Revista Semana da África na UFRGS v.4

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SABENDO MAIS Atravessando fronteiras pela música Meu nome é Patrick Olumide Obafemi, mais conhecido como Lumi. Nasci na cidade de Lagos, na Nigéria, país do Continente Africano. Eu e minha família somos da etnia yoruba. Em 2005, ainda na Universidade na Nigéria, cursava Ciência da Computação, tive a oportunidade de fazer um intercâmbio aqui no Brasil, por meio de uma bolsa de estudos na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Assim que cheguei ao Brasil, cursei Português na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Após este curso, prestei uma prova para testar o idioma, consegui a aprovação e segui meu intercâmbio, iniciando então o curso de Engenharia Mecânica. Concluí minha graduação na PUCRS em 2012, fiz toda validação dos meus documentos e hoje faço parte do CREA-RS como Engenheiro Mecânico. Estou no Brasil há exatos 12 anos! Formei minha família aqui neste Estado, sou casado com uma gaúcha e tenho duas filhas, moramos na Zona Sul de Porto Alegre. Hoje minha família tem cidadania norte-americana. Minhas quatro irmãs e meus pais vivem Estados Unidos, lugar onde minhas irmãs optaram em estudar, trabalhar e construir suas vidas. Apesar de estarmos em constante conexão com nossa terra natal, sentimos muita saudade! Gosto de Engenharia, fiz monitoria na área na Universidade enquanto estudava, tive experiência de um ano e meio em uma empresa de engenharia, mas minhas lembranças e todas as vivências de criança se fizeram presentes na minha vida, e colaboraram para que eu não deixasse de lado um sonho e um amor que foi sempre presente: a música. Na verdade, afirmo que herdei o dom da música ainda no berço. Na minha infância sempre acompanhei minha família na igreja, em Lagos, no sul do meu país, onde tive minha primeira plateia. Fui sorteado para fazer o encerramento de um evento na igreja. Minha mãe, sabendo que eu era tímido, disse: Por que, em vez de você falar na frente de todo mundo, você não canta? Aí, eu cantei e todo mundo aplaudiu. Naquele momento, pensei: Isso que quero fazer na minha vida. No colégio havia um coral do qual eu também fazia parte. Do hobby, passei a ter uma relação mais profissional com a música. Iniciei fazendo pequenos shows em Porto Alegre com um amigo meu que é Dj e o pouco que ganhava investia em materiais de divulgação e, conse-

quentemente, fui conquistando, aos poucos, um território maior. Ser estrangeiro, africano, negro aqui no Brasil nunca foi fácil e o mundo musical também não é uma tarefa simples. Foi uma caminhada difícil, mas sempre lutei para superar os obstáculos. Ainda em 2008, meu primeiro investimento foi comprar uma câmera digital. Eu precisava de um portfólio que me apresentasse com qualidade como cantor. Enquanto eu cantava, minha esposa filmava, passei assim a oferecer meu trabalho como cantor profissional na região Fazer e viver de música para mim é isso: levar alegria para as pessoas. Às vezes me perguntam qual é meu estilo musical, eu respondo que é boa música, tenho influência cultural de diferentes lugares e não perco a oportunidade de conhecer novos estilos, de pegá-los, misturá-los, transformar tudo isto em música é maravilhoso! Hoje faço uma mistura de ritmos que inclui em sua maioria R&b, Reggae, Pop, Afrobeats, e uma mistura de elementos com referências internacionais da música. No meu repertório dos shows, há canções próprias e, principalmente, hits dos sucessos internacionais. Para quem deseja viver da música como eu, sou categórico: Acreditar em si mesmo é fundamental. Isso quebra qualquer barreira na sua frente, gera determinação. É preciso ser persistente, muito persistente! Ainda antes de entrar no The Voice Brasil, já havia percorrido diferentes estados com meu show, na verdade quase todos, com exceção de um ou dois. Fiz show também no país vizinho, Uruguai, e então resolvi inscrever-me no programa. Vi um sonho transformar-se em realidade, tive um reconhecimento nacional muito forte. Minha expectativa no momento é continuar fazendo música e aproveitando este momento incrível que estou vivendo. Quero realmente tocar o coração de muitas pessoas através da minha música e da minha história de superação, muita gente se identifica comigo e torce por mim. Eu recebi uma resposta tão positiva e incrível do povo brasileiro que quero responder a cada um e levar esta mensagem: temos que acreditar nos nossos sonhos, nós somos capazes de tudo e somos do tamanho dos nossos sonhos. Eu enfrentei muitas dificuldades e sempre eu dizia para mim mesmo que ia provar que era possível vencer cada obstáculo... É isso que quero passar para as pessoas: lutem pelos seus ideais e se aquilo for para ser nosso, logo alcançaremos!

REVISTA SEMANA DA

ÁFRICA NA UFRGS – Volume 4

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