Conto: A dor de uma princesa - parte um

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Capitulo 1

Uma família feliz...

Sons de risos, finos, alegres, infantis, contagiantes... A sala está cheia com o som de risos. Uma lareira acessa com suas chamas dançantes ilumina e esquenta o ambiente. Sensação de conforto, aconchego. A pequena criança Alícia corre em meio a seus pais num tipo de brincadeira, pega-pega. Que criança mais ativa! Corre da sala para a cozinha, da cozinha para a sala e se joga no sofá afundando... Seus pais vêm logo em seguida se jogando e sorrindo, um abraço em grupo de olhos fechados e calor amoroso. Felicidade é o que não falta! Que cena linda, uma criança segura em meio ao abraço apertado de seus pais, o mundo não poderia ser melhor. Nada de mal poderia acontecer... Poderia?... – Alícia você falou pro seu pai? – pergunta a mãe gentil e doce. – O que mamãe? – responde a criança com um sorriso. – Sobre o dia especial na escola! Já esqueceu, foi? – rindo aperta delicadamente o pequeno nariz de Alícia. Como num estralo a pequena se lembra e abre seus grandes olhos redondos e azuis acompanhado de um sorriso bem aberto.

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– Ah! É mesmo! – vira em direção ao homem magro de ombros largos vestido de pijama azul escuro – Papai! Amanhã na escola vai ser um dia especial... Preciso que você vá. – Ah é? – responde de forma branda e olhar gentil o homem alto de pijama – O que vai ter de especial? – A professora pediu para levar o papai e falar do trabalho dele. É o dia do trabalho do papai... – se estica abrindo os braços como numa apresentação teatral. – Puxa, mas que legal hein... – voltando o olhar para a jovem mãe ao seu lado – Que horas vai ser? Preciso ver se adianto as coisas no escritório. – Vai ser de manhã, acho que bem no horário do inicio das aulas. Fica o homem pensativo. Com um rosto sério e a boca numa linha fina e apertada olha para a filhinha toda animada. Mas seu rosto parece dizer não. Aos pouquinhos os olhinhos da menininha vão perdendo do seu brilho e caindo de decepção. Então de sobre-salto sente ser erguida no ar por braços fortes, suas pequenas pernas balançam desequilibradas e seus olhos arregalam de surpresa. Seu papai a segura mirando bem dentro de seus olhos, como sempre costuma fazer e com sorriso de graça deixa escapar uma gargalhada que a menina logo entende. – Mas é claro que vou! Um dia especial para minha princesa é um dia especial para mim – gira-a no ar, seu vestido cheio de babados acompanha o ritmo das voltas e voltas. – Ebaaaa! Obrigada papai, obrigada!

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Capitulo 2

Tudo é cinza

É um dia cinza... Alícia não sente ânimo para sorrir, cantar ou dançar. Seu pequeno coração está tão apertado e dolorido. Seu peito parece que vai estourar. Debruçada esta a pequena sobre sua cama com olhar fixo e navegante em direção a janela. Não há sol, nem calor... As arvores estão desfolhadas com seus galhos a mostra, cena triste. Alícia suspira por diversas vezes, os olhos marejados cansados de tanto chorar. Sua roupinha é um vestido preto com pequenos detalhes em branco. Seu quarto sempre se mostrou no tamanho ideal para a mobilha, para os brinquedos e suas roupas... Mas hoje em especial parecia grande demais, frio demais, vazio demais... Tudo era demais para alguém tão pequena. Suaves batidas vêm de sua porta, mas Alícia não levanta se quer o olhar, afinal, não importa. O desanimo lhe toma o corpo e a alma. Seu pai entra com um ar triste e sombrio, seus passos são vacilantes, como de quem teme por algo, sua voz vem à garganta e se desfaz antes de ecoar por seus lábios. Sem saber o que fazer, sem saber o que falar... Senta-se ao lado da menina de forma silenciosa e delicada, como uma pluma leve trazida pelo vento. Suas mãos acariciam e separam os cachos dourados que enfeitam a cabeça da criança, que parece não sentir ou se dar conta. Uma voz leve, inexpressiva soa da boca de Alícia.

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– Papai... O homem com tamanha postura se estremece. É como se o bater suave de uma borboleta pudesse destroçar uma montanha. – Sim, minha princesa? – responde o pai com uma voz surpresa e sufocada. – Hoje o dia está tão triste, não está? – Si-sim... de fato. – Eu queria sair e brincar lá fora... Como faço todos os dias. Mas, não sinto forças. Por quê? O homem segura um gemido no espírito, suprime as lágrimas e tenta ser forte não deixando a suavidade de sua fala. – Talvez você esteja com fraqueza... Quer comer alguma coisa? – Não sei... – Posso trazer uma torta, um bolo ou apenas um pão recheado... – Não é isso. Eu não sei o que fazer... Eu... Está doendo muito o meu coração, ele bate forte muito forte, depois bate bem devagar e dói muito... Eu queria que ele parasse de machucar assim. O pai sente-se tão inútil por não poder mudar essa realidade. Mas a verdade é que a doce e meiga mãe de Alícia morreu no dia anterior. Voltando para casa do mercado ao atravessar a rua uma derrapada forte e um grande Bam! A derrubaram no chão. Tudo ficou sem som, sem sensação alguma, numa escuridão. Logo foi levada ao hospital inconsciente, costelas fraturadas e respiração baixa.

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Alícia e seu pai quando foram avisados tão logo correram ao hospital, mas a mãe de Alícia já havia morrido, seus olhos estavam fechados numa paz imensa e inexpressiva. O que Alícia sempre dizia a corroer é não poder ter dado um ultimo adeus, não poder ter dito um ultimo – Eu te amo mamãe... No dia seguinte houve o velório, o enterro e após este foi quando seu pai encontrou Alícia desanimada sobre a cama de olhar vago no nada. Ele a abraçou e a pequena encolheu-se entre seus braços ficando menor ainda, sentindo o calor e o bater do coração do pai relaxou e adormeceu. Sua expressão era cansada, uma criança que provou uma dor maior do que ela mesma. Seu pai a deitou na cama e de forma ajeitada a cobriu dando-lhe um beijo na testa com ternura. Saindo do quarto abatido andou até a sala e pegou o telefone. – Alô, mãe?... Não muito bem e a Senhora?... Que bom. Eu quero pedir um favor... Sim, Alícia está muito triste, não quer comer... Eu sei. Isso é muito ruim para uma criança em fase de crescimento, mas acredito ser temporário. – Eu?... Estou sufocado com a dor de ter perdido meu amor e de ver o sofrimento da minha pequena, mas estou segurando as pontas... Com certeza a sua ajuda seria muito bem vinda. Acho que essa casa cheia de recordações só fará o nosso mundo mais vazio. O favor que eu ia pedir é se... Posso morar por um tempo com a senhora, eu e Alícia?... Sabia que poderia contar com sua ajuda, muito obrigada mãe... Sim, amanhã cedinho... Beijos.

Continua na parte dois...

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