REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #400

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ALGARVE INFORMATIVO 19 de agosto, 2023

ALGARVECAETANO INFORMATIVO #400 CALÇADAS | FESTIVAL DO MARISCO | ORQUESTRA DE JAZZ DO ALGARVE E DOMINGOS FEIRA MEDIEVAL DE SILVES | «CORPO COMUM» | NOSSA SENHORA DOS MÁRTIRES | ANSELMO RALPH 1


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ÍNDICE Festival do Marisco de Olhão (pág. 22) Castro Marim celebrou Nossa Senhora dos Mártires (pág. 36) 24 horas de vólei animam Quarteira (pág. 48) Anselmo Ralph nas «Noites do Mirante» em Monchique (pág. 58) Feira Medieval de Silves (pág. 72) «Calçadas - A Arte sai à Rua» em São Brás de Alportel (pág. 96) Orquestra de Jazz do Algarve e Domingos Caetano juntos em Tavira (pág. 110) Ana André e Milita Doré expõem «Corpo Comum» em Loulé (pág. 122)

OPINIÃO Mirian Tavares (pág. 134) Adília César (pág. 136) Alexandra Rodrigues Gonçalves (pág. 138) Sílvia Quinteiro (pág. 142) ALGARVE INFORMATIVO #400

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Festival do Marisco foi o sucesso esperado Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e Município de Olhão epois de três anos de interregno devido à pandemia, o Festival do Marisco de Olhão regressou, de 10 a 14 de agosto, ao Jardim Pescador Olhanense, com mais de 30 mil pessoas a passarem pela 35.ª edição do evento, num recinto que foi renovado, com o palco principal virado a poente, e que apresentou maior oferta de diversões, aliadas, claro, ao marisco e bivalves mais frescos da Ria Formosa, que podiam ser degustados ao som dos artistas David Carreira, Tributo a Tina ALGARVE INFORMATIVO #400

Turner, Bárbara Bandeira, Wet Bed Gang e Vítor Kley. David Carreira trouxe a Olhão a sua Tour 2023 e interpretou algumas das faixas do seu mais recente trabalho, como «Vamos com Tudo», «Festa» ou «Saturno», a par dos maiores sucessos de uma década de carreira. O Jardim Pescador Olhanense recebeu, no dia 11 de agosto, um espetáculo com a poderosa voz de Sónia Costa a dar vida aos maiores sucessos da rainha do rock, Tina Turner, recentemente falecida. Atualmente campeã de airplay com o tema «Como Tu», Bárbara Bandeira – a 22


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artista feminina portuguesa mais ouvida em Portugal em 2022 – chegou ao Festival do Marisco a 12 de agosto, seguindo-se o grupo português Wet Bed Gang, composto pelos rappers Gson, Zara G, Kroa e Zizzy Jr. Depois do primeiro sucesso «Não Tens Visto», conquistaram reconhecimento na cena hip-hop nacional, e diversas das suas músicas ganharam milhões de visualizações no YouTube e no Spotify. O último dia do Festival do Marisco vibrou com os sons do Brasil do cantor e compositor Vítor Kley. O marisco foi o principal protagonista por estes dias em Olhão, confecionado da ALGARVE INFORMATIVO #400

forma mais saborosa, como só os olhanenses sabem. Sapateiras, lagostas, lagostins, santolas, camarões, amêijoas, ostras ou conquilhas, entre outros, deliciaram os visitantes, mas também era possível encontrar saladas, sopas (peixe e marisco) hambúrgueres e sandes diversas à venda no recinto. O restaurante do Real Marina Hotel & Spa voltou a marcar presença no Festival do Marisco, assim como as famosas caipirinhas e o sempre divertido Kids Club. Em homenagem ao produto rei deste evento, os visitantes foram ainda brindados com uma peça escultórica – uma caneca e um camarão gigantes – criada pelo artista plástico olhanense Igor Nunes Silva . 24


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Castro Marim celebrou Nossa Senhora dos Mártires Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina astro Marim viveu, de 12 a 15 de agosto, as conhecidas festas religiosas em Honra de Nossa Senhora dos Mártires e, apesar da Praça 1.º de Maio ser o palco de eleição do evento, a gradual exigência técnica dos espetáculos e de melhores condições de segurança levou a que este ano a autarquia castromarinense conduzisse as celebrações para a zona envolvente da Casa do Sal, zona nobre da vila, ALGARVE INFORMATIVO #400

requalificada e inaugurada em março deste ano. Apesar disso, na primeira noite, foi o Revelim de Santo António a acolher as celebrações, com um concerto da Banda Musical Castromarinense numa iniciativa da Junta de Freguesia de Castro Marim. A abertura da Feira de Artesanato e Etnografia aconteceu no dia 13 de agosto, com mais de 30 artesãos de diferentes artes e talentos, desde a latoaria, cestaria, renda de bilros, não esquecendo a gastronomia. A noite de domingo 36


assistiu à Procissão das Velas desde a Igreja Matriz, assim como ao baile com o «Duo Reflexo» e ao espetáculo de dança das ARUTLA. Na segunda-feira, 14 de agosto, as celebrações continuaram com os «Acordeanima» e os «Adiafa». Chegado o 15 de agosto, terça-feira, teve lugar o ex-libris das celebrações religiosas com a Procissão em Honra de Nossa Senhora dos Mártires, com centenas de pessoas numa expressiva manifestação de fé em honra da padroeira de Castro Marim. As

