lugar. Meu mundo simplesmente desmoronou. Depois de tudo que eu fiz. Ele simplesmente jogou fora todo o meu sacrifício. Será que para ele não importava o fato de eu ter deixado minha própria mãe, para viver esse amor, esse romance louco, será que ele não se importava com meus sentimentos? O que ele estava pensando?

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Ele simplesmente sentou no sofá da sala, eu implorava por uma resposta clara, mas, ele não falava nada, como se estivesse proibido de falar. Perguntei a ele quem havia ligado, mas ele não me dizia. Eu já estava agoniada com todo aquele mistério. Comecei então a fazer minha mala, a pegar minhas coisas. Quando fui sair pela porta, ele me segurou pelo braço, e entoou um eu te amo, bem forte. Aquilo entrou como uma flecha no meu coração. Ele não estava fazendo isso por vontade própria, estava sendo forçado. Mas eu não imaginava quem pudesse estar fazendo isso com ele. Naquele momento o melhor que tinha a fazer, era deixa-lo pensar na atitude que acabara de tomar. Com um olhar triste, deixei a casa de meu amado. Quando a porta se fechou a única que coisa que ouvi foi choros, prantos. Cada passo que eu dava na estrada, era um nome que me vinha à mente. Quem seria capaz de querer meu mal, de querer me ver triste. Minha mãe? Não, ela não seria capaz. A única pessoa que minha vinha à mente de forma convicta era Ronald. Ele sempre foi apaixonado por mim, e era o único que poderia querer me ver longe de Mike, só não imaginava o que ele havia dito, dado, ou feito a Mike, para que ele pedisse essa separação. Chegando em casa, dei de cara com minha mãe, como se ela já estivesse a minha espera. Achei um pouco estranho, mas, ela é mãe, estava ali para me receber mesmo depois de tudo que eu havia feito. Ela me ajudou com as malas até meu quarto, sentou ao meu lado na cama, e começou a falar, que tudo que havia acontecido era para meu próprio bem, ao passo de que dizia que já havia me dito. Vamos combinar, eu tenho um pouco de raiva de pessoas que jogam na sua cara, que já haviam dito algo. Ela era minha mãe, eu tinha que ouvir calada a tudo que pela sua boca era entoado. Eu a amava incondicionalmente, e não importava o que ela dissesse a única coisa que eu sabia fazer naquele momento era me derramar em lágrimas, deitar em seu coloco e receber o carinho de suas

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mãos sobre minha cabeça. Um cafuné que me acalmava a cada segundo em que suas mãos permaneciam sobre minha cabeça. Ela estava ali ao meu lado no momento mais difícil de minha vida eu não poderia simplesmente negá-la ou pedir para que ela se retirasse do meu quarto. Eu a queria ali, eu precisava de uma mãe. Nunca me imaginei com dezoito anos, e deitada no colo de minha mãe.

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Capitulo XIII A única coisa que consigo pronunciar é o nome de minha amada. Não consigo acreditar que a deixei ir, por dinheiro. Como eu tive tamanha coragem. Abandonar o amor de minha vida, abandonar desafios vencidos, simplesmente pelo poder monetário. Eu me sentia sujo, como se houvesse traído a confiança de Sophia. Ao mesmo tempo, não conseguia acreditar que a pessoa que foi minha cumplice nisso tudo foi a própria mãe de minha amada. Eu chorava, como se minha dor emocional fosse sair junto com minhas lágrimas, embora, eu soubesse que isso era impossível. Sentia-me como se um pedaço de minha alma tivesse sido arrancado de mim, como um filho tirado de sua própria mãe. Eu estava completamente conturbado. Minha vontade era ir correndo contar tudo a Sophia, mas eu não podia. Eu não queria vê-la sofrer. Queria que ela conseguisse realizar seu sonho. O sonho de ser uma empreendedora, o sonho de ser rica, como sempre quis, eu não tinha o direito de prendê-la. Ainda que eu a amasse, eu não tinha o direito de ser tão egoísta ao ponto de deseja-la só pra mim, esquecendo de todo o resto. O tempo passou, eu nunca vi Sophia. A única maneira de esquecêla era não falando mais com ela, não vivendo no mesmo local, foi por isso que me mudei para a cidade vizinha. Como se isso fosse o suficiente pra me afastar dela. A distância não me fez esquecer minha amada, muito pelo contrário ela só me fez lembra-la. Como isso é possível? Estar separados e nada mudar, como se algo ainda nos prendesse. Tornei-me um grande empresário. Ser dono de uma montadora de automóveis é um bom negócio. Embora hoje eu seja bem sucedido, não sinto orgulho do que me tornei. Não consigo esquecer em momento algum o meu passado, e o que fiz para estar aqui hoje, se pudesse trocaria tudo, para viver meu amor. Não sei onde Sophia está hoje. Estou aqui com trinta anos, se bem recordo ela era dois anos mais nova do que eu, então deve estar com vinte oito. Nessa idade já deve estar namorando, casada, já deve até ter filhos.

