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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 29 de fevereiro, 2020

A RECONQUISTA DE OLIVENZA A LOUCURA DO CARNAVAL EM LOULÉ, S. BRÁS DE ALPORTEL, ALTURA, PORTIMÃO E FERRAGUDO ALGARVE INFORMATIVO #238 PLANO1 NACIONAL DAS ARTES | 5.º SOM RISCADO QUASE A CHEGAR | BASQUETEBOL EM ALBUFEIRA


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160 - Portugal venceu Albânia em Albufeira

18 - Plano Nacional das Artes

24 - 5.º Som Riscado quase a chegar

116 - «A Reconquista de Olivenza» ALGARVE INFORMATIVO #238

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152 - ABC e Fundação Champalimaud

108 - Carnaval de Portimão

78 - Carnaval de Altura

94 - Carnaval de Ferragudo

60 - Carnaval de São Brás de Alportel

OPINIÃO 136 - Mirian Tavares 138 - Adília César 140 - Ana Isabel Soares 142 - David Martins 144 - Fábio Jesuíno 146 - João Ministro 9

38 - Carnaval de Loulé ALGARVE INFORMATIVO #238


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PLANO NACIONAL DAS ARTES QUER FOMENTAR A COESÃO E INCLUSÃO POR VIA DAS ARTES, CULTURA E PATRIMÓNIO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Auditório da Direção Regional de Cultura do Algarve, em Faro, encheu-se de responsáveis autárquicos, professores, dirigentes associativos, homens e mulheres da cultura, para assistir à apresentação, por Paulo Pires do Vale, do Plano Nacional das Artes, desenvolvido pelas áreas governativas da Cultura e da Educação com o objetivo de tornar as artes mais acessíveis aos ALGARVE INFORMATIVO #238

cidadãos, em particular às crianças e aos jovens, através da comunidade educativa, promovendo a participação, fruição e criação cultural, numa lógica de inclusão e aprendizagem ao longo da vida. O plano pretende também incentivar o compromisso cultural das comunidades e organizações e desenvolver redes de colaboração e parcerias com entidades públicas e privadas, designadamente, trabalhando em articulação com os planos, programas e redes pré-existentes. “Foi

criado há um ano por resolução 18


do Conselho de Ministros, a apresentação da estratégia e da missão aconteceu em junho de 2019, portanto, este é o primeiro ano letivo em que estamos a envolver já as escolas e toda a comunidade numa responsabilidade cultural que é de todos. A participação ativa de cada um, à sua medida, com a sua voz, na cultura de todos, é determinante”, defende Paulo Pires do Vale. Para o comissário do Plano Nacional das Artes, cada escola é um polo cultural no lugar em que se encontra, mas há que envolver também as câmaras municipais e juntas de freguesia, as instituições culturais e artistas, as universidades e as próprias empresas num compromisso cultural de todos e para todos. “O Plano

tem um horizonte temporal de 10 anos e já estão algumas medidas a ser implementas no terreno, inclusive em escolas algarvias. Queremos passar de uma democratização da cultura – em que levamos a cultura aos outros – para uma consciência de democracia cultural – em que todos têm uma voz na cultura. No fundo, interessanos derrubar os muros existentes entre as escolas e as comunidades, fazendo entrar artistas nas escolas para residências, assim como levar os alunos aos museus, teatros ou cinemas”, indica Paulo Pires do Vale.

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Para esse efeito, é fundamental a criação de uma estrutura capaz de reunir e agregar o trabalho já produzido e dar-lhe o seguimento lógico de uma perspetiva de conjunto, no sentido, aliás, de completar as missões de cada um dos programas e planos já estabelecidos. Por isso, o Plano Nacional da Artes tem como objetivos: a) articular, potenciar e expandir a oferta cultural e educativa existente, designadamente a que decorre da missão, finalidades e áreas de intervenção do Plano Nacional de Leitura, Plano Nacional de Cinema, Programa de Educação Estética e Artística, Programa Rede de Bibliotecas Escolares e Rede Portuguesa de Museus; b) viabilizar a colaboração com entidades públicas e privadas; c) reforçar o envolvimento da comunidade educativa nas atividades culturais; d) estimular a aproximação dos cidadãos às artes e proporcionar, de forma continuada, a diversidade de experiências estéticas e artísticas; e) fomentar a colaboração entre artistas, educadores, professores e alunos, de forma a desenhar estratégias de ensino e aprendizagem que promovam um currículo integrador, assente numa gestão consolidada do conhecimento e da experiência cultural; f) mobilizar a articulação entre equipamentos e agentes culturais, sociais e profissionais; g) favorecer a territorialização das políticas culturais e educativas, mobilizando os recursos locais como agentes relevantes e integrantes dos processos de ensino e aprendizagem; h) ampliar o leque de vivências e competências facultadas pelas escolas, reforçando a abertura à ALGARVE INFORMATIVO #238


comunidade e ao mundo; i) consciencializar as instituições culturais e os seus agentes para a dimensão social e educativa da sua missão; j) contribuir para a consecução das áreas de competências inscritas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, nomeadamente as relativas ao pensamento crítico e pensamento criativo, e à sensibilidade estética e artística; k) promover o

conhecimento, integração e encontro de culturas, através das manifestações artísticas e culturais de diferentes comunidades. É crucial tornar a cultura mais acessível a todos os cidadãos, e não apenas aos mais jovens, mas é junto dos mais novos, porém, que se devem começar a semear estes hábitos culturais. “Compreender a cultura

do território em que estamos inseridos é uma forma de educar melhor as novas gerações. Basicamente, estamos a cumprir aquilo que a Constituição Portuguesa nos garante: o direito à educação e à cultura. Aliás, temos direito, não somente à fruição cultural, mas também à criação e produção cultural. Passar esta noção aos mais novos é uma maneira de eles ficarem mais comprometidos com a cultura”, entende Paulo Pires do Vale, adiantando ainda que, nesta missão, são necessários os contributos de todos os agentes. “Desde os anos 70

que se criam planos que ligam a educação à cultura, mas pensouse apenas no território da escola como o lugar onde isso aconteceria. Nós acreditamos que esse território tem que ser alargado, que o sistema em que a escola está inserido tem de ser todo tocado. Uma das propostas que fazemos é a criação de Planos Estratégicos Municipais de ALGARVE INFORMATIVO #238

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Cultura e Educação, mas precisamos aferir igualmente do papel das associações culturais neste impacto social e educativo. Encontrar metas e compromissos para chegarmos a quem e a como. Não chega apenas dizer que a responsabilidade está na escola ou nos professores”, avisa o comissário. Cultura é, contudo, um conceito bem mais amplo do que as Artes, de modo que este Plano Nacional não está fechado nas artes «puras e duras», o que excluiria, por exemplo, o património material e imaterial ou as tradições culturais. “Não quisemos sequer

fazer uma distinção entre cultura popular e erudita, queremos que se possa partir no território daquilo que ali existe. Tantas vezes tivemos no passado aquela ideia de que a cultura deveria partir de um «centro iluminado» para chegar ao resto do país, mas isso é errado. Há que valorizar o que já se encontra em cada lugar e que tantas vezes nem vemos que lá está”, sublinha Paulo Pires do Vale. “Pode ser património industrial, cultural, popular, artes ditas eruditas, mas também cultura ancestral. O importante é partir dessa realidade e tentar perceber o que nos falta ou falha em cada território, para depois, então, ir buscá-lo. O Plano quer ajudar a criar redes de divulgação e circulação de projetos e propostas que possam 21

ser modos de coesão e inclusão. O grande desejo do Plano é perceber como é que as artes, o património e a cultura podem ser motivo de inclusão, para que cada um encontra a sua voz e linguagem”, reforça, acrescentando que se poderão utilizar, para este efeito, múltiplas fontes de financiamento, desde verbas provenientes dos Ministérios da Cultura e da Educação a fundos europeus e parcerias locais. “Estamos

agora a apresentar o Plano Estratégico dos primeiros cinco anos, sendo que, depois, ele será avaliado, revisto e melhorado para os derradeiros cinco anos” . ALGARVE INFORMATIVO #238


