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Bem antes de Nathaniel Plant desvendar a riqueza que havia sob seus pés, as coxilhas da região ganharam notoriedade por motivo bem diverso: tornaram-se um dos palcos da Guerra dos Farrapos. Irrompendo em 1835, durante o período regencial, a revolta moveu-se contra a hegemonia política e econômica do Sudeste sobre as demais regiões do Brasil. Na época, o presidente das províncias era nomeado pelo poder central, de acordo com os interesses da aristocracia cafeeira. Para os riograndenses, o Império do Brasil tratava a província como mera fornecedora de homens, cavalos e alimentos para as batalhas na fronteira, o que desorganizava sua produção, causando-lhe reiterados prejuízos. Percebendo o que acontecia, as elites gaúchas mostravam-se cada vez mais inconformadas. A campanha de outra guerra, a Cisplatina (1820-1828), deixara os gaúchos ainda mais descontentes, em função dos conflitos com os chefes militares que vinham do Sudeste e sempre detinham os altos comandos. O Ato Adicional de 1834, que deu poder legislativo às províncias, não resolveu o problema, pois a representatividade do Rio Grande do Sul no centro das decisões permanecia pequena. Assim, um ano depois, a Revolta Farroupilha eclodiu liderada por Bento Gonçalves da Silva, cujo exército rebelde chegou a proclamar duas repúblicas: a de Piratini (1836), no Rio Grande do Sul, e a Juliana (1839), em Santa Catarina. Antes disso, porém, a terra hoje pertencente ao atual município de Candiota servira de cenário para a Batalha do Seival, travada a 10 de setembro de 1836. Para combater o rebelde João Manuel de Lima e Silva, que lutava em Pelotas, no Sul da província, os legalistas enviaram o tenente-coronel Silva Tavares, que percorreu a fronteira sudoeste, fazendo novos recrutas. No dia 9 de setembro, Tavares acampou nos campos do Seival, em Candiota, com a intenção de marchar sobre Pelotas no dia seguinte e ali defrontar-se com Lima e Silva. Mas nem tudo correu conforme o planejado. O comandante-geral do exército farroupilha, Antônio de Souza Neto, soube da chegada das tropas leais ao império e decidiu rumar em sua direção. No dia 10, apesar da inferioridade de forças, os rebeldes saíram vitoriosos, após uma refrega que deixou 180 mortos e 160 prisioneiros do lado do poder central. Os historiadores ressaltam a importância do fato, pois a vitória deu novo ânimo às tropas farroupilhas, que proclamaram a República RioGrandense no dia seguinte, 11 de setembro de 1836. A Guerra dos Farrapos terminou com a derrota dos rebeldes pelo exército legal, comandado pelo então barão de Caxias, já no reinado de Pedro II. A paz foi assinada em 1º de março de 1845. Para muitos gaúchos, a efêmera república é razão de orgulho e motivo de comemorações repetidas a cada 20 de Setembro, a data farroupilha. Para quem ajudou a erguer a primeira termelétrica do complexo de Candiota , a a grande batalha, em que estiveram pessoalmente empenhados, foi mesmo a construção e operação da usina, naqueles difíceis anos 1960. “Candiota foi uma aventura”, ressaltou Saraçol em seu depoimento de 2001. E emendou: “Mas valeu a pena, se valeu. Eu diria que caiu do céu.” (1)

(1) Depoimento prestado ao Centro de Memória da Eletricidade no Brasil, publicado em Candiota, 40 anos de eletricidade a carvão, Rio, 2001.

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