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Ah, como eu queria reencontrar Sophia, dar um abraço e dizer que errei. Mas a essa altura, ela nem deve se lembrar de mim. A essa altura ela deve ser uma mulher bem sucedida. Não conheço alguém melhor do que Sophia para engenharia, ela se entregava de corpo e alma às contas. Eu ao contrário de Sophia, sempre odiei matemática. Qualquer coisa que envolva conta aqui na montadora eu contrato alguém para fazer pra mim. Isso não é preguiça é estratégia. Comicidades a parte. A dor ainda me consome. Não consigo entender por que as lembranças insistem e persistem na minha mente. Será que só eu sofro com isso? O expediente já acabou, pensei então em ir até o bar que há aqui ao lado. Depois que deixei Sophia, comecei a beber, isso não é uma influencia boa a ninguém, não aconselho ninguém a fazer isso, aliás, aconselho que não façam. Hoje admito ser alcoólatra, estou tentando me livrar desse vício. Já prometi a mim mesmo ir até uma clínica de dependentes químicos, mas toda vez que consigo uma, me rendo à bebida novamente. Hoje graças a Deus, tenho um melhor amigo. O nome dele é Gustavo, costumo chama-lo de Guto. Ele não bebe. Faz mais o tipo certinho da história. Tenho-o como um irmão pra mim. Sempre me ajuda, e acho que nunca seria capaz de abandoná-lo, quando mais preciso é com ele que conto. Já errei muito com Guto, toda vez que namorava eu o abandonava, como se isso fosse legal. Depois voltava pedindo desculpas, mal sabia que Guto se magoava com isso. Quando ele me falou custei a acreditar, até que provei do meu próprio veneno. Jurei pra mim mesmo que nunca mais faria isso com Guto, hoje somos inseparáveis. Mais, vamos parar de falar de mim e do Guto. O assunto aqui é outro, embora, o Guto ainda me ajuda a completar tudo isso. O Guto sempre me disse pra lutar pelo que eu quero, aquela história de nunca desistir, ir atrás dos sonhos, mas eles insistem em correr de mim e eu não sei o porque. Ele sempre me falou pra procurar Sophia, nunca soube ao certo seu paradeiro. Na internet, não achava nada sobre ela. Parece que

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ela desapareceu do mapa, como uma barata que corre para não ser pisoteada. Onde está Sophia? Essa era a pergunta que ficava no ar. Ainda que eu tentasse ao máximo encontra-la parecia cada vez mais impossível. Despedi-me de Guto, peguei um táxi e fui até minha casa. Entrei pela porta meio tonto, depois de beber alguns goles. Eu notebook, já estava na tomada, apenas o liguei, e vi um anuncio de um chat então, resolvi entrar, sei lá, vai que eu ache um amor de verdade que me faça esquecer a Sophia. Assim que me identifiquei como um empresário, várias garotas vieram, pareciam interessadas por dinheiro. Não escolhi nenhuma delas, queria alguém que me amasse pelo que sou, e não pelo que eu tenho, embora eu não acredite em amor virtual. Vi no canto, na parte posterior da tela uma menina que tinha o seu nick como “fugitiva”. Me interessei, perguntei sobre sua história e o porque de tal nome de usuário. Ela começou a falar contar, que saiu muito cedo de casa, e que abandonou muita coisa, pra viver amores, que hoje se decepcionou tanto, que vive sozinha e sua única companhia são seus amigos virtuais. Decidi então convidá-la para um encontro. Ela ficou meio encabulada, parecendo não acreditar, afinal um empresário, pedindo para sair com ela. Marcamos.

