REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #391

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1 ALGARVE INFORMATIVO #391 ALGARVE INFORMATIVO 10 de junho, 2023 #391 32.º ANIVERSÁRIO DO CENTRO DE JUVENTUDE DE FARO DO IPDJ | «TANTO MAR» DIA DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL | ENEIDA MARTA & HUCA | SEMANA CORAL DE LAGOA 1.º MICHELIN GUIDE CEREMONY PORTUGAL VAI REALIZAR-SE NO ALGARVE OLHÃO FESTEJOU DIA DO PESCADOR | ORQUESTRA DE JAZZ DO ALGARVE

ÍNDICE

MICHELIN Guide Ceremony Portugal (pág. 14)

Olhão festejou Dia do Pescador (pág. 22)

Dia de São Brás de Alportel (pág. 34)

32.º aniversário do Centro de Juventude de Faro do IPDJ (pág. 46)

«Arte sem Fronteiras» no Revelim de Santo António (pág. 56)

Eneida Marta e Huca no Cineteatro Louletano (pág. 74)

«Recados de Lá_Revisitação» no Cineteatro Louletano (pág. 88)

Orquestra de Jazz do Algarve com Paula Oliveira e Alaíde Costa (pág. 98)

XXIII Semana Coral de Lagoa (pág. 112)

OPINIÃO

Mirian Tavares (pág. 122)

Adília César (pág. 124)

Fábio Jesuíno (pág. 126)

Nuno Campos Inácio (pág. 128)

João Ministro (pág. 132)

Algarve recebe a primeira

MICHELIN Guide Ceremony

Portugal em 2024

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Algarve foi a região portuguesa escolhida para celebrar a MICHELIN Guide Ceremony, na qual será apresentada a seleção do Guia MICHELIN

Portugal 2024. Esta vai ser a primeira vez que Portugal apresenta a sua própria seleção, separada de Espanha, e com um evento próprio, conforme se ficou a saber em conferência de imprensa realizada, no dia 2 de junho, na Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, em Faro.

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A escolha do Algarve como cenário de uma jornada tão especial destaca uma das regiões ícones de Portugal e um dos destinos gastronómicos de referência na Europa, com uma vasta riqueza culinária, que atrai inúmeros amantes da gastronomia, provenientes de todos os cantos do mundo. A Gala terá lugar a 27 de fevereiro de 2024, no NAU Salgados Palace & Congress Center da Guia, em Albufeira, um espaço privilegiado onde se reunirão todos os protagonistas do panorama gastronómico português para celebrar a publicação do Guia MICHELIN Portugal 2024. Os chefs Dieter Koschina, do Vila Joya (duas Estrelas MICHELIN), e Rui Silvestre, do Vistas Rui Silvestre (uma Estrela MICHELIN), são os coordenadores de um grupo de chefs do Algarve, encarregues do jantar da Gala, no qual os convidados poderão desfrutar de alguns pratos e produtos emblemáticos da gastronomia portuguesa.

A gastronomia algarvia está, como em todo o território português, muito ligada às tradições, mas vive um constante processo de atualização, sendo claramente assinaláveis as diferenças no receituário do interior vs. litoral. No interior do país encontram-se, tendencialmente, receitas mais «pesadas», em que predominam vários tipos de carne, enquanto que nas regiões costeiras (como é o caso do Algarve), encontram-se inúmeros peixes e mariscos como, por exemplo, as típicas sardinhas, o carapau e o robalo, assim como o bacalhau – um ícone da gastronomia portuguesa – entre outros, muitas vezes preparados na grelha para

realçar, sem mascarar, a grande qualidade e sabor.

A estreita ligação do Algarve, uma referência internacional do litoral português, ao mar determina o forte carácter marítimo da sua gastronomia, com criações regionais tipicamente simples, onde é possível explorar a excelente qualidade dos seus produtos marítimos. Em toda a região, além de um clima ameno, das magníficas praias e belíssimas paisagens naturais, os visitantes e os amantes da gastronomia podem usufruir de diversas formas de preparar e cozinhar o peixe, em receitas como as caldeiradas, em sopas ou grelhados no carvão, ou ainda na cataplana, um dos mais típicos, onde uma caçarola esférica de cobre, dividida em duas metades permite uma cocção suave com alguma pressão. Outras especialidades são o cozido de grão-debico, próprio da serra que a região também apresenta, e a doçaria que privilegia da amêndoa e a alfarroba, característicos da região, como são exemplos o Dom Rodrigo ou os morgadinhos.

São, por isso, vários os motivos para que o Algarve seja uma região onde brilham as Estrelas MICHELIN, com projetos onde se desfruta de alta cozinha internacional, mas igualmente próxima das tradições e cultura. Entre os vários restaurantes, muitos deles inseridos em grandes e luxuosos complexos hoteleiros cujo público-alvo é maioritariamente o turista estrangeiro, podem destacar-se os dois restaurantes com duas Estrelas: Vila Joya, em Albufeira, dirigido pelo chef austríaco Dieter Koschina (primeiro duas

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Estrelas MICHELIN em Portugal), e Ocean, em Porches, dirigido pelo também austríaco, chef Hans Neuner.

A par da gastronomia, o Algarve destaca-se enquanto uma das zonas mais desenvolvidas de Portugal, contando com diversos destinos turísticos e culturais

que permitem descobrir o país com perspetivas diferentes. Desde as paradisíacas praias de Lagos, Carvoeiro ou Sagres, até às pitorescas vilas interiores de Silves ou Monchique, na serra, passando pela recôndita Ilha de Tavira, sem esquecer Faro, a capital da região. Com uma infinidade de recantos

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por descobrir, atrai turistas de muitos países e culturas distintas, e tem-se convertido na segunda residência de um grande número de cidadãos de outros países europeus. A riqueza turística, cultural e gastronómica do Algarve faz da região um enorme marco na valorização da dimensão e panorama gastronómicos

portugueses com a apresentação do Guia MICHELIN Portugal 2024.

O Guia MICHELIN Portugal 2024 evidencia a evolução gastronómica e a crescente excelência e consistência encontrada em Portugal pelos inspetores do Guia, como ilustra a edição de 2023,

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onde foram incorporados cinco novos restaurantes portugueses com uma Estrela MICHELIN. Com a organização de um evento próprio, a revelação da seleção de restaurantes e a consequente criação e publicação de conteúdos editoriais e de comunicação, o Guia contribui para a promoção de Portugal enquanto destino gastronómico europeu incontornável. Um país que, atualmente, conta com 7 restaurantes com duas Estrelas MICHELIN, 30 com uma Estrela MICHELIN, 38 Bib Gourmand e 3 projetos reconhecidos com a Estrela Verde MICHELIN.

A nova seleção do Guia será dada a conhecer, uma vez mais, com base no intenso trabalho de campo levado a cabo

pela equipa de inspetores e inspetoras MICHELIN, cujo empenho em estar a par das novidades gastronómicas nunca abranda para oferecerem a melhor informação aos leitores. A seleção de restaurantes do Guia MICHELIN Portugal 2024, além de recomendar as melhores mesas do país, reconhecidas com as diferentes categorias do Guia, dará especial ênfase especial à sustentabilidade através da Estrela Verde MICHELIN. Uma distinção de criação recente que reconhece os restaurantes e chefs particularmente dedicados e comprometidos com uma gastronomia sustentável e com o futuro dos ecossistemas .

