Noticias do Jardim São Remo novembro 2023

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São Remo

Novembro de 2023 ANO XXX nº 2

www.centralperiferica.org

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Notícias do Jardim

JOSÉ ADRYAN

p.5

ACERVO PESSOAL

Privatização da Sabesp levanta dúvidas entre os moradores são remano p.8

esportes p.12

debate p.2

Ideologia Fatal celebra legado dos 50 anos do Hip-Hop

Vôlei e capoeira atraem mais meninas do que os outros esportes

Quem é responsável pela ressocialização dos presos?

mulheres p.10 Limitações para realizar exames na UBS

comunidade p.6 Cursinho Elza Soares: da S. Remo à universidade Diversidade e inclusão SÃO REMINHO para os pequenos


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Notícias do Jardim São Remo

debate

Novembro de 2023

“Isso é crucial, pois se ele ou ela não tem uma visita íntima, não se sente um cidadão” ANTÔNIO JOSÉ

Quem é responsável pela reinserção?

OPINIÃO

Justiça não é cega, é paga A justiça não é a mesma para todos, nunca foi. Ela sempre olhou além da cidadania, julgando com base na idade, na riqueza e na raça. Da Lei de Terras aos ataques às leis de cotas, foram criados mecanismos para manter a marginalização de boa parte da sociedade. Desde que o Brasil é Brasil, a população pobre, negra e periférica teve que lutar pelo direito a ser humano. E apesar de conquistarem o direito ao voto, à participação política e à equidade no ingresso em universidades, essas pessoas encontraram mais um projeto político para inviabilizar sua vida: o encarceramento em massa. Não é exagero: quase 70% da população carcerária é negra, e quase metade são jovens de até 29 anos. Isso é resultado de uma lógica muito mais profunda do que a lei formal. Não é surpresa pra ninguém que a mesma lei se aplica diferentemente a depender da cor da pele ou do extrato bancário — às vezes ela nem se aplica. Como esquecer o caso de Genivaldo de Jesus Santos, assassinado numa câmara de gás improvisada dentro de uma viatura policial apenas por não utilizar capacete? Enquanto isso, os mesmos três policiais, brancos, acusados de assassinar Genivaldo ainda não foram a júri popular. Essa lógica não prejudica apenas o preso — muitas vezes injustiçado — mas também a família do presidiário. O filho é constrangido por ser “filho de bandido”, a mãe e a esposa mudam sua rotina para fazer os trabalhos de cuidado e tentar garantir o mínimo de dignidade àquela pessoa. Até isso, o direito às visitas íntimas, o Estado está em vias de tirar. Não tratam a população pobre desse país como cidadãos, nunca trataram. Esse é o resultado do projeto colonial de Brasil, que dura ainda hoje: impunidade para uns, injustiça para muitos. Como diz o ditado: a Justiça não é cega, ela é paga (e muito bem paga) pra não ver.

São Remo Notícias do Jardim

Julia Teixeira Sophia Vieira

PEDRO MALTA

Samuel Cerri

Moradores consideram o papel da família fundamental para os detentos

O 17° Anuário Brasileiro de Segurança Pública revela que a população carcerária no Brasil ultrapassa 800 mil pessoas. Dentro desse total, 68,2% das pessoas encarceradas são negras, e 43,1% têm entre 18 e 29 anos. No início deste ano, foi trazido de volta à mídia um debate que diz diretamente sobre como são tratadas as pessoas encarceradas: a importância da visita íntima para a ressocialização do preso. Segundo informações da PGE SP (Procuradoria Geral do Estado de São Paulo) pessoas presas têm todos seus direitos como cidadãos assegurados. Três desses direitos estão diretamente ligados ao acesso à educação e o poder de ter um trabalho remunerado. Divergência sobre visita íntima A visita íntima gera polêmica. Atualmente há um projeto de lei tramitando no Senado que visa acabar com visitas íntimas em presídios, com a justificativa de que seria uma regalia aos presos. Fomos à comunidade Jardim São Remo perguntar à população qual a sua opinião sobre a ressocialização da população encarcerada, qual o papel da família nesse processo, e como a visita íntima está relacionada com essa questão. Patricia, de 36 anos, e Taís, de 24, acreditam que o processo de ressocialização é efetivo caso a própria pessoa presa

Pessoas negras são maioria nos presídios

queira: “se ela quiser lutar por aquilo, sim. Caso contrário, ela vai ir e voltar quantas vezes for necessário para aprender”, diz Patrícia. Thais acredita na ressocialização e faz um adendo: “Sim, até porque tem muita gente lá presa injustamente”. Educação é crucial Antônio José, de 53 anos, afirma que todos deveriam ter um respeito maior por pessoas presas. E que o Estado deveria fornecer infraestrutura com apoio psicológico para essas pessoas. Sobre o projeto de lei que preza o fim das visitas íntimas, ele diz: “eu acho que o preso tem que ter o direito da visita íntima. Porque ele tem o direito desse tipo (...) pessoa ao lado dele conversando com ele, para ele poder sesentir mais seguro e tentar mudar as atitudes dele. Isso é crucial pro cara, porque se ele não tem uma visita íntima, ele ou ela, não vai se sentir um cidadão.” Maicon Dias, de 25 anos, além de acreditar na ressocialização, diz, também, que a educação é crucial nesse processo: “educação! o ponto essencial pra mim é educação, porque eu acho que a educação não deixa as pessoas vazias”.

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Publicação do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Reitor: Carlos Carlotti Júnior. Diretora: Brasilina Passarelli. Chefe de departamento: Luciano Guimarães. Professores responsáveis: Dennis de Oliveira e Luciano Guimarães. Monitoria: Bárbara de Aguiar e Gabriel Carvalho. Edição, planejamento e diagramação: alunos do primeiro ano de jornalismo. Secretário de Redação: Samuel Cerri. Secretária Adjunta: Marina Galesso. Secretário Gráfico: Pedro Malta. Editora de Imagens: Jenny Perossi. Editores: Felipe Bueno, Luíse Silva, Luiza Ribeiro, Natália Tiemi, Gabriela Barbosa e Tatiana Couto. Suplemento infantil: Giovanna Castro e Yasmin Andrade. Repórteres: Alex Amaral, Bruna Correia, Davi Caldas, Diego Coppio, Filipe Moraes, Gabriela Cecchin, Guilherme Ribeiro, Izabel Briskievicz, José Adryan, Joseph dos Santos, Julia Martins, Júlia Queiroz, Júlia Teixeira, Júlio Silva, Leonardo Carmo, Matheus Bomfim, Paloma Lazzaro, Sophia Vieira, Tainá Rodrigues, Tauane Ybarra, Yasmin Brussulo e Yasmin Teixeira.Correspondência: Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443-Bloco A. Cidade Universitária CEP 05508-990. Fone: 3091-1324. E-mail: saoremo@gmail.com Impressão: Gráfica CS. Tiragem: 1.500 exemplares.


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entrevista

“Não podemos nem dizer que os familiares de presidiários não estão presos: são outras formas de prisão” DINA ALVES

Estigmas atingem as famílias de detentos Gabriela Cecchin Julio Silva Dina Alves é doutora e mestra em Antropologia pela PUC-SP e um dos principais nomes a desenvolver estudos sobre as condições carcerárias de mulheres no Brasil. Ela também já foi coordenadora-chefe do Departamento de Justiça e Segurança Pública do IBCCRIM (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais) de 2019 a 2020. Confira abaixo a entrevista que a especialista concedeu ao jornal Notícias do Jardim São Remo. NJSR: Como as famílias lidam com o estigma de ter um presidiário na família? Dina Alves: O estigma da pessoa que está encarcerada é estendido tanto à família quanto à comunidade, principalmente para as mulheres e crianças, que são vistas sempre como “mãe de presidiário” ou “filho de bandido”. Quando retiramos essa dimensão da prisão física para pensar na prisão para além das grades, como uma ideologia de desumanização, amplia-se o sistema prisional para a periferia, para os espaços criminalizados e também, por consequência, para as pessoas que compõem o espaço da periferia. Então, não podemos nem dizer que os familiares de presidiários não estão presos: são outras formas de prisão, e o estigma é uma delas.

homens, a visita íntima sempre foi objeto de discussão, porque os homens têm direito a visita íntima e pronto. Quando isso recai para as mulheres encarceradas é muito interessante comparar essa questão, porque a visita íntima está diretamente relacionada ao desejo e à reprodução, aos direitos reprodutivos.