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5.º FESTIVAL SOM RISCADO COM PROGRAMAÇÃO INOVADORA A SUL E ENVOLVENDO OS MEIOS EDUCATIVO E ARTÍSTICO DA REGIÃO Texto: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #238

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Som Riscado – Festival de Música e Imagem de Loulé regressa, de 26 a 29 de março, para a sua quinta edição, com um conceito e abordagem artísticos sem paralelo a sul do país. O evento organizado pelo Município de Loulé, através do Cineteatro Louletano, volta a apresentar uma programação arrojada e inovadora e assenta, quer em diálogos experimentais entre música e imagem, quer em novas abordagens exploratórias em torno do som/arte sonora, com o objetivo de chegar a um público mais generalista, mas também a franjas mais segmentadas e minorias de destinatários com outros gostos, interesses e motivações menos alinhados com o dito mainstream. ALGARVE INFORMATIVO #238

Do programa constam diversos nomes nacionais de referência na área da música experimental, como Surma, como novos arranjos para temas já conhecidos, mas também o levantar do véu, em pré-estreia nacional, de alguns temas do novo disco; Joana Gama, Luís Fernandes e Drumming GP, juntos com o artista visual Pedro Maia, sediado em Berlim, num espetáculo de grande impacto, em estreia a sul, que abre o festival no dia 26; ou a dupla Frankie Chavez & Peixe com o projeto «Miramar», considerado pela prestigiada revista Blitz o terceiro melhor disco nacional de 2019. Rumam ainda a Loulé outros criadores e estruturas que têm desenvolvido um trabalho de grande qualidade, reconhecido em Portugal e internacionalmente, no campo da investigação e experimentação 26


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sonoras, como Victor Gama – uma referência mundial neste domínio, pela primeira vez no Algarve, aqui com uma proposta que revisita as pertinentes temáticas nuclear e ecológica; a Sonoscopia (Porto); e a Companhia de Música Teatral (Lisboa). A componente de encomenda volta a ser privilegiada nesta programação emanada do Cineteatro Louletano, com a participação de vários artistas e estruturas de ensino sediados no Algarve, a quem o festival lançou o desafio criativo de conceberem a componente visual de alguns reconhecidos músicos nacionais. São disso exemplo a dupla Camille Leon (nome artístico de Joana Gomes) e Inês Barracha, que vão trabalhar com Surma; e os alunos do curso de Imagem Animada da Escola Superior de Educação e Comunicação (ESEC) da Universidade do Algarve, que vão colaborar com quatro 29

bandas algarvias, designadamente 2143, Heroin Holiday Big Band, Kilavra e Mateus Verde, numa curadoria do Caribe Ibérico/Miguel Neto. Estes alunos usufruíram ainda, desde outubro de 2019, de uma formação contínua na área da Imagem com Rodrigo Carvalho e Miguel Neto, do projeto «Boris Chimp 504». O Som Riscado também vai proporcionar um encontro inédito entre Victor Gama, acompanhado de Salomé Pais Matos, e um ensemble da Orquestra Clássica do Sul dirigido pelo Maestro Rui Pinheiro num espetáculo multimédia, «Vela 6911», que já foi apresentado nalgumas das principais salas a nível mundial. O investimento no estímulo, valorização e promoção de artistas sediados no concelho de Loulé e na região espelha-se igualmente na estreia a sul do novo live audiovisual do ALGARVE INFORMATIVO #238


projeto Boris Chimp 504 e na estreia nacional do primeiro disco, «Lugar nenhum», da Grafonola Voadora & Napoleão Mira, trabalho que conta com o apoio do Município de Loulé. O envolvimento da comunidade escolar volta a ser uma tónica, quer com a realização da já aludida encomenda aos alunos de Imagem Animada da Universidade do Algarve, quer com uma forte aposta na dimensão formativa que vai destinar-se, não só aos profissionais da área e ao público em geral, como também aos alunos do ensino secundário das escolas do concelho (Loulé e Quarteira) e aos alunos da Universidade do Algarve e da ETIC_Algarve, numa estreita articulação com estas entidades que são parceiras do festival. Nesta medida, a Sonoscopia, Victor Gama, Rodrigo Carvalho (do projecto Boris Chimp 504) e a Companhia de Música ALGARVE INFORMATIVO #238

Teatral dinamizarão ao longo do festival diversos workshops nas áreas da música e do som experimentais. Por outro lado, no primeiro dia oficial do festival, o coletivo composto pelos Drumming GP com Joana Gama, Luís Fernandes e Pedro Maia vai apresentar uma versão comentada, especialmente dirigida à comunidade escolar, do espetáculo «Textures & Lines», que abre, nessa mesma noite, a série de concertos do Som Riscado. Está previsto ainda uma talk, no dia zero do festival (25 de março), como aconteceu em 2019, moderada pelo reconhecido crítico Rui Miguel Abreu (Rimas e Batidas), que 30


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vai juntar alguns dos protagonistas do evento numa conversa informal em torno do universo experimental e das relações entre música e imagem, a qual serve sobretudo como aperitivo para toda a programação performativa que se segue. As crianças e jovens, bem como as famílias, também não são esquecidas, estando previstas três instalações sonoras interativas em permanência ao longo do festival na cidade de Loulé: a «Phobos – Orquestra Robótica Disfuncional», da Sonoscopia, no Auditório do Convento do Espírito Santo; o «Pianoscópio», da Companhia de Música Teatral, no Auditório da Escola Secundária de Loulé; e a «Acruxon», de Victor Gama, no Palácio Gama Lobo. O programa integral do festival Som Riscado encontra-se disponível no website e página de Facebook do Cineteatro Louletano, e os bilhetes encontram-se à venda nas receções do Cineteatro e do Auditório do Solar da Música Nova, locais aderentes (Fnac, Worten, CTT e outros) e online em www.bol.pt. O festival conta com os seguintes parceiros institucionais: Universidade do Algarve (ESEC, FCHS e CIAC), Escola Secundária de Loulé, Escola Secundária de Quarteira, ETIC_Algarve e Loulé Criativo, tendo como media partners a RTP, Antena 1, Antena 3, Rimas e Batidas, RUA FM, Algarve Informativo e Barlavento. A autoria da identidade visual/imagem do festival Som Riscado está a cargo, desde 2019, do designer Hugo Silva, em parceria com a criativa Andreia Pintassilgo, ambos colaboradores da Câmara Municipal de Loulé . ALGARVE INFORMATIVO #238

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«LOULÉWOOD» DEIXOU LOULÉ AO RUBRO EM MAIS UM FANTÁSTICO CARNAVAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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cidade de Loulé transformou-se, nos dias 23, 24 e 25 de fevereiro, em «Louléwood», um mundo em que a sátira política, social e desportiva se fundiram com o tema do cinema para, durante três dias, ser a sala de visitas para muitos milhares de foliões que foram celebrar a alegria no mais antigo corso carnavalesco do país. As excelentes condições atmosféricas ajudaram a criar um ambiente único de animação, beleza e criatividade artística, bem evidente nos 14 carros alegóricos que integraram o desfile e nos cerca de 600 figurantes que este ano participaram no corso pela Avenida José da Costa Mealha. ALGARVE INFORMATIVO #238

