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ALGARVE INFORMATIVO 30 de setembro, 2017

O MUNDO MÁGICO DAS MARIONETAS DIA MUNDIAL DO TURISMO | DONA LUCIANA «ATACOU» EM LOULÉ 1 ALGARVE INFORMATIVO #126 ASSOCIAÇÃO LIVRE DE FOTÓGRAFOS DO ALGARVE | REVISTA LITERÁRIA LÓGOS


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CONTEÚDOS ARTIGOS 10 - Atualidade 16 - Ano turístico em análise 26 - A Noite da Dona Luciana 34 - O mundo mágico das marionetas 46 - ALFA 54- LÓGOS - Biblioteca do Tempo 76 - Atualidade

OPINIÃO 60 - Paulo Cunha 62 - Paulo Bernardo 64 - Mirian Tavares 66 - Adília César 68 - Antónia Correia 70 - Nelson Dias 72 - Artur Filipe Gregório 74 - Augusto Lima 34 54

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ALTIMETRIA INAUGUROU SEDE NO PARQUE RIBEIRINHO DE FARO Texto:

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Altimetria Associação Desportiva inaugurou a sua sede/escola, no dia 22 de setembro, no Parque Ribeirinho de Faro, uma zona de excelência com a Ria Formosa no horizonte e que oferece todas as condições para a dinamização das suas atividades, nomeadamente o BTT. A associação nasceu em outubro de 2011 e, desde então, tem organizado diversos passeios de bicicleta e formado dezenas de jovens, dos três aos 13 anos, que depois participam nas provas regionais e nacionais da chancela da Federação Portuguesa de Ciclismo. “Temos alguns atletas mais velhos a competir em ALGARVE INFORMATIVO #126

maratonas (XCM), enquanto os mais novos andam no cross-country (XCO), a vertente olímpica do BTT e à qual a Federação tem dado maior enfoque”, referiu o presidente da Direção, Nuno Guerreiro. A principal fonte de receitas da associação é o evento «24h Estádio do Algarve», que dá nome à equipa da Altimetria nos campeonatos regional e nacional, para além dos contributos, como é óbvio, dos cerca de 300 associados e dos pais dos alunos das escolinhas de BTT. Quanto à nova sede, 10


Nuno Guerreiro garante ser a concretização de um sonho. “Não foi fácil encontrar um espaço que se adequasse às nossas necessidades, porque não pretendíamos uma sede com um café ou um bar onde as pessoas se limitassem a reunir. A vontade sempre foi ter uma sede/escola onde os miúdos pudessem aprender a andar de bicicleta, a que se somou um ginásio e uma loja de reparação de bicicletas”, frisou o dirigente. O sonho concretizou-se através da cedência, por um período de 20 anos, deste terreno pela Câmara Municipal de Faro, com o edifício a surgir pela mão dos próprios membros da Altimetria e com a ajuda de apoios camarários ao associativismo. “Os custos rondaram sensivelmente os 30 mil euros, mas utilizamos materiais recicláveis, desde os contentores marítimos até à madeira de uma casa que existia aqui no local.

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Despesas com mão-de-obra especializada não houve, foi tudo feito graças ao conhecimento dos sócios, daí o investimento ter ficado mais em conta”, enaltece Nuno Guerreiro, acrescentando que os objetivos passam por continuar a desenvolver o BTT e o trail running, outra modalidade da Altimetria, para além de cativar mais associados e alunos. “Temos professores especializados e acho que fazemos um trabalho que muito satisfaz quem cá está”. A cerimónia de inauguração da Sede/Escola da Altimetria contou com a participação do presidente da Câmara Municipal de Faro, Rogério Bacalhau, que confirmou que este equipamento começou a ser «pensado» ainda em 2015, mas houve que cumprir vários trâmites burocráticos antes da obra avançar para o terreno. “Foi preciso

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muita perseverança para se chegar a este magnífico resultado e tenho a certeza de que a associação vai alcançar os objetivos a que se propõe. As atividades que a Altimetria desenvolve com os mais ALGARVE INFORMATIVO #126

jovens são fundamentais para a sua formação, mas este equipamento vai trazer também mais vida ao Parque Ribeirinho de Faro”, destacou o autarca. 12


PESTANA HOTEL GROUP INVESTE 50 MILHÕES DE EUROS EM HOTEL PIONEIRO NO ALVOR Texto:

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Pestana Hotel Group acaba de anunciar o início da construção do Pestana Quinta da Amoreira, unidade que implicará um investimento de 50 milhões de euros e gerará 300 postos de trabalho diretos na região. A grande aposta do grupo para o Algarve nos próximos anos tem abertura prevista para o Verão de 2019. A cerimónia de lançamento aconteceu no dia 28 de setembro e contou com a presença do Ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, da Presidente da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes e do Administrador do Pestana

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Hotel Group para o Algarve, Pedro Lopes. O maior grupo hoteleiro internacional de origem portuguesa apostou num projeto pioneiro em Portugal, com uma forte vocação sustentável e em perfeita harmonia com a natureza. Ao nível dos melhores resorts do mundo, o Pestana Quinta da Amoreira foi concebido de raiz para o segmento «tudo incluído» de 5 estrelas. O hotel irá preservar a grande maioria das árvores existentes nos 12,8 hectares de área a ocupar, oferecendo amplas zonas de espaços verdes. O empreendimento permitirá apenas circulação pedonal e de viaturas elétricas e

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ATUALIDADE irá optar pela utilização de recursos energéticos sustentáveis através de painéis solares e água da dessalinizadora Pestana, no Alvor. O projeto foi desenvolvido edifícios de apenas um e dois pisos e terá capacidade para 450 unidades de alojamento (388 quartos e 62 suites). O empreendimento terá quatro restaurantes (dos quais dois

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temáticos); três bares e seis piscinas, onde se inclui uma piscina para crianças inserida na ampla área do Kids Club, feita a pensar nos mais pequenos e uma piscina coberta inserida, no Spa do hotel. Ginásio, quatro salas de massagens, sauna e banho turco são outras das comodidades que os hóspedes irão encontrar. Vocacionado para o segmento luxury all inclusive e com uma localização privilegiada, entre o hotel Pestana Delfim e o Pestana Alto Golfe, o Pestana Quinta da Amoreira permite o acesso pedonal à Praia do Alvor. Recorde-se que o Pestana Hotel Group conta já com 16 unidades hoteleiras no Algarve, 13 Pestana Hotels & Resorts e três Pousadas de Portugal, bem como cinco campos de golfe .

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ENTREVISTA

TURISMO ALGARVIO COM MAIS DORMIDAS E PROVEITOS, MAS HÁ QUE CONTINUAR A FIDELIZAR OS VISITANTES Assinalou-se, a 27 de setembro, o Dia Mundial do Turismo e o Algarve, a principal região turística de Portugal, tem motivos para sorrir, devendo terminar o ano com cerca de 20 milhões de dormidas. Os números não mentem, a atividade está a crescer a bom ritmo e a sazonalidade já não é o «bicho-papão» de outros tempos, mas ainda não é hora de «lançar os foguetes», muito menos de adormecer «à sombra da bananeira», mas sim de continuar a oferecer produtos e serviços de qualidade para fidelizar quem elege o Algarve para as suas férias. Texto:

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Dia Mundial do Turismo foi comemorado em vários concelhos do Algarve, mas também no Aeroporto Internacional de Faro, onde a Região de Turismo do Algarve levou a cabo uma ação de charme junto de quem entrava no país pela via aérea. Poucos dias antes, o Algarve já tinha sido considerado, pelo segundo ano consecutivo, como a melhor região turística de Portugal e os números de 2017 são, de facto, animadores, depois de mais um Verão a abarrotar. “Até final de julho tivemos quase 11 milhões de dormidas, que correspondem praticamente a um terço do total nacional, o que significa que as taxas de ocupação subiram claramente na primeira metade do ano. Em julho e

DESIDÉRIO SILVA: “EM 2013/2014, AS DORMIDAS RONDAVAM OS 14 MILHÕES, ESTE ANO VAMOS CHEGAR PERTO DOS 20 MILHÕES. É UMA DIFERENÇA TREMENDA QUE RESULTA DO TRABALHO COM OS MUNICÍPIOS, AS ASSOCIAÇÕES E OS EMPRESÁRIOS”. ALGARVE INFORMATIVO #126

agosto não há espaço para grande crescimento porque o Algarve está quase lotado, mas, nos últimos dois anos, houve um aumento das dormidas e dos proveitos na chamada época baixa”, indica Desidério Silva, presidente da RTA. Algarve que, também pelo segundo ano consecutivo, voltou a ser distinguido como «Marca de Confiança» pelas Seleções Reader’s Digest, a que se somam os habituais prémios de Melhor Destino de Golfe e Melhor Destino de Praia atribuídos por diversas publicações internacionais. “Os indicadores apontam para números bastante interessantes para outubro e novembro, sabemos que janeiro e fevereiro são os meses mais complicados, mas também sabemos que, a partir de fevereiro, a procura pela região está a intensificar-se junto dos operadores turísticos. É um sinal de que o Algarve está a tornar-se mais sustentável, não só pelo «sol e praia», mas pelo turismo de natureza, o «cycling & walking», a observação de aves, a gastronomia, o património e a cultura”, entende, não esquecendo as atividades marítimo-turísticas e a vela, esta última beneficiando da criação de um centro de alta competição em Vilamoura. “Vamos ter, em 2018 e 2019, duas provas para o Campeonato do Mundo de Vela”, relembra. Parece, assim, que o «bicho-papão» da sazonalidade já não é tão assustador como antigamente, mas Desidério Silva não concorda com aqueles que afirmam que o Algarve está melhor sobretudo devido aos males dos seus concorrentes, 18


Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve

nomeadamente os países da Bacia do Mediterrâneo e do resto da Europa, que têm sido flagelados por constantes episódios de insegurança. “Raramente se valoriza o nosso trabalho e esforço, a nossa oferta, é sempre mais fácil falar dos problemas dos outros. No entanto, há inúmeros pontos em todo o mundo que são alternativas a esses destinos que eram muito procurados há poucos anos e, se o Algarve está a crescer, é porque também existe oferta de qualidade, um conjunto de atributos que são atrativos. Neste contexto, é fundamental fidelizar aqueles que visitam o Algarve pela primeira vez, com experiências positivas, com oferta diversificada, com segurança e tranquilidade”, defende o entrevistado.

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A resiliência e a capacidade para qualificar a oferta estão a dar, então, os seus frutos, mas o Algarve ainda não é sustentável 12 meses por ano, não haja ilusões nesse aspeto. “O Aeroporto de Faro tem crescido 20 por cento por mês, aumentaram as rotas e a frequência dos voos na época baixa e média, mas é impossível ter 12 agostos. O objetivo é que, entre outubro e maio, se captem mais turistas para que o ano se torne mais equilibrado, com taxas de ocupação anuais de 75 a 80 por cento”, frisa Desidério Silva, considerando que o «365 Algarve» é um dos programas que valoriza a região, neste caso concreto em termos culturais. “Em 2013/2014, as dormidas rondavam os 14 milhões, este ALGARVE INFORMATIVO #126


ano vamos chegar perto dos 20 milhões. É uma diferença tremenda que resulta do trabalho com os municípios, as associações e os empresários. O território já existia, não estava era devidamente potenciado”, salienta Desidério Silva.

