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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 27 de junho, 2020

THE GIFT NUM CONCERTO EXTRAORDINÁRIO EM LOULÉ DIA DO MUNICÍPIO DE CASTRO MARIM E TAVIRA | EUROCIDADE GUADIANA | «A CASA» «AS BODAS DE PRATA DO CONDE BALDINSKI» | «A TECEDEIRA QUE LIAINFORMATIVO ZOLA» 1 ALGARVE #254


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56 - The Gift em Loulé

38 - Luís Romão fala da Eurocidade Guadiana ALGARVE INFORMATIVO #254

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OPINIÃO 110 - Paulo Cunha 112 - Ana Isabel Soares 114 - Adília César 116 - Fábio Jesuíno 118 - Augusto Pessoa Lima 98 - «A Tecedeira que lia Zola»

84 - «As Bodas de Prata do Conde Baldinski»

26 - Ana Paula Martins 7

74 - «A Casa»

12 - Francisco Amaral ALGARVE INFORMATIVO #254


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“AS PESSOAS SÃO MAIS IMPORTANTES DO QUE AS OBRAS E TEMOS QUE ENFRENTAR ESTA PANDEMIA SOCIAL DE PEITO ABERTO”, DEFENDE FRANCISCO AMARAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina 13 13

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astro Marim festejou, a 24 de junho, o seu Dia do Município, provavelmente um dos mais complicados para Francisco Amaral, o autarca há mais anos em atividade em Portugal, presidente desta Câmara Municipal desde 2013 e reeleito para um segundo mandato, em 2017, sem maioria absoluta, com todas as peripécias que daí decorreram, o que motivou eleições intercalares em 2019. E, depois de uma vitória estrondosa sobre as forças socialistas, o médico de profissão acreditava que teria pela frente um resto de mandato bem mais tranquilo e produtivo. Infelizmente, e como todos bem sabemos, ninguém tem razões para estar tranquilo no contexto de pandemia que vivemos atualmente. Francisco Amaral acrescenta, porém, que as dores de cabeça surgiram logo em 2013, face aos constrangimentos impostos pelo poder central devido à crise económica e financeira que Portugal vivia. “As

câmaras municipais não podiam, por exemplo, contratar mais funcionários, de modo que Castro Marim era o Município com menores recursos humanos da região. Houve pessoas que se reformaram e não puderam ser substituídos. Depois, por causa da nova Lei das Finanças Locais, uma autarquia, para fazer qualquer coisa, precisava ter dinheiro em caixa. Têm sido problemas atrás de problemas, dificuldades atrás de dificuldades”, admite Francisco Amaral. ALGARVE INFORMATIVO #254

Uma oposição maioritária complicou sobremaneira o trabalho do executivo castro-marinense de 2017 a 2019, mas tudo parecia bem encaminhado após as eleições intercalares do ano transato.

“Aquela obstaculização constante afetou todo o expediente da Câmara Municipal, as obras atrasaram-se mais de um ano, com custos acrescidos, foi horrível. Felizmente que isso se conseguiu ultrapassar, lançamos 14


intervenções importantes e estávamos em velocidade de cruzeiro quando, de repente, chegou a pandemia ao Algarve. Mas as empreitadas estão no terreno, como o passadiço que vai ligar Altura à Manta Rota, o abastecimento de água a 30 povoações do concelho ou o Centro de Atividades Náuticas de Odeleite. Concluímos a Ciclovia entre Castro 15

Marim e Vila Real de Santo António e já adjudicamos a parte que liga Castro Marim à Praia Verde, a rede de rega da Barragem de Odeleite e a requalificação da zona da vila onde se realizam os mercados municipais”, indica o entrevistado. “Não chegamos a perder fundos comunitários porque duvido que, no Algarve, exista alguém que ALGARVE INFORMATIVO #254


perceba tanto desse assunto como a minha vice-presidente. É uma maisvalia enorme para nós termos uma vereadora assim”, enaltece Francisco

funcionários por isso. E, apesar do desemprego avassalador que aflige o Algarve, o futuro pode ser risonho neste concelho do sotavento. “Estão

Amaral, referindo-se a Filomena Sintra.

a ser licenciados três hotéis de grande dimensão, um deles na vila de Castro Marim, quiçá a única sede de concelho de Portugal que não possui uma unidade hoteleira. Está em vias de aprovação um hotel de cinco estrelas na Verde Lago, em Altura,

Apesar da Câmara Municipal de Castro Marim, à semelhança de muitas outras, ter funcionado quase a 50 por cento durante a fase de confinamento, a verdade é que a pandemia não atrasou em demasia os procedimentos, com Francisco Amaral a elogiar os seus ALGARVE INFORMATIVO #254

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habitantes. Se não se receitasse logo o antibiótico, as coisas complicavam-se bastante. Este coronavírus é muito mais contagioso do que o simples vírus da gripe, o que me inquieta tremendamente, daí termos feito logo um «corte» com a serra”, frisa Francisco Amaral. “Paramos com o transporte diário que ligava as povoações do interior a Castro Marim e começamos a levar os alimentos e medicamentos a casa das pessoas, com viaturas com equipamento sonoro a aconselhálas a protegerem-se, a não saírem de casa. Se assim não tivéssemos feito, teria acontecido o mesmo que sucede nos lares”.

e outro na Maré Velha. Apesar de tudo, as coisas estão a andar, a câmara não parou por causa da covid-19”, assume. Isso não significa que as suas preocupações não sejam imensas, por se estar num concelho periférico e desertificado, com uma população envelhecida e isolada. “Fui médico na

serra algarvia durante muitos anos e lembro-me perfeitamente que, quando o vírus da gripe entrava numa povoação, percorria todos os 17

Perante este cenário, Francisco Amaral mostra-se apreensivo com a facilidade com que as pessoas continuam a entrar em Portugal, mesmo estando as fronteiras encerradas, para além de não se fazerem testes a quem chega para saber se está ou não infetado com a covid-19. “Os países que melhor

controlaram esta pandemia foram aqueles que mais depressa fecharam as fronteiras e obrigaram à utilização da máscara e Portugal demorou muito tempo a aplicar essas medidas. Tivemos uma vintena de costureiras em Castro Marim que se voluntariaram para fazer máscaras, numa altura em que ALGARVE INFORMATIVO #254


elas ainda não se encontravam à venda, tudo sob a coordenação do nosso Delegado de Saúde”, destaca o edil. “Houve potenciais situações de contágio que se resolveram graças às atitudes que ele tomou no momento certo. A Comissão de Proteção Civil presidida pelo Delegado de Saúde funciona em pleno, reúne-se semanalmente e temos implementado as medidas adequadas para enfrentar este inimigo invisível”.

ALGARVIOS NÃO PODEM SER «CARNE PARA CANHÃO» Todos os cuidados são, no entanto, poucos e Francisco Amaral está muito apreensivo com o que pode acontecer no Algarve em julho e agosto, quando a região começar a ser «invadida» pelos turistas. “A população algarvia vai

triplicar ou quadruplicar e Castro Marim é um dos concelhos portugueses com mais segunda habitação, portanto, vamos ter aqui muita gente que virá, nomeadamente, da Grande Área Metropolitana de Lisboa. Por outro lado, não há controlo nenhum nas chegadas ao Aeroporto Internacional de Faro e sabemos que há países muito pandémicos, como a Inglaterra, com ligações diretas para o Algarve. Há muito tempo que defendo que, quem chegasse ao Aeroporto de Faro, ALGARVE INFORMATIVO #254

teria que ter um teste covid-19 negativo, feito no seu país de origem. Se não houver controlo na entrada de turistas estrageiros provenientes de países pandémicos, Meu Deus! O Governo precisa ter mais pulso nestas situações”, afirma o entrevistado. “A Madeira e os Açores estão a fazer isso, por que 18


razão não deve ser feito o mesmo em Portugal Continental? Somos portugueses de segunda? Estamos todos preocupados com a economia nacional, sabemos bem qual é o contributo do Algarve para o Produto Interno Bruto, mas os algarvios, sobretudo os idosos, não podem ser «carne para canhão»”, dispara, irritado. 19

