REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #282

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ALGARVE INFORMATIVO 6 de março, 2021

FILIPE DA PALMA | O ALGARVE NO PLANO DE RECUPERAÇÃO E RESILIÊNCIA 1 ALGARVE INFORMATIVO #282 «1.º DIREITO» CHEGA A SILVES | PLANO ESTRATÉGICO DE TURISMO DE LAGOS


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46 - Miguel Gião: empresário de sucesso em tempos de pandemia

58 - Filipe da Palma: das platibandas para a geologia

16 - «1.º Direito» chega a Silves

22 - Lagos apresentou Plano Estratégico de Turismo

OPINIÃO

32 - O Algarve no Plano de Recuperação e Resiliência ALGARVE INFORMATIVO #282

70 - Paulo Cunha 72 - Mirian Nogueira Tavares 74 - Ana Isabel Soares 76 - Adília César 78 - Fábio Jesuíno 80 - Alexandra Rodrigues Gonçalves 82 - Júlio Ferreira 84 - Nuno Campos Inácio 8


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1.º DIREITO AVANÇA EM SILVES PARA REALOJAR 55 PESSOAS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Município de Silves homologou, no dia 19 de fevereiro, um acordo de colaboração com o IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, no âmbito do Programa de Apoio à Habitação «1.º Direito», que prevê a disponibilização de um financiamento máximo estimado em 2 milhões, 233 mil e 232 euros, comparticipados em 1 milhão, ALGARVE INFORMATIVO #282

142 mil e 266 euros. A verba destina-se ao desenvolvimento de uma programação estratégica de soluções habitacionais que irá permitir à autarquia proceder à aquisição, até 2022, de frações ou prédios para realojamento de 15 agregados familiares, compostos por um total de 55 pessoas, que vivem em condições habitacionais indignas. O Município de Silves foi uma das primeiras quatro autarquias a nível 16


Rosa Palma, presidente da Câmara Municipal de Silves

nacional a apresentar a sua Estratégia Local de Habitação e a submeter a candidatura em fevereiro de 2019, sendo vontade desta edilidade “prosseguir no

futuro próximo com a implementação de uma nova Estratégia Local de Habitação, direcionada para a construção de fogos, no pressuposto de que o 17

Município de Silves possa aceder ao financiamento necessário”, revelou na ocasião Rosa Palma, Presidente da Câmara Municipal de Silves. Conforme lembrou Jorge Botelho, Secretário de Estado da Descentralização e da Administração Local, o acesso à habitação é um problema que se sente com particular ALGARVE INFORMATIVO #282


incidência no Algarve, devido à inflação dos preços motivada pelo pendor turístico da região. “Por isso felicito o

Município de Silves por esta preocupação enorme em aderir ao «1.º Direito», mas também pela sua estratégia para encontrar respostas que permitam a fixação de população que tenha uma vida como munícipes na terra que escolheram para viver”, referiu o antigo presidente da Câmara Municipal de Tavira. “Muitos anos depois do 25 de

Abril, a habitação tem, neste momento, uma Lei de Bases e uma Estratégia Nacional”, reforçou o governante, acrescentando que as Autarquias e o Estado estão irmanados numa estratégia comum. “São os

Municípios que dizem o que precisam e pedem financiamento para uma estratégia local de um mapeamento nacional que está a ser feito. E fico particularmente feliz por verificar que esta execução já começou em Silves”. Também a Secretária de Estado da Habitação, Marina Gonçalves, destacou o pioneirismo de Silves em matéria de habitação, ao mesmo tempo que realçou o papel imprescindível do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana para a execução das políticas públicas que dizem respeito à habitação. “O «1.º

Direito» é um programa importantíssimo na garantia do direito à habitação para as famílias que têm menores rendimentos, ALGARVE INFORMATIVO #282

para quem tem maiores dificuldades em salvaguardar o seu direito a uma habitação digna. O desafio que se colocou aos Municípios foi de identificar, através de uma Estratégia Local de Habitação, quais são as necessidades dos concelhos, para depois, num esforço conjunto, financeiro e de execução, se conseguir dar respostas habitacionais às pessoas”, explicou Marina Gonçalves. A governante admitiu que, durante muitos anos, se secundarizou, em Portugal, o investimento do poder central em matéria em habitação, por se pensar que as respostas surgiriam mais facilmente por via do mercado tradicional. “Ao contrário da saúde,

da educação, da segurança social, que têm efetivamente o Estado presente, na habitação nunca fizemos esse esforço. Sempre houve uma política de habitação social, mas não existia uma estratégia definida e estruturada das carências e dos instrumentos para resolver os problemas. Este cenário tem mudado no passado recente porque a concretização do direito à habitação carece de uma resposta forte e articulada entre poder central e poder local”, entende a Secretária de Estado da Habitação. “A habitação é a base da sociedade e de cada indivíduo. 18


A casa não é apenas o local onde vivemos o nosso dia-a-dia enquanto pessoas, mas também o local onde trabalhamos, onde os mais jovens estudam, onde garantimos a preservação da nossa saúde. É a base da construção do equilíbrio do agregado familiar”, frisou. Marina Gonçalves reconhece, porém, que estas respostas não surgem de um dia para o outro e que a oferta que existe no terreno está desadequada das posses até das famílias com rendimentos intermédios e que, antigamente, teriam maior facilidade em adquirir casa. “Hoje,

António Costa, Marina Gonçalves e Jorge Botelho

qualquer decisão pessoal sobre onde viver e trabalhar vai depender das respostas habitacionais existentes. Nesse sentido, criamos recentemente uma Bolsa de Imóveis do Estado para Arrendamento Acessível mais centrada na classe média que pretende fazer uma coisa que parece ser muito simples, mas que, durante anos, não fizemos. 19

Resumindo, queremos pegar em património do Estado que está devoluto, sem utilização, e colocálo ao serviço das pessoas. No complemento deste instrumento com os instrumentos municipais de promoção do arrendamento acessível fica criada a base para se garantir a constitucionalidade do direito à habitação”, sublinhou a Secretária de Estado da Habitação .

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LAGOS APRESENTOU UM PLANO ESTRATÉGICO DE TURISMO ADAPTADO AO «NOVO» MUNDO EM QUE VIVEMOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Município de Lagos apresentou, no dia 18 de fevereiro, o seu Plano Estratégico de Turismo, numa sessão por videoconferência que contou com uma forte participação de entidades associadas ao turismo, de empresários locais e do público em geral. O plano tem ALGARVE INFORMATIVO #282

como base o contexto de crise pandémica que se vive atualmente, definindo as principais linhas orientadoras para o futuro daquela que é a principal atividade económica do concelho. Sustentabilidade, valorização dos recursos locais e Lagos como «Cidade Inteligente» foram alguns dos conceitos chave apresentados por 22


Carlos Medeiros, Presidente da IPI Consulting Network, entidade responsável pela elaboração do plano. Alinhado com as estratégias para o turismo nacional e regional, as medidas propostas assentam na concertação entre os diferentes agentes públicos e privados, baseando-se em princípios de sustentabilidade e de valorização dos recursos do concelho, permitindo também uma maior coesão económica, social e territorial. Tendo em conta que Lagos apresenta uma oferta diversificada de recursos para todos os gostos e públicos, foi então definido um plano de ação baseado em estratégias fundamentais. Nas ações transversais, definir Lagos como «Cidade Inteligente» permitirá dotar o concelho de elementos que a tornam mais segura, acessível, tecnológica e sustentável, seja na iluminação urbana, sinalética específica, como na criação de aplicações temáticas e implementação de uma rede de videovigilância em locais estratégicos. Já na área da Comunicação e Marketing, a palavra de ordem é «inclusão», com a intenção de comunicar mais e melhor em diversas línguas, para vários e novos públicos, recorrendo à acessibilidade das novas tecnologias para promover o concelho nas suas diferentes vertentes. No que toca à Qualidade, para além da monotorização e intervenção em situações de irregularidades no setor turístico, também se pretende reforçar Lagos como concelho atrativo e amigo do investidor, da comunidade criativa e dos nómadas digitais. Incluídas nas ações temáticas de turismo estão as Praias, a Náutica, a 23

Natureza, a Cultura, o Golfe e a Saúde e Bem-Estar. Para as Praias, estão previstas ações que envolvem a melhoria das condições de higiene e segurança e a sua inclusividade. No Turismo Náutico, a intenção é reforçar a promoção das várias atividades envolvidas, incrementando a sua notoriedade em todo o mundo. Já o Turismo de Natureza irá merecer grande destaque neste plano, descentralizando o turismo do concelho do litoral para o interior. Previstas estão estratégias que passam pela valorização da biodiversidade, da fauna e flora e a sua observação através de diversas rotas temáticas, experiências e práticas desportivas, mas também pela promoção do autocaravanismo sustentável. Dada a rica História e Cultura de Lagos, é importante também intervir nesta área com o desenvolvimento de rotas temáticas ligadas, não só à Rota dos Descobrimentos, à gastronomia local e ao enoturismo, mas também à arquitetura moderna que tanto tem crescido em Lagos. Em cima da mesa está também o reconhecimento da tradicional Arte Xávega da Meia Praia através de uma candidatura à UNESCO como Património Imaterial da Humanidade. Dispondo o concelho de campos de golfe premiados, esta modalidade será reforçada para combater a sazonalidade e engrandecer a notoriedade mundial de Lagos nos circuitos desta prática. O Turismo de Saúde e Bem-Estar irá merecer maior intervenção através da criação de ALGARVE INFORMATIVO #282


Hugo Pereira

condições favoráveis para atrair investimento neste setor e a melhoria da rede de cuidados de saúde, alargando-a a uma vertente de turismo. Com este Plano Estratégico de Turismo, a autarquia lacobrigense pretende, não só combater os efeitos nocivos da pandemia neste setor, mas também fortalecer o seu papel de agente regulador e a sua missão enquanto entidade promotora e facilitadora da atividade turística, reafirmando Lagos como destino de excelência. “O turismo é claramente

a principal atividade económica do Algarve e está a sofrer bastante por depender muito da mobilidade das pessoas e dos mercados externos. Decidimos fazer este Plano ALGARVE INFORMATIVO #282

Estratégico de Turismo muito antes de surgir uma pandemia e, quando ela apareceu, consideramos ser importante perceber que outros mercados podíamos tentar captar para Lagos, um concelho que tem tudo aquilo que o resto do Algarve possui, mas também possui características únicas que devemos aproveitar”, afirmou Hugo Pereira, presidente da Câmara Municipal de Lagos. “Por esse

motivo, adaptamos e ajustamos o plano ao «novo» mundo em que vivemos, um documento no qual participaram muitas pessoas”, acrescentou o edil lacobrigense. 24


João Guerreiro

UM PLANO ALINHADO COM A ESTRATÉGIA DA REGIÃO O Plano Estratégico de Turismo foi analisado criteriosamente por João Guerreiro, atual Presidente da A3ES – Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior e antigo Reitor da Universidade do Algarve, em suma, uma pessoa com profundo conhecimento da região. E o Professor Catedrático destacou, de imediato, a conciliação que o plano muitas vezes faz entre as estratégias do turismo e as estratégias residenciais. “Podemos vocacionar

um concelho, uma cidade, uma aldeia ou uma região, para o turismo, mas temos, sobretudo, que encontrar também soluções para a população residente, pois é ela que 25

vai criar melhores condições para o desenvolvimento do turismo e para o acolhimento dos visitantes”, justifica João Guerreiro. “Não pode haver contradição entre a estratégia do turismo e a linha de valorização e de criação de qualidade para a população residente e para as demais atividades que se desenvolvem no concelho. Se não tivermos população residente não temos emprego, espaços urbanos vividos por pessoas, atividades culturais ou relacionadas com o património”, lembra. João Guerreiro considera, entretanto, que muitas das medidas que o Plano aponta não serão apenas resolúveis no ALGARVE INFORMATIVO #282


João Fernandes

espaço do concelho de Lagos, como sejam a inserção da cidade em redes temáticas ou as questões que dizem respeito à saúde. “A estruturação de

um Plano Estratégico de Turismo deve ter em conta a sua componente local, mas também as pontes para parcerias com outras unidades territoriais. A dimensão dos concelhos no Algarve é relativamente pequena e estes modelos de soluções intermunicipais são cada vez mais interessantes e permitem resolver melhor, a nível local, os problemas que vão surgindo”, frisa. E sobre as muitas ações temáticas contempladas no ALGARVE INFORMATIVO #282

documento que pretendem marcar a diferença de Lagos em relação a outros destinos, João Guerreiro chamou a atenção para a Náutica e para o Património e História. “Tudo o que

sejam iniciativas em redor da Marina de Lagos serão fundamentais para Lagos, assim como toda a história dos últimos 500 anos que está presente na cidade e no concelho. O Plano é muito rico em sugestões e propostas bastante concretas e, na situação complexa em que nos encontramos, é particularmente interessante refletir sobre aquilo que pode ser feito, não no sentido 26


de diminuir o peso do turismo, mas de encontrar outras soluções de desenvolvimento local que possam suportar, no futuro, um turismo de maior qualidade”. Na sessão online participou igualmente João Fernandes, Presidente da Região de Turismo do Algarve e da Associação Turismo do Algarve, que se manifestou satisfeito pelo Plano Estratégico de Turismo do Concelho de Lagos estar alinhado com o Plano Estratégico do Algarve. “Todos queremos um

destino sustentável e inteligente, atenuar a sazonalidade e concorrer para a coesão territorial, mas devemos olhar para o turismo, não 27

como um fim em si mesmo, mas como um grande ator do benefício dos territórios e da melhoria da qualidade de vida dos residentes. Esse equilíbrio está bem traduzido neste documento”, salienta, dando o exemplo de algumas medidas de eficiência energética e hídrica ou no plano dos resíduos sólidos. “E a

plataforma de alerta para crimes ambientais é uma medida clara de um destino inteligente que aposta na sustentabilidade, que não tem receio de que a população participe na chamada de atenção para situações menos conseguidas. É também clara a ALGARVE INFORMATIVO #282