ALGARVE DEIXOU DE «FECHAR» NO FINAL DO VERÃO Esta melhoria de resultados só é possível porque os empresários também já perceberam que não podem fechar as portas dos seus estabelecimentos no final do setembro e retomar a atividade apenas na altura da Páscoa, reconhece o dirigente. “Há grupos hoteleiros que estão abertos durante todo o ano e que têm, inclusive, taxas de ocupação muito agradáveis em fevereiro e março, por causa do turismo desportivo, de natureza, de bem-estar e saúde. Depois de terminado o Verão, a oferta do Algarve continua a existir toda, aliás, até é possível desfrutar melhor de alguns produtos e serviços porque há menor quantidade de visitantes”, indica o presidente da RTA.

DESIDÉRIO SILVA: “NESTES ÚLTIMOS ANOS, A RTA DESATOU ALGUNS NÓS E LIGOU ALGUMAS PONTAS E OS RESULTADOS TÊM SIDO BASTANTE SATISFATÓRIOS”. ALGARVE INFORMATIVO #126

Mudanças notam-se igualmente na postura dos 16 concelhos da região, que deixaram de atuar de forma independente, isolada, de costas voltadas para os seus vizinhos, preferindo, sim, funcionar em rede, trabalhar em parcerias, enaltece Desidério Silva. “Os autarcas compreendem melhor o potencial dos seus territórios e a RTA tem contribuído para uma maior articulação entre todos. Há projetos em que estamos a trabalhar e que abarcam toda a região de uma forma transversal, como as caminhadas e os passeios de bicicleta. Depois, juntamos aquilo que cada concelho faz para promovermos essa oferta em termos globais. Começou-se a olhar para o Algarve como um todo”, destaca. “Nestes últimos anos, a RTA desatou alguns nós e ligou algumas pontas e os resultados têm sido bastante satisfatórios. Quando são eleitos, a prioridade dos autarcas é a defesa dos seus territórios e munícipes, mas os turistas, quando chegam a uma região, não sabem onde é que começa um concelho e acaba o outro”. Este esforço global nota-se, por exemplo, na vontade de concluir a ciclovia que vai do Cabo de São Vicente, em Vila do Bispo, até Vila Real de Santo António, através de fundos comunitários, e esta nova mentalidade conduz a uma oferta mais integrada e sustentável. “Se não houver sensibilidade e disponibilidade da parte de todos, tudo se torna mais complicado, mas o Algarve está no bom caminho. Como é óbvio, os resultados que temos alcançado motivam o 20


João Luís Soares, representante no Algarve da Associação de Hotelaria de Portugal

presidente da Região de Turismo, mas também os autarcas e os empresários privados”, refere, embora admita que determinados assuntos fogem à área de intervenção da entidade que lidera, como a requalificação da Estrada Nacional 125 ou as portagens na Via do Infante. “Apenas podemos tentar sensibilizar os membros do governo para essas matérias que são importantes para o turismo no Algarve”.

para o Algarve e que se vão embora mais tarde. Para isso, também precisamos de mais competências e meios financeiros para a requalificação e promoção da nossa oferta turística”.

Quanto a 2018, será possível manter este ritmo de crescimento? “Temos sempre que fazer um esforço adicional para melhorar, porque temos essa capacidade, nomeadamente nos meses da época baixa e média. Se há produtos, serviços e camas disponíveis, queremos que as taxas de ocupação se aproximem mais das registadas em julho e agosto. O ideal é que as pessoas comecem a vir mais cedo

Em Quarteira, no Dom José Beach Hotel – mais uma vez considerado o melhor hotel de três estrelas de Portugal – encontramos João Luís Soares, representante no Algarve da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal, que confirmou que 2017 está a ser um bom ano para o setor, semelhante a 2016, mas notou-se um crescimento fora da época alta e uma maior procura de

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SEGURANÇA É ÓTIMA, MAS INFRAESTRUTURAS TÊM QUE ESTAR À ALTURA

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mercados emissores que não os tradicionalmente mais fortes da região. Dúvidas não existem, porém, que o Reino Unido continua a ser a principal fonte de visitantes do Algarve e, felizmente, não se têm verificado os temidos efeitos do Brexit, da saída do Reino Unido da União Europeia. “Temos um destino de excelência, com segurança e um bom clima, onde as pessoas se revêm. Não nos podemos esquecer que o mercado britânico tem 45/50 anos no Algarve, desde que abriu o Aeroporto Internacional de Faro, e vai continuar a olhar com um grande carinho para este destino. Os britânicos são o povo que mais viaja na Europa e isso não se vai alterar, eventualmente adaptando os seus hábitos à nova realidade, com mais ou menos dias, com mais ou menos valor despendido em cada viagem”, acredita o diretor hoteleiro. Segurança que se tem afirmado, no passado recente, como uma das grandes mais-valias de Portugal, e do Algarve, e que não pode ser colocada em causa, concorda João Luís Soares. “É uma questão que devemos preservar, mas depois é importante que as infraestruturas acompanhem esse fator. É preciso que o aeroporto funcione convenientemente, que a região tenha bons acessos e vias de comunicação, que os hotéis se renovem e requalifiquem, para que se consiga fidelizar os clientes que iriam para outros destinos e que agora, por alguns motivos, estão a optar por Portugal e pelo Algarve”, defende o entrevistado. Aeroporto de Faro onde ainda prosseguem as obras, mas João Luís Soares considera que a infraestrutura melhorou ALGARVE INFORMATIVO #126

bastante com as intervenções em curso e que já eram necessárias. “O que esperamos é que as obras terminem o mais rapidamente possível e é um dos poucos aeroportos nacionais que tem uma margem de crescimento muito grande. Não estamos limitados se tiver que colocar mais aviões, voos e turistas”, salienta, mostrando-se, contudo, preocupado com o que está a acontecer com a «Ryanair». “Julgo que a companhia vai resolver depressa esse problema, porque somos um destino muito importante para o seu negócio. Todavia, se a «Ryanair» vier menos para Portugal, outras companhias vão ocupar esse espaço”, antevê. Viagens low cost que, como todos já percebemos, não se traduzem em turistas «pé-descalço», com poucos recursos financeiros, conforme se apregoava quando estas companhias começaram a apostar no Algarve. “O que existe, hoje, é o smart traveller. Um cliente pode viajar em companhias como a «Ryanair» ou a «Easyjet» e ficar hospedado num hotel de cinco estrelas. O que lhe interessa é um voo de ligação direto, que não tenha atrasos e que corresponda ao valor que vai pagar. É preferível uma «Ryanair» a viajar diretamente para Faro do que uma TAP a parar em Lisboa”, compara o representante da AHP no Algarve. Mais alarmante continua a ser a situação da Estrada Nacional 125, que estrangula a capacidade de se circular rápida e comodamente de uma ponta à outra da região. Aliás, João Luís Soares entende que a recente requalificação operada na principal via de comunicação 22


do Algarve ficou muito aquém do desejado. “Atualmente, há muitas zonas onde uma viatura de emergência, seja ambulância ou carro de bombeiros, não consegue passar, estão pinos de um lado e passeios altos do outro. O resultado é que as pessoas procuram, cada vez mais, a A22, todavia, para lá chegarem, têm que circular à mesma pela EN 125. A requalificação pode ter gerado uma maior segurança em alguns trajetos, mas não trouxe rapidez nem melhores acessibilidades, o que é fundamental na atividade turística”, critica. “Não faz sentido um indivíduo fazer um voo de duas horas e meia de Londres para Faro e depois levar o mesmo tempo para chegar a Lagos pela EN 125, ou 45 minutos até Vilamoura, durante o Verão. Quem pensa as estradas não é quem pensa o turismo, a estrada está mais bonita e arranjada, mas não está a funcionar”, lamenta.

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DOIS ANOS POSITIVOS NÃO BASTAM O desejável é que os erros cometidos no troço entre Vila do Bispo e Faro não se repitam durante a segunda fase de requalificação da EN 125, a ter lugar entre Olhão e Vila Real de Santo António, mas João Luís Soares não está otimista, porque quem toma as decisões não está no Algarve, não sente o pulsar da região, não observa, no terreno, o aumento exponencial de circulação automóvel em determinadas épocas do ano. “Com o esbatimento da sazonalidade deixou de haver uma assimetria tão grande entre a época alta e baixa e, se sairmos do Aeroporto de Faro às 9h, em setembro ou outubro, temos filas até apanharmos o nó da Via

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do Infante. Esperemos que os responsáveis pelas obras encaram esta realidade com outros olhos”, desabafa, com um encolher de ombros. Outra dor-de-cabeça dos gestores hoteleiros prende-se com a falta de recursos humanos, apesar das Escolas de Hotelaria estarem a colocar todos os anos mais pessoal qualificado no mercado. “Mas não tem sido suficiente e sentimos muitas dificuldades em arranjar funcionários no Verão, principalmente em trabalhos especializados como empregados de mesa, cozinheiros ou rececionistas. Neste momento estamos mais preocupados, até, com a falta de pessoas do que com a falta de formação, embora esse seja logo o ponto seguinte a resolver”, revela.

JOÃO LUÍS SOARES: “TEMOS QUE TRABALHAR SEMPRE NA FIDELIZAÇÃO DOS CLIENTES E NO MELHORAMENTO DOS PRODUTOS, INVESTIR NOS NOSSOS HOTÉIS E NAS VIAS DE COMUNICAÇÃO, NA QUALIDADE DO ATENDIMENTO, NOS TRANSFERS, NAS RENTA-CAR…”. ALGARVE INFORMATIVO #126

“Portugal também tem mais turismo, pelo que as pessoas têm menos necessidade de se deslocarem para o Algarve por motivos profissionais. Depois, o alojamento é bastante caro para quem pretende trabalhar na região durante a época alta”, acrescenta. Esta situação acaba por ter reflexos, depois, na qualidade do serviço prestado, não sendo fácil manter um nível elevado e constante quando não há uma estabilidade da mão-de-obra. Porém, e apesar dos constrangimentos assinalados, 2017 vai terminar no verde, à semelhança do que já tinha acontecido em 2016, e os empresários hoteleiros vão assim recuperando a sua saúde financeira, depois de se terem endividado durante a crise. “Obviamente que precisamos de mais anos assim, não bastam dois anos relativamente bons. O destino tem que continuar a ganhar maturidade e é fundamental uma boa articulação entre o público e o privado. Temos que trabalhar sempre na fidelização dos clientes e no melhoramento dos produtos, investir nos nossos hotéis e nas vias de comunicação, na qualidade do atendimento, nos transfers, nas rent-a-car. Se assim não for, o Algarve será apenas mais um destino”, avisa. “Penso que 2018 vai ser um bom ano, a procura deverá manter-se igual, mas os parceiros vão ser mais exigentes em relação à qualidade dos produtos que vão vender aos seus clientes. Por isso, temos que tratar cada turista com o maior carinho possível, porque estamos a trabalhar a pensar no futuro e não apenas no momento presente” . 24


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REPORTAGEM

Uma barrigada de risos com

«A NOITE DA DONA LUCIANA» Texto:

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ubiu ao palco do Cine-Teatro Louletano, no dia 23 de setembro, «A Noite da Dona Luciana», encenada pelo quarteirense Ricardo Neves-Neves, diretor artístico da companhia «Teatro do Eléctrico», e que conta com Custódia Gallego e Rita Cruz nos papéis principais. A peça foi concebida originalmente em 1985 e é uma comédia irreverente e florida bem ao estilo de Copi, diluindo as fronteiras entre a imaginação e os estereótipos vinculados pelo inconsciente coletivo, ao estabelecer uma ácida caricatura humorística que vai desde a realidade quotidiana aos confins do