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celebrações religiosas começaram, às 17h30, com a Recitação do Terço, seguindo-se uma Missa Solene, pelas 18h. A Procissão saiu da Igreja Matriz pelas 19h. Neste último dia de festa houve baile com Ângelo Correia, seguido do concerto do cantor e compositor Fernando Daniel. As Festas em Honra de Nossa Senhora dos Mártires têm a organização da Câmara Municipal de Castro Marim e da Paróquia de São Tiago e o apoio dos Clubes e Associações Locais .

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Equipas finalistas, atletas e organização na entrega de prémios que contou com a presença de Telmo Pinto, presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, Carlos Carmo, vereador da Câmara Municipal de Loulé, e de Custódio Moreno, diretor regional do IPDJ, em representação das principais entidades que apoiam o Praia Fit 2023

24 horas de Vólei animam Quarteira Texto: Vico Ughetto| Fotografia: Vico Ughetto nserido no projeto desportivo Praia Fit 2023, que desde julho até setembro dinamiza o desporto de praia em Quarteira, decorreu, nos dias 5 e 6 de agosto, a segunda edição da Maratona de Voleibol de Praia, que juntou 40 equipas – 16 das quais femininas – em competição durante 24 ALGARVE INFORMATIVO #400

horas «non-stop». As finais foram disputadas na praia da Rosa Branca, atraindo a curiosidade de muitos que por ali passavam e que puderam assistir a bastantes saltos e voos acrobáticos num conjunto de partidas muito bem disputadas. A final masculina foi muito renhida e decidida apenas no desempate, com a sorte a sorrir à dupla da casa, João 48


Federação Portuguesa de Voleibol em diferentes escalões etários. Com o Futebol de Praia conquistaram a primeira edição da Liga Algarve, disputada este verão. “Os desportos de praia estão

pouco desenvolvidos e reconhecidos, tendo em conta as excelentes condições geográficas e climatéricas que temos”, refere o presidente João Romão, considerando que, para o seu desenvolvimento e afirmação, será necessário “um maior

investimento em infraestruturas, criando-se as condições para uma atividade regular e organizada”. João Romão destaca como exemplo da apetência pelos desportos de praia o caso da Maratona de Vólei. “Na edição

Costa e Vitalii Lazebnyi, que conseguiu ultrapassar o jogo cínico e calculista da dupla opositora de pai e filho, José e Guilherme Conde, vinda de Oeiras, mantendo assim o troféu em casa. Na final feminina, vindas da Ericeira, Sara Pires e Jennifer Ribeiro não deram hipóteses às concorrentes, arrumando o jogo de forma categórica a seu favor. A organização esteve a cargo da QBS – Quarteira Beach Sports, que desde 2015 tem sido pioneira a promover os desportos de praia no Algarve e em particular em Quarteira, onde contam com 30 atletas na Academia de Futvólei e cerca de 90 na de Voleibol, com os quais participam em campeonatos da 49

anterior tivemos 28 equipas e agora 40, sendo algumas delas oriundas da Ericeira, Carcavelos e outras zonas do país com alguma tradição no desporto”, ilustra. O sucesso do projeto Praia Fit é para João Romão também uma forma de mostrar que o desporto de praia está bem e recomenda-se. “Esta é a oitava

edição deste programa de animação desportiva e, para além de proporcionar uma ocupação saudável dos tempos livres com as estruturas existentes, temos também os torneios e atividades que envolvem um largo número de atletas, familiares e amantes da atividade física, ao longo dos mais de dois meses de duração do Praia Fit 2023” . ALGARVE INFORMATIVO #400


As vencedoras Jennifer Ribeiro e Sara Pires vindas da Ericeira

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A fase de grupos da competição decorreu no Beach Arena de Quarteira, das 18h às 6h30 do dia seguinte

João Costa e Vitalii Lazebnyi conseguiram o 1.º lugar masculino para Quarteira 51

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Sara Pires (a servir) com Jennifer Ribeiro, vieram da Ericeira especialmente para participar no torneio e, com o seu jogo eficaz e sem pontos fracos, arrasaram a concorrência

