REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #424

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ALGARVE INFORMATIVO 2 de março, 2024 #424 SILVES TEM A MELHOR LARANJA DO MUNDO | LAR DAS FONTAINHAS VAI SER UMA REALIDADE PORTIMÃO FESTEJA 100 ANOS COM PROGRAMA DE LUXO | 7 ANOS DE «CHOQUE FRONTAL AO VIVO» PORTIMÃO E LAGOA PREPARAM JOGOS DO MEDITERRÂNEO DE PRAIA 2027 | «VAMOS FALAR SOBRE…»

ÍNDICE

Portimão festeja centenário com programa de luxo (pág. 18)

Lar das Fontainhas vai tornar-se finalmente uma realidade (pág. 26)

Portimão e Lagoa preparam Jogos do Mediterrâneo de Praia 2027 (pág. 34)

Entrevista a Martinho Santos da «Frutas Martinho» (pág. 40)

Companhia Portuguesa de Bailado

Contemporâneo no Teatro Lethes (pág. 50)

«Vamos falar sobre…» no Cineteatro Louletano (pág. 74)

7.º aniversário do Choque Frontal ao Vivo no Teatro Municipal de Portimão (pág. 90)

OPINIÃO

Mirian Tavares (pág. 98)

Fábio Jesuíno (pág. 100)

Sílvia Quinteiro (pág. 102)

Dora Gago (pág. 104)

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Comemorações do primeiro

centenário da cidade de Portimão evocam o passado e perspetivam o futuro

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Auditório do Museu Municipal de Portimão foi palco, no dia 24 de fevereiro, da apresentação pública do programa comemorativo do centenário da cidade de Portimão, preparado pelo Município e assente num vasto conjunto de atividades inspiradas nas pessoas, tendo por base as memórias, o presente e

o futuro. A abrir a cerimónia, Giacomo Scalisi, responsável pela cooperativa «Lavrar o Mar», entidade convidada pelo Município de Portimão para pensar e concretizar o programa cultural de celebração do centenário, sublinhou que “haverá uma dimensão e respiração europeia, com forte presença das artes plásticas e de espetáculos de novo circo, teatro, música e dança”, resultando dos

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contributos do grupo de pensadores constituído para o efeito e ligado à cidade, com competências nos campos da antropologia, da arquitetura, das artes e da história, entre outras áreas.

Para aguçar o apetite, Giacomo Scalisi destacou alguns projetos, entre os quais a «Biblioteca de Cordas e Nós», que trabalhará com a comunidade local, o «Museu do Tempo», que reunirá a 50 centímetros de profundidade as memórias de alguns portimonenses, para que sejam redescobertas no futuro, e os «Caminhos Orgânicos», onde os cidadãos irão traçar os seus percursos pela cidade e aquilo que acontece nesses trajetos. Uma vez que o programa comemorativo, sob o mote «Portimão, a nossa cidade», se dirige a diferentes públicos, não faltarão espetáculos de música e dança, exposições, novo circo, conferências e

seminários, sessões de cinema, performances teatrais, lançamento de livros, instalações diversas, dança, residências artísticas e gastronomia, entre outras vertentes.

Na sua intervenção, a presidente da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes, afirmou que “comemorar o primeiro centenário desta cidade que tanto amamos, e à qual chamamos de casa, servirá de pretexto para honrarmos orgulhosamente as nossas memórias e o nosso rico legado, enquanto olhamos para o futuro com entusiasmo renovado”. “Portimão é uma comunidade vibrante, onde a história se entrelaça com a modernidade, e

um dos principais destinos turísticos do país, atraindo visitantes de todo o mundo”, prosseguiu a autarca, convidando a comunidade “a refletir sobre o futuro da cidade e a participar num programa de intervenção cultural sem precedentes na região algarvia, celebrando a diversidade, a diferença e a riqueza das manifestações culturais, tanto nacionais quanto internacionais”.

“Vamos propor uma série de eventos e atividades que refletem o poder criativo e transformador da cultura, celebrando o passado e investindo no futuro”, realçou a presidente, que revelou ainda que em 2024 terão início os trabalhos de envolvimento das comunidades no processo de elaboração participada do Plano Estratégico Municipal da Cultura Portimão 2034, “através de uma metodologia inovadora e

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certificada”, promovida pelo Observatório de Políticas de Ciência, Comunicação e Cultura do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho.

A terminar, Isilda Gomes agradeceu à Ramirez, a mais antiga empresa de conservas de peixe em laboração do mundo, “por ter respondido positivamente ao nosso desafio e produzido uma edição centenária das sardinhas em azeite La Rose”, tendo sido simbolicamente distribuído a todos os presentes uma caixa com duas latas, em conjunto com o programa dos principais destaques do centenário da cidade de Portimão.