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absurdo e da extravagância. Os ambientes e contextos criados em «A Noite da Dona Luciana» tanto se inscrevem no cliché e na situação comum, como se dissolvem num universo fantasioso. O enredo começa num teatro onde decorre um ensaio tardio com a presença do encenador, a atriz e o técnico. O ensaio é, contudo, interrompido por uma velha stripper transsexual que se envolve num confronto com a Companhia, lançando o espectador numa espiral entre a verdade e o delírio, a paixão e o humor negro. A tradução do texto é da responsabilidade de Isabel Alves e o elenco é composto por Custódia Gallego, José Leite, Márcia Cardoso, Rafael Gomes, Rita Cruz e Vítor Oliveira. Os figurinos estão a cargo de José António Tenente, o desenho de luz é de Elduplo e a música de Sérgio Delgado. O espetáculo já foi apresentado em Lisboa, Leiria, Vila Velha de Ródão e Funchal e teve duas nomeações para os Prémios da Sociedade Portuguesa de Autores, designadamente de «Melhor Espetáculo do Ano» e «Melhor Atriz do Ano», pela interpretação de Rita Cruz . ALGARVE INFORMATIVO #126

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ENTREVISTA

O MUNDO MÁGICO DAS MARIONETAS, por Patrícia Chambino A quinta edição do FOMe - Festival de Objetos e Marionetas, organizado pela ACTA, trouxe à capital algarvia diversos espetáculos para todas as idades, de 23 a 30 de setembro, mas também houve oportunidade para a realização de um workshop e de uma exposição com Patrícia Chambino. E foi no 1878 Hostel que ficamos a conhecer um pouco mais do mundo mágico das marionetas. Texto:

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1878 Hostel, em Faro, acolhe, até 7 de outubro, a exposição «Permanências», que integra a coleção privada de trabalhos de Patrícia Chambino realizados durante os últimos 11 anos, no âmbito do teatro de marionetas. A mostra surge num contexto de revelação de diferentes formas, materiais e técnicas, aplicados à arte da cenografia, tratando-se de objetos de magia e das impossibilidades possíveis características do mundo do Teatro. Licenciada em Teatro - Produção e Design, Patrícia Chambino fez diversas formações na área das Marionetas e das Formas Animadas em Portugal, Lituânia, República Checa e Malásia, tendo estagiado no Teatro Nacional de Marionetas de Vilnius. De regresso a Portugal, rumou ao sul e concluiu uma PósALGARVE ALGARVE INFORMATIVO INFORMATIVO #126 #126

Graduação em Artes Visuais e Performativas na Universidade do Algarve, academia onde está a finalizar o Mestrado em Comunicação, Cultura e Artes – Estudos da Imagem. Artes que já a acompanharam no ensino secundário, em Castelo Branco, de onde é natural, mas foi para a vertente da conceção plástica do espetáculo que se direcionou e não propriamente para a representação. “Infelizmente, como a componente das marionetas não está muito desenvolvida em Portugal, tive que recorrer a várias formações no estrangeiro. Com uma marioneta podese inventar tudo, é um super ator que pode fazer o que quiser”, descreve Patrícia, de brilhos nos olhos. Um fascínio que, como se sabe, não é comum a todos, havendo muitos adultos que não se sentem confortáveis na 36 36


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presença de marionetas, quanto mais ir assistir a uma peça de teatro com marionetas. Patrícia Chambino confessa, aliás, que a sua grande atração, enquanto criança, até era pelas máscaras. “Nunca tive uma proximidade com as marionetas que me permitisse encará-las como uma possibilidade de carreira. Só depois de andar em Teatro e contatar mais de perto com a vertente plástica e de cenografia é que mudei de ideia. Trabalhamos e construímos em equipa e há um resultado final que as pessoas veem”, justifica a entrevistada. A primeira marioneta foi concebida durante um workshop que frequentou, num festival no Porto, com a artista alemã Uta Gebert, onde dominou os princípios básicos das articulações, de dar vida a um boneco, porque há aqueles que estão ALGARVE INFORMATIVO #126

parados e outros que podem ser animados. “O mais importante nas marionetas é a ilusão de que elas têm vida”, destaca, garantindo que criar uma marioneta não é tão simples como possa parecer à primeira vista. “Há muitas maneiras diferentes de se trabalhar nesta arte e não gosto de pensar que a minha é que está certa, nem de julgar os métodos dos outros. Há quem pegue numa meia com dois botões, ou simplesmente usando a mão, e consiga fazer um bom espetáculo. As marionetas mais complicadas podem demorar semanas ou meses a serem idealizadas e construídas”, refere. Entretanto, há marionetas que surgem da inspiração própria da artista, enquanto outras são encomendadas para espetáculos específicos e, por isso, 38


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devem obedecer a certas caraterísticas, explica. “As primeiras são personalidades que têm a sua própria história dentro da minha cabeça; as segundas têm que corresponder a um certo texto ou dramaturgia, se o espetáculo é ao ar livre ou dentro de um teatro, se vai haver muita ou pouca luz. Até agora tenho tido a sorte de trabalhar com pessoas que me deram umas «luzes» acerca da personagem, mas depois deixaram-me desenvolver, plasticamente, a marioneta à minha vontade, e as coisas têm corrido bem”, revela. Mesmo assim, em Portugal, não se consegue ser criador de marionetas a tempo inteiro, ao contrário do que se verifica, por exemplo, em França ou na Europa de Leste, onde as marionetas têm uma forte tradição. “É concebível para atores que também são marionetistas, ALGARVE INFORMATIVO #126

mas cenógrafos que apenas fizessem marionetas, é impossível. É por essa razão que também faço outros tipos de teatro”, esclarece, antes de abordar a «personalidade» das marionetas. “Há algumas que já têm vida antes de nascer e a primeira decisão a tomar é qual o tipo de material em que vão ser feitas. Muitas vezes também não saem bem à primeira ou segunda tentativa, é preciso descobrir primeiro a sua personalidade”. Diferentes personalidades que depois podem gerar sentimentos distintos nos espetadores porque, como nos seres humanos, há personagens que são mais agradáveis do que outras, pessoas com quem nos damos melhor ou pior, com quem temos maior ou menor empatia. Por isso, não é de estranhar que alguns adultos não gostem de marionetas, “por 40


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estarem entre o vivo e o morto”. “É um objeto supostamente inanimado mas que, de alguma forma, pode ganhar vida e isso assusta os adultos. É um objeto bizarro. Com as crianças é diferente, porque ainda estão naquela fase do faz-de-conta”, observa Patrícia Chambino. “Depois, tudo depende do ator que vai manipular a marioneta. Há excelentes atores que não fazem a mínima ideia de como se constrói uma marioneta, pelo que o ideal é haver um trabalho de equipa entre ator e cenógrafo. Quando tal não acontece, há bonecos lindíssimos que podem perder a ilusão daquilo que podem ser”, admite. Certo é que a marioneta é, na opinião da entrevistada, muito mais do que uma forma de entretenimento, podendo desempenhar um papel educativo bastante importante. “Todas as crianças adoram

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bonecos e, quando vão assistir a uma peça de marionetas, entram de imediato naquela magia, imergem naquele faz-de-conta e escutam atentamente as mensagens que são transmitidas. Os adultos estão mais preocupados em descobrir os fios, em perceber como as marionetas estão a ser manipuladas”, compara Patrícia Chambino, não concordando que o teatro de marionetas seja apenas indicado para os mais jovens. “É um teatro visual extremamente plástico e pode ser de uma beleza incrível, se um adulto se deixar envolver. Festivais como o FOMe são importantes para atrair pessoas que vêm ver os espetáculos com os filhos e descobrem que, afinal, até gostam de marionetas”.

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ENTREVISTA

FORMAÇÃO CONTINUA A SER FUNDAMENTAL, APESAR DA DEMOCRATIZAÇÃO DA FOTOGRAFIA A ALFA tem patentes duas exposições de fotografia, uma na EMARP, em Portimão, outra na Galeria ARCO, em Faro, ambas resultantes de expedições realizadas ao Reino de Marrocos. A atividade regular da Associação Livre de Fotógrafos do Algarve inclui ainda múltiplas ações de formação, workshops temáticos e viagens de trabalho e mais projetos estão na calha para 2018, ano em que a ALFA comemora uma década de existência. Texto:

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stá patente até 13 de outubro, na EMARP, em Portimão, a exposição de fotografia «Marrocos – País de Encantos», composta pelos registos dos participantes numa viagem organizada, em 2016, pela ALFA – Associação Livre de Fotógrafos do Algarve, a esse reino do norte de África. Na mostra são revelados aspetos de Tanger, Tetuão, Chefchouan, o quotidiano das populações, o comércio, a cultura e o poder, conteúdos que estão igualmente condensados num fotolivro que conta com os contributos dos fotógrafos Ana Filipa Silva, Ana Côrte-Real, Carlos Cruz, Conceição Agostinho, Cristina Guerreiro, Elsa Ferreira, José Gonçalves, Marco Pedro, Mauro Rodrigues, Mineli Andri, Paulo Côrte-Real, Raul Coelho e Vânia Bentes. As aventuras pelo Reino de Marrocos tiveram continuidade na Páscoa deste ano

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e deram corpo a uma segunda exposição, esta patente na Galeria ARCO, em Faro, onde se situa precisamente a sede da ALFA, associação que nasceu, em 2008, da vontade de um grupo de amigos, jornalistas e fotógrafos, em organizar atividades em torno da fotografia e da imagem. Constituída a entidade, as atenções concentraram-se na formação – inicial, intermédia, tratamento de imagem e astro fotografia –, mas também na dinamização de workshops temáticos, ministrados por associados ou por formadores provenientes do reputado CENJOR – Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas. “A fotografia democratizou-se bastante nos últimos anos, mas a formação continua sempre a fazer sentido, porque os dispositivos digitais também são muito mais complexos do que as câmaras analógicas. Procuramos ter um

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Paulo Côrte-Real e Carlos Cruz, presidente e vice-presidente da ALFA

plano de formação que corresponda às necessidades das pessoas e o reflexo é que têm tido boa procura. Aliás, vamos arrancar, em outubro, com novas ações dos níveis de iniciação e intermédio”, revela Paulo Côrte-Real, presidente da ALFA. Os formandos acabam por ser de diferentes proveniências, uns que já tiram fotografias de forma regular mas que pretendem aprofundar os seus conhecimentos e dominar melhor os seus equipamentos; outros que sentem curiosidade pela fotografia e que ainda têm poucas bases. Em ambos os casos, há uma característica comum, os workshops são bastante práticos. “Não faz qualquer sentido um curso de fotografia sem uma 49

forte componente prática. Claro que temos que fornecer conteúdos teóricos às pessoas, mas é no terreno que as competências se desenvolvem”, defende Paulo Côrte-Real, motivo pelo qual os cursos decorrem normalmente ao fim de semana, salvo casos pontuais. “O de fluxo fotográfico digital, por exemplo, iniciava à sexta-feira à tarde e prolongava-se até domingo, com um total de 50 horas”. Outra faceta importante da ALFA são os passeios e as viagens fotográficas, que depois dão origem a exposições, individuais ou coletivas, como as que estão atualmente patentes em Portimão e Faro. “Já fazíamos passeios regulares ao Alentejo, ao Alqueva, às Terras do ALGARVE INFORMATIVO #126


Xisto, e dentro do Algarve, mas focandonos em aspetos diferentes do olhar comum. A partir do momento em que a circulação por via aérea se tornou mais fácil e acessível para outros destinos, começamos a olhar para as cidades com que Faro tem geminação ou alguma ligação cultural e Tanger era uma delas. Num espírito de partilha e convívio, decidimos, então, organizar uma visita a Marrocos”, conta Carlos Cruz, vicepresidente da ALFA, esclarecendo que estes passeios não se tratam de meras excursões turísticas. “Realizamos habitualmente intercâmbios com associações locais para troca de conhecimentos e experiências e isso permite-nos também ir à descoberta de zonas menos mediáticas. Em 2018 vamos regressar a Marrocos para uma visita às Cidades Imperiais”, adianta o dirigente. À semelhança dos workshops, estes passeios também são feitos a pensar em grupos pequenos, não mais de 15 pessoas, por uma simples razão: “Não somos uma escola com uma lógica de massificação, somos um conjunto de fotógrafos que, numa lógica de parceria, de trabalho em rede, procura partilhar conhecimentos e tirar prazer com estas experiências”, distingue Carlos Cruz, ao passo que Paulo Côrte-Real confirma que as exposições

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foram uma sequência natural dessas viagens e já constavam no plano de atividades da ALFA. “É interessante ver, neste caso, Marrocos pelo olhar de diferentes pessoas. A logística tem decorrido de forma excecional, com guias do mais alto nível e com todo o acompanhamento necessário para que possamos, no terreno, desfrutar do prazer que temos pela fotografia e pelo encontro de culturas”, destaca o presidente.