Os serviços em suspensão são geralmente um dos momentos mais especulares do Vólei ALGARVE INFORMATIVO #400

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Apesar da baixa estatura, a dupla de pai e filho, José e Guilherme Conde, quase que vinha de Oeiras ganhar a final da Maratona ALGARVE INFORMATIVO #400

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Vitalii Lazebnyi voa literalmente para a vitória, com o seu colega João Costa a assistir ao feito

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ANSELMO RALPH FOI A ESTRELA MAIOR DAS «NOITES NO MIRANTE» DE MONCHIQUE Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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ealizou-se, nos dias 11 e 12 de agosto, a segunda edição do Festival «Noites no Mirante», no Largo de S. Sebastião, em Monchique, no qual se aliou a música à gastronomia, numa fusão de sons, estilos e ambientes. O Festival arrancou, na sexta-feira, com Anselmo Ralph, o principal nome deste cartaz, seguido da festa «About the 90´S», que encerrou a noite com as músicas mais emblemáticas daquela época, com DJ, projeções de vídeos e muita dinâmica. Antes de tudo, foram os Toj Gatune os primeiros a pisar o palco. No segundo dia, a M80 marcou ALGARVE INFORMATIVO #400

novamente presença no festival, mas com uma apresentação diferente que não deixou ninguém indiferente. Subiram igualmente ao palco no sábado Diego Wong e a banda de Tributo a Carlos Santana. Considerando toda a oferta de festivais de Verão que acontecem pelo país fora, o «Noites no Mirante» destaca-se pelo cenário natural particular da Serra de Monchique, que confere ao evento uma envolvência diferente. Um convite também da Autarquia de Monchique à descoberta de uma gastronomia local muito própria, do famoso medronho, dos distintos enchidos, presunto, mel e doçaria

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«A MESQUITA, SÍMBOL TEMA DA XVIII FEIRA M Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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LO E PODER» FOI O MEDIEVAL DE SILVES

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o extremo ocidental do imenso império Omíada um pequeno aglomerado urbano ganha dimensão e prestígio. Localizase no topo de uma colina banhada a sul por um rio de águas calmas e propícias à atividade portuária, que de tão antiga se perde na memória dos tempos. Naquele passado distante, no monte vizinho do lado do por do sol, cunhou-se uma moeda de bronze, que de um lado mostrava uma espiga e um cavalo e, do outro, a palavra «Cilpes», e que teria servido para a troca de produtos transportados por povos navegadores trazidos pelo vento levante. Desse velho e contido espaço se transferem agora os seus habitantes, volvidos mais de 700 anos, para a emergente e promissora madinat Xilb, ALGARVE INFORMATIVO #400

onde mais recentemente se fixaram também contingentes militares e populações vindas do longínquo oriente. O governador da província onde se insere, de nome Ocsónoba, cuja capital é uma cidade muito antiga da mesma denominação, revoltou-se contra o poder Omíada sediado em Córdova e transferiu a capital deste território para a promissora Xilb. A sua posição estratégica, a proximidade ao mar através do Arade, os terrenos férteis que ladeiam o rio e os recursos florestais que a serra, a norte, lhe concede, são condições excelentes para se defender e prosperar. Yahyâ Ibn Bakr Ibn Zadlaf, o governador, era um muçulmano de recente conversão, que alinhava com outros revoltosos muladíes desgostados 74


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com o tratamento desigual do poder Omíada face aos muçulmanos de longa data, que se haviam demarcado do poder de Córdova. Porém, o emir independente Abdallah assumiu a liderança e é reconhecido como legitimo o poder de Yahyâ sobre a província de ALGARVE INFORMATIVO #400

Ocsónoba, o que permite que este território goze de alguma paz. Esta acalmia é aproveitada pelo seu governador para organizar a cidade, erguer as suas defesas e a mesquita maior. 76


protegiam as habitações das muitas famílias que ali se vão instalando a um ritmo acelerado. Ao seu interior acede-se por uma porta posicionada a sul, ao lado da qual se situa a maqbara. Um pouco abaixo da alcáçova e em lugar bem destacado na paisagem, Yahyâ ordenou a construção de uma grande mesquita, corretamente orientada para a caaba, com um alto minarete para se chamar para a oração e, ainda, espaço para funcionamento da madraza, onde todos deveriam dirigir-se para aprender a palavra do profeta Maomé.