A apresentação pública antecedeu a inauguração da exposição «Histórias que o rio nos traz», que reúne fragmentos do passado de Portimão e revela muitas histórias sobre o Arade, afirmando a estreita ligação da cidade com o Arade, no contexto de uma extensa rede de intercâmbios comerciais e culturais. A mostra, primeiro evento do programa que assinala o centenário da cidade, pode ser visitada no Museu de Portimão, às terças-feiras, das 14h30 às 18h, e de quarta-feira a domingo, das 10h às 18h, até 31 de julho e a partir de 1 de setembro. Durante o mês de agosto pode ser visitada, às terças-feiras, das 19h30 às 23h, de quarta a sábado, das 13h às 23h, e aos domingos, entre as 15h e as 23h .

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Lar, Apoio Domiciliário e Centro de Dia das Fontainhas vão finalmente tornar-se uma realidade

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

cerimónia de lançamento da primeira pedra do Lar, Apoio Domiciliário e Centro de Dia de Fontainhas

decorreu, no dia 21 de fevereiro, com a presença do presidente da Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo, membros do Executivo, da Assembleia Municipal e das Juntas de Freguesia, de elementos das forças de segurança e da Autoridade Marítima, da diretora da Nuclegarve e sócios desta IPSS, e de representantes da empresa construtora e

várias associações do concelho. A obra, que foi adjudicada por 8 milhões, 254 mil e 663,93 euros, vai ser construída num terreno municipal com uma área total de 15 mil e 344 metros quadrados e tem uma capacidade de resposta para 131 utentes (61 em regime de estrutura residencial para idosos, 20 em Centro de Dia e 50 em Apoio Domiciliário), ficando sob a gestão da Associação Nuclegarve.

O edifício, que vai ser construído em três pisos, ocupa uma área de construção de 5 mil e 156 metros quadrados e é “uma obra muito importante que visa apoiar o envelhecimento com

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dignidade e qualidade de vida” considerou o presidente da Câmara Municipal de Albufeira. O edifício terá duas entradas, a principal virada a norte e localizada no piso zero, constituído por receção, administração, secretariado, casas de banho públicas, sala de vigilância, enfermagem, duas salas de estar com copa, 16 quartos e um solário semicoberto. No piso 1 ficará a cafetaria, sala de refeições e duas salas de estar (uma com copa), 13 quartos, capela, sala de enfermaria e vigilância e instalações sanitárias e para banho. O piso 2 terá uma entrada ao nível do arruamento, destinada a serviços, cargas e descargas. Comporta ainda ginásio polivalente, sala de atividades/ateliers, salão de estética, lavandaria, sala de estar com copa, seis quartos, sala de estar para o pessoal, também com copa, cozinha, zona frigorífica e zona de armazenagem. O equipamento tem uma excelente exposição solar e vai preservar o mais possível as árvores existentes.

A obra de construção do Lar, Apoio Domiciliário e Centro de Dia de Fontainhas, situada na freguesia de Ferreiras, já está a avançar e, se tudo correr conforme previsto, dentro de 510 dias irá finalmente ver a luz do dia. é um dia muito importante para os cidadãos do concelho, depois de todos os contratempos que envolveram este projeto”, reconheceu José Carlos Rolo. “O sonho e os primeiros passos com vista à construção do equipamento tiveram início em 2010 e, como não poderia deixar de ser, aqui

ficam as minhas palavras de agradecimento ao Sr. Brito, antigo presidente da Nuclegarve, ao Paulo Almeida, mentor da associação, e a Desidério Silva,

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Recorde-se que o primeiro concurso ficou deserto, no segundo foram apresentados orçamentos acima do

preço base, posteriormente, foi necessário adequar o projeto às alterações da legislação em vigor, sendo que, só em agosto de 2023, foi assinado o contrato para execução da empreitada com a empresa Telhabel pelo valor de 8

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presidente do Município na época”.

milhões e 254 mil euros, o que implicou que o contrato tivesse que ser visado pelo Tribunal de Contas. “Tudo isto resultou num processo extremamente demorado, num período pautado também pela crise internacional da Lemon Brothers, que afetou o mundo na sua globalidade e Albufeira como cidade turística em particular, e por mais dois anos de Covid, em que tudo encerrou e durante os quais tivemos que apoiar associações, empresas e instituições dependentes da administração central. O Município de Albufeira investiu (a diferença entre o valor dos apoios concedidos e o que deixou de

receber em taxas e licenças) cerca de 25 milhões de euros. Fomos o município do país que mais investiu na época”, lembrou José Carlos Rolo, sublinhando que “25 milhões de euros é um valor que dava para alocar a muitos projetos importantes para o desenvolvimento do concelho. Depois de debelada a crise começou a guerra na Ucrânia, o que trouxe enorme instabilidade em termos dos preços das matérias-primas, pelo que o valor da empreitada subiu imenso. Poderia ter custado 6 milhões de euros caso tivesse sido adjudicada há pelo menos dois anos”, comentou o edil albufeirense.