UMA DÉCADA AO SERVIÇO DA FOTOGRAFIA Das viagens regressam, entretanto, com milhares de fotografias, o que torna bastante complexo o processo de montar a subsequente exposição, até porque estes homens e mulheres têm as suas atividades profissionais. “Antes de partirmos em viagem, aconselho os participantes a abrandarem um pouco o ritmo, a serem mais seletivos no momento do disparo, mas eu também me excedo sempre”, confessa, com um sorriso. “Reunir as fotografias, verificar se carecem de alguma edição, dimensionar para ficarem todas no mesmo formato, ainda demora algumas semanas”, aponta Paulo Côrte-Real.

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Escolhidas e tratadas as fotos, segue-se a montagem propriamente dita das exposições, com os custos que estão inerentes a esse processo, desde logo a impressão em papel fotográfico de grande dimensão. “Não temos elaborado candidaturas a fundos comunitários e candidatamo-nos ao «365 Algarve», mas a fotografia não foi contemplada nesta edição, pelo que vivemos exclusivamente das quotas simbólicas dos nossos associados, 12 euros anuais. Somos 500 a 600 associados, dos quais cerca de 100 plenamente ativos. Muitos dos outros tornam-se sócios da ALFA sobretudo para terem alguns benefícios nos cursos e workshops em que se inscrevem”, observa Carlos Cruz, fazendo ainda referência a alguns apoios pontuais da Câmara 51

Municipal de Faro e da Direção Regional de Cultura do Algarve para projetos específicos. Um projeto diferente do habitual é o «Modelos por um Dia», que tem como objetivo reconhecer o mérito escolar de jovens que estão em desvantagem social, que vivem em instituições. “Durante um dia, essas jovens recebem todos os mimos que um modelo profissional: vão ao cabeleireiro, são maquilhadas, realizam uma sessão fotográfica com uma equipa da ALFA e, no fim, tudo se concretiza numa exposição e num vídeo. Ver a felicidade destas jovens é muito gratificante, pelo que a iniciativa é para continuar”, garante o presidente.

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E porque estamos a aproximar-nos do término de mais um ano civil, olhamos para o plano de atividade de 2018, que incidirá, mais uma vez, na formação, viagens e exposições, mas outras novidades poderão existir em jeito de comemoração da década de existência da ALFA. “Estamos a pensar numa viagem à Índia e, no plano interno, vamos apostar no turismo ferroviário. Queremos redescobrir Portugal através do comboio, em quatro ou cinco passeios de norte a sul do país. É uma mobilidade alternativa que nos leva a áreas extremamente interessantes”, revela Carlos Cruz. “Os sonhos estão sempre a surgir. Por vezes parece que estamos no limite das nossas capacidades, mas a vontade de

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fazer é tão grande que arranjamos mais um bocadinho de força e energia. Esta equipa está cá pelos sócios e para os sócios. Pensamos, delineamos as estratégias, gostamos de as concretizar e, apesar das dificuldades do dia-a-dia, queremos fazer mais e melhor”, finaliza a dupla de dirigentes .

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ENTREVISTA

LÓGOS

UMA REVISTA PARA DISSOLVER A ESPUMA DA FUTILIDADE DOS TEMPOS MODERNOS Setembro viu nascer a revista LÓGOS – Biblioteca do Tempo, dando corpo, em formato papel, às reflexões de uma comunidade virtual sobre o panorama literário nacional. Um panorama que não é sorridente e as dificuldades são transversais aos mais diversos estilos literários e às várias regiões de Portugal, conforme contaram os editores Adília César e Fernando Esteves Pinto. Texto: ALGARVE INFORMATIVO #126

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um século XXI onde o papel cada vez mais vai sendo substituído pelo impalpável mundo virtual, não é habitual assistir-se ao lançamento de uma nova revista, muito menos uma dedicada à literatura, mas é esse o caso da LÓGOS – Biblioteca do Tempo, que abarca diversos estilos literários ao longo das suas 142 páginas, desde o ensaio e a entrevista à literatura, poesia e ilustração. À frente do projeto estão Adília César e Fernando Esteves Pinto, com Adão Contreiras como Assistente Editorial, e o primeiro número já está disponível, contando com as colaborações de Adão Contreiras, Adília César, A. Dasilva. O., Catherine Dumas, Cristina Carvalho, Fernando Esteves Pinto, José Carlos Barros, Joana Emídio Marques, Miguel Real, Reinaldo Barros, Sérgio Ninguém e Tiago Nené.

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Na génese do projeto esteve a vontade, a necessidade, de refletir sobre o estado da literatura em Portugal, primeiro num grupo restrito de amigos, depois, numa comunidade virtual que foi crescendo rapidamente. “A literatura é muito mal tratada no nosso país, apesar de haver imensa gente a escrever. O problema é que, a par dos bons escritores, dos bons produtores de cultura, também há quem faça um mau trabalho, mas vivemos numa democracia e todos têm o direito de fazerem o que querem e de mostrarem aquilo que fazem”, afirma Adília César, à conversa no carismático Café Aliança, na baixa de Faro. Estas conversas e desabafos iam-se multiplicando nas apresentações de livros ou festivais literários que acontecem com alguma regularidade e 56


onde se reúnem os verdadeiros apaixonados pela literatura, tanto aqueles que a produzem, como aqueles que a consomem. E depressa se constatou que os problemas eram comuns aos vários estilos literários e às diferentes regiões, inclusive nas cosmopolitas cidades de Lisboa e Porto. “A LÓGOS foi o reflexo desse descontentamento em relação ao estado da cena literária no Algarve, que nasceu em força, em 2005, com a Revista Sulscrito, o Encontro de Escritores Palavra Ibérica e a Editora 4Águas. Sempre trabalhei com autores de todas as regiões de Portugal, sejam poetas, romancistas, ensaístas ou filósofos, daí ter sido fácil a criação deste projeto”, conta Fernando Esteves Pinto. “As pessoas que escrevem estão sempre interessadas em ver o seu trabalho publicado numa revista e, se conhecerem e tiverem confiança nos responsáveis, ainda melhor”, salienta. Antes do papel apareceu, contudo, a comunidade virtual na rede social Facebook, onde se começaram a fazer algumas entrevistas a pessoas da área com valor e qualidade, “personalidades interessantes e relevantes para a cultura”, descreve Adília César, explicando que o passo seguinte foi a criação de um blogue, com o mesmo nome, onde a informação estaria disponível de uma forma mais «arrumada». “Para a revista ficar mais completa incluíram-se, para além das entrevistas, ensaios, poemas, textos de reflexão, o que a torna bastante diversificada”, analisa a escritora, com Fernando Esteves Pinto a indicar que boa parte do material é original, ou seja, foi escrito de propósito para a LÓGOS. “É verdade que os jornais e as revistas em papel estão a desaparecer, mas o que 57

passa mais depressa é o que escrevemos numa rede social. Uma revista, ou um livro, ficam para sempre, são eternos. Qualquer autor que se preze quer ter um livro seu numa estante”, assegura. Conforme referido, os contributos para a nova revista não chegam somente do Algarve, porque, de acordo com Fernando Esteves Pinto, os autores algarvios têm pouca obra publicada. “Alguns autores até nem têm hábitos de leitura”, lamenta, opinião partilhada por Adília César. “Investem pouco no seu trabalho e escrevem coisas fáceis, pequenas. Quando não se cria aquele hábito de escrever todos os dias, é natural que a obra não surja e, sem obra, não há literatura, nem leitores”, desabafa. “É bonito brincar com as palavras e fazer apresentações de livros, mas a realidade é que não há público para esses eventos. A leitura deve ser um trabalho que dá prazer e a escrita deve ser um prazer que dá trabalho”, prossegue Fernando Esteves Pinto. Com prazer ou sem prazer, com qualidade ou sem qualidade, a verdade é que poucos são os escritores que conseguem viver, em Portugal, à conta dos livros que escrevem, situação prontamente confirmada por Fernando Esteves Pinto. “Ninguém está na escrita para ganhar dinheiro, só aqueles que escrevem a tal literatura «light» para as grandes massas e que aparecem frequentemente na televisão. A verdadeira literatura está à margem dessas considerações, não tem o lucro como meta”, frisa o entrevistado. ALGARVE INFORMATIVO #126


Não é fácil, por isso, arranjar tempo, e motivação, para se escrever todos os dias, reconhece Adília César, que é educadora de infância no seu dia-a-dia, atividade que lhe garante, efetivamente, o sustento financeiro. “Só que tenho uma vontade constante de escrever. Dá trabalho, até algum sofrimento, mas, havendo motivação, arranja-se sempre algum tempo. Não sei se as obras vão ser publicadas, mas também não escrevo para a gaveta. Isso são os tais diários onde os psicólogos aconselham os pacientes a colocarem os seus sentimentos”, distingue, com um sorriso. “Quando me obrigo a escrever todos os dias, ao invés de estar a ver um filme ou a passear por este Algarve fantástico, é com o objetivo de ser lida. É fácil fazer uma edição de autor, basta ter dinheiro para pagar a

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gráfica, mas eu não vou por esse caminho. Se for possível mostrar o que faço a um editor e ele decidir publicar a obra, ótimo”, comenta. Dificuldades à parte, o primeiro número de «LÓGOS - Biblioteca do Tempo» está a superar as expetativas, com encomendas constantes provenientes dos quatro cantos de Portugal, e material para as próximas edições também não falta. “A primeira revista foi integralmente paga por nós dois e pelo Adão Contreiras e as receitas das vendas servirão para custear os números que se seguem. Depois da minha experiência com a «Sulscrito», tinha confiança neste projeto, mesmo sabendo que os apoios à cultura são cada vez menores”, conclui Fernando Esteves Pinto .

