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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 18 de abril, 2020

STONE BREAKER LANÇAM HOPES & DREAMS AUTARCAS ALGARVIOS UNIDOS CONTRA A COVID-19 CAROL VIEIRA | «PINOCADA À ALGARVIA» DO BOA ESPERANÇA 1 ALGARVE INFORMATIVO #244 «ELASTIC» | «SYN.TROPIA» E «MANIPULA#SOM» NO SOM RISCADO


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12 - Stone Breaker lançam «Hopes & Dreams»

42 - «Pinocada à algarvia» do Boa Esperança ALGARVE INFORMATIVO #244

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OPINIÃO 94 - Paulo Cunha 96 - Mirian Tavares 98 - Ana Isabel Soares 100 - Adília César 102 - Fábio Jesuíno 104 - Júlio Ferreira 106 - Nuno Campos Inácio 110- Luís Matos Martins

70 - «SYN.Tropia»

58 - «Elastic»

32 - Autarcas algarvios unidos contra a covid-19

82 - «Manipula#Som» 7

22 - Carol Vieira ALGARVE INFORMATIVO #244


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ROCK DOS STONE BREAKER ESTÁ CHEIO DE SONHOS E ESPERANÇAS NUM FUTURO RISONHO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Hugo Dust Photography ALGARVE ALGARVE INFORMATIVO INFORMATIVO #244 #244

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OPES & DREAMS, assim se chama o disco lançado, a 1 de abril, pelos Stone Breaker, banda de rock algarvia nascida em 2015. Banda que inicialmente se apelidava «Presidents» e ALGARVE INFORMATIVO #244

que surgiu para tocar covers no circuito de bares da região, mas depressa se percebeu que não estávamos perante uma banda qualquer, apesar de nunca terem ensaiado juntos. Ensaios que, na hora da verdade, também não eram necessários, pois são músicos experientes, com centenas de 14


concertos no currículo e passagem por diversos projetos de originais. O vocalista e guitarrista holandês Ray van D, a residir no Algarve há várias décadas, cruzou-se com o baterista Bruno Vítor, em 1994, quando as suas bandas partilharam um palco num bar e de 15

imediato se tornaram amigos. Entretanto, Bruno Vítor conhece o baixista Vasco Moura quando foi convidado para integrar uma nova banda de funk, os Duck, cujo guitarrista era Ivo Perpétuo. Ray, por sua vez, junta-se aos famosos Íris de Domingos Caetano, com os quais gravou três ALGARVE INFORMATIVO #244


vocalista para um concerto no bar Marginália, em Portimão, e a escolha só podia ter recaído sobre Ray. Nunca tinham tocado juntos, mas a química foi instantânea, um rock’n’roll puro e duro que excitou a plateia com músicas de Led Zeppelin, Soundgarden, Rolling Stones, AC/DC, Red Hot Chili Peppers, Beatles, Queen, Queens of the Stone Age e Aerosmith, até Stevie Wonder e Abba fizeram parte do alinhamento.

discos, antes de decidir seguir o seu próprio caminho, com os Tambu, que começou por tocar covers até gravar o seu próprio disco de originais. Ter uma banda de originais não é fácil no Algarve, como tão sabemos, de modo que, tanto os Duck, como os Tambu, acabaram por desaparecer. Ray van D passa a tocar guitarra a solo em alguns bares, Bruno Vítor começou a tocar contrabaixo em orquestras, Vasco Moura «emprestava» o seu baixo a diversas gravações musicais, mas a vontade de criarem algo em conjunto não tinha esmorecido. «Sabrosa’s Funk» foi o novo projeto de Bruno e Vasco e convidaram Ray para escrever e gravar o tema «Empty Inside», mas ainda não era a hora da tal reunião, pois ambos tinham agendas profissionais bastante preenchidas. Até que Bruno, Vasco e Ivo precisaram de um ALGARVE INFORMATIVO #244

Assistia-se, assim, ao nascimento dos Stone Breaker. Em 2018 viajaram para Lisboa para gravar um primeiro EP com o produtor Pedro Gerardo, cabendo a parte gráfica da banda a Ricardo Navarro. O êxito foi imediato, tudo parecia correr sobre rodas, até que Ivo Perpétuo teve que sair da banda, o que os levou a procurar um novo guitarrista, Ricardo Baptista, mais conhecido por «Casquinho». Uma mudança de elenco que se notou também na sonoridade, nem melhor, nem pior, simplesmente diferente, como se comprovou nos novos temas que escreveram. E, no regresso de um concerto em Espanha, recebem uma chamada de Budda Guedes, que tinha ouvido o EP e que queria produzir o próximo disco dos Stone Breaker. Isso sucederia em meados de 2019, até ser finalmente lançado a 1 de abril, estando 16


disponível nas várias plataformas digitais desde 17 do corrente mês. Um disco feito com muito trabalho e esforço, mas também com uma imensa paixão, porque, confessa Ray van D, “os

covers já não constituem um desafio”. “Somos músicos e faltavanos dar azo à nossa criatividade, embora a maneira como tocamos covers seja bastante «elástica». Não nos limitamos a reproduzir os êxitos dos outros, damos-lhe uma volta muito pessoal, com uma química que foi evidente desde o início. Claro que é difícil conciliar as duas facetas, mas com perseverança consegue-se e o desafio de avançar para os originais foi uma decisão unânime. Sabemos que o mundo da 17

música é uma loucura, mas foi algo que apareceu com naturalidade, sem pensarmos se íamos ganhar dinheiro com isto ou não. Enquanto artistas, queríamos criar algo nosso”, justifica o guitarrista e vocalista. Existia, assim, uma forte necessidade de produzir originais, não se podiam limitar aos covers, as emoções estavam «à flor da pele» enquanto compunham.

“Caramba! Isto é nosso! A ideia deixou-nos logo entusiasmados”, recorda Ray, adiantando que o rock foi a sonoridade eleita para o projeto dos Stone Breaker, apesar de todos terem muitas influências e diferentes experiências profissionais. “Todos

temos gostos completamente ALGARVE INFORMATIVO #244


diferentes, mas com vários pontos em comum. Queríamos fazer música sem estar a pensar demasiado em que estilo ela iria encaixar, em rótulos. Acima de tudo, criar um «catálogo» de músicas para depois escolher as que fossem mais homogéneas para se gravar um disco, e guardar as outras para futuros álbuns. O «Hopes & Dreams» tem um traço de rock mais pesado, mas inclui igualmente canções de um rock mais clássico, a cheirar o blues”, descreve.

“O TRABALHO DE UMA VIDA” Um cocktail sonoro a recordar os anos 90, e ainda mais para trás, um estilo diferente do que se ouve atualmente, do mainstream, do que vende mais facilmente, mas isso não apoquenta os elementos da banda. E o certo é que o feedback de quem conhece o novo disco tem sido incrível, garante Ray. “Quando

ligamos as rádios ou as televisões, não ouvimos rock, mas sim músicas feitas por produtores com a finalidade de vender, com objetivos estritamente comerciais. Mas hoje temos a extraordinária ferramenta da internet, que nos permite chegar a muita gente, assim como uma forte cultura do «faça você mesmo». Nós é que fazemos a distribuição digital do disco e vendemos todo o merchandising. Sabemos que nunca ALGARVE INFORMATIVO #244

vamos entrar no mainstream … e quem sabe? Não temos a ilusão de que vamos ser gigantes junto dos miúdos de 20 anos, porém, há muitos músicos dessa idade que gostam do nosso som. Queremos apenas fazer a melhor música que conseguirmos e, principalmente, que nos faça sentir bem”, sublinha. 18


São, de facto, várias as facetas que um músico do século XXI deve dominar, já não pode limitar-se a escrever letras, a compor canções, a gravar e ir para cima de um palco tocar. Uma realidade mais dura e exigente para quem não está associado a uma grande produtora ou distribuidora, como é o caso dos Stone Breaker. E nem sempre é fácil conciliar essa parte mais burocrática e logística com a vertente criativa, admite Ray van D. 19

