Conto: A dor de uma princesa - Parte dois

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PARTE DOIS

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Texto e Capa: Dayla Assuky

2013


Capitulo 3

Um pouco mais de cor

Eram tantos aviões indo e vindo. Alícia estava pasma olhando atenta através das paredes de vidro do aeroporto. Sua face ainda era de luto, mas uma criança sempre terá um tempo para fantasiar. – Vamos querida – seu pai a segura pelo ombro – Sua avó já está nos esperando com o tio Flávio no carro. Deixa que eu levo a sua mala, leve só a mochila, ok. – Ok papai... – com a mochila nas costas segurou a mão de seu pai e o seguia para fora do aeroporto. Estava um dia ensolarado e o aeroporto ficava próximo a uma praia cheia de gente com trajes de banho. Sua avó estava sorrindo de braços estendidos para a jovem que sorriu levemente. – Venha cá minha linda, cadê o abraço apertado da vovó?Alicia se apressou em abraçá-la. Era um abraço tão macio e gentil. Alicia tinha se esquecido, já fazia dois anos que não via a avó, pois ela mora em outro estado a cinco horas de avião.


– Minha flor preciosa... A vovó sentiu tanto sua falta, estou tão feliz de poder abraçá-la, te amo tanto... – Também te amo vovó. Faz tempo que fui na casa da senhora. Ainda tem balanço? – A senhora deu uma risada animada. – Sim querida, o balanço está esperando você. Vamos indo então. Alicia entrou no carro e sentou perto da janela. A avó mudou seu olhar para o pai de Alicia e foi quando todo aquele sorriso difícil caiu. Ela o abraçou com muita força, como se pelo abraço pudesse passar a seu filho toda sua energia vital, coragem e garra para se apegar ao futuro e superar aquela dor. O abraço foi de um amor mútuo. Enquanto o carro seguia e passava por ruas cheias de arvores, casas grandes e bonitas com jardins floridos, crianças brincando, a nuvem cinzenta começou a sumir dos olhos da pequena Alicia. Chegaram, a casa da vovó continuava a mesma de antes, apenas as arvores estavam mais frondosas, suas visitas costumavam ser sempre no outono. A casa era de médio porte toda em madeira, construção antiga mas bem zelada. – Vamos entrar e comer algo, você ainda lembra dos biscoitos de chocolate da vovó?


– Sim, vovó! Com pedacinhos de chocolate, hum. – Então vamos entrar e comer com leite. Capitulo 4

Uma proposta nada Absurda

– E então mano, como vai as coisas? – Tio Flávio estava com o braço apoiado sobre a janela do lado de fora da casa, o olhar distante na paisagem. – Nada fácil. Não mesmo. – Oslávo pai da pequena Alicia sentou-se em uma velha cadeira de balanço – Eu queria que isso fosse uma mentira, uma brincadeira sem graça da vida. Essa realidade me mata por dentro. – Sei como é difícil. Quando perdi nosso pai também me senti péssimo. Mas no seu caso... deveria encontrar uma namorada, acho que isso iria ajudar a suportar a falta que Maria deixou... – Não mesmo! Acabei de ficar viúvo, estou sofrendo e você me vem falando sobre encontrar outra mulher?! Você não mudou nada mesmo.


– Calma! Eu não estou propondo algo absurdo, eu sei que pode ser um pouco cedo, mas como pretende educar sua filha sem uma mulher ao seu lado? Você sabe como uma mãe faz grande diferença na educação de uma criança, principalmente uma menina. – Estou ciente disso, mas agora não é hora de pensar em mulheres. Tenho que dedicar mais tempo a minha filha. Vou ficar algumas semanas aqui na mãe e pensar sobre o assunto, sobre o melhor para minha filha. – Sei... Bom... Então vamos entrar e comer dos biscoitos porque sua pequena ursa loira está devorando tudo e se demorarmos não sobrará nada pra nós – Flávio sorri com ar de brincadeira. Oslávo devolve o sorriso. – Vamos... agora preciso me distrais e nada melhor que as histórias engraçadas da mãe... – ao se levantar e entrar pela porta observa Alicia sentada à mesa com sua avó sorrindo e conversando. Isso causou um alivio tão grande no peito de Oslávo que lhe rendeu um suspiro.