Francisco Amaral avisa, entretanto, que ainda não se percebeu bem qual o real efeito social desta pandemia, apesar de todos os esforços das autarquias, e do poder central, para atenuar as dificuldades económicas das populações. “As famílias ainda

tinham algum fundo de maneio, mas isso está a acabar e temos pela frente um desemprego ALGARVE INFORMATIVO #254


avassalador. Isto vai doer bastante. Há muitos anos que digo que as câmaras municipais são os verdadeiros Ministérios da Solidariedade Social, porque lidam diariamente com situações complicadas, algumas delas do «arco da velha», e o pior ainda está para vir. Almocei segunda-feira num restaurante de Faro e era o único cliente. O dono disse-me que, se isto continuar assim durante mais algum tempo, 90 por cento das empresas fecham”, aponta o autarca, um facto que também se deve à monocultura do turismo do Algarve. “Nunca se pensou

em diversificar a nossa oferta, estamos muito agarrados ao turismo, que está a levar uma porrada bastante grande. O turismo interno vai existir, porque, quem tem poder de compra, já não vai para o Brasil, México ou Cuba, irá fazer férias no Algarve, mas estou bastante preocupado com aquilo que o futuro nos reserva”, não se cansa de alertar o entrevistado. A Câmara Municipal de Castro Marim vai fazendo, entretanto, tudo o que pode e consegue para ajudar os castromarinenses e Francisco Amaral não terá problemas nenhuns em colocar alguns obras na gaveta, para, com isso, prosseguir com os apoios sociais. “As

pessoas são mais importantes que as obras. É inquestionável que há câmaras municipais ricas e outras pobres. Tem-se mexido na Lei das ALGARVE INFORMATIVO #254

Finanças Locais, mas nunca houve uma real preocupação em se equilibrar as coisas. No Algarve encontram-se alguns dos Municípios mais ricos de Portugal e, se Albufeira, Loulé, Lagos ou Portimão conseguirão suportar melhor esta crise, há outros mais pequenos como Castro Marim que terão algumas dificuldades em manter estes apoios”, confessa o edil, que prefere nem contabilizar, para já, a quebra das receitas anuais e o impacto no orçamento municipal de todas as ajudas que têm sido dadas às famílias Em dia de festa, Francisco Amaral não quer ser também demasiado pessimista e lembra que Castro Marim tem passado, ao longo da sua história, por momentos de apogeu e outros de baixa estima. “Quando foi

conquistado aos mouros sofreu bastante, ficou esfrangalhada. Quando foi sede da Ordem de Cristo esteve em alta, depois, quando ela foi para Tomar, caiu outra vez. No tempo do Rei D. Manuel e das Descobertas subiu novamente, porque Castro Marim era um local estratégico até para combater a pirataria. Com o Terramoto de 1755 foi-se abaixo, houve um assoreamento de todas estas terra. Alternou sempre entre altos e baixos, neste momento estamos a sofrer muito, mas estou convencido que vamos 20


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dar a volta à situação, com garra, tenacidade e determinação. Tenho uma boa equipa e bons funcionários na câmara, vamos agarrar «o boi pelos cornos» e levar de vencida esta batalha”, acredita, sem esconder, todavia, alguma tristeza pelo cancelamento de alguns eventos importantes do Verão, nomeadamente dos Dias Medievais de Castro Marim.

“Faz-me alguma confusão como é que o Partido Comunista ainda não desistiu da Festa do Avante deste ano. As autarquias algarvias decidiram logo suspender os festivais e as festas de Verão, portanto, não compreendo o que é que estão à espera para cancelar a Festa do Avante”. Reflexo da covid-19, o projeto do Quartel dos Bombeiros para o Azinhal poderá estar em causa, porque, apesar dos fundos comunitários estarem assegurados, falta a quota-parte da Câmara Municipal de Castro Marim. Acabado está o Lar de Altura, da responsabilidade de uma associação local, mas com forte apoio da autarquia, esperando-se que comece a funcionar em setembro. Outro projeto, desta feita da Santa Casa da Misericórdia, é um lar para doentes com Alzheimer, que também carece de ajuda financeira da parte do Município. “Sinto que a oposição está

muito mais calma do que nos dois anos iniciais deste mandato, até porque, em 2019, o PSD teve o dobro dos votos do PS. Isso permite que não se levantem grandes ALGARVE INFORMATIVO #254

obstáculos na Assembleia Municipal, onde os socialistas têm a maioria, portanto, com algum esforço, espero que se consiga avançar com a maior parte dos projetos. Estamos a desbloquear situações que estavam paradas há dezenas de anos, como o empreendimento turístico da RETUR, que poderá vir a ser como a Praia Verde. Temos um loteamento habitacional em Altura que também foi agora desbloqueado, numa situação conjunta de município com particulares. As coisas estão a avançar e penso que, apesar da pandemia e das dificuldades financeiras, vamos dar mais qualidade de vida aos castromarinenses, que é aquilo que mais nos importa”, assegura. E porque 2021 é ano de eleições legislativas, será que Francisco Amaral já pensa em recandidatar-se, questionamos. “Já tenho uma certa

idade (64 anos) e tenho uma boa vice-presidente, vamos ver o que acontece. Estou convencido que a Filomena Sintra daria uma excelente presidente de câmara, vamos conversar sobre o futuro. Para já, estou concentrado nesta pandemia social que já se nota e que temos que enfrentar de peito aberto” . 22


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“É IMPORTANTE TRANSMITIR UMA IMAGEM DE SEGURANÇA, DE QUE SOMOS CAPAZES DE LIDAR COM A SITUAÇÃO”, AFIRMA ANA PAULA MARTINS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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uando Ana Paula Martins substituiu, em outubro de 2019, Jorge Botelho na presidência da Câmara Municipal de Tavira, imaginava, certamente, que o seu primeiro Dia do Município enquanto edil tavirense seria passado em clima de festa, até porque Tavira comemora, em 2020, os 500 anos de elevação a Cidade. O dia 24 de junho foi, todavia, tudo menos de festa, ainda mais por ter surgido um novo foco de contágio de covid-19 no concelho.

“Tínhamos programado um ano ALGARVE INFORMATIVO #254

intenso de eventos culturais para celebrar o meio milénio de história de Tavira, envolvendo também as escolas para dar a conhecer a importância da cidade nos séculos XV e XVI, e, uma semana antes do arranque (16 de março), tivemos de cancelar tudo. Os últimos meses têm sido uma navegação à vista, um dia de cada vez, fazendo modificações no orçamento para reforçar o combate ao coronavírus e para apoiar as famílias e empresas do 28


concelho”, descreve a entrevistada. “No início, o nosso grande esforço foi no sentido de garantir a segurança das pessoas, agora, no âmbito do desconfinamento, é perceber como nos vamos reinventar para colocar todos os serviços e programas a funcionar, com os devidos planos de contingência. E se, em qualquer momento, houver alguma dúvida de que não conseguiremos garantir a segurança, não se avança, como sucedeu com a decisão de não abrirmos o Parque de Campismo da Ilha de Tavira”, prossegue Ana Paula Martins. Vive-se, então, num equilíbrio delicado entre a vontade de querer fazer coisas e a necessidade de que tudo seja feito com todas as precauções e cautelas que a covid-19 exige. E, em Tavira, a maior parte dos casos detetados até à semana passada incluíam-se num grupo de trabalhadores agrícolas. A situação foi ultrapassada, a tranquilidade tinha regressado a Tavira, até que, de repente, surge um novo foco, com origem num restaurante em Cabanas de Tavira. 29

“Estávamos sem casos desde 25 de maio e, neste momento, estamos com oito, todos ligados ao mesmo foco. Agora, é tentar conter ao máximo o contágio, testar todos os contatos diretos e as pessoas fazerem o devido isolamento profilático”, indica a presidente de Câmara Municipal, lamentando que nem toda a gente encare esta pandemia com a seriedade que se impõe. “As pessoas

esquecem-se das coisas com o tempo. Cumprem no início, mas depois afrouxam a cautela, só que esta é a nossa nova realidade. A máscara e o frasco de gel desinfetante têm que andar sempre connosco”, avisa. A verdade é que o desconfinamento é necessário, o Algarve precisa dos turistas, as empresas precisam dos seus clientes, as famílias precisam dos seus rendimentos, mas isso não impede que tudo seja realizado com a máxima segurança, um apelo que Ana Paula Martins não se cansa de fazer.