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Município de Olhão homenageou os guardiões da ria e do mar

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Município de Olhão prestou homenagem, no dia 31 de maio, aos pescadores do concelho, com o Auditório

Municipal a abrir as portas para acolher e distinguir o trabalho desenvolvido pelos marítimos olhanenses em 2021 e 2022. Foram também inauguradas a embarcação «Eduardinho» e a exposição de fotografia «Mar a Fora», de André Gil, tendo o dia terminado com uma degustação de produtos do mar.

Os profissionais da pesca e da aquicultura viram assim o seu trabalho

reconhecido pelo Município, pelo 25.º ano consecutivo, com o edil olhanense, António Miguel Pina, a agradecer e elogiar os pescadores do concelho pelo seu trabalho, duro, mas essencial para a economia local. “Este é um dia para reconhecer e incentivar os pescadores pelo seu desempenho no último ano”, referiu o autarca, destacando problemáticas como as alterações climáticas e a mortandade dos bivalves na Ria Formosa. António Miguel Pina enalteceu a importância do mar como fonte inesgotável, mas, para tal, defendeu “a promoção de práticas de pesca sustentáveis e o investimento nas infraestruturas

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necessárias para apoiá-las” “Ao fazer isso, estamos a garantir que as gerações futuras possam continuar a depender da atividade piscatória para sua subsistência”, justificou.

No dia do “reconhecimento por esta classe trabalhadora tão esforçada como são os pescadores e aquicultores, guardiões da ria e do mar”, foi relembrado o apoio que o Município de Olhão presta ao setor, sobretudo através da Divisão de Ambiente e Empreendedorismo, na qual estão integrados os balcões de atendimento do BMar, “cujos serviços são requisitados, não só por todos os profissionais da região do Algarve, mas também pelos de outras regiões”, frisou António Miguel

Pina, realçando que, só em assuntos relacionados com este balcão, regista-se em Olhão uma média mensal de 500 atendimentos.

Entretanto, de 2022 até à data, foram submetidas cerca de 100 candidaturas à medida de Promoção da Saúde e do Bem Estar Animal, para fazer face à mortalidade na Ria Formosa, contabilizando até ao momento um valor aprovado de 2,1 milhões de euros. Apenas em 2023, desde abril até agora, registaram-se 104 candidaturas à medida de Desenvolvimento de Novos Mercados, Campanhas Promocionais e Comercialização. O autarca olhanense revelou ainda que, através do GAL Pesca do Sotavento, o Município de Olhão também acolhe fundos no âmbito do quadro comunitário. “Com financiamentos que não superam os 400 mil euros para

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investimentos públicos e 200 mil euros para investimentos privados, tem sido possível alavancar diversas empresas locais, não só através da modernização e criação de novas estruturas, mas também pelo surgimento de novas empresas, o que originou a manutenção e criação de empregos”, revelou. “Neste âmbito, foram apoiados 29 projetos que rondaram um investimento de cerca de 5 milhões de euros e tiveram um apoio público de 3 milhões de euros, tendo sido criados 35 postos de trabalho e contribuído para a manutenção de outros 97”, concretizou.

Neste Dia do Pescador, António Miguel Pina revelou também que o Município de Olhão assumiu, recentemente, as competências transferidas pela Docapesca relacionadas com a gestão das áreas portuárias e marítimas e áreas urbanas de desenvolvimento turístico e económico não afetas à atividade portuária. “É mais um desafio e uma responsabilidade que não rejeitamos, pois acreditamos conseguir dar uma nova dinâmica a estes espaços, de modo a que seja possível criar investimento, desenvolvimento e emprego”, declarou o edil olhanense, no dia em que a embarcação

«Eduardinho», cedida pelo antigo pescador Francisco Valério e recuperada

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pelo Município de Olhão, passou a fazer parte do espaço exterior do Auditório Municipal de Olhão, perpetuando assim a memória dos barcos utilizados em Olhão nas últimas décadas para a pesca do carapau e a apanha do polvo.

Nascido em Olhão a 10 de janeiro de 1946, Francisco Gonçalo Valério é também conhecido como Mestre Chico ou Chico da Ilha. Começou por acompanhar o seu pai nas idas ao mar quando tinha apenas nove anos de idade, frequentando a escola ao mesmo tempo. Mais tarde, já com o seu primeiro barco, «Praia de Marim», e mais tarde com o «Eduardinho», laborou por mais de 50 anos no mar. Esta embarcação pertenceu ao seu pai desde julho de 1970, embora a primeira matrícula da embarcação seja

datada de 17 de janeiro de 1958, época em que funcionava como barco de pesca artesanal/local das redes de malha e apanhava linguados e chocos, entre outros peixes.

Quando o barco passou a ser do seu pai, entre os anos 1970 e princípios dos anos 80, o «Eduardinho» foi usado na pesca da sacada, na apanha do carapau. Mais tarde, passou a ser barco de pesca do polvo com licença para as artes de pesca passivas como alcatruzes, murejonas e covos. Quando se aposentou como pescador, Francisco Valério não deixou de estar ligado ao mar, tendo continuado como artesão a fazer murejonas e covos. Com o incentivo da sua esposa e filhas, criou a marca «Murejonas do Ti Chico».

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A exposição «Mar a Fora», da autoria do fotógrafo olhanense André Gil, foi também inaugurada no Dia do Pescador e passará em breve para a sala de exposições do Museu Municipal de Olhão. A festa dedicada aos pescadores terminou com uma degustação de produtos do mar, cedidos pela Docapesca e pela Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve.

Lista de distinções:

Arrasto – Embarcação Mestre

António Lobo; Cerco –Embarcação Rio Odiel; Polivalente Local –

Embarcações SLB, Rui Jorge,

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Sarguete e Mãezinha; Polivalente Costeira – Embarcações Vila do Mar e Sousa; Armação – Embarcação Guentaro Maru; Produtor aquícola em 2021 – Nuno Leonardo (ostra) e Gualter Teixeira (amêijoa); Mariscador apeado – João José Vitorino; Mulher na pesca – Júlia Ramires; Pescador mais novo – António Manuel Jesus; Pescador em progressão –Paulo Filipe Cataludo; Homem na Indústria Conserveira – Pedro Luís Silva; Mulher na Indústria Conserveira – Maria Eduarda Revês; Prémio Mérito –Associação de Produtores de Ostras da Culatra; Prémio Carreira – Marta Rocha. O vencedor do concurso do cartaz do Dia do Pescador foi Ricardo Campina, aluno da Escola Secundária Francisco Fernandes Lopes .

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São Brás de Alportel comemorou 109 anos do concelho, com o justo tributo ao passado e pronto para novos desafios

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

ão Brás de Alportel festejou, no dia 1 de junho, o 109.º aniversário da fundação do Município com a tradicional Sessão Solene Comemorativa que este ano decorreu na Rua das Comunidades Portuguesas, junto ao Monumento aos Combatentes Sãobrasenses que foi inaugurado nesta data, numa cerimónia que contemplou também a atribuição de 13 insígnias de

honra, mérito e altruísmo a personalidades são-brasenses e o ato de tomada de posse da Comissão das Comemorações dos 50 anos da Revolução do 25 de abril. A aguardada e emotiva cerimónia de inauguração do Monumento aos Combatentes SãoBrasenses prestou homenagem a todos os combatentes do passado e do presente, com a evocação da memória dos são-brasenses que, ao serviço da pátria, perderam a sua vida em combate

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na I Grande Guerra e na Guerra do Ultramar.

