REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #428

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ALGARVE INFORMATIVO 30 de março, 2024 #428 GYM FOR LIFE | BÁRBARA SANTOS | «ANOTHER ROSE» | DIA DA ÁRVORE NA INFRAQUINTA E INFRALOBO 13.º ANIVERSÁRIO DA TEIA D’IMPULSOS | CARLOS ALBERTO MONIZ | SVETLANA BAKUSHINA FUSION PROJECT DO AUDITÓRIO MUNICIPAL DE OLHÃO

ÍNDICE

Infralobo e Infraquinta festejaram Dia Mundial da Árvore (pág. 16)

13.º aniversário da Teia D’Impulsos (pág. 22)

Gym for Life em Portimão (pág. 32)

Bárbara Brás dos Santos (pág. 60)

Áurea no 15.º aniversário do Auditório Municipal de Olhão (pág. 68)

«Another Rose» no Cineteatro Louletano (pág. 82)

Svetlana Bakushina Fusion Project no Cineteatro Louletano (pág. 94)

Carlos Alberto Moniz no «Choque Frontal ao Vivo» (pág. 102)

OPINIÃO

Mirian Tavares (pág. 110)

Fábio Jesuíno (pág. 112)

Júlio Ferreira (pág. 114)

Sílvia Quinteiro (pág. 116)

Nuno Campos Inácio (pág. 118)

João Ministro (pág. 120)

Infralobo e Infraquinta unidas em prol da sustentabilidade ambiental

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Dia Mundial da Árvore e o Dia Internacional das Florestas, uma celebração global do papel vital que as árvores e florestas desempenham no nosso planeta, foram assinalados de forma especial pela Infralobo com um evento, no dia 21 de março, que visou também responder de maneira prática e positiva aos desafios ambientais que a área de Vale do Lobo, no concelho de Loulé, enfrenta, especialmente na sequência

dos devastadores incêndios do Verão de 2022.

Assim, como parte deste esforço de recuperação, foi organizada uma ação de plantio de 185 árvores na área afetada pelo incêndio no Trafal, com a dimensão de 8 mil metros quadrados, num gesto simbólico de renovação e esperança que destaca o compromisso contínuo desta empresa municipal com a preservação ambiental e a sustentabilidade. O momento contou com a participação especial de alguns utentes da EXISTIR, bem como de Vítor Aleixo, presidente da

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Câmara Municipal de Loulé, e de outros responsáveis autárquicos.

Ainda no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Árvore e do Ambiente, a Infralobo e Infraquinta levaram a cabo, de 18 a 21 de março, em colaboração com as escolas do Agrupamento de Almancil, uma semana especial dedicada à natureza e à preservação do meio ambiente. A par de várias atividades planeadas para fomentar a consciência ecológica entre os alunos, as duas empresas municipais forneceram árvores, plantas suculentas e aromáticas para as escolas e jardins de infância do Agrupamento de Escolas de Almancil. Além disso, comprometeram-se a preparar os terrenos e a auxiliar na plantação das espécies fornecidas, de modo a realçar a importância da

biodiversidade e da sustentabilidade ambiental.

O destaque desta semana aconteceu, a 21 de março, Dia Mundial da Árvore e Dia Internacional das Florestas, com os administradores da Infralobo, Carlos Manso, e da Infraquinta, Pedro Pimpão, a envolverem-se na plantação de duas árvores na Escola Dr. António de Sousa Agostinho, em Almancil. “A nossa esperança é que estas árvores, no futuro, deem frutos, do mesmo modo que esperamos que as novas gerações estejam mais sensibilizadas para estas matérias. Queremos chegar à consciência dos mais novos e, se conseguimos mudar a mente de duas pessoas, já é uma vitória”, considera Carlos

Manso. “A natureza trata-se de si própria, temos é que criar condições para que isso aconteça, ao invés de interferirmos nas leis básicas da vida, como muitas vezes fazemos, infelizmente. Temos que apostar forte na educação ambiental junto dos mais novos, para que levem esta mensagem mais longe. Só assim conseguiremos um futuro mais equilibrado e sustentável”, salientou, por sua vez, Pedro Pimpão,

lembrando que são várias as parcerias existentes entre a Infraquinta e a Infralobo. “Seja na questão da água, da plantação de árvores, dos resíduos, tudo o que diga respeito à sustentabilidade ambiental move-nos em conjunto. É a maneira mais fácil de ganharmos voz para que a natureza saia beneficiada. Através destas ações locais tentamos responder a um apelo global”, reforçou Pedro Pimpão.

Teia D’Impulsos festejou 13.º aniversário

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Teia d’ Impulsos

Teia D'Impulsos festejou, no dia 16 de março, o seu 13.º aniversário rodeada de familiares e amigos, entre equipa, parceiros e voluntários, com uma série de momentos especiais a partir do Auditório do Museu de Portimão. A associação com sede em Portimão aproveitou a ocasião para apresentar o ColorADD, o alfabeto de cores criado para daltónicos, o seu mais recente e promissor parceiro, e para anunciar o Prémio Margarida Tengarrinha em homenagem a esta grande personalidade portimonense que tanto lutou pela

liberdade, direitos humanos e igualdade de género.

Os responsáveis da Teia D’Impulsos lembrou ainda a sua Campanha de Consignação do IRS «Faça esta viagem connosco» e partilhou os testemunhos especiais, em vídeo, de alguns dos seus voluntários. Para concluir, houve ainda atuação de dança contemporânea da sua Academia de Ballet e um beberete no final, a cargo da Sam Catering e Vinhos do Algarve, com o cantar dos parabéns e corte de bolo. Na Gala estiveram presentes o Vice-Presidente do Município de Portimão, Álvaro Bila, e a Vereadora Teresa Mendes, entre outras personalidades .