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Capitulo XIV Naquele momento eu não podia acreditar. Eu estava destruída, havia perdido minha mãe, e tudo que me restava eram os amigos que eu fazia pela internet. Estava prestes a entrar na depressão e já não me animava mais ver o sol. Não sei por que, mas o fato de ele ser um empresário não me importava, o que na verdade me alegrava era o fato de um cara que nunca me viu, e mal me conhece me convidar pra sair, e conversar, para que eu pudesse desabafar, era alguém disposto a me ouvir, eu não podia perder essa oportunidade. Marquei hora no salão, e fui fazer um trato completo no visual. Desde a ponta do dedo do pé até o ultimo fio de cabelo. Por um momento minha alegria parecia voltar por completo, como se meu coração tivesse feliz com o ocorrido, como se eu estivesse explodindo de alegria, e acho até que estava. Uma mensagem no meu celular me avisava onde seria tal encontro, e que traje vestir. Um local de alto glamour, nunca havia pisado num lugar como tal, seria uma honra estar em tal estabelecimento. Peguei um táxi e fui. Chegando lá, o recepcionista perguntou-me meu nome, e quem estava me esperando, logo, falei que o nome de meu companheiro era Michel. Ele me pegou pela mão e como um cavalheiro que conduz uma dama, me levou até meu parceiro. Ele estava de costas, com um terno risca de giz, eu estava de longo cabelos feitos, e unhas pintadas. Chamei pelo seu nome, e quando ele virou, eu o reconheci instantaneamente. Era Mike, o meu amor de infância, o meu amor traidor estava ali na minha frente. Eu não podia me arriscar novamente, simplesmente corri, para fora daquele lugar, eu não queria vê-lo, a amargura tomou conta de mim, comecei a desfazer meu penteado, e lágrimas borravam minha maquiagem, o único som que ouvia no fundo era o de Mike chamando

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pelo meu nome. Eu não podia parar, não podia deixar meu coração traidor me levar novamente a esse romance. Por incrível que pareça, Mike conseguiu me alcançar. Pegou-me pelo braço, e entre olhares ficamos durante alguns segundos. Eu tentei resistir, mas similar a um imã, meus lábios chamavam pelos lábios de Mike. Beijamo-nos. Não, eu não podia repetir toda a história, não podia ser ingênua a tal ponto. Gravei a palma de minha mão na face de Mike, e apressadamente saí. Ele disse que não havia feito nada por que quis, mas sim porque não tinha outra escolha. Naquele momento nada mais importava, eu não queria saber os motivos de Mike, nada do que ele me dissesse seria suficiente para cobrir qualquer sentimento. Fui para minha casa, me cobri com um cobertor que encontrei jogado sobre minha cama, e meu travesseiro foi minha única companhia. Eu não conseguia pensar em ninguém melhor, naquele momento eu não possuía amigos, eu não queria possuir amigos, eu simplesmente queria me livrar da tortura de ser uma mulher traída e abandonada. Mike me traíu.

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Capitulo XV Eu não conseguia acreditar que tinha visto minha amada. Eu havia a encontrado. Minha primeira atitude ao chegar a minha casa foi acessar a mesma página da bate papo que entrei onde a conheci. A essa altura a única coisa que importava era tê-la em meus braços. Ao entrar na página da internet, uma decepção. Todas as garotas do dia anterior estavam, mas ela não estava. O que será que ela estaria pensando agora, o que estará passando pela cabeça de Sophia. Ela precisa entender, que eu não fiz nada por querer, e sim pro bem dela. Embora eu tivesse a magoado, tudo que eu fiz foi pensando inteiramente nela. E nenhum dinheiro que eu tenha ganhado, vale o amor de Sophia. A única coisa que eu queria era que ela me ouvisse, e tentasse entender ainda que seja difícil, que eu a amo acima de tudo ou talvez por causa de tudo. Desde criança, sempre pensei em namorá-la, só não pensei que seria tão difícil. Ainda que eu pudesse escolher, eu escolheria ter Sophia, por que amar é reconhecer os defeitos das pessoas, e ainda assim quere-la perto de você, pelo simples fato de saber que os defeitos dela, completam suas qualidades e vice-versa. Eu tentei por muitas vezes ligar para ela, mas parece que tudo que fizesse era em vão. Uma semana se passou, e nada. Todo dia eu tentava localizar minha amada na internet, mas parecia impossível encontra-la, novamente Sophia havia sumido do mapa. Estava prestes a desistir, até que eu encontrei uma pista. Algo que poderia me levar até a casa de minha prometida. A pista era Ronald. O meu maior inimigo. Ele sempre foi apaixonado por Sophia, deve saber onde ela está morando. Era uma chance e eu não poderia desperdiça-la. Fui até a casa desse cara, chegando lá, chamei por seu nome. Uma mulher se intitulando mulher de Ronald, foi quem me atendeu, pedi para falar com ele, ela foi chama-lo.