“Quando existem focos de contágio perto de nós, vamos tentar manter-nos em casa durante algum tempo, para ver se temos sintomas ou não. Sabendo que tivemos contato com alguém que tem covid-19, mesmo que se tenha cumprido o distanciamento, é melhor prevenir do que remediar. O desconhecimento deste vírus ALGARVE INFORMATIVO #254


ainda é grande, portanto, não devemos estar simplesmente a reagir a contágios. Devemos todos ser agentes de saúde pública, para nos protegermos a nós e aos outros”, defende. “Só conseguimos ser um destino turístico seguro se cumprirmos todas as regras, porque voltarmos a confinar poderá ser completamente desastroso para a economia local e nacional”. Enquanto os turistas não chegam em maior número, Ana Paula Martins vai à janela do seu gabinete e vislumbra uma Praça da República com esplanadas vazias, um cenário estranho para uma cidade que já há alguns anos que vinha lidando com bastante sucesso com a conhecida sazonalidade do Algarve. “Fui

vereadora, vice-presidente, agora presidente, estou cá desde 2010, portanto, assisti a estas esplanadas vazias na altura da crise financeira do início da década passada. E foi com muito agrado que vi Portugal, o Algarve e Tavira darem a volta por cima, imporem-se como destinos turísticos de eleição, graças ao trabalho da Região de Turismo do Algarve, dos Municípios e do Turismo de Portugal. Tavira começou a ter mais gente nas épocas intermédias, porque temos um clima agradável e um rico património cultural e histórico para visitar e que complementa o «sol e praia». No atual cenário, resta-nos ALGARVE INFORMATIVO #254

pensar em medidas para ajudar, dentro das nossas competências legais, estes pequenos empresários a manter os postos de trabalho, porque são eles que põem comida na mesa a uma série de pessoas”, afirma a entrevistada. Medidas como isenções de pagamento de taxas de publicidade e ocupação de via pública, assim como das rendas dos espaços municipais, já foram adotadas, mas o executivo liderado por Ana Paula Martins poderá ter que avançar para apoios mais «musculados». “Temo que o Verão

não seja suficiente para evitar prejuízos avultados às empresas do concelho”, justifica, confirmando que também as receitas fiscais da câmara municipal estão a sofrer uma queda em virtude da pandemia. “No

IMI, temos vindo a baixar progressivamente as taxas nos últimos anos, o IMT recebido nestes meses desceu e, somando tudo aquilo de que já abdicamos desde março, chega-se quase aos 800 mil euros. A este montante somam-se os apoios sociais que temos introduzido, como é o apoio alimentar com senhas ou refeições confecionadas em regime take-away. Ajudamos também nas pequenas despesas domésticas, através de um protocolo com a Associação das Vicentinas, e na compra de medicamentos, com um 30


protocolo com a Associação Dignitude. Penso que estamos a conseguir dar uma boa resposta às carências das famílias, mas estou muito preocupada com as empresas locais e poderemos ter que implementar um plano de emergência de apoio que seja suplementar às ajudas governamentais”. A PROMESSA É CONTINUAR A TRABALHAR, TRABALHAR, TRABALHAR Despesas extraordinárias que não estavam previstas, receitas que estavam no orçamento e que deixam de ser recebidas, tudo isso influencia as contas da Câmara Municipal de Tavira, reconhece Ana Paula Martins. “Há

verbas que estavam destinadas à Feira da Dieta Mediterrânica que já cancelamos, o «Verão em Tavira» também será feito em moldes diferentes, porque precisamos utilizar recintos fechados onde haja controlo de entrada, daí que já conseguimos 31

injetar no orçamento 1 milhão e 500 mil euros para fazer face a estas despesas suplementares do covid-19. Em simultâneo, temos um plano de obras significativo e, se tivermos que deixar de fazer ALGARVE INFORMATIVO #254


algumas para ajudar a população, essa decisão será tomada sem hesitação”, garante a autarca. Por falar em obras, estão várias no terreno, algumas de grande envergadura, como são o caso da ponte sobre o Rio Gilão, o Cineteatro António Pinheiro, a requalificação das Piscinas Municipais e de uma escola primária e pré-escolar. ALGARVE INFORMATIVO #254

Finalizadas estão umas pavimentações na freguesia de Conceição, prosseguem as obras em Cachopo, na Fonte Férrea e na Casa da Aldeia e lançou-se, recentemente, a requalificação da rua principal de Cabanas e mais pavimentações noutras freguesias.

“Muitas vezes acusam os autarcas de gastarem tanto dinheiro nas pavimentações, contudo, quem vive no interior, é isso que mais 32


podem perder”, salienta Ana Paula Martins. No rescaldo de um Dia do Município atípico e dos tempos de constante incerteza que se vivem, a promessa da presidente da Câmara Municipal de Tavira é continuar a trabalhar, trabalhar e trabalhar. “O expediente normal

de uma autarquia continua a existir, há uma série de carências da população a que temos de dar resposta, agora com o desafio acrescido da covid-19. Num dia estamos bem, no outro deixamos de estar e todos os esforços se concentram em conter os focos de contágio. Trabalhamos a toda a hora, mas sem podermos fazer garantias”, desabafa. “No início de 2020 achava que este iria ser um ano de festa, em que o nosso orgulho em ser tavirense estaria no seu auge. Agora, não conseguimos estar todos juntos na rua a comemorar, não há eventos – e também não acho que tenham que existir, para não se colocar as pessoas em risco”. nos pedem, que arranjemos os acessos às suas casas. Já o antigo presidente Jorge Botelho o fazia e nós continuarem a requalificar os caminhos e as estradas municipais, desta feita com uma empreitada de cerca de um milhão e meio de euros. Para além disso, falamos em fundos comunitários que não se 33

Arregaçar as mangas é, então, a solução, porque ainda persistem algumas carências no concelho de Tavira, admite a edil, dando o exemplo da Escola Primária N.º 1 de Tavira, que precisa de uma requalificação profunda. Na área cultural, a lacuna de uma grande sala de espetáculos ficará resolvida quando se concluir a obra do Cineteatro António Pinheiro, mas Ana ALGARVE INFORMATIVO #254


Paula Martins ambiciona com um Museu Fenício na Casa dos Cortes-Reais. Outro sonho é a requalificação do Pego do Inferno, importante, mas complicada, porque o estudo prévio do projeto envolve vários proprietários particulares.

“Na requalificação das margens do Rio Gilão vamos privilegiar a vertente pedonal. Arranjamos a Pires Padinha e a ideia é prolongarmos a intervenção até à zona das Quatro Águas e ao Parque Verde do Séqua”, desvenda. “Todavia, a nossa grande prioridade é a habitação social ou a custos controlados, pelo que estamos a desenvolver uma Estratégia Local de Habitação que espero levar à Assembleia Municipal no próximo mês. Temos quase 600 casas de habitação social, mas ainda existem alguns agregados que se podem enquadrar no primeiro direito. Está em vista a construção em alguns terrenos da câmara municipal, bem como a aquisição de mais um terreno, que já está para avaliação. O Algarve está com preços proibitivos na habitação e, logo que for aprovado, o Plano começará a ser implementado”, assume a entrevistada. De volta à pandemia, vão abrir as fronteiras terrestres com Espanha a 1 de julho e regressam as ligações aéreas com destino ao Aeroporto de Faro, o que se traduz na vinda dos turistas dos quais o Algarve tanto necessita. “Mas estamos ALGARVE INFORMATIVO #254

apreensivos porque não sabemos se essas pessoas irão cumprir todas as regras ou se nos vão colocar em risco, uma vez que nem todos os países têm tido esta cultura de distanciamento, prevenção e cautela. Este receio de novos focos de contágio vainos levar a intensificar as ações de sensibilização, porque temos que nos proteger a nós e aos outros. De qualquer modo, teremos menos turistas porque a crise económica é extensível ao mundo inteiro”, antevê Ana Paula Martins. “O Algarve teve uma excelente prestação na forma como lidou com esta pandemia, com os autarcas a aprenderem todos uns com os outros, e é importante transmitir essa imagem de segurança, que estamos preparados para lidar com a situação”, declara. Quanto a uma possível candidatura às legislativas de 2021, ainda é cedo para pensar nisso, responde. “Não temos falado sobre

isso, a questão não tem estado em cima da mesa. Mas, quer seja ou não candidata, isso não vai mudar a minha atitude. Aceitei a missão de substituir o presidente Jorge Botelho com o compromisso de fazer sempre o melhor que posso e sei. A seu tempo o PS anunciará o seu candidato ou candidata à Câmara Municipal de Tavira” . 34