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Pavilhão Desportivo da Boavista vibrou com o Gym for Life

Territorial da Associação de Ginástica do

Algarve

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Pavilhão

Desportivo da Boavista, em Portimão, esgotou por completo, na manhã do dia 23 de março, com o Gym for Life Territorial organizado pela Associação de Ginástica do Algarve em parceria com a Associação Desportiva Alvoreiros. Dividida em três secções – Concurso de Ginástica com Aparelhos, Concurso de Ginástica e Dança Pequeno Grupo (até 20 ginastas) e Concurso de Ginástica e Dança Grande Grupo (21 ou mais ginastas) – a presente

edição contou com a participação de 15 grupos, num total de 329 ginastas, em representação de oito clubes, que deixaram em êxtase as centenas de pais que enchiam a bancada deste equipamento desportivo.

A Associação Cultural Desportiva Che Lagoense levou 41 elementos de Rítmica de Representação, ao passo que a Associação Desportiva Alvoreiros marcou presença com as Bonecas (15 elementos) e as Borboletas (16 elementos), ambas de ginástica rítmica de representação. A APAGL – Associação de Pais e Amigos da Ginástica de Loulé levou o maior

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contingente, com Acrobática Formação Almancil – Anos 80 (49 elementos), Loulé Formação – Mini anos setentinha (21 elementos), Acrobática de Formação Quarteira – Red (19 elementos) e Loulé pré-competição – Vintage 70's (20). Também de Loulé foi o Louletano Desportos Clube com as Moretis (15 elementos), enquanto Faro esteve representado pelas Gutinhas do Gimnofaro Ginásio Clube (27 elementos). O Clube Instrução e Recreio Mexilhoeirense levou as classes de Mini Gym (15 elementos), Kids Gym (27 elementos) e Teen Gym (16 elementos) e, de Olhão, foi a Green Team do Núcleo do Sporting de Olhão (26 elementos) e a Fénix 1 (11 elementos) e Fénix Canção do Mar (11 elementos) do Ginásio Clube Olhanense.

No final, o coletivo de avaliadores, constituído por Rui Martins, Ana Ventosa, Raúl Correia e Carina Rosa, decidiu

Aparelhos, menções de ouro às Bonecas da Associação Desportiva Alvoreiros, de prata às Gutinhas do Gimnofaro Ginásio Clube e de bronze às Borboletas da Associação Desportiva Alvoreiros e à Mini Gym do Clube Instrução e Recreio Mexilhoeirense; no Concurso de Ginástica e Dança Pequeno Grupo, menções de ouro às Moretis do Louletano Desportos Clube, de prata às Vintage 70’s da APAGL e à Teen Gym do Clube Instrução e Recreio Mexilhoeirense, e de bronze às Red da APAGL e à Fénix 2 «Canção do Mar» e Féniz 1 do Ginásio Clube Olhanense; finalmente, no Concurso de Ginástica e Dança Grande Grupo, a menção de ouro foi para a Rítmica de Representação da Associação Cultural Desportiva Che Lagoense, a prata foi para as Mini Anos Setentinha e Anos 80 da APAGL e o bronze para as Kids Gym do Clube Instrução e Recreio Mexilhoeirense e para a Green Team do Núcleo do Sporting de Olhão .

Bárbara Brás dos Santos estreia-se na poesia com «A Metamorfose de um Abraço»

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina ioloncelista de profissão e professora no ensino deste mesmo instrumento, Bárbara Brás dos Santos chega agora ao público através da palavra, com «A Metamorfose de um Abraço». Um livro de poesia que estava muito longe dos objetivos desta portuense que fez os estudos em música na Escola Profissional Artave em Santo Tirso, antes de rumar à Escola Superior

de Música em Lisboa, onde ficou cinco anos. Enquanto tirava o Mestrado em Ensino da Música começou, entretanto, a dar aulas de violoncelo na Academia de Música de Lagos e no Conservatório de Música de Portimão.

No final de 2016 regressou ao Porto, deu aulas na Escola de Música Óscar da Silva, em Matosinhos, fez o performer diploma «Os Violoncelos de Santa Cristina», mas antes do violoncelo veio, porém, o piano e a guitarra. Só que, aos 12 anos, a escolha de vida foi tomada sem

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que consiga dar uma explicação lógica. “Num concerto pedagógico em que apresentam os vários instrumentos e as suas famílias, o som do violoncelo disse-me qualquer coisa. Não foi nada premeditado, vi, ouvi, achei fantástico, fiz as provas de aptidão e entrei na Escola”, recorda Bárbara Brás dos Santos, acrescentando que, depois, a caminhada não é nada fácil para quem pretende ser músico profissional. “Para tocar numa orquestra, ou vamos enquanto freelancers e nunca sabemos quando é que precisam de nós para fazer reforço; ou estamos a contrato, o que implica fazer diversas provas, porque a concorrência é enorme. Mas estudar devidamente para isso, cinco a oito horas por dia, enquanto damos 28 horas de aulas por semana, não dá”.