José Apolinário

relevância da mobilidade elétrica e suave e a criação de mecanismos que articulem as respostas às necessidades do cidadão e do visitante”, apontou o líder do Turismo do Algarve. João Fernandes enalteceu ainda o estímulo aos recursos e aos agentes criativos, sem a qual não haverá inovação diferenciadora, assim como a implementação de um Gabinete de Apoio ao Investidor. “Sabemos que, no

período pós-pandémico, a captação de investimento vai ser especialmente relevante para a retoma dos destinos. E todos os agentes do setor pedem a requalificação dos espaços públicos, ALGARVE INFORMATIVO #282

uma aposta que também é identificada em Lagos”, declarou o dirigente, que também focou o papel do Turismo Náutico e Cultural numa lógica de «Lagos Cidade dos Descobrimentos». “Queremos dar

uma vida diferente à Caravela Boa Esperança, torná-la num centro interpretativo e num ícone de Lagos”, revela, não esquecendo igualmente a preponderância deste concelho no que toca ao turismo desportivo, ao acolher diversas competições e estágios de equipas nacionais e estrangeiras. O ciclo de intervenções encerrou com as palavras de José Apolinário, Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento 28


Regional do Algarve, entidade que também trabalha com vista ao desenvolvimento equilibrado e harmonioso do território. “O governo

vai abrir brevemente o processo de revisão do PROTAL – Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve, que vai criar novos desafios, e as câmaras municipais também vão abrir os processos de revisão dos seus PDM – Planos Diretores Municipais. Quanto a este documento, é de sublinhar toda a aposta na economia circular, na componente histórica dos Descobrimentos e na náutica. Muitas vezes falamos da Escola de Sagres do Infante D. Henrique, mas ela estava, de facto, em Lagos”, recordou José Apolinário. “Estamos a 29

tentar desbloquear um processo que se arrasta há vários anos para instalar uma atividade multimédia na Fortaleza de Sagres sobre os Descobrimentos e era importante recordar o papel de Lagos nesse grandioso desígnio histórico de Portugal. Lagos tem igualmente bons vinhos, produtos locais, gastronomia saudável, e há que apostar nos circuitos de proximidade, nas boas práticas em torno da pegada ecológica, para além das questões relacionadas com a eficiência hídrica e energética e na própria digitalização da administração pública e da sociedade civil”, indicou o presidente da CCDR Algarve. ALGARVE INFORMATIVO #282


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BOAS NOTÍCIAS PARA O ALGARVE NO PLANO DE RECUPERAÇÃO E RESILIÊNCIA, MAS AMAL E CCDR ALGARVE PEDEM MAIS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ncontra-se em consulta pública o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), um amplo documento estratégico onde estão plasmadas reformas estruturais fundamentais para assegurar a saída da crise pandémica e garantir um futuro resiliente para Portugal. De aplicação nacional e com um período de execução até 2026, os seus recursos ascendem a cerca de 14 mil milhões de euros de ALGARVE INFORMATIVO #282

subvenções, e integra um conjunto de reformas e de investimentos que permitirão ao país retomar o crescimento económico sustentado, reforçando assim o objetivo de convergência com a Europa ao longo da próxima década. No âmbito desta consulta pública, a AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve submeteu, no dia 1 de março, os seus contributos, que agregam a posição dos 16 municípios da região, 32


António Pina, presidente da AMAL - Comunidade Intermunicipal do Algarve

com o Hospital Central Universitário do Algarve, o apoio à capitalização das empresas, a habitação e o Cluster do Mar a encontrarem-se entre os principais desejos. O levantamento destas necessidades foi realizado em colaboração com a Universidade do Algarve, tendo em conta as prioridades fixadas pela União Europeia e por Portugal para o próximo período de programação. “Como é sabido, os

Municípios do Algarve têm estado na primeira linha do combate à crise pandémica. Neste sentido, são agora propostas as melhores 33

soluções para que a região recupere e fique mais bem preparada para o período pós pandemia. E a recessão no Algarve teve, sensivelmente, o dobro da intensidade do que a média do país. Por isso, o programa de recuperação e resiliência deverá ter em consideração esta realidade e discriminar positivamente a região do Algarve”, considera a AMAL. ALGARVE INFORMATIVO #282


Das várias propostas de alteração ao PRR destacam-se três prioridades nas áreas da Saúde, Habitação e Investimento e Inovação. “O Hospital Central

Universitário do Algarve constitui, há vários anos, a principal reivindicação da região, em virtude de ser a maior necessidade sentida pela sua população. Trata-se, também, de um equipamento decisivo para a consolidação de um setor estratégico para a região – o da saúde e bem-estar – porquanto potencia a competitividade regional e assegura, localmente, funções de qualificação e atração territorial de investimento, de emprego qualificado e de coesão social”, defende a AMAL. Em relação ao ALGARVE INFORMATIVO #282

estrangulamento que a falta de habitação representa para o desenvolvimento económico do Algarve, a AMAL reivindica um programa específico de reforço da oferta de habitação apoiada na região, cujo suporte de operacionalização seria a Estratégia Regional de Habitação, sustentada nas 16 Estratégias Municipais, abrangendo habitação social e a custos acessíveis, e reabilitação do edificado a colocar no mercado de arrendamento. O valor estimado para este Programa seria de 200 milhões de euros. Para a AMAL, a dimensão da crise económica que tocou o Algarve justifica igualmente que se criem dois programas específicos de Investimento e Inovação. “Trata-se, em primeiro

lugar, de um «Programa de 34


Recapitalização Empresarial do Algarve», para injetar liquidez imediata nas empresas com vista a salvar as mais importantes, perspetivando a sua modernização e transformação produtiva. O montante a afetar a este programa seria de 200 milhões de euros”, refere a proposta da Comunidade Intermunicipal do Algarve. Em segundo lugar, no entender da AMAL, justifica-se a criação do Programa «Cluster do Mar do Algarve», tendo sido identificados no estudo realizado em colaboração com a Universidade do Algarve diversos projetos diferenciadores neste domínio.

“Falamos do porto de cruzeiros de Portimão; do desassoreamento do Rio Arade até Silves; do porto comercial de Faro; do porto de

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recreio de Tavira; de pequenos portos de pesca na Costa Vicentina; do projeto do parque natural de coral a sul de Lagoa, Armação de Pera e Albufeira; das componentes investigação marinha, como a central de serviços e tecnologias na área do Mar, associado ao Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve, entre outros. Estima-se que se poderia afetar do PRR a este projeto 120 milhões de euros”. No que se refere a projetos já inicialmente previstos no PRR, a AMAL e os municípios algarvios congratulamse com inscrição, como prioritário, na componente 9 do PRR – Gestão

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José Apolinário, presidente da CCDR Algarve

Hídrica, do Plano Regional de Eficiência Hídrica do Algarve; na sua componente 7 – Infraestruturas da ligação transfronteiriça entre Alcoutim e Sanlúcar del Guadiana, que representará um importante investimento promotor do desenvolvimento do interior, e da Variante a Olhão da EN 125. “De

enaltecer ainda a referência às intervenções nas Serras de Monchique e de Silves na componente 8 – Florestas, devendo esta, contudo, ser alargada à Serra do Caldeirão”, indica a AMAL.

SALVAGUARDAR O TURISMO E DIVERSIFICAR A BASE ECONÓMICA Também o Conselho Regional da CCDR – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve ALGARVE INFORMATIVO #282

apresentou as suas propostas para o Plano de Recuperação e Resiliência, tendo por base a Estratégia de Desenvolvimento Regional – Algarve 2030 aprovada, a 11 de setembro de 2020 pelo Conselho Regional da CCDR Algarve, mas também a aprovação da Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço, na última Cimeira Ibérica realizada em setembro de 2020, que destaca a singularidade da zona fronteiriça no contexto da União Europeia, com vista a fomentar a sustentabilidade nos territórios afetados pelos desafios demográficos, nomeadamente o despovoamento e envelhecimento, e com elevado potencial para atingir o desenvolvimento socioeconómico sustentável. “O PRR deverá

complementar os investimentos estruturais dos diversos 36


programas temáticos sectoriais e do Programa Operacional Regional, no caso do Algarve, com o reforço da sua dotação, estimada em 300 milhões de euros, alinhada com o objetivo de diversificação da base económica regional, salvaguardando a importância estratégica do turismo para a balança de pagamentos, e induzindo o desenvolvimento de outros setores alinhados com a RIS3 regional (Saúde e Bem-Estar, Mar, Indústrias Culturais e Criativas, Energias Renováveis e Agroalimentar e Alimentação Saudável)”, entende o Conselho Regional da CCDR Algarve. Nesse sentido, considera-se que o alargamento das redes de cuidados de

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saúde primários, de cuidados continuados integrados e de cuidados paliativos, constitui um investimento de especial preocupação na região, a par das identificadas necessidades na área da saúde mental. O investimento deve igualmente integrar a requalificação dos centros de saúde, adotando estruturas inovadoras com um âmbito académico e científico, promovendo a melhoria contínua dos cuidados, incluindo em alguns casos a construção de novos edifícios, assegurando melhores condições operacionais no quadro da transferência de competências para os Municípios, mas também contribuindo para a atração e retenção de profissionais de saúde qualificados. Em matéria de qualificações, competências e emprego, releva-se a modernização da oferta e dos

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equipamentos do ensino e formação profissional, decisivo para a valorização do trabalho e das profissões, bem como a agenda para a promoção do trabalho digno, matéria em que a região apresenta um défice estrutural. “Contudo,

justifica-se um programa específico adaptado ao Algarve de qualificação e reconversão profissional, mas também de capacitação de ALGARVE INFORMATIVO #282

pequenos empresários individuais de micro e pequenas empresas”, frisa o Conselho Regional da CCDR Algarve. Ainda na Componente 6, são destacados os instrumentos propostos para reforçar a cooperação entre o ensino superior, a administração pública e as empresas, que no Algarve deverão traduzir-se em alianças para a 38


de recursos humanos qualificados. Em nosso entendimento, o PRR deveria ter também uma resposta mais específica na concretização e discriminação positiva do acesso à habitação nas zonas de baixa densidade no interior, prevendo as intervenções necessárias à atração para essas zonas de nómadas digitais, mas também ao nível da disponibilização de habitação condigna para os trabalhadores temporários”, indica o Conselho Regional da CCDR Algarve. No que diz respeito às acessibilidades, releva-se a inscrição no PRR da ligação transfronteiriça entre Alcoutim e Sanlúcar del Guadiana, que representará um importante investimento promotor do desenvolvimento do interior, e do reforço da cooperação transfronteiriça no eixo do Guadiana, acentuando a permeabilização deste território de fronteira. “Neste território dever-

qualificação nos setores do turismo, do mar e do ambiente/agricultura, mas também a mobilização do Impulso Jovem e do Incentivo Adultos. “É igualmente

de saudar a inscrição no PRR de uma componente específica para a Habitação, cuja dificuldade no acesso na região constitui um dos principais fatores dissuasores de investimento e de atração e fixação 39

se-á contemplar também o desassoreamento do Rio Guadiana, do Pomarão a Mértola, dando continuidade aos trabalhos já desenvolvidos”, acrescenta o órgão, antes de abordar alguns investimentos previstos na Estratégia Algarve 2030 que não estão inscritos no PRR, com o Hospital Central Universitário do Algarve logo à cabeça.

“Independentemente da sua necessidade na área da saúde, trata-se de um equipamento ALGARVE INFORMATIVO #282


decisivo para a consolidação de um setor estratégico para a região – o da saúde e bem-estar, porquanto potencia a competitividade regional e assegura, localmente, funções de qualificação e atração territorial, de investimento, de emprego qualificado e de coesão social. Importa avaliar o grau de maturidade deste investimento estratégico para a Região, designadamente da parceria público privada para a construção, nesse caso assegurando em sede de PRR o financiamento do equipamento, sempre no quadro de uma resposta integrada para o novo Hospital ALGARVE INFORMATIVO #282

Central Universitário do Algarve, certamente em diálogo e interação com os Municípios, num trabalho em rede que integre e articule com as valências e serviços hospitalares existentes em Faro, Portimão, Lagos e São Brás de Alportel”, defende o Conselho Regional da CCDR Algarve.