A velha rivalidade entre Batman e Joker, o carismático Jack Sparrow de «Pirata das Caraíbas», o detetive mais conhecido em todo o mundo – Sherlock Holmes – ou os filmes inesquecíveis como «Titanic» ou «Avatar», apresentaram-se neste desfile subordinado ao tema «Era uma vez em… Louléwood» com protagonistas especiais. Figuras bem conhecidas da vida política nacional e mundial regressaram a Loulé para integrar este cartaz onde reinou o humor e os super-heróis da Marvel e da DC formaram o carro da «Geringonça2», com o «Super-Costa», o «Jerónimo-Thor» e a «Catarina Wonder Woman» a unirem forças para combater o inimigo comum – a crise 40


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que há uns anos se abateu sobre Portugal. O «Capitão Trampa» (Donald Tump), responsável em grande medida por parte significativa da poluição mundial, teve como principal opositor o líder da ONU, «António Gulkterres», o gigante verde que surgiu em Loulé como o grande defensor do futuro do Planeta. «Cristianic» foi uma sátira ao descalabro eleitoral do CDS e da sua líder Assunção Cristas nas últimas eleições legislativas, numa recriação ao naufrágio do navio britânico Titanic e que inspirou o filme protagonizado por Leonardo Di Caprio e Kate Winslet. O futebol também esteve presente, com Jorge Jesus, que em edições anteriores foi alvo da sátira do Carnaval de Loulé, a regressar ao desfile algarvio num carro que representou a aventura brasileira de JJ no comando técnico do Flamengo . 43

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SÃO BRÁS DE ALPORTEL VOLTOU A VIVER A FARRA CARNAVALESCA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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ão Brás de Alportel vivenciou mais um divertidíssimo Carnaval, no dia 23 de fevereiro, com o Desfile de Foliões e Carros Alegóricos a atrair milhares de pessoas à Avenida da Liberdade numa tarde de domingo cheia de calor e boa-disposição. A edição carnavalesca são-brasense arrancou no dia 21 de fevereiro, com o habitual Desfile de Carnaval das Crianças preparado por centenas de crianças e educadores das escolas do concelho, que a brincar abordaram a sustentabilidade no mar, no campo e na cidade. No sábado, à noite, o Futebol Clube Cabeça do Velho convidou a dar um pezinho de dança e a brincar ao Carnaval, contando ainda com um Concurso de Máscaras que já é uma tradição do Baile de Carnaval que anima esta zona serrana. No domingo à tarde, a Avenida da Liberdade transformou-se na «Avenida do ALGARVE INFORMATIVO #238

Carnaval», num contagiante corso com entrada gratuita que contou com a participação de vários carros alegóricos e centenas de figurantes, com a alegria, o bom-humor e a amizade a contagiarem a ampla assistência que enchia os dois lados da artéria principal da vila de São Brás de Alportel. Uma iniciativa promovida pelo Município de São Brás de Alportel, com a colaboração das associações locais e grupos informais. Na noite de segunda-feira, o Clube do Museu promoveu mais um divertido Baile de Carnaval, no Museu do Traje, e destaque ainda para os bailes no Restaurante «Zé Dias», onde as noites de sábado e segunda-feira são tradicionais pontos de encontro. O programa de Carnaval de São Brás de Alportel encerrou na Terça-Feira de Carnaval, com o Chá Dançante Especial de Carnaval que a Junta de Freguesia levou a cabo no Salão de Festas da Santa Casa da Misericórdia . 62


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MÃE NATUREZA DEU O MOTE PARA O CARNAVAL DE ALTURA EM 2020 Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Carnaval de Altura tem sido um dos mais divertidos do sotavento algarvio e este ano não foi exceção, com milhares de pessoas a acorrerem a esta freguesia do concelho de Castro Marim nos dias 22 e 23 de fevereiro. Há 19 anos que, com o esforço e o empenho da ALGARVE INFORMATIVO #238

população e associativismo locais, o corso vai para a rua e esta foi a edição da Mãe Natureza, que inspirou os 10 carros alegóricos e os 11 grupos de animação que representam as Juntas de Freguesia de Altura, Castro Marim e Odeleite, o grupo de Amigos do Bairro Quente, Grupo de Zumba, Amigos da Arrancada, Grupo de Amigos de Altura, o Clube Recreativo Alturense, a Associação Cegonha Branca e o Centro 80


de Cultura e Desporto da Câmara Municipal de Castro Marim. A 19.ª edição do Carnaval de Altura foi pautada por bastante cor, ritmo e alegria, numa festa para a qual também contribuíram os muitos foliões que se juntam espontaneamente ao cortejo. No sábado, depois do cortejo, o evento foi animado pelo «Duo Reflexo» e Nelson Santos e, no domingo, foi a vez de 81

aplaudir em palco todos os grupos que integraram o Carnaval de Altura, que tem a organização conjunta da Junta de Freguesia de Altura e da Câmara Municipal de Castro Marim e o apoio do Supermercado Corvo, contando ainda com a colaboração das Juntas de Freguesia de Castro Marim e Odeleite, Clube Recreativo Alturense, Casa do Povo do Azinhal e outras associações e comércios locais . ALGARVE INFORMATIVO #238


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FERRAGUDO CELEBROU CARNAVAL NO ANO EM QUE ASSINALA MEIO MILÉNIO DE EXISTÊNCIA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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o ano em que Ferragudo comemora cinco séculos de história, o Município de Lagoa preparou um Carnaval único e diferenciador para o dia 25 de fevereiro, com o muito público presente a poder apreciar e participar, simultaneamente, em diferentes manifestações e tradições de Carnaval. Isto porque o «Carnaval com História» misturou quatro manifestações diferentes de carnavais do mundo: o Entrudo Chocalheiro, os Gigantones e Cabeçudos, o Carnaval do Brasil e o Carnaval de Veneza. ALGARVE INFORMATIVO #238

Recentemente declarado Património Cultural Imaterial da Humanidade, o Entrudo Chocalheiro é um dos rituais transmontanos mais interessantes e enigmáticos que assinala o fim do ciclo do inverno. É o mais genuíno Carnaval português e onde se encontram os famosos caretos. Já os Gigantones e Cabeçudos desfilaram ao ritmo de «Zés Pereiras», composto por bombos, caixas e gaitas-de-foles, sendo um Carnaval característico do norte de Portugal. A simbologia desta tradição remete para rituais pagãos que foram adaptados ao cristianismo, mas esta tradição foi também exportada para 96


algumas regiões do Brasil, marcando presença no Carnaval de Pernambuco de Olinda (Recife), na cidade de Outro Preto, do estado de Minas Gerais e no Carnaval de Ribeirão da Ilha, em Florianópolis. O Carnaval de Rua do Rio de Janeiro é, talvez, o mais conhecido a nível mundial e as Escolas de Samba são as grandes protagonistas deste Carnaval. O primeiro certame oficial foi em 1932, no entanto, o maior crescimento deu-se nos últimos anos, entrando oficialmente para o

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Guinness Book como o maior Carnaval do mundo. Quanto ao Carnaval de Veneza, os primeiros registos datam de 1094, ganhando maior dimensão a partir do século XVII. Hoje em dia é considerado um dos mais famosos, belos e antigos do mundo, destacandose, sobretudo, pelas máscaras e figurinos que procuram recriar o estilo dos nobres, ou as representações teatrais que eternizaram personagens como os pierrots, colombinas e arlequins .