No topo da colina inicia-se a construção das muralhas da alcáçova para proteção do palácio dos Banu Yahyâ Bakr e aquartelamento do seu pequeno contingente militar. A meio da encosta toma lugar a edificação das muralhas que 77

A construção da mesquita é obra que assumirá pessoalmente, pois a sua condição de líder da comunidade e chefe espiritual dá-lhe a obrigação moral de oferecer aos muçulmanos um espaço de oração comum, do mesmo modo que se tornará no emblema do seu poder sobre a cidade e o vasto território desta dependente. Para assinalar este ato pio, o governador já encomendou ao lapicida a gravação de uma lápide comemorativa que figurará sobre a porta da mesquita. Com esta ação piedosa, Yahyâ mostra a sua religiosidade sincera e espera, por tal, ser recompensado com a abertura das portas do céu e o acesso ao merecido paraíso, a sua morada eterna. E, porque as obras estão prestes a concluir-se e a grande mesquita a abrir portas aos crentes, o venerado vizir local apressa-se ALGARVE INFORMATIVO #400


a nomear os oficiais da mesquita para, assim, se proceder à sua consagração: o Íman e o Muezzin, que diariamente procederão aos ofícios religiosos e chamarão para a oração; o Jatîb, que se encarregará do sermão de Sexta-feira; o Muftí e o Al-Faqhí que interpretarão e aplicarão a lei islâmica; e os ulemas, sábios a quem incumbirá a transmissão de todos os saberes. Com a construção das muralhas estará garantida a segurança da comunidade tornando-se esta a expressão visível de um estado forte e, com a construção da mesquita, ficará bem patente a manifestação simbólica da nova religião, nos primórdios da islamização de um espaço que se tornará num dos maiores centros políticos e culturais do Gharb alALGARVE INFORMATIVO #400

Andalus, Xilb. E assim se deu o mote para mais uma Feira Medieval de Silves, que de 10 a 20 de agosto proporcionou 11 dias de recriação das vivências da antiga capital da província que hoje corresponde ao Algarve, a esplendorosa Xilb (Silves). Na cidade voltou a ouvir-se o sermão pela voz do Íman, o Vizir deu as boasvindas e o chamamento para a oração ecoou desde o alto minarete pelo AlMuezzin. Foram dias de festa contagiante, alegrada pelos pregões dos vendedores, pelo som da música e das vibrantes danças inspiradas em memórias do Oriente. A atmosfera mística da Feira Medieval teve início, diariamente, com o Cortejo Medieval, onde os participantes trajados a rigor desfilaram pelas ruas da Medina e dos Arrabaldes. Os amantes das 78


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disputas puderam assistir aos Jogos de Guerra onde se defrontaram um rebelde que tomou posse do território, Yahyâ Ibn Bakr Ibn Zadlaf, e o exército Omíadas, às 20h e às 22h30, na Praça Al-Mut’amid; e as Noites do Oriente, uma exibição deslumbrante de música, dança e fogo, que teve lugar no Castelo de Silves. O visitante era desafiado a deixar-se envolver pela gastronomia, espetáculos e animação histórica, onde marcaram presença mais de uma centena de expositores, entre artesãos, mesteirais, doceiros, místicos e mercadores. Revelar a imensa riqueza da história desta cidade e do seu território continua a ser preocupação do Município de Silves, organizador do evento. “Sabemos que ALGARVE INFORMATIVO #400

estamos perante um evento de recriação histórica e essa recriação é que lhe dá alma, lhe dá a cor que é tão particular de Silves e das suas gentes. Por aqui passaram povos, religiões, culturas e maneiras de ser muito diversas, que nos deixaram saberes e modos de estar que nos são muito peculiares. A cultura é uma marca desta cidade e está profundamente ligada a essa herança de que muito nos orgulhamos, porque Silves é um lugar especial no que toca à cultura e à história”, explica a Presidente da Câmara Municipal de Silves, Rosa Palma . 80


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ARTE VOLTOU A SAIR À DE ALPORTEL EM MAIS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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ÀS RUAS DE SÃO BRÁS UM «CALÇADAS»

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centro histórico de São Brás de Alportel voltou a ser palco de mais um «Calçadas – A Arte Sai à Rua», evento de celebração artística que se repete sempre no dia 14 de agosto. A edição de 2023 apresentou diversas propostas culturais em seis palcos e espaços distintos, com os Suricata, Six Irish Men, fado com José Ferreira e Beatriz Pereira, acompanhados por Valentim Filipe e Tiago Valentim, Escola de Dança Municipal, Urban Xpression, Rancho Típico Sambrasense, Paul & Tracey, Laura & Miguel e DJ Narra, sem esquecer a comédia do inconfundível Jorge Serafim ou ainda sessões de contos infantis e contos de arrepiar. A estes momentos somaram-se ainda manifestações de arte urbana, marcas que ficam edição após edição, mostras de produtos locais e artesanato, bem como ALGARVE INFORMATIVO #400

exposições na Biblioteca Municipal e no Centro de Artes e Ofícios, que trouxeram a público a dinâmica destes espaços culturais abertos ao longo do ano e excecionalmente nesta noite especial. Da escuridão da noite emergiu igualmente a beleza das janelas locais que integraram o Concurso «A Janela Mais Bonita», lançado a residentes e comerciantes da zona histórica que ano após ano desafiam a criatividade e apresentam mostras artísticas originais e surpreendentes. Organizado anualmente pela Câmara Municipal de São Brás de Alportel, no âmbito da estratégia de valorização e dinamização do centro histórico, com o apoio da Comissão Calçadas, constituída por cidadãos informais são-brasenses, este evento de características únicas tem por objetivo celebrar a identidade cultural da região, promover a acessibilidade cultural, bem como a interação entre artistas locais, nacionais e espetadores . 98