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Depois de um convite para um café, Ronald, que parecia estar completamente mudado, me perguntou o que eu queria. Falei então que estava em busca de Sophia, eu perguntei se ele sabia algo dela, seu paradeiro. Ele balançou a cabeça positivamente, me disse que muitas pessoas no bairro conhecem Sophia pela doença que ela apresenta. Naquele momento meu coração doeu, como uma faca que penetra no feito cortando tudo interiormente. Perguntei a ele que doença era essa, se era algo grave, ele não sorria, mas também não estava completamente sério, era algo enigmático. Ele me perguntou o que eu queria com Sophia. Eu disse que meu intuito era encontra-la e viver esse amor. Ele comentou que na noite passada viu Sophia chegar meio atordoada como se algo de ruim tivesse acontecido. Ele perguntou se eu sabia de algo. Contei-lhe a história que acontecera na noite anterior. Ele ficou meio estupefato, parecia não acreditar no que eu estava dizendo, tudo aquilo parecia um filme, uma novela, um livro, simplesmente um história, algo que não podia ser real. Ele começava a dizer que nenhum amor é capaz de resistir a tanto, e eu, convicto de meu amor por Sophia, o contrariava, fazendo com que ele se irritasse pelo simples fato de achar que isso não era possível. Ainda assim, tendo nossas diferenças, ele resolveu me ajudar. Disse que me levaria a casa de Sophia, mas que antes, eu deveria saber um pouco mais sobre ela. Coisas que eu nem imaginava. Naquele momento meu coração disparou. Como assim, coisas que eu não imaginava? O que eu não sabia de Sophia? Ele me dizia o tempo todo que Sophia era um enigma pra todo mundo. Ninguém sabia ao certo o que ela vivia, o que ela passava. Ele me contou que ela havia perdido a mãe, então eu logo o interrompi, dizendo que isso não era novidade pra mim, que isso foi a primeira coisa que ela me falou quando conversamos pela internet, e solicitei que ele me levasse

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até a casa de Sophia. Ele foi me acalmando pedindo pra que eu esperasse, que ele tinha mais a me contar. Ronald, foi falando, dizendo que ela sofria agora de depressão, mal saia de casa, e que para que abrisse a janela já era um sacrifício. Eu não conseguia acreditar, essa mulher de quem ele estava falando, não era a minha Sophia, a linda mulher que eu conheci que eu me apaixonei. Onde está aquela garota disposta a ser feliz independente de qualquer coisa. Ele me dizia que depois de tudo que aconteceu entre mim e Sophia, ela havia mudado de forma drástica. A partir daquele momento eu comecei a me sentir culpado por tudo que Sophia estava passando, como se eu fosse o organizador da vida de Sophia, como se eu ditasse as regras da vivencia de Sophia. Não era isso que eu queria. Tudo que eu sonhava era vê-la feliz, e olha onde ela está agora. Eu não podia ficar de braços cruzados, olhando tudo isso acabar assim, eu tinha que tomar uma atitude. Ronald me questionou sobre minha ida até a casa de Sophia, perguntou se realmente eu queria ir vê-la. Naquele momento eu já não tinha mais dúvidas. Insisti para que ele me levasse até a casa de minha amada. Eu precisava falar com ela, eu precisava olhar nos olhos dela e contar a verdade. A verdade machuca, a mentira mata, mais a dúvida do que eu fiz, a dúvida do por que eu fiz, deve estar corroendo Sophia em seu interior. Eu tinha que revelar tudo a ela, ainda que isso doesse. Eu sabia que no estado em que Sophia se encontrava, tudo que eu falasse tinha que ser medido, pois qualquer coisa a mais ou menos, qualquer elevação ou omissão de algum fato poderia fazer com que ela se prejudicasse, e ai sim, eu me sentiria mais culpado. Eu e Ronald nos dirigimos até a casa de Sophia, que não ficava muito longe. Ao chegar à residência, me deparei com uma visão assustadora. Como ela conseguiu chegar a este ponto. A casa naquele momento já não podia mais ser chamada assim. Aquilo era um casebre, não passava de um canto, um teto, onde a ultima escolha foi viver assim.