Num dia em que se voltou a valorizar “a maior riqueza deste território, as pessoas, a nossa gente”, nas palavras de Vítor Guerreiro, recordou-se mais uma vez João Rosa Beatriz, “pela sua conquista como fundador do nosso concelho e pelas lutas que travou até concretizar este sonho”. “João Rosa Beatriz e aqueles que o acompanharam, na conquista da independência da então freguesia de São Brás, terão sempre o nosso reconhecimento e gratidão”, assegurou o presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, antes de endereçar umas palavras aos agraciados com as insígnias municipais, “o exemplo deste espírito solidário, livre e de entrega ao próximo, desta herança de valores que os são-brasenses são portadores, honrando o legado dos nossos antepassados e dignificando todos os dias o nosso concelho”.

Nesta data especial iniciou-se também a preparação das comemorações do Cinquentenário do 25 de Abril de 74, com Vítor Guerreiro a agradecer ao grupo de trabalho constituído por representantes das diferentes forças partidárias com assento em Assembleia Municipal e ilustres são-brasenses de diversas áreas, “que com o seu contributo trazem para a atualidade os valores humanistas de abril” “Saibamos

sempre valorizar e honrar este legado, de democracia e liberdade”, pediu o edil, num dia em que também se saldou “uma divida que tínhamos para com a nossa história, para com os sãobrasenses”. “O Monumento de Homenagem aos Combatentes São-brasenses é o agradecimento sentido da nossa comunidade a todos aqueles que ao longo da história serviram a Pátria, honrando o país e o nosso concelho. Este Monumento é igualmente um apelo à Paz no mundo, que os combates travados sejam sempre com o propósito de defender os inocentes, combater as injustiças e assegurar o cumprimento universal dos direitos humanos”.

O monumento é, assim, “uma homenagem a todos os homens que no passado partiram da sua terra, rumo ao desconhecido, para missões de que pouco ou nada sabiam, deixando para trás a família, mulher, pais, filhos e amigos, servindo Portugal com entrega e devoção, cumprindo o seu dever”. “Mas também aos homens e mulheres que, num passado mais recente e no presente, integrados nas mais diversas missões de paz, honram o nosso país, com todo o sentido de dever. E hoje, especialmente,

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prestamos a nossa homenagem sentida a todos aqueles que perderam a vida em missão, na I Guerra Mundial e na Guerra de Ultramar, assim como aos que sobreviveram, uns feridos fisicamente, outros ainda com as marcas da guerra na alma”, declarou Vítor Guerreiro. E a concretização deste objetivo contou com a colaboração imprescindível do Núcleo de Faro da Liga dos Combatentes, parceria esta que veio mais tarde dar origem a uma Delegação

de São Brás de Alportel da Liga dos Combatentes e que neste momento já conta com cerca de 80 elementos.

Vítor Guerreiro falou, depois, “de um mundo que vive em sobressalto, com uma crise climática de que não há memória, e com todos os problemas daí resultantes, humanitários, sociais e ambientais”, mas também dos tempos atuais que são de grande incerteza e de grandes dificuldades, devido à Guerra na Europa. “Os são-brasenses são uma

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comunidade que se fortalece nas dificuldades e temos ainda bem presente na nossa memória o grande exemplo que fomos de uma comunidade unida no combate à pandemia.Trabalhando em parceria, temos alcançado grandes e importantes conquistas, das quais muito nos orgulhamos. Na Câmara Municipal temos seguido uma estratégia de valorização da nossa maior

riqueza, a nossa gente e o nosso território, caminhando para o desenvolvimento sustentável, transversal a todas as áreas, tendo sempre como objetivo prioritário a qualidade de vida da nossa população, o progresso harmonioso do nosso concelho. No entanto, os desafios são muitos, exigentes e de grande complexidade”, admitiu o autarca.

De acordo com Vítor Guerreiro, São Brás de Alportel é o segundo concelho do país, não localizado no litoral, que mais cresceu na última década, 5,7 por cento, “o que exige de nós mais e novas respostas”, com a transferência de competências do Governo para as autarquias a ser “um processo que abraçamos desde a primeira hora, pois acreditamos que nós, os líderes locais, os autarcas, podemos fazer mais e melhor pela nossa população”. “Neste âmbito, assumimos compromissos nas áreas da saúde, educação, área social, habitação, entre outras, e pretendemos conseguir melhorar as respostas à nossa população e concretizar novos projetos estruturantes e importantes para a vida dos são-brasenses”, justificou, lembrando que a Rua das Comunidades Portuguesas será em breve o berço de um projeto que mudará o paradigma das respostas de saúde em São Brás de Alportel. “A construção da nova Unidade de Saúde Familiar, um

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projeto da Câmara Municipal, que conta com o apoio da ARS Algarve, irá melhorar o acesso e a qualidade dos cuidados de saúde primários prestados a todos os sãobrasenses. Também terão início em breve as obras de requalificação e melhoria no edifício do Centro de Saúde, resultantes de uma candidatura da Câmara Municipal ao Plano de Recuperação e Resiliência. Brevemente irá arrancar o

funcionamento da Unidade de Saúde Familiar, que irá garantir médico de família para todos os utentes”, anunciou o presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel.

Convicto de que a Educação é o pilar na construção da sociedade, Vítor Guerreiro apontou que estão, neste momento, em execução os projetos de ampliação da EB 2,3 Poeta Bernardo Passos e do Jardim de Infância Joaninhas, com quatro novas salas, bem como a criação de novas salas de 1.º ciclo na EB N.º 3 e de uma sala de

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atividades. No Desporto e Cultura, os investimentos têm sido igualmente significativos, quer no apoio às associações, “que são detentoras de uma forte dinâmica cultural e desportiva”, quer na criação de novos equipamentos.

A falta de habitação é um dos grandes problemas atuais da sociedade portuguesa, pelo que em São Brás de Alportel prossegue-se com grande empenho a concretização da Estratégia Local de Habitação. “Iremos fazer um investimento superior a 10 milhões

de euros para criar habitações para cerca de 140 agregados familiares, a executar até 2026, onde contamos ainda com a colaboração da Junta de Freguesia e da Santa Casa da Misericórdia de São Brás de Alportel”, avançou Vítor Guerreiro, reconhecendo que, no contexto atual de crise económica e social, “são cada vez mais aqueles que nos procuram, porque necessitam do nosso apoio, e devo agradecer aos nossos parceiros, locais e regionais, pelas respostas que diariamente conseguimos dar a quem delas precisa” “A Santa Casa da Misericórdia, em parceria com a Câmara Municipal e com o apoio financeiro do PRR e de outras fontes de financiamento, vai edificar equipamentos essenciais para as respostas sociais de que a nossa região carece, nomeadamente, uma Unidade de Cuidados Continuados, um Centro de Atividades e Capacitação para Inclusão e um Lar Residencial para pessoas com deficiência”, destacou.