Perante este cenário, Bárbara Brás dos Santos começou a tocar, em 2015, com os Esfinge, projeto de Luís Caracinha, depois com os Riding a Meteor, também de Luís Caracinha, com o Quinteto Sull’a Corda e nas bandas de Ricardo Martins, Helena Madeira e Teresa Aleixo. “Adoro tocar em orquestra, mas há outros tipos de música e ambientes que são igualmente gratificantes. Estar envolvida em vários projetos no Algarve foi um dos fatores que pesou na decisão de me mudar definitivamente para a região. No primeiro ano dei algumas aulas

nos Conservatórios de Faro e Olhão e, mais tarde, concorri ao Conservatório de Música de Loulé Francisco Rosado. É uma opção que nos garante uma maior estabilidade financeira e tenho que ser grata por, aos 30 anos, ser efetiva no público e no privado, em Loulé e Olhão”, declara a entrevistada.

Conciliar a faceta de instrumentista e professora não é, todavia, «pera-doce», principalmente quando surgem propostas para tocar na Orquestra Sinfónica Portuguesa do Teatro Nacional de S. Carlos, como freelancer, daí que há mais de quatro anos que não o consiga fazer. “É um pouco frustrante, porque, para ensinar, também tenho que continuar a evoluir como música e pessoa. Se paramos de tocar, estagnamos, é uma luta constante”, admite, adiantando ainda que ser música acaba por ser uma maisvalia para a vertente de docente no que toca ao relacionamento com os alunos. “Eu já tive a idade deles, já estive onde eles estão, já tive os sonhos e expetativas que eles têm, o que gera uma maior afinidade. E, em termos técnicos, é imprescindível que um professor também seja um músico ativo, que toque, que suba ao palco. A música é arte, está sempre a andar para a frente e precisamos acompanhar essa caminhada na prática, não basta a teoria”, defende.

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Dividida, então, entre o ensino e a música, Bárbara Brás dos Santos tem a particularidade de movimentar-se bem em diferentes estilos, da clássica ao pop e fado, acompanhando a guitarra portuguesa, o acordeão ou a harpa. “Música é música e tem por base harmonias, melodias e sensações que estão presentes em todos os géneros”, explica, com um sorriso. O problema é que tocar em vários projetos não é sinónimo de rendimento fixo ao fim do mês, avisa. “Neste momento, por exemplo, nenhum dos projetos está ativo, daí que a agenda esteja mais preenchida entre maio e setembro, e a tocar em casamentos. Também pode acontecer estar a gravar ao mesmo tempo em estúdio para discos de várias bandas”.

“É um livro muito natural e pessoal”

No meio disto tudo, Bárbara Brás dos Santos começou a escrever há cerca de ano e meio, como terapia, por estar a atravessar uma fase de vida em que se sentia «presa» e precisava deitar algumas coisas cá para fora. “Estava em casa, no sofá, peguei num lápis e caderno e saíram poemas, cinco ou seis por dia. Primeiro foi a rima, o mais comum, depois passei para a não-rima, e, quando já tinha vários, achei que devia mostrá-los a alguém, nomeadamente ao Luís Caracinha e ao Tiago Marcos, que me disseram para continuar”, conta a autora. “E, independentemente de sair alguma coisa boa ou má, o

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objetivo daquilo ser um refúgio para mim funcionou”.

«A Metamorfose de um Abraço» está, deste modo, dividido em duas partes: a primeira inspirada nos Hemimetábolos, insetos com metamorfose incompleta; e a segunda inspirada nos Holometábolos, insetos com metamorfose completa, o que também simboliza a própria evolução da forma de escrever de Bárbara Brás dos Santos. “Começa mais com o medo, a desilusão, a tristeza, a frustração, a saudade no seu sentido figurado negativo. Depois, começo a perceber a saudade como algo positivo e gratificante para o meu crescimento, a compreender a diferença entre a solidão e a solitude. Primeiro temos que estar bem sozinhos para depois conseguirmos estar bem com o mundo”, descreve. “Não falo muito em abraços, só mesmo na parte final. No início, o último poema terminava com a palavra «abraço», a que se seguia uma frase isolada, «abraços de vento que nos abrigam dia e noite». O livro estava encerrado na minha cabeça, mas a vida vai-nos trazendo surpresas e resolvi escrever mais, pelo que o livro termina de uma forma em que já não existem abraços de vento”.

Poemas que se encontram registados no livro por ordem cronológica, refletindo a metamorfose pessoal pela qual passou

a própria autora. “É um livro muito natural e pessoal, mas a poesia é toda ela pessoal. Quando decidi editar o que tinha escrito, não pensei na questão de me estar a expor perante o público. Neste mundo, é tudo importante e real, cada um perceciona a realidade de uma maneira diferente, portanto, não há apenas uma realidade. Este livro é apenas uma junção de palavras e sentimentos que podem fazer tocar as pessoas, que se

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podem identificar – ou não – com estes poemas”, entende Bárbara Brás dos Santos, que não se mostra muito preocupada com o sucesso comercial que o livro possa ter ou não. “A minha ideia nunca foi ganhar dinheiro ou ficar famosa com a escrita, se houver algum reconhecimento, que seja pela sua qualidade. Estou orgulhosa e satisfeita com o trabalho final e tenho recebido feedback positivo. Mais do que escrever, gosto de ler e, neste último ano e meio, consumi

imensa poesia. Precisamos ler para nos instruirmos em qualquer coisa da vida e, neste período, devo ter lido 30 livros de poetas diferentes. O mais importante é a poesia fazer parte da minha vida, mais como leitora, porque escrever não é uma profissão das nove às cinco. A poesia, para mim, é uma coisa natural, espontânea, não é forçada, por isso, não sei se haverá mais livros”, conclui Bárbara Brás dos Santos .