– Aqui eu acredito que as coisas vão melhorar... vão melhorar – repetia a si mesmo diversas vezes. Flávio deu-lhe um pequeno tapa nas costas seguido de um aperto firme no ombro. – Com certeza mano, as coisas vão melhorar. Os dois se olharam firme, com total cumplicidade. Capitulo 5

As semanas voaram

Cinco semanas passaram voando desde que Alicia e seu pai Oslávo chegaram na casa de sua avó Nona. Às vezes Alicia ainda se entristecia por alguns instantes, principalmente quando sozinha, mas na grande parte do tempo sorria, brincava no balanço do jardim de trás da casa e fizera amizade com uma vizinha chamada Mariana (com apelido de Mari) que tinha quase a mesma idade que ela. Mari era muito calminha e tímida, nunca olhava direto nos olhos dos adultos com vergonha. Principalmente quando Flávio o tio de Alicia estava por perto, por algum motivo ela não gostava dele.


Logo após o almoço, Oslávo ao se levantar da mesa chamou a pequena Alicia para uma conversa no seu quarto. Alicia ficou apreensiva, não queria ir embora da casa da avó e voltar para sua casa vazia onde só tinha dor e escuridão. Oslávo fechou a porta e Alicia logo sentou-se na cama com as pernas balançantes, era sua forma de mostrar nervosismo. Mordia a boca e seus olhos eram suplicantes ao direcioná-los ao seu pai. Ele sentou ao seu lado e passou as mãos entre seus cabelos cacheados separando-os como sua mãe costumava fazer. – Sabe Alicia... eu passei essa semana te observando muito. – Mesmo papai? Por quê? Eu nem fiz bagunça aqui... – Verdade. Você se comportou muito bem, fiquei impressionado – sorriu – Você está muito feliz aqui... – Ou sim papai, muito feliz mesmo! Amo muito a vovó e não quero ir embora, quero morar com ela. – Eu sei disso, não tem como ver algo diferente nesses seus olhinhos pidões... – os dois riram – Mas... Infelizmente, eu terei de ir embora.


Alicia se levantou e ficou em pé sobre a cama chegando a estar maior que seu pai, já enchia os olhos de lagrimas e a boca arqueada. – Não papai! Você fica aqui comigo! Não quero morar sozinha... – Mas você não irá morar sozinha! E a vovó Nona? – Eu gosto da vovó Nona, mas quero ficar aqui com a vovó Nona e você papai!... – Escute Alicia, o papai tem que trabalhar. O meu trabalho fica longe daqui. Não vou poder voltar todos os dias para casa. Mas posso vir a cada quinze dias passar o final de semana com você. – Mas papai... Eu não quero isso! Não quero! Não quero! – faz birra, chora e se desaba de bruços sobre a cama. Oslávo se levanta. A sua expressão é triste, mas firme. – Alicia, não faça manha. A mamãe sempre disse que você precisava ser forte, porque a vida não é fácil. Onde esta a sua força? Alicia se virou com o rosto encharcado e vermelho.


– Estava na mamãe, mas ela não está mais aqui e agora você também quer me deixar, me abandonar... Só a Nona me ama, só a Nona! Oslávo é um homem calmo e gentil, mas tem seus limites. Estava tão estressado com a decisão, pois não descansou se quer uma das cinco semanas que havia ficado lá. Se empenhou em consertos na casa, fazia as compras, saia para fazer caminhadas e exercícios, ia a casa de seu irmão Flávio assistir futebol ou filmes, levava Alicia no parque com Mari. O tempo todo sua mente estava cheia e tudo que fazia era com pensamentos como: “Minha esposa morreu, o que vou fazer? Preciso trabalhar... Como voltar?”. A noite quando chegava cansado de tantas atividades, a mente ainda estava a mil, por isso ele pegava um livro e lia até dormir sobre ele, completamente exausto. Esta era sua forma de fugir da tristeza, mas a cada dia chegava a hora de ter que agir, de escolher... Como? Apenas virando as costas e indo embora.