“Felizmente que são fases diferentes, porque a composição e gravação do disco aconteceu em 2019. Depois é tirar fotos, ter um bom design, criar uma página da internet para a banda e uma loja online para vender o disco e produtos de merchandising, ao mesmo tempo que vamos ALGARVE INFORMATIVO #244


ensaiando para os espetáculos ao vivo e vamos criando coisas novas. E a tudo isto soma-se a vida pessoal de cada um, somos casados, temos filhos, levamos uma vida normal no dia-a-dia”, declara o holandês, dai a tal perseverança que é essencial para se singrar na música. Não nos podemos esquecer, entretanto, que as covers não podem ficar de lado, pois são o suporte financeiro que vai financiando os originais. “Há que ser

franco, o Algarve não é um meio cultural com suficiente dimensão que possibilite a sobrevivência de música original. Nesse sentido, os covers é como se fossem o nosso trabalho de escritório, de onde tiramos o salário mensal para pagar as contas familiares e para custear o nosso sonho”, concorda. Porque os originais são a expressão máxima de um artista, assim como os concertos, pois a música é feita para ser tocada ao vivo. E os elementos dos Stone Breaker são verdadeiros «animais de palco», apesar de ser diferente tocar covers e originais, distingue o entrevistado. “Na verdade,

as covers são um espetáculo de entretenimento. Tocamos canções para se criar um ambiente de festa num espaço, para que as pessoas cantem e dancem. Com os Stone Breaker, temos que assumir uma outra postura. Estamos ali para apresentar o nosso trabalho, os nossos originais, o que implica um certo despreendimento do entretenimento. Mas é difícil as ALGARVE INFORMATIVO #244

nossas canções competirem com as de Led Zeppelin, Doors ou Queen, que toda a gente conhece”, afirma. Esta postura mais sóbria e menos exuberante não significa que os concertos dos Stone Breaker não sejam repletos de energia, isso é algo que faz parte do ADN de Ray, Vasco, Bruno e Ricardo. “Com a nossa polivalência

e experiência, é extremamente fácil pegarmos nas canções consagradas dos outros e captar a atenção do público. Com Stone Breaker, estamos a mostrar o que somos enquanto artistas, o desafio é maior, mas as pessoas também vão com a expetativa de conhecer esse nosso lado”, aponta o vocalista e guitarrista, que não hesita em catalogar «Hopes & Dreams» como o melhor disco que alguma vez gravou.

“É o trabalho da minha vida, tenho um imenso orgulho no resultado final. É o culminar de muitos anos a escrever originais, a expressão máxima do que já fiz na vida enquanto músico. Já tínhamos vários espetáculos marcados, que foram adiados perante esta situação que vivemos, mas há que manter a serenidade. As coisas não param, temos que seguir em frente, e vamos dar o nosso melhor para levantar este projeto e continuarmos a gravar discos”,

garante .

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«ONDE VAIS» DÁ-NOS A CONHECER A MÚSICA DA ALBUFEIRENSE CAROL VIEIRA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Prasad Silva ALGARVE INFORMATIVO #244

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m tempo de confinamento motivado pela pandemia do covid19, descobrimos, quase por acaso, a cantora Carol Vieira, natural de Albufeira, mas a viver em Lisboa há alguns anos. Contudo, foi no teatro que a algarvia andou primeiramente, área onde, aliás, tem formação académica. A música surgiu, ALGARVE INFORMATIVO #244

mais a sério, em 2014, quando emigrou para Londres à procura de uma nova vida. “No início era um hobby.

Uma vez por semana ensaiava temas clássicos da Bossa Nova com o Fred, um amigo guitarrista também apaixonado por este estilo. Passado um ano decidimos apresentar o nosso trabalho e a primeira vez que cantei em 24


uma cultura que sempre me suscitou a maior curiosidade. Ensaiei e cantei com alguns músicos nos botecos do bairro castiço de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, e na inesquecível pequena cidade de Paraty”, prossegue o seu relato. De volta a Lisboa, Carol Vieira procurou um guitarrista de Bossa Nova e montou um projeto de música ao vivo e comida, «Os Clandestinos Conceito e Jantar». “Todas as semanas

público foi num lar de idosos”, recorda. “A propósito de um velhote que dançava e cantava connosco, a gerente dizia que nunca o tinha visto a fazer tal coisa. Pus de lado todos os outros projetos e decidi focar-me apenas na música. Viajei para o Brasil para me aprofundar na Bossa Nova e conhecer um país e 25

reunimos um grupo de 15 pessoas num apartamento – que se vão conhecer de uma forma muito intimista –, cozinhamos para elas e segue-se um concerto de um trabalho que venho realizando, de há uns três anos a esta parte, com o guitarrista Cláudio Kumar”, descreve. “Quando os temas que interpretava não chegavam para expressar novas sensações e vontades, decidi criar a minha própria música. Eu já escrevia e cantarolava algumas melodias, fazia uns textos soltos, foi só preciso confiar na espontaneidade com que chegavam e convocar músicos que as harmonizassem. Os meus estudos são de teatro, na música sou uma pura autodidata”, sublinha a entrevistada. O primeiro original de Carol Vieira é então «Onde vais», uma canção que lhe ALGARVE INFORMATIVO #244


momentos em que o faço e é acolhido, sou arrebatada por um êxtase que em poucas coisas encontro. E é esse feeling que me empurra para a frente”. Com composição e letra da sua própria autoria, a harmonia é de Manel Homem Ferreira, com gravação e edição de Pedro Guimarães no estúdio Acoustic Box. E Carol Vieira não podia estar mais orgulhosa deste «Onde Vais», daí apostar agora tudo na música. “Foi um bichinho

apareceu quando descia a Calçada de Santana após um concerto. “Cantarolei

e gravei como de costume. ‘Ah, esta é bonita!’, pensei. E como tantas outras coisas minhas passou ao esquecimento. Um esquecimento recorrente de quem tem medo de arriscar, de se expor e se responsabilizar”, confessa. “A música deixa-me frágil. Em especial quando canto sobre mim, sobre o que sinto, sobre o que penso. No entanto, nos ALGARVE INFORMATIVO #244

que foi crescendo de forma gradual, até chegar o momento de o soltar. Há uns anos coloquei o teatro de lado porque me deixei de identificar com a representação. Tinha ido para Londres à procura de trabalho e para aprofundar a minha formação teatral e, enquanto formalizava tudo, comecei a cantar Bossa Nova. Ainda não tinha amigos, não conhecia ninguém, portanto, dedicava o tempo livre a ensaiar. Só que o gosto cresceu de tal maneira, a vontade de partilhar aquilo com o público era tanta, que decidi profissionalizar-me na música. Ia cantando covers do João Gilberto e do Vinicius de 26


Moraes, entre outros artistas que me inspiram, ao mesmo tempo que aumentava a necessidade de adotar um discurso meu, com a minha personalidade”, conta. Bossa Nova que não é propriamente a primeira escolha dos portugueses quando decidem entrar no meio musical, optando normalmente pelo pop/rock ou fado, mas Carol Vieira crescer a ouvir este estilo, através dos pais e de amigos. “A música

é algo que não conseguimos explicar, é uma experiência bastante sensorial, e há determinados estilos que falam mais connosco do que outros. É a cantar Bossa Nova que me sinto eu mesmo, envolta neste ambiente sonoro, rodeada por estes 27

instrumentos. A abordagem à música é muito mais descontraída e leve, é uma sensação diferente”, justifica a albufeirense. “As melodias já estavam na minha cabeça e eu queria compor as letras da forma como cantava. Às vezes, uma melodia tem um determinado ritmo e depois, quando vai ser harmonizada com outros músicos, sofre alterações, torna-se em algo diferente. A minha música é um pedacinho de tudo aquilo que fui consumindo ao longo dos anos, porque também gosto bastante de jazz e música clássica, até de músicas de embalar, mais ternas”, comenta, com um sorriso.

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POUCO PREOCUPADA COM MODAS De forma espontânea surgiu então «Onde vais», porque Carol Vieira ainda está a construir a sua identidade musical e não queria arriscar demasiado. “É uma

voz e uma guitarra, simplesmente isso, um produto ainda em bruto para ir delapidando com o tempo”, confirma, acrescentando que cantar originais não é tão fácil como interpretar covers. “No teatro não tinha tanta

timidez porque estava a dizer as palavras dos outros, a interpretar os sentimentos das personagens. A música é algo mais íntimo, sinto-me mais exposta, porque estou a dizer aquilo que penso, a falar dos meus sentimentos. Contudo, apesar de ALGARVE INFORMATIVO #244

estar mais vulnerável e frágil, estou também mais satisfeita, porque me sinto mais verdadeira. Entrego-me mais às pessoas”. Aprender com a experiência, assim tem sido o percurso musical de Carol Vieira nestes anos, um crescimento para o qual tem contribuído imenso o brasileiro Cláudio Kumar, músico com mais de 30 anos de carreira. “Diz-me

sempre para ser eu mesma, porque há várias maneiras de fazer música. Depois, é uma questão de encontrar os instrumentistas certos, que tenham abertura para me seguir, porque alguns querem logo arrumar as coisas numa «gaveta», colar-se a um rótulo. Só que eu 28


queria uma música mais livre, porque assim tem sido o meu percurso. É uma escola que me tem dado bastante confiança, à base de diálogo e respeito. Claro que é preciso ter coragem para fazer algo sem limites pré-definidos, mas é assim que me sinto bem”, assume a

Homem Ferreira é que decidi levar as coisas para avante, houve primeiro um período de pesquisa durante o qual conheci vários músicos. Ainda me andava a encontrar, o mais importante era que o meu ouvido gostasse do produto final, o resto logo se via”,

entrevistada.

sublinha, confirmando que a ideia é gravar um disco assim que tenha temas suficientes, mas sem pressas. “Sinto

E, a julgar pela primeira amostra, por este «Onde Vais», Carol Vieira segue no caminho certo, estando já a preparar o segundo tema, composto há vários anos.