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OPINIÃO O final duma estória à antiga Paulo Cunha (Professor)

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é assim que acaba a ficção que não vos vou contar: “(…) Então, sem nada o fazer prever, todos os que, por uma razão ou por outra, tinham deixado de se rever naqueles que apelavam ao seu voto, decidiram ir votar! Sim, votar naquele que, corajosa e surpreendentemente, decidiu dizer basta, candidatando-se e mostrando que, mesmo sem os apoios das antigas e endinheiradas famílias da região, era possível acreditar no sonho de mudança que, desde novo, acalentava. Sabia que ao tentar mudar o seu pequeno mundo, poderia, através das suas ações, servir de exemplo a todos aqueles que na sua terra muito falavam e nada faziam. É verdade! Aquele «pobretanas» de que, antigamente, todos troçavam e olhavam de soslaio e com desdém, tinha decidido passar das palavras aos atos. O tal que, por ser desalinhado e nunca ter ido comer à mão dos patriarcas das abastadas e históricas famílias, nunca mereceu a atenção e o apoio dos que lhe reconheciam mérito intelectual, mas dele receavam a sua liberdade de pensamento e a independência ideológica. Mas o que é que teria então ocorrido para que tivesse acontecido este imprevisível volte-face? Se bem se recordam do que sucedeu ao longo da estória, estão, por certo, a questionar-se sobre o que teria provocado tal milagre. «Mais do mesmo! São todos farinha do mesmo saco, amassados e moldados pelos mesmos donos!» - eram as frases que mais se ouviam, proferidas por todos aqueles

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que tinham virado as costas à livre e democrática escolha dos candidatos que, ciclicamente, lhes eram apresentados no cardápio eleitoral. Mas o que é facto é que, desta vez, contra todas as expectativas, muitos dos que vociferavam contra o sistema, lá foram colocar a bendita cruzinha nos boletins de voto. E o inimaginável aconteceu: o «tal» tinha sido o escolhido, contradizendo, furando e abalando todas a previsões, que davam como certa mais uma vitória de um dos representantes das proeminentes e afamadas famílias da região. Finalmente, o Zé, como era conhecido e carinhosamente tratado pelos amigos, sem títulos académicos, sem apoios, nem berço dourado mas com uma enorme vontade de mudar o mundo (o seu) - tinha conseguido convencer os seus concidadãos abstencionistas que a maior mudança residia em cada um deles. A festa foi grande e bonita e, passados já tantos anos, ainda hoje, teóricos e analistas de outras localidades visitam periodicamente a cidade onde a tal mudança se operou. O presidente Zé já cá não está, mas o jardim florido e multicolor a que deram o seu nome, continua a simbolizar as raízes que naquela localidade deixou. E assim acabou a estória, com um final que o tempo tornou feliz!” Aqui vos deixei um final de uma estória que, na minha imaginação, fez história. O início começa assim: “Era uma vez…”. O resto da estória? O resto escrevam-no vocês, pois a mim não me apeteceu!.

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OPINIÃO O lenço Paulo Bernardo (Empresário)

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enho sorte, como diz a minha filha, de ter uma vida meio louca, ando um pouco pelo mundo. Numa conversa sobre as chatices de estar longe, ela dizia-me que entendia, mas que eu também tinha bastante sorte pois conhecia muitos lugares e pessoas. Tive que concordar com ela. Durante uma das minhas viagens acabei por conhecer um casal cinco estrelas bastante radical, ambos adeptos de um sem número de atividades que eu nem me passa pela cabeça fazer. A última aventura foi irem até ao Irão de férias e, pelo que vou acompanhando nas redes sociais, estão a divertir-se imenso e o país, para espanto meu, tem inúmeras coisas para fazer. Contudo, dentro deste divertimento todo, desde mergulhar até andar de bicicleta, uma coisa despertou-me a atenção: o lenço que a minha amiga usa para cobrir a cabeça. Estranho, pois nunca a vi com nada a cobrir a cabeça, no entanto, facilmente entendi o porquê e até aceito, pois é uma questão cultural. Mas é aqui que o problema surge, a questão cultural, religiosa, o que seja. Não podemos ter dois pesos e duas medidas, não podemos querer o respeito no mundo ocidental e depois obrigar a que se cumpram as suas regras culturais no oriente. O mundo tem que chegar a um acordo. A tolerância é das características que mais admiro num ser humano, mas tolerância em demasia pode ser burrice. Hoje vivemos uma tolerância enorme com alguns e depois isso não nos é dado em troca. Ao

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mesmo tempo, a tolerância é usada muitas vezes para benefício próprio. E nem todos são assim, tenho amigos muçulmanos que se integram, todavia, não perdem as suas raízes culturais, como a minha amiga, que colocou o lenço, mas não perdeu as suas origens. Isso é ser tolerante para com quem nos recebe. O mundo não pode ser tolerante só num lado, e eu até gosto dessa tolerância, mas depois faz-me confusão a sua não reciprocidade. O problema é que estas questões são meramente teóricas. Na prática não se conseguem mudar mentes por decreto, mas sim pela educação e informação. Por isso acredito que a intolerância vá cada vez sendo maior e os ataques culturais vão surgindo, quer por quem se sente ofendido por não poder manter as práticas do seu país de origem, bem como por quem vê de uma forma estranha quem chega ao seu país com diferentes hábitos. Não me parece, desta forma, que o que aí venha seja bom, pois estamos a cair num radicalismo muito estranho. Hoje, põem-se em causa temas que nunca seriam falados há cinco anos. Não sei como dar a volta a isto, contudo, não discordo que se usem lenços onde se quiser, como também não discordo que não se usem. Cada um deve decidir o seu destino, desde que não interfira com os outros . P.S. - Escrito desde São Paulo, Brasil

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OPINIÃO

A mecânica celeste Mirian Tavares (Professora) “Eu consigo calcular o movimento dos corpos celestiais, mas não a loucura das pessoas”. Isaac Newton

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ui ao cinema ver um filme, como de costume, sem saber muito o que tinha pela frente. Costumava fazer isso, ir ao cinema quase ao acaso, porque a hora era conveniente ou porque me apetecia refugiar-me na sala escura. Era algo que fazia com alguma frequência, sobretudo quando havia salas de cinema que passavam filmes imprevistos e salas escuras. O filme que me calhou naquela tarde se chamava Mécaniques célestes, uma espécie de comédia franco-venezuelana, lançado em 1995, com atores e realizadora, Fina Torres, desconhecidos para mim na altura. Conta a história de uma rapariga de boas famílias da Venezuela que decide abandonar o noivo no altar e fugir para Paris, onde tencionava ser cantora de ópera. Uma das personagens diz, em dado instante: “Nothing is beyond the reach of celestial clockwork”. A tal mecânica celeste, que dá nome ao filme, é uma disciplina do ramo da Astronomia, e que se dedica a estudar o movimento dos corpos celestes. No filme, a ciência do movimento dos corpos celestes não é tida em conta, o que interessa é a mística deste movimento que vai determinar os encontros, desencontros, os amores e as desventuras da personagem principal e dos seus amigos improváveis. É daqueles filmes de que nunca me esqueci, apesar de não ser, em termos cinematográficos, nada de especial. Mas a ideia da tal mecânica celeste que determina também o movimento dos nossos corpos, e da qual dificilmente conseguimos escapar, é uma ideia que sempre me fascinou e que o filme trata com leveza e com graça. Sem

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deixar de ser uma comédia romântica, é mais que isso. É uma peça do acaso que, casualmente, vi, e que me pôs a pensar nesta eterna tensão que nos move: o livre arbítrio – que nos dá direito de ir e vir e voltar ou ficar e uma coisa a que podemos chamar destino, que por mais que dele fujamos, acaba, quase sempre, por vencer, como no famoso conto, que todos lemos nas mais variadas versões, do encontro em Samarra. Ponho-me muitas vezes a pensar, como é possível que em determinado instante, por um impulso, ou acaso, encontremos alguém, ou percamos alguém; mudemos de cidade, de emprego, mudemos de vida e, ao fim e ao cabo, parece que havia um movimento qualquer que organizava, à nossa revelia, o que pensávamos ser um caos – a vida, ela mesma, na sua mais humana plenitude. Talvez não me tenha esquecido do filme porque ele me lembra outros tempos, quando eu tinha tempo para me dedicar a ir ao cinema sem ter nada programado, quase que por acaso e porque, na sua delicadeza, sem grandes pretensões, põe-nos a pensar sobre o movimento perpétuo que nos circunda, que está em nós, mas sobretudo, que está além de nós. E que nós pensamos controlar. Mas o próprio Isaac Newton percebeu muito cedo que uma coisa é falar do movimento mais previsível dos astros, e outra é falar dos movimentos diversos dos corpos, nada celestes, que habitam este planeta e que continuam a pensar que são o centro do universo e que tudo gira à volta de nós .

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OPINIÃO No semáforo da avenida Adília César (Escritora)

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e manhã cedo, o itinerário normal de um dia de trabalho. Sempre à mesma hora e em direcção ao destino pré-determinado. Dez minutos de trânsito intenso, mas o automóvel desloca-se por vontade própria. Há momentos em que nem sei onde estou, esqueço tudo, as mãos no volante guiam-se por um mapa misterioso e invisível. A luz vermelha do semáforo da avenida acorda-me. Pára-arranca. Parar à espera de arrancar. Um súbito de luz que me entra pelo cérebro adentro e que quase me enfurece. Hoje vou demorar quinze minutos a chegar, mesmo em cima da hora. O toque da campainha para começar a trabalhar, bom-dia!, bom-dia!, às vezes é um mau dia. A minha vida é intermitente, um pára-arranca emocional. Amarelo, vermelho e quase nunca verde. E lá está ele, de mão estendida. É um pedinte que conheço há muitos anos, sempre naquele semáforo. Parece que tem o lugar marcado, como se fosse o seu posto laboral. Trazem-no numa carrinha que vai largando outros profissionais da esmola pelos semáforos da avenida, cada um no seu escritório da pedinchice. Uma máquina empresarial bem oleada. Custa-me a acreditar na existência desta actividade comercial, a qual decerto não constará em anúncios de emprego, mas ali está ele, de segunda a sexta, das oito da manhã às seis da tarde, como um funcionário cumpridor e zeloso, sem direito a férias ou a regalias sociais. Desta vez decido prestar mais atenção, dedicarlhe os dois minutos disponíveis entre o vermelho e o verde. A sua pobreza é um facto. O seu miserabilismo é tão evidente, quase esplêndido nos adereços que me apresenta: a magreza, a sujidade e a deformação da perna. Mas a maior evidência é a tristeza, a ausência de expressão no rosto. Apodera-se de mim um desconforto quase visceral. Poderá ele ser um actor de uma peça de

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teatro infinita no grande cenário citadino? Um happening? Um estudo sociológico? Um equívoco? Ou é apenas uma miragem, a «minha» miragem diária? Passam dois minutos. Amarelo, vermelho e verde. Estendes a mão suja da fome e o teu silêncio grita. Amarelo, vermelho e verde. Ali, o sol da avenida queima os teus pensamentos e desfaz a tua fé em cinzas, que se agarram ao alcatrão e aos pneus dos automóveis que param e arrancam continuamente. Sobra a esperança perfumada pelos gases do combustível. Um posto solitário de mendicidade corajosa face aos milhares de condutores à beira de um ataque de nervos. Ninguém te vê porque ninguém te olha. Mas eu olhei-te e vi-te, por dentro e por fora. Lavei-te e acariciei-te com humildade, como se fosses o meu melhor amigo, o único amigo possível naquele preciso momento. Como se toda a minha humanidade estivesse confinada a ti. Um homem a segurar o mundo nas mãos, um malabarismo do pára-arranca da minha epifania. Amarela, vermelha e verde. A urgência agoniante do verde levou-me dali e tu ficaste, lavado e grato pelas minhas lágrimas de poeta, na fronteira da indiferença dos outros. Hoje a minha poesia não matará a tua fome, mas saberás que um poeta te viu nas intermitências da nossa respiração, naqueles breves instantes em que te sentiste vivo e eu permaneci morta por dentro, como sempre, durante aqueles dez (quinze?) minutos. Aqui e agora, longe da avenida a derreter ao sol, vejo-te nos espaços esperançosos e verdes nas palavras desde poema, que te dedico para que sonhes um mundo diferente, feito de searas e de fontes. Atrás do meu BMW uma fila infinita de automóveis buzina estridentemente o som angustiado da impaciência .