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Escolha? Talvez única opção, eu não podia deixar Sophia naquela situação. Parece que tudo que fiz, serviu apenas para prejudica-la, parece que por mais que eu tivesse tentado livrá-la de qualquer decepção, tudo que eu fiz, serviu apenas para deixa-la mal, para derrubá-la na vida. Tudo que eu queria naquele momento, era ter a linda Sophia de volta. Eu queria que Sophia, aceitasse meu pedido, viesse morar comigo, casasse-se comigo, e viesse viver a vida que ela sempre sonhou. Eu tinha que ter coragem, agora não era momento de temer. Eu tinha que bater na porta e encarar esse fato. Olhar nos olhos de Sophia, e dizer que eu a amo.

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Capitulo XVI Tudo que eu fazia naquele momento, era tentar achar um culpado. Alguém que fosse as respostas do que eu estava sentindo. A primeira pessoa que me vinha a mente era Mike. Depois de tudo que ele fez, só ele poderia ser o culpado de tudo. Só ele podia explicar o fato de eu estar mal, de eu estar sofrendo, de eu estar sozinha. Naquele momento eu fazia silêncio, naquele momento só me restava acreditar que eu ainda seria feliz, embora minha situação fosse caótica. Alguém bateu na porta, chamando pelo meu nome. Aquela voz parecia conhecida, mas, não estava nítida, eu não conhecia identifica-la, então minha única opção foi abrir a porta. Meu coração começou a bater rapidamente ao olhar nos olhos de meu amor novamente. Naquele momento tudo que eu acreditava ser verdade, tudo que eu pensava referente a Mike ser o culpado de tudo que eu estava passando desabou. Ele veio como que com muitas saudades e me abraçou bem forte, dizendo que me amava e que estava arrependido, eu ficava ali sem entender muita coisa. Mike parecia estar bem de vida. Quando perguntei a ele o que estava acontecendo, se ele estava ficando louco, ele questionou se eu sabia de algo, eu logo disse que não afinal, do que eu deveria saber. Ele pediu para que eu me assentasse, e começou a me falar. Naquele momento uma mágoa subiu ao meu coração, como minha mãe poderia ter feito isso comigo. Mas ao mesmo tempo, não conseguia sentir mais nada, afinal naquele instante eu já não tinha mais minha mãe. Eu estava sozinha. Eu chorava como se cada sentimento e cada dor fossem sair com as minhas lágrimas, embora, eu soubesse que isso não aconteceria. Mike passou a tarde comigo, ele realmente estava muito bem de vida, mas não se sentia orgulhoso, a todo momento me pedia desculpas, e dizia que se pudesse voltar atrás voltaria. Ele olhou nos meus olhos, e saiu da boca dele a frase que eu não esperava, não naquele momento, e nem na situação que eu estava.

