CGTEE_book_NOVO

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Muitas décadas antes das atribulações da parteira, antes mesmo de Candiota existir, o Estado ajudou no nascimento de outras perspectivas para o carvão. Transformou-se no principal protagonista desta história. Sem sua intervenção – seja através de investimentos, seja com leis e decretos -- dificilmente a planta de Candiota deixaria de habitar o terreno dos planos nunca realizados. Em 1920, do total de usinas instaladas no Rio Grande do Sul, sete eram hidrelétricas e 34 termelétricas. Estas últimas alimentadas, na sua maioria, por óleo diesel. A extração do carvão era penosa e cara, e o preço do transporte até o consumidor bastante salgado. Com isso, a importação continuava. Até que, em 9 de julho de 1931, o governo provisório baixou um decreto, tornando obrigatória a aquisição de 10% de carvão nacional, calculados sobre a quantidade importada, numa iniciativa que inaugurou um período de constante aumento da produção. Na mesma década, o Rio Grande do Sul atingiu mais de 80% da produção nacional de carvão-de-pedra – um total que começaria a cair em 1942, chegando a menos de 50% em 1946. A Segunda Guerra havia provocado o crescimento do mercado industrial gaúcho, exigindo a elevação da oferta de eletricidade, principalmente em Porto Alegre, Caxias do Sul (principal centro metalúrgico do estado), São Leopoldo e Novo Hamburgo – dois grandes produtores de calçados. Em contrapartida, os obstáculos à importação de máquinas afetavam a capacidade geradora do Estado. Como conseqüência, houve racionamento de energia elétrica em várias cidades, com ameaças ao abastecimento de água e transportes, inclusive em Porto Alegre. Com o advento da crise, o governo viu-se obrigado a ampliar sua participação no setor de energia elétrica. Assim, em 1943, o Rio Grande do Sul decidiu implantar a Comissão Estadual de Energia Elétrica (CEEE). Foi criada com o objetivo de racionalizar a oferta de energia, aproveitando o potencial hidráulico em conexão com as reservas carboníferas. O primeiro resultado, já em 1945, foi a proposta de um plano de eletrificação para o Estado – o primeiro do país –, que seria aprovado em abril do mesmo ano. Apostando na alavancagem da produção, o governo gaúcho criaria, em 1947, o Departamento Autônomo de Carvão Mineral (DACM). O novo organismo assumiu a responsabilidade pelo estudo de novas jazidas e pela orientação administrativa do setor. De 1947 – ano em que entrou em operação a Termelétrica de São Leopoldo, a primeira usina prevista no plano estadual – até 1950, quando o conjunto das obras deveria estar concluído, a CEEE instalou 13,62 MW e encampou 3,6 MW, atingindo a potência de 17,25 MW, ou seja, 18% da capacidade instalada no Rio Grande do Sul naquele último ano. Algumas unidades, atrasadas, foram incluídas na segunda etapa do plano. Além da construção das usinas, a segunda fase incluía a instalação de novas centrais geradoras em áreas rurais. Aqui, o propósito era de incentivar a eletrificação no campo, evitando ou reduzindo o fluxo migratório para as cidades. Em junho daquele ano, o governo federal assumiu a responsabilidade de realizar as obras de engenharia civil de várias hidrelétricas e também das termelétricas de São Jerônimo e Candiota. Entre 1950 e 1955, a CEEE concluiu as obras da segunda etapa do plano, inaugurando, entre outras, a primeira parte da termelétrica de São Jerônimo. A usina entrou em operação em 1954 e, dois anos depois, ganhou um acréscimo de potência, ficando com 20 MW. Além disso, instalou 2,1 mil quilômetros de linha de transmissão, aumentando mais de cinco vezes a sua potência, que chegou a 84,30 MW em 1955 – isto é, 65% do parque gerador do Rio Grande do Sul, o que beneficiou 65 municípios. Outro fato relevante para a produção de energia em território gaúcho, foi a transformação da CEEE, em fins de 1963, em sociedade

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