APOSTA NA CONECTIVIDADE, DIGITALIZAÇÃO, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E ENERGIAS RENOVÁVEIS Nas propostas enviadas recorda-se igualmente a frágil estruturação da ligação de interface entre as unidades 40


vertente de especialização em Destinos Inteligentes, ou ainda a central de serviços e tecnologias na área do Mar, associado ao Centro de Ciências do Mar (CCMAR), bem como ao CIMA e ao CHANGE, que integra a Unidade MED na área do Ambiente, Agricultura e Alterações Globais. Olhando para as Infraestruturas, o Conselho Regional da CCDR Algarve recorda que estão em funcionamento, na região, 34 áreas de acolhimento empresarial (AAE), que concentram cerca de mil empresas, pelo que a inclusão de investimentos específicos na conectividade, na digitalização, na inteligência artificial e na eficiência energética e uso de energias renováveis revelam-se um caminho para o apoio à sua sustentabilidade e competitividade. “Esse produtoras de conhecimento e o tecido empresarial na região, nomeadamente nas principais áreas de especialização, e que tem sido um entrave ao desenvolvimento de empresas mais inovadoras e competitivas. Do mesmo modo, é importante fomentar o desenvolvimento do Algarve Biomedical Center (ABC), parceria entre a Universidade do Algarve o Centro Hospitalar Universitário do Algarve, potenciando o desenvolvimento do conhecimento na saúde, bem-estar e ciências da vida e sua transferência para o mercado, gerando efeitos multiplicadores setoriais; reforçar e consolidar projetos mobilizadores no quadro das agendas previstas, nomeadamente o Digital Innovation Hub, ancorado no futuro Polo Tecnológico do Algarve, com uma 41

investimento também se revelará decisivo para as AAE se posicionarem como polos agregadores de uma nova oferta industrial e de serviços de valor acrescentado, contribuindo para a diversificação da base do tecido económico regional. Neste contexto também será importante investir no upgrade de funcionalidades da plataforma «Algarve Acolhe», com o duplo objetivo de estabelecer um instrumento de análise e planeamento das AAE presentes e futuras e de atração de investimento empresarial para a região, fazendo a ponte com o ALGARVE INFORMATIVO #282


desígnio da transição digital”, sublinha. O Conselho Regional da CCDR Algarve destaca, pela positiva, a Variante a Olhão da EN 125, à qual se deve juntar a requalificação e ordenamento integrado da EN 125 entre Olhão e Vila Real de Santo António, assim como a requalificação da ligação do IP 2 – Ligação Faro – São Brás de Alportel integrando a via rodoviária que liga Faro a Chaves. Mas o terminal de cruzeiros e porto de Portimão também de reveste de uma importância estratégica acrescida no curto prazo, com a reintrodução e consolidação da ligação marítima com a Madeira e Marrocos e, no médio prazo, como fator potenciador do setor turístico, e de novos investimentos na reparação naval. “Esta

infraestrutura deve integrar soluções limpas e sustentáveis do ponto de vista energético, para minimização de consumos e custos de contexto. O desassoreamento do rio Arade, até Silves, contribuirá igualmente para afirmar as potencialidades da infraestrutura portuária e o seu contributo para complementar e diversificar a oferta turística”. No âmbito do Plano de Transformação da Paisagem dos Territórios de Floresta Vulnerável, preconiza-se o alargamento a toda a serra do Caldeirão, designadamente aos concelhos de Loulé, São Brás de Alportel e Tavira, das intervenções previstas para a serra de Monchique, nos concelhos de Monchique e Silves, dada a sua contiguidade e a ALGARVE INFORMATIVO #282

premência de uma preservação integrada, face ao incontornável contributo para a biodiversidade e para alimentar o ciclo hidrológico, tornando os sistemas mais resilientes e melhor adaptados às mudanças climáticas. Sublinha-se ainda tratarem-se de áreas designadas no âmbito da Rede Natura 2000 e para as quais importa considerar a aplicação de mecanismos de remuneração dos serviços ecosistémicos prestados pelas comunidades. “Neste território,

uma visão integrada para a mobilidade territorial deverá ser reforçada por via da 42


requalificação EN 124, via longitudinal estruturante para valorização do território serrano”, apela o Conselho Regional da CCDR Algarve. Na Componente da Mobilidade Sustentável, a ligação ferroviária do Aeroporto Internacional de Faro à Linha do Algarve e o desenvolvimento do estudo de traçado de ligação do Algarve a Andaluzia são investimentos estruturantes para afirmar a competitividade regional e o seu posicionamento, quer no país, quer na Europa, colmatando, por um lado, um 43

problema de articulação modal e funcional na região, e por outro, na clara ausência de nó de articulação estratégica entre o os corredores transeuropeus, Atlântico e Mediterrânico. Do mesmo modo, a renovação da Linha do Sul, no troço Torre Vã – Tunes, reforçará a inserção regional no país, contribuindo para a diminuição da distância tempo a Lisboa. Englobadas no vasto leque de propostas submetidas pelo Conselho Regional da CCDR Algarve encontramse também várias sobre a Bioeconomia Sustentável, a Eficiência Energética em Edifícios e a Transição Digital . ALGARVE INFORMATIVO #282


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“O SUCESSO É TODOS OS DIAS PERCORRERMOS MAIS UM BOCADINHO DO CAMINHO QUE TRAÇAMOS ATÉ CHEGARMOS À META”, EXPLICA MIGUEL GIÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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oi à conversa no Eva Senses Hotel, em Faro, que ficamos a conhecer melhor o percurso de Miguel Gião, empresário de 39 anos que, ao invés de encerrar negócios em tempos de pandemia, tem sabido adaptar-se à nova realidade que todos vivemos desde março de 2020. Ao Columbus Bar, Restaurantes Aperitivo e Lodo, Adão e Senses no Senses do AP Hotels & Resorts, juntou-se mais recentemente o «Pega Leve», numa agitada vida a que se soma também a faceta de formador na Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve e que começou a «desenhar-se» logo no ensino secundário.

“Quando tive que escolher o caminho a seguir, identifiquei, com naturalidade, o turismo, porque sempre foi esse o modelo de negócio da região. Por isso, tirei o Curso de Restaurante Bar na Escola de Hotelaria, mais ou menos ao mesmo tempo em que o meu pai abriu o «Aperitivo». Ajudava-o no Verão e o bichinho foi-se consolidando”, recorda o farense. Terminada a primeira formação, seguiuse Técnicas de Gestão Hoteleira e os habituais estágios, no Hotel Vila Gale Marina, no Hotel Quinta do Lago, no Hotel Pinheiros Altos e no Hotel Formosa Park , tendo depois trabalhado no Hotel Dom Bernardo, na capital algarvia. Mas Miguel Gião não se sentia completo, totalmente realizado. “Na altura, com

23 anos, o que mais me cativou foi abrir um bar e o meu pai ajudou-me ALGARVE INFORMATIVO #282

com o Columbus, que era do Jaime Simões. Foi o primeiro de muitos outros negócios, uns fechamos, outros vendemos, porque nem tudo corre sempre bem”, refere, sempre no plural, porque o papel do progenitor, José Gião, tem sido fundamental neste trajeto a que se juntou, pouco depois, o irmão mais novo, Ricardo Gião. “Ele é

o meu braço direito na operação, trata dos fornecedores, da 48


contabilidade, da papelada. Eu assumo a vertente criativa, lido com o marketing e recursos humanos. Faço o que gosto e, o que não gosto, delego no Ricardo, porque, felizmente, também é a parte com que ele se identifica mais”, explica, com um sorriso. De forma segura e sustentável tem crescido a «Gião & Gião» ao longo dos anos, sempre atenta ao que o mercado 49

vai ditando, até porque, conta Miguel, quase todos os meses surgem convites ou ofertas de negócio. Disso é exemplo o desafio de António Parente para explorar o «Adão» e o «Senses»,

“porque fez algumas reuniões de trabalho no «Columbus» e identificou-se com o espaço”. “Quando ele fez obras no Hotel Eva, abrimos o «Adão», virado para a Marina, com comida saudável, peixe e os pokes, e o ALGARVE INFORMATIVO #282


«Senses» também funciona bem durante o Inverno. A ideia era ter espaços que pudessem funcionar o ano inteiro e não apenas durante o Verão”, declara o entrevistado. “Na altura em que estávamos a adaptar o «Aperitivo» às novas tendências de mercado, o proprietário do restaurante ao lado fez-nos uma proposta para ficar com o espaço, gostamos da casa e assim surgiu a marisqueira «Lodo». Foi tudo aparecendo naturalmente”. Estar atento ao que o mercado vai dizendo e aproveitar as portas que se abrem tem sido a receita de sucesso de Miguel Gião e o «Pega Leve» é disso mais um reflexo. “Não podemos jogar a

toalha ao chão, temos que estar do ALGARVE INFORMATIVO #282

lado do progresso. O objetivo principal é manter a empresa saudável e conservar os postos de trabalho. Já corremos alguns riscos que correram menos bem, mas também foram uma aprendizagem. Hoje, temos uma marca consolidada, clientes fiéis, quase apóstolos”, afirma, acrescentando que em todos os negócios do grupo a aposta é sempre na qualidade e não em preços baixos.

“Oferecer um serviço personalizado tem a ver com a nossa forma de estar na vida, com a educação que os nossos pais nos deram. Temos uma equipa qualificada, colaboradores de grande nível, que têm ajudado a crescer as empresas, portanto, 50


não os vamos logo dispensar quando as dificuldades aparecem. Os negócios são feitos de pessoas e temos que cuidar bem delas para, depois, elas cuidarem bem dos nossos negócios”, defende. Miguel Gião adianta que existiam alguns planos definidos para o curto e médio prazo que tiveram, entretanto, de ficar em stand-by por causa da pandemia, negócios em que predominam os conceitos de família, open space e vida saudável, e a trabalhar com o local, tanto ao nível dos clientes, como dos próprios produtos. Mas engane-se quem pensa que tudo tem sido fácil, porque Faro, embora seja capital de distrito, é uma cidade de serviços com muita vida durante o dia, mas mais pacata à noite, e também uma cidade universitária, com uma clientela mais jovem que não se insere totalmente na matriz dos negócios do grupo. Um cenário que acaba por se refletir até na seleção dos recursos humanos. “No início era eu e o

Ricardo que escolhíamos as pessoas, algumas se calhar até eram nossas conhecidas, e elas depois não se adaptavam às equipas. O processo de recrutamento é extremamente importante, pelo que as primeiras entrevistas passaram a ser realizadas pelos responsáveis pelas equipas. Só depois dessa primeira filtragem é que entramos nós dois”, conta Miguel. “E se criar uma equipa demora tempo, o mesmo acontece com os clientes. Temos que 51

perceber as necessidades deles, o que procuram para os seus momentos de lazer e convívio”, garante.

“O MAIS DIFÍCIL É FAZER O FÁCIL” Esta aposta na qualidade e no cliente residente tem ajudado a família a ultrapassar as crises que foram aparecendo no passado e o mesmo está a acontecer com as dificuldades impostas pela pandemia por covid-19.

“Fazemos para os outros como se estivéssemos a fazer para nós próprios e, neste momento, só existe o cliente local. E o público de Faro é especial, tem educação e formação, sabe falar, ouvir, receber, aconselhar. Sinto-me supercontente por toda a nossa operação estar concentrada em Faro. Já tivemos coisas em Vilamoura, Albufeira e Tavira, já fomos desafiados a abrir espaços em Lisboa e Sevilha, mas Faro é a nossa casa”, assume Miguel Gião. “Podemos contar com os farenses, da mesma forma que os farenses podem sempre contar connosco”. Ora, se a flexibilidade e a capacidade de rápida adaptação já eram mais-valias noutros tempos, com a pandemia tornaram-se mesmo cruciais para a sobrevivência, reconhece o entrevistado. “É fundamental ser ALGARVE INFORMATIVO #282


perspicaz para aproveitar os timings, mas também para antecipar as mudanças, seja no plano da concorrência, da clientela ou mesmo do ambiente que nos rodeia. Da ideia à prática vai uma grande diferença e uma ideia só é boa se a conseguirmos transpor para a realidade”, avisa Miguel Gião. “E o mais difícil é manter as coisas fáceis. Todos os modelos de negócio têm que se adaptar ao mercado e o mundo está a evoluir tão depressa que não nos facilita a vida. Temos de perceber rapidamente qual o melhor caminho a seguir e ter pessoas capacitadas e motivadas para nos ajudar a alcançar os nossos objetivos”, acrescenta. Claro que esta adaptação pode implicar algumas concessões pessoais, reconhece Miguel Gião, que sempre resistiu, por exemplo, à comida embalada. “Como

formador da Escola de Hotelaria, estava habituado a despinhar um peixe ou a fazer um tártaro à frente do cliente, mas não podemos contrariar a natureza das coisas. Temos que nos moldar”, aponta o empresário, alertando ainda que não se pode estar constantemente à espera ou dependente dos apoios do poder central ou de outras entidades para vencer neste mundo. “Aos 23 anos não tinha cash-

flow para montar o meu primeiro negócio, foi a família que me ajudou ALGARVE INFORMATIVO #282

a dar os passos iniciais. Depois, é ter um bom projeto, fazer um bom planeamento, e tentar minimizar os riscos que vão aparecer, porque eles vão aparecer. Acima de tudo, há que ter vontade e coragem para ir em frente, e humildade para 52


aprender com os outros e reconhecer quando não estamos a fazer as coisas da melhor maneira”, frisa. “Quando comecei com o «Columbus» não pensava em cocktails e no serviço que hoje oferecemos. A minha ideia era festas com «dj’s», mas isso nem 53

sequer se enquadrava com o espaço, com o edifício onde estávamos. À medida que vamos ganhando experiência vai-se tornando mais fácil montar negócios, saber que formação dar à equipa, que menus criar, que estratégias de marketing ALGARVE INFORMATIVO #282


implementar. O sucesso é todos os dias percorrermos mais um bocadinho do caminho que traçamos até chegarmos à meta”. Um caminho que contempla muito mais do que já existe, confirma Miguel Gião, que tem várias ideias e projetos guardados em pastas mentais para aplicar quando as oportunidades surgirem. “São

coisas com que nos identificamos, de que gostamos, e que acionamos nos momentos certos. Há dois anos que andava a pensar nos pokes, um conceito de comida saudável que finalmente implantamos no «Adão». Às vezes digo que, num dia, em Londres, eu e o meu irmão almoçamos cinco vezes e jantamos