Na área da Proteção Civil e salvaguarda do território, a Autarquia faz um investimento continuo na prevenção, estabelecendo parcerias para uma maior capacidade de resposta em caso de incêndio rural, como é exemplo o protocolo com o Exército Português para patrulhamento intensivo ou a parceria com a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de São Brás de

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Alportel. “Anualmente fazemos um investimento médio superior a 700 mil euros, justificado pela salvaguarda da nossa floresta e pela garantia da segurança das populações. E no âmbito da missão prioritária de prevenção e combate a incêndios rurais adaptamos o Parque de Manobras do IMT com as condições adequadas para acolher um Centro de Meios Aéreos”, indicou Vítor Guerreiro.

Implementada tem sido também uma Estratégia Municipal de Combate às Alterações climáticas, com ações que permitem reduzir o consumo de água, criar novas zonas verdes e aumentar a

eficiência de recolha de resíduos. E os investimentos na renovação urbana têm vido a melhorar o espaço urbano de forma significativa, com intervenções associadas à acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, à eficiência energética e hídrica e à criação de novas áreas verdes. “Iniciámos recentemente a primeira fase da Requalificação do Centro Urbano nas artérias envolventes ao Mercado Municipal, núcleo central da vida social e económica da comunidade. Um investimento que ronda o meio milhão de euros e que permite mais qualidade de vida, maior eficiência hídrica, mais acessibilidade para todos, maior dinâmica e atratividade para o

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comércio tradicional, mais segurança e ordenamento do trânsito e estacionamento, melhores espaços verdes e de lazer”, sublinhou o presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, adiantando que a segunda fase, a iniciar ainda este ano, incidirá sobre as ruas António Rosa Brito, Silva Nobre e Virgílio Coelho. “Tudo isto e muito mais é possível com muito trabalho e uma gestão autárquica rigorosa, com o aproveitamento de fundos comunitários e a boa capacidade de execução dos mesmos”, enalteceu Vítor Guerreiro.

“São Brás de Alportel é um

concelho desenvolvido, atrativo, onde se vive com qualidade. Ao fim de mais de um século, o nosso concelho afirma-se no panorama nacional e internacional como um município de excelência em diversas áreas. Porque contamos com a união e participação da nossa comunidade. Juntos, vamos continuar o caminho de progresso, de desenvolvimento sustentável do nosso concelho, envolvendo todas/os são-brasenses na construção deste futuro de solidariedade, união e justiça social”, concluiu .

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Centro de Juventude de Faro do IPDJ comemorou 32.º aniversário

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Direção Regional do Algarve do Instituto Português do Desporto e Juventude celebrou, no dia 25 de maio, os 32 anos da abertura do seu Centro de Juventude no Algarve, com uma programação bastante rica e diversificada na qual se envolveram o movimento associativo e desportivo do Algarve, numa apresentação de diferentes expressões artísticas e culturais. O evento foi o reflexo de um trabalho e dinâmica que se têm pautado por uma política de proximidade com

todos os agentes da região que intervêm no terreno, numa ação descentralizada por todo o Algarve, e também como um espaço de afirmação e concretização dos projetos dos jovens e das suas organizações.

Ao longo do «Dia Aberto no IPDJ» decorreram atividades como pintura de graffiti, jogos tradicionais, jogos de tabuleiro e xadrez, um workshop de colagem e outras iniciativas que deram a conhecer aos jovens os Programas e Campanhas do IPDJ. O alinhamento oficial das comemorações arrancou com um momento de dança contemporânea da responsabilidade das alunas da Escola

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Secundária Tomás Cabreira, e com a apresentação do Painel Coletivo, com a colagem alusiva ao 32.º Aniversário do Centro de Juventude de Faro, facilitada pela colagista Lia Rodrigues. Seguiu-se a inauguração da exposição coletiva «ARTITUDE», da Associação de Cultura e Arte Urbana, após o que se avançou, no Auditório do IPDJ, com a sessão comemorativa com momentos musicais a cargo do Projeto Peculiar e de Vitória Pacheco, e as intervenções de José Apolinário, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, de Fábio Zacarias, presidente da Associação Académica da Universidade do Algarve, e de Custódio Moreno, Diretor Regional do Algarve do IPDJ. Foram igualmente entregues os

prémios da edição deste ano do «Palco RUA – Música JA», cujos vencedores irão atuar na FATACIL, em Lagoa, na Feira da Serra, em São Brás de Alportel, e no Festival F, em Faro.

Num discurso informal como é seu apanágio, Custódio Moreno agradeceu a presença na festa de muitos dirigentes, treinadores, atletas, voluntários, amigos, empresários e empreendedores e garantiu que, “hoje, são as parcerias, as cooperações, as partilhas, as trocas de experiências, que fazem a diferença”. “No associativismo não nos podemos fechar em capelinhas.Temos que ser abertos e partilhar, e no IPDJ queremos ser

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uma porta escancarada para as pessoas, para os jovens e menos jovens, porque trabalhamos com todos”, apontou. “Estamos aqui para ser facilitadores, para desligar o «complicómetro», porque aquilo que os jovens querem são respostas fáceis e rápidas de entender e que se assuma quando se pode ou não fazer alguma coisa. E vamos trabalhar incansavelmente para que o Centro de Juventude de Faro tenha o selo de qualidade do Conselho da Europa. Isto não é apenas umas festinhas, uns teatrinhos ou umas dancinhas, trata-se da concretização dos sonhos e

projetos dos jovens. E não somos um espaço só de Faro, nem sequer só do Algarve, mas sim de Portugal, da Europa e do Mundo”, salientou Custódio Moreno, antes de dar um «cartão branco» à equipa que o acompanha, no dia-a-dia, no Centro de Juventude de Faro do IPDJ. “Vocês são a razão do sucesso que aqui alcançamos. Ninguém pense que consegue fazer tudo sozinho. Somos uma sociedade de pessoas, de proximidade, de afetos”.

A festa de aniversário terminou em grande estilo com o concerto dos «The Black Teddys», banda de Olhão que foi a vencedora da primeira edição do concurso «Música JA», do IPDJ .

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REVELIM DE SANTO ANTÓNIO FESTIVAL DE DANÇA ARTE

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Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

ANTÓNIO VOLTOU A ACOLHER SEM FRONTEIRAS

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Revelim de Santo António, em Castro Marim, foi palco, no dia 4 de junho, do Festival de Dança «Arte sem Fronteiras», evento que reúne escolas de dança do território – Splash Dance Crew (Vila Real de Santo António), Conservatório de Vila Real de Santo António, Arutla (Altura), Companhia de Dança do Algarve (Faro), Estúdio-T (Olhão), Danzarte Ayamonte (Ayamonte) – num espetáculo cheio de alegria e de talento.

A gala de dança juntou em palco cerca

de 300 crianças e jovens, com coreografias que foram desde as influências do hip-hop até à música clássica e contemporânea, numa combinação única de música, luz e movimento. O Festival tem o principal objetivo de reforçar e valorizar o trabalho que estas escolas desenvolvem com os jovens do território, para além de promover o gosto pela expressão artística, ao demonstrar os benefícios, físicos e mentais, associados à prática. O «Arte sem Fronteiras» no Revelim de Santo António é uma organização da Escola de Dança Splash, em parceria com a Câmara Municipal de Castro Marim .