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Mike me pediu em casamento, tudo que eu conseguia naquele momento era sorrir, e chorar de tanta felicidade. Ele perguntava o que estava acontecendo, se eu estava triste por ele ter me feito esse pedido. É lógico que eu não estava triste, eu amava Mike, e queria muito me casar com ele. Ele me perguntou novamente, ficou meio tenso pois eu não respondi em primeira instância. Eu logo balancei a cabeça positivamente, era tudo que eu mais queria me casar com Mike, e viver o amor que eu sempre sonhei. O tempo passou, eu e Mike noivamos, e chegou o grande dia. Nossa eu nunca havia visto tanta gente num único lugar. Garçons, imprensa, flores por todos os lados, e meu vestido era deslumbrante eu nunca havia provado um vestido daquele naipe. Eu estava totalmente abismada, pois Mike estava realizando meu maior sonho. Havia quem dissesse que eu estava com Mike por conta do dinheiro, mas não. Eu sempre amei Mike, e não conseguia de modo algum pensar em Mike, como alguém que tinha dinheiro e que poderia suprir as minhas necessidades monetárias. Tudo que eu conseguia pensar naquele momento, era a felicidade que eu estava vivendo. Várias pessoas vieram me cumprimentar, dentre elas, a mãe de Mike, uma senhora muito simpática por sinal. Ela não cansava de repetir que estava feliz por ver o sonho de Mike se realizando.

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Capitulo XVII Nossa casa era linda. E ver Sophia junto comigo, era um sonho realizado. A carteira de Sophia, estava sobre a mesa da sala, eu estranhei por que ela nunca deixa a carteira em casa, ele deve ter esquecido. Eu nunca fiz isso, nunca tive ciúmes, mas vi uma foto de um menino, um garoto, pequeno, uma foto bem antiga. Não entendi o por que de ela guardar essa foto. Peguei essa foto, e guardei comigo, esperando pela chegada de Sophia. Ela demorava, não vinha pra casa. Onde será que ela estaria essa hora. A maçaneta rolou, só podia ser ela. Assim que ela entrou ficamos nos olhando por alguns segundos, ela ficou meio preocupada, me perguntava o que eu tinha, afinal eu estava sério, estava com um semblante pesado. Ela me perguntou o que eu tinha, eu logo falei que tínhamos que conversar. Sophia pareceu bem preocupada, afinal eu nunca havia falado de tal modo com ela, e estávamos a apenas duas semanas casados. A primeira briga em duas semanas de relacionamento à dois? Ela me olhou bem séria e perguntou o que estava acontecendo. Tirei a foto do meu bolso, e mostrei a ela. Sophia fez uma cara de espanto, tirou a foto de minha mão, e perguntou como eu tive coragem de mexer nas coisas dela, isso era crises de ciúmes? Eu disse que não, que nunca havia feito isso, e que foi uma impulsão. Eu perguntei a ela quem era aquele garoto da foto, ela ficou em silêncio por alguns segundos, virou-se para mim, olhou bem séria nos meus olhos, e disse que aquele garoto era o seu primeiro amor. Que ela havia encontrado essa foto no jardim de sua casa, e que havia guardado essa foto desde criança. A única coisa que eu conseguia naquele momento era olhar para Sophia em seus olhos. Eu havia ficado estupefato com a resposta. Fui em direção a ela, segurei em suas mãos, e então pronunciei com uma voz firme: - Eu perdi essa foto quando tinha nove anos de idade, no jardim da casa de minha amada, de meu primeiro amor.

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Naquele momento, Sophia abriu um sorriso em sua face, nos beijamos apaixonadamente, e posso dizer com toda certeza que aquele dia, foi o dia mais feliz de nossas vidas, onde tivemos certeza de que quando Deus quer duas pessoas juntas ele dá um jeito de unir, nem que seja por uma foto. As verdadeiras lembranças estão no coração, e não em retratos, por isso nosso amor resistiu. Todos podem viver uns loucos amores, um amor verdadeiro, afinal amar é loucura demais, e só os verdadeiramente malucos conseguem tal proeza. Eu não me arrependo de ser esse maluco que conseguiu.

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Sobre o Livro Escrever o livro “Onde está Sophia?”, foi pra mim uma experiência incrível. Após escrever esse romance posso dizer que me tornei uma pessoa com mais opinião, uma pessoa que perdeu o medo de lutar por seus objetivos. O livro é pequeno, possui pouco mais de cinquenta páginas de história, mas ainda assim, é um livro que trás uma história incrível, um casal lindo, que embora tivesse passado por tanta dificuldade, não desistiu de sua felicidade. Isso me faz refletir. Se lutássemos por nossos romances eles dariam certo, mas infelizmente somos tão covardes ao ponto de muitas vezes desistir na primeira luta, como se viver fosse fácil. Sabe, eu tenho comigo que a vida é fácil, viver não. Na verdade nós seres humanos somos tão complicados, que acabamos complicando a nossa vida com isso. A vida do autor Pra contar um pouco mais sobre minha vida, vou colocar agora pra vocês um artigo que escrevi no Gospel Prime. Artigo: Carta de quem não era para estar vivo! Para você que leu o título deve ter se assustado um pouco. Na verdade o que vem a seguir é uma história verídica, é a minha história. Quando eu era criança, minha irmã mais velha escreveu uma carta, que li assim que aprendi a ler. Me lembro um pouco de como ela era, e escreverei aqui