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três vezes, e as pessoas pensam que estou a brincar. Mas foi o dia todo a comer para experimentarmos coisas novas”, conta, sorridente. “O «Pega Leve» nasceu porque, em 2021, 58 por cento do mercado da restauração vai funcionar por entregas ao domicílio, é um modelo de negócio que veio para ficar. Temos que estar atentos, ser perspicazes e rápidos a identificar tendências. Não sou nenhum iluminado, venho de uma família simples, da baixa de Faro, estudei e, com vontade, força e humildade, tenho conseguido ter

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algum sucesso”, salienta o entrevistado. Humildade que é a forma de estar na vida de Miguel Gião, numa aprendizagem constante com outros empresários, com a família e com os colaboradores. “O mal

dos empresários, às vezes, é o ego e também já tive situações em que fui menos feliz. O importante é, à noite, chegar à cama e perceber que, naquele dia, fui um pouco melhor do que no anterior, que prestei um bom serviço ao cliente. Acrescentar algo, dar o teu contributo, deve fazer parte da tua missão na Terra”, entende, embora admita que esta tarefa se tornou mais complicada com a covid-19. “A minha 55

família pertence à classe média, à classe dos trabalhadores. Não estamos no lado dos milionários que podem interromper os seus negócios durante alguns anos e reativá-los quando as coisas melhorarem. A infantaria vai sempre à frente e, desde que tenha saúde, vou à luta. E ver os sorrisos dos clientes e ler as suas mensagens de agradecimento dános força. Estamos sempre do lado da solução, adaptamos os modelos de negócio ao que o mercado nos pede e servimos com paixão e da melhor forma que sabemos e conseguimos”, reforça Miguel Gião .

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FILIPE DA PALMA ENCERROU CAPÍTULO DAS PLATIBANDAS E FOCA-SE AGORA NA GEOLOGIA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Filipe da Palma ALGARVE INFORMATIVO #282

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elementos arquitetónicos, se constituem como um património regional ou nacional, que são uma maisvalia da região. Comecei a tirar estas fotografias há cerca de 20 anos simplesmente por gosto e interesse pessoal, às platibandas, chaminés, janelas, portas, trabalhos em cantaria, mosaico hidráulico, à própria cor na arquitetura. Com o passar do tempo fui reunindo um acervo cada vez maior e as exposições acabaram por surgir mais recentemente”, conta o entrevistado.

epois das exposições veio o tão desejado livro «Platibandas do Algarve», com fotografias de Filipe da Palma e textos de Miguel Reimão Costa, José Eduardo Horta Correia, Alexandre Tojal e Pedro Prista, lançado pelo Editora Argumentum. Uma obra que o conhecido fotógrafo e entusiasta pelas tradições e pelo património arquitetónico do Algarve tinha em mente há vários anos, mas que só no final de 2020 se veio a concretizar.

“Enquanto povo que vive e sente o Algarve, não temos a perceção de que as platibandas, tal como outros ALGARVE INFORMATIVO #282

Uma paixão que Filipe da Palma foi, e vai, conciliando com a sua atividade profissional de fotógrafo numa autarquia e, claro, com a vida familiar, de modo que só vai para o terreno quando acredita estarem reunidas as melhores condições para este trabalho. “Se estiver um dia

nublado ou que não haja uma luz forte, não vale a pena, porque os elementos arquitetónicos não vão estar bem iluminados. Daí se explica levar tanto tempo a fotografar tudo isto”, refere, acrescentando que, no início, não pensava na questão da salvaguarda deste património que foi desaparecendo à medida que se alterou o paradigma de 60


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desenvolvimento económico da região.

“Lia bastante sobre o assunto para perceber os motivos da existência destes elementos, tirava fotografias e o arquivo ia aumentando, mas nunca tendo em mente que, no futuro, tal viesse a ser um espólio visual de um Algarve que vai desaparecendo. Aliás, já comecei tarde, porque, há duas décadas, já muita coisa se tinha perdido e não há como voltar atrás no tempo”, lamenta. O trabalho de Filipe da Palma acabou por ganhar maior visibilidade graças ao fenómeno das redes sociais, através das quais as pessoas davam o seu feedback em relação às imagens que o fotógrafo 63

partilhava. Ao mesmo tempo, tinham conhecimento de diversos elementos arquitetónicos que ainda eram visíveis e tangíveis. Com o aumento do interesse vieram as exposições, mas o livro sobre as platibandas já andava a cutucar a mente do entrevistado há alguns anos. “Entretanto, o Rosa

Mendes faleceu e houve uma série de pessoas que diziam que tinham interesse em colaborar na realização do livro, mas, quando foi necessário apoiarem, não o fizeram. Só há pouco tempo é que foi possível avançar com esta ideia”, indica. Imagens que não são apenas imagens, têm uma razão de ser, inserem-se num contexto histórico e ALGARVE INFORMATIVO #282


cultural, garante Filipe da Palma. “Quer

a chaminé, no plano vertical, como a platibanda, no plano horizontal, marcam a arquitetura algarvia e ambos têm funções utilitárias bem vincadas. E os algarvios levaram estes elementos ao seu expoente máximo em termos de beleza. A chaminé escoava o fumo da casa, porque antigamente tínhamos lareiras e cozinhava-se ao lume. A platibanda servia para tapar uma calha por onde as águas da chuva eram desviadas para um algeroz, para depois saírem ao nível da rua, ao invés de caírem diretamente dos telhados e açoteias para o meio da rua. Claro que essa imposição ditada pelas autarquias em termos de construção dos prédios não obrigava os seus proprietários a fazerem o desvario completo que são algumas platibandas”, sublinha Filipe, com um sorriso. “É muito dinheiro que está ali empregue em artesões e mestres pedreiros que sabiam trabalhar aquele material. Bastava construir um muretezinho para a calha passar, mas esta «loucura» ainda hoje marca o território de uma maneira visual muito forte. Há várias metodologias para se fazer platibandas, cada mestre tinha a sua técnica”. Adivinha-se, por isso, que os proprietários destas casas tinham orgulho nas platibandas que mandavam construir ALGARVE INFORMATIVO #282

e estas serviam, também, de um modo de ostentação da sua riqueza. “A

fachada da casa é comunicante para as pessoas que andavam na rua e recorde-se que, dos finais do século XIX até à década 40 do século XX, não se circulava com a mesma velocidade de hoje. Havia 64


poucos automóveis, era quase tudo carros de mula, carroças, andava-se a pé ou de bicicleta, e as platibandas eram uma forma dos proprietários mostrarem o dinheiro que tinham. «Olhem para mim», pareciam dizer as casas”, afirma Filipe da Palma.

O tempo passou, os estilos arquitetónicos evoluíram e estas platibandas caíram em desuso, porque se começou a olhar mais para a sua função prática e para o seu custo do que propriamente para a sua beleza estética. “As platibandas fazem

parte de um contexto histórico e 65

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estado, e recuperar-se as que se estão a deteriorar de dia para dia. Até porque essas casas normalmente inserem-se nos centros históricos das cidades, portanto, devia haver incentivos camarários e estatais para a sua salvaguarda”, defende o entrevistado.

social de afirmação perante o outro que é reflexo também do desenvolvimento económico da época. É uma linguagem arquitetónica balizada nesse tempo e que já não faz sentido nos dias modernos”, reconhece Filipe da Palma. “Construir-se prédios novos com estas platibandas não faz sentido, mas deviam preservar-se as que, felizmente, ainda existem em bom ALGARVE INFORMATIVO #282

Milhares de fotos tiradas e guardadas e várias exposições são o singelo contributo de Filipe da Palma para que esta arte não fique esquecida no tempo, mas o fotógrafo pretende passar agora para outro desafio. “Ter conseguido lançar o

livro, juntamente com o editor Filipe Jorge e com as pessoas que produziram os textos, funciona para mim como o encerrar deste capítulo. Não só das platibandas, mas das portas e janelas, dos trabalhos em cantaria, de tudo o que está relacionado com arquitetura. São mais de 100 fotos 66


publicadas no livro, mais largas centenas de platibandas fotografadas, todas diferentes, centenas de chaminés, portas, janelas, ferro forjado. Fiquei alguns dias com um sentimento de vazio depois do livro sair, mas já encontrei outro tema que me vai entreter durante muitos anos”, assume. A geologia no Algarve é, então, o capítulo que se seque na vida de Filipe da Palma, que já começou com as suas habituais leituras para melhor compreender aquilo que está a captar através das suas objetivas e para onde se deve dirigir nesta caminhada. “Será um

trabalho que vai levar anos porque, à semelhança da arquitetura popular, o Algarve é um território riquíssimo, de sul para norte, de sotavento para barlavento. Contém em si uma geologia tão diversificada que, tendo em conta as minhas condições para fotografar, me vai levar anos e anos para registar. Mas é isso que eu gosto, sair de casa e captar toda a diversidade que caracteriza o Algarve e que, para mim, é a sua maior riqueza. Não sinto necessidade de ter um olhar artístico sobre a arquitetura ou a 67

geologia, mas sim de transmitir a riqueza onde vivemos. Só a partir do momento em que temos consciência do sítio onde vivemos e quais são as nossas riquezas é que poderemos reivindicar a recuperação da platibanda ou a existência de património popular algarvio”, entende Filipe da Palma . ALGARVE INFORMATIVO #282


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OPINIÃO Andámos a criar um(a) filho(a) para isto? Paulo Cunha (Professor ) á uns dias, eu e a minha mulher vimos uma notícia num dos canais televisivos que nos deixou surpreendidos, perplexos, preocupados e até revoltados. Mencionava o apresentador do serviço noticioso que “Jovens acham normal violência no namoro!”, referindo de seguida que muitos não reconhecem os comportamentos agressivos ou consideram-nos como naturais. Virámonos um para o outro e, na qualidade de pais e educadores, só conseguimos perguntar como é que tal é (ainda) possível em pleno século XXI? Como professor atento ao que me rodeia, sei que existe uma grande prevalência e legitimação da violência psicológica nas escolas, em grande parte exercida através das redes sociais ou através de atitudes de controlo (hábitos de convívio, privacidade, vestuário, etc.). Sabendo que a violência nas relações de namoro pode ser física, psicológica, social, sexual e económica, é possível detetá-la através de atos que indiciem ameaças, injúrias, ofensas, humilhações, agressões e perseguições. Recentemente, a União de Mulheres Alternativa e Resposta apresentou um ALGARVE INFORMATIVO #282

estudo baseado em inquéritos realizados a quase cinco mil jovens, no qual se verificou que quase sete em cada dez jovens acha legítimo o controlo ou a perseguição na relação de namoro e quase 60 por cento admitiu já ter sido vítima de comportamentos violentos. Entre estes jovens, cuja média de idades é de 15 anos, 25 por cento acham aceitável insultar durante uma discussão, outros 35 por cento consideram aceitável entrar nas redes sociais sem autorização, 29 por cento que se pode pressionar para beijar e 6 por cento entendem mesmo que podem empurrar/esbofetear sem deixar marcas. No Dia dos Namorados, a Polícia de Segurança Pública, em comunicado, informou que cerca de 85 por cento dos relatos de violência no namoro apresentados à PSP em 2020 envolveram violência psicológica e que a violência física esteve presente em 70 por cento das denúncias, tendo aproximadamente 50 por cento desses casos ocorrido no interior das residências e apenas 27 por cento na via pública. Concluiu que: “A intervenção precoce é um dos princípios de atuação consagrado na legislação de menores em Portugal, reconhecendo os efeitos negativos na formação da personalidade das crianças quando expostas à violência em ambiente familiar. (…) A replicação desse 70


comportamento em qualquer vínculo afetivo e, em concreto, nas relações de namoro são um indício da necessidade de intervenção especializada”. Perante tão preocupantes e alarmantes dados, sabendo que a família, infelizmente, em muitos casos, é um espaço de incentivo e de propagação da violência, urje reforçar o papel da Escola no combate à ignorância que, em termos de civilidade e cidadania, ainda grassa em muitos lares de Portugal. Num tempo de franca evolução e progresso tecnológico, é possível, através das múltiplas formas de exposição digital online, constatar que em termos de usos, costumes e procedimentos, muitos jovens continuam a ter como exemplo educacional e comportamental tudo de mau que, historicamente, condenámos nos nossos 71

antepassados. Será caso para nos preocuparmos com as relações que, pretensamente, deveriam ser de troca de amor (namoro), a que os nossos filhos/netos estão sujeitos? Infelizmente, sim! Sob o modelo e a influência de relações familiares doentias e degradantes, muitos jovens continuam a perpetuar relações disfuncionais, em que o amor, respeito e dádiva foram substituídos pelo poder e pela subjugação. A paixão e o amor têm destas coisas: toldam o espírito e mascaram sentimentos. Só assim é possível conceber que jovens legitimem os comportamentos predadores dos seus pares. Por isso aqui deixo o meu conselho: estejam atentos, vigilantes e atuantes – o namoro é dar e receber sem exigir nada em troca. Tal como o casamento! .