“Só quando encontrei o Manel

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um grande prazer no que estou a fazer, sem estar preocupada com aquilo que está agora na moda ou

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não. Aliás, até posso fazer uma coisa que, de repente, fique na moda. O meio musical alterou-se bastante na última década, vamos libertando temas aos poucos antes de lançarmos o disco. Não sei se isso vai afetar a minha música, porque estou sempre recetiva à mudança, se achar que isso é importante. Para já, estou bastante agradecida pelas pessoas estarem a acompanhar o que estou a fazer”, declara Carol. “Na música estou a ser mais cautelosa do que no teatro, mas também não quero deixar de ter coragem para fazer as coisas. Alguns amigos de infância recordam-se daquela Carol mais reguila, eu era uma peste em miúda, e não imaginavam que tivesse este lado mais ternurento e ALGARVE INFORMATIVO #244

doce. Acho que a música acompanhou as mudanças que aconteceram na minha vida, ilustra este novo «eu». As pessoas estão a ficar surpreendidas com uma faceta mais poética e contemplativa que sempre guardei para mim. Neste mundo incerto em que vivemos, mais vale fazermos algo de que gostamos, do que trabalharmos de forma calculista num produto para ter sucesso, mesmo que não nos toque na alma. Para a frente é que é o caminho e, se tudo correr bem, daqui a alguns meses deve sair o segundo single”, adianta Carol Vieira .

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Autarcas algarvios unidos contra A Covid-19 Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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s primeiros casos do novo coronavírus foram confirmados em Portugal a 2 de março, com o Covid-19 a chegar ao Algarve poucos dias depois, e desde então os 16 presidentes de Câmara Municipal arregaçaram mangas, cerraram fileiras e não têm parado de lutar contra este inimigo invisível que, à data, já foi responsável pela morte de 657 pessoas, nove das quais na região algarvia. Uma pandemia que surgiu num momento em que a maioria das autarquias tinha acabado de aprovar os seus orçamentos e programas para 2020, em que o próprio Orçamento Geral do Estado ainda nem sequer tinha sido publicado em Diário da República, e que, de um momento para o outro, veio baralhar por completo as cartas, alterar as regras do jogo, colocar o mundo de pernas para o ar. Apesar de tudo, os autarcas algarvios têm estado à altura das exigências e dado um exemplo de excelência que é reconhecido a nível nacional, “pela forma como

nos organizamos e trabalhamos em conjunto, como demos respostas no terreno”, entende António Miguel Pina, presidente da Câmara Municipal de Olhão e da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve. Uma luta em que se foi aprendendo no dia-a-dia com aqueles que mais cedo tiveram que lidar com o covid19, no caso concreto do Algarve, Portimão, “onde a

nossa colega Isilda Gomes foi partilhando de imediato os problemas existentes para que todos tirássemos daí ilações”. “Depois, o aquartelamento em Faro de um número grande de trabalhadores rurais despertou-nos para uma realidade que poderia surgir noutros concelhos da região e a partilha de informação de como o problema estava a ser resolvido foi importante para lidar com as situações que se seguiram. O mesmo sucedeu com os primeiros casos de coronavírus detetados em lares e que, felizmente, apenas ocorreram em Boliqueime. São ALGARVE INFORMATIVO #244

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aprendizagens que nos têm ajudado a todos a dar excelentes respostas, tanto em termos individuais, como coletivamente, porque temos todos trabalhado de uma forma bastante coesa. No início, aproveitando as novas tecnologias, os 16 autarcas praticamente se reuniam de dois em dois dias”, recorda o edil olhanense. Um trabalho de equipa, no seio da AMAL, que permitiu, por exemplo, reunir um fundo de quase dois milhões de euros para a aquisição de ventiladores e de equipamentos de proteção individual. E isto só foi possível porque, caso ainda persistissem algumas rivalidades entre concelhos vizinhos, tudo desapareceu, como que com um estalar de dedos, perante esta ameaça à sobrevivência humana. “Estes momentos difíceis

normalmente servem para esbater quaisquer quezílias que possam existir entre as pessoas. Já se notava um grande entrosamento e sentido de união dos 16 presidentes de Câmara do Algarve por causa do problema da escassez de água – que há de vir mais à frente – e ninguém olha para ninguém como tendo maior ou menor capacidade financeira, como sendo do litoral ou do interior, do partido A ou do partido B. Trabalhamos em grupo e partilhamos tudo”, garante António Miguel Pina. Perante os desafios colocados pelo covid-19, todos os planos, estratégias e ALGARVE INFORMATIVO #244

programas definidos para 2020 quase que foram relegados para segundo plano e o entrevistado reconhece que ainda ninguém sabe, com grandes certezas, o que o futuro reserva para os municípios, sejam do Algarve ou de qualquer ponto de Portugal. “A

primeira preocupação de todos foi reagir rapidamente ao coronavírus, encerrando praticamente todos os serviços para cuidar dos nossos trabalhadores, para que eles continuassem a exercer as suas funções a partir de casa, e isso contribuiu largamente para o isolamento social. Numa segunda fase avançamos para a aquisição de equipamentos de proteção individual para ajudar as Instituições Particulares de Solidariedade Social, assim como lançamos um conjunto de apoios económicos para as famílias e empresas, como o diferimento dos pagamentos da água, das rendas de habitação social e de várias taxas municipais. Agora, a nossa preocupação será com o apoio social direto às famílias, nomeadamente na alimentação”, indica António Miguel Pina. “Acredito que só daqui a um ou dois meses é que conseguiremos perceber bem o estado das finanças das câmaras municipais perante este novo cenário e é natural que tenha que existir uma alteração 36


das prioridades. As preocupações sociais estarão no centro das nossas atenções”, antevê o autarca. Incertezas que se colocam também no plano cultural, admite António Miguel Pina, porque os próprios festivais de Verão, que tradicionalmente atraem milhares de visitantes, nacionais e estrangeiros, não têm a sua realização garantida. “Temos todos que

perceber até onde é que poderemos ir. Como é evidente, é natural e desejável que o Estado de Emergência termine para que, mais 37

cedo ou mais tarde, retomemos as nossas vidas, mas tenho dúvidas de que, neste Verão, as pessoas se sintam confortáveis em espaços com muita gente, mesmo que sejam ao ar livre”, declara, preocupado.

DEPOIS DO COVID-19, ATENÇÕES CONCENTRAM-SE NA ESCASSEZ DE ÁGUA Têm sido, de facto, muitos os eventos culturais e desportivos cancelados ou adiados no Algarve devido ao ALGARVE INFORMATIVO #244


do ano que também se costuma fazer a incorporação dos Saldos de Gerência que transitam do ano anterior. Fundos que, normalmente, são utilizados para a realização de novas obras ou implementação de outros serviços, e que agora foram desviados para estes apoios sociais”, explica o presidente da AMAL, alertando que o maior problema diz respeito às contas públicas municipais de 2021. “O que cresce e

coronavírus, mas essa verba não chega, nem de perto, nem de longe, para custear as inúmeras medidas de apoio lançadas pelas Câmaras Municipais, ou para compensar as receitas que deixam de ter nestes meses. De onde vem, então, essa verba, questionamos António Miguel Pina. “Este ano, os Municípios

algarvios, uns mais, outros menos, estavam relativamente saudáveis em termos financeiros. É nesta fase ALGARVE INFORMATIVO #244

decresce de ano para ano, o que motiva estes movimentos expansionistas ou de contração, é a rúbrica de IMT, que poderá vir a ter um corte de 50 por cento, o que, mais para uns do que para outros, será bastante significativo”. Constrangimentos que advém do maior ou menor fulgor financeiro de cada autarquia e, como se sabe, há diferenças substanciais entre os Orçamentos Municipais dos 16 concelhos do Algarve. E isso influencia, como é natural, a sua capacidade de resposta aos desafios colocados pelo 38


coronavírus. Porém, também nesse aspeto tem existido uma tremenda solidariedade entre os 16 presidentes de câmara do Algarve. “A verba reunida

pela AMAL para a aquisição dos ventiladores e equipamentos de proteção individual resultou de comparticipações diferentes das 16 autarquias, de acordo com critérios que tiveram em conta precisamente a maior ou menor capacidade económica de cada uma. Não interessa quem deu mais ou menos dinheiro, o que importa é que juntamos quase dois milhões de euros. Mas há, naturalmente, essa preocupação, quando conversamos uns com os outros, de sermos solidários”, assegura António Miguel Pina. Solidariedade que chega das próprias populações, de cidadãos anónimos, empresas e associações, algo que não surpreende o presidente da AMAL. “Esse

é, certamente, o espírito algarvio, o espírito de todos os portugueses. Uma das coisas que justifica sermos um país com mais de 800 anos de história é precisamente esta solidariedade entre todos. Uma nação faz-se destes laços”, sublinha, acrescentando que essa entreajuda vai ser crucial para se vencer a batalha que se seguirá ao covid-19. “Estamos todos

preocupados com o dia de amanhã e ainda não é evidente como é que ele será. Somos uma região onde o turismo tem uma grande 39

importância e este setor será bastante atingido pela retração das pessoas que vivem nos principais mercados emissores, mas também pela crise generalizada que toda a Europa vai atravessar. Basicamente, vamos ter três épocas baixas consecutivas, porque este Verão vai ser igual ao tradicional Outono/Inverno, portanto, teremos que estar atentos para ajudar as pessoas”, salienta. E quanto ao Plano de Atividades da própria AMAL para 2020, como fica no meio disto tudo, perguntamos, nomeadamente a questão da luta contra a escassez de água. “Depois

de termos vencido o covid-19 e de lidarmos com os seus impactos na vida das pessoas e empresas, o tema principal será a água. Realmente tem chovido em abril, mas isso não adiou o problema por muitos meses. Por isso, os serviços da AMAL não deixaram de interagir com o Ministério do Ambiente e com a Agência Portuguesa do Ambiente com vista a estudarem-se meios de atenuar e resolver, a curto, médio e longo prazo, a escassez de água. A prioridade agora é combater o covid-19, mas não esquecemos os outros assuntos que estavam na nossa agenda”, enfatiza António Miguel Pina .