Dina Alves, advogada e doutora em Antropologia pela PUC-SP nocida Brasileiro”, de extermínio da população negra. Como as famílias são tratadas nos momentos de visitas às unidades prisionais? No perfil da população prisional, a maioria são pessoas pobres, negras, que não conseguiram acessar o mercado de trabalho dignamente. Esse perfil se estende para a família também. Um projeto político é a interiorização dos presídios aqui no estado de São Paulo, que foi uma crescente depois do Carandiru. Isso tinha um objetivo muito grande que era dificultar, mesmo, para a família. Então, eu acompanhei famílias do Capão Redondo até Itaí, seis horas de viagem de busão. Famílias com crianças, pessoas que não tinham dinheiro para custear essas idas, tendo que levar alimentos dentro de uma bolsa específica para não estragar. Como é a experiência dessas visitas nos presídios? Tem todo um repertório, uma metodologia a ser seguida, a roupa ideal para entrar, a bolsa, a revista que não pode estar com nada de metal no corpo, caso contrário não entra no sistema. E tem a revista vexatória, que a gente chama de estupro institucional, que ainda está em uso mesmo com a lei que veio para bani-la de vez. Acompanhar essas famílias me mostrou que a prisão não está em Itaí. A prisão está dentro do ônibus, dentro do sistema, passando por toda essa série de violência.

Após o período de cárcere, como fica a relação entre o preso e seus familiares? Muita gente sai do sistema prisional e perde os familiares, porque um dos objetivos do sistema é cortar os vínculos. A primeira coisa quando a mulher é encarcerada é cortar o direito de ter visita dos filhos, tirar a guarda. A acusação mais comum é tráfico, e o tráfico é equiparado a crime hediondo. Essa alteração legislativa veio para preencher uma lacuna nos discursos de que os antes considerados vadios e delinquentes do século XIX tinham agora que caber numa outra categoria — a do monstro, do traficante. Tanto é que quando se fala “traficante de drogas”, você vai imaginar um homem negro, porque essa é a imagem mais veiculada pelos programas policialescos. Essa categoria do monstruoso vem com a lei dos crimes hediondos, e o tráfico de drogas foi equiparado a crime hediondo, então tem alguns benefícios da lei penal que não são estendidos para quem comete esses crimes. Muitas mulheres têm direito de usar tornozeleira eletrônica se tiverem filhos, bebês, grávidas ou amamentando, mas esse direito não chega para a maioria que está presa acusada de tráfico. E o pano de fundo disso tudo é o racismo. Se algum projeto de proibição de visitas íntimas for aprovado, quais serão os impactos na vida das famílias e dos presos? A visita íntima é um direito constitucional. Historicamente, para os

Por que isso? Tem até uma pesquisa bem interessante sobre isso, que mostrou, por exemplo, que no caso das mulheres existiam várias estratégias de impedimento, inclusive a obrigatoriedade das mulheres só receberem visita íntima se tomassem anticoncepcional. Então você não está falando só do direito ao desejo, está falando do direito reprodutivo. A esterilização também é uma questão dentro do sistema: recentemente, houve um caso de uma mulher que foi esterilizada compulsoriamente no sistema prisional. Isso tem a ver com o que se chama de limpeza étnica. Isso recai sobre os corpos de pessoas vistas historicamente como o inimigo do Estado, então é como se o Estado precisasse limpar a sociedade. Não deixar engravidar porque vai parir outros marginais, traficantes ou bandidos. É para tirar qualquer possibilidade do exercício do desejo. Tem todo um controle exercido sobre os corpos das mulheres que revela um sistema moralista e patriarcal. ARQUIVO PESSOAL/ DINA ALVES

Existem medidas que auxiliam as famílias dos presidiários durante e depois da prisão? Não existem políticas públicas de acolhimento de familiares de pessoas presas. A família, principalmente a mãe, é a única que oferece o mínimo de assistência à pessoa que está presa. É ela que leva o remédio, a roupa, os itens necessários de higiene, que faz a denúncia de violência. Então, o contato que a pessoa presa tem com a família é muito importante. E aí eu acho que o fato de que cada vez mais o Estado cria regras para que ela não tenha contato com a pessoa encarcerada é estratégico para o projtoque a gente chama de “Projeto Ge-

ARQUIVO PESSOAL/ DINA ALVES

Especialista comenta sobre projetos que buscam proibir o direito à visita íntima nas prisões

Para Dina Alves, a visita íntima é um direito constitucional


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Notícias do Jardim São Remo

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comunidade

“Eles conhecem bastante o território, seus problemas de saúde e as estratégias para lidar com eles” OSWALDO SANTOS, IDEALIZADOR DO SUP

Moradores se tornam agentes de saúde SUP promove dinâmicas de grupo para jovens atuarem em prol da saúde da comunidade Joseph dos Santos

humana, mas também todas as espécies vivas no ambiente, como animais, plantas e microorganismos. A ideia de criar a Rede SUP nasceu de uma inquietação do professor Oswaldo de que a favela merecia um olhar descentralizado e

que valorizasse a sabedoria dos moradores. "Muitas das pessoas da Rede SUP são pessoas que vêm da periferia. Eles conhecem bastante o território, seus problemas de saúde e as estratégias para lidar com eles.” DIVULGAÇÃO / REDE SUP

A Rede Saúde única em Periferias (Rede SUP) convida moradores do bairro para atuarem como agentes de saúde. Os jovens integrantes do projeto criado em 2019 usam músicas, brincadeiras e outras atividades práticas para compartilhar conhecimento sobre vida saudável e prevenção a doenças. Com idades entre 14 e 17 anos, eles são orientados por outros integrantes do projeto, como os estudantes da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP) — instituição que criou a iniciativa — e também por outros moradores mais experientes. Oswaldo Santos Baquero, professor da FMVZ-USP e idealizador do projeto, explica como os jovens atuam no projeto. “Os agentes mirins da SUP são adolescentes do

território que trabalham pelo bem comum, pela saúde do coletivo multiespécie da São Remo”. O professor ainda conta que eles já colecionam diversas iniciativas de impacto positivo: "Eles já realizaram oficinas para crianças no Girassol, visitaram uma aldeia indígena, desenvolveram trabalhos num laboratório de computação da Faculdade Medicina Veterinária, visitaram a feira de profissões da USP e organizaram um evento cultural e educativo no Centro Cultural Riacho Doce." Este último evento, realizado no dia 9 de setembro, reuniu crianças e adultos e a ideia era que todos compartilhassem conhecimentos sobre saúde e bem-estar A Rede SUP é uma adaptação do conceito de Saúde Única para comunidades marginalizadas. O objetivo é garantir o bem-estar coletivo, considerando não somente a saúde

Agentes usam músicas para passarem seus conhecimentos à comunidade

Akiposso+ forma novos empreendedores Bruna Correia e Tauane Ybarra

possível falar de redução de desigualdade sem inclusão digital”, complementa Andrea. Um total de 400 parceiros, do setor público e privado, estão envolvidos na iniciativa e o projeto conta com a colaboração de mais de 110 organizações sociais em todo o país. A plataforma possui mais de 40 mil usuários em todo o Brasil, que são conectados a uma rede de informações e oportunidades. O aplicativo também permite que usuários denunciem casos de