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O autarca destacou ainda que o lançamento da primeira pedra, que antecede o início da obra, “é uma cerimónia simples, meramente simbólica, mas de grande importância, uma vez que serve para dar conta aos munícipes onde a autarquia investe o dinheiro público”. “Agora é tempo de esperança e de olhar para o futuro. Este é mais um equipamento que vamos construir e que faz muita falta, à semelhança do Lar, Centro de Dia e Creche dos Olhos de Água, que inaugurámos em setembro do

ano passado, e da Unidade de Cuidados Continuados, obra que teve início na semana passada. Há muitas pessoas a necessitarem deste tipo de equipamentos: os que precisam de vir para aqui residir; as pessoas que apenas precisam de ser acompanhados em Centro de Dia; e os que mantêm alguma autonomia e suporte familiar que lhes permite ficarem nas suas casas e receber Apoio Domiciliário”, apontou .

Portimão e Lagoa querem organizar os melhores Jogos do Mediterrâneo de Praia

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Comité Internacional dos Jogos do Mediterrâneo (CIJM), o Município de Portimão, o Município de Lagoa e o Comité Olímpico de Portugal (COP) assinaram, no dia 16 de fevereiro, o contrato para a organização da quarta edição dos Jogos do Mediterrâneo de Praia, em 2027. O

de sempre

documento foi assinado pelos presidentes do CIJM, Davide Tizzano, do Município de Portimão, Isilda Gomes, do presidente do Município de Lagoa, Luís Encarnação, e pelo secretário-geral do COP, José Manuel Araújo, que manifestou “um agradecimento muito grande a quem aceitou este desafio de organizar os Jogos do Mediterrâneo de Praia, o que significa organizar o maior evento

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multidesportivo que alguma vez aconteceu em Portugal”. “O objetivo é termos em Portimão e Lagoa os melhores Jogos do Mediterrâneo de Praia de sempre. Este é um desafio regional com ambição nacional e projeção internacional”, declarou o dirigente.

Davide Tizzano, presidente do CIJM, também tem a certeza de “que os Jogos do Mediterrâneo de Praia Portimão & Lagoa 2027 serão os melhores, porque aqui há paixão, competência, federações fortes a apoiar-vos e o lugar é maravilhoso”. “Este lugar é fantástico, com boa comida e grande hospitalidade”, reforçou. Já Luís Encarnação, presidente do Município

de Lagoa, assumiu “o enorme orgulho, uma enorme honra, em partilhar com Portimão este desafio”. “Estamos disponíveis para concretizar esse desígnio de organizar os melhores Jogos do Mediterrâneo de Praia de sempre. É importante, através do desporto, trazermos gente aos nossos territórios e mostrar-lhes a nossa capacidade de acolhimento”, frisou o edil lagoense.

A cerimónia terminou com as palavras da anfitriã, Isilda Gomes, que acredita que “vamos ter excelentes resultados desportivos nestes Jogos do Mediterrâneo”. “Temos excelentes hotéis, temos

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excelentes praias e temos um excelente rio, e esta é também uma oportunidade de divulgar Portugal. Senti que este era um desafio que precisávamos agarrar. Vão ser uns excelentes Jogos e corremos o risco de virem a ser os melhores de sempre”, assumiu a presidente do Município de Portimão.

Estiveram ainda presentes Iakovos Filippousis, secretário-geral do CIJM, Ilias

Dalaínas, presidente da Comissão de Coordenação dos Jogos do Mediterrâneo de Praia Portimão & Lagoa 2027, representantes das Federações

Desportivas que terão modalidades em competição, e também José Costa, secretário-geral da Comissão de Atletas Olímpicos. A organização dos Jogos do

Mediterrâneo de Praia 2027 foi atribuída a Portimão e a Lagoa e levará aos dois Municípios, entre os dias 11 e 18 de setembro de 2027, atletas dos 26 Comités Olímpicos Nacionais que atualmente compõem o CIJM, para participarem nas modalidades de Andebol, Canoagem, Futebol, Karaté, Luta, Natação, Remo, Ténis, Vela e Voleibol.

O programa desportivo decorrerá nas Praias da Rocha e Alvor (Portimão), na Praia Grande de Ferragudo (Lagoa) e também no Rio Arade, que une os dois Municípios. As três edições anteriores dos Jogos do Mediterrâneo de Praia tiveram lugar em Pescara (Itália, 2015), Patras (Grécia, 2019) e Heraklion (Grécia, 2023).