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“EUROGUADIANA 2020 É O PRINCÍPIO DE ALGO QUE PODE SER MUITO IMPORTANTE”, ACREDITA LUÍS ROMÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Eurocidade Guadiana, constituída pelos municípios de Vila Real de Santo António e Castro Marim e o Ayuntamiento de Ayamonte, festejou, em maio, o seu sétimo aniversário, mas pode-se dizer que foi em 2018, quando lhe foi conferida o estatuto de AECT – Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial, que efetivamente começou a ter condições para desempenhar verdadeiramente as funções para as quais foi criada, uma vez que passou a poder candidatar-se e gerir fundos comunitários. Na génese, este modelo de cooperação de segunda geração pretendia sobretudo a partilha de equipamentos, a criação de uma marca turística conjunta, o lançamento de um canal de rádio e a realização de eventos comuns em ambos os lados do Rio Guadiana. Por isso, ainda sem personalidade jurídica, foi promovendo encontros para auscultar alguns parceiros e dinamizando eventos como a Virgem das Angústias em Vila Real de Santo António ou a vinda dos Reis Magos a Castro Marim e a Vila Real de Santo António. “Recorde-se que estamos

perante três municípios periféricos e que dois deles vivem profundas dificuldades financeiras que os levam a ser intervencionados pelo Estado, com todas as consequências que isso acarreta, nomeadamente no que toca à criação de novas despesas”, indica Luís Romão, vicepresidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e Diretor da Eurocidade Guadiana. ALGARVE INFORMATIVO #254

Ora, se o estatuto de AECT aumenta substancialmente o potencial da entidade, implica também um acréscimo do nível de responsabilidade, conforme se nota por todo o cuidado com que foi concebida a candidatura EuroGuadiana 2020, em parceria com as Universidades do Algarve e de Huelva, no valor de 1 milhão e 200 mil euros, e que viria a ser aprovada pelo INTERREG. E para fazer face aos desafios colocados pela Eurocidade Guadiana, que neste momento é presidida por Natalia Santos, alcandesa de Ayamonte, foi constituída uma 40


equipa técnica formada por Fran Muñoz, Mirian Carrasco e Yolanda Macias (Ayamonte), Núria Guerreiro (Castro Marim) e Rita Barradas e Filipe Santos (Vila Real de Santo António). Quanto ao EuroGuadiana 2020, contempla seis ações extremamente importantes para o desenvolvimento sustentado do território, logo a começar pela Governança e Coordenação Municipal.

“No fundo, o que se pretende é que os políticos pensem neste território como algo único, e não como três municípios separados, o que permitirá ganhos de escala. Só que ter uma estratégia para um 41

município já é um desafio, imagine-se para três que pertencem a dois países diferentes e onde as cores políticas podem ser distintas”, considera o entrevistado. Outras ações prendem-se com a elaboração de uma Agenda Urbana, assim como a Mobilidade e Acessibilidade, sendo que o Rio Guadiana, que une estes três municípios, também acaba por os separar fisicamente. “Há que criar

mecanismos que permitam ALGARVE INFORMATIVO #254


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usufruir um bocadinho melhor da outra margem, porque, neste momento, existe apenas a ponte e o barco. No entanto, se quisermos ir, às seis da tarde, a Ayamonte, ou vice-versa, só podemos utilizar o carro, o barco já não está disponível”, lembra Luís Romão, antes de abordar outro dos eixos do EuroGuadiana 2020, o Turismo. “Estes

territórios têm uma cultura de vivência muito comum, mas também se notam algumas barreiras psicológicas. O objetivo é promover-se a Eurocidade Guadiana de uma única forma, mas, se formos divulgar as praias

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de Ayamonte, os hoteleiros de Castro Marim e Vila Real de Santo António podem não encarar isso com bons olhos, e vice-versa. As pessoas têm que perceber que ficam todas a ganhar com isto. Não há razões, por exemplo, que impeçam os hoteleiros de Monte Gordo, Castro Marim e Altura de beneficiar com a Semana Santa de Ayamonte”, frisa o autarca. Já a Gestão e Coordenação é um eixo que se prende mais com questões administrativas da Eurocidade Guadiana e depois existe ainda a vertente da Comunicação, que até melhorou por causa da pandemia, reconhece Luís Romão. “As reuniões passaram a ser

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diárias, por videoconferência, o trabalho intensificou-se e vamos lançar alguns concursos para contratação de pessoal da área administrativa ”. Promover o desenvolvimento sustentável do território é, então, a linha mestre da Eurocidade Guadiana, e de forma equitativa, sem beneficiar mais este ou aquele município, um equilíbrio que Luís Romão admite não ser fácil de gerir. “Ninguém mais do que a

equipa técnica tem noção do potencial e dos aspetos positivos e negativos desta estrutura, o que nos leva a preparar projetos que vão ao encontro das necessidades de toda a população, que criem novas oportunidades de emprego e mais riqueza. Em termos turísticos, a grande ambição é que consigamos competir com outras zonas com muito maior capacidade financeira. E, como se sabe, os financiamentos da União Europeia nunca são totalmente a fundo perdido, há um valor que tem que ser assumido pelas partes interessadas”, aponta, adiantando que o EuroGuadiana 2020 é um pontapé de início de jogo. “Estamos

a preparar outras candidaturas se calhar muito mais incisivas e direcionadas para questões mais profundas. Nesta candidatura estamos a trabalhar com entidades absolutamente inquestionáveis – a Universidade do Algarve e a ALGARVE INFORMATIVO #254

Universidade de Huelva – nas questões do Turismo, da Governança e da Agenda Urbana, que nos garantem bastante isenção e transparência e uma enorme qualidade em termos de know-how. É o princípio de algo que pode ser muito importante”. Luís Romão explica ainda que o facto da Eurocidade Guadiana ser, desde 44


2018, um Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial lhe permitiu entrar numa rede de entidades transfronteiriças,

“que têm muito mais coisas em comum do que aquilo que nos separa”. “Os interesses e as dificuldades são mais ou menos idênticas. Veja-se o manifesto criado pela Eurocidade Chaves-Verin, e assinado por todos os presidentes de câmara municipal, a reivindicar a 45

abertura da fronteira entre Portugal e Espanha. Há aqui um potencial de crescimento brutal, desde que os políticos também assim o desejem. A equipa técnica da Eurocidade prepara e disponibiliza ferramentas de trabalho, que os políticos podem ou não querer utilizar”, sublinha o entrevistado. ALGARVE INFORMATIVO #254


TRANSFORMAR O TERRITÓRIO NUM MUSEU A par dos planos no papel, várias ações concretas tinham sido definidas no âmbito do EuroGuadiana 2020, que acabaram por ser canceladas ou adiadas devido à covid-19. Assim sucedeu com um fórum de turismo, um encontro de agentes turísticos e um encontro de ALGARVE INFORMATIVO #254

empreendedores femininos, entre outras iniciativas, mas prossegue o trabalho de base com vista à elaboração da Estratégia de Turismo e à criação de um «Território Museu», uma ideia de Miguel Godinho, Chefe da Divisão de Cultura da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António. “O

normal é haver um museu de um 46


visitado, em termos culturais e turísticos”, revela Luís Romão, lembrando que Vila Real de Santo António tem uma rica história associada ao Iluminismo, à indústria conserveira e, inclusive, aos corsários, segundo estudos do investigador Fernando Pessanha. “Descobriu

muitas coisas interessantes sobre Santo António de Arenilha, os primórdios de Vila Real de Santo António, Cacela Velha tem uma forte riqueza histórica e patrimonial, Castro Marim possui toda a sua herança da Idade Média e Ayamonte está bastante ligada ao Barroco. Tudo isso pode ser valorizado com a criação de uma espécie de guião que nos leve a visitar este «Território Museu», com informação científica rigorosa e aplicações informáticas que dispensem a utilização de um guia”, descreve.

território, no entanto, estamos perante dois municípios bastante condicionados pelas questões financeiras e que não teriam capacidade para avançar para essa obra física. Por isso, pensou-se ao contrário, em tornar todo o território num espaço que possa ser 47

Um «Território Museu» que seria bem mais fácil de visitar caso não existisse um Rio Guadiana a dividir os três municípios, daí que a questão da Mobilidade seja um dos grandes desafios da Eurocidade Guadiana.