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PORTIMÃO VIVEU ESPÍRITO CARNAVALESCO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Município de Portimão/Filipe da Palma

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e 8 a 25 de fevereiro, Portimão voltou a brincar ao Carnaval com um vasto conjunto de iniciativas, desde os bailes e concursos de máscaras aos desfiles e cortejos, numa organização da Câmara de Portimão e das Juntas de Freguesia de Alvor, Mexilhoeira Grande e Portimão, com o importante ALGARVE INFORMATIVO #238

contributo do movimento associativo. No dia 21 de fevereiro aconteceu o grande desfile de abertura do programa, com a participação de centenas de crianças das escolas do município, devidamente mascaradas, e do Grupo Bomboémia, com concentração marcada para a Praça da República e passagem pela Rua Direita em direção ao Largo 1.º de Maio . 110


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LOULÉ ASSISTIU A MAIS UMA FANTÁSTICA PARÓDIA DE RICARDO NEVES-NEVES, DESTA VEZ SOBRE A RECONQUISTA DE OLIVENZA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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arece uma tarefa, não impossível, mas cada vez mais difícil, mas a verdade é que Ricardo Neves-Neves continua a superar-se a si mesmo em cada novo espetáculo que escreve e encena, desta feita numa coprodução do Cineteatro Louletano, Teatro do Eléctrico, Culturproject e São Luiz Teatro Municipal. E a nova parceria com o pianista e compositor Filipe Raposo, «A Reconquista de Olivenza», isso mesmo demonstrou, para gáudio dos muitos espetadores que esgotaram por completo o Cineteatro Louletano nos dias 21 e 22 de fevereiro. A história de Olivenza, parcela alentejana do território português ocupada em 1801 por Espanha, é aqui retratada num exercício fantasioso sobre o poder e a política, com um humor ALGARVE INFORMATIVO #238

descontrolado a roçar o absurdo de forma deliciosa e cruzando, de modo perfeito, a arte da representação com efeitos especiais que estamos habituados a ver apenas na sétima arte. E quem fica a ganhar, claro, é o público, que se deixa levar de bom-grado nesta aventura alucinante que mistura tantas personagens do mundo real e ficcionado. Porque a Rainha de Portugal e os filhos gémeos, herdeiros do trono, depressa chegam à conclusão que precisam de aliados poderosos para vencer os espanhóis nesta demanda. Assim, a irreverente comédia transporta-nos para a conhecida série manga do «Dragon Ball», em que é necessário roubar a sétima bola de cristal aos reis de Espanha para se conseguir invocar o dragão mágico que tornaria possível a reconquista de 118


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Olivenza. Mas, para isso, a Rainha de Portugal, os herdeiros, a Rainha-Mãe e a sua corte têm que viajar muito para angariar os tais aliados, viagens em que o choche-real é substituído por um daqueles buggies de golfe e os cavalos se transformam em trotinetes elétricas. E que loucura que é assistir a esta autêntica procissão em palco, sempre comandados pelo general das tropas portuguesas, o célebre Bubu do Dragon Ball. À comitiva juntam-se um Califa, uma enviada especial chinesa (a Chun Li do jogo de computador Street Fighter), a agente secreta inglesa Mary Poppins e até Nossas Senhoras de Fátima, Guadalupe e Lourdes, que leem tarot, mapas astrais e búzios para tentarem desvendar o que o futuro reserva para a Coroa Portuguesa. Incríveis as cenas entre este tridente sagrado. Pelo meio temos uma viagem pelos mares num galeão em cujo leme vai um pescador de Quarteira e muitas lutas insanas entre portugueses e espanhóis ALGARVE INFORMATIVO #238

em que, fruto de imagens projetadas em cenários no palco, nos vemos mergulhados nos combates do jogo Street Fighter. Apesar de tantos aliados, a tarefa de roubar a sétima bola de cristal parece uma missão impossível de concretizar, até que Portugal recebe a ajuda improvável dos Infantes de Espanha, que, entretanto, se deixaram apaixonar pelos príncipes herdeiros de Portugal. Já depois do sacrifício nobre de Bubu pela nobre causa, a missão é cumprida, reúnem-se as sete bolas de cristal, invoca-se o dragão mágico e Olivenza volta a ser território português. Chega assim ao fim mais uma extraordinária obra-prima de Ricardo Neves-Neves, para quem Portugal já começa a ser pequeno demais para tanto talento, loucura e criatividade. E ficamos todos nós à espera, com enorme ansiedade, pela nova extravagância do dramaturgo e encenador que, imagine-se, até é algarvio, de Quarteira . 120


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OPINIÃO Do policial em mim Mirian Tavares (Professora) odas as noites vou para a cama com um policial. Não consigo resistir ao charme daqueles a quem Edmund Wilson em tempos chamou de: the boys in the back room ou the poets of tabloide murder. Onde reside o seu fascínio? O romance policial é um palimpsesto: cada nova camada de texto esconde outro que acaba por reaparecer, cedo ou tarde. Quando somos consumidores compulsivos, livro após livro, encontramos quase sempre as mesmas histórias, um pouco mais ou menos duras, um pouco melhor ou pior escritas. Mas é reconfortante saber que haverá uma solução para o enigma, por absurdas que sejam, as respostas serão dadas. Claro que nem sempre é assim. Há aqueles cujos detetives só buscam e povoam a nossa mente de incertezas. Por isso é preciso distinguir os romances policiais entre si porque, se em muitos deles conseguimos identificar toda a trama a partir das primeiras páginas, há outros que possuem uma estrutura labiríntica e convidam os incautos leitores (afinal policial não é só entretenimento?) a entrar numa atmosfera de claustrofobia e terror. A grande dama Agatha Christie criou um subgénero dentro do romance ALGARVE INFORMATIVO #238

policial onde a principal arma utilizada pelos seus detectives era o cérebro. Hercule Poirot, a sua mais conhecida criatura, é um homem idiossincrático suas descobertas são frutos de um raciocínio ágil e de um grande conhecimento da alma humana. (Sempre que possível, pitadas de um pequeno romance – a dama do policial tinha um lado «Barbara Cartland»). Seu estilo deixou seguidores: P. D. James, Margery Allingham, Dorothy L. Sayers, Ngaio Marsh. Também não podemos nos esquecer de Nero Wolf, o gordo detective que possui um braço ativo, um secretário, ajudante, faz-tudo e incorrigível sedutor, que narra as suas aventuras (um pouco como o elementar Watson). Poderíamos considerá-los herdeiros de Conan Doyle, criador do inconfundível Sherlock Holmes, que resolvia todos os mistérios usando a lógica e a dedução (armas científicas, pois aqueles eram tempos positivistas) - um semioticista avant la lettre (como diria o nosso amigo Umberto Eco). Do outro lado temos os que sujam as mãos, que andam nas ruas escuras e que não tremem diante do perigo real. Que são profundamente ambíguos, de passado e/ou caráter muitas vezes duvidoso, mas com um inexpugnável código de honra. Estes são herdeiros de Dashiell Hammet, ele mesmo um ex-detective privado que, nos anos 20 136


do séc. XX, cria personagens que depois vão frequentar nosso imaginário vestidos de trench coat e com a cara do Humphrey Bogart (graças ao chamado cinema noir, dos anos 40 e 50 - filmes inspirados, adaptados, recriados a partir dos romances de Hammet e de seus seguidores). Os detectives hard-boiled têm ainda uma origem mais longínqua - Edgar Allan Poe que nos trouxe as ruas estreitas, os becos escuros e um assassino sanguinário na lendária rua Morgue. Hammet criou Sam Spade e logo a seguir aparece, dentre muitos, o Marlowe de Raymond Chandler ou o Mike Hammer de Mickey Spillane. Há ainda autores como James Cain, David Goodis, Boris Vian, Patricia Highsmith e Ruth Rendell (para citar só alguns) que mesmo sem a figura central de um detective, escreveram histórias com um clima, uma textura, uma nota mais ácida ou feroz retirada das «lições» de Hammet.

tinta, ao novo desenho e, de vez em quando, em pequenos bocados, acaba por se revelar. É um sentimento que possui a tessitura daquela pintura original, que se esmaece, mas não desaparece completamente. A minha relação com o romance policial é quase amorosa, por isso me é difícil a distância crítica. Lê-los é um processo constante de retorno – é como visitar um antigo conhecido que me faz evocar o passado. Mesmo sem a sacrossanta neutralidade científica posso assegurar que há vida além do vício: como em toda literatura, há bons e maus escritores, há livros grandes e pequenos. E há o prazer de sua companhia .