“Produção de citrinos tornou-se, nos últimos anos, bastante competitiva e sustentável”, assegura

Martinho Santos

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina evereiro foi mês da oitava edição da Mostra Silves Capital da Laranja, numa altura em que o setor da agricultura se debate com o drama da escassez de água e não esconde as suas preocupações em relação aos efeitos das medidas ditadas pelo poder central para fazer face à situação de seca extrema. Fomos, por isso, à Ladeira da Bernarda visitar a

unidade de embalamento da «Frutas Martinho», uma sociedade agrícola que explora 900 hectares de citrinos, dos quais cerca de 300 de forma direta, sendo que os restantes 600 estão à responsabilidade de 32 agricultores que acompanham esta família de empresários há largos anos. “Produzimos, embalamos, comercializamos para o mercado nacional e exportamos para o estrangeiro, estamos nas

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várias etapas e possuímos todas as certificações exigidas por lei.

Oitenta por cento dos nossos terrenos estão no concelho de Silves, o resto espalha-se por Portimão, Lagoa eTavira, para um total de 20 milhões de quilos por campanha”, explica o Diretor Geral Martinho Santos.

Depois de embaladas, 35 por cento das laranjas da «Frutas Martinho» têm como destino diversos países europeus e africanos, nomeadamente França, Roménia, Polónia e Cabo Verde. Dos outros 65 por cento, 55 por cento vão para a grande distribuição, 10 por cento para os mercados tradicionais de Porto, Lisboa e Coimbra. E tudo isto é possível porque a laranja de Silves é, não duvida o entrevistado, a melhor do mundo. “O

Algarve tem características muito vantajosas para esta atividade, tanto em termos dos seus solos de barro e calcário, como do clima, o que se traduz numa laranja diferenciada pela sua cor intensa e pela elevada percentagem de sumo. A isto somam-se altos níveis de brix, de açúcar, que nos distinguem da laranja de outros países europeus e do norte de África”, refere o empresário.

O produto é bom, mas depois é preciso saber vendê-lo, avisa Martinho Santos, um trabalho de marketing que se concretiza na participação da «Frutas Martinho» nas feiras de Madrid e Berlim, entre outras, “mas a AlgarOrange e todos os operadores presentes no

mercado têm feita publicidade à nossa laranja”. E num negócio onde predominam as elevadas quantidades comercializadas, a união dos produtores é fundamental. “Essa tem sido mais uma das batalhas que temos travado ao longo dos anos. Juntar os agricultores nem sempre foi fácil, mas, atualmente, eles reconhecem que têm que estar associados para se conseguir produções de elevada escala. A grande distribuição requer uma excelente qualidade e, para termos isso, precisamos de muita quantidade, para depois podermos fazer a devida seleção no campo e na unidade de embalamento. E o mesmo se passa com a exportação”, indica.

Percebe-se, por isso, que a produção de citrinos é, hoje, bem diferente do que era há 10, 15 ou 20 anos atrás, e os agricultores têm-se vindo a preparar para produzir em quantidade e qualidade. “A área de produção passou de 0,5 hectare por agricultor para 8 ou 9 hectares, com variedades mais de acordo com os desejos dos consumidores e com um enorme controlo em termos de rega. É uma agricultura competitiva e sustentável”, garante Martinho Santos, o que não significa que não tenha os seus desafios e dificuldades, principalmente no que toca à matéria humana. “Neste momento temos muitos descendentes de agricultores que decidiram seguir

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as pisadas dos pais e avós, mas a maior parte dos produtores ainda são pessoas de idade avançada, dos 60 aos 70 anos. A mão-de-obra é outro problema e acredito que seja um fator bastante limitador da evolução do sector na próxima década”, entende o entrevistado.

Portanto, se o Algarve e Portugal conseguem estar no pelotão da frente no que toca à parte tecnológica e científica, no que diz respeito aos recursos humanos, a situação é precisamente a inversa. “Os jovens não querem vir para a agricultura, mesmo sendo uma atividade com rendimentos positivos, porque envolve trabalhar de sol a sol. Cuidar de um pomar requer 14 a 16 horas diárias de esforço e dedicação, sem férias ou regalias, e isso afasta as novas gerações”, admite Martinho Santos, antes de virar a atenção para o grande drama do sector, a escassez da água. “Lidar com os fatores climáticos nunca foi fácil, mas está cada vez mais complicado. A água é fundamental para a nossa cultura e a baixa precipitação que se tem verificado nos últimos anos origina baixas reservas nos aquíferos e barragens, como bem se sabe. Esperamos que os próximos governantes nos tragam algumas soluções, que podem passar por transvases de outras bacias hidrográficas. Penso que trazer

água de norte para sul será a solução mais viável a médio e longo prazo, pois a região sul da Europa – Portugal, Espanha, Itália e Grécia – irão sofrer agravamentos muito significativos

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de escassez de água nas próximas décadas”, aponta, preocupado.