“Quando tiver maior consistência em termos políticos, penso que se poderá manifestar também como um lobby político em defesa da ligação ferroviária entre Faro e Huelva. Neste momento é utópico pensar nela, porque exige um montante avultado e não faz ALGARVE INFORMATIVO #254


parte da agenda política dos dois países, mas, se calhar, tem que começar a fazer parte da agenda política de quem cá está no território. Basicamente, ia-se ligar o Algarve à Europa, porque a partir de Huelva existem ligações rápidas para Madrid, Sevilha, Barcelona, ALGARVE INFORMATIVO #254

para o resto da Europa, mas existe um hiato enorme entre Faro e Huelva”, lamenta Luís Romão. Certo é que o futuro destes três municípios passa, indiscutivelmente, pela atividade turística, de ambos os lados da fronteira, um turismo que não pode ser apenas de «sol e praia». Mas o 48


Contudo, apesar de existir essa consciência, nunca foi trabalhada uma estratégia comum. Os comerciantes de Vila Real de Santo António e Ayamonte nunca se sentaram à mesa para arranjar formas de todos ficarem a ganhar ainda mais com esta ligação”, comenta Luís Romão. “Faz parte da nossa cultura irmos ao fim-desemana ou ao fim-da-tarde a Espanha, às vezes para nada, só para beber uma cerveja e comer uma tapa, e esta vivência tem que ser potenciada”. A pandemia veio, entretanto, trocar um pouco as voltas aos estrategas da Eurocidade Guadiana, mas trata-se de um problema mundial, pelo que Luís Romão está confiante de que haverá um ajuste nos prazos a cumprir no que toca às candidaturas aprovadas pela União Europeia, de maneira a não se perderem os financiamentos comunitários. “Estamos

Diretor da Eurocidade fala igualmente da importância da partilha de serviços entre Vila Real de Santo António, Castro Marim e Ayamonte. “O comércio de

Ayamonte depende muito dos portugueses, da mesma forma como o comércio português depende dos espanhóis e isso notase ainda mais na restauração. 49

dependentes daquilo que nos permitam fazer nesta nova «normalidade» de que tanto se fala, mas temos tido, infelizmente, exemplos de coisas que não correm muito bem”, indica. “Sem vontade política é impossível concretizarmos os projetos e a criação do AECT foi fundamental, porque nos deu capacidade para termos acesso aos fundos comunitários. Ao mesmo tempo, tornou tudo muito ALGARVE INFORMATIVO #254


mais sério, porque não podemos falhar com as nossas obrigações, e ainda bem que assim é. Depois, contactarmos com outras realidades transfronteiriças mais evoluídas também é francamente positivo”, salienta o autarca vilarealense. “Chaves-Verin está a ALGARVE INFORMATIVO #254

trabalhar bastante bem, o Norte de Portugal-Galiza é uma entidade fortíssima, com uma capacidade económica brutal, mas ainda é necessário derrubar muitas barreiras. Acima de tudo, as pessoas precisam ver coisas palpáveis”. 50


determinada importância, já nos colocaram no mapa. Hoje, já todos nos conhecem e valorizam o nosso projeto e há, inclusive, outros municípios que gostariam de fazer parte, mas o AECT é fechado, será sempre Vila Real de Santo António, Castro Marim e Ayamonte. Em 2013 lançou-se a ideia e dinamizaram-se várias atividades interessantes para se captar a atenção das pessoas, mas foi a partir de 2018 que se confirmou o verdadeiro potencial da Eurocidade Guadiana para promover o desenvolvimento sustentado deste território”, afiança Luís Romão, embora reconheça que algumas burocracias dificultam sobremaneira o trabalho que se pretende fazer. “Se quisermos

Seja como for, poucos duvidam das vantagens destas cooperações transfronteiriças, que as mais-valias daí advindas suplantam as rivalidades ou desconfianças de parte a parte que possam ainda existir. “A única

eurocidade ibérica do sul é a do Guadiana, o que nos confere uma 51

promover um projeto educativo entre Vila Real de Santo António, Castro Marim e Ayamonte, em que tenhamos que transportar miúdos para Espanha, o Ministério da Educação coloca uma série de entraves. Para contratarmos alguém para a Eurocidade, surgem dúvidas de como se processam os descontos, em que país é que se recebe o ordenado. Há questões governamentais que têm de ser ultrapassadas, porque são problemas transversais a todas estas colaborações transfronteiriças”. ALGARVE INFORMATIVO #254


Para já, o EuroGuadiana 2020 concentra todas as atenções, mas a ideia é continuar a crescer e há projetos ainda mais impactantes no horizonte, garante Luís Romão. “Quem não acredita neste

projeto, não pode trabalhar nele. São três municípios que, sozinhos, são altamente periféricos e pequeninos, mas juntos passamos a ter 50 mil pessoas, 6 campos de golfe, um complexo desportivo enorme, as valências triplicam todas. Só que isso, ao mesmo tempo que é potenciador e ambicioso, também nos cria algumas barreiras psicológicas. O cidadão e as empresas só vão sentir

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que são parte da Eurocidade quando estiverem realmente integrados nela e temos ainda um caminho a percorrer nesse aspeto. Do mesmo modo que criar uma estratégia de turismo sem o envolvimento dos stake holders também não faz sentido nenhum”, enfatiza. “Existem imensos projetos para o desenvolvimento do Baixo Guadiana que estão na gaveta, que não têm aplicabilidade. E nós não queremos andar aqui a perder tempo ou a defraudar as expetativas da população”, finaliza Luís Romão .

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FESTIVAL «REGRESSO AO FUTURO» TROUXE THE GIFT A LOULÉ Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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dia 20 de junho de 2020 ficará marcado para sempre na história do mundo moderno pela realização do Festival «Regresso ao Futuro», promovido pela «Sons em Trânsito». Um festival diferente de todos aqueles que alguma vez foram produzidos. O primeiro festival a ter lugar num Portugal a viver a pandemia da covid-19, mas um evento que não aconteceu num único espaço, como é normal. Antes pelo contrário, o «Regresso ao Futuro», engendrado por Vasco Sacramento, aconteceu em 24 salas de espetáculo espalhadas de norte a sul do país, levando de novo ao palco os principais nomes da música portuguesa. Concertos solidários, porque uniram e mobilizaram todos os envolvidos numa frente comum que culmina na entrega das receitas de bilheteira ao Fundo de Solidariedade para a Cultura, criado pela Audiogest e Fundação GDA, destinado a todos os profissionais dos setores das artes. E, como seria de esperar, ao fim de três meses com uma atividade cultural bastante reduzida, os portugueses aderiram em massa. Em Loulé, no Cineteatro Louletano, tive o privilégio de assistir ao concerto dos The Gift, uma das minhas bandas preferidas. Casa cheia de acordo com a nova lotação imposta pelo coronavírus, espetadores respeitando todas as regras de segurança, máscaras nos rostos, mãos desinfetadas à entrada, uma rotina diferente para todos aqueles que estão habituados a frequentar a principal sala de espetáculos do concelho louletano. E ALGARVE INFORMATIVO #254

uma sensação estranha também os artistas, para a trupe comandada por Sónia Tavares e Nuno Gonçalves. Um grupo de amigos que, conforme revelaram, já não estavam juntos desde que a covid-19 chegou a Portugal, com os «encontros» a acontecerem através das novas plataformas digitais de videoconferência. Não foi, certamente, como a primeira vez que pisaram o palco, mas notava-se 58


um nervosismo pelos tempos que vivemos, e também uma tristeza por

“não poder ver os vossos sorrisos”, confessou Sónia Tavares. Apesar de tudo, os The Gift não defraudaram as expetativas. Que concerto fenomenal, muito baseado no novo disco, «Verão», com uma forte componente visual a acompanhar os temas, muitos dos quais cantados em uníssono pela plateia. E, mesmo com máscaras nos rostos, os refrões dos sucessos da banda de 59

Alcobaça foram perfeitamente percetíveis. Um concerto que foi muito mais do que música, tornou-se quase numa conversa da banda, principalmente de Nuno Gonçalves, com a plateia. “Nota-se logo que

não saia de casa há mais de três meses”, gracejou Sónia Tavares. Um clima de intimidade, de partilha de histórias e emoções, que encantou o Cineteatro Louletano. ALGARVE INFORMATIVO #254


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Quanto ao «Regresso ao Futuro», Vasco Sacramento afirmou que, sendo a Terra uma casa comum, “é natural que a

amemos e a ajudemos cuidando uns dos outros”. “Todos temos o dever de fazer algo pelo nosso país e o que aconteceu no dia 20 de junho foi exatamente isso, com cerca de 500 profissionais, entre artistas, músicos, técnicos, roadies, agentes, programadores, produtores, assistentes de sala, assessores de imprensa, etc., a servirem o seu país com o que de melhor sabem fazer: 61

trabalhar, gerar riqueza, partilhar talento, plantar magia no coração dos outros”, enalteceu o responsável pela «Sons em Trânsito», acrescentando, porém, que este festival não pode ser “um fim em si mesmo”. “Só se cumprirá se for

um pontapé-de-saída, um pontapé que marque muitos golos ao longo das próximas semanas e meses, devolvendo a autoestima a esta indústria, devolvendo os aplausos aos palcos, os sorrisos ao público e o dinamismo à economia e ao turismo. O ALGARVE INFORMATIVO #254


combate a este inimigo silencioso exige de nós a responsabilidade de sermos cautelosos nos riscos que corremos, mas exige sobretudo a ALGARVE INFORMATIVO #254

coragem de sermos resilientes, criativos e firmes na reação. Sei que no sábado houve muitas lágrimas nos palcos, nas plateias e 62


nos bastidores. Vamos agora juntarlhes gargalhadas por trás das máscaras, com as mangas arregaçadas besuntadas em álcool 63

gel. Que este futuro seja erguido de incontáveis regressos felizes. Muito obrigado a todos”, agradeceu Vasco Sacramento .