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«PINOCADA À ALGARVIA» DO BOA ESPERANÇA FOI UM DOS MOMENTOS ALTOS DE 2018 Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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m mês antes do carismático líder e vocalista dos Queen, Freddie Mercury, ter morrido de broncopneumonia, em 1991, era lançado o tema «The Show Must Go On». Quase 27 anos depois, na tarde de 3 de março, essas devem ter sido as palavras do encenador, dramaturgo e ator Carlos Pacheco à sua equipa, depois de uma autêntica intempérie ter colapsado parte do telhado e alagado cenários e equipamento de luz e som da sede do Boa Esperança Atlético Clube Portimonense, em Portimão. Mas o espetáculo tinha que continuar e, por isso, atores, bailarinos, músicos, técnicos de luz e som, todos se juntaram ao início da tarde para repor o teto falso que tinha ALGARVE INFORMATIVO #244

caído, para substituir a mesa de mistura e as luzes, para limpar a sala de espetáculo, até para secar – de secador de cabelo nas mãos – os cenários. O esforço sobre-humano compensou e, à hora marcada, por mais incrível que possa parecer, as portas abriram-se para entrar os espetadores de mais uma sessão esgotada de «Pinocada à Algarvia», totalmente alheios à maratona motivada pelas palavras da célebre música dos Queen. «The Show Must Go On» e que espetáculo hilariante foi. Em êxtase por terem conseguido superar o quase insuperável, o elenco foi fantástico e irradiou boa-disposição, com Carlos Pacheco e Telma Brazona a deixaremse levar repetidas vezes pelo improviso, trocando as falas, alterando 44


o texto, não conseguindo conter as risadas em palco. E o público percebeu que algo de especial estava a acontecer, simplesmente não sabia quais os motivos para tal. A Revista à Portuguesa do Boa Esperança já se realiza há mais de 50 anos, remontando a uma época longínqua em que não eram permitidas mulheres em palco, de modo que as personagens femininas eram todas interpretadas por homens. Os tempos voaram e, agora, Carlos Pacheco e Flávio Vicente – que também é responsável pelos cenários – são os dois únicos homens do elenco, rodeados por Telma Brazona – que assina a Direção Artística –, Sandra Rodrigues, Nicole Gonçalves, Lurdes Carriçal e pelas bailarinas Vânia Lourenço, Victoria Panea, Catarina Duarte, Filipa Goulart e Catarina Dias.

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Quanto aos sketches, continuam a incidir sobre os temas que marcam a atualidade regional e nacional, com particular destaque, em 2018, para os Pinos, Rotundas e Trânsito que proliferam pela Estrada Nacional 125, que até poderia tornar-se numa Via Internacional, conforme anunciou a Ministra durante a peça, perante a desconfiança de um vendedor de laranjas que não tem pomares e de uma senhora da má vida transformada em profissional de serviços liberais. Num convento diferente sucederam-se as rezas de freiras que são muito pouco católicas e no Infantário Municipal constatou-se que não existia espaço para as crianças nascidas no Município, mas apenas para as de etnia cigana ou oriundas de países de leste e dos PALOP.

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O Hotel Paraíso foi escolhido por um casal nortenho para a Lua-de-Mel, mas a mãe do noivo fez questão de partilhar a cama para poupar na despesa. Carlos Pacheco personificou uma Madonna aflita para comprar casa em Portugal e o casal Olga e Ruben Jorge descobriu finalmente o porquê de não conseguir ter filhos, depois de um exame de ginecologia estonteante. Risadas não faltaram, do princípio ao fim, com breves pausas para descansar durante os bailados e os temas interpretados pela jovem cantora Lurdes Carriçal, que homenageou «O Bombeiro», foi uma «Bailarina» de caixa de música ultrapassada pelas novas tecnologias e entoou temas populares dos ABBA. ALGARVE INFORMATIVO #244

Com textos originais de Carlos Pacheco, «Pinocada à Algarvia» tinha todos os ingredientes para ser um sucesso nacional, com um excelente guarda-roupa, cenários, músicas originais e bailados coreografados por Filipa Goulart. Em síntese, foram mais de 50 anos de tradição e experiência, boa parte deles já com Carlos Pacheco no Boa Esperança, refinados pela evolução natural dos tempos e com a utilização dos meios tecnológicos mais avançados, sem nunca retirar a traça genuína desta Revista à Portuguesa bem portimonense .

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EM TEMPO DE COVID-19, LAMA LEMBROU ELASTIC Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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m 2019, o público do LAMA – Laboratório de Artes e Media do Algarve assistiu ao reencontro de quatro amigos que tinham uma banda chamada «Elastic» e que deu nome à peça-concerto criada e encenada por João de Brito. Com interpretações de Diogo Valsassina, Inês Monstro, Jorge Albuquerque e Luís Simões, «Elastic» fala dos contrastes geográficos do território português e interroga sobre a capacidade da amizade sobreviver à mudança e integrou a terceira edição do programa cultural «365 Algarve». Na peça, passaram-se dez anos e quatro amigos voltam a encontrar-se. O barco é ALGARVE INFORMATIVO #244

o mesmo, os instrumentos e as músicas também, mas há algo de diferente. As relações mudaram, as conversas viraram disputas, os sentimentos amarguraram. Numa tentativa de voltarem ao passado, os amigos são confrontados com uma realidade que já não conhecem e, entre histórias embaladas em música, gargalhadas poéticas e discussões absurdas, fica cada vez mais óbvio no que cada um se tornou. Será a amizade capaz de sobreviver à mudança? De acordo com João de Brito, «Elastic» propõe a construção de um poema cénico, tomando um poema (a literatura) como forma primitiva, para o esticar até ao máximo das suas possibilidades formais, sem nunca, no 60


entanto, o deformar. “Esta

experimentação cénica segue uma fórmula sinestésica, pretendendo alcançar a união possível a partir da flexibilidade de todos os elementos que serão reunidos neste espetáculo híbrido”, explica. “«Elastic» convoca a sinestesia entre música, literatura e drama, numa experiência onde são precisos os olhos para ouvir a música, o tato para alcançar o poema, o olfato para atingir o drama e o paladar para saborear o conjunto”, prossegue o encenador farense. Sensação simultânea é o que se pretende alcançar com «Elastic» na verificação das extensões possíveis de cada disciplina artística, numa comunhão 61

que almeja celebrar cada uma das artes num objeto artístico que, por via da sabotagem da expressão exclusiva de cada uma das áreas, vai estendendo e diminuindo as suas qualidades, dentro da elasticidade possível. Uma coletânea de poemas de autores algarvios empresta as suas palavras a «Elastic», casos de António Ramos Rosa, António Aleixo, João Bentes, Pedro Afonso, João Lúcio, Fernando, Cabrita, Rogério Cão, entre outros, que são cantados, interpretados e musicados simultânea ou separadamente. “Os seus

poemas especulam sobre o que são os vocábulos, o que é o discurso, qual o papel do silêncio no desenho das palavras e filosofam sobre a importância da música e da sonoridade na comunicação”, indica João de Brito. ALGARVE INFORMATIVO #244


Em «Elastic», o ambiente sonoro é convocado para o jogo cénico por uma banda de inspiração rock, composta por músicos, que são afinal atores. Os protagonistas Rock acompanham a cantora ou, aliás, a atriz, que é quem dirige a palavra poética. É ela quem estica a literatura da cena, ao mesmo tempo que entrega ao público a palavra cantada, falada ou sugerida pelo artifício teatral. A intérprete investe num exercício sobre a palavra, sobre a declamação do verbo e a sua usurpação. A métrica da música e da palavra apresentam-se num exercício conjunto, um exercício que pretende «imaginar a forma/doutro ser na língua», tal como António Ramos Rosa expõe em «A Partir da Ausência». “O elenco é

tanto elenco quanto orquestra, e o espetáculo não sabemos: será ALGARVE INFORMATIVO #244

Teatro? Poesia? É um concerto? Por via da qualidade elástica das diferentes artes, a experiência cénica pretende anular as diferenças entre linguagens, associando à efemeridade do teatro a abstratividade da música e a complexidade da linguagem e da comunicação”, considera o encenador. Assim, em palco são experimentadas as teorias hegelianas sobre a música e a poética da palavra de Ludwig Wittgenstein, distendidos até ao limite máximo dos seus argumentos filosóficos. “Quão complexa é a

comunicação com o outro? De que forma se pode experimentar a elasticidade da linguagem, que 62


Wittgenstein propõe? Quão flexível é o pensamento de Hegel, que coloca em xeque a mortalidade/imortalidade da música? Quão hegeliana é a música como arte, na tentativa de expressar o eu? Que extensão tem a música como missão, de acordo com o filósofo, de «fazer ressoar o

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eu mais íntimo, a sua mais profunda subjetividade, a sua alma ideal?». Estas questões são polidas com os textos poéticos escolhidos para «Elastic», onde a realidade cénica não é apenas composta de matéria objetiva”, sumariza .