Mitigar esta solução de aflição é urgente, pois, sublinha Martinho Santos, não afeta apenas o sector primário, mas também o comércio e turismo. “Os

cortes anunciados pela APA serão péssimos para a citricultura, até porque, nos cerca de 18 mil e 500 hectares que o Algarve tem de citrinos, diria que 99 por cento já possuem sistemas de máxima

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eficiência de rega. Todos os pomares possuem rega gota a gota e as plantas só são regadas quando realmente lhes falta humidade no solo”, garante o empresário. “Os sistemas estão equipados com sondas que fazem a leitura da humidade do solo a três níveis – 15cm, 25cm e 50cm de profundidade – e os computadores ligam ou desligam a rega consoante a necessidade da planta. Melhor do que isso não creio que seja possível. O sector modernizou-se para se produzir de forma sustentável e, se retiramos água numa fase do ciclo da planta em que ela precisa de água, isso implica a redução da produção ou,

eventualmente, a debilidade da própria árvore”, alerta.

Os problemas são graves e deles estão conscientes todos os agricultores, daí não concordarem com os cortes anunciados do abastecimento de água. “De certeza que teremos prejuízos quantitativos e qualitativos em todo o sector. Apelamos ao bomsenso dos governantes, que olhem com carinho para nós, porque a laranja de Silves é a melhor do mundo e não podemos colocar em causa as mais-valias da agricultura portuguesa. E os próprios consumidores têm que valorizar mais o produto nacional”, conclui Martinho Santos .

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COMPANHIA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEO ENCANTOU

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

PORTUGUESA DE BAILADO ENCANTOU TEATRO LETHES

Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo encantou o público que praticamente esgotou o Teatro Lethes, em Faro, no dia 23 de fevereiro, com a apresentação de «Apperception Plotline», «Outono para Graça» e «Almada e Tudo!».

«Apperception Plotline», com coreografia de Margarida Belo Costa, música original de Nuno da Rocha e André Hencleeday e interpretada por Francisco Ferreira, Maria Mira, Ricardo Henriques, Rita Carpinteiro e Sara Casal, explora a interação entre o olhar e o ver, convidando à reflexão sobre o que nos

prende a atenção. «Outono para Graça», com coreografia de Vasco Wellenkamp ao sabor do «Adagietto da 5ª Sinfonia» de Gustav Mahler, e interpretado por Maria Mira e Ricardo Henriques, é um comovente dueto originalmente criado para Graça Barroso, em 1976, revisitado em 2018 em homenagem à grande bailarina, o eterno amor de Vasco Wellenkamp. Finalmente, «Almada e Tudo!», com coreografia Maria Mira, é inspirada no Manifesto Anti-Dantas de Almada Negreiros, trazendo à vida as palavras de Mário Viegas.

A reportagem fotográfica de «Outono para Graça» e «Almada e Tudo!» sai na próxima edição da revista semanal do Algarve Informativo .

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AORCA LEVOU «VAMOS

AO CINETEATRO LOULETANO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

«VAMOS FALAR SOBRE...»

LOULETANO

AORCA –Associação de Observação, Regeneração e Criação na Actualidade apresentou, nos dias 22 e 23 de fevereiro, no Cineteatro Louletano, em Loulé, «Vamos falar sobre...», um projeto artístico que nasce da vontade e da necessidade de dar voz e espaço aos jovens que lutam para encontrar melhores formas de navegar pela vida e sair da dor da confusão, vergonha, dúvida, insegurança. “Vamos falar sobre tudo o que queremos e precisamos, que nos afeta todos os dias nas nossas vidas de jovens adolescentes, coisas que não se fala e que

queremos falar, porque são importantes e podem fazer toda a diferença”, indica a Diretora Artística Sofia Brito, que partilhou a conceção do projeto com Sara Martins.

A interpretação esteve a cargo de Sofia Brito e Susana Vilar, com Direção Musical e Interpretação de André Duarte e Apoio Dramatúrgico de André Raquel. A consultadoria e pesquisa esteve a cargo de Xana Piteira, Sara Martins e Silvia Pona, a Direção de Produção foi de Alicja Gladysz, a Comunicação e Produção Executiva da responsabilidade de Luana Fernandes, o Desenho de Luzes e Figurinos são de Sofia Brito e Susana Vilar e o projeto contou com a Mediação Cultural de Susana Vilar, Sofia Brito, Luana Fernandes, Xana Piteira, André Duarte e Alicja Gladysz .