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«A CASA» DE PEDRO EIRAS FOI A CENA NO CONVENTO DE S. JOSÉ Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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Convento de S. José foi o local escolhido pela Associação Cultural de Lagoa Ideias do Levante para apresentar, de 29 a 31 de maio de 2018, a produção teatral «A Casa», com encenação de Mário Rui Filipe e texto de Pedro Eiras. Protagonizado por Sofia Brito, Ricardo Daniel, Márcia Coelho e Teresa Gião, «A Casa» é “um conjunto de pequenos

textos que criam situações inusitadas, divertidas e sempre misteriosas que nos envolvem numa atmosfera singular”, explicou Mário Rui Filipe. A peça, constituída por episódios avulsos, começa na capela do convento e vai depois percorrendo diversos espaços deste imponente monumento do concelho de Lagoa, “acontecendo

surpresas e mecanismos de destruição rápida e eficaz”, fiéis ao estilo de Pedro Eiras e que foi muito bem interpretado pelo coletivo das Ideias do Levante. A produção teatral levou, assim, o público a conhecer uma casa fictícia e os segredos/mistérios que nela habitam, sendo ao mesmo tempo uma oportunidade para descobrir os recantos do Convento S. José de uma forma diferente do habitual. Mário Rui Filipe nasceu no Barreiro e desde 1995 que se dedica ao teatro, fazendo a sua formação inicial com o Teatro Os Sátyros, em Lisboa. Em 1998 é cofundador do Teatro Fragmento, onde estreou «As Bodas de Sangue», de Lorca. ALGARVE INFORMATIVO #254

De 2000 a 2004 trabalhou com o Teatro Arte Viva, do Barreiro, e em 2003 entra no Teatro Profissional com o «Teatro dos Objectos», colaborando igualmente nesse ano com o Teatro O Bando em «Pino do Verão». Em 2004 ingressou no Teatro ao Largo, de Vila Nova de Milfontes, e também na ESMAE – Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, onde estuda Teatro – Interpretação. É encenador desde 2002 e desde 2012 que é responsável por espetáculos para o Curso Profissional de Artes do 76


Espetáculo da Escola da Bemposta, da qual é Diretor e professor das disciplinas de Interpretação, Dramaturgia e Formação em Contexto de Trabalho. Participa regularmente como ator em espetáculos e performances em residências artísticas e é formador de teatro desde 2002. O texto de «A Casa» é da autoria de Pedro Eiras, escritor portuense nascido em 1975 e professor de Literatura Portuguesa na Faculdade de Letras do Porto. No seu currículo contam-se obras de ficção como «Cartas Reencontradas de 77

Fernando Pessoa a Mário de SáCarneiro», «Bach», «A Cura», «Os Três Desejos de Octávio C.», de teatro como «Bela Dona», «Um Punhado de Terra», «Uma Carta a Cassandra» e «Um Forte Cheiro a Maçã», os ensaios «Alumiação», «Platão no Rolls-Royce», «Os Ícones de Andrei», «Constelações», «Tentações» e «Esquecer Fausto», e as crónicas «Boomerang» e «Substâncias Perigosas». As suas peças de teatro têm sido encenadas e lidas em dez países .

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Afinal, quem matou o Conde Baldinski? Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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epois do enorme sucesso de «Morreu Pavarotti», estreada a 24 de abril de 2018, no Teatro das Figuras, o Colectivo JAT – Janela Aberto Teatro de Diana Bernedo e Miguel Martins Pessoa voltou aos palcos, desta vez no Gimnásio Clube de Faro, no fim-desemana de 16 e 17 de junho de 2018, com a hilariante peça «As Bodas de Prata do Conde Baldinski». A bela sede desta ALGARVE INFORMATIVO #254

histórica coletividade da capital algarvia viveu quatro sessões, todas com lotação esgotada, em que, bem vistas as coisas, ficamos sem saber quem, afinal de contas, assassinou o Conde Baldinski. Começando pelo princípio, como todas as histórias devem começar, o Conde e a Condessa Baldinski celebravam as suas bodas de prata no palacete do casal quando, durante a festa, o Conde é assassinado. Um crime 86


Coro Físico que teve como grandes atrativos o talento dos atores e o facto da peça se desenrolar nos vários espaços do Gimnásio Clube de Faro. No salão principal aconteceram as cenas principais, mas, na sala adjacente, assistiu-se a um jantar tenebroso, um autêntico ritual sobrenatural, em torno do corpo da vítima. Antes disso, na cozinha, os empregados do casal tinham deixado escapar algumas inconfidências sobre o dia-a-dia daquele palacete, com o público a perceber que muita coisa estranha acontecia no lar dos Baldinski.

que o próprio já temia, de tal modo que enviara uma carta ao Inspetor Mina para que este marcasse presença na festa a fim de tentar evitar tal desfecho. Isso não aconteceu e, de repente, todos os presentes se tornam suspeitos do crime, desde a própria mulher, filha e irmã do Conde Baldinski aos empregados. É este o enredo de «As Bodas de Prata do Conde Baldinski», peça inspirada nas linguagens do Teatro Físico, do Cinema Mudo, da Pantomima, do Slapstick e do 87

O resultado final desta oficina de Teatro Físico do Colectivo JAT - Janela Aberta Teatro colocou em palco Vasco Seromenho, Ilda Nogueira, Lexi Aleksandra, Maryse Reis, Ilaria Ferran, Ambra Zotti, Jorge Oliveira e Nuno Murta, com a formação e encenação a serem da responsabilidade de Diana Bernedo e Miguel Martins Pessoa. Contudo, para lamento da assistência das quatro sessões, não se ficou com grandes certezas de quem teria sido o autor do crime, porque todos tinham chorado a bem chorar ao longo da peça, demonstrando a olhos vistos o sofrimento pela inesperada partida do Conde Baldinski. O pior foi quando, na leitura do testamento, se ficou a saber que a vasta fortuna do aristocrata foi toda para os criados. Nessa altura, pararam os choros e começaram as correrias e as agressões dos herdeiros aos empregados, numa grande paródia física com fantásticas expressões faciais e movimentos corporais .

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TEATRO EXPERIMENTAL DO PORTO TROUXE «A TECEDEIRA QUE LIA ZOLA» A FARO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #254

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Teatro das Figuras, em Faro, recebeu mais um espetáculo no âmbito do ciclo «Porto em Faro», no dia 26 de abril de 2018, com o Teatro Experimental do Porto a apresentar «A Tecedeira que Lia Zola», uma peça que nos transporta ao Portugal dos anos 70, para o período prérevolução do 25 de abril de 1974. Inspirados pelos movimentos revolucionários da época, jovens portugueses, burgueses, urbanos e letrados, decidem abandonar os seus estudos ou os seus primeiros empregos e rumam em direção às fábricas e aos campos para fazer a «revolução cultural». Clandestinos, enquanto pregam a revolução, pegam em enxadas e manobram máquinas agrícolas e fabris. ALGARVE INFORMATIVO #254

Na mala guardam o «Germinal» de Émile Zola, o «Livro Vermelho» de Mao Tsé-Tung, o existencialismo de JeanPaul Sartre e muita vontade de mudar o mundo. E é a história de quatro desses jovens que conhecemos nesta bela peça do Teatro Experimental do Porto, encenada e cocriada por Gonçalo Amorim e com interpretação e cocriação de Bruno Martins, Catarina Gomes, Tiago Jácome e Sara Barros Leitão. Nos bastidores temos o Apoio Dramatúrgico de Rui Pina Coelho; a Cenografia e Figurinos são de Catarina Barros; o Desenho de Luz é de Francisco Tavares Teles; e a Música está a cargo de Pedro João. «A Tecedeira que lia Zola» é uma Coprodução do Teatro Municipal do Porto . 100


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OPINIÃO O mundo num umbigo Paulo Cunha (Professor) egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas cobardias do quotidiano, tudo isto contribui para essa perniciosa forma de cegueira mental que consiste em estar no mundo e não ver o mundo, ou só ver dele o que, em cada momento, for suscetível de servir os nossos interesses”. Usando este sublime pensamento de José Saramago como muleta para as palavras que se seguem, quase que me apetece escrever que já não há nada a escrever, tal a insofismável verdade condensada numa só frase.