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ORQUESTRA DE JAZZ DO ALGARVE E DOMINGOS CAETANO INTERPRETARAM CANÇÕES DO FESTIVAL EM TAVIRA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Fátima Vargas

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Orquestra de Jazz do Algarve continua a animar as noites de Verão um pouco por todo o Algarve, desta feita em parceria com Domingos Caetano, líder da famosa banda algarvia Iris, com o espetáculo «Canções do Festival», no dia 11 de agosto, em Tavira. Muitas vezes as ideias cruzam-se no ar, durante anos, sem que cheguem a palavras. Quando assim é, os encontros parecem ainda mais naturais e inevitáveis. “Foi assim este encontro

Orquestra. Domingos é um nome maior e incontornável da Música no Algarve, no País, o líder da Banda Íris. Como já é nosso costume, desafio lançado e apurado, para chegarmos a um desejo de Domingos, «Canções do Festival», um conjunto de canções emblemáticas de muitas edições do Festival da Canção, selecionadas e orquestradas para Orquestra Jazz, algumas ganhadoras, outras que muitos desejariam tivessem antes sido”, refere Hugo Alves, maestro da OJA .

entre Domingos Caetano e a nossa ALGARVE INFORMATIVO #400

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AINDA HÁ UM «CORPO COMUM» PARA EXPLORAR NO CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO, EM LOULÉ Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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na André e Milita Doré expõem «Corpo Comum», até dia 2 de setembro, no Convento de Santo António, em Loulé. Com curadoria de Miguel Cheta, esta exposição circula em torno das relações exploratórias entre o corpo humano e a paisagem. “Há muito que os artistas

e, logo, a arte, estabelecem uma relação de proximidade com a representação da natureza e com a representação humana. Paisagem e retrato ainda hoje são os termos utilizados para definir a orientação

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do suporte que acolhe a pintura, o desenho ou a fotografia”, refere o curador. As artistas Ana André e Milita Doré convidam-nos a ver, neste «Corpo Comum», um conjunto de obras nunca antes expostas, que investigam a relação estabelecida com o território em que habitam e que se lhes reflete no corpo. Pintura, desenho, instalação e vídeo são os médiuns que incorporam este dispositivo expositivo que pode depois ser visitado de terça-feira a sábado, das 10h às 13h30 e das 14h30 às 18h, com entrada livre .

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Da impossibilidade do ócio Mirian Tavares (Professora) A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda. Mário Quintana os muitos termos que o novo-riquismo universitário costuma usar, o que mais detesto é proatividade, que está irremediavelmente ligado a empreendedorismo. Que, sejamos justos, é um reflexo da sociedade atual – andamos todos a correr, não sabemos bem porquê ou para quê, mas corremos porque não se pode chegar em último na disputa pelos lugares de topo da/na contemporaneidade. As mulheres devem ser guerreiras e exercer ao máximo as suas múltiplas funções – mãe, dona de casa, trabalhadora, sedutora, magra, ou pelo menos, no bom caminho do fitness. Os homens também são cobrados – devem vencer. Ter o melhor carro, o melhor cargo, os melhores bíceps. Todos perfeitos numa sociedade imperfeita, todos a trabalhar por um futuro de mão única, ou pelas suas alternativas distópicas. O trabalho torna-se o centro das nossas vidas, não só quando lá estamos, mas mesmo à distância, de férias, ou em casa, com a família, connosco mesmos, nos nossos hobbies e nas nossas (in)definições. Quando falamos com alguém, a primeira coisa que fazemos é disputar – tenho mais ALGARVE INFORMATIVO #400