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tentando reconstruí-la, e contando em fatos minha história. Não se assuste com o que lerá. “Olá, Me chamo Dérick Pacheco Caitano, nasci em vinte um de julho de mil novecentos e noventa e quatro. Vivi quarenta dias de minha vida, fora os nove meses que fique na barriga de minha mãe, no bairro Saco dos Limões em Florianópolis. Que me olha não imagina minha história, não imagina aquilo passei. No começo, nem idealizado na mente de meus pais eu estava, mais Deus já tinha um plano para minha vida. De um acaso, meu pai engrávidou minha mãe, que já havia tido uma série de AVC´s (Acidente Vascular Cerebral). Sem muitas condições de me criar, minha mãe foi obrigada a fazer o impossível para suportar os nove meses de gestação. Ela já havia tido três filhos anteriormente. Dois conheço até hoje e os amo, um deles nunca vi, e nunca conversei, por que antes que esta oportunidade fosse dada a mim, ele foi entregue a um casal, segundo relatos, de médicos, que os levaram para longe, de modo que não conhecesse sua família biológica. Na data prevista, eu nasci. Lá estava eu com oitocentas gramas, parecia um ratinho, mal cabia no braço, se cabia nele. Quem me olhava logo dizia, isso não pode ser uma criança, só pode ser um cachorro, um animal, não vai sobreviver. Uma de minhas tias, junto com meu tio, meus atuais pais, não esperaram muito, olharam, pararam, e viram que minha mãe biológica não teria como me criar, e me sustentar. Meu pai Biológico, chegava bêbado em casa, lá não era um ambiente saudável. Quarenta dias de minha vida se passaram, e meus tios juntamente com uma viatura policial me buscaram e tomaram parte na minha adoção. Os tempos passaram, meu pai biológico ainda incomodou por algum tempo. Minha mãe biológica que eu possui como uma amiga eterna, não mais que isso, afinal desde quarenta dias vivia com meus tios os quais tenho como

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pais. Voltando ao assunto, minha mãe biológica sempre me visitava, sempre me trazia presentes em datas comemorativas. Um tempo se passou e ela teve mais um AVC, desta vez, um que a deixou sem movimento algum, e a colocou em uma cama. Minha tia pegou-a para criá-la e cuidar dela, quando todos a negavam. Mais um tempo se passou, quando eu e minha irmã recebemos a notícia. Nossa mãe biológica havia falecido. Não me abati como muitos esperavam, afinal como disse não a tinha como mãe. Ora não sou frio, é lógico que fiquei triste,por que também a amava. O que mais abalou foi ver minha irmã naquele estado de choque. Ela que já morava comigo, saiu de casa, e voltou a morar com meu outro irmão, num bairro de Florianópolis. Desde criança fui ensinado nos passos do senhor, e sempre procurei evangelizar. Hoje minha vida é ótima, ai se eu reclamar, nem posso. Veja: Conheço Jesus, tenho uma família abençoada por Deus, que segue seus princípios, tenho amigos, tenho irmãos na fé que me amam, tenho comida na mesa todos os dias, tenho aquilo que me faz feliz. O que posso pedir mais? A unica coisa que ainda me resta, é pedir e dizer a Deus: Eis-me aqui senhor, Usa-me! A mensagem que deixo é que você é capaz. Acredite que é. Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Sou sincero, enquanto escrevia este artigos, lágrimas escorriam sobre minha face, entretanto acredito que meu testemunho de vida, ainda que breve ajudará a muitos. Deixo uma frase que marca e que ainda uso: EU SOU UM MILAGRE! Fiquem na paz do senhor, e estejam na vontade dele! Deus abençoe!

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