ARQUIVO PESSOAL / LULA SANTOS

O aplicativo Akiposso+ faz parte de uma organização sem fins lucrativos criada em janeiro de 2022. A organização usa tecnologia para promover a inclusão e a transformação na vida de brasileiros em situação de vulnerabilidade social, oferecendo cursos, orientações para criação do próprio negócio, vagas de emprego, entre outras ações. A criadora e CEO do Akiposso+, Andrea Napolitano, conta de

onde surgiu a ideia de desenvolver o aplicativo: “Em 2019 fiz uma viagem para África do Sul para ver as startups do continente africano. Nessa viagem, tive oportunidade de ver várias iniciativas na área de digital e tecnologia, principalmente direcionados para a população em condições vulneráveis”. “E veio a ideia de um aplicativo que disponibilizasse oportunidades para pessoas em condição vulnerável, de forma democrática para todos os usuários. Não é mais

Professor Lula Santos divulga o aplicativo Akiposso+ na Associação de Moradores da São Remo

violência diretamente ao Ministério Público de São Paulo, garantindo uma resposta eficaz em situações de perigo. O professor Lula Santos, que atua na São Remo com aulas de educação física e atividades esportivas, enfatiza a importância do aplicativo para a comunidade local. “Quando jovem, se tivesse tido acesso a tal recurso, aproveitaria ao máximo o valioso aprendizado fornecido pela plataforma”. O professor ainda expressa uma preocupação em relação à relutância dos jovens em utilizar o aplicativo. Ele observa que, muitas vezes, esses jovens direcionam grande parte de seu tempo para as redes sociais e jogos, e destaca a necessidade de incentivar os jovens a aproveitarem ao máximo os recursos tecnológicos educacionais disponíveis para garantir um futuro promissor. O professor levou seus alunos ao evento de divulgação do aplicativo na comunidade que aconteceu na Associação de Moradores da São Remo em setembro.


“Nós somos totalmente contra, principalmente porque é um serviço essencial à saúde, e à população como um todo” HELENA MARIA DA SILVA, SINTAEMA

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comunidade

Sabesp: privatização da estatal é a solução? População da São Remo demonstra insatisfação com a possível desestatização da empresa

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou logo após assumir seu mandato que poderia concluir a venda da Sabesp até 2024. Em modelo similar ao da Eletrobras, o objetivo é a diluição das ações da companhia na Bolsa de Valores com perda de controle do Estado. O governo hoje controla 50,3% das ações da empresa e o restante é negociado em bolsas de valores. A estatal é a maior empresa de saneamento do Brasil e presta serviços para mais de 27 milhões de pessoas de 375 das 645 cidades paulistas. Quem defende a privatização argumenta que isso pode acelerar a universalização dos serviços, originalmente planejada para 2033 pelo Marco Legal do Saneamento, agora visando alcançá-la até 2029. No entanto, especialistas apontam que 310 dos 375 municípios atendidos pela estatal já alcançaram este objetivo. Audiência suspensa A audiência pública que estava agendada para acontecer na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) no começo de novembro foi suspensa. A decisão baseou-se em uma ação popular que alega que o prazo para a divulgação da audiência não permitiu a manifestação e a participação efetiva de todos os interessados. A ação popular também solicita a realização de mais quatro audiências públicas antes da votação do projeto de lei. O Ministério Público de São Paulo também apoiou a suspensão da audiência pública. Para o órgão, esse período não proporcionava tempo suficiente para que a sociedade se preparasse e participasse do evento de maneira eficaz. O juiz responsável determinou que a Alesp divulgue a audiência pública com pelo menos oito dias úteis de antecedência, para que todos os interessados tenham tempo adequado para se informar e se manifestar sobre o projeto de privatização da Sabesp.

A defesa dos governantes O processo de desestatização começou a acelerar no começo de agosto, quando a cidade de São Paulo aderiu à regionalização dos serviços de água e esgoto, conforme estabelecido pelo novo marco do saneamento. O prefeito Ricardo Nunes (MDB), assinou um documento que afrouxa o controle municipal sobre a estatal na capital paulista. Na mesma época, o governo do Estado de São Paulo lançou um guia informativo sobre a desestatização da estatal e seus benefícios à população paulista. O material mostra como o modelo de desestatização pode ampliar investimentos no Estado, reduzir tarifas e tornar a companhia uma plataforma multinacional do setor. Segundo o governo, até 2029 poderão ser beneficiadas com os serviços um total de 10 milhões de pessoas, incluindo 1 milhão de novos usuários em áreas rurais, irregulares, consolidadas ou em comunidades tradicionais. O documento também defende que os investimentos para a universalização serão realizados pela própria empresa, visando a prorrogação dos contratos de concessão até 2060 e assegurar a sustentabilidade econômica da estatal a longo prazo. A reportagem do Notícias do Jardim São Remo entrou em contato com a Sabesp para saber mais sobre a divulgação deste guia, mas até o fechamento desta edição não obtivemos resposta. Sindicato é contra Apesar dos incentivos do governo, boa parte da população e dos funcionários da estatal é contra a privatização. Helena Maria da Silva, Vice-Presidente do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo) concedeu entrevista ao Jornal da São Remo sobre a posição do sindicato. “Nós somos totalmente contra, principalmente porque é um serviço essencial à saúde, essencial à população como um todo. É um serviço que hoje é bem prestado pela

DIVULGAÇÃO / SINTAEMA

Bruna Correia, Diego Coppio e José Adryan

empresa”, defende a líder sindical. “A Sabesp tem uma performance financeira que há mais de 20 anos não pega um centavo do governo do estado, ela se banca sozinha com as tarifas e ainda dá retorno para o governo para os acionistas”, complementa Helena. Ela ressalta que a privatização não é necessária. “No contrato de São Paulo, a universalização [do saneamento básico] já está prevista em contrato para 2029. O Tarcísio não está oferecendo nada além do que já existe”. Sobre a tarifa, Helena destacou: “Hoje, por exemplo, se você pegar a tarifa social de São Paulo é R$ 22, no Rio de Janeiro, depois que privatizou, foi para 70 reais. 70 reais é a tarifa da Sabesp hoje aqui para o que uma família de três a quatro pessoas gasta dentro do mês”. Usuários também são contra A privatização das estatais também preocupa seus usuários, que

temem uma queda na qualidade da oferta do serviço. Mary, moradora e dona da Alpha Crepes na São Remo, observa um descaso do governo com a população durante os processos de desestatização. “Hoje em dia, quem mora na comunidade está abandonado. Se a privatização da Sabesp acontecer mesmo, eu acho que o benefício, entre aspas, que nós temos, em ter essa facilidade do pagamento da água, vai mudar”. Nesse sentido, Helena falou sobre algumas iniciativas e ações propostas pelo Sintaema para resistir ao processo e orientar a população. “Eu acho que a gente tem que se aprofundar mais nesses assuntos, é bem pouco falado, tinha que ter mais comunicação. Além de ações jurídicas e institucionais, nós fazemos plebiscitos, consultas populares em faculdades, escolas e igrejas, para saber o que a população acha, porque vai aumentar a tarifa, vai piorar o serviço. Nós temos que fazer esse debate”.


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Notícias do Jardim São Remo

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comunidade

“Eles acreditaram em mim antes mesmo de eu acreditar” MARIA VITÓRIA, EX-ALUNA

Lixo ao Luxo conscientiza sobre reciclagem Iniciativa da Enactus USP promove oficinas de conscientização sobre gestão de resíduos

Aos sábados, a comunidade São Remo recebe o projeto Lixo ao Luxo. O programa é uma iniciativa da Enactus USP, elaborada pelos alunos da Universidade de São Paulo e acontece em um espaço cedido pelo Projeto Alavanca. Para fazer parte dos encontros, basta entrar em contato com a Natália, co-líder do projeto que trabalha com o Alavanca. O projeto busca, principalmente, amenizar os problemas da má gestão de resíduos e de acesso ao gás de cozinha na comunidade São Remo.

As oficinas do Lixo ao Luxo contam com atividades diversas, que vão de coleta seletiva, onde ensinam aos participantes a importância de separar e reciclar o lixo, a aulas sobre cada tipo de material e como ele é reciclado. ”Esse é o meu terceiro encontro, eu gosto muito do projeto, gosto de vir aqui aos sábados”, compartilhou uma das jovens participantes do projeto.