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ÁUREA ANIMOU 15.º DO AUDITÓRIO MUNICIPAL

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

ANIVERSÁRIO MUNICIPAL DE OLHÃO

15.º

Á

urea regressou a Olhão, no dia 22 de março, para apagar as velas do 15.º aniversário do Auditório Municipal, num concerto em que esteve constantemente à conversa com o público, num registo bastante informal e bem-disposto. Uma das mais bem-sucedidas e populares artistas do panorama musical português, dona de uma voz inconfundível, Áurea conta no seu palmarés com dois discos de ouro, um disco de platina e mais um de dupla platina, além de um Globo de Ouro

para Melhor Intérprete Individual. Venceu também o galardão «Best Portuguese Act», da MTV Portugal, em dois anos consecutivos.

A par dos seus temas mais conhecidos, Áurea deu a conhecer, ao vivo, as músicas de «Moods», disco lançado em março de 2023 e que marca a sua estreia como compositora, bem como os 10 anos de carreira. Canções muito bem recebidas pela plateia que encheu o Auditório Municipal de Olhão e que vaticinam tempos de sucesso para a artista, agora num registo diferente .

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CINETEATRO LOULETANO DIA INTERNACIONAL DA «ANOTHER ROSE» DE SOFIA

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

FESTEJOU DA MULHER COM SOFIA SANTOS SILVA

LOULETANO

8 de março, Dia Internacional da Mulher, foi assinalado, no Cineteatro Louletano, em Loulé, com a subida a palco de «Another Rose», de Sofia Santos Silva, com interpretação a cargo de Beatriz Baptista, Cire Ndiaye e Sofia Santos Silva.

Em «Another Rose», Sofia Santos Silva propõe uma colaboração com Gulabi Gang, um grupo ativista sediado em Uttar Pradesh, no norte da Índia, procurando tornar o espetáculo numa

plataforma ao serviço da missão deste coletivo fundado por mulheres como resposta à violência sistémica e discriminação generalizada de uma sociedade assente em práticas e costumes patriarcais que banalizam a violência sobre as mulheres. Sampat Pal, líder do grupo, inicia este espaço de luta, de forma a consciencializar as mulheres sobre os seus direitos constitucionais e mecanismos de defesa no combate às desigualdades de género enraizadas.

O espetáculo é, por isso, um encontro à distância com estas mulheres que cantam os seus ideais de mudança e mostram os passos de uma irmandade que se unifica

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pela transformação. Por outro lado, destaca-se a importância de todo o tipo de irmandades, em qualquer contexto e realidade, que iniciam espaços de resistência contra a ação de prejudicarem a especificidade de cada corpo.

O projeto venceu a quarta edição da Bolsa Amélia Rey Colaço, uma iniciativa promovida conjuntamente pel’A Oficina

(Guimarães), O Espaço do Tempo (Montemor-o-Novo), o Teatro Nacional D. Maria II (Lisboa) e o Teatro Viriato (Viseu). O espetáculo é uma coprodução do Teatro Nacional D. Maria II, Centro Cultural Vila Flor, Teatro Viriato e O Espaço do Tempo, contando com os apoios do Fundo Cultural – SPAUTORES e da DGARTES – Ministério da Cultura .

SVETLANA BAKUSHINA NOVO DISCO NO CINETEATRO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes

APRESENTOU CINETEATRO LOULETANO

BAKUSHINA

m mais um concerto com sabor a Festival MED, o Cineteatro Louletano, em Loulé, assistiu, no dia 9 de março, ao lançamento do novo disco de originais de Svetlana Bakushina Fusion Project, uma fusão dinâmica de jazz, música clássica

contemporânea, étnica e rock progressivo. A formação principal inclui Svetlana Bakushina no piano e cravo, Seibas Gamboa no violoncelo e baixo e Jorge Carrilho na bateria, sendo que, neste concerto, tiveram como artistas convidados a soprano Michele Tomaz e a artista de projeções de videoarte Anastasia Maystrenko, entre outros .

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DOS AÇORES AO ALGARVE, MONIZ NO CHOQUE FRONTAL

Texto: Vera Lisa| Fotografia: Vera Lisa

ALGARVE, CARLOS ALBERTO FRONTAL AO VIVO

o dia 14 de março, o programa de rádio Choque Frontal ao Vivo contou com a participação de Carlos Alberto Moniz, um dos maiores nomes da música portuguesa da sua geração e com grande prestígio nacional e internacional. Ao longo da sua carreira, criou uma relação transversal com o público que tanto o acarinha, quer pela sua música, quer pelo seu trabalho em televisão, nomeadamente aquele ligado aos programas para a infância de que todos têm na memória, bem como pelo efetuado na rádio com as comunidades portuguesas alémfronteiras.

No Choque Frontal ao Vivo, gravado no pequeno auditório do TEMPO – Teatro

Municipal de Portimão, foi possível admirar e aplaudir a sua versatilidade artística e humana, que proporcionaram momentos musicais de grande qualidade. E, em celebração dos seus 55 anos de carreira, o músico que marcou gerações de portugueses cantou a história da sua vida, desde a infância nos Açores até aos dias de hoje. O seu mais recente trabalho discográfico «Por Esse Mar Abaixo» é um CD triplo, com 51 canções (17 em cada disco), 88 cantores e instrumentistas, e quase três horas de música.

O Choque Frontal ao Vivo regressa em abril, no dia 11, com os «Almatriz». Mais um momento a não perder deste programa da rádio Alvor FM cuja realização, produção e apresentação são asseguradas por Ricardo Coelho e Júlio Ferreira .