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7 ANOS DE «CHOQUE

COMEMORADOS AO SOM

FRONTAL

FRONTAL AO VIVO»

DOS ENTRE ASPAS

SOM

programa de rádio da Alvor FM, «Choque Frontal Ao Vivo» celebrou, no dia 15 de fevereiro, sete anos e teve como convidados os algarvios Entre Aspas, que, em 2023, assinalaram os 30 anos do lançamento do seu primeiro disco de originais. O Pequeno Auditório do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão encheu-se, como já é habitual, para receber todos quantos se quiseram juntar a esta celebração.

Os radialistas Ricardo Coelho e Júlio Ferreira passaram em revista a carreira da banda desde o seu início até aos dias de hoje e foram muitas as histórias contadas e partilhadas com o público. Tó Viegas, Nuno Filhó e Viviane apresentaram-se em formato acústico e tocaram os temas «Sentei-me na Noite», «3 Minutos»,

«Perfume», «Gin» e «Criatura da Noite». Para assinalar as três décadas da saída do seu primeiro disco de originais, para além de outras iniciativas, os Entre Aspas lançaram um novo álbum, «AGORA», que tem uma característica muito especial: reúne 10 canções, 9 das quais originais, que ficaram guardadas durante 20 anos no fundo de uma gaveta prontas a sair em 2003, mas que não chegaram a ser editadas porque a banda decidiu, entretanto, suspender a sua atividade e que agora veem finalmente a luz do dia. “As canções de «AGORA» regressaram este ano a estúdio para uns pequenos retoques e atualizações, mas mantêm toda a essência da sua criação inicial”, explica a banda.

Os próximos programas do «Choque Frontal ao Vivo» estão marcados para 14 de março (Carlos Alberto Moniz), 11 de abril (Almatriz) e 16 de maio (Riding a Meteor) .

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Dos dias que correm

Mirian Tavares (Professora)

Bem-aventurado o que pressentiu quando a manhã começou: não vai ser diferente da noite.

Prolongados permanecerão o corpo sem pouso, o pensamento dividido entre deitar-se primeiro à esquerda ou à direita e mesmo assim anunciou o paciente ao meio-dia: algumas horas e já anoitece, o mormaço abranda, um vento bom entra nessa janela.

Adélia Prado

odo de sobrevivência –é uma forma temporária de vida. Espera-se temporária porque, provavelmente, ninguém aguenta uma vida neste modo. Resume-se a levantar de manhã, respirar, confirmar que, apesar da noite mal dormida, dos pesadelos, do despertar antes da hora, o corpo ainda funciona. Olha-se longamente as mãos, olha-se para os pés que procuram os chinelos de quarto. As meias estão irremediavelmente perdidas no turbilhão de lençóis, édredon, almofadas e gatos. Às vezes, uma meia salta para o chão e fica ali, à espera, sob a cama. Às vezes, um dos pés, misteriosamente, amanhece calçado. Sempre o mesmo pé, não se sabe porque e nem se perde tempo a pensar num problema de somenos importância. O importante agora é ter forças suficientes para levantar-se da cama, preparar um café e, quando muito,

uma torrada. Lavar-se num duche nem demasiado rápido nem suficientemente lento. Apenas de duração regular. Um duche que mantém a ideia de limpeza e de cuidado. Não se esquecer de lavar também os dentes. Bochechar o colutório enquanto se repara numa ruga nova nos cantos da boca. Talvez resultado de uma expressão que se tornou a sua companheira constante nos dias que correm – a de tristeza. Vestir-se sem grande preocupação. Procurar roupas que não necessitem de ser passadas a ferro. Evitar-se movimentos e rotinas desnecessários, porque tudo se tornou lembrança e o buraco da memória precisa de ser ocupado. Ainda não há ânimo para criar novas memórias. Leva seu tempo, dizem. Talvez nunca mais, pensa. Ir trabalhar. O relógio avisa que o trânsito não é muito, que, dependendo do caminho escolhido, chega-se em 15 minutos. Na estrada, o carro segue, quase sozinho, pois quem conduz não está ali, é só um corpo que repete gestos. Sempre pela fila da direita, não há pressa

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de chegar. Não há mais pressa de chegar a lugar nenhum. Há pressa apenas para que a noite chegue e com ela a rotina do tentar dormir, pelo menos o suficiente, pelo menos o mínimo necessário, pelo menos um pequeno sono que mantenha o corpo vivo e a respirar .

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Loulé Interior: Um Refúgio Inspirador para Nómadas Digitais

Fábio Jesuíno (Empresário)

Algarve é conhecido pelas suas

espetaculares praias e pelo seu clima ameno, mas o interior do concelho de Loulé oferece uma experiência completamente diferente, ideal para nómadas digitais que procuram um refúgio inspirador para trabalhar e viver.