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ENEIDA MARTA E HUCA LEVARAM ÁFRICA AO

CINETEATRO LOULETANO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Cineteatro

Louletano vibrou, no dia 2 de junho, com o concerto de Eneida Marta, a primeira confirmação para a celebração dos 20 anos do Festival MED, a ter lugar em 2024. Da GuinéBissau para o mundo e para Loulé, Eneida Marta contou com uma plateia muito especial, cerca de 50 guineenses que fazem parte da comunidade do concelho e que foram convidados a juntar-se a este momento. “A Guiné-Bissau é um país que tem uma relação muito especial com Loulé, fruto da

geminação com a cidade de Bissorã, mas também pela numerosa comunidade imigrante que, com o seu trabalho, contribui para enriquecer o concelho.

Queremos cultivar estes laços com o país”, justificou Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé.

Foi um concerto dirigido sobretudo aos seus conterrâneos, mas também aos amantes da música africana, com músicas intercaladas por palavras sobre o contexto socioeconómico do país e as eleições que teriam lugar no dia 4 de junho. “Prometem e não cumprem.

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No meu país ainda estamos a viver desse mal”, disse a artista que, tal como muitos dos jovens guineenses, ainda mantém “a esperança de ver uma Guiné-Bissau próspera”.

Em palco escutaram-se as estórias de pessoas e de uma nação onde, pelas ruas, a pobreza ainda prevalece, retratadas pela voz de uma das artistas africanas mais genuínas e vibrantes do panorama das músicas do mundo. A multipremiada Eneida Marta, que é também uma mulher

de causas, embaixadora da UNICEF para a Guiné-Bissau, contou neste concerto com a participação especial do cantor de Moçambique, Huca, mais um «furacão» dos PALOPS. Foi, de facto, um encontro incrível, vivenciado de uma forma muito especial pelos guineenses que estiveram esta noite no Cineteatro Louletano, numa encomenda para o Festival MED que surpreendeu pela sinergia dos dois artistas e pela capacidade vocal e interpretativa de Eneida e Huca .

LAREIRA ARTES PARTILHOU EM LOULÉ RECADOS E GRITOS DAS VÍTIMAS DA GUERRA

Texto: Daniel Pina| Fotografia: João Catarino/ Folha de Medronho

Tanto Mar –Festival de Artes Performativas de Loulé, uma organização da associação

cultural Folha de Medronho com o apoio do Município de Loulé, levou a cena, no dia 26 de maio, no Cineteatro Louletano, o espetáculo «Recados de lá_Revisitação», pela Lareira Artes.

Nesta história, dois homens desconhecidos e traumatizados encontram-se desesperados num abrigo como fugitivos de guerra. Em pleno cenário de tensão e devastação, cada um vai relatando as suas horríveis vivências, cada uma mais dramática que a outra. Os raptos, crianças-soldados, estupros, são imagens bem vivas nos personagens que, entre tensão e revolta, se vão divergindo quanto às razões e possíveis soluções deste dilema em que estão condenados.

recados e gritos ignorados de milhares de inocentes vítimas de guerras sangrentas no mundo”, comenta o dramaturgo e encenador Diaz Santana sobre esta peça protagonizada pelo próprio e por Cremildo.

Movidos pelo mesmo sol – o teatro –dois jovens artistas da capital moçambicana, Maputo, Sérgio Mabombo e Diaz Santana, uniram-se e fundaram o grupo Lareira Artes em finais de 2010, com o objetivo de prosseguir com a arte de representar profissionalmente, dotando as suas obras com mais qualidade e sabedoria, para além de pesquisar, massificar e divulgar a cultura moçambicana além-fronteiras. Apesar do pouco tempo de existência, o Lareira é neste momento um dos grupos moçambicanos que mais circula internacionalmente, tendo sido distinguido com alguns prémios internacionais .

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“«Recados de lá_Revisitação» são

ORQUESTRA DE JAZZ DO

ALGARVE DESLUMBROU COM PAULA OLIVEIRA E ALAÍDE COSTA

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Kátia Viola e Michel Januário

Orquestra de Jazz do Algarve continua com uma programação bastante intensa e, em maio, deram nas vistas os espetáculos em que teve como convidadas especiais as cantoras Paula Oliveira e Alaíde Costa.

Nos dias 14 e 19 de maio, a estrutura liderada pelo maestro e trompetista Hugo Alves apresentou, respetivamente, no Centro Cultural de Lagos e na Cerca do Convento de Loulé, o espetáculo «After You’ve Gone», com Paula Oliveira, voz incontornável da cena jazzística nacional e com uma invejável carreira por terras lusas e não só. Estudou no Hot Club de Portugal, Taller de Musics de Barcelona e

Manhattan School Of Music (NY) onde residiu. A lista de mentores é enorme e nela figuram nomes como Phil Woods, Norma Winston ou Reggie Workman, entre outros. Do Jazz à Música Portuguesa, são vários os trabalhos editados e juntou-se, em maio, à Orquestra de Jazz do Algarve para celebrar o Dia Internacional do Jazz.

«After You've Gone» foi o tema que deu a linha condutora destes concertos enérgicos e de contrastes, não fosse a orquestração «Up Swing» de Sarah Vaughan. Outros grandes standards juntaram-se-lhe, casos de «Come Rain Or Come Shine», «Fly Me To The Moon», «Let The Good times Roll», ou, em sonoridades mais 80's, «This Masquerade». Destaque para algumas orquestrações de Claus Nymark, músico

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dinamarquês residente em Portugal há décadas, que muito contribui para o Jazz Português, quer no ensino, como músico ou a dirigir a Orquestra Angrajazz, nos Açores.

Antes disso, no dia 12 de maio, o Auditório Municipal Carlos do Carmo, em Lagoa, recebeu «Turmalina Negra», com a cantora Alaíde Costa. Após vencer os mais prestigiados programas de calouros da história do rádio brasileiro como os de Paulo Gracindo, Renato Murce e Ary

Barroso, Alaíde Costa profissionalizou-se como crooner do Dancing Avenida, no Rio de Janeiro, em 1956, o mesmo ano em que estreou como compositora, gravando no seu primeiro 78 rpm a canção «Tens que pagar», numa parceria com Airton Amorim. O sucesso veio no ano seguinte com o segundo disco a darlhe o prêmio de melhor intérprete da música popular brasileira e a abrir-lhe as portas das emissoras de rádio e das principais editoras do país .

XXIII SEMANA CORAL DE LAGOA ARRANCOU COM CORO NORTE-AMERICANO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Ideias do Levante

Pennsylvania State University

Men's Glee Club, dirigido pelo maestro

Christopher Kiver (com dois Grammy Awards), apresentou um maravilhoso espetáculo na abertura da XXIII Semana Coral de Lagoa, no dia 14 de maio, no Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa. O espaço encheu-se de público para assistir à atuação de um dos mais antigos grupos corais (ainda em atividade) dos Estados Unidos da América, tendo contribuído também para o sucesso do concerto a ACFEA Tour Consultants, a solista convidada Jennifer

Trost (mezzo-soprano), a pianista acompanhadora Rachel Flicker e o Coral Ideias do Levante (Lagoa), que se juntou ao coro americano para interpretar as duas peças finais.

A Semana Coral de Lagoa prosseguiu com um Ensaio Aberto de Coro, no dia 17 de maio, no CEFLA, e com o Concerto de Encerramento, na Igreja Paroquial da Mexilhoeira da Carregação, no dia 20 de maio, reunindo o Coral Almira (Alcácer do Sal), o Coral Ideias do Levante (Lagoa) e o Grupo Coral Ossónoba (Faro). O festival é organizado pela associação cultural Ideias do Levante em parceria com o Município de Lagoa .