trabalho do que tu. Estou mais cansada, mais afogada, mais cheia de trabalho. Produzo mais. No caso da universidade, a produção é mensurável e transformada em dados de folhas de cálculo. Continuamos a reclamar e a alimentar, ao mesmo tempo, a máquina que nos devora. Que devora o nosso tempo, o desejo, o prazer, a capacidade de desfrutar do ócio. Eu brincava com o filho e dizia: não tenho tempo para adoecer. E era verdade – não temos tempo para cair na cama e ficar ali a curar uma doença, um mal-estar, uma febre malsã. Chegam as férias e cá estamos nós, alguns livres e soltos, outros doentes, porque a doença percebe que há tempo para se instalar. E, ainda assim, sentimos culpa de passar um dia inteiro a não fazer nada, a ler, ver séries, a deixar-se ficar no sofá. Ainda bem que há muita gente que não sofre desse mal, e é sobre essas pessoas que passamos a vida a fazer coscuvilhices – fulano nunca aparece, sicrano não faz a ponta de um corno. Deve ser inveja. Pois, no fundo, os workaholics gostariam de parar sem culpa, de desligar e de desfrutar do ócio. Quem sabe, ter tempo de praticar a tradicional arte de fazer a ponta de um corno, ou de enfiar pregos numa barra de sabão .

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Foto: Vasco Célio

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Quer mandar beijinhos para alguém, minha querida? Adília César (Escritora) “Olarilólé Olarilólei Bailar assim sabe tão bem Olarilólé Olarilólei Beijar-te assim sabe tão bem” (Canção «Preço Certo», 2023, de Pedro Mafama) uem, eu? Não, muito obrigada, não quero mandar beijinhos para ninguém. Atenção, não há aqui qualquer azedume. Apenas calor e tédio, o que já não é pouco, e me obriga a uma luta diária só para me levantar da cama. E também para me deitar. Beijinhos, não. O tempo quente interpõese entre mim e o mundo repleto de gente, de coisas, de emoções que não me deixam descansar. É avassalador, assim como uma avalanche de manteiga derretida. Tudo derrete: as pessoas, as coisas, as emoções, como lava entre ruínas de cidades outrora imponentes. O verão é uma guerra muito mais destrutiva do que os ventos atrevidos do inverno. São as coisas que se abandonam ao tempo ou é o tempo que abandona as coisas? Entrego-me a esta fraqueza derretida. Deslaço-me em dúvidas existenciais. Contudo, escrever crónicas refresca-me. Escrevo-as devagar, uma a seguir à outra, ALGARVE INFORMATIVO #400

todos os dias, como uma laboriosa funcionária da escrita. Um continuum do interior para o exterior que, num irónico vice-versa volta para dentro e novamente ressalta para fora. Escrever ficção é um acto de ironia, se tomarmos a realidade como ponto de referência, não confundindo a minha realidade (conceito) com a minha verdade (percepção). Afirmo o que não teve lugar, corroboro o que não aconteceu, porque quero e posso fazê-lo. E, todavia, estou plenamente convencida que essas palavras são a minha verdade. Devagar se vai ao longe na mentira. Pouco a pouco, as malhas da ilusão vão moldando a minha vida. Qual é a vantagem? Escrever para quê, para quem? A mão escreve para a outra mão. A mão escreve para os olhos que conduzem a escrita. É um ensimesmamento, uma espiral viciosa. E é por essa razão que não consigo parar de escrever. Parece a pequena doidice que surge a seguir à ingestão de um jarro de sangria. Se não fosse alérgica ao álcool, escolheria essa espécie de alienação criativa para escrever as minhas impressões do quotidiano e aguentar as férias de verão. A loucura não é uma 136


doença, mas sim uma vivacidade de espírito que precisa ser preservada e, de preferência, sem prestar atenção à opinião dos outros: uma arte «bruta», digamos assim. Se é formidável ou apenas estranho, nem tu nem eu seremos os seus juízes, mas sim o tempo o tempo o tempo. Atenção, há mais mundos. Temos, por exemplo, o programa televisivo de Fernando Mendes – «O Preço Certo». Aquilo é um mundo que nada tem de real ou verdadeiro, a não ser o preço certo dos artigos exibidos no concurso (mas tem que se contar com a inflação, a qual pode alienar a aposta dos concorrentes). Ganhar ou perder serve, literalmente, para matar o tempo e não tenho o hábito de concorrer. No entanto, através das relações digitais que estabeleci na pesquisa da origem de uma divertida canção que tenho ouvido nas estações de rádio, encontrei o que precisava para escrever esta crónica. “– Quer mandar beijinhos para alguém, minha querida?”, insiste o Fernando Mendes. Está bem, pronto. Quero mandar beijinhos “p’ra todos os que já não voltam mais e todos os que ainda 137

estão para vir”. Está bem assim, ó Fernando? Vamos falar verdade a mentir, porque é verão, porque vale (quase) tudo, e “olarilólé olarilólei, beijar-te assim sabe tão bem!”. E pronto, quem tem um «Fernando» para beijar, tem tudo para que o seu verão dê certo . Nota da autora: Os excertos da canção «Preço Certo» de Pedro Mafama foram colocados entre aspas e os dois «Fernandos» citados são duas pessoas diferentes. ALGARVE INFORMATIVO #400