TAUANE YBARRA

Tauane Ybarra e Yasmin Brussulo

Contato

Natália – co-líder do projeto (11)99430-1610

Através de atividades, o projeto conscientiza a comunidade sobre o lixo

Curso Elza Soares: educação e resistência Cursinho comunitário no Girassol fornece apoio essencial para vestibulandos da São Remo Isabel Briskievicz, José Adryan Pereira e Leonardo Henrique

versou com a sua tutora do Elza e a Instituição, diante desta situação, pagou a sua taxa. Priscilla comenta que essa é uma situação recorrente e “não entrar na universidade porque não pôde fazer a prova é terrível demais”. Além do ensino das matérias escolares, como português e matemática, o cursinho também proporciona uma formação cidadã. Maria Vitoria comenta que as discussões fora da sala a fizeram crescer como pessoa “eles acreditaram em mim antes mesmo de eu acreditar e isso foi essencial para eu entrar [na USP]”. Priscilla comenta que a intenção é fazer o aluno entender quais são os seus direitos a partir das teorias das ciências sociais. “A gente faz, também, al-

guns seminários e debates de formação política”, complementa. As inscrições para participar do Cursinho Popular Elza Soares acontecem uma vez ao ano — geralmente em fevereiro — e são totalmente gratuitas. Antes de participar do processo seletivo, a coordenação do projeto recomenda que os interessados leiam o Manual do Candidato para consultar informações como horário das aulas e critérios de seleção.

Manual do Candidato Disponível no site cursinhoelzasoares.com.br

VICTOR ÂNGELO CALDINI

Localizado no Espaço Girassol, o Cursinho Elza Soares é um espaço onde a educação é resistência. Ele foi fundado em 2018 para ajudar pessoas periféricas a entrarem no tão sonhado curso de graduação com aulas totalmente gratuitas. Priscilla Borelli, coordenadora e professora do cursinho, explica que a iniciativa começou na Vila Prel, no Campo Limpo, e está na São Remo desde de 2022. “O cursinho surgiu a partir de um grupo de pessoas que começaram a pensar em educação, principalmente no contexto da eleição do Bolsonaro, em 2018”. Hoje há mais de

sessenta pessoas que contribuem para a construção do projeto. Maria Vitoria Fidelis, caloura de engenharia elétrica na Poli USP, frequentou o Cursinho durante o ano de 2022 e diz que ele foi essencial para a sua aprovação. “Foi através dos conteúdos do Elza e do meu repertório que consegui passar na USP”, relata. Sua mãe nunca imaginou ter um filho na USP, e ela é “a primeira pessoa da geração da família a fazer faculdade, e a primeira e única a fazer uma [faculdade] pública”. Quando teve que fazer a inscrição para o vestibular, Maria conta que teve a sua taxa de isenção negada pela Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), que é a porta de entrada para a USP. Con-

As aulas acontecem nas manhãs e tardes de sábado para atender as rotinas de jornada de trabalho dupla de muitos dos estudantes do cursinho


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comunidade

“Precisamos ouvir mais as crianças e jovens em rodas de conversa” MANO LYEE

Mano Lyee é liderança na comunidade Rapper e poeta da comunidade fala sobre seu trabalho social e candidatura no Conselho Tutelar Yasmin Teixeira Mano Lyee, conhecedor da São Remo e das periferias do Butantã, é rapper, poeta e multiplicador cultural. O rapper promove diversos projetos culturais dentro das comunidades e procura transmitir a mensagem do Hip Hop vinculado à discussão de pautas sociais em escolas e rodas de conversa ao redor de São Paulo. Além disso, é intérprete do Grupo Ideologia Fatal, conjunto musical de Hip Hop criado em 1996 na zona Oeste da cidade. Mano Lyee foi candidato ao Conselho Tutelar da região do Rio Pequeno, mas não foi eleito.

Como foi a sua campanha para o Conselho Tutelar? Foi uma experiência muito boa e satisfatória, principalmente o durante e após, porque eu recebi um feedback muito positivo da galera que veio me perguntar, às vezes falar que não sabia que eu estava concorrendo, mas que teria votado se soubesse. Mas, apesar disso, como a informação não chega para todo mundo na periferia, então houve muitos problemas, como uma galera não conseguindo votar por estar só com o RG e sem o título, apesar de ser permitido, ou pelo remanejamento de escolas para votar. Quais eram as suas principais pautas e promessas? Nós focamos muito na pauta de saúde física e mental nas periferias, principalmente as mães que trazem vivências tão diferentes, desde a descendência de matrizes africanas, até a situação de mães solteiras, vítimas de abusos e tantos traumas…

E, sendo um agitador cultural, como você definiria o cenário cultural da São Remo? Tem muita resistência e desafio ao mesmo tempo. O Butantã é um bairro muito discrepante, com muita riqueza de um lado, mas também muitas comunidades que passam despercebidas pelo restante. Teoricamente, deveríamos ter acesso a muitas instituições como o CEU Uirapuru, o Jaguaré, mas falta muita comunicação e gestão. Também é um desafio levar o Hip Hop para escolas, uma roda de conversa sobre a questão racial, de gênero ou de saúde física e mental para dentro de alguns espaços, temos uma resistência, mas ainda assim conseguimos com uma galera que nos apoia. Mas a gente precisa ter novos olhares, precisa profissionalizar as artes, os educadores, os profissionais do Hip Hop, que são cinco elementos, sabe? E como é a produção cultural na São Remo? A galera, principalmente crianças, participa bastante? Nós definimos a atualidade como coletivo cultural somando na quebrada e nos voltando para o empoderamento de oficinas sobre o Hip Hop, temos shows com a parte musical conjunta do protesto, que é a parte da denúncia, né? Temos sempre as oficinas diárias, saraus temáticos, dia do break. E a comunidade, de ponta a ponta, vê com bons olhos porque estamos levando cultura e oficina, e ao mesmo tempo, multiplicando políticas públicas, tanto do setor público, como das empresas que olham para a comunidade.

E, ciente de tudo isso, o que você acha que deveria mudar no cenário geral da São Remo? Combinados de respeito ao estilo, comportamento, gênero e classe. Precisamos de mais espaços de cultura e esporte, como a volta do Circo Escola, a permanência do Terrão, a manutenção da Praça do Jardim do Éden, e muitas outras coisas. Mas precisamos de mais respeito aos espaços, a manutenção da limpeza de resíduos depois de bailes, dos animais que ficam soltos. Temos que melhorar essa rede de interligações através de combinados e investimentos, sabe?

Para encerrar, Mano Lyee: o que te motiva a continuar lutando pela Comunidade? Eu me remeto muito a minha infância, sabe? Ela foi muito difícil e influenciada pelo crime, até que pessoas muito importantes para mim me avisaram e me deram oportunidades para sair daquela situação e essa ideia mudou minha vida, entende? E eu tento levar isso para outras crianças e adolescentes, independente da raça, do gênero ou credo, eu tento fortalecer eles, isso me motiva. Leia na íntegra http://centralperiferica.org ARQUIVO PESSOAL / MANO LYEE

NJSR: Qual a importância do Conselho Tutelar para a São Remo? Mano Lyee: A função do Conselho Tutelar é seguir o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e garantir os direitos delas [crianças e adolescentes]. Seja na assistência social, na educação, ou nele próprio, ele é uma ferramenta muito importante para que possamos escutar mais os jovens, principalmente nas periferias do Butantã.

Também falar mais das questões de gênero, principalmente com os jovens, temos que trazer as causas LGBTQIAPN+. Enfim, eu me candidatei para fazer as políticas públicas chegarem na quebrada, como no meu projeto “Bom de rima, bom de bola e bom na escola”, e também para fazer atividades para crianças com necessidades especiais e construir diálogos entre escolas. Porque, no fim, o Estado por si só nos limita, nos silencia, nos mata e nos nega a juventude dpara as nossas crianças e adolescentes.