Foto: Victor Azevedo

A crítica literária, seguidora de Edmund Wilson, costuma classificar o romance policial de subliteratura. Quando vou para a cama com um policial confesso que esta é uma questão que não me passa sequer pela cabeça. Mesmo porque só quem não leu, por exemplo, Tales of Natural and Unnatural Catastrophes da Highsmith, pode crer que o romance policial é subqualquer-coisa destinado apenas ao entretenimento. A escritora Lilian Hellman, que viveu muitos anos com Dashiell Hammet, criou uma palavra para falar de suas lembranças: pentimento. É como uma pintura antiga que, com o tempo, vai perdendo as cores. Depois pintamos outra coisa por cima. Mas aquilo que estava lá em baixo não desaparece totalmente. Resiste a nova camada de 137

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OPINIÃO Procurar a página que nos falta Adília César (Escritora) “1 O começo de um livro é precioso. Muitos começos são preciosíssimos. Mas breve é o começo de um livro – mantém o começo prosseguindo. Quando este se prologa, um livro seguinte se inicia. Basta esperar que a decisão de intimidade se pronuncie. Vou chamar-lhe fio _____ linha, confiança, crédito, tecido”. Maria Gabriela Llansol, in O Começo de Um Livro É Precioso

dom poético é uma inquietação prolongada no tempo real e no espaço imaginário. Por um lado, o tempo em que vive e escreve o poeta; por outro, o espaço geográfico e metafórico que o poeta ainda não conhece e sobre o qual escreve. Nesta luta entre o real e o imaginário tudo pode acontecer: a pandemia melancólica, o paradigma da contemplação do desastre sentimental, o desfile dos dramas pessoais e sociais. Aí se inscreve a imagem do escrito e do lido, o poema por descobrir; o poema que nos atrai e tantas vezes nos atraiçoa na intimidade que abrimos à lança de cada recomeço – na escrita e na leitura. O poema é uma casa – o caos doméstico do pensamento íntimo, um entra-e-sai, a fuga e a recentração. Um poema chama o outro poema ao longo de uma linha, de um caminho singular, do princípio para o fim ou do fim para o ALGARVE INFORMATIVO #238

princípio. A imagem do silêncio que o poeta constrói à volta das palavras e dos espaços entre as palavras escreve-se nos olhos do leitor, logo, a impressão causada pelo poema será sempre uma imagem das intensidades pensantes do imaginário de ambos – escrevente e ledor – numa tentativa de mútua nãoanulação das intenções e das expectativas perante o texto poético em cada começo, e também face às páginas ainda não habitadas, as quais podem ser recomeços preciosos, respirações de escuta, procura e entendimento. Entrar e sair do poema para voltar a entrar. Quando e onde é que a seta do poema nos atinge? No início, meio ou fim? Nas palavras ou nos espaços em branco? Depois de quantos recomeços? E se retirarmos todos os espaços vazios e permitirmos ao texto a mancha contínua de letras nas páginas do livro, como encontraremos o mapa da página que nos falta, aquela que fala com a nossa intimidade? 138


“Todas as coisas já estão ditas, mas como ninguém escuta é preciso recomeçar sempre”, disse o escritor francês André Gide. Na verdade, tudo é um recomeço inevitável: a noite a seguir ao dia, o clímax a seguir ao desejo, as lágrimas a seguir ao luto, o nojo a seguir à violência. E depois vamos à nossa vida. É preciso escutar a murmúrio das palavras no meio de todo este ruído perpetuado pelas línguas impostoras. 139

Levar o caos criativo a esta virtual e falsa ordem de lugares comuns. Pensar, indagar, recomeçar através das palavras, nem que seja apenas um poema onde a pulsão do poeta nos remete ao lugar que almejamos: o plano intencional da estética e da arte como intervenção social, um tempo real e um lugar imaginário como recomeços preciosos. A decisão da intimidade como descoberta de um outro eu . ALGARVE INFORMATIVO #238


OPINIÃO Do Reboliço #74 Ana Isabel Soares (Professora) e não havia gatos no Moinho Grande...? Senhores, parecia não haver senão gatos por ali. Ao menos, era a maioria da população na escala rebolicina. Na outra, a dos serzinhos mais mínimos ainda, a das aranhas, mosquedo, vespame e formigas, não entrava o Reboliço em contas, que eram eles incontáveis. Mas o espaço por aqueles vários – ópodes ocupado era, como eles, minúsculo; logo, insignificante. Agora gatos – isso sim. Só divergiam da realeza dos animais em serem discretos. Deixavam-se ver em ocasiões raras e muito certas, sempre, mas sempre relacionadas com comida. Quando a mulher do moleiro, em tendo numerosos os restos para os gatos, e estorvando-lhe estes restos o laborar na cozinha, lhes ia encher a gamela e os chamava, “Bichanos, bichanos, bichanos”, passava mal um minuto de ela se afastar do lugar do banquete e eles acudiam (um bando largo, nunca soube quantos: se lhes queria contar as patas e dividir por quatro para chegar a um número, confundia-se ao fim das dezenas, e desistia, que eles também, de rápidos, mal abocanhavam uma espinha comprida, um bordo de pão molhado, o vestígio de uma tira de entrecosto, dali se escapuliam, vazavam, sumiam). Nesta ALGARVE INFORMATIVO #238

circunstância, era o grupo que aparecia: mais do que bando, uma manada de gatos, tal era o estampido que, de numerosas, faziam as patas no chão. Era uma mole de gatos, de riscas cinzentas, castanhas, brancas mais sujas, preto pintalgado, um arco-íris de tons na forma repetida de tronco ondulado com dois extremos: um redondinho e enfeitado por duas orelhas apontadas ao céu, outro, ao céu apontado, a antena da cauda em que se diluía o riscado de tons do resto. Doutra vezes, mesmo não sendo chamados, surgiam em doses individuais: um agora ao lado do vaso das camélias, outro ali, atrás do tronco da loureira; ainda outros dois por acaso se ajuntavam no degrau de baixo das escadas do socalco do moinho. Era quando lhes cheirava a açorda. Saía da casa – mesmo de porta fechada –, em espirais que quase só os gatos tinham a capacidade de ver, o fumo. Saía do tacho, vinha da água em que fervia a posta de bacalhau, o rabo de uma pescada, ou outra piscícola presa morta, e vinham os gatos ao que não era para eles senão em versão de ruína, espinha abandonada, caldo com o desprezo de uma folha de coentro mal pisada e, por isso, esquecida. Vinham na esperança, os gatos, ao cheiro do peixe. (Gato isolado, nem sempre o mesmo, mas sempre sozinho, era o que o 140


Foto: Vasco Célio

Reboliço via nos instantes a seguir de a velhota despejar na tal gamela os restos ainda mornos do almoço: não o ouvia chegar, não o sentia aproximar-se: quando dava por ele, estava ali, parecido a um paxá ou a um buda gordo, bunda assente numa das pedras desiguais que amparavam a água que escorria do tanque onde a mulher do moleiro lavava, uma das patas da frente da mesma 141

maneira fixada, mas a outra patinha – a outra levantada, uma colher almofadinha em operação de lambedela higiénica, com a lixa da língua cor de rosa a raspá-la como se fosse o fundo da tigela de onde se fartara). * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. ALGARVE INFORMATIVO #238