As aldeias tradicionais, paisagens encantadoras e um ritmo de vida tranquilo são apenas alguns dos encantos do interior de Loulé. Aqui, os nómadas digitais podem encontrar tudo o que precisam para se concentrar no seu trabalho e desfrutar de um estilo de vida mais equilibrado.

A presença de diversos eventos relacionados com as tradições, desportivos e educativos constitui um dos principais atrativos da região, cativando milhares de visitantes e proporcionando uma variedade de experiências únicas.

O interior do concelho de Loulé emerge como um destino ideal para os nómadas digitais, este novo cenário é facilitado por uma série de fatores que transformam a região num verdadeiro paraíso para os nómadas digitais.

Em primeiro lugar, podemos começar com a conectividade garantida graças aos investimentos significativos da Câmara Municipal de Loulé na expansão da fibra óptica e na internet móvel. Este esforço resulta numa internet de alta velocidade disponível na maioria das povoações na região do interior de Loulé, proporcionando aos nómadas digitais a infraestrutura necessária para trabalhar de forma produtiva.

Outro aspecto importante é o aumento da disponibilidade de espaços de coworking em aldeias como Alte, Tôr e Querença. Estes espaços não só fornecem uma infraestrutura adequada, mas também promovem a colaboração e a troca de ideias entre profissionais de diversas áreas.

No que diz respeito ao alojamento, o interior de Loulé oferece uma variedade de opções para todos os gostos e orçamentos. Desde casas tradicionais renovadas, alojamentos locais e hotéis rurais, os nómadas digitais têm à sua disposição uma ampla gama de escolhas durante a sua estadia na região.

Por último, mas não menos importante, a comunidade acolhedora do interior de Loulé desempenha um papel fundamental em tornar a experiência dos

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nómadas digitais ainda mais enriquecedora. Os habitantes locais são conhecidos pela sua simpatia e hospitalidade, tornando a integração na comunidade mais fácil.

Resumindo, com a sua conectividade garantida, espaços de coworking, alojamento diversificado e comunidade acolhedora, o interior de Loulé emerge como um destino de eleição para os nómadas digitais que procuram conciliar

o trabalho remoto com um estilo de vida mais sustentável.

Por estes motivos, há cerca de um ano surgiu em Loulé a Rural Digital Nomads, uma plataforma que promove o interior de Portugal como destino para nómadas digitais. Esta iniciativa tem alcançado sucesso, contribuindo ativamente para combater a desertificação do interior e impulsionar uma dinâmica económica e social positiva .

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Não há festa nem festança a que não vá Dona Constança!

Sílvia Quinteiro (Professora)

m familiar anuncia nas redes sociais celebrar hoje as Bodas de Esmeralda: 40 anos. O casamento deste filho de emigrantes foi um evento memorável. Espelhou, como não podia deixar de ser, o sucesso atingido pelos pais em terras do tio Sam. Mais de 500 convidados. Um enorme salão de festas. Dois dias de celebração. Um episódio inesquecível.

À porta da Igreja da Sé, uma multidão de convidados aguarda na rua para ver entrar a noiva. Um vestido-suspiro. Um véu que se estende até à pia de águabenta. As raparigas invejam a sorte da amiga. As mães, engolidas por volumosos casacos de peles, pavoneiam-se. Os homens conversam descontraidamente. Um velho conhecido do meu pai aproxima-se e pergunta quem são os noivos. Vinha a passar e aquilo parece ser «uma coisa em bom». Apesar da longa explicação, não imagina quem seja. Faz, ainda assim, questão de saber onde será o copo-de-água. A conversa fica por aqui. Entramos na igreja apinhada. Assistimos à cerimónia mergulhados num misto de calor, perfumes intensos em competição com o cheiro a naftalina e a azedo e muito tédio… É um alívio sair dali. Finalmente, a festa.

No salão, um bolo de noiva com tantos pisos que, garantem os amigos vindos da América, parece o Empire State Building. Os noivos dão início à festa com um brinde. Ao fundo da sala, de prato na mão e boca cheia, o Salsinha. O senhor do Largo da Sé. Fato de domingo. Dois dedos de conversa aqui, dois ali. Circula descontraidamente pela sala. Felicita os noivos, cumprimenta os pais, os padrinhos… E foi graças a este episódio que, cá por casa, «Salsinha» passou a ser um nome que empregamos como sinónimo de descarado.

Durante décadas tive este cavalheiro como a imagem da mais completa falta de vergonha e de noção. E não é que não o continue a ter, acontece que tenho vindo a observar de perto um grupo de pessoas que, não lhe retirando o merecido lugar, me parece um upgrade desta figura. E não no bom sentido que up poderia sugerir. Na verdade, as «Donas Constanças», assim se designa esta nova categoria, são figuras bem mais tristes que os «Salsinhas».