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SYN.TROPIA: UM CONCERTO DE DANÇA PARA TODAS AS AUDIÇÕES Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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m 2017, o programa do Festival Som Riscado descrevia «SYN.Tropia» como um concerto-dança para surdos e outras audições, numa coprodução do Cineteatro Louletano, do Centro de Estudos de Ovar e do Teatro de São Luiz que pretendia ir muito para além dos espetáculos sonoros a que estamos habituados a assistir. A conceção e interpretação foram da responsabilidade de Yola Pinto (bailarina e coreógrafa) e Simão Costa (pianista e compositor), que desde 2011 vinham trabalhando juntos na pesquisa em volta do som e das várias ALGARVE INFORMATIVO #244

formas como pode ser escutado. “É

um projeto que decorre do C_Vib, que esteve na edição de 2016 do Som Riscado, onde quatro esculturas sonoras exploravam, de uma forma bastante interativa, os percursos físicos do som, a relação do toque com a perceção sonora. Temos tido a sorte de nos cruzarmos com programadores culturais que acreditam francamente neste tipo de trabalho – às vezes sem se saber bem onde vão dar estas pesquisas e investigações – como é o caso 72


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do Paulo Pires, da Susana Duarte e da Fátima Alçada”, destacava Yola Pinto. O espetáculo utilizou, então, informações que provinham do som, mas que não chegam através do ar, mas sim pelo tato e pela visão, traduzindo-se na fusão de duas realidades performáticas, a dança e o som, com sons graves para serem percecionados pelas pessoas surdas. “A ideia é tratarmos todos

equitativamente nas suas diferenças e não deixamos de fora as pessoas que ouvem, embora o espetáculo remeta, claramente e desde o início da sua criação e pesquisa, para o paradigma de quem não ouve. Trabalhamos com o polo de Lisboa da Associação

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Portuguesa de Surdos, que nos acolheu com muito entusiasmo e simpatia, e há bastante para aprender com eles”, referiu Simão Costa. “Temos o hábito de separar os sentidos, colocar cada um na sua gaveta, mas há diversos estudos recentes de neurologia e neurofisiologia que dizem que não é bem assim que as coisas funcionam. Há uma interinfluência muito maior dos cinco sentidos do que aquilo que acreditamos”, reforçou o compositor. Do conceito à prática, «SYN.Tropia» não tinha um enredo propriamente dito, antes, sim, uma segmentação

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dramatúrgica mais ligada às formalidades da música, ou seja, era um espetáculo dividido em sete faixas, ecossistemas.

“Esta ligação entre a sintropia, que significa juntos na mesma direção, na mesma forma, e o seu oposto, a entropia, que personifica a desorganização do sistema, é explorada por estímulos visuais, objetos, luzes, desenhos, movimentos, tudo o que provoque o som”, descreve Yola Pinto. Depois, em palco, a dupla desfrutou dos muitos meses de pesquisa e trabalho árduo.

“Por mais enfase que possamos dar à dinâmica do processo, subir ao palco é o momento de apresentação dos resultados. Há muitos pormenores a desenvolver para 75

além da performance, porque estamos também a dirigir todo o projeto, e valemo-nos da experiência acumulada e da escolha dos tempos e segmentação para que tudo corra bem”, acrescentou Simão Costa. Entretanto, quando entra o público, a dupla sabe bem o que tem que fazer, mas não entra simplesmente em pilotoautomático, porque cada espetáculo encerra os seus próprios mistérios.

“Dado o nível de detalhe exigido, reservamos uma boa parte da nossa energia para o momento da interpretação. Estamos em constante escuta e diálogo com o público, caminhamos juntos, há ALGARVE INFORMATIVO #244


uma grande disponibilidade para encaixarmos as suas reações no espetáculo. O público é a última peça do puzzle, que convidamos para se sentar, connosco, numa plateia cheia de dispositivos estáticos”, sublinha Yola Pinto. Simão Costa lembrava ainda que a natureza é, em muitos casos, sintrópica, produz mais energia do que utiliza. “Pensamos que

o dispêndio de energia tem um desperdício, uma componente que é incontrolável, andamos sempre numa dinâmica de esforço. Contudo, na natureza, apanhamos boleia de sistemas mais abrangentes. Neste espetáculo, ALGARVE INFORMATIVO #244

definimos dinâmicas de improvisação, mas estruturadas, mudando os tempos em função da reação do público”, apontou o músico. “Se as dinâmicas de jogo se estabelecerem de forma favorável, há secções que crescem. Quando as pessoas não estão tão disponíveis, cumpre os objetivos a que se propôs e seguimos para a «faixa» seguinte. É um concerto de dança onde exploramos e evidenciamos a maneira como o som tem impacto no corpo”, concluíram Yola Pinto e Simão Costa .

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MANIPULA#SOM DA RADAR 360ยบ FASCINOU LOULร EM 2019 Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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oulé acolheu, de 11 a 14 de abril de 2019, a quarta edição do Som Riscado – Festival de Música e Imagem de Loulé, estando as honras de abertura a cargo da «Radar 360º», associação cultural do Porto que trouxe, na noite de 12 de abril, ao Cineteatro Louletano, o fantástico «Manipula#Som», um concerto visual de caráter circense interpretado por António Franco de Oliveira.

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A linguagem artística do projeto nasce do diálogo entre a manipulação de objetos e a música interativa e depois foi acrescentada a dimensão sonora à expressão visual do malabarismo. “Simultaneamente,

abordamos o som como matéria para esculpir e manipular. O gesto do manipulador surge depurado, pronto para desencadear sequências, mecanismos, ritmos e outros padrões sonoros e visuais.

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Os objetos transformam-se e recriam-se à nossa volta. Os nossos corpos relacionam-se com eles e jogam e tudo isto se ouve e se compõe”, explicou António Franco de Oliveira. Desde os finais dos anos 90 do século passado que António Franco de Oliveira e Julieta Rodrigues, os fundadores e diretores artísticos da companhia Radar 360º, se dedicam à pesquisa e escrita no domínio das artes de rua, do circo contemporâneo e do teatro físico. Em

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2004, a dupla frequentou um estágio de formação avançada e itinerante de artes de rua em França, que funcionou como motor impulsionador para a criação da companhia Radar 360º, nascida oficialmente em 2005. No ano seguinte, a companhia implementou o seu próprio espaço de trabalho no Porto e desde então tem andado em itinerância, apresentando workshops e espetáculos em vários países. E «Manipula#Som» foi, sem dúvida, um dos momentos mais marcantes do IV Som Riscado .