OPINIÃO Até que enfim! David Martins (Diretor de Marketing e Alojamento) em conta no Google? Já ouviu falar no «My Activity», ou seja, o seu histórico nesse motor de pesquisas digital? Sabe que as suas pesquisas e os seus movimentos são todos registados se der autorização, o que muitas vezes acontece sem que tenha perfeita noção disso? Nunca notou que após efetuar uma qualquer pesquisa, seguidamente, ao aceder a outras páginas, a informação que esteve a pesquisar momentos antes, ou mesmo dias antes, aparece como que de magia se tratasse? Nunca sentiu que alguém estava a ouvir a sua conversa, a seguir as suas comunicações ou mesmo a ler o que vai na sua mente? Vem isto a propósito de constatar que vivemos num mundo em que os meios digitais, mais abrangentes e mais disponíveis do que nunca, permitem também que outras entidades, para fins comerciais ou outras razões não identificadas, controlem a nossa ação enquanto indivíduos, sendo que por vezes nem damos conta do que está a acontecer. Hoje é possível a quase toda a gente saber onde estamos e o que estamos a fazer, bastando para isso que ALGARVE INFORMATIVO #238

utilizemos um cartão de débito ou crédito, um telemóvel, as redes sociais, ou mesmo somente porque estamos a passear tranquilamente numa qualquer rua onde várias câmaras privadas vão registando os nossos passos... No início do presente mês de fevereiro foi dada nota pública que a baixa da cidade de Olhão vai passar a estar vigiada por 26 câmaras com captação e gravação de som, assim como estão em curso os processos das cidades de Albufeira, Faro e Portimão. Até que enfim! Há mais de duas décadas que oiço falar e defendo esta solução para que seja possível melhorar a segurança das pessoas e dos bens na nossa região, mas muitas burocracias e preocupações exageradas, que pareciam e parecem paradoxais face à realidade dos últimos anos, têm impedido estes processos de avançar. Apesar de ser um defensor da liberdade individual e da proteção de dados, sempre tive a consciência que, para benefício comum, devemos, por vezes, e sem que isso nos prejudique de sobremaneira, ceder alguns direitos individuais em proveito de todos. O caso da videovigilância controlada parece-me ser um caso exemplar. 142


Recordo-me que, aquando da minha estada em Inglaterra, no ano de 1999/2000, onde este sistema já existia há vários anos, assisti a um episódio ocorrido dentro de um bar que frequentava e do seu desfecho adequado. Sem dar conta como, por que razão, ou mesmo com que responsabilidade de cada um dos intervenientes, testemunhei as autoridades policiais a entrarem dentro do mesmo local, instantes após o início de uma escaramuça, e deter os dois intervenientes. Não perderam tempo a interrogar os sujeitos, mas sim a removêlos de imediato do local onde tinha decorrido a ação, com manifesto agrado e tranquilidade para todos os presentes. Pensei então: quem me dera que esta situação se passasse em Portugal!? Digo isto porque vivi, enquanto familiar de proprietários de um estabelecimento comercial, um episódio em que após denuncia sobre um incidente num café, as autoridades apareceram meia hora depois com um «ruidoso» jipe, cujo som se ouvia a quilómetros, e que quando chegaram ao local a ação tomada foi discutir durante 30 minutos com os dois sujeitos e não chegarem a nenhuma 143

conclusão, não se traduzindo, portanto, numa ação efetiva. Sem dúvida que, com estes novos meios disponíveis, combater a criminalidade e, não menos importante, preveni-la, será mais fácil e eficaz, o que permitirá reforçar o caráter seguro da nossa região e de proteger todos aqueles que aqui vivem ou que nos visitam. Tudo isto sem que, no conjunto, cada indivíduo exponha mais a sua vida pessoal do que já está exposta, e a bem da liberdade e responsabilidade de todos . ALGARVE INFORMATIVO #238


OPINIÃO A revolução da educação online Fábio Jesuíno (Empresário) acesso à educação é fundamental para o desenvolvimento da sociedade, garantindo o seu progresso científico, cultural e tecnológico, algo que a educação online veio revolucionar. A educação online tem evoluído muito nos últimos anos, tornando-se cada vez mais acessível, principalmente para quem não tem alternativas devido à sua localização ou aos seus baixos rendimentos financeiros, criando oportunidades de ensino para todos, promovendo uma democratização do conhecimento sem precedentes. O desenvolvimento tecnológico e o crescimento da Internet têm sido os grandes impulsionadores da educação online, tornando-a mais interativa e aumentando a sua utilização. Esse fator fez com que seja uma das principais tendências nos próximos anos. O estudo criado pela empresa de cibersegurança Kaspersky Lab divulgado em 2018, aponta que 40 por cento dos estudantes universitários estão a preparar-se para profissões que ainda não existem, pois as profissões atuais vão mudar radicalmente ao longo dos próximos 20 anos. Estes dados apontam ALGARVE INFORMATIVO #238

claramente para a importância de uma aprendizagem ao longo da vida como um elemento fundamental de adaptação e melhoria das suas competências, sendo a educação online decisiva neste processo. Atualmente, devido ao coronavírus, a China teve de fechar escolas, deixando sem aulas mais de 180 milhões de estudantes, um problema que foi solucionado rapidamente pelo Ministério da Educação chinês, que lançou a maior plataforma de educação online do mundo para transmitir aulas de várias disciplinas, possibilitando o acesso a conteúdos atualizados pelos professores em permanência. A plataforma educacional chinesa, que nasceu em plena crise, envolveu o governo e grandes empresas chinesas, garante suporte até 50 milhões de alunos online em simultâneo, um feito surpreendente em todo o mundo, destacando a importância que a China dá a educação. Vivemos em plena sociedade do conhecimento, num mundo cada vez mais conectado. O ensino vai adaptar-se e evoluir seguindo uma forte componente online, introduzindo vários desafios às instituições de ensino e muitas oportunidades em termos de inovação, revolucionado a forma como os cursos são dados e como os estudantes aprendem . 144


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OPINIÃO Lagoa dos Salgados, uma história à portuguesa João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) stávamos em 1998. Nesse ano visitei pela primeira vez a zona húmida de Vale de Parra, também apelidada de «Sapais de Pêra», hoje amplamente conhecida como Lagoa dos Salgados. Foi através de um ornitólogo amigo, o José Manuel Pereira, que descobri aquele local e instantaneamente fiquei impressionado com a rica presença de aves. Admirei, em particular, o facto de ainda existir naquele litoral saturado de Albufeira e Armação de Pera um pequeno troço onde a tranquilidade e a natureza mantinham especial dominância. Foi o início de uma rotina de visitação que viria a imprimir naquele sítio e que se prolongaria por vários anos, permitindome conhecer a fundo os seus valores e horrores. Em 1999, no seio da tese de final de curso em Engenharia do Ambiente, iniciei um estudo naquele local com o objectivo de apontar medidas para a sua gestão sustentável e a conservação da respectiva avifauna. O ímpeto que tinha em organizar e produzir informação sobre a ocorrência de aves naquele local ALGARVE INFORMATIVO #238

estava em par com o de procurar soluções para os (muitos) problemas que ali existiam. Nesse e nos anos seguintes, foram várias as dezenas de visitas ali realizadas para fazer contagens, medições, fotografia, entrevistas e contactos com moradores, visitantes e agentes locais. A informação foi sendo recolhida e alguns resultados práticos surgiram: em 2000 conseguiu-se incluir aquele local numa área interdita à caça, prática que até então ali se praticava intensivamente em regime livre. Bastava ir ao local a um qualquer domingo ou feriado e constatar o tremendo impacto que tal actividade exercia naquele sítio. O fim da prática cinegética foi imediatamente acompanhado de uma crescente presença de aves, incluindo muitas que até então nunca ali paravam, nomeadamente o popular Flamingo, hoje frequente. Mais tarde, conseguiu-se incluir aquele espaço na rede nacional de IBA’s (Important Bird Area), estatuto sem poder vinculativo, mas de relevância conservacionista, atribuído pela organização mundial Birdlife, 146