Preço Certo, Preço Justo Alexandra Rodrigues Gonçalves (Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da UAlg) os últimos meses a discussão em torno do custo do arrendamento da habitação nas cidades portuguesas ganhou uma dimensão maior, pois com a Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, os proprietários especularam ainda mais o custo do arrendamento e tornou-se mais pública a necessidade gritante de garantir um teto. O editorial de 15 de agosto do Jornal Público de Sónia Sapage intitulava-se «Casas para estrangeiros e hotéis para turistas» e afirmava que “o turismo em Portugal encareceu e isso tornou-se um problema maior para as famílias portuguesas do que os visitantes estrangeiros, com situações financeiras mais favoráveis”. Por um lado, temos os efeitos diretos da especulação imobiliária das segundas habitações provocadas pelo contínuo e florescente interesse no país pelos «turistas residentes», e, por outro, temos os «não efeitos» da distribuição da riqueza gerada por estes sectores de atividade nos salários e na criação de mais e melhor emprego, em que o Turismo é um contribuinte principal. Um percurso pouco animador para os portugueses em geral, cujas respostas políticas acrescentam problemas. ALGARVE INFORMATIVO #400

Assim, temos os juros a subir, uma taxa de inflação com dificuldade de retrair e níveis elevados, uma subida dos preços de forma alargada a todos os sectores, os impostos elevados sobre empresas e sobre o rendimento dos trabalhadores, a que se associam a falta de poder de compra dos portugueses, o envelhecimento populacional, a degradação do Serviço Nacional de Saúde, a falta de respostas sociais para apoio às famílias e aos mais velhos com necessidade de cuidados continuados, a fuga dos jovens qualificados para o estrangeiro… nada que não oiçamos todos os dias nos comentadores diários televisivos. E desculpem, mas parece mentira que estamos num estado social de maioria absoluta. Hoje acordámos com a notícia de um relatório de abril que Portugal é o 9.º país da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) em termos de impostos sobre o rendimento resultante do trabalho (avaliaram 38 países). Descontamos imenso, mas o pior é o que revela sobre a política fiscal e a sua arbitrariedade. No meio disto tudo tivemos uma mensagem inspiradora do Papa Francisco, que nos convida a ser surfistas 138


do amor e que nos diz que o único momento em que é lícito olhar alguém de cima para baixo é para ajudar a pessoa a levantar-se. A força das palavras nestes momentos não é demagógica e tem uma mensagem para lá do que é dito que é muito importante. Vá para fora cá dentro? Como podem os portugueses fazer férias fora? Os dados do ano passado revelavam que 37 por cento dos portugueses não conseguiam pagar uma semana de férias fora da sua residência 139

em 2022. Uma subida de preços das férias associadas a todos estes factos só pode significar redução de oportunidades de fazer férias para a classe média portuguesa, que são quem era responsável pela maior percentagem de férias no Algarve, por exemplo. E aqueles que conseguem fazer procuram propostas adequadas ao seu rendimento, pois no horizonte fala-se em nova crise económica, com a economia alemã a contrair, com o Produto Interno Bruto a cair pelo segundo trimestre consecutivo e os EUA a apresentar alguns dados preocupantes, como uma inflação ALGARVE INFORMATIVO #400


elevada, o desemprego a subir e o aumento da dívida pública. Os factos estão a demonstrar e os nossos mercados emissores de turistas são muito sensíveis a este panorama internacional, a que se junta a continuidade do conflito armado Rússia-Ucrânia e alguns eventos de catástrofe natural e climática. Nós, por cá, continuamos com a falta de serviços públicos de saúde, um espaço público desordenado e sem qualidade ambiental, os transportes que teimam em não melhorar, sobretudo o ferroviário, a desordem organizativa de competências, a falta de recursos humanos, a falta de rendimentos dignos, uma oferta vibrante de eventos nos meses de Verão, mas sem acréscimo de equipamentos, de infraestruturas ou de programação, que torne a região atrativa todo o ano, e tudo parece difícil… restamnos um clima ameno, umas praias maravilhosas, um sentimento de segurança que tem perdurado e alguma boa disposição. Cereja no topo do bolo: faz-se noticiar a todos os ventos que o Algarve já não é o que era, pois, um desempenho menos excelente do Algarve em termos de procura, sobretudo do mercado nacional, em ciclo contrário à maioria das regiões do país, deu lugar em todo o lado e meios de comunicação a muita tinta e minutos de antena a tentar encontrar culpados. Importante é ir de férias