Mano Lyee remete à própria infância para ajudar crianças e adolescentes

Novo Conselho Tutelar Resultados da eleição realizada em outubro Joseph dos Santos No dia 1º de outubro, eleitores do Butantã escolheram os cinco responsáveis pelo Conselho Tutelar do distrito pelos próximos quatro anos. Mesmo sendo opcional, a eleição atraiu 202 mil cidadãos às urnas. A prefeitura de São Paulo estimulou a votação dos eleitores através da gratuidade do transporte público durante o pleito. A ação proporcionou um aumento de 35% no contingente de eleitores em relação à última eleição, em 2019. Estavam aptos a votar todos os cidadãos com 16 anos ou mais com situação regular na Justiça Eleitoral. Os eleitores puderam votar em até cinco candidatos.

Foram eleitos para o Conselho Tutelar do Butantã: Keila Mendes de Souza (1860 votos); Anna Cecilia Koebcke de Magalhães Couto Simões (1774 votos); Jaqueline Carneiro de Albuquerque (1424 votos); Nívia Maria da Silva Miranda dos Santos (1418 votos); e Elaine de Paula Francisco (1105 votos). Os eleitos tomarão posse em 10 de janeiro de 2024 com um mandato de quatro anos. Em toda a cidade de São Paulo foram 260 novos conselheiros tutelares eleitos. A função de um conselheiro tutelar é garantir que crianças e adolescentes tenham todos os seus direitos respeitados conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).


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Notícias do Jardim São Remo

Novembro de 2023..

são remano

“Quem não entende, quem não conhece, antes via como música de marginal” Black Nandão

Ideologia Fatal e os 50 anos do hip hop Por meio de suas músicas e projetos cultuais, o grupo retrata a realidade das periferias RODRIGO DUDENA

Júlia Martins Há 50 anos, surgia o Hip Hop. O marco inicial foi a festa organizada pelo DJ Kool Herc e sua irmã Cindy Campbell nos EUA em 1973. Dos guetos de Nova York, o movimento chegou na periferia brasileira durante a década de 80. A estação São Bento do metrô, no centro de São Paulo, é considerada o berço do gênero no país. Já no bairro do Butantã, na zona oeste, o grupo Ideologia Fatal foi um dos pioneiros a introduzir a cultura na região. Amor, suor e luta pelo Hip Hop O Ideologia Fatal nasceu em 1995, nos arredores do Jardim São Remo. A ideia surgiu no Colégio Alberto Torres, um reduto de MC’s que ensaiavam na USP. “Nós surgimos com a ideia de pertencimento, de você poder ser o que quiser”, contou Mano Lyee, um dos fundadores do grupo. Os outros dois integrantes, Black Nandão e DJ Rick Brasil, foram convidados a fazer parte em 1997. A primeira apresentação do grupo foi no Circo Escola da São Remo. Nos 28 anos de carreira, o grupo conta com sucessos como “O Corre Não Para” e “Zona Oeste Chega Assim”. Mas eles também enfrentaram dificuldades. Black Nandão aponta o preconceito contra

Ideologia Fatal, conjunto de hip hop da S. Remo ativo desde os anos 90 as composições do rap nacional. “Quem não entende, quem não conhece, antes via como música de marginal”, explica. Apesar de tratar de temas complexos, como drogas e violência, ele ressalta que as canções tentam resgatar as pessoas, para que elas deixem para trás o que faz mal. Por sua vez, Mano Lyee destaca o problema estrutural do racismo. “Você precisa tentar não se importar com a dor que você sente”, afirma. Na visão do artista, aquelas comunidades não tinham como se expressar e enfrentaram anos de discriminação. “O Hip Hop surgiu de uma causa”, defende.

AGENDA CULTURAL

TODAS AS ATIVIDADES DISPONÍVEIS GRATUITAMENTE

QUE DANÇA VOCÊ DANÇA? JAZZ PRAZZ DEZZ VISITA TEMÁTICA HOMENAGEM A LUIZ CARLOS DA VILA 25 E 26 DE NOVEMBRO, ÀS 10H MUSEU DA LÍNGUA 25 DE NOVEMBRO, ÀS 17H PORTUGUESA CASA DE CULTURA M’BOI MIRIM REALIDADE URANDA NA CHICO SCIENCE APRESENTAÇÃO DE RAP 25 DE NOVEMBRO, ÀS 19H CASA DE CULTURA IPIRANGA CHICO SCIENCE

TARDES AFRICANAS COM IDEOLOGIA FATAL 26 DE NOVEMBRO, ÀS 16H CASA DE CULTURA DO BUTANTÂ

Contudo, os integrantes acreditam que a situação melhorou nos últimos anos. DJ Rick e Black Nandão lembram que antes era necessária muito mais luta para conquistarem seu espaço. Ambos celebram o fato da cultura do hip hop ser mais difundida hoje em escolas, no cinema e até nas Olimpíadas como modalidade esportiva de breaking. Sarau Composição Urbana Um dos principais projetos do grupo, o Sarau Composição Urbana, completou dez anos. Neste ano

simbólico, o evento foi contemplado pela Lei de “Fomento à Cultura da Periferia” e pelo “Programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais)”. O primeiro tem o objetivo de apoiar financeiramente coletivos artísticos culturais que atuam nas periferias paulistas há três anos ou mais. Já o segundo, busca estimular a criação do pequeno produtor cultural da cidade e promover a inclusão cultural. “[Foi] uma grande conquista através do nosso trabalho social. Sem dinheiro, a gente fazia na raça, né? E agora com a verba a gente usufrui o melhor. Dá pra trazer um artista, dá pra fazer uma boa alimentação”, comemora Black Nandão. O evento é realizado em todos os meses, de forma itinerante e totalmente gratuita. A pedagoga Michelli Sharon explica que os saraus são temáticos e buscam promover o debate de temas relevantes para a São Remo. Ela faz parte dos bastidores do Ideologia Fatal e acompanha as apresentações do conjunto. “É um manifesto popular pela consciência para poder lutar pelos seus direitos”, complementa DJ Rick Brasil.

O Corre Não Para Ideologia Fatal

É isso mesmo Deon correria, mano Lyee, Black Nandão, Dj Rick sem perder o tema O tempo vai cobrar aquilo que você falou A voz do verdadeiro rap não se calou São vários voluntários que a vez esperou E tantos oprimidos que no entanto parou Desacerto por dinheiro nada vai clarear Vi que alguns desarmaram e a maioria de armou Vi lá no samba o clima tenso Não vai precionar de revolver Atentamente até a paz aclamou Aqui e os maloqueiros na missão, ladrão E não tem pressa, e quem não gosta de ficar firmão Sem miséria Nós ja se deparamos em vários corres sozinhos Mas Deus guia nossos passos e ilumina nossos caminhos O gosto amargo que a quebrada oferece é ruim Não joga contra o vizinho, só traz vitória pra mim Se o som vai somariá, se vai colher os capim, todos tem seu lado bom, sei que não enchergou, nego


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são remano

“É bem legal essa interação, quando as crianças se envolvem com esse tipo de instrumeto” Ericsson magnavita, colaborador do projeto

Aulas de violino grátis na comunidade Projeto social oferece aulas para crianças e adolescentes dos 7 aos 17 anos no Espaço Girassol O violino é um instrumento que muitas vezes parece distante da realidade das crianças e adolescentes que vivem na periferia. Tradicionalmente associado ao ambiente das orquestras, que frequentemente é dominado pelas elites ricas, o violino tem encontrado seu caminho até essas comunidades por meio dos projetos sociais com foco na democratização do acesso à cultura. É nesse contexto que a Escola de Música e Cidadania se dedica a aproximar esse instrumento dos jovens da comunidade são remana. Ericsson Magnavita, coordenador do projeto, enfatiza a relevância do programa para a comunidade: “Esse instrumento não faz parte da realidade dessas crianças, o violino está longe da realidade da periferia. Então é bem legal essa interação, quando as crianças se envolvem den-