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OPINIÃO Da memória Mirian Tavares (Professora Universitária) Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora. Quando se pôde abrir as janelas, as poças tremiam com os últimos pingos. Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema, decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos. Fui buscar os chuchus e estou voltando agora, trinta anos depois. Não encontrei minha mãe. Adélia Prado

no passado ficou o papel azul que envolvia as maçãs. Vinham da Argentina em caixas de madeira. Acho que o papel era mais roxo que azul, mas não tão roxo como o pano que cobria os santos na Quaresma. Eu tinha medo, mas não resistia, a imiscuir-me na sacristia da Sé e levantar a ponta daquele pano, de um roxo intenso, e passar a mão nos cabelos dos santos. Bazinha dizia que era cabelo dos mortos. E entre o fascínio e o terror, eu caminhava pelos corredores vazios da igreja. Era Quaresma e a missa só aos domingos. A primeira vez que fiz catecismo, fui levada pela amiga. Expulsaram-me logo no primeiro dia, quando, ao rezar uma Ave Maria, confundi-me com as palavras e devo ter dito algum disparate. Volta quando fores mais velha, disse a catequista. Nunca voltei, mas fiz a ALGARVE INFORMATIVO #282

primeira comunhão, anos mais tarde, noutra cidade e noutra vida, que aquela vida de menina pequena, pés descalços e cabelo de maria-rapaz, já não fazia parte de mim. Ou, pensando bem, ficou escondida dentro mim, guardada, como as rendas que se guardam nos baús e nos esquecemos de usar. Na foto da primeira comunhão, lá estou eu, entre muitas, vestida de branco e a sorrir. A memória é arteira – prega-nos peças e faz com que nos lembremos de fragmentos desimportantes e que nos esqueçamos de vidas inteiras que nos ocuparam durante algum tempo. Tenho, diante mim, ou dentro, a imagem de uma menina no cinema, levada pelos manos mais velhos. O filme era Snoopy volte para casa e a menina era eu, que chorei bastante: de tristeza e de alívio pela volta do Snoopy, que passou a fazer parte de mim. Lembro-me de uma noite de febre e da mãe preocupada. E lembro-me também da mãe ausente – 72


Foto: Victor Azevedo

ela nunca foi um animal doméstico e gostava de contar das suas fugas quando, ainda mocinha, saía às escondidas para se encontrar com o namorado, com quem trocava bilhetes, mas de quem seus pais não gostavam. E a minha avó comprou-lhe um par de tamancos para ouvi-la descer as escadas. Ela metia os tamancos debaixo dos braços e ganhava a rua, que era o seu lugar de eleição. Eu também não parava em casa – ainda muito pequena, estava sempre na rua, na casa dos avós, das vizinhas, na igreja. E gostava de ir à igreja para ver os cabelos dos santos, que eram cabelos de mortos, e que me assustavam e fascinavam e que me tiravam o sono. Há uma memória que não sei se é minha ou se a tomei 73

emprestada: depois da missa, o sacristão, que era um homem estranho, abria-nos uma porta, ao fundo da igreja, que dava para um parque e ficávamos ali a brincar até que a noite, que sempre chegava cedo, aparecia e era a hora de ir jantar. Não me esqueci jamais da praça e do rapaz que eu dizia ser meu namorado. Eu tinha uns quatro anos e ele devia ter uns catorze. Não me lembro do seu nome, mas vejo-me a correr, sapato em riste, para bater nas meninas, mais velhas que eu, que se riam do meu devaneio. Nunca bati em ninguém, que me lembre. Mas a memória é arteira, e costuma nos enganar .

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OPINIÃO Décima quarta tabuinha - Voz Ana Isabel Soares (Professora Universitária) eria possível, mesmo que tudo à volta fosse silêncio, deixar de se ouvir a voz interior? A pergunta chega-me com mais persistência em dias ruidosos. O que é a voz interior? Não questiono tanto o ser «interior», mas o ser singular – pareceme que, se tento silenciar o ambiente em que estou (usando, por exemplo, tampões de silicone para fechar cada orifício auricular – palavra que me faz pensar na preciosidade das coisas de ouro; ou aquilo a que chamo os meus escutaróis mágicos, para não lhes dizer auriculares, essa qualidade substantivada que designa estes aparelhinhos mínimos, agora sem fios nem nada, inventados e fabricados por alguém que nunca me viu, desconhece a forma das minhas orelhas, não sabe que a pele que lhes cobre a cartilagem parece denunciar interrupções dessa massa, que sigo com o dedo os interstícios à procura de restos de sono e de luz – alguém cujo acerto na forma das minhas orelhas, das entradas dos meus ouvidos, coisas que estava convencida que apenas eu conhecia, me fascina e me dá medo) – se tento silenciar o ambiente em que estou, parece-me que ressoa com mais volume um orfeão de vozes, uma mole de gente ALGARVE INFORMATIVO #282

que não se cala e, por falarem uns em cima dos outros, não deixa sequer que entenda qualquer coisa que esteja a ser dita. Voz interior...? Dentro da minha cabeça dentro do silêncio há antes uma cacofonia de gritos, vocalizações, guinchos, suspiros, bocados de palavras, ecos, risos. (No andar de baixo, vivem há poucos meses três mulheres da mesma família: filha, mãe e sobrinha. Gostam muito de conversar e anima-se-lhes mais o prazer conforme cai o dia, os apartamentos vão silenciando conforme as luzinhas desaparecem de cada janela: deleitam-se em contar casos, brincadeiras, jogos, anedotas: as vozes não apenas dizem palavras, mas iluminam-nas, engalanadas, de gargalhada risota. Teria de me esforçar para fazer sentido do que dizem e da razão dos risos – mas, nos momentos em que elas se afirmam, todo o meu vigor está em conseguir entrar no sono contra aquele muro de alegria desperta. Desdormi dias seguidos, até que me vi obrigada à crueldade de lhes pedir que baixassem o volume. [Foi assim, está bem de ver, que fiquei a saber dos parentescos: as vozes não dizem o que somos a quem.] São muito doces – respeitaram o meu pedido e o quarto que me silencia o ar ouve agora, um pouco mais tristes, mas bem dormidas, 74


Foto: Vasco Célio

as noites mudas, sussurradas, um ou outro riso que se abafa). O que existe no espaço entre as duas orelhas tapadas não é o lugar de uma voz. É um desmesurado anfiteatro habitado momentos antes de entrar o público, entre o ensaio geral e a apresentação da peça, quando se tosse 75

para limpar uma garganta, se correm as notas da escala, se afina um agudo ou prolonga um grave. É o céu imenso do coro de todos os demónios e anjos, indistintos e uníssonos como as vozes de três mulheres que, no meio da noite, conversam e riem. Não é singular a voz interior . ALGARVE INFORMATIVO #282


OPINIÃO Notas Contemporâneas [11] Adília César (Escritora) (…) Você, bem sei, acha isto risível. Mas que diabo! Você é um poeta, um orador, um lutador – e eu sou apenas um pobre homem (…). Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma)

IZER “PALAVRA” é quase o mesmo que dizer “realidade”. A palavra é, está, constrói, destrói, vive e morre nas coisas deste mundo que nos parece tão real e de outros que imaginamos. A palavra dita, escrita, lida, imaginada. Se as coisas não tiverem um nome, temos mesmo a certeza que elas existem? * DIZER “PALAVRA” é quase o mesmo que dizer “humanidade”. A palavra é, está, constrói, destrói, vive e morre em cada homem e cada mulher. Se as ideias humanas não puderem ser evidenciadas pela linguagem (falada, escrita, lida e imaginada), temos mesmo a certeza que elas existem? E o ser humano, enquanto personificação de algo mais que a mera sobrevivência da espécie, existe sem as palavras? O que teria levado o grande Jean-Paul Sartre a deixar para as gerações futuras uma obra ALGARVE INFORMATIVO #282

autobiográfica intitulada precisamente «As Palavras»? Disse ele: “Continuo a escrever. Que outra coisa posso fazer? Nulla dies sine linea. É o meu hábito e é, também, o meu ofício. Durante muito tempo tomei a pena por uma espada; agora, conheço a nossa impotência. Não importa: faço e farei livros; são necessários; sempre servem, apesar de tudo. A cultura não salva nada nem ninguém, não justifica. Mas é um produto do homem: o homem projectase nela, reconhece-se nela; só esse espelho crítico lhe devolve a própria imagem”. Sim, o que nos resta? * GOSTO DE PENSAR que somos tantas palavras e também tantas linguagens, não esquecendo que a expressão e a comunicação são facilitadas através de diferentes códigos. Mas voltemos às palavras. Todas as palavras são importantes, as utilitárias e as estéticas, desde o som nítido das sílabas até ao seu eco. Por exemplo, é inverno e o dia apresenta-se muito nublado, com temperaturas inferiores a 76


5 graus; saio para a rua sem casaco, sinto o frio no corpo e arrepio-me; a sensação é desagradável. A percepção física do clima conduziu-me a um discurso meteorológico e utilitário. Mas a palavra pode ser mais do que isso, através da comunicação estética de uma intenção poética e assim, escrevo um poema: “Contemplar as ideias como quem olha botões de rosa no tecto do jardim. Num lugar médio alguns espinhos predestinam-te aos acontecimentos e ocultam-se num plano profundo as raízes da linguagem. Ah, esplendor de sabedoria. Mas é o idioma da fome, algoz de todas as dúvidas, que te fustiga. Enrolas-te nesse destino cruel para a pele sentir o frio desde o primeiro inverno. É urgente sentir alguma coisa. Secam as pétalas das flores e há uma ideia de inverno que perdura, não se sabe se por um instante ou por toda a eternidade. Não se sabe ainda nada sobre esse imenso frio da ignorância”. O que disse eu neste fragmento de linguagem que pretendia atingir a significação estética? E qual poderá ser a utilidade deste poema? * PODEREI ESCREVER o mundo todo como se fosse um imenso oceano. Gotas de água, gotas de significados. Uma gota de água, onde se condensam mil sentidos. Mas de que serve inventariar o possível da linguagem poética, se a ela não estiver subjacente a experiência emocional sobre a qual pretendo poetizar? Quero 77

escrever sobre os pássaros, mas nunca vi a plenitude do voo da águia. Quero escrever sobre as flores, mas nunca cheirei o perfume de um jasmim a desabrochar. Quero escrever sobre o amor, mas nunca toquei o rosto do meu filho por nascer. E ainda que me disponha a sentir o que é apenas um desejo de sentir, devo ultrapassar a obviedade do discurso: este é o apelo do meu caráter intrinsecamente humano. Não há poesia sem dúvidas, sem questionamento e sem as divergentes linhas de resposta, mas alguém há-de sobreviver no profundamente humano e espiritual, entre abismos, quedas e cadeirões de veludo. A salvação pode estar na intencionalidade de um poema que se escreve a si mesmo através dos gestos metafóricos da minha mão. E depois, poderei fechar os olhos e descansar antes do abismo . ALGARVE INFORMATIVO #282


OPINIÃO Ideias de negócio para os próximos anos Fábio Jesuíno (Empresário)

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s empreendedores são os grandes motores de crescimento de uma sociedade, são eles que mais contribuem para a criação de emprego e inovação. Para fomentar o espírito empreendedor, reuni as principais ideias de negócio para os próximos anos: Formadores online A formação online é uma das maiores tendências para os próximos anos, que tem apresentado um grande crescimento, tornando-se cada vez mais acessível e fácil de implementar. É a melhor forma de democratizar o conhecimento. O desenvolvimento tecnológico e o crescimento da Internet têm sido os grandes impulsionadores da formação online, tornando-a mais interativa e aumentando a sua utilização. Já era uma tendência em crescimento que, neste momento, devido à pandemia, teve um impulso inimaginável, sendo os formadores online uma profissão de futuro.