Retiro deste grupo aqueles que, sendo intelectualmente desfavorecidos, não conseguem fazer a distinção entre um convite sincero e um feito por cortesia ou por mera obrigação institucional. As «Donas Constanças», ainda que

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repliquem os seus comportamentos, fazem-no conscientes de não serem bemvindas. Aparecem sempre. Mesmo sabendo que serão olimpicamente ignoradas. Que ficarão lá atrás. Bem lá atrás. Mas vão. Estão decididas a fazer notar a sua presença. E é vê-las a tentar chegar a um «aperto de mão-prova de vida». Um «ainda cá ando». Cientes de que a sua presença, mais do que indiferente, é, muitas vezes, uma maçada. Um incómodo. Justificam-na com um “Ficava mal eu não ir” e parece que ninguém lhes diz que não: “É que não ficava mesmo nada mal não ires!”. Mas as «Donas Constanças» são emplastros profissionais. Capazes de resistir a qualquer humilhação. Conjugam como ninguém os verbos rastejar e bajular. Não desistem. Hão de vencê-los, nem que seja pelo cansaço.

Estão em todo lado: inaugurações, concertos, teatro, futebol, funerais, missas, conferências, aniversários, almoços, jantares, feiras, exposições, lançamentos de livros ou da primeira pedra, é indiferente… Chegam, inspecionam o ambiente, apertam as mãos distraídas, tiram umas selfies e siga que a agenda é longa. Repórteres de si próprias, as «Donas Constanças» inundam as redes sociais com fotografias em que são invariavelmente as estrelas da festa. As legendas são textos sobre si próprias, claro está. Apressam-se a colocar o primeiro «adoro» – corações, palmas, estrelas, TOP, 10/10, 100%… há figurinhas para tudo. E, convenhamos, de figurinhas percebem elas .

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O dragão da biblioteca

Dora Gago (Professora)

ntro agora na biblioteca da Faculdade de Humanidades da Universidade da República Oriental do Uruguai. Uma espécie de sótão gigante, livros velhíssimos, muitos inteiramente mutilados em prateleiras de madeira. Um hospital de livros talvez? Alguns pela metade, outros menos, a um terço, alguns apenas capa e meia dúzia de páginas que se derramam se lhes pegarmos. Percorro com o olhar as prateleiras a tentar descobrir algum material para as minhas aulas de Literatura Portuguesa – os livros enviados de Portugal como bagagem não acompanhada permanecem há meses em território incógnito, inacessível – mas, à excepção de uns retalhos de romance de Jorge Amado, nada mais se encontra.

A certa altura, sou seduzida por Las Venas Abiertas de America del Sur de Eduardo Galeano, mas parecem faltar páginas que tento procurar pelos arredores. E, de súbito, uma espécie de rugido perto de mim. Uma criatura enorme, de aspecto humano, sim, mas feroz, de cuja boca jorra uma enxurrada de palavras que não entendo, percebendo apenas que não posso estar naquele lugar, violei uma fronteira interdita, estou num espaço proibido. No meu espanhol ainda muito rudimentar, explico que sou professora, procuro uns

livros para as aulas. Pergunta-me, em jeito irónico, de que sou professora. Respondo: de Português e Literatura Portuguesa. Enfurece-se ainda mais: Eres una mentirosa! La profesora de Portugues es Maria Rocas y es rubia! La clase de Literatura Portuguesa tampoco existe y tu ni tampoco eres rubia! Desarmada, fico sem saber qual o meu maior crime: não me chamar Maria Rocas, leccionar uma disciplina que parece nem sequer existir, ou estar num local interdito. Contudo, no âmago daquela necrópole de livros, parece-me que o pior talvez seja o facto de não ser loira...

E o livro de Eduardo Galeano fica ali, quieto, parado na estante, como um malmequer semi-desfolhado, à espera de dias mais tranquilos para me deixar uma mensagem poética enraizada na História da América do Sul, mensagem acerca das teias da exploração, dos sangrentos caminhos que esculpiram o mapa de um continente, da sua construção identitária.

Dias depois, uma carta do decano da faculdade certifica que sou mesmo Leitora de Língua, Cultura e Literatura Portuguesa, apesar de não ser loira –quanto a isso nada a fazer, embora uma simples coloração escamoteasse o problema. Mas essa carta, com a magia dos pozinhos de perlimpimpim de certos contos, permite-me colher o tal malmequer semi-desfolhado de Galeano, convertendo a bibliotecária-dragão no

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ser humano que, no fundo, é: esculpida de inseguranças, incertezas, imperfeições, como todos nós, ocultos por detrás das cortinas de fumo e fogo, frequentes vezes lançadas em auto-

defesa, para assegurar o domínio de espaços delimitados como interditos .

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