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OPINIÃO Confinados ao destino Paulo Cunha (Professor) ão é fácil ficar imune ao tema do momento. É um assunto que contagia os nossos pensamentos e ações e me coloca numa situação algo desconfortável e confrangedora enquanto convosco partilho a minha opinião, pois escrevo este texto no recato do lar, enquanto outros, para eu aqui estar, não o estão. Esses mesmos que são a razão da minha escrita, sobre os quais apenas imagino o que sentem, pois, a bem de todos, mandaram-me ficar em casa e eu, feliz por estar com saúde, com a minha família e a trabalhar, cumpro. Para além dos profissionais de saúde que, na linha da frente deste combate contra um inimigo invisível, tudo fazem para salvar vidas, por acaso já fizeram o exercício de indicar todos os outros que, expondo-se ao perigo, dão o corpo ao manifesto e, de peito aberto, expõe-se a ser alvejados por munições em forma de vírus? São mais do que aqueles que pensam! Para que possamos lutar contra este flagelo sanitário e social, são estes profissionais que nos garantem os bens essenciais, evitando assim que não seja maior a emenda do que o soneto. Por mais manifestações ruidosas e ALGARVE INFORMATIVO #244

vistosas que façamos nas nossas janelas reais e virtuais, nada é suficientemente recompensador e gratificante para todos aqueles que, expondo-se ao contágio, sabem que poderão também contagiar quem mais amam. Imagino o que sentirão todos aqueles que se levantam todos os dias para sair para os locais onde a restante parte da população é aconselhada a não ir. Imagino também o que é, depois de um dia de trabalho, entrar em casa e ser assaltado com dúvidas e fundados receios. Para todos aqueles que sentem e veem no confinamento forçado uma prisão domiciliária, penso que não há melhor forma de combater o medo, a angústia e o desânimo do que, com o espírito positivo e harmonioso da estrutura familiar, encontrar formas de manter presente a felicidade. Não sou daqueles que acha que partilhar momentos de boa disposição e bem-estar poderá ser malicioso e acintoso para todos aqueles que, por razões várias, só têm motivos para se queixar. Tal como qualquer vírus, advogo que a felicidade alheia pode (e deve) ser também contagiante. Um momento de felicidade, na altura certa, poderá ser o alento para lutar contra a adversidade! Mesmo sabendo que, no futuro próximo, nem tudo irá ficar bem, aprecio 94


e saúdo a forma como grande parte dos portugueses está a reagir, depositando grandes doses de esperança na fase em que a pandemia nos irá dar tréguas ou, como todos desejam, venha - finalmente a ser totalmente imunizada. Ver, de várias formas, os mais novos a mostrar, através 95

das cores do arco-íris, que acreditam num futuro diferente do projetado, mas igualmente risonho, deverá constituir, mesmo para os mais negativistas e pessimistas, um sinal de que é preciso acreditar nas ações das mulheres e dos homens de boa vontade. Eu acredito! . ALGARVE INFORMATIVO #244


OPINIÃO Ensino (à) distância? Mirian Tavares (Professora) “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”. Paulo Freire ão é por gosto ou por vontade própria, mas estamos todos a naufragar no mesmo barco – o de tentar suprir a presença física pela presença virtual nas universidades e escolas. Estamos, professores e alunos, a reaprender a aprender e a ensinar, pois a maior parte de nós não está habituado ao ensino a distância, que tem suas regras próprias e que não se aprende a fazer da noite para o dia. Estamos a tatear formas, a procurar maneiras de minimizar o problema do confinamento prolongado. Alguns mais radicais preferiam que se assumisse que, de facto, nada disso é normal e, portanto, paremos de fingir e não façamos nada. Não há condições para lecionar, não se leciona de todo. Apesar das muitas reticências que possa ter sobre esta avassaladora sucessão de videoconferências, não sou contra a tentativa de minimizar os danos de um semestre sem aulas. Duvido muito da ALGARVE INFORMATIVO #244

validade mais profunda, no campo da aprendizagem dos conteúdos das disciplinas, destes esforços. Mas não duvido do seu papel terapêutico e necessário para manter a mínima sanidade mental que nos resta. Ficar parado, sem nada fazer, à espera de sair novamente às ruas e de retomar o trabalho como sempre o fizemos é muito mais angustiante que andar à procura de métodos, soluções, alternativas que melhor se enquadrem na condição de cada um, na especificidade da matéria que ensinam, do grupo que tem à frente. É frustrante, muitas vezes, porque ninguém se torna um Ted talker em três lições e não há um manual com «cinco dicas imperdíveis para torná-lo o melhor professor do mundo virtual» (e os que existem, não funcionam). Os alunos, por sua vez, têm seus próprios problemas, muitas vezes um problema real de acesso aos meios. Parece incrível que em pleno século XXI, num país europeu, haja pessoas que não 96


estão aparelhadas para enfrentar as demandas de um ensino por videoconferência. Mas há umas quantas e isso torna o que fazemos ainda mais frustrante. Porque não podemos oferecer a todos, por igual, o ensino que eles precisam e merecem, porque se matricularam no ensino presencial e para este estavam aparelhados e disponíveis. Outro dia uma aluna comentou com a minha esteticista, que também é minha amiga, que as minhas unhas já não estavam arranjadas como de costume. Achei piada porque falo muito com as mãos. Tem sido um sacrifício ficar sentada a olhar para um ecrã e a tentar soar o menos aborrecida possível. Fiquei contente que a aluna tenha reparado nas minhas unhas, mesmo que em estado deplorável, porque é sinal que estava a ver-me, não sei se a ouvir o que eu dizia, mas aquele tempo fez com que ela se distraísse deste momento estranho, distópico, claustrofóbico pelo qual estamos a passar. E ensinar não é debitar conteúdo, é como um casamento – exige compromisso, na alegria e na tristeza. E que estes momentos em que estamos presentes, 97

Foto: Victor Azevedo

mesmo ausentes fisicamente, sejam uma maneira de demonstrar o nosso cuidado e preocupação com os alunos. E uma maneira de dizer-lhes que não estão sós .

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OPINIÃO Do Reboliço #80 Ana Isabel Soares (Professora) ada punha o bicho mais em sentido do que ouvir a voz do moleiro a chamar: “Moços, vá!, vem aí trovoada, temos de desarmar o moinho!”. É verdade que os cães deviam perceber no cheiro do ar a chuva a aproximar-se. É verdade que tinham apuradíssimos sistemas de alerta, que farejavam a humidade a adensar-se, que o usarem mais uma orelha do que a outra poderia revelar mudanças na direção do vento, sim. A bicheza tem terminações nervosas coladas aos nervos do resto do mundo. Mas um moleiro como o do Moinho Grande antecipava-se aos cães (seria por nada: os bichos é que já confiavam nele como se um deles fosse, e não cuidavam de fazer, segundo a segundo, a verificação do estado meteorológico das redondezas: quando era o Sorna, esse, então, não se torcia nem se amolgava). Em soando o chamado de «Trovoada!», para se interromper a moenda e se recolher as velas, o Reboliço voava na direção contrária e escapulia-se era para dentro de casa, esgueirando-se no instante em que alguém de lá abria a porta e recolhendo-se no bocadinho que junto ao lume havia livre entre as panelas de ferro, as cadeiras baixas, os alguidares e o mais ALGARVE INFORMATIVO #244

que houvesse por ali de parafernália doméstica. “Foge, medroso”, dizia, a rir, a mulher do moleiro, quando o via, o coto de cauda entre a curteza das pernas, enrolar-se como uma caracoleta. Mas, ai, ele é que sabia. A trovoada da Primavera vinha às vezes de supetão – era de agora para agora já: um segundo de distração, falhar a entrada na casa, e só lhe sobraria o alpendre do forno, um desabrigo a evitar. Assim amalhado e borralheiro, bem podiam bategar as águas nos telhados que, entre o riso da mulher, os pedacinhos de folhas secas a fazer crepitar o lume, as quatro paredes grossas e o calor do chão da casa, deixava-se o Reboliço ficar e aceitava com indiferença os tremores do corpo. Numa das cadeiras mais distantes da lareira, ruga completa e indistinta dentro do xaile, sentava-se e rezava em murmúrios a antiga mãe do moleiro: “Santa Bárbra Bendita... nos céus ‘tá escrita... com papel e água benta nos livre desta tormenta e jesus que é santo o nome de jesus, que é santo o nome de jesus, que é santo o nome de jesus”, riscava, a balançar o corpo e a dar à cadeira de quatro pernas fixas a cadência de um balanço ininterrupto. Que o dia estava claro havia nada de tempo, mas o negrume do xaile mais se escurecia com o breu que a tormenta vinha mostrar à janela: o Reboliço, gelado de terror perto 98


Foto: Vasco Célio

do lume, fechava os olhos com força e rezava por dentro, num uivo pegado, a litania. Dos homens, nada: na pressa de recolher e dobrar, levar para dentro o cotão das velas, ficavam com elas lá retidos. Se o vento impedia que as gotas entrassem pela porta do moinho, deixavam-na aberta e punham-se, muito juntos, a querer olhar todos lá para fora o respeito da borrasca. “Olha como isto se pôs...,” “Daqui a nada, temos outra alverca cheia”, “Devíamos ter ali uma caleira, estás a ver, que levasse a água para aquela árvore; assim, corre para fora –”, “Deixa cair, que ela acha o 99

caminho...”. Nunca lhes bastava a chuva. É que, assim como vinha, num instante abalava, e eram mais os dias de secura que os de brandura. Santa Bárbara chegava e ia embora, demorava-se só na voz da mulher antiga, já o bicho fugira para a rua a correr atrás da pardalada: na alegria de caçarem os vermes que a terra destapava, os pássaros pareciam bandos de moços pequenos em algazarra a sair da escola . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. ALGARVE INFORMATIVO #244