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Influenciadores digitais Os influenciadores digitais vieram para ficar, sejam de uma forma mais generalista ou de nicho, é uma profissão de futuro e cada vez mais normal nos dias de hoje. Ser um influenciador digital de sucesso é demorado. No início é importante haver criação de conteúdos de grande qualidade e que sejam relevantes para o público alvo, de forma a criar uma comunidade que se interesse e que interaja. Os influenciadores digitais devem sempre apostar na originalidade e na criatividade, de forma a se destacarem na multidão. Ser muito persistente vai ajudar bastante na fase inicial, onde os resultados podem ser menos animadores. Devem criar parcerias com outros influenciadores que estejam na mesma área, de forma a conseguirem juntos chegar a mais pessoas. Assistentes virtuais A proliferação dos meios digitais veio mudar a forma como comunicamos em sociedade para sempre, resultando numa transformação de comportamentos de compra e consumo, permitindo o surgimento de uma série de profissões, como os 78


assistentes virtuais, que podem desempenhar uma série de tarefas remotamente, como gestão administrativa, resposta a e-mails e gestão as redes sociais. Reciclagem de materiais A preocupação pela conservação do meio ambiente está cada vez mais presente na nossa vida, principalmente quando existe um crescimento do lixo, seja em terra ou nos oceanos. A reciclagem de materiais, como telemóveis ou móveis, são negócios muito rentáveis e de fácil implementação. Produção de produtos agrícolas biológicos Cada vez mais procuramos produtos biológicos para sermos mais saudáveis e evitar os produtos processados. Com a crescente procura deste tipo de produtos, a sua produção ou comercialização será sempre uma aposta de sucesso.

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Estas são as ideias de negócio que, na minha opinião, vão fazer a diferença nos próximos anos e impulsionar a criação de negócios em Portugal e no mundo .

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OPINIÃO Sem cultura não há futuro Alexandra Rodrigues Gonçalves (Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve) processo de homogeneização da cultura, isto, é de imposição da cultura dos outros sobre as nossas expressões culturais, conduziu ao longo de várias décadas a uma perda de referências no Algarve. A cultura assume uma função predominantemente imaterial, proporcionando bem-estar e qualidade de vida, individual e coletivamente, o que dificulta a sua valorização enquanto atividade com uma dimensão económica e de desenvolvimento. Contudo, têm vindo a ser desenvolvidos esforços para que o valor económico efetivo da cultura seja amplamente estudado e divulgado. Hoje mesmo foi dado a conhecer um estudo europeu, efetuado pela Ernst & Young*, a pedido de Sociedades de Autores e Compositores sobre o impacto do Covid-19 no sector cultural e criativo, na Europa. Os dados apresentados revelam que, em 2019, as Indústrias Culturais e Criativas (ICC) ascenderam em volume de negócios a 4,4 por cento do PIB da União Europeia, com receitas anuais de 643 mil ALGARVE INFORMATIVO #282

milhões de euros e um total de 253 mil milhões de euros de valor acrescentado. Em termos de empregos na Europa, as ICC geraram trabalho para mais de 7,6 milhões de pessoas, assumindo-se como um dos principais sectores promotores de empregos. Todavia, em termos europeus as perdas de receitas estimadas de 199 milhões de euros em 2019 pela cultura são uma realidade dramática. Entre as várias áreas artísticas verificou-se que as artes performativas lideram essas perdas, com menos 90 por cento de receitas que em 2019. Por sua vez, as ICC perderam 31 por cento em relação ao ano anterior e a surpresa principal é que esta perda é superior à da aviação e à do turismo. Nas artes do palco e da música assumem uma proporção de perdas na ordem dos 90 por cento e 75 por cento respectivamente, reconhecendo que a recuperação só será feita em 10 anos. As artes visuais perdem 38 por cento, a arquitetura 32 por cento, a indústria do livro 25 por cento e o audiovisual 22 por cento em relação a 2019. Só o mundo dos videojogos – o que é claramente entendível – consegue resultados positivos registando um crescimento de 9 por cento face ao ano anterior. 80


da diversidade cultural europeia com o necessário enquadramento legal, que possibilite o investimento na produção e distribuição, e um retorno de rendimento adequado aos criadores; 3) Alavancagem – utilização das ICC como acelerador de transição social, societal e ambiental, da Europa. A Arte é um viaticum A cultura e as artes assumem um papel para além da sua função educadora, acrescentando valores positivos de bemestar e qualidade de vida. Esta realidade ultrapassa qualquer crise ou pandemia. No texto afirma-se que: “Art is not an accessory; it is a viaticum. Art is not «political»; it is «poetic» – a creative force that animates us and allows us to live together, to survive, individually and collectively** (Ernst & Young, 2021:8)”. A cultura é uma plataforma essencial, não só para a criação de valor económico, mas também para a afirmação de uma identidade, para estimular a coesão social, e a criatividade. Como três principais desafios essenciais à recuperação do sector cultural e criativo, o estudo da Ernst & Young identifica: 1) Financiamento – forte financiamento público e promoção do investimento privado no setor cultural e criativo; 2) Empoderamento – promoção 81

As barreiras entre a cultura – dimensão produção e consumo – estão a desaparecer e as comunidades têm vindo a assumir-se como participantes-chave no desenvolvimento cultural. Ao longo dos tempos também tem sido ao nível do setor cultural e criativo que as inovações tecnológicas têm sido mais testadas e utilizadas, apresentando uma enorme capacidade de inovação. Por tudo isto, e muito mais, não se compreende que nos desígnios de um Plano Nacional de Recuperação e Resiliência não seja considerado nos investimentos, esta área de forma expressa, autónoma e evidente . *Vide Ernst & Young (2021) Rebuilding Europe The cultural and creative economy before and after the COVID-19 crisis, January 2021. ** Nossa tradução: A arte não é um acessório; é um caminho. Arte não é «política»; é «poética» - uma força criativa que nos anima e nos permite viver juntos, para sobreviver, individual e coletivamente. ALGARVE INFORMATIVO #282


OPINIÕES, REFLEXÕES E DEMAIS SENSAÇÕES

Inveja que destrói Júlio Ferreira (Inconformado Encartado) m estudo do ICEP sobre as características predominantes da cultura portuguesa revela que aquilo que melhor nos distingue dos outros povos é a nossa doentia queda para invejar tudo e todos, o que nos leva a andar lixados com a vida o tempo todo. Nada de novo aqui. Todos sabem que a inveja é uma das mais perigosas paixões humanas, sobretudo porque nunca se apresenta como tal e o seu grau de destruição costuma ser máximo. Também não é um sentimento que os estúpidos dominem. Aliás, atrai sobretudo as pessoas inteligentes. A inveja que destrói é a grande inimiga do mérito. A inveja, naturalmente, é típica dos medíocres, daqueles que ficaram abaixo do potencial sonhado, dos que conhecem as próprias limitações, embora nunca o confessem. Sendo um dos elementos da natureza humana, a inveja rodeia-nos, sempre disfarçada por sorrisos hipócritas. E sente-se o gozo dos que a praticam todos os dias nas redes sociais. A inveja deveria ser legalizada ou, pelo menos, despenalizada. Como as drogas leves, faz mal apenas a quem a consome. Devidamente informado dos ALGARVE INFORMATIVO #282

efeitos, o invejoso faria um uso muito mais consciente dessa substância e, assumindo-se, não precisaria de frequentar meios pouco recomendáveis que, com facilidade, agravariam a sua situação e potenciariam consumos mais pesados e destrutivos. Ela existe um pouco por todo o mundo, não é exclusiva do nosso país, mas entre nós pesa e impede Portugal de ser melhor. Porque, simplesmente, a razão de existência dos portugueses são os outros (portugueses) e aquilo que eles têm ou fazem (ou não). Se existe algum tuga que tem iniciativa e faz mais do que outros está tudo estragado, ficam completamente lixados e não descansam enquanto não transformam o objeto da sua inveja em pó. A postura é: se eu não tenho ou não consigo fazer, tu também não! E, portanto, todas as energias são gastas a destruir qualquer hipótese de alguém vir a fazer e ter seja o que for. As pessoas porosas, frágeis, típicas em Portugal, que não suportam o brilho do mérito de quem faz coisas fortes, pois isso, consideram, as diminui. E como são muitas… agem instintivamente, em conjunto, para destruir quem as faz. São como uma alcateia, mas sem machos alfa. Em vez de quererem fazer o mesmo, competir, crescer, sentem-se ameaçadas, 82


diminuídas, apoucadas. E reagem com violência, procurando destruir a ameaça. A competência. O mérito. Muitas vezes conseguem-no. Depois lemos as estatísticas nacionais: desenvolvimento mais baixo da Europa, confiança dos consumidores a dar mais para a desconfiança, fraca produtividade, elevadas taxas de absentismo, e esse chorrilho de números que diariamente nos mostram o quão pequeninos e mesquinhos somos. E 83

depois de passarem o dia a lixar o maior número de mamíferos lusitanos que conseguem - vizinhos, colegas de trabalho, transeuntes, condutores, balconistas, empregados de café, patrões, etc. - chegam a casa, enchem o pé no cão que está deitado no sofá, ligam a TV, e acalmam durante umas horas a olhar para a desgraceira de vida de outros portugueses com uma existência mais miserável que a deles. Nessa altura sentem-se realmente bem, sentemse uns privilegiados por direito próprio. Somos um povo que pensa, temos de deixar de ser um povo que inveja. Queremos o respeito dos outros, temos de o fazer através da educação, das artes, da ciência. Enquanto temermos a inveja não agimos, não ousamos, nem experimentamos. Imaginem, meus caros amigos, canalizar para fins construtivos toda a energia que alguns portugueses gastam a lixar diária e paulatinamente outros portugueses; teríamos um país a sério, e não um rectângulozinho complexado. Somos os carrascos do nosso próprio potencial. Combater a inveja má, deve ser um imperativo! . ALGARVE INFORMATIVO #282


OPINIÃO A Catedral do Barlavento Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) história do Algarve é composta por uma infinidade de histórias, umas mais conhecidas do que outras. Entre as histórias menos divulgadas encontram-se as dos edifícios. Corria o dia 3 de Março de 1707, quando um dos mais notáveis edifícios do Algarve foi inaugurado. Referimo-nos ao novo Colégio de Portimão, com a sua Igreja de São Francisco Xavier. Apesar da sua fruição pública e religiosa, a verdade

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é que o edifício do Colégio Jesuíta de Vila Nova de Portimão resultou da iniciativa privada do Fidalgo portimonense Diogo Gonçalves, que, em 1659, vinculou todos os seus bens à Companhia de Jesus, com a obrigação desta construir, equipar e manter um notável colégio na sua terra natal. A 21 de Outubro de 1660, dia de Santa Úrsula e das onze mil Virgens, o Padre Bartolomeu Duarte lançou a primeira pedra de uma obra que se prolongou por mais de 46 anos. Como seria de esperar, no dia da inauguração do Colégio, Portimão assistiu à maior festa da sua história, que atraiu gente de todo

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o Algarve. Os oito dias de festa justificaram-se, tendo em atenção que, quando foi inaugurado, o edifício do Colégio de Portimão era o maior edifício religioso do Algarve. Apesar de ser um edifício recente quando se deu o Terramoto de 1755, as suas abóbadas não conseguiram resistir à violência do abalo, tendo morrido 8 pessoas com o seu desabamento. A Matriz estava em obras e a missa de Todos os Santos realizava-se na Igreja do Colégio, quando a terra começou a tremer. Rapidamente reparada, a igreja estava a substituir a Igreja Matriz quando, quatro anos depois, em 1759, os Jesuítas foram expulsos de Portugal, tendo o colégio portimonense sido entregue à Universidade de Coimbra. Durante esse período o Algarve recebeu o seu 85

primeiro curso de leis (correspondente ao actual curso de Direito). No entanto, o momento de glória da Igreja do Colégio de Portimão ocorreu em 28 de Fevereiro de 1773, com a publicação do Decreto que elevou Vila Nova de Portimão a cidade e sede do novo bispado que resultou da divisão do Algarve entre Barlavento e Sotavento, tendo por fronteira a ribeira de Quarteira. A Igreja do Colégio foi elevada à condição de Catedral e em 28 de Setembro de 1773 foi nomeado o primeiro e único Bispo de Portimão D. Manuel Tavares Coutinho e Silva, (que foi Bispo de Portalegre entre 1778 e 1798). Com a subida ao trono de D. Maria I, o Marquês de Pombal foi demitido e muitas das suas decisões anuladas, encontrando-se nesse rol os decretos da ALGARVE INFORMATIVO #282


elevação de Portimão a cidade e da criação do seu bispado. Apesar disso, a Igreja do Colégio manteve o seu estatuto de catedral durante mais de três anos.

o edifício foi retalhado por uma série de instituições. A igreja e respectivas oficinas foram cedidas à Santa Casa da Misericórdia e à Ordem Terceira de São Francisco. Na parte ocidental do edifício foi instalado o Hospital de São Camilo e um albergue para pobres. O piso térreo foi adaptado a teatro. Na parte sul do colégio foi instalado o Tribunal Judicial, os Paços do Concelho, a repartição da Fazenda e a esquadra da polícia. Com a inauguração do novo Hospital Distrital de Portimão essas dependências foram convertidas em asilo. Foi capela mortuária, Junta de Freguesia e sede dos escuteiros.

Em 1780 o colégio foi entregue à Ordem de São Camilo, que o administrou até à extinção das ordens religiosas.

Em 1991 parte do edifício voltou a ter a sua vocação inicial, quando acolheu o polo de Portimão da Universidade do Algarve e, posteriormente, a Universidade Sénior.