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OPINIÃO A Feira de Ladra e o TURISMO Antónia Correia (Professora)

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odas as primeiras quartas-feiras do mês acontece a «Feira da Ladra» algarvia. Em Quarteira, no concelho de Loulé, bugigangas e imitações baratas são negociados num espaço que faz as delícias dos turistas. Em cinco ruas tudo se vende, roupa e malas a menos de cinco euros e muitas bugigangas são vendidas neste espaço visitado por milhares de turistas, turistas estes que vem por recomendação de amigos ou dos hotéis em que estão alojados. Um dialeto entre o português e o inglês faz as delícias dos que nos visitam: “Only fif euros”; “Good price!”, “Very nice!” e “Have a look!” são pregões repetidos vezes sem fim pelos feirantes. Compras em mercados de bugigangas acontecem em Portugal desde o século XII, data em que surge a Feira da Ladra, que até hoje continua a atrair turistas. Atração perfeitamente justificada pela experiência autêntica que estes espaços propiciam e que fazem questão de difundir e divulgar em redes sociais ou entre amigos.

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Embaixadores por excelência destes espaços, os turistas justificam a visita e a compra, pelo jogo de enamoramento que estabelecem com o vendedor durante a negociação. Um jogo que não importa quem ganha, importa testar níveis de persuasão e conhecer culturas. Entre filhoses e bugigangas, os turistas saem da feira satisfeitos e com vontade de voltar, nos sacos trazem algumas imitações grosseiras de marcas de luxo. Comprar estas imitações não é para eles um problema, por se tratar dum comportamento que todos adotam. A consciência moral e o efeito social prevalecem. Sem qualquer carater pejorativo, estes mercados que naturalmente carecem de maior regulação e supervisão ao nível das imitações que são colocadas à venda, podem ser um cartão-devisita turístico onde as experiências autênticas se concretizam de forma espontânea e sem grandes custos .

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OPINIÃO

Da crise à gravidez da democracia Nelson Dias (Consultor)

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a véspera das eleições autárquicas e antecipando as habituais interpretações dos resultados sobre os vencedores e perdedores, as situações de urnas fechadas em alguns pontos do país, o protagonismo dos movimentos independentes e a abstenção eleitoral, entre muitos outros temas, proponho um olhar sobre a situação paradoxal da democracia. Tornou-se comum e até banal falar da crise deste tipo de regime, recorrendo a argumentos por vezes muito diversos, entre os quais se destaca a progressiva erosão da confiança da sociedade nos agentes políticos e nas instituições, no seu funcionamento, na capacidade de cuidarem do bem comum e responderem às necessidades e expetativas das populações. Esta leitura dos acontecimentos é suportada por dados do European Social Survey, segundo os quais Portugal é o país europeu com os mais baixos índices de confiança na democracia. A título de exemplo: i) 39,1% dos portugueses e das portuguesas considera que a classe política não está nada interessada no que as pessoas pensam; ii) 26,2% é totalmente descrente em relação à ação do Parlamento; iii) 40,7% não acredita nos políticos. Este «desencanto com a democracia» reflete-se também de uma forma muito direta nas elevadas taxas de abstenção eleitoral. O direito histórico ao voto, que esteve na origem de amplas lutas sociais e políticas, tem passado por um processo de desvalorização tão amplo e acelerado que nos deve impressionar e deixar inquietos. Por que razão o ato por excelência do exercício da cidadania é tão pouco mobilizador para uma vasta camada da população? A resposta a esta questão parece residir na convicção de muitas pessoas de que o voto é um falso poder e que o seu exercício ALGARVE INFORMATIVO #126

é pouco relevante ou nada mudará. De acordo com esta perspetiva, a abstenção é um ato refletido e não o reflexo de posições de desinteresse ou negligencia. Instigados por este contexto mais adverso, muitos são os protagonistas, em Portugal e noutras partes do Mundo, que têm vindo a tentar contrariar as tendências em curso, gerando novas dinâmicas e criando inovadores mecanismos de participação cidadã, como caminho essencial para reconstruir a confiança e qualificar os regimes democráticos. É por isto que eu defendo a ideia de que a democracia representativa está grávida, no sentido figurado, entenda-se. Dentro dela existe o pulsar de uma outra, de um poder vir a ser naquilo que é, da procura do novo, da criação que ajuda a perpetuar o próprio regime, mas num quadro de aperfeiçoamento e melhoria, que permita ultrapassar os defeitos e desvios do passado. Os indicadores, ainda incipientes, destas novas formas de viver a democracia, de maior atividade e intensidade cidadã, são sementes de esperança, são embriões em desenvolvimento, que aos olhos dos mais otimistas ajudam a robustecer a ideia de que esta é a melhor forma de regime que podemos ter, mas nela necessitamos investir e dela precisamos cuidar. A democracia não é um dado adquirido mas uma conquista permanente. Quando a imaginamos concluída, nesse preciso momento ela começa a regredir. A este nível, os melhores exemplos de inovação democrática chegam-nos do mundo autárquico. Pela sua dimensão, proximidade à sociedade, cultura institucional, mas também vontade política, os governos locais têm sido pioneiros na experimentação de novas formas de gerir os recursos públicos e construir políticas participadas. Uma análise sobre esta matéria nunca poderá produzir conclusões generalizadas, 70


pelo que vos proponho um exercício e uma chave de leitura para que cada um possa posicionar as respetivas autarquias num de três níveis de compromisso com a promoção da participação que vos proponho. O primeiro é protagonizado pelos órgãos de poder local cujo investimento nestas matérias se pauta por cumprir o que a lei obriga. Entre outros exemplos, estão os processos de consulta pública sobre políticas ou projetos concretos, sem que se verifique uma vontade política e um esforço muito evidentes para ir além dos canais formais de divulgação e mobilização das pessoas para as matérias em apreço. Este pode ser considerado o «grau zero» do compromisso com a participação cidadã e tende a ser promovido por agentes cuja cultura democrática é muito marcada pela hierarquização do poder e pelo centralismo da decisão. O segundo nível é constituído pelas autarquias que têm vindo a fazer um certo investimento na criação de novas ferramentas de participação dos cidadãos, baseadas na vontade dos eleitos e não na obrigatoriedade da lei. São práticas em processo de experimentação, mais ou menos bem conseguidas, mas que deixam evidenciar uma certa preocupação com a crise de confiança nas instituições e o progressivo afastamento dos cidadãos da vida política. Este «grau intermédio» do compromisso com a participação é resultante de uma cultura democrática de maior abertura ao diálogo entre o governo local e a sociedade, em que a segunda não é apenas entendida como destinatária das opções do primeiro. O terceiro e último nível é protagonizado pelas autarquias, ainda em número muito reduzido, que para além da promoção das práticas obrigatórias e voluntárias referidas nos estados anteriores, estão empenhadas em construir sistemas integrados de participação, numa lógica de diversificação e articulação de ferramentas de interação entre a administração e a cidadania. Esta é uma realidade com muito potencial de progressão pela frente mas também como uma trajetória percorrida que ajuda a consolidar a ideia de que outras formas de exercício democrático são possíveis e desejáveis. Este «grau elevado» de compromisso é resultante de uma cultura política que não tem medo da participação, que, pelo contrário, a perspetiva como um elemento essencial para enfrentar os

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desafios da governação de sociedades complexas e desiguais. Os três níveis aqui expostos devem ser entendidos como ideais-tipo, cujo objetivo é fornecer um código de leitura ou uma linha de interpretação que permita a qualquer pessoa fazer uma análise do desempenho da sua autarquia na promoção da participação cidadã. Sejamos vigilantes e exigentes, realizando, já amanhã, o nosso direito ao voto, cumprindo, deste modo, o grau zero do nosso compromisso com a democracia .

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OPINIÃO

O Anti-Turismo (parte 2) Artur Filipe Gregório (Antropólogo)

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tualmente, avolumam-se os conflitos entre autóctones e visitantes nos destinos de turismo de massas com maior procura. É um facto que, perante uma escalada nos preços do imobiliário, aumento do custo de vida, congestionamento do tráfego, competição no acesso aos recursos locais e perturbação dos

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estilos de vida pessoais e das comunidades, crescem as vozes críticas e as reações radicais. No entanto... Foi o aumento do valor do imobiliário que estimulou os processos de reabilitação urbana em muitas cidades que enfrentavam sérios problemas de decadência dos seus centros históricos (Lisboa, Porto e Barcelona são bons exemplos); O setor do turismo contribui significativamente para a criação de emprego (direto e indireto) embora por vezes sazonal; O setor do Turismo, embora baseada na exportação de serviços, representa um estímulo importante para outros setores produtivos e de transformação; A procura crescente por produtos turísticos «genuínos»; turismo de experiências e de envolvimento ativo dos participantes e turismo com preocupações de responsabilidade ambiental e social, são responsáveis pela recuperação e valorização de práticas culturais em risco, recuperação sustentável de património natural e cultural e o surgimento de novas indústrias culturais e criativas. O «fiel da balança» entre aquilo que as comunidades estão dispostas a integrar e suportar e aquilo que provoca rejeição é o ponto a partir do qual é ultrapassada a capacidade de carga de determinado recurso e 72


ele deixa de poder ser desfrutado com qualidade. Embora dependente da compensação económica e social gerada pela procura turística, esse ponto a partir do qual se geram movimentos de revolta carece de regulação pública, não podendo depender exclusivamente dos operadores do mercado. O equilíbrio será impossível? Embora todos os locais, serviços e infraestruturas necessários ao normal funcionamento das comunidades locais e ao acolhimento dos visitantes tenham limites a partir dos quais entram em rotura, frequentemente esses limiares não são conhecidos nem acautelados e são licenciados ou permitidos fluxos de visitantes que excedem a utilização com satisfação dos recursos. Se a lotação das viaturas e de espaços de diversão é definida por lei, não é de todo irrealista pensar que também a lotação dos centros históricos, do alojamento turístico ou local, do parqueamento de autocaravanas, entre muitos outros exemplos, possa ser limitada de forma a que se possam manter determinados padrões de qualidade de serviço, sem excluir as comunidades locais. Longe de ser inovadora, esta definição de limites – sempre acompanhada de soluções alternativas exequíveis – é praticada por todo o mundo e acaba por provocar, a médio prazo, maiores níveis de satisfação global e de perenidade do destino. A

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sua definição e implementação deve ser rigorosa, fundamentada e acompanhada, para que as partes interessadas – incluindo as comunidades locais – se apropriem do seu sentido de utilidade pública e contribuam para a sua implementação. Neste caso em concreto, a proliferação de visões ditas «egoístas» ou de curto-prazo tendem a comprometer a sustentabilidade do destino como um todo, exaurindo os recursos que constituíam a sua essência diferenciadora e diminuindo a sua competitividade. Já não estamos na época do “quando este destino estiver estragado, vamos para outro” – slogan da época do boom do turismo de massas. Irá sempre haver massificação no turismo e pessoas focadas apenas no «consumo» puro-eduro dos estereótipos promovidos nos pacotes de baixo preço. No entanto, existem cada vez mais outras motivações de sustentabilidade, equidade e responsabilidade social que requerem dos destinos turísticos uma maior maturidade, coerência e uma preocupação com valores e princípios que os visitantes reputam de decisivos na altura de tomarem decisões. Cabe a cada destino definir, coletivamente, a sua estratégia diferenciadora e preparar-se para os impactes positivo e negativos que resultem desse posicionamento. Sabe qual é a estratégia do Algarve? .