representada em Portugal pela SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves). A Universidade do Algarve, por seu lado, desenvolveu, em 2001, um vasto estudo integrado sobre os valores naturais da Praia Grande, abrangendo toda a área entre a Foz da Ribeira de Alcantarilha, a Lagoa dos Salgados e os campos agrícolas a Norte. Os dados trouxeram a público mais informações sobre o valor biológico e geológico daquele espaço, considerando mesmo a necessidade de atribuir um estatuto de proteção nacional e internacional. A Lagoa dos Salgados foi, entretanto, ganhando uma popularidade internacional ímpar, como poucas zonas no território nacional. Se nos anos 80 apenas alguns investigadores da Associação A Rocha ali tinham realizado visitas e censos – ainda assim denotando a especial riqueza do sítio – a partir dos anos 2000 foram muitos os ornitólogos britânicos, alemães ou portugueses a publicar artigos, notícias e alertas internacionais sobre a importância singular daquela lagoa, apelando em comum à sua protecção. Muitos submeteram pedidos junto de organizações internacionais de 147

conservação da natureza ou dos organismos públicos com competências nessa área. O peso de tais missivas foi tal, que em 2002 a Birdlife Internacional envolveu-se activamente neste assunto, tendo considerado a protecção da Lagoa dos Salgados uma das suas prioridades de actuação a nível europeu. Nessa ALGARVE INFORMATIVO #238


altura, um outro gigante europeu na área da conservação interveio neste assunto: a Royal Society for Protection of Birds (RSPB), uma das maiores organizações de ambiente do mundo. Através desta, especialistas em hidrodinâmica e gestão de zonas húmidas para aves, visitaram o local, tendo produzido propostas concretas a aplicar ao mesmo. As associações SPEA e Almargem, sempre muito activas e empenhadas neste processo, realizaram ao longo de vários anos seminários, conferências, palestras, dezenas de saídas de campo, acções pedagógicas e de sensibilização, queixas e outros protestos, com o objectivo de garantir a salvaguarda da Lagoa dos Salgados e reduzir os problemas ali decorrentes. Alguns resultados foram felizmente conseguidos: a melhoria da qualidade da ALGARVE INFORMATIVO #238

água afluente à lagoa, por via da nova ETAR intermunicipal de Albufeira, mudou drasticamente para melhor o ambiente aquático da lagoa; a construção de um dique a meio da zona húmida, com o objectivo de manter uma massa de água permanente, veio garantir estabilidade no habitat de diversas espécies de aves aquáticas ameaçadas. Porém, uma parte muito relevante dos problemas mantêm-se activos, com repercussões graves na presença de aves na lagoa, no seu sucesso reprodutor e na qualidade ambiental de todo o ecossistema. Sem qualquer estatuto de protecção, a zona está entregue ao abandono e a todo um cardápio de actividades humanas impactantes, incluindo uma perturbação permanente de todo tipo, vandalismo, caça ilegal, deposição de lixo, entre outras. Recentemente, numa nova tentativa de alertar e pressionar as autoridades governamentais para a necessidade de agirem em prole de um futuro sustentado para esta zona húmida, a Associação Almargem coordenou um novo estudo de caracterização dos valores biológicos da Lagoa dos Salgados. Sobressaiu, novamente, a 148


inquestionável importância do local e o cumprimento de vários critérios internacionais que exigem a sua proteção legal. Mas até agora... A Lagoa dos Salgados é um daqueles locais que em outro qualquer país europeu estaria protegido e gerido pelo alto valor que guarda do ponto de vista natural, ambiental, turístico, científico e pedagógico. Excepto, pois, em Portugal. Aqui está ao abandono, sujeito a uma degradação diária, a uma perturbação constante e a um esquecimento cíclico. Lembrar esta zona é recordar um oceano de factos e incongruências que ninguém quer resolver; é recordar uma maré de apelos gerada ao longo de anos para exigir a sua protecção, sem que algo tenha legalmente acontecido; é recordar um rol de problemas, a começar na ausência total de gestão – por sinal, propositadamente mantida – e terminando naquele que será o ponto final na ilusão criada por muitos, como eu, em ali ver criada uma área protegida local única no país: o mega projecto imobiliário – disfarçado de turístico – da Praia Grande. Este irá, definitivamente, transformar toda aquela porção de território em algo já conhecido noutras partes do 149

Algarve, onde o betão e o relvado se juntam na destruição da nossa paisagem e dos nossos valores naturais. A inversão deste cenário é ainda possível, assim quero acreditar. Mas para tal será preciso uma manifesta e corajosa vontade de agir por parte das entidades competentes. Esperemos que tal aconteça. Caso contrário, resta-nos registar mais uma «bela» história tipicamente portuguesa, porventura semelhante a outras tantas espalhadas pelo país, que em nada dignifica o nosso compromisso para com o tão falado «desenvolvimento sustentado», nem para com as metas internacionais de reduzir a perda de biodiversidade ou os efeitos das alterações climáticas que tanto ouvimos mencionar nos discursos políticos . Fotos: Georg Schreier

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Paulo Águas, Leonor Beleza, Vítor Aleixo e Nuno Marques

ABC E FUNDAÇÃO CHAMPALIMAUD UNEM ESFORÇOS PARA A MELHORIA DA FORMAÇÃO, INVESTIGAÇÃO E PRESTAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Centro Académico de Investigação e Formação Biomédica do Algarve (ABC) e a Fundação Champalimaud assinaram, no dia 20 de fevereiro, no Palácio Gama Lobo, em Loulé, um protocolo de colaboração com o objetivo de cooperarem pela melhoria da ALGARVE INFORMATIVO #238

formação e especialização de profissionais de saúde, da investigação clínica e da prestação de cuidados, designadamente à população da região do Algarve, através dos polos do ABC no concelho de Loulé. No âmbito desta parceria, arrancam já em 2020 vários cursos de pós-graduação organizados pelo ABC e dirigidos aos investigadores da Fundação Champalimaud. “Não

tenho palavras para exprimir o 152


sentimento que experimento neste momento. Esta é mais uma «pedrinha» no edifício ambicioso que o Município de Loulé está a levar a cabo, conjuntamente com várias entidades, um projeto muito específico orientado para a investigação científica, para a inovação e para a diversificação da base económica do Algarve. Não é hábito a sociedade civil, através dos municípios, associarem-se a estes projetos de nível científico, mas somos uma alavanca importante para este projeto do ABC. Espero que o trabalho das duas instituições decorra de forma bastante profícua e que ambas ganhem com esta colaboração, porque não tenho 153

dúvida de que o território vai sair beneficiado com este momento”, realçou Vítor Aleixo, após a assinatura dos dois protocolos entre o ABC e a Fundação Champalimaud. Nuno Marques, Presidente do ABC – Algarve Biomedical Center, salientou igualmente a importância do estabelecimento de parcerias e colaborações no mundo global em que vivemos, por permitir o avanço adequado da ciência e da saúde. “O

ABC é, desde a sua criação, um consórcio entre a Universidade do Algarve – através do seu Departamento de Ciências Biomédicas e de Medicina e do CBMR – e o Centro Hospitalar Universitário do Algarve. Representar estas instituições é ALGARVE INFORMATIVO #238


uma honra, mas também um enorme desafio, e desde o início que temos por missão proporcionar condições de investigação de ponta, uma formação adequada aos profissionais de saúde e uma melhoria da qualidade dos cuidados de saúde”, recordou Nuno Marques. “A globalidade do mundo da ciência e a velocidade a que se fazem novas descobertas, a que temos de fazer a formação contínua dos profissionais e a que temos que proporcionar à população esses mesmos benefícios, faz com que só o estabelecimento de parcerias estratégicas permitam atingir estes objetivos”, defendeu o presidente do ABC. ALGARVE INFORMATIVO #238