OPINIÃO O admirável mundo das comemorações Adília César (Escritora) “A economia, a saúde, gente a morrer todos os dias, etc. «Vai Ficar Tudo Bem», nem quero imaginar o que seria se tudo ficasse mal”. Raul Pimenta

comemoração da Páscoa foi bem diferente, neste estranho ano de 2020. Na sua definição, o tempo destinado à Páscoa é a reflexão sobre a crucificação, a morte e a ressurreição de Cristo. Talvez seja a principal comemoração da tradição cristã porque coloca em evidência de Verdade a crença na ressurreição de Cristo, que se ofereceu em sacrifício para a salvação da humanidade, dando-nos a perspectiva de uma nova vida. Através de uma simples associação de ideias, chego aos técnicos de saúde e seus auxiliares retidos nos hospitais, em sacrifício, dia após dia. Tentam salvar a humanidade. Há muitas formas de crucificação e muitas maneiras de morrer, mas desconheço modos eficazes de ressurreição. Nesta Páscoa eles foram os meus «Cristos» e vieram substituir as amêndoas e os folares, as tais alegrias doces que não estiveram na minha mesa de Domingo de Páscoa por vontade própria. E no tempo do porvir – Estado de Emergência ou similar – eles são e serão os meus heróis. Demonstro um ALGARVE INFORMATIVO #244

profundo respeito por todos esses corajosos e incansáveis profissionais através do meu confinamento, para não adoecer e não contagiar os outros. E isso basta-me enquanto comemoração e actual filosofia de vida. Tenho também dedicado algum tempo a reflectir sobre o valor humano do mundo virtual neste período de isolamento, a tentar que o meu pensamento alcance algo diferente da coisa pensada, ou melhor dizendo, que encontre uma passagem para o real. Mas não é fácil. Na verdade, não podemos filtrar aquilo que queremos ver ou ler nas redes virtuais onde parece estarmos a gastar tanto do nosso precioso tempo: a quantidade de «shits» sobre a pandemia que nos é oferecida diariamente pelos «especialistas», multiplicada em numerosos grupos de apoio à cena Covid-19, é avassaladora e viola as nossas intenções mais inocentes. Existem, no entanto, verdades bombásticas: a cada dia, há mais pessoas infectadas e algumas delas irão morrer; o mundo económico está em grande parte parado, causando um perigoso estado de precariedade no poder financeiro das famílias, logo, da 100


sua sobrevivência; o país e o mundo equilibra-se numa corda bamba; a vida está suspensa bem acima das nossas cabeças ocas. Tudo se resume a sermos capazes de desenhar um mapa pessoal de sobrevivência, que é, afinal, igual para todos: não adoecer, não contaminar os outros, conseguir ter dinheiro suficiente para adquirir bens de primeira necessidade, ser solidário para quem mais precisa. O espírito positivo está na moda e os arco-íris também. Mas nada disso nos irá salvar. Precisamos de acreditar no poder maligno deste novo vírus, desconfiar de tudo o que nos dizem e, até ao limite do impossível, prestar a devida vénia ao distanciamento social. Logo, uma boa dose de negativismo, sem distracções. Só isso dará mais tempo ao nosso tempo. Para não morrer ainda. Graças a Deus, o Seu Filho já ressuscitou e podemos enterrar a Páscoa, dando início a uma nova semana que mais parece «a sombra de uma sombra» (belo título para um livro de poemas...). A vigilância assoberbada sobre os habitantes deste planeta infectado assusta-me. E aceitamos essa vigilância virtual porque estamos à mercê de um vírus que nos colocou a todos, de uma assentada, em sucessivos Estados de Emergência controlados pelas autoridades que afinal só nos querem salvar. 101

Vêm aí outras comemorações: o 25 de abril e o 1.º de maio. Este ano, e sem qualquer espécie de ironia, tentarei não aturdir o pensamento com ideologias de outros tempos e vou substituir os cravos vermelhos por máscaras, luvas e gel desinfectante, tomando a Liberdade como minha conselheira. #VaiFicarTudoBem? Cuidado com a demagogia do espírito positivo. Faz mais sentido, para mim, o seguinte slogan: #VaiFicarTudoDiferente . ALGARVE INFORMATIVO #244


OPINIÃO As principais tendências para o mundo pós-pandemia Fábio Jesuíno (Empresário) sociedade atual revela sinais de mudanças radicais nos comportamentos devido à pandemia de Covid-19, algo que vai alterar os modelos das organizações. Com base na minha experiência, reuni as três principais tendências para o mundo pós-pandemia: Educação Online A educação online tem evoluído muito nos últimos anos, tornando-se cada vez mais acessível, principalmente para quem não tem alternativas devido à sua localização ou aos seus baixos rendimentos financeiros, criando oportunidades de ensino para todos, promovendo uma democratização do conhecimento sem precedentes. O desenvolvimento tecnológico e o crescimento da Internet têm sido os grandes impulsionadores da educação online, tornando-a mais interativa e aumentando a sua utilização. Já era uma tendência em crescimento que neste momento, devido à pandemia, teve um impulso inimaginável. ALGARVE INFORMATIVO #244

Comércio eletrónico O comércio eletrónico está a ter uma verdadeira explosão nas últimas semanas em Portugal. No segmento não alimentar passou de uma quota de 8 para 32 por cento, em sentido contrário, as lojas físicas tiveram uma redução enorme, de 92 para 68 por cento. Nas últimas semanas, muitas pessoas tiveram as suas primeiras experiências no comércio eletrónico, por necessidade ou por segurança, tornando a sua abrangência cada vez mais alargada, que vai perdurar depois da pandemia, com grandes consequências no comportamento de consumo. Teletrabalho Devido ao Coronavírus, vivemos a maior experiência de trabalho remoto de sempre que vai ter um impacto na sociedade e no mercado. Esta experiência de teletrabalho em grande escala, não intencional, está a ser vivenciada globalmente por centenas de milhões de pessoas, que vão descobrir as suas vantagens e desvantagens e, possivelmente, quando passar a crise do 102


coronavírus, será usada com mais frequência globalmente.

diferença no mundo pós-pandemia, com grandes impactos na sociedade. A forma como vivemos vai mudar para sempre .

Estas são as três tendências principais que, na minha opinião, vão fazer a 103

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OPINIÃO - Reflexões, opiniões e demais sensações… Diéb Júlio Ferreira (Inconformado Encartado) açam o favor de vasculhar jornais e revistas, da economia à moda, dos assuntos gerais à política, do espetáculo ao desporto, de pesquisar no «Google». De tempos em tempos, ultimamente até com uma regularidade que nos surpreende, esta crítica ao Algarve e aos algarvios. É uma nova moda, uma mania, quase um culto, para aqueles que querem, de forma fácil e rápida, ficar famosos, seja na rádio, revistas ou redes sociais. Todas as críticas construtivas ou humorísticas, sem ofensas diretas, são legítimas e, por muito negativas ou irónicas que sejam, têm de ser (em primeiro lugar) compreendidas e respeitadas. Aos que constantemente nos ofendem e depois vêm para aqui passar férias, nós algarvios chamamos (para ser simpático) de «Maldeçoáde» ou «Diéb». Já eu, e para que todos entendam, enquadrava esta espécimes vulgaris nos «Parvos». Para além dos parvos serem indivíduos que revelam falta de inteligência e de bom senso e cujo comportamento é considerado desagradável e irritante. São, digo eu, daquelas pessoas que acham que valem mais do que aquilo que a realidade demonstra e que, por causa disso, andam permanentemente ALGARVE INFORMATIVO #244

chateados porque ninguém nunca lhe reconhece aquilo que eles acham que merecem ter ou ser. Complicado? Não se conhecerem os mais recentes casos. Mas, infelizmente, esta «guerra» entre norte e sul já é muito antiga. Foi alimentada para servir alguns objetivos e (lá está) os interesses de pessoas parvas. Somos infelizmente um país de longa tradição no desenvolvimento do parvo nacional. Portugal chegou a um ponto de saturação do número de parvos per capita. Dados recentes do INE apontam para que esta população seja neste momento muito superior à portuguesa. “Começamos a ter dificuldade em separar os portugueses dessa gente parva, uma vez que os primeiros parecem ter sido perfeitamente aculturados pelos segundos”, afirma o responsável máximo por esta instituição. Especialistas internacionais no fenómeno expansionista da parvoíce afirmam que o processo é irreversível e que, dentro de poucos anos, Portugal não terá portugueses. Sobre esta espécime vulgaris e o seu avanço nos Estados Unidos que culminou com a eleição de Donald Trump, George Carlin disse um dia: “Porque não ser parvo? Um parvo praticante e diplomado. Ou, 104


oportunidade de ser um parvo a tempo inteiro e durante todo o ano. Liguenos. Não se faça de parvo, seja um parvo”. Podem igualmente chamarme de parvo, mas o que não tenho é pachorra para aturar o seu ressabiamento crónico e falta de educação. Fico «Marafade»! Que haja civismo e respeito pelo próximo, por parte dos que nos visitam, e que tão bemvindos são. O que nos distingue de norte a sul está inscrito nas paisagens, no falar, no modo de ser, no modo de viver. É muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa. Em relação ao Algarve, se não gostam? Paciência!