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Dos amores difíceis

Mirian Tavares (Professora)

Lol avait crié sans discontinuer des choses sensées : il n’était pas tard, l’heure d’été trompait. Elle avait supplié Michael Richardson de la croire. Mais comme ils continuaient à marcher - on avait essayé de l’en empêcher mais elle s’était dégagée - elle avait couru vers la porte, s’était jetée sur ses battants. La porte, enclenchée dans le sol, avait résisté.

Marguerite Duras

omo diz a música, “o amor jamais foi um sonho, eu bem sei, já provei e é um veneno medonho (…)”. O amor é algo que frequenta nossas vidas, se tivermos sorte, ou quem sabe, má-sorte. Porque nem sempre as histórias de amor acabam bem. Muitas se desgastam pelo convívio e pela aridez do quotidiano. Porque um ama cães e o outro, gatos. Porque nem sempre o que se dá é o que o outro quer receber, ou simplesmente porque um dos dois decide que já não quer mais. Como se a outra pessoa fosse algo, um objeto que perdeu seu valor e, como tal, merece ser deitado no lixo. Houve uma história que começou num final de tarde de verão. Entre buganvílias e um sol morno, quase a desaparecer. Uma mesa longa que não conseguia afastar os olhares trocados, quase tímidos. Mas cheios de curiosidade e de desejo. Um se aproxima do outro e começam a falar, ou melhor, a tentarem se entender, cada um na sua língua e com pouco domínio da língua do outro. Mas os olhos falam e disseram muito. Talvez a mecânica celeste tivesse maquinado para que aquele casal se encontrasse ali –

numa terra estrangeira. E decidiram desbravar esta terra juntos. Cúmplices numa empreitada difícil – manter vivo o amor, apesar dos anos que passam, da idade que chega, dos percalços, do dia-adia, dos trabalhos, da vida ela mesma que se apresenta de rompante com seus altos e baixos. Manter vivo o amor que se julgava infinito – fruto de uma decisão comum de não se deixar vencer. Mas, como muitas outras histórias, essa também teve seu fim, prematuro, sem aviso prévio. Diz-se que o amor não mata. Mas mói. O amor é capaz de derrubar montanhas e de fazê-las, infelizmente, cair sobre nós. De amor se adoece, de amor se morre, de amor se sofre da mais profunda angústia – daquele momento de encontro com o real intransponível e indesejado. Com aquilo que não queremos ver de frente, mas somos obrigados a encarar. O amor pode matar, devastar, destruir qualquer um que se entregue sem reservas, que se dedique, ano após ano, a construir uma relação, um futuro. O amor mata o futuro, as fotos que já não serão tiradas, os planos que foram (des)feitos, as certezas. O amor mata aquele que ama demais .

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Foto: Vasco Célio
Empreendedores estão a transformar, revolucionar e remodelar o mundo

Fábio Jesuíno (Empresário)

ivenciamos uma grande revolução industrial, onde os avanços tecnológicos e científicos se sucedem e têm um impacto global.

Vivemos uma época de transformações avassaladoras, onde mudanças económicas e sociais estão ocorrendo a um ritmo nunca antes visto. No centro desse turbilhão, surge uma figura crucial: o empreendedor visionário. Mais do que meros agentes de mudança, esses loucos e persistentes, como você os define, são faróis de esperança, guiando-nos através da incerteza com ousadia e convicção.

A cultura empreendedora floresce em nossa sociedade, assumindo um papel cada vez mais vital como motor da economia, especialmente na era da transformação digital. Essa força propulsora impulsiona o desenvolvimento, gerando inovação, emprego e oportunidades.

O empreendedorismo conquista seu lugar na educação, permeando diversos níveis de ensino, com destaque para as universidades. A criação de incubadoras de startups e a estreita ligação com o

meio empresarial preparam os futuros líderes para os desafios do mercado.

Aprender a lidar com as dificuldades e superar os riscos é fundamental para o sucesso. O medo do erro é substituído por uma visão positiva do aprendizado que cada obstáculo oferece. A ausência de erros pode indicar falta de inovação e aversão ao risco, aspectos que impedem o crescimento.

Ser empreendedor não se limita a um grupo seleto, mas sim a uma atitude acessível a todos. É a busca incessante por novas ideias, a iniciativa e a ação movidas por uma visão diferenciada do mundo. Essa postura contribui para a construção de uma sociedade melhor, onde cada indivíduo pode ser um agente de mudança.

O crescente interesse pela cultura empreendedora transforma mentalidades, revelando novas realidades e abrindo caminhos inexplorados. Essa mudança de paradigma empodera os indivíduos, oferecendo ferramentas para construir um futuro mais próspero e sustentável para todos.

Ao celebrarmos a cultura empreendedora, reconhecemos o

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potencial transformador que reside em cada indivíduo. Incentivamos a ousadia, a criatividade e a perseverança, valores essenciais para navegarmos pelas incertezas do mundo contemporâneo e construirmos um amanhã mais brilhante.

Juntos, podemos fomentar um ecossistema vibrante de empreendedorismo, onde cada ideia inovadora tenha a oportunidade de florescer e gerar impacto positivo na sociedade .

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O 4.º Pastorinho de Fátima

Júlio Ferreira (Inconformado encartado)

sismo que se sentiu recentemente em Portugal, seguido de um maremoto que devastou a nossa região, não só foi causado por um partido, uma ideologia, mas principalmente por descontentamento gradual de sermos há muito um sequeiro de oportunidades para os residentes, habitação precária ou mesmo inexistente e cansaço compreensível de uma classe política descredibilizada, mas também por uma pessoa, esse 4.º pastorinho de Fátima, André Claro Ventura. O Terramoto de Lisboa em 1755, como agora, teve um enorme impacto político e socioeconómico na sociedade portuguesa do século XVIII. O acontecimento foi largamente discutido pelos filósofos iluministas, como Voltaire. Hoje pelos «paineleiros» que proliferam em todos os canais televisivos.