para avaliar este comportamento, as suas causas e efeitos. Esta é sobretudo a oportunidade estratégica da região para se reavaliar, com base em factos e números. Se menos é mais… Veremos, pois é cedo para avaliar, mas que o mercado das viagens e do lazer pós-pandemia mudou e que a economia global produz efeitos muito rápidos junto dos mercados e o comportamento do turista enquanto consumidor, é evidente. Estamos todos muito perturbados com o que se passa no panorama internacional, na política, na comunidade, na casa do vizinho, e os faitdivers de todos os dias. Por aqui segue-se trabalhando, cada vez mais, procurando dar o contributo de forma pública, quando nos solicitam e sempre construtiva. É uma ciência difícil a do preço certo ou preço justo, sobretudo quando temos ativos com procuras tão voláteis como as do Turismo, excessivamente sazonais, monoproduto e muito dependentes de um mercado, e que trazem um passivo acumulado dos anos de pandemia. Mais e melhor destino será crescentemente aquele que promove os valores da sustentabilidade e qualidade da oferta cultural. Voltaremos certamente a estes assuntos. Se vai de férias cá dentro ou noutro sítio, o importante é ir de férias! .

Há de facto mudanças, mas o que interessa não é como começa, mas como acaba. Esta monitorização é fundamental, mas temos poucos dados ALGARVE INFORMATIVO #400

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O orangotango Sílvia Quinteiro (Professora) rês vezes por ano, Portugal recebe milhões de visitantes. Chegam de todo o mundo. De avião, de comboio, de carro, de barco. São de todas as cores, tamanhos e feitios. Procuram as mais variadas experiências. Vêm sozinhos, com amigos, com família. Falam todas as línguas. Pertencem a múltiplas religiões e culturas. Mas nenhum destes visitantes é tão estranho nem tão diferente do português-comum como o português-tenho tantos clientes que me estou nas tintas para ti. Este último constitui uma espécie que se propaga um pouco por todo o território nacional, formando colónias numerosas em zonas onde encontra um habitat perfeito. Os seres desta espécie são observáveis no verão, nas últimas semanas do ano e na Semana Santa. Em modo David Attenborough, afasto com as mãos a vegetação e convido a que, por entre uma moita de morraça, observem dois exemplares excecionais avistados junto à Ria Formosa. O primeiro é jovem e do género feminino. Morena, baixa, magra. Frequenta assiduamente o ginásio. Tem um ar simpático. Enverga uma t-shirt e um boné de uma empresa de passeios de barco. Na mão, o que me parece ser um ALGARVE INFORMATIVO #400

maço de brochuras. Aproximo-me. Sorri e cumprimenta-me. Pergunto se me pode dar uma informação. ⎼ É para comprar bilhete? ⎼ pergunta. Respondo que não. O semblante muda de imediato: ⎼ Eu estou aqui para vender bilhetes. Não me pagam para mais nada! ⎼ Afasto-me, na certeza de que é verdade o que diz. E apodera-se então de mim um sentimento de pena. A criatura manifestamente não recebe o suficiente para tomar um chá de vez em quando. O segundo exemplar é do género masculino. Muito alto, magro, tez morena, mais de 50 anos. Encontro-o em atividade num restaurante. Está agitadíssimo. Sento-me para jantar com duas amigas, a convite de uma instituição local. Pedimos a ementa. Escolhemos o arroz de lingueirão. Estamos com alguma pressa e sem muito apetite. Para além disso, quando se opta por este prato, coloca-se uma questão inevitável: ⎼ As doses são muito grandes? Acha que devemos pedir duas ou três? ⎼ A resposta sai-lhe de imediato e em voz bem alta: ⎼ Com o que a Câmara nos paga? Mal dá para a despesa do que pomos no prato. As doses deles são mais pequenas que as dos outros clientes. ⎼ Ficamos sem saber o que fazer. Não conseguimos perceber se está a falar a sério. Ou não queremos acreditar que tal seja possível. Estes dois fabulosos exemplares, avistados em agosto na colónia algarvia, 142


trazem-me à lembrança um outro com que me cruzei há muitos anos. Aconteceu numa visita ao Jardim Zoológico de Lisboa. Um menino aproximou-se da jaula do orangotango. Com a inocência própria da idade, chamou-o, achando que poderiam comunicar. O bicho virou-se. Olhou-o nos olhos e, sem que nada o deixasse adivinhar, agarrou uma enorme porção das suas próprias fezes e atirou-as na direção da criança. Acertou-lhe em cheio na cara. Primeiro o silêncio, a estupefação, os olhos arregalados, incrédulos. Depois, o choro compulsivo. 143

Não sei se aquela criança alguma vez voltou a tentar estabelecer contacto com um ser de outra espécie. Eu, tão coberta de vergonha alheia que só se me devem ver os olhos esbugalhados, não o farei seguramente. Limitar-me-ei a aguardar que o tempo passe e que a espécie hiberne. Espreitarei, de vez em quando, por entre as moitas, para me assegurar de que é seguro voltar a sair à rua .

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