Em 1853, na sequência do Decreto de Fontes Pereira de Melo, de 18 de Agosto,

Nos últimos anos, devido a um grande esforço da comunidade e ao empenho e

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impulso pessoal do Padre Mário de Sousa, o edifício, que se mostrava bastante degradado, sofreu obras de conservação, restauro e readaptação, tendo sido construídas três capelas mortuárias e restauradas várias pinturas de arte sacra, os retábulos e alguma imaginária, encontrando-se o templo aberto para visitas e eventos culturais, que complementam a sua vocação religiosa, conferindo uma nova centralidade a Portimão. Se o edifício sempre permaneceu no domínio público, já a sua antiga cerca foi vendida, loteada e edificada, resumindo um dos mais notáveis e imponentes edifícios do Algarve à sua fachada. Numa terra onde o património histórico e arquitectónico não abunda, emparedar o pouco existente com muros de pedra e betão pareceu uma boa solução para vários governantes ao longo dos tempos. Afinal, beneméritos como Diogo Gonçalves já não existem e os que vieram depois dele trataram de delapidar o património que um dia quis doar para fruição de todos. O colégio perdeu quase todo o seu esplendor, mas conserva as histórias e memórias, que se confundem com as de toda a cidade. Estando em construção um novo edifício da Junta de Freguesia, que desocupará uma parte substancial do colégio, talvez honrasse o fundador de tão nobre edifício a instalação nessa ala do Museu de Arte Sacra, que tanto enriqueceria a oferta cultural da cidade, mas talvez este seja apenas mais um devaneio de quem acredita que a nobreza da dádiva deve ser respeita e vangloriada e não apagada pela sucessão do tempo . 87

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TURISMO DO ALGARVE DESAFIA JORNALISTAS E BLOGGERS ESPANHÓIS A FAZEREM CATAPLANA EM DIRETO s sabores do Algarve vão estar à mesa de sete jornalistas e bloggers espanhóis, que poderão prová-los depois de aprenderem a confecionar uma cataplana, no dia 12 de março, com a ajuda de uma experiente chef. O desafio culinário terá transmissão em direto, às 12h, na página de Facebook VisitAlgarve_ES para que todos os espanhóis possam também aprender a cozinhar o mais famoso prato algarvio.

direto uma cataplana de atum, oferecendo-lhes um cabaz algarvio com todos os produtos necessários ao prato. Desde os frescos ao próprio recipiente onde são cozinhados, incluindo o indispensável avental para evitar nódoas indesejáveis na roupa dos aprendizes, tudo foi pensado ao detalhe para que o Algarve fique na

Trata-se de mais uma ação promocional online do Turismo do Algarve, desta vez direcionada para o mercado vizinho, que em 2019 foi responsável por mais de 1,1 milhão de dormidas na hotelaria classificada da região. Manter o Algarve no coração dos turistas espanhóis e estimular o seu regresso à região quando forem levantadas as restrições de circulação devido à pandemia é o objetivo da ação, que terá a duração aproximada de 70 minutos no formato de showcooking. Para o efeito, o Turismo do Algarve desafiou sete conhecidos jornalistas e bloggers de Espanha a prepararem em ALGARVE INFORMATIVO #282

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memória (e no paladar) dos convidados. Além dos ingredientes, do avental e da cataplana, os participantes vão receber outros produtos da região, como sal marinho, batata-doce, azeite e salicórnia, livros temáticos de gastronomia típica algarvia e duas garrafas de vinho, numa parceria com a Comissão Vitivinícola do Algarve, que também estará na aula para dar a conhecer os tintos, brancos, rosés e bebidas espirituosas da região. A aula será conduzida pela chef Margarida Vargues e filmada para ficar depois

disponível no canal Youtube do VisitAlgarve, de forma a levar os segredos da cozinha algarvia ao maior número de pessoas possível, ao longo do tempo. Esta ação é organizada pelo Turismo do Algarve, em conjunto com a Tertúlia Algarvia, e insere-se no âmbito do Algarve Cooking Vacations, um projeto cofinanciado pelo CRESC Algarve 2020 – Programa Operacional Regional do Algarve .

PRAIA DA FALÉSIA CONSIDERADA UMA DAS 25 MELHORES PRAIAS DO MUNDO Praia da Falésia, situada no concelho de Albufeira, é considerada uma das 25 melhores praias do mundo. Conhecida pela sua beleza natural e propriedades benéficas à saúde, consta da lista das mais votadas por viajantes mundiais, sendo que a diferenciação assenta nas suas qualidades geológicas e marinhas: “Bonitas falésias de areia vermelha mostram-nos o oceano azulesverdeado e uma praia de areia branca que se estende a perder de vista”, refere um dos viajantes da Travellers' Choice, a entidade responsável por esta classificação, que anualmente elege as melhores praias e outros recursos ao dispor dos turistas. A eleição deste ano de «O melhor dos melhores», na categoria de Praia, coloca 91

assim em destaque, na 13.ª posição, uma das mais emblemáticas praias de Albufeira, na mesma linha de qualidade de outras praias de Cuba, Brasil, Flórida, Austrália, Havai e outras. A Travellers Choice compila todos os anos as avaliações, classificações e favoritos que os viajantes partilham em todo o mundo e utilizam essas informações para destacar os melhores, através dos «Prémios Travellers' Choice». “É um

reconhecimento daquilo que temos e estimamos, por um lado e, por outro, é um incentivo para todos nós, pois esperamos, e há indicadores nesse sentido, de podermos vir a ter ainda um Verão muito satisfatório para o comércio, restauração e similares, hotelaria e para os albufeirenses no geral”, refere o Presidente da Câmara Municipal, José Carlos Rolo .

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MAR SHOPPING ALGARVE REFORÇA PERFORMANCE SUSTENTÁVEL E CONQUISTA CERTIFICADOS INTERNACIONAIS centro comercial MAR Shopping Algarve, pertencentes à Ingka Centres, reforçou, em 2020, as metas ambientais do Grupo rumo ao desafio de neutralidade carbónica até 2030. Eficiência energética, gestão da água e dos resíduos são alguns dos pontos em que tem vindo a ser mais bem-sucedido e para breve está prevista a instalação de uma central fotovoltaica em ambos, apesar do centro já consumir energia 100 por cento renovável. Um dos objetivos da Ingka Centres era que, em 2021, todos os seus centros comerciais, distribuídos por 45 localizações em 15 países, já dispusessem de certificação BREEAM, o principal e mais credível método mundial de análise de sustentabilidade, aplicado ao planeamento de projetos, infraestruturas e edifícios. O BREEAM avalia os empreendimentos em três categorias – «Nova Construção», «Em Uso» e «Remodelação», correspondendo estas às diversas fases de conceção e uso dos edifícios. Os centros Ingka que surgiram depois de 2016, como é o caso do MAR Shopping Algarve, foram já projetados e construídos de acordo com os critérios para a obtenção do certificado na categoria «Nova Construção», distinção ALGARVE INFORMATIVO #282

de que o espaço de Loulé dispõe. Recentemente, conquistou o BREEAM na categoria «Em Uso», tendo o MAR Shopping Algarve, com mais de quatro anos, obtido as classificações de «Excelente» e «Excecional» nos âmbitos de performance e gestão do edifício, respetivamente. A certificação BREEAM «Nova Construção» monitoriza o desempenho sustentável dos edifícios nas fases de projeto e construção, e a de «Em Uso» mede o mesmo parâmetro, que incluem as características do edifício e os procedimentos de gestão do mesmo. As áreas em que o MAR Shopping Algarve obteve melhores classificações (acima de 50 por cento) para a obtenção da certificação «Nova Construção» foi em «Energia» (88 por cento), «Água» (56 por cento) e «Uso do Solo e Ecologia» (70 por cento). Já, no âmbito da certificação «Em Uso», a performance do edifício obteve classificações acima de 50 por cento em todos os parâmetros analisados, nomeadamente «Saúde e Bem-Estar» (78,8 por cento), «Energia» (70,1 por cento), «Transportes» (55,6 por cento), «Água» (97,5 por cento), «Materiais» (92,3 por cento), «Lixo» (100 por cento), «Uso do Solo e Ecologia» (66,7 por cento) e «Poluição» (77,3 por cento). Em termos de gestão do edifício, as classificações foram ainda 92


melhores: «Gestão» (84,8 por cento), «Saúde e Bem-Estar» (94,6 por cento), «Energia» (73,3 por cento), «Água» (88,5 por cento), «Materiais» (90 por cento), «Uso do Solo e Ecologia» (100 por cento) e «Poluição» (91,7 por cento). No caso do MAR Shopping Algarve, como é muito recente e contruído já sob as premissas do BREEAM «Nova Construção», verifica-se o cumprimento desde a abertura de uma série de requisitos de sustentabilidade. “Os

equipamentos de distribuição de água são de baixo consumo, os consumos são monitorizados por local para estarmos mais cientes de onde havemos de intervir em caso de fuga de água ou falha do equipamento, e fazemos o aproveitamento da chuva”, descreve Ana Antunes, diretora do MAR Shopping Algarve. Face a 2019, o centro comercial de Loulé poupou 36 por cento no consumo de água no ano passado, prevendo-se poupanças superiores assim que ficarem resolvidas algumas fugas na rede de rega, possuindo este centro comercial uma área verde que se estende ao longo de 8 mil metros quadrados de área de lazer ao ar livre. 93

A nível energético, o MAR Shopping Algarve dispõe apenas de iluminação LED, tendo na sua conceção privilegiado uma arquitetura e opções de materiais que aumentam a incidência de luz natural sobre o centro, reduzindo, assim, as necessidades de consumo de eletricidade. “Neste momento,

estamos a trabalhar numa melhoria da produção e distribuição de água climatizada, com vista a reduzir os consumos de pico dos equipamentos e aumentar a vida útil dos mesmos”, revela Ana Antunes. Mesmo assim, no ano passado, a fatura de eletricidade reduziu em 12 por cento. Em 2020, o centro comercial de Loulé reciclou 69 por cento dos resíduos produzidos na operação, mais 23 por cento que em 2019. Em ambos os anos, nenhum resíduo foi mandado para aterro . ALGARVE INFORMATIVO #282


«100 MEMÓRIAS DE CASTRO MARIM» EM EXPOSIÇÃO NA RUA, SITE E FACEBOOK projeto das «100 Memórias de Castro Marim», cuja exposição foi inaugurada a 16 de setembro de 2020, na Casa do Sal, foi agora lançado num site próprio (100memorias.cm-castromarim.pt) e no Facebook (www.facebook.com/100memoriasCM). O projeto nasceu no final de 2019, com um repto lançado à população para que cedessem recordações pessoais e/ou familiares ao Município. Inspirado na necessidade de preservar, tratar e divulgar a documentação histórica de Castro Marim, a autarquia local construiu

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uma narrativa cronologicamente contextualizada, que permite, não só um resgate do passado, mas também a construção de um novo significado sobre o mesmo. Depois da exposição da Casa do Sal, que será reaberta ao público logo que possível, as «100 Memórias de Castro Marim» são agora apresentadas num site e Facebook oficiais, permitindo uma maior projeção e divulgação de um projeto que se pretende contínuo e em permanente crescimento. A autarquia de Castro Marim continua a reunir contributos para este acervo municipal, disponibilizado para consulta pública no novo Arquivo

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Digital, em http://atom.cmcastromarim.pt. Quem quiser contribuir, com cartas, fotografias, postais, documentos, livros ou recordações, pode fazê-lo através do e-mail 100memorias@cm-castromarim.pt ou, presencialmente, no Gabinete de Apoio ao Munícipe, em Castro Marim. As «100 Memórias de Castro Marim» integram também uma exposição de rua, já instalada nas ruas da vila raiana. Assim, quem passar por Castro Marim, pode percorrer as ruas da Vila como se folheasse um livro de história. Outra das apostas do projeto consistiu na edição de um jornal que divulga algum do espólio em exposição, mas, sobretudo, que homenageia o primeiro jornal existente em Castro Marim – «Flores sobre Ruínas». O jornal será também distribuído na altura do desconfinamento, para que 95

possa conhecer melhor este projeto e interpretar a exposição de rua. Neste mergulho às memórias individuais e fragmentadas, foi também realizado um levantamento audiovisual sobre o património imaterial de Castro Marim, que pode agora ser visualizado no site das 100 Memórias e no canal Youtube do Município de Castro Marim (https://www.youtube.com/municipioc astromarim). Iniciativa pilar na construção da história do concelho e do território e um enorme contributo para a construção de um novo olhar sobre a identidade cultural e social castromarinense, o projeto das «100 Memórias de Castro Marim» é cofinanciado pelo Programa Interreg Espanha-Portugal 2014-2020, apoiado pela União Europeia, cofinanciado a 75 por cento pelo FEDER, projeto 0131_FOURTOURS_5_E . ALGARVE INFORMATIVO #282