O de dia 10 de março começou pelo distúrbio de energias de várias placas tectónicas que levou à demissão prematura de um Primeiro-Ministro (ou demitido, não sei) e com toda a crise política que se vive atualmente. Se André Ventura não era (obviamente) nascido há 268 anos, tem uma ligação cósmica óbvia ao último terramoto sentido em Portugal, com réplicas sentidas recentemente com a eleição do Presidente da Assembleia da República. Com alguma criatividade e humor, quais as provas desta ligação? São demasiado evidentes, mas dado que há gente que é demasiado distraída, vou mesmo assim enumerá-las.

Comecemos por analisar a ligação histórica de André Ventura aos últimos grandes terramotos em Portugal, e ao mais famoso e de maior magnitude de todos, o de 1 de novembro de 1755. Estava previsto há muito!

Quantas letras tem «André Claro Ventura»? Contem-nas: 17 letras. Quantas letras tem «André»? 5 letras. Quantas letras tem «Claro»? 5 letras.

Vejam bem: 17 letras, 5 letras, 5 letras. 17 5 5 - 1755, o ano do Terramoto.

Querem mais provas? O homem nasceu no mês 1 (janeiro). Em que dia foi o Terramoto de 1755? No dia 1 (de novembro). Em que dia foi o Terramoto de 2024? No dia 10 de março.

Mais uma? «André Claro Ventura», como já vimos, tem 17 letras. «Terramoto de Lisboa» tem – adivinhem!... – 17 letras!!... Para finalizar: quer «André Claro Ventura», quer «Terramoto de Lisboa» têm 2 «e», um «d» e um «l»... Com estas letras escreve-se a palavra «dele». De quem é a culpa do Terramoto afinal? «Dele». De «André Claro Ventura».

Passando agora ao recente terramoto –querem provas da ligação com «André Ventura»? Segundo os dados do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, o sismo de 10 de março teve uma magnitude de 9 na escala de Richter. Quando foi fundado o partido CHEGA? A 9 de abril de

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2019. O sismo deu-se às 14h16. Somemos os números: 1+4+1+6=12. Quantas letras tem «André Ventura»? Exato 12!

Mais uma, para terminar: O sismo fez-se sentir na manhã de 1 de novembro de 1755 às 9h30 ou 9h40 da manhã, dia que coincide com o feriado do Dia de Todos-os-Santos. O que se julga «André Ventura» sempre que se olha ao espelho? Um santo…

Não esquecer que o 4.º pastorinho de Fátima aos catorze anos, tornou-se um católico entusiasta, batizou-se e fez a primeira comunhão e o crisma. Quis ser padre e frequentou o Seminário de Penafirme, seminário menor do Patriarcado de Lisboa.

Podia continuar, mas julgo que já são suficientes provas – se há um responsável pelo abalo sentido, só pode ser um único… o

4.º pastorinho de Fátima, que em 2017 teve uma visão. Num prado verdejante perto de Loures onde era vereador do PSD, descobriu uma cultura estranha de cogumelos que mudaria a sua vida para sempre. Assim que os ingeriu ao lanche as coisas começaram a mudar de figura e a assumir contornos surrealistas, os animais desataram a ficar às cores, flutuando 3,5 cm acima do chão, cantando o «Hino da Mocidade Portuguesa», a sua coelha Acácia desatou a falar inglês recitando discursos completos de Donald Trump e um vulto branco com feições muito masculinas que faziam lembrar Oliveira Salazar, apareceu em cima de uma árvore, pendurada por um gajo de asas brancas, parecido com Diogo Pacheco Amorim a balbuciar umas coisas querendo dar um ar inteligente. O resto da história é do conhecimento público: um racista inteligente e um povo farto de ladrões de rebanhos a querer desesperadamente acreditar em qualquer coisa.

Posto isto (como em 1755), há que «enterrar os mortos e cuidar dos vivos», não adiantando colar etiquetas respeitar a vontade do povo, apostar em novas pessoas e ideias, compreender e combater as razões do ressentimento, aproximar a política e a democracia dos algarvios em particular e dos portugueses em geral (até porque o Algarve só elegeu 3 dos 50 deputados extremistas). Trabalhar sem alarmes nem derrotismos, aproveitar o momento para alterar profundamente o estado da região e de quem cá habita 365 dias do ano.

NÓS MERECEMOS!

#algarviosquenaochegam .

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A janela da cozinha

Sílvia Quinteiro (Professora)

reparo uma chávena de chá e bebo-o de pé. À janela da cozinha. Com vista para o mato.

Para lá do vidro, um chão coberto de rosmaninhos, azedas, tomilho, espargos selvagens, estevas exuberantes. Liláceas brancas desenham riscos verticais. Em primeiro plano, dois pinheiros albergam centenas de pássaros: rolas, pardais, melros, pegas-azuis, pintassilgos …

O dia amanheceu toldado por um nevoeiro intenso. Hoje não há voos. Nem chilreios. Nem pousares desconfiados. Arbustos, muro, parapeito. Vazios. Apenas uma tela a verde e cinza. Cinzasilêncio, cinza-infinito. Lembra-me a névoa que cobre a paisagem em «O monge junto ao mar», de Caspar David Friedrich. Sonolenta, a cadela repousa a um canto, encolhida. Uma pequena mancha negra, entediada, que olha demoradamente o horizonte despido, como o religioso no quadro do pintor alemão. Nem um pássaro. Nem uma lagartixa. Um tédio langoroso. O frio e a humidade a impedirem a primavera. Os bichos amalhados.