Parceria estratégica estabeleceu o Algarve Biomedical Center com o Município de Loulé, assumindo a partilha de uma visão e de um caminho conjunto em prol da inovação e da melhoria da prestação dos cuidados de saúde no Algarve, sendo que o projeto ABC Loulé Active Life, Health &Research proporcionará as condições adequadas para a investigação e formação, mas também para que a população tenha acesso a essa mesma inovação. “Este projeto apresenta

uma solidez tal que levou ao envolvimento de várias entidades nacionais públicas do campo da saúde, cada uma delas com projetos a serem deslocalizados nas áreas em que são líderes, quer em termos nacionais, como 154


internacionais. Esta aposta do ABC e da Câmara Municipal de Loulé está já a ter grande impacto na região e no país, como se verificou há poucos meses com a implementação da maior rede de desfibrilação automática externa neste concelho, a criação de um Centro de Investigação e de Formação em Medicina de Catástrofe e o recente anúncio de mais uma estrutura completamente inovadora em Portugal, ou seja, o Centro de Saúde Universitário em Loulé”, destacou Nuno Marques,

Champalimaud tem como missão a investigação em áreas de ponta e tem como prioridade estimular descobertas que beneficiem as pessoas, tendo-se tornado, num curto espaço de tempo, numa das instituições com maior prestígio nesta área no país, na Europa e no Mundo. Aposta, tal como o ABC, na metodologia translacional, isto é, em estabelecer uma ligação direta da investigação mais básica para a parte clínica dos nossos doentes”, enalteceu.

voltando a considerar como essencial o estabelecimento de parcerias com entidades que partilham da mesma visão e estratégia. “A Fundação

Os protocolos assinados têm uma aplicação imediata no que toca à investigação e Nuno Marques acredita que esta ligação vai potenciar o crescimento e desenvolvimento

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exponencial das duas instituições e a melhoria dos cuidados de saúde prestados aos algarvios e aos portugueses. Desejo partilhado pela Presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza, confirmando que é na ligação entre a investigação nas áreas biomédicas e a vertente clínica que a instituição encontra a sua razão fundamental de existir. “A Fundação

Champalimaud faz as duas coisas simultaneamente porque acreditamos, de uma maneira bastante intensa, que, da ligação entre as duas realidades e, sobretudo, do relacionamento entre os protagonistas dos dois lados, saem e sairão progressos importantes para que a luta contra a doença, quer na prevenção como no tratamento, tenha maiores êxitos”, afirmou a antiga Ministra da Saúde. Leonor Beleza sabe, porém, que esta ligação entre quem faz investigação e quem trata efetivamente doentes, não é, na prática, fácil, e que encontra dificuldades nas diferentes culturas dos protagonistas. “Os tempos e maneiras

de olhar para a realidade são diferentes, às vezes os interesses imediatos também são diferentes, as práticas e linguagens são distintas, há muitas coisas que dividem e separam estes «dois lados». Mas sabemos que deve ser apenas um lado e temos lançado vários instrumentos na Fundação ALGARVE INFORMATIVO #238

Champalimaud para vencer esta distância e permitir a formação de uma cultura que ultrapasse esta dificuldade”, indicou, reconhecendo no ABC uma instituição que pratica essa mesma filosofia, que compreende o seu alcance e que está interessada em avançar nesta proximidade.

“Entendemos que era preciso irmos um bocadinho mais além no âmbito do conhecimento, da informação e da formação das pessoas e encontramos, na professora Isabel Palmeirim, uma parceira de compreensão da realidade das coisas e com um trabalho feito no terreno, de modo que esta colaboração entre as duas instituições pode ajudar a materializar esta ponte entre profissionais de áreas teoricamente diferentes, mas que confluem para que consigamos que os cuidados de saúde sejam melhores no futuro. Queremos que estejam ao alcance dos cientistas e dos médicos ferramentas que lhes permitam compreender o que o «outro lado» significa”, salientou Leonor Beleza. A presidente da Fundação Champalimaud elogiou ainda a Universidade do Algarve pela sua forma muito particular de ensinar Medicina, seja nas metodologias utilizadas, como nas formas de recrutamento dos estudantes. “Em 156


consequência disso, está numa situação particularmente importante para nos ajudar neste contexto. Ambicionamos fazer mais coisas em comum, na formação de profissionais e da investigação, e é esse caminho que foi agora aberto, formalmente, com a assinatura destes dois protocolos”, concluiu Leonor Beleza. Já Paulo Águas, Reitor da Universidade do Algarve, lembrou que aproximar mais os cientistas dos médicos é o que está, no fundo, na génese do nascimento dos centros académicos clínicos. “No caso do Algarve, creio

que as coisas têm corrido muito bem e a ligação da Universidade do Algarve ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve permitiu 157

alguma celeridade e agilidade na criação desse importante instrumento que visa, na essência, melhorar os cuidados de saúde prestados à população. Há pouco mais de 10 anos que começamos a receber os primeiros alunos para Medicina, temos noção que ainda somos uma «criança», mas estamos no caminho certo. Poderemos assumir um papel de liderança na investigação, desenvolver práticas que depois serão seguidas pelos outros centros académicos, mas precisamos ser também humildes para aprender com os outros” .

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PORTUGAL VENCEU ALBÂNIA EM ALBUFEIRA, NUM JOGO DE BASQUETEBOL MUITO EMOTIVO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Seleção Nacional Masculina de Basquetebol venceu a sua congénere da Albânia, no dia 20 de fevereiro, no Pavilhão Municipal de Albufeira, num jogo carregado de emoção e com bastante público a apoiar a equipa nacional. Portugal triunfou por 70-62 na primeira

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jornada do Grupo A da primeira ronda de pré-qualificação europeia para o Mundial de Basquetebol de 2023, viajando logo de seguida para Minsk para defrontar a Bielorrússia, que bateu o Chipre por 97-41. A partida de Albufeira desenrolou-se com bastante dificuldade para a Seleção Nacional, que chegou a estar a perder por 2-16 no primeiro quarto, que

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terminou com o parcial de 9-18. Uma enorme recuperação nos minutos seguintes permitiu que o intervalo chegasse com um empate a 31 pontos, com a equipa das Quinas a saber que terá que ficar nos dois primeiros lugares do agrupamento para garantir um lugar na segunda ronda de pré-qualificação. O terceiro quarto foi de ascendente lusitano, mas os albaneses voltaram a ter alguma supremacia e registou-se nova igualdade a 62 pontos quando faltava pouco mais de um minuto para o término do jogo. Mas o basquetebol é isso mesmo, emoções até ao fim, e os portugueses alcançaram um parcial de 8-0, com seis pontos de Rafael Lisboa, na sua estreia pelos seniores, que levaram o Pavilhão Desportivo de Albufeira ao rubro. Neste jogo da primeira ronda de pré161

qualificação europeia para o Mundial de 2023, os grandes destaques da Seleção Nacional vão para Cláudio Fonseca, Diogo Ventura e Rafael Lisboa, numa equipa onde se encontravam também os atletas dos dois clubes da terra – Clube de Basquete de Albufeira e Imortal Basket Clube. “O basquetebol é uma das

modalidades que mais se tem destacado em Albufeira. Com mais de 500 praticantes e dois clubes no concelho, acolhemos também todos os anos a Festa do Basquetebol Juvenil, que durante vários dias transforma Albufeira na capital do Basquetebol, da Juventude e do Fairplay”, destacou o presidente da Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo . ALGARVE INFORMATIVO #238


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #238

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