FILIPE MORAES

Filipe Moraes

tro da comunidade com esse tipo de instrumento”. A escola recebe o apoio da ONG Agência do Bem. O curso é oferecido gratuitamente, sendo dividido em dois semestres com aulas realizadas aos sábados no Espaço Girassol, atendendo crianças e adolescentes com idades entre 7 e 17 anos. O projeto oferece aulas de violino, teoria musical e outras atividades recreativas. Alunos comentam Rosa, aluna do projeto há cerca de um ano, compartilha que seu ingresso ocorreu depois que o professor de violino descobriu as pinturas que ela fazia para a quitanda de seu pai. “O Fran [professor] soube dos meus desenhos e pediu ao meu pai que me inscrevesse no projeto. Aqui estou desde então”, comenta. Rosa também compartilha o que mais gosta no projeto: “eu gosto quando todos aprendem a tocar uma

Professor Francismar Augusto junto de seus alunos em uma aula música nova e fico feliz quando não erro a letra da música”. Ericsson, morador da comunidade São Remo há 38 anos, conta sobre suas perspectivas e suas experiências com projetos sociais na região. “A favela tem potencial, apenas não é bem lapidado. É necessário tirar as crianças de dentro da nossa realidade e proporcionar-lhes experiências em outros ambientes

para que possam desenvolver o potencial que já possuem”. Para além da pluralidade de experiências, ele também destaca o papel dos projetos sociais na promoção da cultura para os moradores da São Remo e todas as outras comunidades. “Os projetos sociais que envolvem principalmente a cultura ocupam o espaço que lhes é devido, e esse espaço é a periferia”, complementa.

Paloma Lazzaro Saliba No fim da tarde e ao longo da noite, bares e botecos são responsáveis por diversas fachadas iluminadas nas ruas da São Remo. Ao som de músicas dos mais diversos estilos ou de conversas entre amigos, esses estabelecimentos promovem lazer e socialização para os moradores do bairro. Também é importante notar a importância dos bares na economia local, sendo a fonte de renda de diversas famílias. A seguir, apresentamos alguns relatos de donos e frequentadores de diferentes bares da comunidade. Márcia é dona do Bar da Márcia há três meses, e conta com uma clientela fiel. Ela afirma que além de ser fonte de seu sustento, o bar é responsável por juntar amigos. Irene faz parte dessas amizades, e de acordo com ela, “é bom demais, a gente se diverte. É a nossa alegria.

Sair do serviço, já tem um botequinho para nós nos divertirmos, comer um tira-gosto, rir, brincar, ir na paz”. O Bar do Baixinho, por sua vez, marca presença na São Remo há trinta anos. Durante a visita ao local, pode-se ver diversas pessoas comprando o marmitex do dia. O dono conta que muitos moradores compram as quentinhas em dias corridos e nos fins de semana, e afirma que essas vendas são de grande importância para a renda do bar. Outra característica notável do Bar do Baixinho é sua ligação com o futebol: clientes se juntam no ponto para assistir aos jogos na televisão e durante as partidas do Veterano da São Remo. Inclusive, ele fica de frente para o campo do time, o qual declarou o bar como “Amigo do Veterano da São Remo 2016”. O Bar Noturno vende uma ampla variedade de bebidas e pro-

PALOMA LAZZARO

Os Bares da São Remo

Gabriel, dono do Bar Noturno em frente a seu comércio dutos de tabaco. Ele é comandado por Gabriel há quatro anos, que destaca o papel desempenhado pelos bares para a economia da comunidade. “Muitos moradores daqui dependem de reciclagem. Têm adegas aqui dentro, a gente compra dessas próprias adegas, e a própria favela vai crescendo com isso”. De forma geral, a identidade da comunidade da São Remo tem laços importantes com os bares do bairro. A própria localização espacial muitas vezes usa um dos

bares como referência, por exemplo quando dizem “a gente se encontra na frente do Baixinho”. A variedade de estilos musicais tocados, de tamanhos e tempo de funcionamento dos estabelecimentos mostram o quão plural é esse mundo para a comunidade são remana. E não à toa, os moradores demonstram muito carinho pelos bares que eles mais frequentam, compartilhando histórias e criando boas memórias ao lado de pessoas queridas.


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mulheres

“Os problemas não são resolvidos. Acabam jogando a gente para a fila de espera” PATRÍCIA TEIXEIRA, MORADORA DA SÃO REMO

Limitação de exames na UBS São Remo Mulheres têm dificuldades para fazer a prevenção contra o Câncer de Mama na comunidade TAINÁ RODRIGUES

Tainá Rodrigues O câncer de mama é a doença cancerígena que mais mata mulheres no país, de acordo com dados fornecidos pelo “Câncer de Mama Brasil”. A UBS (Unidade Básica de Saúde) São Remo não possui estrutura técnica para realizar os exames preventivos contra essa doença, como a mamografia, por isso, encaminha as pacientes para outros locais. Além disso, não é disponibilizado dentro da comunidade uma unidade móvel para realizar esses exames, como acontece em muitos bairros de São Paulo. Os principais sintomas dessa doença consistem em aparecimentos de nódulos nas proximidades das mamas ou na região das axilas, alterações nos tamanhos das mamas, secreção pelos mamilos e sensibilidade na região. Existem exames capazes de diagnosticar o câncer de mama, sendo o principal deles a mamografia, capaz de identificar irregularidades ainda na fase inicial da doença. Quando o diagnóstico é realizado de maneira rápida, existem gran

Muitas moradoras não conseguem realizar mamografias na UBS des chances de cura. De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, é indicado que todas as mulheres realizem o exame de mamografia a partir dos 40 anos. A UBS São Remo concede encaminhamento para que as pacientes da comunidade façam os exames preventivos contra o câncer de mama em outros locais. A moradora Maria Lourdes Moreira, de 66 anos, que não faz esses exames com frequência, conta que a UBS São Remo só faz exames de sangue, e que, além disso, o processo de se consultar com o médico, pegar o encaminhamento para os exames e ter o diagnóstico

demora cerca de dois anos, por isso não realiza esses exames. Para além disso, Patrícia Teixeira, de 36 anos, relatou que sente falta de melhorias no atendimento da UBS São Remo: “A maioria dos atendimentos são demorados e sempre tem algum encaminhamento para outro médico. Os problemas não são resolvidos. Acabam te jogando pra lista de espera [para passar nos exames]”. Para Patrícia também relata que existem poucas divulgações e/ou campanhas sobre o câncer de mama, o que afeta no interesse das mulheres em participarem das prevenções. Outras morado-

radoras, no entanto, relataram que a UBS leva informações sobre a doença, principalmente durante o mês de consientização, Outubro Rosa. Das 24 mulheres com mais de 40 anos na São Remo que foram entrevistadas, 14 disseram não realizarem o exame de mamografia com frequência. Entre os principais motivos está a demora para conseguir encaminhamento para outras unidades de saúde, a dificuldade de ir para locais distantes para realizar os exames e a falta de conhecimento em como ter acesso ao procedimento. Até o fechamento desta edição, não houve retorno da Secretaria Municipal da Saúde para que a UBS São Remo fosse autorizada a dar uma resposta.