Capitulo 6

O medo...

Alicia está assistindo desenho na sala e o telefone toca, a criança é a primeira a correr e atender. – Alô?! – era grande sua agitação, mas se desfez quando percebeu que a voz era de uma mulher. – Olá, você deve ser a pequena Alicia. Sou secretária da empresa que seu pai trabalha, liguei para avisar que ele só poderá ir na próxima semana. Teremos uma reunião muito importante. Não fique triste, ele prometeu te levar um presente lindo quando for. Alicia desligou o telefone na cara da secretária os olhos marejados e o nariz fungando, mas sua feição não era de tristeza, era de magoa, frustração. Vovó Nona chegou à sala com uma chave de fenda na mão e seus óculos de grau estranhos que cresciam os olhos.


– Quem é querida? Quem ligou? Sem se virar com a mão deitada sobre o telefone Alicia responde. – Uma mulher. A secretária do papai. Disse que ele só vem na outra semana. – Ou minha pequena... Não fique triste... Venha ajudar a vovó, estou consertando um rádio antigo e preciso de ajuda. – Eu não estou triste vó Nona – secou as lágrimas com a manga da blusa – Estou brava, muito brava com o papai! “Eu sabia que isso iria acontecer, não se deixa uma criança na casa da avó e espera que não fique magoada com o pai, ela esta se sentindo abandonada” – pensava a Nona. – Eu também! – deu um berro dona Nona com as mãos na cintura – Estou muito brava com ele! Como pode? Ficou quinze dias fora e adiar uma visita. Oras, não foi essa a educação que eu dei a ele. Alicia ficou surpresa, pensou que a avó iria defender o seu pai, mas não. Dona Nona sentou no sofá, chamou Alicia e disse: – Agora fala criança tudo que te dá raiva! A vó Nona não vai brigar com você.


Alicia correu e sentou ao lado da avó no sofá. – Me dá raiva vovó, que as outras crianças tenham mamãe e eu não! Dá raiva ver o papai só trabalhando e esquecendo-se de mim. Dá raiva ouvir a voz de outra mulher falando do papai! – Isso, fala tudo que você sente... e quando sentir muita raiva você pode colocar o rosto nesta almofada e gritar, gritar bem forte o quanto quiser. Alicia pegou a almofada colocou no rosto e gritou com toda a força de seus pulmões, muitos gritos abafados pela almofada e por fim a mordeu. Terminando essa sessão de desabafos se sentia muito melhor, uma calma relaxante. – Pronto criança, se sente melhor? – perguntou Nona acariciando a cabeça da pequena. – Aham... – afirmava com os olhos baixos e tranqüilos. Abraçada com o travesseiro deitou sua cabeça nas pernas da avó. – Querida... Por que você disse que dá tanta raiva ouvir a voz de outra mulher falando sobre seu pai? Me deixou curiosa.


– É por que... – fungava – Uma colega da Mari me disse que quando um pai se separa da mãe, ele fica com outra mulher e abandona os filhos. Essa mulher vai roubar o papai de mim. – Hum... Que conclusão chegam as crianças de hoje, são realmente mais espertas do que as da minha época. Não sei nem o que dizer... Alicia se levanta e encara a avó. – É verdade vovó? O papai ta com outra mulher, ele vai me abandonar? – Não minha flor... Se o seu pai estivesse com outra mulher ele me contaria e nunca, jamais por ninguém ele iria te abandonar. – Mas ele já me deixou aqui, com a senhora. Vovó Nona, eu gosto de morar com a senhora, mas sinto muita falta do papai – deitou-se novamente sobre as pernas da Nona. – Eu sei querida, ele não vai lhe deixar. Mas não se esqueça que um dia ele vai procurar uma moça boa e vai se casar de novo. Ele ainda é novo, e vai querer arranjar uma mãe para você. – Eu não preciso! Já tenho a Nona. Só queria o papai também.


A avó suspirou e deixou a pequena dormir exausta. “Ele não iria... ou iria? Não, acredito que não, não tão cedo” – Dona Nona ficara pensativa olhando para a televisão sem ver nada.

Continua na parte três

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