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Ferraz e Francisco de Paiva Fanucci

Casa da Lagoa Danilo Luiz Totaro Fernandes (32132840) 1

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BRASIL Arquitetura (Marcelo Ferraz Carvalho e Francisco de Paiva Fanucci), Casa da Lagoa, Lagoa da Conceição, Florianópolis, 2019

Área Construída: 174m² Uso: Residencial Proprietário: Maria Isabel Kanan Fabricantes: GRAPHISOFT, Mazal Indústria de Esquadrias de Madeira

1. 2. 3. Fachada Oeste da Casa da Lagoa Pátio da Casa da Lagoa visto do interior do pavimento inferior Vista do acesso principal da Casa da Lagoa

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A Casa da Lagoa, assim como a Catasús, tem o pátio como elemento principal da casa, em que este exerce o papel de organizador e de maior importância na arquitetura. Na Residência localizada em Florianópolis, o desnível do terreno foi utilizado para construir dois pavimentos, separados no térreo por um pátio principal, e ligados no primeiro andar por uma passarela. Nessa obra, o vidro foi muito utilizado, em muitos casos até atuando como “parede” , isso foi pensado para que tanto a paisagem das montanhas quanto da lagoa se sobressaísse como vista, unindo ambos os pavimentos e seus interiores com o pátio e a localização envolta pela natureza.

Tal como a Casa da Lagoa, a de Barcelona procura conectar o interior da casa com o exterior do terreno através de aberturas e uma conexão entre os ambientes e o pátio central, que nesse caso tem uma piscina. A grande diferença entre ambas é que a do Coderch está implantada em um terreno plano, é térrea e dá o foco para o pátio de uma maneira mais “privativa” , como se vê através do maior número de paredes.

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1. 2. Vista pátio e piscina da Casa Catasús Pátio da Casa da Lagoa

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A Casa da Lagoa está localizada em Lagoa da Conceição, Florianópolis, bairro predominantemente residencial, em um pequeno lote de esquina com terreno altamente desnivelado, e, portanto, ela se sustenta em três patamares. Ela foi projetada com o intuito de servir tanto para ateliê como para residência, buscando evidenciar sua bela vista para a lagoa e o bairro, integrando a casa ao seu entorno.

Assim como exibido na imagem 1, percebe-se a presença do concreto no sistema estrutural da casa, como nas lajes e na sustentação, já na estética exterior a preferência foi pelas paredes brancas caiadas, que contrastam com o entorno verde e durante períodos mais quentes do ano amenizam o calor. Em relação as aberturas, foi utilizado grandes caixilhos de madeira para emoldurar as paredes de vidro, que proporcionam a transparência necessária para exaltar a vista do azul da lagoa e do verde das montanhas.

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A residência buscou se alojar na topologia íngreme do terreno sem alterá-lo, tal qual se vê na elevação oeste (imagem 2), através da construção de patamares de arrimo de pedra que delimitam o terreno do lote, criando dois volumes afastados entre si por um pátio interno, mas conectados por uma passarela.

A obra remete a assuntos analisados em aula visto que a casa tem aspectos estruturais que remetem a Escola Paulista e ao Brutalismo, como a utilização do concreto aparente nas lajes e no muro de sustentação. Ou seja, a casa une a arquitetura contemporânea, como a valorização da luz natural através dos vidros, à antiga, em que as construções com pedras simples eram amplamente difundidas.

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2. Foto tirada no pavimento superior da Casa da Lagoa ressaltando os vidros contínuos que permitem vista da paisagem de ambos os volumes Elevação Oeste da Casa da Lagoa

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Marcelo e Francisco também idealizaram o azul e o vermelho para pintura de alguns panos cegos de madeira (imagem 1), pois buscavam a referência das embarcações tradicionais do litoral brasileiro e em Florianópolis, construindo um diálogo entre a obra e a cultura na qual ela está imersa.

Ademais, essas cores remetem a paleta modernista, em que o vermelho tem um caráter forte e marcante, amenizado pelo azul que transparece elegância e leveza ao ambiente, construindo um espaço, que além de fortemente iluminado pela luz natural direta, emana um aspecto de equilíbrio.

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Tanto na Casa da Lagoa quanto na Casa Catasús o pátio é o elemento principal da casa, sendo aquele que organiza os ambientes e no qual a casa está “centrada” . Ambas utilizam do sistema estrutural de concreto e suas aberturas se voltam para o pátio. A grande diferença entre elas é que a residência localizada em Floripa tem dois pavimentos e está implantada em um terreno inclinado, e, por isso, cria o diálogo com o pátio interno através da transparência (vidros), enquanto que a do Coderch está em um local plano e é térrea, isto significa que ela já está em toda sua unidade no mesmo nível que o pátio, necessitando apenas de janelas móveis e algumas aberturas para unir o interno ao externo (pátio e piscina).