Apetece-me, sim, perguntar porque não querem os homens ver para além dos muros que, ao longo da vida, vão erguendo entre si e os outros? Fazendo a analogia com o mundo informático, tenho a plena convicção que viveríamos bem melhor se pudéssemos fazer um «reset» e assim repor as definições de origem. São tantos a professar religiões que condenam os sete pecados mortais, nelas procurando absolvição para o uso diário que deles fazem, que ficamos com ALGARVE INFORMATIVO #254

a ideia que esta cegueira mental, acompanhando o crescimento tecnológico, tem vindo a ficar cada vez mais sofisticada. Não é difícil observar nos outros os sinais da gula, da avareza, da luxúria, da ira, da inveja, do orgulho e da vaidade. Aliás, nos tempos que correm, são sentimentos que acompanham quem, pretensamente, pretende «estar bem na vida». Obviamente, não de quem pretende estar bem com a vida! Usual e facilmente se condena quem, usando um comportamento correto, pretende não extremar posições. Enganosamente apelidados de «politicamente corretos», todos aqueles que não se deixam cegar pelo radicalismo dos extremos são hoje um alvo a abater por quem não os consegue arregimentar para os seus altos castelos erigidos em inamovíveis, intransponíveis e imutáveis egos. «O pior cego é aquele que não quer ver», é um provérbio popular que, desde miúdos, nos habituámos a ouvir e continua a fazer-nos refletir. Sendo filho de uma mãe que prematuramente cegou, cedo percebi que à medida que o tempo por ela passava, mais ela via o que muitos, cegos pelos seus defeitos, não se permitiam ver. E assim com ela 110


aprendi a ver para além do que a vista alcança. Vivendo, globalmente, numa espécie de «paz podre», grande parte da população mundial, à falta de contactar e vivenciar verdadeiros problemas, inventa guerrilhas assentes no pior que a desumanidade contém. Custa e aflige-me observar tanta gente, com tudo para ter e proporcionar uma vida harmoniosa a si e aos outros, a erguer muros que, impedindo de observar o mundo exterior, a faz centrar-se num mundo contruído à dimensão do seu intelecto – o seu umbigo. Não conheço maior cegueira do que a prepotência de quem, no alto da sua ignorância, assume radicalmente a sua verdade como única. E por mais que se tente debelá-la, a toxicidade deste vírus não para de aumentar. É um vírus que cega e nos afasta do melhor com que a natureza humana nos presenteou: a racionalidade! 111

Poderá não ser uma panaceia para esta cegueira mental que nos cerca, mas, tal como para fugir a outras maleitas, o melhor é o afastamento social (presencial e virtual) dalgumas pessoas. Se não se deixarem atrair e contagiar pelos extremos, verão que o mundo ficará mais belo. Pelo menos, para mim assim é! . ALGARVE INFORMATIVO #254


OPINIÃO Do Reboliço #90 Ana Isabel Soares (Professora) Reboliço aproveita o ar fresco da manhã – sabe que dura um instante só, que a calma pesada há de chegar e que o impedirá de sair da casa. É assim o estio no Moinho Grande: um cobertor de lã que no Inverno se quis puxar até às orelhas, que no frio valia perto de nada e agora pende como se tivesse chumbinhos cosidos na bainha, daqueles que fazem esticar o cortinado na janela, a toalha da mesa, ou as saias de tecido leve que levam as moças. O fresco pedacinho matinal é o momento breve em que o cobertor ficou esquecido, empurrado para o fundo de um colchão, pendido sobre a tijoleira. Quando o sol começar a subir, ganha vida a manta de lã, anima-se como animados desenhos de plasticina e, nada de nada, está outra vez em cima do bicho. A dança das estações parece um movimento de maré: nada existe no mundo do bicho que não termine, e nenhum fim que não seja começo. Mas como, interroga-se, como se consegue esta magia de ter sempre, cada vida, apenas a mesma sequência, enquanto cada estação é única, não se repete em nada, repetindo em tudo? Um mistério em que pensa, de cabeça levantada, ALGARVE INFORMATIVO #254

olhos escancarados à porta dos dias, a interrogação a entesar-lhe músculos e pele, até à ponta de cada pelo do seu curto pelo, o tempo de uma retenção do ar dentro dos pulmões: o suspiro longo da expiração marca o como se conforma, o baixar das orelhas, da cabeça outra vez por cima das patas recolhidas à frente, o descontrair da espinha e do lombo, o pender do cachaço, o fechar dos olhos, a porta dos dias a encostar-se, devagarinho, ao batente. A diferença de cada dia, é o que sente, acumula-se de repetições do mesmo – será isso que o ajuda a saber o que esperar e a guardar a espera do que o surpreende? Com os olhos reabertos e a pergunta suspensa, o Reboliço vai até à porta do Moinho. Ali, corre a aragem que lhe traz a lembrança dos dias amenos, os que terminaram e os que hão de vir: quando vai para os armazenar no pensamento, descobre nele outros, iguais, mas tão distintos, e a memória, ventilada, refresca-se. O canito volta os olhos para poente, de onde a brisa agora docemente sopra. A terra não largou ainda o bafo todo da noite: a exalação tolda o horizonte, esconde as terras mais ao longe, o baixo recorte da planície. O que mais perto e mais depressa lhe chega são os perfumes que a secura do ar vem 112


Foto: Vasco Célio

sufocar e à hora da manhã tentam fugirlhe: refugiam-se nas narinas das ovelhas que andam a pastar a já pouca erva verdinha, nas asas dos insetos – que transformam em som de zunido o aroma que os procura –, no focinho incomodado da passarela da gata esquiva (onde terá ela ido acoitar a ninhada?), no gesto interrompido da mulher do moleiro, que antes de voltar a 113

entrar na casa lança à terra a água das primeiras lavagens do dia e ali suspende o corpo, bacia de esmalte segura pela mão, na direção do socalco onde vê o Reboliço: “No que pensará aquele bicho um dia inteiro, ali quieto...?” . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. ALGARVE INFORMATIVO #254


OPINIÃO Apple e Coca-Cola Adília César (Escritora) Eles entenderam que era mais fácil criar consumidores do que subjugar escravos. Noam Chomsky vida contemporânea está moldada pela indústria da publicidade. O principal objectivo desta actividade profissional é a divulgação de ideias, instituições, serviços e produtos junto de um público-alvo – a massa consumidora – induzindo-o a uma atitude favorável à ideia em causa, à predisposição para utilizar um determinado serviço ou adquirir um produto específico. A técnica da propaganda difunde ideias e produtos, e a publicidade é o instrumento que os torna públicos. Do ponto de vista histórico, não sabemos como teve início esta actividade, mas todos sabemos o que ela significa hoje e que consequências tem nas nossas vidas. Estamos muito longe do primeiro anúncio publicitário da loja de agulhas da família Liu, em Jinan (Dinastia Song, China), considerado o primeiro meio de publicidade impresso do mundo. Aliás, sabe-se que a partir de 200 a.C. essa preocupação com o status social e estratificação das marcas já existia na China.

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Outra referência importante foi a campanha publicitária de sucesso da CocaCola no final do século XIX e que perdura atá aos nossos dias (em 2011, a Coca-Cola foi considerada a marca mais valiosa do mundo). E o que dizer da marca Apple no segmento das tecnologias de informação e comunicação que no século passado, em 1997, criou um inovador anúncio comercial de cariz filosófico intitulado «To the crazy ones»? Recordemos: Isto é para os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os que são peças redondas nos buracos quadrados. Os que vêem as coisas de forma diferente. Eles não gostam de regras. E eles não têm nenhum respeito pelo status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou difamá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Eles empurram a raça humana para frente. Enquanto alguns os vêem como loucos, nós vemos génios. Porque as pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são as que, de facto, mudam. Eles precisam de ver para crer, pensa o publicitário. E mesmo que seja mentira, se repetir muitas vezes, eles vão acreditar, 114