se tiver competência para isso, um PPE, Parvo Público Encartado. Pode não parecer quando olha à sua volta, mas não há parvos que cheguem nos EUA. Como resultado disso, pode ganhar-se muito dinheiro com a parvoíce. O parvo médio ganha pipas de massa por ano, mais regalias. E há vagas para parvos em todos os sectores da sociedade. E cada vez mais pessoas enveredam por uma carreira de parvo freelancer. Ligue já para o Instituto Técnico da Parvoíce e receba o nosso panfleto gratuito: «Ei, parvalhão, aprende a ser parvo a sério!». A maior parte das pessoas consegue ser parva em festas, mas esta é a sua 105

Aos que quiserem vir, lembrem-se que no Algarve «bom dia», «por favor» e «obrigado» são palavras tão valiosas como em qualquer outro lugar deste cantinho à beira mar plantado. EXIGIMOS RESPEITO!!! Protejam-se, respeitem as orientações da DGS para que possamos reerguer esta região e este pais que tanto amamos. Não vai ser fácil, mas TODOS JUNTOS (incluindo os parvos) vamos conseguir!!!. Fotomontagem: Ruben Barroso ALGARVE INFORMATIVO #244


OPINIÃO Poderá a globalização destruir a globalização? Nuno Campos Inácio (Escritor e Editor) á quem coloque Sagres na génesis da globalização. É certo que essa referência a Sagres deverá ser vista num sentido metafórico, associada à mítica «Escola de Sagres», que teria sido fundada pelo Infante D. Henrique e servido de alavanca para a epopeia dos Descobrimentos. É certo que, antes do início da Era das Descobertas ibéricas, já existiam laivos de globalização, mas essa estava limitada ao «mundo conhecido» das civilizações mediterrânicas, ou seja, pouco além ia das Colunas de Hércules. Com a expansão marítima, novos mundos foram revelados e a noção de globalização alterou-se. Pouco a pouco, a globalização passou a significar não uma supremacia cultural, mas uma convivência de culturas; não a imposição de uma religião, mas a tolerância religiosa; não a importação e exportação de produtos, mas a livre circulação de pessoas e bens; não a deslocalização de empresas e de serviços, mas a contratação de imigrantes; não o conhecimento empírico de outras realidades, mas a sua vivência, através ALGARVE INFORMATIVO #244

do turismo. Fronteiras erguidas pelo sangue e suor de gerações nacionalistas tombaram perante o processo de globalização e passou a ser indiferente onde alguém nasceu, onde estudou, onde se formou, onde reside, porque todos passaram a ser cidadãos do mundo, mas, principalmente, porque o principal critério de diferenciação entre os indivíduos passou a ser globalmente avaliado pelo montante da sua riqueza. No entanto, a globalização, vista por muitos como um factor contributivo para a paz entre os países e harmonia entre a humanidade, não está isenta de riscos, nem é universalmente aceite. Nas últimas décadas nasceram vários grupos antiglobalização, um pouco por todo o mundo. Acusam-na de destruir a identidade dos povos, de contribuir para a destruição das economias locais e de acelerar a destruição da qualidade de vida do planeta, graças à exploração de matérias-primas, poluição atmosférica e exterminação de espécies e recursos naturais. Um dos factores de globalização que começam a ser mais criticados está intimamente ligado à região algarvia: o turismo; mormente o denominado turismo de massas. 106


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A actividade turística global e globalizante, tida como um dos factores de desenvolvimento e progresso mundial, de aproximação entre povos e indivíduos, atingiu uma dimensão que passou a colidir com os interesses dos residentes, mas também dos outros turistas. Os centros históricos de cidades como Veneza, Atenas, Paris, Roma ou Barcelona foram transformados em parques de diversões de grandes dimensões, sem população residente, onde passou a ser impossível a um cidadão comum o arrendamento ou aquisição de casa; visitar monumentos tornou-se num inferno; ir à praia passou a ser um conflito pelo direito a um quinhão de areia para estender uma toalha; os níveis de poluição são assustadores; os preços dos produtos são inflacionados; as produções artesanais não conseguem concorrer com as das indústrias globalizadas; a imigração e o número elevado de turistas provocam processos de aculturação involuntária e, muitas vezes, conflituosa em relação à população autóctone. A todos estes problemas já conhecidos, somou-se recentemente mais um: a propagação de doenças virais. De facto, a globalização contribui para uma proliferação muito mais acelerada de pandemias, como a que actualmente nos afecta. A contenção da pandemia está intimamente dependente do isolamento, ou seja, da suspensão da globalização. Três meses foram suficientes para que ALGARVE INFORMATIVO #244

valores até então inquestionáveis, tidos como genericamente aceites pela humanidade e apenas questionados por uma parcela numericamente insignificante de radicais, fossem invertidos. Fronteiras foram encerradas, a actividade turística foi suspensa, a livre circulação de pessoas foi cancelada, governos apelam ao regresso das suas empresas deslocalizadas aos países de origem, grupos organizados pedem o boicote às importações, países aliados apreendem material clínico destinado a terceiros. Confrontado com um inimigo global, o mundo globalizado não procurou uma resposta universal, optando por se fechar cada um no seu alvéolo, seja à escala continental, nacional, local ou individual. De um momento para o outro, o mundo encolheu à dimensão da verdadeira essência humana, que é a vida de cada um per si. Esta redescoberta humana poderá produzir efeitos contrários ao espírito da globalização, impulsionando antes o minimalismo e o individualismo. Cinco séculos passados sobre o início da globalização, estaremos a assistir ao início do fim da globalização? Só o futuro poderá responder a esta questão, cuja concretização deixou de estar dependente da decisão dos líderes políticos, para ficar na mão de cada indivíduo. É a soma das vontades individuais que irá determinar a existência de um mundo mais global ou individualizado . 108


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OPINIÃO A Aceleração Digital na Formação Luís Matos Martins (Empresário e Docente Universitário) formação é parte integrante do desenvolvimento e capacitação das equipas de uma organização, seja ela uma empresa, associação, instituição de ensino ou cooperativa. Acredito que a aprendizagem e o desenvolvimento de competências técnicas e transversais à atividade profissional por parte dos colaboradores e gestores são cruciais para o sucesso das suas organizações. Com o acelerar da economia, muitas empresas descuraram da formação e capacitação da equipa em prol de um maior desenvolvimento de produto/serviço, com o fundamento de quererem estar na linha da frente no mercado para se distinguirem de outros players. A situação vivida atualmente, provocada pela doença respiratória consequente do contágio pelo agente Coronavírus (Covid-19), vem «agitar» o ecossistema empreendedor e empresarial, que começou a sentir os seus negócios comprometidos, levando à necessidade de se reinventarem e pensarem em novas soluções para os negócios. A formação, de empreendedores, gestores e colaboradores, é uma das ALGARVE INFORMATIVO #244

respostas mais promissoras à situação atual. Com o mercado lentificado, os gestores têm agora mais tempo para preparar as suas equipas para o novo mercado que surgirá, dedicando-se ao desenvolvimento de competências técnicas e sociais fundamentais para dar resposta a novos desafios. Estaremos nós preparados para enfrentar esses desafios e mantermos as nossas organizações na vanguarda? Sugiro a todos os empreendedores e empresários que tirem partido deste momento para desenvolverem mais ações online, contribuindo todos para a sociedade e, ao mesmo tempo, para investirem na sua própria formação dos e das suas equipas. Nas diferentes formas de educação já têm sido adotadas novas ferramentas de ensino à distância. Com quase um mês de estado de emergência declarado, as Instituições de Ensino já se encontram, na sua maioria, ajustadas a esta nova realidade, sendo as aulas virtuais uma máxima na educação formal em Portugal. Também o Programa de Empreendedorismo nas Escolas de Portimão passou a ser dinamizado através de sessões online. Como resposta a esta nova realidade, os Territórios Criativos e a Startup Portimão 110


reinventaram a sua oferta de formação e consultoria ao criarem um Bootcamp de Aceleração totalmente online, de fácil acesso e participação, mesmo para empreendedores com menor domínio das ferramentas digitais. O programa é adequado à realidade atual, tendo por objetivo dar aos empreendedores um maior conhecimento sobre os desafios e oportunidades dos novos mercados, que estão a ser construídos ao longo de todo este processo. Assim, queremos dar resposta às necessidades das empresas e startups que estejam a sofrer com estas alterações do mercado, preparando-as e capacitando-as para o futuro das suas organizações. Desenvolvemos, ainda, mais de uma dezena de webinars, sobre 111

temáticas do momento, onde contámos com a presença de empreendedores de várias regiões do país, incluindo Algarve, e várias áreas de atividade. Acredito que o mercado não será mais o mesmo e que novas formas de negócios surgirão como fruto da inovação do ecossistema. Vamos, então, tirar proveito deste momento para acelerar digitalmente as nossas empresas, reduzindo o recurso a matérias-primas em desuso e com elevada utilização, ressignificando os nossos produtos em resposta às necessidades atuais e regenerando os nossos recursos através da capacitação dos nossos colaboradores. ALGARVE INFORMATIVO #244


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Hugo Dust Photography A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #244

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