UNIVERSIDADE DO ALGARVE PROMOVE WEBINARS DOBRE «CIDADES INTELIGENTES» inovação associada a cidades inteligentes tem vindo a assumir-se, nas últimas décadas, como uma resposta criativa e assertiva face aos desafios da sustentabilidade. Neste contexto, a Universidade do Algarve vai realizar um ciclo de webinars sobre «Cidades Inteligentes», entre março e maio, e aberto ao público em geral. Com este ciclo de webinars enfatiza-se a visão de um papel renovado das universidades e, em particular, de um perfil académico híbrido, na ligação entre o conhecimento científico, a tecnologia e a sociedade. Apresentam-se múltiplos exemplos de modelos e objetivos, diferentes propostas e processos de adaptação específicos, tendo em conta os contextos em que se opera. Segundo a comissão organizadora, “pretende-se

científicos e as soluções encontradas, desencadeando uma discussão aberta”. As cidades digitais e conectadas, detentoras de tecnologia de vanguarda e abertura de dados, são consideradas competitivas num quadro de economia global. Para além da necessidade de conectividade digital, requerem-se ferramentas de Design de Serviços, Internet das Coisas (IoT) e análise de Big Data. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) são empregues para a recolha e análise de uma grande

distinguir a atual Governança Inteligente que existe na região do Algarve, que já desencadeia uma maior facilidade no uso dos serviços públicos, investimentos em tecnologia e transparência nos dados e no uso de recursos da cidade”. O objetivo, referem, “é encorajar o encontro entre key players, instituições e cidadãos para partilharem os desafios técnicos e ALGARVE INFORMATIVO #282

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quantidade de informação, gerada por múltiplas fontes de dados da cidade, como, por exemplo, as redes de sensores, os sistemas de trânsito e os dispositivos dos cidadãos. Segundo os organizadores deste ciclo de webinars, “esses dados

podem ser utilizados de formas inovadoras e criativas para a criação de aplicações integradas, que melhorem os serviços da cidade e o uso dos seus recursos, contribuindo para uma maior qualidade de vida dos cidadãos”. A iniciativa contará com a participação de cerca de três dezenas de oradores nacionais e importantes especialistas em Cidades Sustentáveis e Inteligentes. Constitui, simultaneamente, um exemplo de metodologias ativas de aprendizagem

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que são desencadeadas na pósgraduação em Cidades Sustentáveis, ministrada no Instituto Superior de Engenharia da Universidade do Algarve. As sessões irão decorrer sempre aos sábados, das 14h às 16h, e já estão agendadas para as seguintes datas: 6, 13, 20 e 27 de março (ver programa aqui); 10, 17 e 24 de abril (ver programa aqui) e 22 de maio (ver programa aqui). A iniciativa, que conta com o apoio Centro de Investigação em Turismo, Sustentabilidade e Bem-estar (CinTurs), é gratuita e aberta ao público em geral, mediante inscrição em cada sessão, e pode ser feita em: https://www.cognitoforms.com/UnivAl garve/CicloDeWebinarsEmCidadesInteli gentes .

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AEROPORTO DE FARO PREMIADO PELO ACI EUROPE s Aeroportos de Lisboa, Porto, Faro, Madeira e Ponta Delgada foram distinguidos pelo ACI Europe – Organização Internacional de Aeroportos, para «Best Airport» e «Best Hygiene Measures». Estes prémios, nos quais são também destacados outros três aeroportos da rede VINCI Airports, reconhecem os Aeroportos de Portugal pela contínua aposta na experiência e segurança dos passageiros no contexto da pandemia COVID-19. A atribuição do prémio «Best Airport» contemplou a dimensão na região europeia dos aeroportos, sendo que a distinção para Lisboa ocorre na categoria de 25 a 40 milhões de passageiros; Porto e Faro vencem no escalão de 5 e 15 milhões de passageiros; e Ponta Delgada nos aeroportos com menos de 2 milhões de passageiros. Atendendo às exigências da atual situação pandémica, o ACI introduziu um novo prémio, o «Hygiene Award», com o intuito de reconhecer a capacidade de aeroportos garantirem ambientes higienizados e seguros e a manutenção das medidas necessárias para responder às necessidades e expectativas dos passageiros. Nesta nova categoria destacaram-se os aeroportos do Porto, Faro, Madeira e Ponta Delgada entre os melhores da Europa. ALGARVE INFORMATIVO #282

Nesta categoria, o mérito atribuído pelo ACI vem evidenciar a prioridade da ANA/VINCI Airports em atualizar os procedimentos de segurança sanitária e a permanente preocupação em melhorar a experiência dos passageiros. Todos os aeroportos ANA/VINCI Airports implementaram medidas de proteção desde o início da crise pandémica (dezembro 2019), em estreita colaboração com as autoridades de Saúde, adicionando medidas e otimizando os processos sempre que necessário. Destaque-se a campanha global «Protecting each other», desenvolvida pelos Aeroportos VINCI em toda a sua rede. A ANA/VINCI Airports está empenhada em contribuir para o 98


esforço nacional de mitigação de contágios, garantindo, com a maior segurança possível, a continuidade do serviço público que presta. Salienta-se ainda a resposta ágil e eficiente na implementação das medidas sanitárias, bem como a aposta na inovação dos processos de contacto com os passageiros em todos os momentos de interação, algo que permitiu manter os aeroportos portugueses totalmente operacionais ao longo do último ano.

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Os prémios ACI foram atribuídos no âmbito do programa internacional ASQ, Qualidade dos Serviços Aeroportuários, que visa medir a satisfação global dos passageiros face aos serviços e produtos oferecidos e compreender de que modo as suas perspetivas e expectativas têm vindo a alterar-se. Implementada a uma escala mundial, esta iniciativa identifica as melhores práticas, promovendo a competitividade na indústria .

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ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE LAGOA APROVA CRIAÇÃO DE POLÍCIA MUNICIPAL Município de Lagoa deu o primeiro passo oficial para a criação de Polícia Municipal com a aprovação, em Assembleia Municipal, no dia 24 de fevereiro. A decisão foi tomada com 23 votos a favor da bancada do PS (18) e do PSD (5), com abstenção do Bloco de Esquerda e votos contra da CDU. A concretização deste novo serviço, anunciado em setembro de 2020, avança agora com a aprovação do projeto de Regulamento de Organização e Funcionamento da Polícia Municipal de Lagoa, respetivo mapa de pessoal, bem como distintivos heráldicos e gráficos.

Lagoa seguro, limpo e organizado”, esclarece o presidente Luís Encarnação. O Mapa de Pessoal do serviço desta polícia, acabado de aprovar, contempla um total de 26 novos postos de trabalho: um lugar de comandante (equiparado a dirigente intermédio de 2.º grau), um lugar para graduado que assumirá as funções de coordenador e outros 24 lugares para agentes. Os passos seguintes neste processo de criação da Polícia Municipal de Lagoa é a ratificação da deliberação da Assembleia Municipal de Lagoa por parte do Conselho de Ministros e a sua publicação em Diário da República .

Na base da tomada desta decisão encontra-se a necessidade de adequar os recursos aos desafios e responsabilidades do Município de Lagoa nas áreas da fiscalização em matérias como a proteção do ambiente, estabelecimentos comerciais, ocupação de espaço público, trânsito e estacionamento, publicidade, acompanhamento de eventos desportivos e culturais, sem esquecer a vertente pedagógica numa lógica de proximidade ao cidadão. “A descentralização de competências do Estado para as Câmaras Municipais foi o que levou o Município de Lagoa a avançar com a criação da Polícia Municipal. Pretende-se com esta iniciativa contribuir para o objetivo de manter o concelho de ALGARVE INFORMATIVO #282

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MUNICÍPIO DE SILVES INVESTE 1,8 MILHÕES DE EUROS NA CONSTRUÇÃO E AMPLIAÇÃO DA EB1 DE SILVES eve início, no final de janeiro, a empreitada de construção e ampliação da EB1 de Silves. A intervenção, cujo investimento ascende a 1,8 milhões de euros, tem uma duração estimada de 14 meses e contempla a criação de 12 salas de aula, uma sala de informática, instalações sanitárias para alunos, professores e funcionários, e a reorganização dos espaços exteriores, com a criação de uma zona de jogos para atividade física e recreio. Este tipo de intervenção foi alvo de consulta, com parecer favorável, de todos os intervenientes, entre os quais o Agrupamento de Escolas de Silves e a Associação de Pais, e não permitiu a manutenção do edifício existente devido a danos graves e irreparáveis existentes (resultantes de assentamentos no subsolo), razão pela qual a autarquia foi obrigada a optar pela demolição do antigo edifício. “A realização desta

Presidente da Câmara Municipal de Silves. “A educação apresenta-se

como um eixo prioritário da política municipal e, neste contexto, tem sido prática corrente o apoio permanente às 24 escolas do concelho. Esta intervenção tem-se refletido numa série de linhas de atuação, quer no âmbito da manutenção e melhoria dos espaços físicos, no fornecimento de equipamento informático e material didáticopedagógico, no reequipamento de salas de aula e no fornecimento de mobiliário, quer na gestão dos transportes escolares e cedência de autocarros, na atribuição de auxílios económicos e bolsas de estudo, no apoio à família e na disponibilização de pessoal técnico do sector de psicologia”,

reforça a autarca .

obra constitui um fator primordial para a melhoria das condições do processo de ensinoaprendizagem e para o sucesso escolar e educativo dos alunos”, refere Rosa Palma, 101

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MUNICÍPIO DE LOULÉ REFORÇA MAPA DE PESSOAL PARA SERVIR MELHOR A POPULAÇÃO Câmara Municipal de Loulé pretende continuar a melhorar os serviços que presta ao cidadão e responder, de forma mais próxima, célere e eficaz, aos desafios que se colocam neste momento às autarquias. Nesse sentido, desde o ano passado que tem vindo a reforçar gradualmente o seu mapa de pessoal com cerca de três centenas de novos trabalhadores, sobretudo em áreas que são vitais para o tecido socioeconómico do concelho. O urbanismo é um dos setores para o qual a Autarquia tem vindo a recrutar técnicos superiores (arquitetos), para uma resposta mais célere à dinâmica imobiliária e de construção civil existente no concelho. Outros trabalhadores estão a reforçar as equipas municipais são o caso de engenheiros, na área das obras municipais, e jardineiros, calceteiros e outros assistentes operacionais para garantir um espaço público cuidado e seguro. Uma área que também viu reforçada a sua equipa foi a fiscalização municipal. A educação, área prioritária na gestão municipal, reforçou o pessoal não docente para garantir um bom ambiente e segurança no meio escolar. É também a pensar no impacto desta crise de saúde pública que a área social tem recebido ALGARVE INFORMATIVO #282

novos trabalhadores, tal como a proteção civil ou os bombeiros municipais. Nestes dois últimos casos, não é alheia ainda a preocupação crescente com a questão dos fogos florestais, não só em termos de vigilância, ao longo do ano, mas também em termos de primeira intervenção/combate, nos meses de Verão. De salientar ainda que o Município de Loulé passou a ter este ano competências acrescidas na área da saúde, em virtude da transferência da administração central para a local, pelo que também nesta matéria há uma necessidade de pessoal para operacionalizar as novas funções da Câmara Municipal de Loulé, por exemplo nos centros de saúde. Refira-se que ao longo dos últimos anos tem-se verificado um número significativo de funcionários que se aposentaram ou que estão a atingir a idade da reforma, pelo que os responsáveis municipais consideram ser fundamental este processo de reforço e rejuvenescimento gradual 102


dos seus quadros. Note-se que, durante a crise financeira de 2011-2013, o número de trabalhadores da Autarquia de Loulé caiu bastante e mesmo atualmente o quadro de pessoal ainda se encontra aquém do que era antes de 2011. “Neste

momento, mais do que nunca, todos nós percebemos que reforçar os serviços públicos é garantir o acesso da população a áreas fundamentais como a saúde, a

educação, a ação social ou a proteção e socorro. É por isso que o Município de Loulé assume esse desiderato de continuar a reforçar e melhorar o serviço que presta ao cidadão, com políticas de recrutamento de novos colaboradores”, esclarece o presidente da Câmara de Loulé, Vítor Aleixo .

AUTARQUIA DE LOULÉ REABILITA EQUIPAMENTOS DESPORTIVOS o âmbito da aposta na promoção da atividade física (formal e informal) e do compromisso com o desporto assumido pela Autarquia de Loulé, estão em curso ou em fase de conclusão diversas obras que visam a requalificação dos equipamentos desportivos em vários pontos do concelho. Estas intervenções integram-se numa estratégia de conservação e melhoramento dos edifícios desportivos, de forma a aumentar o seu tempo de vida útil, até porque muitos deles encontramse desgastados devido ao uso contínuo ao longo dos anos. Os trabalhos a realizar nas infraestruturas incidem na renovação de pavimentos, coberturas/tetos e iluminação, melhoria ao nível dos balneários, dos revestimentos nas paredes interiores e exteriores e respetivas pinturas. As obras decorrem 103

em infraestruturas como o Pavilhão Desportivo Municipal de Loulé (297 mil e 698 euros), Pavilhão Municipal de Boliqueime (134 mil e 873,96 euros), Piscinas Municipais Interiores de Loulé (517 mil e 815,80 euros), Piscinas Municipais de Quarteira (124 mil e 852,37 euros), Estádio Municipal de Almancil (37 mil e 256,94 euros) e Estádio Municipal de Quarteira (103 mil e 231,29 euros). No Estádio Municipal de Loulé estão a ser desenvolvidos os procedimentos necessários para a realização dos trabalhos ao nível da estrutura e da requalificação de outras componentes desta infraestrutura desportiva. À semelhança do que já está a acontecer nas Piscinas Interiores de Loulé, também nas Piscinas de Quarteira a aposta é tornar o edifício mais sustentável e mais amigo do ambiente através da colocação de painéis fotovoltaicos e iluminação LED. ALGARVE INFORMATIVO #282


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #282

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