Há tempos, ocorreu-me encher as árvores do jardim de casas para pássaros. São tantos. E tão frágeis! É impossível não pensar na dureza do inverno. Nas

penas ensopadas. No tiritar dos pequenos corpos. Nos vendavais que os derrubam das árvores. Na chuva e no vento que lhes destroem os ninhos. Por isso, venham de lá as casas de várias cores e feitios. De madeira. De palha. Bonitas. Seguras. Apetecíveis. E venham de lá o escadote e as horas passadas a pendurar estas moradias de luxo nos ramos e troncos do arvoredo. Telhados em bico, entradas redondinhas, pequenos poleiros salientes. A perfeição. O contentamento de saber que fiz algo por quem me dá tantos momentos de prazer à janela. Pensavam que não vos via? Que não me interessava? Estavam tão enganados. Eis a recompensa. Não são maravilhosas?

Já passaram quatro anos, desde que instalei a urbanização de luxo. Entretanto, mudei a disposição das casas, subi-as, desci-as, deixei-as mais protegidas pela folhagem, depois menos. Coloquei comida à entrada. Lá dentro. Nos ramos mais próximos. E, até hoje, nem um inquilino. Na verdade, nem um pretendente a inquilino. Os pássaros mantêm-se ao longe. Voam por ali. Enchem os papos de figos e nêsperas. Pousam para apanhar folhas e ervas secas. A cadela sempre à espreita, pronta para lhes espetar o dente. Descolagens apressadas. Carregam no bico estes materiais de construção e depositam-nos nos pinheiros-dormitório. Para lá do muro. Sempre para lá do muro. Nos

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subúrbios. Um vaivém contínuo. As casas vazias.

Intriga-me este não ficar. Esta ida e vinda permanente. A busca desnecessária de alimento. O trabalho meticuloso de construção de um ninho frágil, quando bastaria desfrutar do conforto do que lhes é oferecido. Sou levada a acreditar que estas criaturas podem não ser tão despojadas de filosofia quanto pensamos. Que podem não se limitar a nascer, viver e morrer. Quem sabe se, como nós, precisam de objetivos concretos, de um motivo para existirem entre o primeiro e o último suspiro... Por isso, desprezam as casas na árvore. Porque carecem de uma razão para

continuar a voar, para chilrear, para disputarem a fruta connosco. Ou porque temem a solidão. Talvez precisem da segurança de estar entre os seus. De os ouvir. De sentir o seu respirar e o seu calor. Ou pode ser que o mato seja casa suficiente para si. Que o teto e as paredes os encurralem e os sufoquem.

O piar insistente de uma gaivota trazme de volta ao presente. Notícias do mar bravio. Pouso a caneca. Tento retomar o trabalho, mas também eu me recolho. Enrolo-me sobre mim mesma no sofá com um olhar mole na direção do meu condomínio deserto .

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Será isto uma Democracia?

Nuno Campos Inácio (Editor e escritor)

tema que vos trago não é inédito, mas, se ninguém reforçar as incongruências do nosso sistema eleitoral, o mesmo nunca caminhará para uma efetiva democracia representativa, que reflita fielmente a escolha dos portugueses.

Realizadas as Eleições Legislativas, concluiu-se que um em cada nove votos expressos foram inconsequentes. Não serviram para eleger ninguém e seguiram diretamente para o caixote do lixo eleitoral. Nestas eleições, o número de votos inútil corresponde à soma das votações da IL e do BE, 673 mil votos.

Isto deve-se à subdivisão do círculo eleitoral nacional por 22 pequenos círculos, aplicando-se a cada um deles o Método de Hondt para a escolha de um determinado número de deputados, que não é uniforme. Lisboa elege tantos deputados quanto a soma dos distritos de Portalegre, Évora, Beja, Setúbal e Faro, ou seja, a metade sul do país. Esta contingência política explica muito do desinvestimento feito a sul do país, comparado com o investimento realizado nos círculos eleitorais com maior representação eleitoral. Que investimento fará qualquer governo num distrito como o de Portalegre, que elege

dois deputados nacionais e é irrelevante para o jogo político? Pouco mais de um zero absoluto, contribuindo cada vez mais para o abandono da região e para o empobrecimento do país.

Este sistema, que favorece claramente os maiores partidos, tem sido defendido por melhor garantir a governabilidade do país, ainda que seja por demais evidente que esse argumento é uma falácia, pois, o que garante a governação do país são as políticas executadas e o progresso nacional e não as maiorias absolutas. Ainda assim, sempre diremos que o fundamento da democracia é espelhar fielmente a vontade dos eleitores e não a manutenção no poder de determinadas forças políticas.

Outra falácia é a da representatividade territorial, uma vez que os eleitos, de acordo com o regimento parlamentar, não representam as suas regiões, mas o todo nacional; não faltando ainda exemplos de imposição de nomes dos quadros partidários em círculos eleitorais com o único objetivo de garantirem a eleição.

Deste modo, temos o desvirtuar da vontade popular. Se houvesse um único círculo eleitoral, com os resultados eleitorais de 10 de março, o Parlamento teria a seguinte composição: PSD – 72 (elegeu mais 8); PS – 70 (elegeu mais 8); Chega – 45 (elegeu mais 5); IL – 12

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(elegeu menos 4); BE – 10 (elegeu menos 5); CDU – 7 (elegeu menos 3); Livre 7(elegeu menos 3); PAN 4 - (elegeu menos) e ADN – 3 (não elegeu nenhum). Daqui retiramos que muitas vezes a apregoada decadência de algumas forças partidárias não correspondem à realidade eleitoral, mas sim às consequências de um sistema eleitoral obscuro.