acredita o manipulador. Não raras vezes, o publicitário e o manipulador justapõem-se. Exactamente: a indústria da publicidade dedica-se à criação de consumidores, os escravos do consumo dos séculos XX e XXI, mas por se terem conquistado tantos direitos e liberdades, dificilmente o sistema nos subjugaria sem resistência: foi necessário encontrar novos meios para controlar as pessoas, ou melhor, foi imperativo encontrar problemas que nem sabíamos que tínhamos para nos darem as soluções, através da indução. Vejamos alguns exemplos: temos muitos livros, então compramos um módulo Billy da Ikea; queremos ser felizes sem culpa, bebemos Coca-Cola light; queremos sentirnos especiais, adquirimos o último modelo do Iphone (qualquer coisa) Plus. O sistema de propaganda e de consumo conhece-nos e não lhe interessa que o consumidor de ideias, instituições, serviços e produtos esteja consciente das suas opções. Na situação pandémica em que vivemos, é notório um esforço global de marketing para nos fazer esquecer este fatal sentimento de vulnerabilidade que se apossou de nós, pois não nos quer deixar olhar com a devida atenção para a vida de confinamento que vivemos durante os últimos meses em que o mundo, literalmente, parou. Sabemos que o novo coronavírus existe e que não há cura, mas rapidamente desistimos de o combater. Todo um sistema de divulgação, publicidade, propaganda e marketing nos provoca, impelindo-nos de viver uma «nova normalidade» que é, afinal, igual à que vivíamos antes da pandemia: trabalhar, andar de transportes públicos, utilizar serviços, pagar impostos, fazer compras. Usamos máscaras cirúrgicas ou comunitárias, escondendo as más caras de cansaço e enfado que ostentávamos 115

noutros tempos. Saímos todos os dias para a rua e abrimos muitas portas metafóricas, que sucessiva e cumulativamente nos vão contaminando com uma espécie de normalidade assintomática, e qualquer dia acreditamos que a Covid-19 foi apenas uma gripezinha (?!). E nós, conhecemos o sistema de propaganda e de consumo? Temos consciência desta forma de manipulação que nos faz duvidar da nossa própria sanidade para aceitar as realidades, opiniões e perspectivas impostas pelo manipulador? Chama-se Gaslighting e veio para ficar, já está bem instalada entre as pessoas. Cuidado… Para finalizar, deixo uma questão que poderia ser o princípio de uma reflexão sociológica em larga escala: afinal, quem ou o que empurra a raça humana para a frente? . ALGARVE INFORMATIVO #254


OPINIÃO Três oportunidades que nasceram em tempos de crise Fábio Jesuíno (Empresário) s momentos de crise são fábricas onde nascem grandes ideias, construídas por empreendedores inconformados, verdadeiros criadores de criatividade. Ao longo dos tempos, existem muitos exemplos, onde, em momentos de crise, surgiram ideias geniais, muitas das vezes devido à urgência de aceitar riscos e superar rapidamente as adversidades. São também momentos onde aceitamos mais rapidamente a mudança. É sempre importante conhecer as suas histórias e a forma como encontraram as oportunidades, por esse motivo, escolhi alguns casos que, na minha opinião, são muito inspiradores e educacionais: NUTELLA Muitos de nós adoramos o sabor único da Nutella e nem imaginamos que a receita nasceu num momento de grande crise, logo depois da Segunda Guerra Mundial em Itália. Nessa altura, o cacau tinha um valor bastante elevado e era ALGARVE INFORMATIVO #254

muito escasso em todo o mundo. A ideia surgiu pelas mãos do confeiteiro Pietro Ferrero, que pensou em criar um creme mais barato e acessível, feito com avelãs. O creme alcançou rapidamente muito sucesso, sendo bastante popular em todo o mundo. Essa simples ideia deu origem ao grupo Ferrero, que apresenta um volume de negócios de 10 bilhões de euros, contando com 40 mil funcionários. UBER A Uber surgiu no final da crise de 2008, quando os empreendedores Garrett Camp e Travis Kalanick tiveram dificuldade em apanhar um táxi em Paris numa noite de mau tempo. A plataforma Uber é um dos exemplos mais populares no mundo dos negócios, onde muitas vezes se utiliza o termo «uberização» para expressar este novo formato empresarial, sustentado nas tecnologias digitais, que ligam diretamente o consumidor ao fornecedor de serviços ou produtos, permitindo uma personalização nunca antes possível e oferecendo um serviço de forma independente. A Uber foi a grande impulsionadora da economia 116


partilhada. Esta plataforma está atualmente avaliada em cerca de 82 mil milhões de dólares. AIRBNB A crise económica de 2008, originou um maior aproveitamento do consumo, dando origem à economia partilhada, exemplo disso é a Airbnb. A história começou com os designers Brian Chesky e Joe Gebbia, colegas de faculdade que decidiram ir viver para a cidade de São Francisco em busca do sonho das startups. Com o decorrer do tempo eles estavam a passar por dificuldades financeiras. Foi nesse momento que descobriram que ia acontecer um grande evento na cidade e que os hotéis estavam completamente esgotados. Viviam num apartamento e havia um espaço que estava vazio, que decidiram alugar aos participantes do evento. Esse foi o momento transformador. A partir dessa altura gostaram da experiência e criaram a maior plataforma de partilha de alojamento do mundo, avaliada em 31 mil milhões de dólares. 117

Muitos dos negócios de sucesso global que conhecemos hoje, nasceram em momentos de crise e conseguiram prosperar rapidamente, porque, acima de tudo, existiram empreendedores que conseguiram ver oportunidades e antecipar tendências . ALGARVE INFORMATIVO #254


OPINIÃO Comer, a necessidade fisiológica e espiritual que nos pode provocar orgasmos Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) ostumo comparar o prazer de comer ao de ter sexo. Alguém mais o faz como eu? Se repararem bem, está tudo lá, desde os preliminares à ejaculação. Enquanto gastrónomo, tenho tido os meus orgasmos, alguns mais esfusiantes que outros, orgasmos que fazem todo o sentido, quando o corpo se eleva em êxtase, retraindo-se e, num esgar breve, fechando os olhos, conseguimos ver a autoestrada toda, a que vai da língua, esse órgão sensual, lânguido e rijo, com milhões de papilas sensoriais, passando pelo córtex que nos transporta de um qualquer lugar na nossa história e conseguimos até, por milagre, cheirar, e ouvir, antes do retorno à cadeira onde nos encontramos, num esgar de olhos, daqueles, que alguém bem atento diria estarmos possuídos por alguma coisa, no preciso momento que, na deglutição, a sensação desacelera no frenesim e encontra a calma, O orgasmo gastronómico é o auge da relação entre os gastrónomos e os alimentos. ALGARVE INFORMATIVO #254

Tudo tem início na antecipação, a que se segue a vontade de estar. Quando se folheia a ementa, a forma como os pratos são descritos provoca-nos água na boca, de imediato, e em frente ao prato, a relação se vai estabelecendo com o aspecto visual e o cheiro. Os olhos brilham quando ao usar o toque, a faca, garfo ou colher, se eleva do prato aquele pedaço de paixão que excita as papilas, enlouquecendo a língua contra o céu-daboca. – Eu acho que nestas coisas do prazer, existe uma razão de termos um céu-daboca, pois é lá, só podia ser lá, que todas estas coisas do prazer de comer, se desinibem e se tornam lascivas. Os olhos se fecham e a boca emite um emotivo e prazenteiro “hummm…”, e repete a operação de saborear de novo, até que na boca ocorre uma explosão de prazer, o orgasmo gastronómico, que na alquimia do gosto nos traz memórias e histórias enquanto inspiramos de novo. Este momento está muito bem registado na personagem «Anton Ego» em Ratatoullie ao colocar o pedaço de ratatuille na boca, que o remete de imediato à sua infância. Um dia queria ter um espaço, que fosse também de quem lá entrasse, para 118


se lambuzarem de memórias e orgasmos tais, que os obrigassem a voltar, num frenesim sem parar. A ementa estaria dividida em capítulos, assim como o acto sexual: Desejo – Preliminares – Prazer – Orgasmo – e no final estaria escrito: Sente-se confortavelmente e prepare-se para viajar por entre os sabores, memórias e orgasmos gastronómicos. A equipa deseja-lhe uma refeição tranquila e um regresso a casa emocionado. Confesso que já tive isto escrito, mas sem a parte do orgasmo. A idade tornou-me mais perverso, socialmente, e amante do que é bom e quase em auto luta contra o que quero e o que não consigo, porque entendo que comer, é uma necessidade fisiológica e espiritual que nos pode provocar orgasmos. E deixo-vos com um soneto meu, já antigo, que tenho o costume de colocar no início da ementa Crio iguarias. Que são poesias. São alimento, Comida da alma, sustento 119

E arrepia quando declamada, Quando mordida e devorada. Crio iguarias que despertam desejos Ardentes, húmidos beijos. Viagem aos sabores, Templo de aromas e cores, Exercício do prazer mundano. Depois o orgasmo, a calma, Porque alimenta a alma Na viagem ao profano .

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #254

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