No limiar

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02/08/11 O CONVÍVIO COM AS COISAS A dedicação e a presteza admiráveis dos jovens no convívio com as coisas eletrônicas: eles não se perguntam como elas estão moldando seus atos, aceitam essa determinação como se aceita que uma casa tenha portas, janelas, paredes. Faz parte do ambiente e isso não precisa ser questionado. Os jovens têm razão – até certo ponto. As coisas existem para ser usadas, basta que funcionem, e com a eletrônica elas parecem funcionar magicamente. Mas eis aí um primeiro ponto: esse funcionamento tornouse praticamente inacessível (escreve-se numa tela sem a menor noção de como isso se processa). Não é mais como quando um operário, ao usar uma ferramenta, podia aprender a produzir essa ferramenta. Há agora especialistas que produzem esse ou aquele elemento da ferramenta sem saber como vão se combinar, delegando a uma mão invisível a tarefa de montá-los e fazê-los funcionar. Esse trabalho de muitos dirigido por ninguém é que faz hoje a atividade humana se assemelhar tanto à de uma colmeia. Há também um segundo ponto, bastante óbvio: é que, ao contrário das abelhas totalmente dedicadas à colmeia, os seres humanos conservam uma realidade


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