Como poderá o sistema evitar o desprezo absoluto pelos votantes dos círculos eleitorais com menor representatividade? Existem diversas formas: Para o Parlamento Europeu existe um único círculo eleitoral, que espelha fielmente a realidade eleitoral; nos Açores, criaram um círculo de compensação para onde são canalizados os votos perdidos, onde são tidos em conta para a eleição de Deputados; também há quem defenda a criação de

duas Câmaras Parlamentares com dois sistemas de eleição.

Certo é que a Democracia, se pretender ser respeitada enquanto sistema político, tem de começar a respeitar os eleitores e o peso eleitoral do universo dos votantes. Não adianta fazer campanhas de incentivo ao voto, para depois ignorar o sentido dos votos expressos.

Sendo repetitivo com este artigo, mais não faço do que apelar, uma vez mais, à consciência democrática dos governantes, sob pena da democracia vir a descambar num outro sistema político mais obscuro, com reflexos negativos na governação e desenvolvimento do país .

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O Grande Risco

João Ministro (Engenheiro do ambiente e empresário)

oi publicado, há poucas semanas, o primeiro relatório de sempre sobre os riscos climáticos na Europa produzido pela Agência Europeia de Ambiente (EEA)1. E a mensagem aí constante não é animadora, se assim pode dizer-se. Como se apela nesse estudo, ou “agimos agora ou as alterações do clima irão causar danos catastróficos neste continente”. E o Sul será quem mais sofrerá. As consequências identificadas – resultantes da análise de 36 riscos inseridos em 5 áreas temáticas – serão desastrosas ao nível da perda de vidas humanas, bem como na economia em geral. Estima-se, por exemplo, que somente em resultado do avanço do mar, os prejuízos na orla costeira superem 1 trilião de euros por ano.

As conclusões não são, porém, algo novo. A maioria dos problemas têm sido repetidamente descritos em vários fóruns e meios informativos sem que efectivamente se assista a uma actuação dirigida e corajosa por parte dos governantes e dirigentes políticos no sentido de os resolver ou atenuar, e procurar mudar o paradigma de desenvolvimento em que vivemos. Infelizmente. Vejam-se alguns exemplos desta constatação:

1. Restauro dos ecossistemas: as zonas costeiras e os ambientes marinhos estão em estado crítico de conservação, seja por via da má gestão, exploração de recursos e ocupação, seja pela poluição industrial. A meta para proteger 30 por cento das águas marinhas não está a ser cumprida e Portugal está mesmos entre os Estados Membros mais atrasados neste capítulo – nem sequer ainda identificou a totalidade dessas zonas a proteger2. A Lei do Restauro da Natureza, por outro lado, aprovada em Fevereiro pelo Parlamento Europeu, foi agora posta de lado no Conselho Europeu de Ministros de Ambiente, que não chegou sequer a votá-la, pondo em causa o cumprimentos dos seus objectivos estratégicos. Para isto contribuiu a negação da Hungria em apoiar esta lei, bem como a grande pressão mediática dos agricultores que querem eliminar várias barreiras ambientais à produção agrícola industrial.

2. Agricultura: neste capítulo o relatório é claro: a agricultura tem de mudar. Menos poluente, menos consumidora de pesticidas e, claro, mais adaptada à carência de água, especialmente nos tais territórios a Sul. A realidade, mais uma vez, parece não estar devidamente alinhada com este aviso. Ainda hoje se assiste à expansão de áreas de produção intensiva de diversos produtos exigentes

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em água, como a famosa pêraabacate, que nos últimos cinco anos viu a sua área no Algarve triplicar para mais de 2 mil hectares. E as principais exigências dos agricultores da região centram-se na construção de grandes barragens com vista a dispor de mais água para aumentar as áreas de produção.

3. Zonas costeiras: A subida do nível do mar, em associação com episódios extremos de temporal, vai resultar em frequentes inundações e intensos fenómenos de erosão. Aspectos, infelizmente, já amplamente constatados por aqui. Contudo, a ocupação do litoral mantém-se. Dúvidas houvesse, veja-se o caso de Quarteira e do megaempreendimento ali em construção junto da Praia do Forte Novo, que usa como slogan «o Último Algarve», uma infeliz estratégia de marketing a aludir para uma ocupação insustentável do litoral, ainda para mais num local fortemente sujeito a erosão costeira. Quem visita regulamente aquele sítio não terá deixado de notar no forte recuo da praia que ali ocorreu há pouco mais de uma semana, na ordem dos muitos metros. A reposição de areia, a acontecer, nomeadamente para recuperar o perfil de praia original e, claro, para proteger aquele empreendimento, terá custos avultados e por conta do erário publico. É

este o cenário que temos em mãos e que irá certamente repetir-se aqui e noutros tantos locais do Algarve.

Numa análise global, o referido relatório encara os países do Sul como verdadeiros «hotspots» de risco climático, com graves consequências no horizonte, de natureza diversa, como as já descritas e outras mais. O risco climático que paira sobre nós é assustador. Mas mais assustador ainda é a não actuação atempada, planeada e ponderada. É este o grande risco que temos de evitar urgentemente.

1 https://www.politico.eu/article/5things-we-learned-eu-first-climatechange-risk-report-eea/

2

https://observador.pt/2024/03/26/portug al-falha-metas-europeias-de-protecaode-areas-marinhas/

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