JÚLIA QUEIROZ

Dificuldades e influências na moda feminina Júlia Queiroz

Croppeds dominam as vitrines

Nos últimos tempos, as redes sociais foram bombardeadas pela “favela core”, uma forma de representação do estilo periférico, principalmente feminino, pelo uso de determinadas roupas e acessórios, como blusas com as cores da bandeira do Brasil, óculos espelhados e saias curtas. O estilo entre as moradoras da São Remo é diverso, oscilando entre vestidinhos curtos de cores neon e brincos grandes de argolas até saias longas e calças pantalona. Ao visitar as principais lojas de roupas femininas da SR, é possível perceber a variedade de roupas e acessórios que boa parte das mulheres, principalmente as mais jovens, entre 15 e 25 anos, consomem. Na Val Store, as peças que

mais saem são os croppeds coloridos , bodys e shorts. Já a proprietária da MD modas, Márcia, afirma que os itens mais em alta no momento são os vestidos de poliamida e os croppeds, que variam entre 25 a 30 reais, uma das peças mais acessíveis para o público feminino do local. Os funcionários também destacaram o impacto que as redes sociais têm no perfil consumidor das mulheres da São Remo. Por exemplo, após a influencer Virginia Fonseca, que conta com mais de 44 milhões de seguidores, surgir no Instagram com um macacão, a peça passou a ter alta procura na loja, sendo um dos itens mais vendidos. Porém, um grupo de moradoras da São Remo enfrentam dificuldades ao procurar peças para o seu estilo no interior da comunidade: o das evangélicas. Keyla,

por exemplo, prefere utilizar roupas mais longas e discretas, como saias e vestidos longos, que não são facilmente encontrados nas lojas locais. Ela afirma que, por não ter opções, compra a maior parte das suas roupas online, em aplicativos como Shein e Shopee, ou no Brás. Keyla acredita que seria importante uma loja de moda evangélica na São Remo, pois existe uma demanda considerável de mulheres adeptas à religião que precisam arcar com os fretes ou locomoção para encontrar roupas que condizem com seus estilos pessoais. Os funcionários da MD Modas destacam que, apesar da demanda, peças mais longas, frequentemente adotadas pelas evangélicas, não têm tanta saída assim e, por isso, não estão no catálogo de itens vendidos na maioria das lojas.


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esportes

“O principal é formar um bom cidadão, não importa a profissão. O nosso mundo precisa disso” Dumangue, mestre de capoeira

Capoeira ganha espaço na comunidade Sem necessidade de quadras ou equipamentos, a prática ajuda a manter a população ativa

Horário das aulas Segunda, quarta e sexta: 20:00 – crianças de 06 a 11 anos 21:00 – crianças e adolescentes a partir de 11 anos Terça, quinta e sábado: 20:30 – adolescentes e adultos Local: Circo Escola São Remo CAVI DALDAS

Conforme se anda pelo bairro da São Remo, é comum ver crianças jogando bola pelas ruas. Nada fora do normal no país do futebol. A prática, porém, também é sintoma da ausência de outros esportes na favela, limitados não só pela predominância cultural do futebol, mas pela falta de infraestrutura. Sem necessidade de quadras ou material esportivo, a capoeira surge neste cenário como alternativa para manter a comunidade ativa. Nos locais disponíveis para práticas esportivas, as estruturas limitam opções e interesses dos jovens e adultos por modalidades alternativas. Normalmente, isso não muda a rotina da maioria dos praticantes de futebol da comunidade. Porém, quem gostaria de ter outras possibilidades depende de lugares adequados e da realização de projetos, como é o caso dos grupos de esqui de rua e de capoeira. Um dos principais fatores que atrapalha a prática de variadas modalidades é a falta de espaços. Basta visitar infraestruturas esportivas — como a quadra próxima ao campo de futebol do Catumbi — para identificar problemas de manutenção que dificultam a vida de quem gostaria de ter acesso a esportes diferentes. Além disso, esses locais também tornaram-se alvo de depredação, como fala o morador e instrutor de capoeira, Carlos Alberto da Silva, conhecido como Dumangue: “o Circo Escola foi se deteriorando, tanto por gestões ruins consecutivas, que abandonaram aos poucos o local, como pela ação dos moradores.” Segundo ele, durante a pandemia, a ausência de atividades também abriu caminho para que infraestruturas esportivas fossem invadidas e usadas como moradia. Embora a deterioração dos recintos tenha de ser lamentada e combatida, a falta de opções abriu espaço para oportunidades. É o caso do próprio Dumangue, cria da favela, que hoje leciona capoeira na comunidade. A atividade representa atualmente uma opção a mais de lazer e recreação para os moradores da São Remo. Uma parte dessa história começou no próprio bairro com Dumangue – apelido de Carlos na roda. Ainda no

Quadra depredada na São Remo

REPRODUÇÃO/@CENTROCULTURAL_RIACHODOCE

início da adolescência, Dumangue entrou no Circo Escola da São Remo, onde conheceu a capoeira e se apaixonou pela modalidade. Após anos vivendo o esporte – participou de campeonatos regionais, nacionais e até mesmo mundiais –, criou o próprio grupo, o ‘Etnias Capoeira’, no Centro Cultural Riacho Doce, localizado na SR, no final do ano de 2019. Com a pandemia provocada pelo Covid-19, as aulas foram paralisadas por alguns meses, porém, em seu retorno, a presença de muitos alunos foi unânime até então. “Hoje o Centro Cultural é o coração da favela, eu tenho orgulho de falar isso”, comenta o mestre capoeirista Dumangue.

Alex Amaral Davi Caldas

Dumangue ministrando aula de capoeira para moradores da comunidade Viagem para Europa Dumangue conta que voltou de uma viagem para a Alemanha no mês de outubro, quando foi convidado a participar do evento German Open Capoeira 2023. Saiu de lá com a quarta colocação e com o sentimento de que o seu esporte, mas principalmente a pessoa por trás do professor, estavam sendo valorizados. Além disso, visitou países como França e Luxemburgo para praticar e dar aulas da modalidade. O mestre espera ser como um exemplo para os alunos que desejam manter a capoeira como estilo de vida, assim como ele, mas antes disso, tem como seu principal objetivo a construção de um bom cidadão: “Eu sonho com os meus alunos, um dia, indo para essas viagens comigo, mas o principal é formar um bom cidadão, não importa a profissão. O nosso mundo precisa disso”. É com esta premissa que a capoeira se consolida entre os moradores e frequentadores da São Remo. Em meio aos poucos, e fundamentais, projetos sociais que ocorrem na comunidade, o Centro Cultural Riacho Doce se apresenta como oportunidade de imersão na cultura afro e também para dotar os alunos com os ensinamentos que essa expressão cultural proporciona. Comunidade precisa de esportes Dumangue tem cerca de 40 turmas, atendendo 40 jovens e crianças

por roda. Dessas pessoas, a maioria do público é infantil, algo bastante significativo, pela quantidade de crianças atingidas por seu trabalho. “A maioria das nossas turmas têm entre 6 e 11 anos”, completa o professor. A importância que um projeto consolidado ganha é fundamental para manter a comunidade viva e ativa fisicamente, contribuindo para a saúde dos moradores. De acordo com a Organização Mundial da Saúde(OMS), adultos devem manter, em média, 150 a 300 minutos de atividade física semanal, enquanto crianças e adolescentes, 420 minutos. Ainda de acordo com a OMS, essa rotina ajuda na redução de sintomas depressivos e de ansiedade, melhora as habilidades cognitivas e garante o crescimento e desenvolvimento. Além disso, os participantes têm a oportunidade de conhecer uma nova modalidade, com bases multiculturais que proporcionam ensinamentos valiosos além do esporte. Entretanto, a busca pela melhoria de outras práticas, ação normalmente esquecida pelas autoridades, é algo que necessita de atenção. O cuidado dos espaços públicos é essencial para estimular o gosto por todos os esportes e para que toda a São Remo tenha acesso a um leque de oportunidades. O Circo Escola já está neste processo de recuperação. “Estão acontecendo reformas, por mais que demore, o caminho é esse”, afirma Dumangue.


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esportes

“Tirar crianças das ruas para treinar já é um início para a formação de cidadãos” Erik Virginio da Silva, diretoria do catumbi fc

O valor do futebol amador na comunidade Catumbi Futebol Clube e a influência do futebol de várzea dentro das favelas brasileiras REPRODUÇÃO/@CATUMBI_FC

Davi Caldas Guilherme Ribeiro O clube de futebol amador Catumbi, fundado por Carlos Silva em 2001, comemorou 22 anos de história no dia 10 de setembro. A festa, que não podia faltar, contou com um baile funk que teve a participação de diversos DJs e MCs, além de um festival de futebol com a presença de todas as categorias do time, desde o sub-9 até o elenco de veteranos.