Da tecnologia Mirian Tavares (Professora)

El tiempo se bifurca perpetuamente hacia innumerables futuros. En uno de ellos soy su enemigo.

ico sempre admirada quando vejo a fé que as pessoas têm na tecnologia, sobretudo na omnipresença e sempiternidade da internet, como se, em qualquer lugar, a qualquer momento, fosse possível recorrer à memória armazenada, aparentemente disponível e a mão de semear. Penso nisso quando os meus alunos vão apresentar trabalhos e não o trazem «fisicamente», confiam que, na sala de aula, a internet vai funcionar, que não haverá um apagão, que rápida e facilmente acedem aos seus emails e de onde extraem seus power points. É mesmo uma questão de fé. A internet existe, para quem já nasceu sob sua égide, como Deus – omnipresente e omnisciente. Se eu lhes tirar o telemóvel, de onde eles leem as apresentações, se por acaso não houver rede na universidade, o que não é de todo impossível, se faltar energia por uns instantes, o que sobra? Seriam capazes de falar, de se lembrar do tema, de articular um discurso? Hei de tentar um dia obrigá-los ao exercício da palavra livre de muletas. É um bom exercício, porque lhes falta, a quase todos, capacidade de estruturar, por si mesmos, ideias e pensamentos. Porque estamos cada vez

mais como pacientes que não vivem sem uma máquina – que os ajuda a respirar, a ver, a viver. Poucos de nós sentem-se relaxados sem ter ao lado, ou à frente dos olhos, o telemóvel. Não para comunicar, mas para ver coisas, ler coisas, saltar de um lugar ao outro, preencher sempre o minuto de silêncio, ocultar o vazio. O horror vacui da arte medieval é nosso pão de cada dia. Mães empurram os carrinhos dos bebés, de telemóvel em punho. De vez em quando, param, fotografam o filhote, publicam a foto, regozijam-se com os likes e seguem em frente, sem olhar para o bebé, sem ver o que as circundam.

Há muitos anos, mesmo muitos, antes dos smartphones, fui a uma exposição do Munch no MASP – Museu de Arte de São Paulo. Levei comigo uma amiga, que estava de passagem pela cidade, que é um mundo e que tem muito para se ver. Entramos na exposição e ela começa a fotografar tudo. E diz: como temos pouco tempo, fico com as fotos e posso ver mais tarde. Fiquei chocada: ela estava a trocar a experiência da presença da obra diante de si, por um registo para a memória futura de ter estado ali. Fotos dos quadros, desenhos ou gravuras, são fáceis de encontrar. Já estar diante da obra, diante de sua esmagadora

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presença, nada substitui, para mim, essa relação. Quando estive diante do Êxtase de Santa Teresa, de Bernini, nem conseguia falar, quanto mais, fotografar. Porque o meu êxtase diante da obra só seria representável, quiçá, pelo Bernini, e nunca por uma foto tirada pelo telemóvel a dizer: estive aqui. Eu estive e a imagem ficou-me impressa na memória. Se quiser ver a foto, há ótimas reproduções em livros e catálogos. Sei que já me posso considerar da velha guarda, ainda sou

daquelas que copia coisas para uma pen, que preferia ter acesso a um leitor de CDs no carro, pois de outra forma, estamos amarrados às redes, ao alcance que elas têm para nos acompanhar, mesmo em lugares remotos. Além de estarmos sempre a pagar por isso, de alguma maneira. A tecnologia é maravilhosa, mas nunca é «de graça». Pagamos sempre o dízimo por essa nossa profissão de fé .

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Foto: Vasco Célio

Minou Drouet: Adília César (Escritora)

Na verdade, você não pode encontrar um livro de Minou Drouet em qualquer livraria de Paris, nem mesmo o seu sucesso fenomenal Arbre, Mon Ami, que foi publicado há pouco mais de cinquenta anos - no começo de 1956 - pelo agressivo René Julliard, que no ano anterior havia conseguido um triunfo internacional com Bonjour Tristesse, de Françoise Sagan. Mas Sagan tinha dezoito anos; Minou tinha oito anos.

Robert Gottlied in «A Lost Child» (2006)

inou nasceu em julho de 1947 e foi adoptada por Claude Drouet, professora particular e aspirante a poetisa. A menina evidenciava problemas sérios de saúde: era quase cega e comportava-se de modo muito alheado, tendo dificuldade em relacionar-se com as outras crianças. Diz-se que até aos seis anos de idade nunca pronunciou uma palavra. Talvez por estes motivos de recolhimento interior, as suas emoções eram dedicadas quase inteiramente à natureza – os pássaros e outros animais, a grande árvore do jardim. Claude Drouet amou aquela criança para além do esperado, acreditando que através desse amor seria possível transformar um bebé doentio e fechado numa menina saudável, feliz e criativa. Não se sabe bem como começou esse milagre do desabrochar, do despertar para o mundo. Toda a infância de Minou foi cercada de mistérios e ambiguidades, e vários

médicos afirmaram que ela nunca seria uma criança normal.

Em 1954 teve início um processo extraordinário de desenvolvimento do caso Minou: por volta dos 8 anos de idade a criança começou as suas lições de piano com Ninette Ellia, a quem escreveu cartas e poemas; por sua vez, a tutora mostrouas ao Professor Vallery-Radot da Academia Francesa, que ficou fascinado e dela falou ao editor René Julliard; este veio a conhecer Minou pouco tempo depois. Entretanto, a menina fez uma cirurgia e recuperou a visão. Julliard fez uma edição privada de um livreto com uma selecção de poemas e de cartas de Minou e a controvérsia instalou-se. Os textos, de grande qualidade literária, implicavam indiscutivelmente a questão da sua autoria: seria a criança ou a mãe, uma poetisa considerada de segunda categoria? Um sem número de acções de diversos quadrantes da sociedade francesa e até internacional moveram todas as estratégias ao alcance numa tentativa de decifrar a personalidade poética de Minou Drouet: entrevistas à

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família, artigos de opinião, testes de competência. A 14 de janeiro de 1956, René Juillard publicou o primeiro livro de Minou – Arbre, Mon Ami – com 21 poemas e algumas cartas que ela escreveu para diversas pessoas: uma imaginação extravagante, metáforas poderosas, neologismos, uma enorme sensibilidade. E nada disto se sintonizava com uma menina daquela idade. Seria Minou Drouet uma criança prodígio ou uma farsa? O livro teve sucesso imediato, vendendo quarenta e cinco mil cópias em poucos meses. A batalha literária continuou por mais algum tempo, a par dos filmes, canções, entrevistas, programas de televisão. Um boom mediático e avassalador que explorou o caso Minou Drouet até à exaustão, com posições altamente contrárias evidenciadas por personalidades relevantes do meio cultural da época –escritores, jornalistas, críticos de arte. Nunca se chegou a uma conclusão válida.