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1. 2. 3. Foto do interior da sala/cozinha do pavimento superior, com destaque para os panos cegos de madeira pintados Planta Pavimento Superior da Casa da Lagoa Planta Térreo da Casa Catasús desenhada em Escala 1:100

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1. 2. Foto perspectivada no sentido Noroeste da Casa da Lagoa Perspectiva isométrica analítica da Casa da Lagoa com foco nos pátios, feita pelo aluno Danilo Totaro (escala 1:200)

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A Casa da Lagoa foi projetada pelo escritório BRASIL Arquitetura, fundado em 1979 pelos arquitetos Marcelo Ferraz, Marcelo Suzuki e Francisco Fanucci, os dois primeiros participaram no projeto do Sesc Pompéia da Lina Bo Bardi, experiência que influenciou fortemente os projetos do escritório, com características de intervenção em patrimônio histórico e diálogo entre cultura brasileira, aspectos locais e elementos eruditos.

Essa influência também está presente na casa localizada em Florianópolis, visto que a ideia inicial dessa obra foi construir um diálogo entre a própria Casa da Lagoa, em um terreno de esquina, com uma edificação antiga de arquitetura luso brasileira do início do século XIX que fica do outro lado da rua.

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A partir da imagem 1 (sobrado antigo luso brasileiro) e da imagem 2 (Casa da Lagoa) é possível notar que existem contrastes entre ambas as edificações devido suas diferentes épocas, enquanto a primeira tem janelas menores que remontam em certo aspecto ao barroco, delimitando uma casa tradicional que separa o interior do exterior, a segunda tem enormes caixilhos que conectam o interior e seus residentes com a rua, a paisagem e os pátios externos. Outra relevante diferença entre ambas está nos telhados, a antiga faz uso de telhas cerâmicas e uma espécie de um recuo com design barroco, já a recente utiliza do telhado embutido com platibandas, produzindo um visual mais geométrico (linhas retas) e contemporâneo.

Apesar dessas divergências, a Casa da Lagoa foi projetada para se relacionar com o sobrado, e, portanto, adotou o mesmo tom de branco nas paredes externas, patamares de arrimo de pedras semelhantes e grades de ferro que remetem ao portão baixo da arquitetura luso brasileira.

1. 2. Street-view da edificação luso brasileira do início do século XIX Casa da Lagoa

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A respeito de sua implantação no terreno, a residência se encaixou no lote respeitando a topografia íngreme, tal qual se vê na elevação oeste (imagem 1), para isso, foi necessário a construção de patamares de arrimo de pedra que sustentam os pavimentos, criando dois volumes afastados entre si por um pátio interno e conectados por uma passarela.

A partir disso que o acesso principal da casa, que está na entrada pelo portão da garagem (ponto mais alto a esquerda na elevação oeste) se encontra no mesmo nível dos pavimentos superiores de ambos os volumes (imagem 2), e pelo amplo uso do vidro desde essa entrada ocorre uma interação entre todos os cômodos da casa, caracterizando uma liberdade e conexão entre os espaços interiores, os pátios e a natureza do entorno.

Como representado na imagem 3, para essa obra foi idealizado a pintura de alguns panos cegos de madeira de azul e vermelho, retomando os mesmos tons de cores usados nas embarcações tradicionais do litoral brasileiro e de presença marcante na ilha de Santa Catarina., construindo um diálogo entre a obra e a cultura na qual ela está imersa.

Ademais, essas cores remetem a paleta modernista, em que o vermelho tem um caráter forte e marcante, amenizado pelo azul que transparece elegância e leveza ao ambiente, construindo um espaço, que além de fortemente iluminado pela luz natural direta, emana um aspecto de equilíbrio.

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1. 2. 3. Elevação Oeste da Casa da Lagoa Foto do quarto da Casa da Lagoa visando o interior da residência Panos cegos de madeira pintados em azul e vermelho

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Da mesma maneira que a Casa da Lagoa tem o pátio central que divide os dois pavimentos e exerce papel de organizador da residência, a Casa Catasús também foi construída a partir de seu pátio, que define o formato em T da obra, aproximando os ambientes dos quartos e da sala de estar ao pátio externo que conta com uma piscina. Portanto, ambas as casas podem ser definidas como casas pátio.

No entanto, o terreno delas são distintos, enquanto a residência localizada em Floripa está implantada em um terreno com alta inclinação, a do Coderch está em um local plano. Com isso, a obra da BRASIL Arquitetura se moldou em dois volumes de dois andares, necessitando da forte presença dos caixilhos de madeira envidraçados para criar um diálogo entre os cômodos e projetar a ideia de uma casa ateliê, que convida os moradores a experimentarem todos os ambientes, já a Casa Catasús foi projetada em outra época e em uma arquitetura plana, ou seja, as maiores aberturas se localizam nos locais de convivência próximos ao pátio.

Por fim, a casa localizada em Barcelona converge com a Casa da Lagoa em seu sistema estrutural, visto que ambas são construídas em concreto armado e tem paredes brancas caiadas. Apesar desses fatores que as assemelham, a da Lagoa utiliza o concreto aparente (nas lajes e muros de sustentação) e materiais mais “sofisticados” como pedra branca “goiás” .

1. 2. Vista pátio externo da Casa Catasús Pátio central da Casa da Lagoa e sua passarela

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