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OPINIÃO

Quanto custa um Cozinheiro? Augusto Lima (Cozinheiro e Formador)

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m economia, Preço e Custo são coisas diferentes, contudo, podemos sempre questionar se o preço de custo é proporcional ao preço de venda (relação Preço/Qualidade). Nesta história, importa saber se o Patrão paga (compra) pelo preço justo o que o trabalhador lhe custa (vale). Confuso? Esta crónica dá continuidade à anterior onde perguntava «Quanto custa um Cozinheiro?». Cozinheiro ou artífice de qualquer outra profissão, para um Patrão, acresce ao valor que tem que pagar anualmente pelo trabalhador, mais dois meses relativos aos Subsídios de Férias e de Natal, mais um valor mensal (cerca de 1 por cento do salário), relativo ao Seguro de Acidentes de Trabalho, mais, no caso de um trabalhador da Indústria Hoteleira, um valor relativo à Medicina do Trabalho, mais um valor (diferente de caso para caso) referente à alimentação e ao alojamento (quando existe). E não se contabilizam gastos com lavagens de roupa (quando há), água, detergentes, papéis, enganos, equipamento partido ou avariado, bebidas e comidas fora das refeições. Para os colegas que não faziam ideia alguma disto, facilmente se percebe que muitas vezes o custo inerente a um só trabalhador é por vezes incomportável, matematicamente falando. A pergunta a fazer antes de contratar um profissional ou um amador, deve sempre ser esta: «Que tipo de profissional se precisa?». De um profissional? Boa, está no bom caminho. Vejamos: De um Chefe de Cozinha (Operacional/Formador/Gestor), de um Chefe de Cozinha (Gestor/Formador), de um Cozinheiro de 1.ª que até consegue ajudar o patrão na gestão da Cozinha, ou de um Cozinheiro de 2.ª e alguns Cozinheiros de 3.ª? Primeiro de tudo, ainda, deverá analisar qual o negócio que possui. Qual a faturação anual prevista, face ao investimento? Quantos lugares sentados? Em que zona está instalado o ERB? Será que me chega alguém que desenrasque, que já tenha alguma experiência, ou necessito efetivamente de contratar um Profissional? Aí, o valor desse Profissional tem que ser de acordo com o volume de dinheiro que ele irá proporcionar ao Patrão/Empresa (e atenção que nem

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sempre o dinheiro diz tudo, pois a qualidade de uma marca não tem preço e gera transversalmente muito mais dinheiro). Se precisar de um amador, de um Chefe de «faz de conta» ou um Cozinheiro que desenrasque, então é porque não precisam de facto de ninguém, pois não deveriam sequer abrir nenhum espaço de restauração. Estão proibidos! Ao fazerem isto estão a promover a Demagogia, Exploração, Ruína financeira global (precariedade de emprego, sazonalidade, custos com Segurança Social, ruína da família, aniquilação da qualidade, zelo e profissionalismo por parte do profissional ou se quem ambiciona ser). O valor de um trabalhador deverá sempre referir-se ao seu tempo de trabalho (volume/horas de trabalho) e à qualidade do mesmo (perícia profissional/saber). Por isto tudo, quando pergunto «Quanto custa um Cozinheiro?», a resposta deve ser «Aquilo que ele vale» e, neste caso, o Cozinheiro tem que dar provas do seu valor profissional e pessoal (pois relações humanas dependem sempre dos caráteres dos indivíduos envolvidos). O que faz um cozinheiro de verdade? – Apresenta-se fardado e limpo, conhece e cumpre regras de higiene e boas práticas. Cozinha segundo as várias técnicas e receitas. Conhece os pontos de cozedura e as diferenças e características dos alimentos, limpa, arruma e mantém limpo o seu local de trabalho. Cumpre horários, está pronto para dar (mas também espera receber). Está pronto para aprender mais e mais e aceitar desafios tipo missão impossível. Para fazer tudo isto tem que ser pago devidamente. Quanto? Mais que uma mulher-a-dias (sem reparo, factual). Mais do que um Ajudante Cozinha, mais de um Copeiro ou Vendedor indiferenciado numa loja de superfície comercial. E é urgente rever a tabela salarial da Indústria hoteleira, pois lá se encontra escrito que um Cozinheiro de 2.ª deve auferir, no mínimo, 620 euros e um Cozinheiro de 1.ª 680 euros. Para aqueles que querem fazer um bom trabalho, mas querem abdicar de ter um Chefe de Cozinha residente, existe sempre a hipótese de terem um a trabalhar como consultor . 74


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ATUALIDADE

ESTAÇÃO ELEVATÓRIA DA PRAÇA DOS PESCADORES EM CONCURSO PÚBLICO

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oi aberto o concurso público para a construção da estação elevatória da Praça dos Pescadores, em Albufeira, no valor de quase 940 mil euros. A obra enquadra-se no Plano Geral de Drenagem de Albufeira, que apresenta um conjunto de intervenções estruturantes e complementares que visam controlar os problemas de inundação da bacia da ribeira de ALGARVE INFORMATIVO #126

Albufeira, em particular na zona baixa da cidade. Uma das principais infraestruturas estruturante prevista pelo PGDA consiste na construção de um novo túnel, de grande capacidade hidráulica para o desvio dos caudais da ribeira de Albufeira. Prevêem-se ainda, como medidas prioritárias, as seguintes intervenções: construção de dois coletores; reforço dos dispositivos de captação do escoamento superficial 76


(principalmente na vila de Ferreiras, zona industrial de Vale do Paraíso e na cidade de Albufeira); desconexão do coletor da Rua Cândido dos Reis ao túnel; beneficiação do Caneiro da zona baixa; e minimização das perdas de carga localizadas na rede de drenagem. O coletor da Rua Cândido dos Reis encontra-se localizado num ponto baixo. Em tempos de chuva, os caudais que afluem a essa zona, seja por escoamento superficial ou resultando da ocorrência de extravasamentos, não têm forma de serem drenados caso o Carneiro se encontre em carga. Assim, prevê-se tamponar a ligação existente ao túnel e proceder à implantação de uma estação 77

elevatória para drenar os caudais afluentes a zona de menor cota topográfica, conduzindo-os para o meio recetor. Esta intervenção implica a reformulação da drenagem na zona, com criação de uma ligação gravítica entre o coletor da Rua Cândido dos Reis e a Praça dos Pescadores, através da construção de um coletor que permita fazer a afluir à estação elevatória os caudais que se acumulem nos pontos baixos da zona central de Albufeira. No âmbito do PGDA, prevê-se que as principais intervenções estruturantes e intervenções complementares tenham lugar num período de cinco anos, entre 2017 e 2021 .

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ATUALIDADE

CERRO DO MALPIQUE VAI TER CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

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arquiteto José Alberto Alegria encontra-se a desenvolver um «Centro Interpretativo de Boas Energias», que fará parte do Parque do Cerro de Malpique, onde o tradicional moinho da antiga vila de Albufeira foi inaugurado, a 20 de agosto, no âmbito das celebrações do Dia do Município. O projeto foi já adjudicado ao seu atelier, pelo valor de cerca de 75 mil euros. José Alberto Alegria tem desempenhado um papel de destaque no âmbito da arquitetura contemporânea, quer em Portugal, quer no estrangeiro, muito em especial em Marrocos, país do qual é cônsul. Com diversos trabalhos premiados, foi pioneiro em Portugal na renovação da geoarquitetura e das modernas Arquiteturas em Terra e tem tido um percurso de continuidade, entre a Arquitetura Tradicional do Mediterrâneo e a Arquitetura Contemporânea, e entre a Arquitetura do Sul de Portugal e as Arquiteturas de Magreb. É também membro fundador das Organizações «Geodomus Internacional», com sede em Barcelona, «MultiCulti - Culturas do Mediterrâneo», com sede em Mértola e «Associação Al Mouatamid Ibn Abbad – para a Cultura Islâmica e Mediterrânica»,

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pertencente à Universidade do Algarve. É ainda Professor Convidado do Mestrado «Portugal Islâmico e o Mediterrâneo» da Universidade do Algarve. Em 1998/1999 realizou, por convite do Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR), o «Estudo, Análise e Propostas de Consolidação das Muralhas de Taipa do Castelo de Paderne», em Albufeira. Mais tarde, em 2007, passou a integrar o grupo de reflexão sobre “uma nova cultura 78


da água no Mediterrâneo”, da Fundação Anna Lindt sediada em Alexandria, no Egipto. Mais recentemente, em 2012, foi integrado como Investigador no Centro de Investigação em Território, Arquitetura e Design (CITAD) da Universidade Lusíada de Lisboa. De acordo com José Alberto Alegria, este novo trabalho respeita as características geológicas do local, as tipologias estruturais existentes e as exigências técnicas do programa pretendido, o qual prevê que aquele espaço à entrada da cidade seja um parque de divulgação das energias renováveis. Para esse centro, vai utilizar a edificação já existente, pelo que considera as antigas e eficientes práticas de ventilação e iluminação natural, mas irá recorrer aos mais recentes

equipamentos de produção de energia renovável, com balanço energético próximo do zero. Este novo trabalho arquitetónico de José Alberto Alegria compreende também uma interligação do edificado com a mancha verde de espécies autóctones da envolvente, introduzindo o elemento água, como símbolo patrimonial das civilizações mediterrâneas. Assim, serão criados percursos pedonais de acesso e visita ao longo da escarpa do cerro, que permitirão a observação de espécies vegetais existentes, constituindo uma mais-valia lúdica para os visitantes. O edifício pretende ainda incluir um estabelecimento de bebidas, que sirva o seu interior e exterior, permitindo que os visitantes beneficiem da vista panorâmica do local .

ALBUFEIRA APOSTA EM SISTEMA INFORMÁTICO DE REGA

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Município de Albufeira encontrase a investir na ampliação da rede de rega com estações meteorológicas e sistemas de gestão remota para otimizar o consumo de água na rega e reduzir custos operacionais de manutenção. A instalação de estações meteorológicas nas zonas verdes e a correspondente adaptação do sistema de rega com unidades telemétricas emitindo dados via Wi-Fi permitirá a otimização do débito de água em função das condições meteorológicas. Quando chove, o sistema corta de imediato o fluxo de água, evitando assim o desperdício. Quando existe vento, o sistema adapta de forma 79

automática o débito de água ou, em casos de ventos fortes, corta pura e simplesmente o consumo, evitando desperdício de água. Todo o sistema, no valor de cerca de 70 mil euros, é gerido remotamente através do telemóvel ou mesmo PC, otimizando desta forma o recurso à utilização de mão-deobra. As zonas atualmente englobadas com este sistema incluem o Parque de Alfarrobeira, o Jardim da Biblioteca, o Parque de Vale Faro, o Parque da Cocheira e o eixo viário correspondente à EN 395. Albufeira torna-se, deste modo, líder na região algarvia em termos de zonas verdes com implementação destes sistemas e no aproveitamento das novas tecnologias à gestão das zonas verdes . ALGARVE INFORMATIVO #126


ATUALIDADE

PISCINA MUNICIPAL DE CASTRO MARIM REABRE EM OUTUBRO

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Piscina Municipal de Castro Marim, que tem estado encerrada para obras de melhoramento, deverá reabrir em meados de outubro. Recorde-se que, em resultado de uma anormalidade registada nas análises periódicas, e em vez de tratar exclusivamente do extermínio da bactéria identificada, a autarquia optou por aproveitar o momento para fazer diversas intervenções, nomeadamente colmatar algumas debilidades construtivas e problemas que surgiram com o uso cada vez mais frequente das instalações. Foram então realizadas obras nos sistemas de tratamento da água e ar; remodelação do sistema de chuveiros e lava-pés; substituição de madeiras e outros trabalhos de carpintaria; melhoria

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de pavimentos; pinturas interiores e exteriores; desinfeção total de condutas e arranque da maquinaria. A Piscina Municipal de Castro Marim foi concluída em novembro de 1997, com o objetivo de apoiar as escolas do concelho no ensino e desenvolvimento da natação. Esta instalação, coberta, tem como base um tanque com 166,6 metros quadrados (16,6m de comprimento e 10m de largura), dois balneários masculinos e femininos, balneário para técnicos e sala de espera e receção. Para além da utilização escolar e do público em geral, a piscina conta ainda com o funcionamento da Escola de Natação, promovida pela autarquia, onde se desenvolvem as classes de Adaptação ao Meio Aquático, Aprendizagem e Hidroginástica .