“Eu era uma criança perdida, eu era apenas um animal patético, que crime cometi para ser perseguida desta maneira?”, perguntou ela. Não obteve resposta. Depois de ter publicado um segundo livro de poesia em 1959 – Le Pêcheur de Lune – ela começou a hesitar. Tentou escrever fábulas, romances, e também seguir carreira como cantora, estudou enfermagem, casou com o artista e cronista de rádio Patrick Font e divorciou-se de seguida. O impulso irresistível para escrever tinha-a abandonado aos 14 anos e pouco a pouco remeteu-se ao silêncio. Contudo, ela encontrou uma forma de sobreviver: deixou cair a Minou da infância e tornouse Madame Le Canou, instalando-se na

localidade de La Guerche-de-Bretagne –onde poucos habitantes conhecem o seu passado. Era o preço que estava disposta a pagar.

É possível encontrar a bela mulher loira de 75 anos a fazer compras no mercado; já não escreve e recusa-se a dar entrevistas. O enigma persiste.

No contexto da época, o caso Minou Drouet foi considerado o maior enigma literário do século XX, em França. Fascinante. Um enigma dentro de outro enigma. De um lado, a poesia. Do outro, uma criança. De tudo o que se sabe sobre uma e outra – a poesia e a criança – não se tem grandes certezas. O que é a poesia? O que é uma criança? E, assim, resta-nos a grande questão que ultrapassa o caso Minou Drouet: pode uma criança escrever poemas? .

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nosso mundo está a mudar a um ritmo alucinante. Estamos a testemunhar uma nova revolução industrial, na qual os avanços tecnológicos e científicos se sucedem, tendo um impacto disruptivo.

Na liderança desta grande mudança encontram-se os empreendedores, capazes de identificar um problema e convertê-lo numa oportunidade. São indivíduos criativos, corajosos e extremamente persistentes, que não têm medo de arriscar para terem a oportunidade de mudar o futuro e criar projetos que impactem positivamente a vida das pessoas.

Uma das características dos empreendedores é a busca permanente pela inovação. O facto de estarem constantemente à procura de novas ideias mostra uma capacidade ativa na sociedade. Isso faz com que surja uma abordagem de mudança de comportamentos mais rápida e participativa.

A cultura empreendedora está cada vez mais enraizada na nossa sociedade, ocupando um lugar de destaque

constante nos meios de comunicação social, que frequentemente destacam as histórias de sucesso de empreendedores notáveis. Muitos desses empreendedores de sucesso alcançaram um estatuto de celebridade global, em grande parte devido às suas ideias inovadoras que revolucionaram a forma como vivemos e nos comunicamos.

O empreendedorismo começa a estar presente na educação nos países mais desenvolvidos, em diversos níveis de ensino, mas principalmente nas universidades, onde muitas se destacam por apostarem nessa vertente com a criação de incubadoras de startups e uma forte ligação com o meio empresarial.

Um dos aspetos desta mudança é a preparação para encontrar dificuldades a qualquer momento e enfrentar riscos, tentando assustar o medo de errar, de forma que, quando isso acontecer, seja um momento de aprendizagem. A ausência de erros no empreendedorismo é, na maior parte das vezes, sinónimo de carência de inovação e de risco, por isso mesmo, deve ser encarada de uma forma mais positiva.

Ser empreendedor está ao alcance de todos. Não se resume apenas à criação de empresas, mas sim a uma atitude e busca

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O empreendedorismo está a mudar o mundo Fábio Jesuíno (Empresário)

constante por novas ideias, ter iniciativa, agir e sempre pensar de forma diferente. São esses elementos que contribuem para uma sociedade melhor, na qual todos podem participar ativamente na mudança.

O interesse crescente pela cultura empreendedora está a mudar mentalidades, mostrando novas realidades e abrindo caminhos que nunca antes foram explorados .

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O Algarve de Camões Nuno Campos Inácio (Editor e escritor)

este dia em que se celebra o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, afigura-se-nos

oportuno recordar algumas ligações do nosso «Poeta Maior» à região algarvia.

A primeira ligação e a mais ancestral será a genética, que remonta aos tempos da (re)conquista definitiva do Algarve. Nesses tempos, era alcaide de Xantamaria de Hárun (atual cidade de Faro), Aloandro ben Bakr, pai de Madragana ben Aloandro, provavelmente mulher tão exótica quanto o nome que carrega, ao ponto de se tornar amante reconhecida de D. Afonso III. Pelos critérios sociais da época, a mourisca poderia ter sido apenas um espólio de guerra, uma concubina escrava como tantas que habitavam a corte, mas não, parece que a ligação foi mais profunda, ao ponto da jovem algarvia se ter convertido ao cristianismo e ter adotado o nome cristão de Mór Afonso, de quem teve cinco filhos, mas apenas dois vingaram: Martim Afonso Chichorro e Urraca Afonso de Portugal. Deste enlace amoroso, a acreditarmos nas várias genealogias clássicas, encontramos inúmeros descendentes na atualidade, como todos os representantes das diversas Casas Reais Europeias, mas, no que no dia de

hoje interessa, a nosso Luís Vaz de Camões, pela seguinte linha ascendente –Luís Vaz de Camões, filho de Guiomar Vaz da Gama, neto de Inês Gomes da Silva, bisneto de Jorge da Silva, trineto de Gonçalo Gomes da Silva, tetraneto de Isabel Vasques de Sousa, 5.º neto de Vasco Martins de Sousa, 6.º neto de Martim Afonso Chichorro (II), 7.º neto de Martim Afonso Chichorro (I), 8.º neto de D. Afonso III e Madragana.

A segunda ligação podemos dizer que é de parentesco, sendo parente de Rui Pereira da Silva, Alcaide-mor de Silves e senhor do Morgado dos Casais, em Monchique, onde Luís Vaz de Camões esteve alojado ou refugiado e onde terá escrito um poema dedicado à Ribeira de Boina, que acompanha o presente artigo. Na literatura também se encontram referências à passagem e estadia de Camões no Morgado de Quarteira.

Uma terceira ligação é de proteção e patronato. Sabemos que a família dos Condes de Vila Nova de Portimão, os Castelo Branco, era grande apreciadora da cultura. Gonçalo Castelo Branco e Martinho Castelo Branco figuram mesmo no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, encontrando-se comprovadamente entre os patrocinados pela família o escritor Gil Vicente e os poetas João Rodrigues de Sá de Meneses e Cataldo Parisio. Já Luís Vaz de Camões terá sido patrocinado pelo Conde D.

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Martinho de Castelo Branco (II), também ele reconhecido apoiante das letras.

A quarta ligação podemos considerar como sendo patrimonial. Não do património de Camões, mas do património coletivo nacional. No Arquivo Nacional da Torre do Tombo encontra-se, num exemplar de «Os Lusíadas», o retrato mais antigo (e também o mais popular) de Luís Vaz de Camões. Esse exemplar do livro e esse retrato pertenciam a D. Martinho de Castelo Branco (II), que o levou para Alcácer Quibir, onde veio a falecer no campo de batalha. A 16 de Agosto de 1578 chegou ao porto de Vila Nova de Portimão o navio «São Francisco» carregado com o espólio do Conde desta vila, onde vinha

«Os Lusíadas». Há algo de poético, de majestoso, perceber que um nobre guerreiro do século XVI tinha preocupações, levando um livro para o campo de guerra. Não será difícil de embarcar neste poema e assentar praça na areia do deserto, em torno de uma grande fogueira, ouvindo D. Martinho a declamar «Os Lusíadas» para os cavaleiros do seu exército, obra por si patrocinada e escrita por um imortal indelevelmente algarviano.

