PENUMBRA

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- Não há problema – Disse-lhe com um sorriso atrevido – Não estás zangada. Mas podia – Repeliu a minha ideia – Mas, sei que não sou só eu a cometer erros. Ela mostrou um sorriso vincado. A sua repentina calma estava-me a deixar embalar cada vez mais, em contacto com o tempo quente. Não conseguiria permanecer muito mais tempo em consciência do que estava a dizer. O único sentido de tudo, além do meu bater do coração, era a suave respiração dela, e dos agora murmúrios à nossa volta. Não via a possibilidade de haver algum nervosismo ou outro sentimento na sua cara. Ela de certeza que pensaria, ao menos, mas de forma clara e profunda. Sem o demonstrar. - Como podes fazer tal coisa? - Interroguei admirado – E a Jennifer, o Kelvin... Não acabei a frase de propósito. Para a pôr à prova, já que conseguia ler a maior parte das coisas que eu pensara até então. Seria certo de que isso não era nada difícil, porque ela era... diferente. - Controlo... auto controlo – Revelou-me – Não me importo com a confusão. - Penso que isso te pode tornar um pouco fria demais, logo, se eu estiver muito em apuros, que farás? O mesmo que agora? - Certamente - As suas mãos tremiam um pouco, mas tentava permanecer firmemente concentrada - Não irá acontecer nada de tão grave, podes ter a certeza. Afinal já te salvei um monte de vezes. Senti-me na obrigação a olhar para cada sítio que me doesse, para verificar se estava em muito mau estado; mas tinha profunda noção que essa tarefa me levaria a não me mexer novamente. O seu sorriso era mais do que tranquilo. - Hum. Isto está razoavelmente mau, mas eu dou-lhe um jeito de qualquer das formas. Os meus dotes de cura passam para muito daquilo do normal – Murmurou – É bom saber que, graças a ti, a vida pode ser compensadora e até as feridas como estas posso curar, que por vezes não consigo sequer vê-las – Fez deste modo o diagnóstico do meu braço - Um dos inchaços que tens cura-se em dois, três dias mas o resto só mesmo com uma pequena cirurgia. Determinei que não podia correr perigo, e que se havia alguma confiança entre nós os dois, teria eu de ser o primeiro a dar-lhe verdadeiramente a minha.


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