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MAIS 45 MIL UTENTES VÃO TER MÉDICO DE FAMÍLIA NO ALGARVE

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4 Médicos de Medicina Geral e Familiar iniciam funções durante o mês de outubro nos Agrupamentos de Centros de Saúde do Algarve, colocados no âmbito do procedimento concursal aberto pelo Aviso n.º 10362A/2017, no passado dia 7 de setembro, para recrutamento Médicos recém especialistas em Medicina Geral e Familiar (1.ª Época de 2017) para as várias unidades de saúde do SNS. Foram publicitadas a nível nacional 290 vagas, das quais 238 ficaram ocupadas, sendo que, no Algarve, das 33 vagas colocadas a concurso, 24 ficaram ocupadas, correspondendo a 72 por cento de taxa de ocupação, a mais elevada nos concursos recentes. Ficaram colocados no Algarve 14 médicos cuja formação foi concluída fora da região, e ficaram colocados, dos 11 internos que terminaram a sua formação no Algarve, 10 que escolheram celebrar contrato com a ARS Algarve, permitindo

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desta forma alargar a cobertura assistencial dos cuidados de saúde primários e atribuir Médico de Família a mais 45 mil e 600 utentes do Algarve. Estes novos Médicos de Medicina Geral e Familiar vão iniciar funções nas respetivas unidades funcionais de saúde, tendo sido colocados 13 no ACES Barlavento (concelhos de Lagoa, Lagos e Portimão) e 11 no ACES Central (concelhos de Albufeira, Faro, Loulé), tendo ficado vagas de Aljezur, Silves, Vila do Bispo e Tavira por ocupar. A integração destes novos Médicos de Medicina Geral e Familiar no SNS do Algarve aumentará significativamente a taxa de cobertura de utentes residentes na Região e inscritos no Serviço Nacional de Saúde com médico de família atribuído. Estas medidas estão integradas na estratégica assumida pela ARS Algarve com vista a melhorar e reforçar a prestação de cuidados de saúde de proximidade e a acessibilidade aos mesmos, para os algarvios e para quem visita a região .

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ATUALIDADE

FUTURO JUÍZO DO COMÉRCIO DE LAGOA VAI SERVIR TODO O BARLAVENTO

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oi aprovado, no dia 19 de setembro, o Protocolo a celebrar entre o Município de Lagoa e o Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça, IP para a instalação do Juízo do Comércio de Lagoa, integrado no Tribunal Judicial da Comarca de Faro, no edifício do CEFLA, que será remodelado e adaptado para o efeito. O protocolo vem na sequência do esforço da autarquia para dotar Lagoa de estruturas e serviços que valorizem o

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Concelho e só foi possível devido à disponibilidade imediata de cedência do espaço, remodelação e adaptação do edifício, dotando-o de todos os meios necessários para o seu funcionamento. Neste Tribunal de Juízo do Comércio de Lagoa, que servirá os concelhos do barlavento, poderão ser tratados os assuntos relacionados com insolvências de empresas e particulares, bem como processos envolvendo relações comerciais. 82


AUTARQUIA DE LOULÉ BENEFICIA REDE VIÁRIA A PENSAR NOS INCÊNDIOS

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o âmbito das medidas preventivas a adotar pela Câmara Municipal de Loulé através dos seu Serviço Municipal de Proteção Civil (SMPC) contra o flagelo que são os incêndios florestais, e na sequência da reunião de trabalho promovida por este serviço com os representantes das associações e clubes de caça do Concelho, Guarda Nacional Republicana e Corpo de Bombeiros, foi decidido pela Autarquia avançar com o programa de apoio à beneficiação de rede viária rural e florestal, de forma a garantir a circulação de veículos de combate e vigilância. Os trabalhos a executar foram validados após a realização de visitas conjuntas com as entidades e os clubes e associações de caça aos locais a intervencionar,

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inventariando os caminhos prioritários que necessitam de intervenção. O programa atribui um apoio financeiro pela Autarquia às associações e clubes de caça para fazer face às despesas das intervenções definidas. Até à data aderiram 19 clubes e associações, prevendo-se que sejam executados 310 quilómetros de caminhos rurais e florestais no Concelho de Loulé. Ainda no âmbito da defesa da floreta contra incêndios, a Câmara Municipal de Loulé também estabeleceu protocolos com as associações e clubes de caça do Concelho para aquisição de um kit de primeira intervenção para incêndios florestais, reconhecendo que estas entidades constituem um parceiro de excelência na área da Proteção Civil, nomeadamente na prevenção, dissuasão, alarme e gestão do território florestal deste concelho . ALGARVE INFORMATIVO #126


ATUALIDADE

CASA DA EMPREITA E OFICINA DE CALDEIREIROS VALORIZAM ARTESANATO E ARTESÃOS EM LOULÉ

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pós um período experimental de funcionamento da «Oficina de Caldeireiros» e da «Casa da Empreita», o Município de Loulé assinou acordos de cooperação com os artesãos e artesãs que lhe estão associados. Trata-se de mais uma ação integrada no projeto «Loulé Criativo» que, na senda da valorização da identidade do território, apoia a formação e atividade de artesãos e profissionais do sector criativo,

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contribuindo para a revitalização das artes tradicionais A «Casa da Empreita» reedita, em moldes atuais, o que há mais de um século eram as casas da empreita que então existiam um pouco por todo o Algarve, destacando-se, de entre elas, a de Loulé, pela sua importância. 12 artesãs trabalham e comercializam o que produzem na «Casa da Empreita», entrelaçando a palma, cosendo e ligando cada um dos seus ramais, 84


produzindo variadas peças: sacos, alcofas, capachos, peças de formato mais tradicional ou inovador. Também os sons do martelar no cobre e no latão - produção manual de peças mais tradicionais, mas sempre atuais, como tachos, caçarolas, cataplanas e de outros objetos imaginados e criados para responder aos gostos e necessidades do presente - se voltaram a ouvir com a abertura da «Oficina de Caldeireiros», onde trabalham cinco caldeireiros, no mesmo espaço onde, no passado, funcionou a «Caldeiraria Louletana» com o mestre Ilídio António Marques. A «Oficina de Caldeireiros» localiza-se na Rua da Barbacã e a «Casa da Empreita» na Rua Vice Almirante Cândido do Reis, em espaços disponibilizados pelo Município, para que artesãos em cooperação ali possam produzir e comercializar o que produzem, cumprindo um conjunto de requisitos que garantem a autenticidade e valorizam os saberes e práticas que cada peça incorpora .

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ATUALIDADE

BOMBEIROS DE PORTIMÃO RECEBERAM EQUIPAMENTOS PERSONALIZADOS

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ecorreu, no dia 26 de setembro, a entrega de uma centena de Equipamentos de Proteção Individual para Incêndios Urbanos e Industriais aos Bombeiros de Portimão, num ato presidido por Isilda Gomes, Presidente da Câmara Municipal de Portimão, e Álvaro Bila, Presidente da Direção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Portimão. Os 100 elementos receberam, desta forma, equipamentos personalizados e feitos à ALGARVE INFORMATIVO #126

medida em Inglaterra, com características únicas e fulcrais à mobilidade e proteção dos seus utilizadores face aos riscos, num investimento específico que ultrapassou os 960 euros por fato. Em 2017, o orçamento global total dedicado à área da Proteção Civil ascendeu a um milhão de euros, através de um plano estratégico concertado de reequipamento da proteção civil municipal, que decorrerá até ao final do ano .

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FESNIMA ASSINOU CONTRATOS DE REABILITAÇÃO DE HABITAÇÃO SOCIAL

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ando seguimento ao plano de investimentos na reabilitação do parque habitacional do concelho de Olhão, a empresa municipal Fesnima assinou mais dois contratos refentes a empreitadas de reabilitação de dois bairros de habitação social, em Quelfes e na Fuseta, no valor de cerca de 200 mil euros. Uma das empreitadas diz respeito à reabilitação das coberturas do Bairro Rua Manuel de Oliveira, na freguesia de Quelfes, e foi adjudicada à empresa «A.M. Barriga», pelo valor de 121 mil e 972,63 euros. A intervenção abrange 12 blocos de habitação multifamiliar e contempla a

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substituição das coberturas de fibrocimento por painéis sandwich e a reparação das impermeabilizações, com um prazo de conclusão de 120 dias. A outra empreitada, adjudicada à empresa «José Quintino» pelo valor de 64 mil e 810,87 euros, diz respeito ao Bairro Rua Nossa Senhora do Carmo, na Fuseta, englobando quatro blocos de habitação multifamiliar. Serão substituídas as coberturas de fibrocimento por painéis sandwich, reparadas as impermeabilizações e pintadas as fachadas exteriores dos edifícios. O prazo de conclusão é de 90 dias.

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ATUALIDADE

DINAMARQUÊS LUCAS BJERREGAARD VENCEU PORTUGAL MASTERS 2017

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icardo Melo Gouveia e Filipe Lima fizeram história no 11.º Portugal Masters, ao partilharem entre si o 5.º lugar, a melhor classificação de sempre de portugueses no mais importante torneio de golfe de território nacional. Lima (com voltas de 69, 66, 68 e 67) e Melo Gouveia (com rondas de 69, 67, 69 e 65) totalizaram 270 pancadas, 14 abaixo do Par, ficando a seis do campeão, o dinamarquês Lucas Bjerregaaard, que adicionou cartões de 66, 65, 68 e 65 e conquistou em Vilamoura o primeiro ALGARVE INFORMATIVO #126

título da sua carreira no European Tour, a primeira divisão europeia. De uma assentada, Bjerregaard embolsou 333 mil e 330 euros e ascendeu do 114.º ao 47.º lugar da Corrida para o Dubai, garantindo virtualmente que irá continuar no European Tour, passando a lutar pela qualificação para o DP World Tour Championship, no Dubai. Esse era o principal objetivo dos dois atletas olímpicos portugueses, para o qual seria necessário um top-3, mas este 5.º lugar, ainda assim, valeu 77 mil e 400 euros a cada um. Em 88


relação à Corrida para o Dubai, Ricardo Melo Gouveia melhorou de 133.º para 114.º, enquanto Lima subiu de 176.º para 145.º. Faltam agora quatro torneios até ao final da época regular do European Tour e os dois portugueses precisam entrar no top-100 da Corrida para o Dubai para prosseguirem no European Tour na próxima temporada. Há outra hipótese, que consiste em ficarem no top-10 da Access List, um ranking que só conta os eventos que não integram a Rolex Series. Nessa hierarquia, Melo Gouveia deu um salto para 13.º e Lima para 25.º. Certo é que o recorde nacional de 16.º classificado de Ricardo Santos no Portugal Masters de 2012 foi pulverizado e, no caso de Ricardo Melo Gouveia, ainda se pensou na hipótese de chegar à vitória, quando andou algum tempo no segundo lugar, por duas vezes distintas durante a última volta. Quando acabou a sua prova, era o líder na clubhouse, algo de inédito na prova para um português. Para o Turismo de Portugal, os números de afluência, as transmissões televisivas para todo o Mundo, a promoção do golfe no Algarve em particular e no país em geral, os prémios sistemáticos de melhor destino turístico de golfe, são os fatores determinantes do sucesso do torneio. No entanto, o 5.º lugar de Lima e Melo Gouveia são considerados igualmente como uma enorme alavanca para o golfe ser encarado como desporto e não apenas como uma atividade económica .

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 5852 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina

A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos.

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