Taça das favelas Maior campeonato de futebol entre favelas do mundo, disputada desde 2012 no RJ, passou a ocorrer também em SP, no ano de 2019.

Catumbi Futebol Clube comemora o título da Copa Brasão 2022 Papel na comunidade O futebol de várzea praticado dentro das comunidades brasileiras vai muito além do que só um esporte: como descrito na Constituição, o lazer é um direito básico de todo cidadão. No país do futebol pode-se dizer que trazer a modalidade para os mora-

Favela 1010 – Rio Pequeno, time com são remistas, que teve Lula Santos como técnico, foi vice-campeão da primeira edição do torneio que ocorreu em seu Estado.

dores das periferias cumpre esse papel, seja jogando ou torcendo pelo time da sua “quebrada”. Mas não para por aí: o Catumbi FC conta com o projeto “Escola de Futebol Catumbi” para crianças a partir dos 5 anos, moradoras da São Remo e proximidades. Exercendo essa função, o esporte

entrega um direcionamento para esses menores que, muitas vezes, são marginalizados pela sociedade e têm seu leque de oportunidades reduzido por esse sistema. Muitas crianças sonham em ser jogadoras profissionais, e o futebol amador é um ótimo palco para dar início nessa vida. A opção pela vida do crime é um problema muito presente nas comunidades do Brasil, principalmente, quando focamos nos moradores jovens. De acordo com Carlos e Erik Virginio da Silva, membros da diretoria do clube, “tirar crianças das ruas para treinar já é um início para a formação de cidadãos” e é uma das principais funções do time. Além do papel social, a questão da saúde é um aspecto fundamental, já que a prática de exercícios físicos é um dos principais fatores para se levar uma vida mais saudável, seja em qualquer idade. O clube, além do elenco principal, conta com categorias de base e de veteranos. E como bem colocado por Erik: “não tem coisa melhor que envelhecer praticando esportes”.

Meninas da SR praticam outros esportes Matheus Bomfim

MATHEUS BOMFIM

Faltam jogadoras no Catumbi

Ao passarmos pela São Remo em qualquer tarde ou noite, veremos muitas crianças e adolescentes jogando bola no campo e nas quadras da comunidade, mas intriga a pouca quantidade de meninas. Professor do Projeto Social Escolinha de Futebol Catumbi, Lula Santos lamenta a falta de equipes femininas de futebol na comunidade. “Aqui na São Remo não tem, mas existe o Projeto ‘Meninas em Campo’, na Avenida Corifeu de Azevedo Marques”, informa o professor. Questionado sobre a existência de meninas da São Remo no projeto, Lula responde: “Apenas uma!”. Não há nenhum trabalho voltado diretamente para o futebol feminino na comunidade atualmente. Entre 1992 e 1994, até hou-

ve uma equipe feminina na São Remo, mas que não durou muito. Falta de oportunidades? Um pouco, mas, principalmente, falta de procura. “Há um desinteresse das meninas aqui da nossa região. O próprio Meninas em Campo tem bom número de meninas da Zona Leste, da Zona Norte e da Zona Sul, mas poucas da Zona Oeste. Um agravante é que os pais ainda não costumam deixar as meninas daqui jogarem”, diz Lula. No Catumbi hoje só tem uma menina no sub-13 e uma no sub-15, jogando com os meninos. A maior parte das garotas da São Remo que buscam algum esporte têm ficado restritas, sobretudo, a dois: o vôlei, da professora Rosangela “Tica”, e a capoeira, do professor Carlos Alberto “Dumangue”. Na capoeira, surpreendentemente a maioria esmagadora de pratican-

tes são meninas: “90% feminina e 10% masculina”, define Dumangue, professor do Centro Cultural Riacho Doce, sobre a participação no Projeto Social. A alta procura pela capoeira se dá justamente pelo fato de o oferecimento de esportes exclusivos ou majoritariamente para mulheres ser muito restrito na comunidade. Fora os projetos mencionados, existe outro, também de capoeira, recém iniciado no CEDESP (Centro de Desenvolvimento Social e Produtivo para Adolescentes, Jovens e Adultos) e um de vôlei, dentro do campus da USP. A falta de espaço físico adequado na comunidade para abrigar projetos de iniciação esportiva é um dos fatores apontados por Dumangue para que a procura feminina em seu espaço, ‘Etnias Capoeira’, seja tão alta.


PARTE INTEGRANTE DO JORNAL NOTÍCIAS DO JARDIM SÃO REMO - EDIÇÃO NOVEMBRO 2023

São Reminho... po! m e t o ant uinho q Oi, qu u o um po e r e d n pre e respeit ade? a s o Vam sobr entativid s repre

E, para is so, v com um amos começar a curiosid ade!

curiosidade! Você sabia que Machado de Assis, o maior autor do Brasil reconhecido mundialmente, era negro? Vamos pintar?

Agora é a sua vez! Que tal desenhar seu retrato?


Agora é a sua vez de encontrar novos horizontes! Procure as palavras destacadas no texto ao lado

Uma Grande Aventura Era uma vez, um grupo de crianças que decidiu embarcar numa grande aventura. Eles queriam conhecer outras terras e aprender ainda mais sobre as diferentes culturas. Com coragem e determinação, partiram em busca de novos horizontes. Durante a jornada, encontraram um lugar mágico. Havia crianças de todas as partes, cada uma com sua própria história, tradições e identidades: indígenas, pretos, asiáticos, latinos e muçulmanos. Aprenderam sobre suas crenças, comidas, danças e músicas. A compreensão crescia a cada encontro, e a amizade florescia. Neste lugar, a inclusão e equidade eram valores fundamentais. As crianças aprendiam desde cedo a valorizar a participação e a respeitar uns aos outros. Elas sabiam que a resistência ao preconceito era essencial para contruir um mundo melhor. Juntos, esses pequenos viajantes perceberam que, apesar das diferenças, todos compartilhavam o desejo de viver em paz e harmonia. Eles se uniram em um compromisso comum de serem protagonistas na libertação de todas as terras por onde passavam.

A São Remina precisa ir para a escola e hoje ela decidiu abraçar seu cabelo afro. Mas, oh não! Ela perdeu seu pente garfo! Ajude-a a achá-lo.


Vamos aprender um pouquinho enquanto brincamos?

a r v a l a p a a r b Descu de cada figura e descubra o nome do país Coloque a inicial

Palavra-cruzada 1. Importante líder da resistência negra: ___ dos Palmares 2. Abrace as diferenças. Não pratique o ___ 3. Mês em que é comemorado o dia da Consciência Negra 4. Preconceito contra pessoas pertences a uma raça diferente 5. Pessoas com deficiência 6. Sentimento que devemos ter com nossos amigos 7. Não use o termo “índio”, use ___ 8. Brincadeira com nome de uma cor onde temos que pular nos números para ir para o céu 9. Brincadeira onde um conta de olhos fechados e os outros vão se esconder 1. Zumbi 2. bullying 3. novembro 4.racismo 5.PcD 6. respeito 7. indígena 8. amarelinha 9. esconde-esconde

Resposta: Brasil

Conhecendo nossos vizinhos Aqui estão alguns países que vivem pertinho do Brasil. Pinte suas bandeiras e ligue-as a seus nomes

Chile

Venezuela Argentina

Uruguai

Paraguai 1. Paraguai 2. Argentina 3. Chile 4. Venezuela 5. Uruguai


Tutorial de Origami O origami é uma arte oriental de criar figuras em papel. Vamos homenagear a cultura oriental fazendo uma carpa, um peixinho laranja típico da Ásia? Pegue um papel laranja e vamos juntos!

Carpa, em japonês, é 鯉 [koi]. É um símbolo de boa sorte, sabedoria e resistência!

Obrigada pela aventura! Semeie sempre o respeito e o amor


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