Por meio de umas serras mui fragosas, cercadas de silvestres arvoredos, retumbando por ásperos penedos, correm perenes águas deleitosas. Na ribeira de Boina, assi chamada, celebrada -

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porque em prados esmaltados com frescura de verdura, assi se mostra amena, assi graciosa, que excede a qualquer outra mais fermosa -

as correntes se vêem que, aceleradas, as aves regalando e as boninas, se vão a entrar nas águas neptuninas por diversas ribeiras derivadas. Com mil brancas conchinhas a áurea areia bem se arreia; voam aves; mil suaves passarinhos nos raminhos acordemente estão sempre cantando, com doce acento os ares abrandando.

O doce rouxinol num ramo canta, e de outro o pintassilgo lhe responde. A perdiz de entre a mata, em que se esconde, o caçador sentindo, se levanta; voando vai ligeira mais que o vento, vai buscando; porém quando vai fugindo, retinindo trás ela mais veloz a seta corre, de que ferida logo cai e morre.

Aqui Progne, de um ramo em outro ramo, co peito ensanguentado anda voando,

cibato para o ninho indo buscando; a leda codorniz vem ao reclamo do sagaz caçador, que a rede estende, e pretende com engenho fazer dano à coitada, que enganada duns esparzidos grãos de louro trigo, nas mãos vai a cair de seu imigo.

Aqui soa a calhandra na parreira; a rola geme; palra o estorninho; sai a cândida pomba de seu ninho; o tordo pousa em cima da oliveira. Vão as doces abelhas sussurrando, e apanhando o rocio fresco e frio por o prado de erva ornado, com que o bravo licor fazem, que deu à humana gente a indústria de Aristeu.

Aqui as uvas luzidas, penduradas das pampinosas vides, resplandecem; as frondíferas árvores se oferecem com diferentes frutos carregadas; os peixes n'água clara andam saltando levantando as pedrinhas, e as conchinhas rubicundas, que as jucundas ondas consigo trazem, crepitando por a praia alva com ruído brando.

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Aqui por entre as selvas se levantam animais calidónios, e os veados na fugida inda mal assegurados, porque do som dos próprios pés se espantam.

Sai o coelho; a lebre sai manhosa da frondosa breve mata, donde a cata cão ligeiro. Mas primeiro que ela ao contrário férvido se entregue, às vezes deixa em branco a quem a segue.

Luzem as brancas e purpúreas flores, com que o brando Favónio a terra esmalta;

o fermoso Jacinto ali não falta, lembrado dos antigos seus amores; inda na flor se mostram esculpidos os gemidos; aqui Flora sempre mora; e com rosas mais fermosas, com lírios e boninas mil fragrantes, alegra os seus amores inconstantes.

Aqui Narciso em líquido cristal se namora de sua fermosura; nele os pendentes ramos da espessura debuxando-se estão ao natural.

Adónis, com que a linda Citereia se recreia,

bem florido, convertido na bonina que Ericina por imagem deixou de qual seria aquele por quem ela se perdia.

Lugar alegre, fresco, acomodado para se deleitar qualquer amante, a quem com sua ponta penetrante o cego Amor tivesse derribado; e para memorar ao som das águas suas mágoas amorosas, as cheirosas flores vendo, escolhendo, para fazer preciosas mil capelas, e dar per grão penhor a Ninfas belas.

Eu delas, por penhor de meus amores, uma capela à minha deusa dava; que lhe queria bem, bem lhe mostrava o bem-me-queres entre tantas flores; porém, como se fora malmequeres, os poderes da crueldade na beldade bem mostrou. Desprezou a dádiva de flores; não por minha, mas porque muitas mais ela em si tinha.

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o Algarve há uma «religião» que impera. Uma religião em permanente expansão, por todo território, dentro e fora das localidades, que tem na construção civil a sua doutrina e como ídolo sagrado o imobiliário. Sim, o imobiliário. Esse segmento da actividade económica que tem toda uma região refém sobre sua influência e que dela faz o que bem desejar.

Esta «religião» goza de uma expressividade pouco comum em Portugal. Os limites administrativos são por ela flexibilizados ou mesmo subalternizados, face ao poder que exerce. Financeiro, entenda-se. As suas ventosas, na forma de receitas fiscais, agarram os municípios ao ponto de os tornar dependentes e viciados, conduzindo a um deboche de ferro e betão. E a jardins, sumptuosos e verdejantes, exigentes em água, esse elemento raro que tanto nos faz falta. As amplas piscinas, instaladas até em varandas e terraços, são outro dos símbolos da opulência desta religião. E para tal, água pura, potável, obtida das mesmas fontes onde a recolhemos para a beber, é-lhe devida.

O todo-poderoso imobiliário é paciente. Sabe aguardar os anos necessários para

se instalar. Sabe que tudo é uma questão de tempo e em determinado momento, sob circunstâncias próprias e com os devidos auxílios, a doutrina aplicar-se-á e a obra faz-se. Não interessa que seja em zona protegida ou numa paisagem natural imaculada. Esses são, porventura, os alvos mais apetecíeis. A exclusividade e a rareza dão-lhe valor. Também não interessa se existem bosques, campos agrícolas, linhas de água ou zonas de recarga de aquíferos. Desvia-se. Alterase. Transplanta-se. E maquilha-se, sob belas poesias de encantar, a que normalmente vimos designados nos estudos de avaliação ambiental por «medidas compensatórias». Sim, esta poesia de embalar, entorpece e cumpre as suas funções: permitir a construção.

Esta tão singular «religião» tem inclusive merecido vários incentivos superiores. Únicos até. Decisões governamentais a conceder-lhe direitos privilegiados, sobrepondo-os mesmo aos públicos. Poderes, ditos «adquiridos», quase inesgotáveis, mesmo ao fim de décadas de total inactividade. Tem também gozado de estatutos extraordinários, como o de PIN, de forma a libertá-la das amarras burocráticas, independente do tipo de ocupação do solo. E mais recentemente foi até bafejada com outros estímulos, como se falta fizessem, designadamente os tão falados «Vistos Gold» ou o estatuto de «Residentes Não Habituais». Tudo para a

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O todo-poderoso
João Ministro (Engenheiro do Ambiente e empresário)

alimentar, engordar e intensificar em nome da uma dita retoma económica e de um tal desígnio nacional: o crescimento do PIB.

O imobiliário é um «deus» no Algarve. Quase todos lhe veneram sem se interrogarem sobre o seu impacto ambiental, social ou cultural. Ninguém se preocupa com a origem do dinheiro ou com quem o aplica. É pecado. O dinheiro fácil e abundante ludibria. Embebeda. Das suas mãos, qual Zeus a libertar raios e relâmpagos, fluem cheques, avultados, para tudo comprar e construir. E assim, impávida e serenamente, assistimos a um total desordenamento da região, a um profundo desequilibro social e territorial –

onde a falta de habitação a preços acessíveis é apenas um dos rostos do problema –, a uma descaracterização e destruição da paisagem e de zonas sensíveis, à massificação total da costa, ao consumo descontrolado de água e a uma dependência tóxica que de sustentável nada tem.

Como este não há outro «deus». Tão pouco um que o procure limitar ou conter. Isso exigiria, por certo, a doutrina de uma outra religião: a da coragem e do bom-senso. Mas, como bem o sabemos, essas há muito que abandonaram o Algarve .

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