REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #383

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ALGARVE INFORMATIVO

15 de abril, 2023

«ALBUFEIRA COM CORAÇÃO» | «CARAVANA DAS VARIEDADES» VAI PERCORRER SÃO BRÁS

«ESTRADA DE TERRA» DE TIAGO CORREIA | JORGE CARRILHO | «NÓS NÃO SOMOS A DOENÇA»

1.º CONCURSO INTERNACIONAL DE GUITARRA «CIDADE DE LAGOA - ZÉ GREGÓRIO»

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ÍNDICE

«Albufeira com Coração» (pág. 24)

1.º Concurso Internacional de Guitarra «Cidade de Lagoa - Zé Gregório» (pág. 30)

Festa das Tochas Floridas em São Brás de Alportel (pág. 46)

«Caravana das Variedades» vai percorrer concelho de São Brás de Alportel (pág. 68)

«Estrada de Terra» no Cineteatro Louletano (pág. 84)

«Nós não somos a doença» da Panapaná no Teatro Lethes (pág. 98)

Jorge Carrilho no Auditório Carlos do Carmo (pág. 110)

OPINIÃO

Mirian Tavares (pág. 124)

Adília César (pág. 126)

Fábio Jesuíno (pág. 130)

Carlos Manso (pág. 132)

Lina Messias (pág. 134)

Município de Albufeira abriu o primeiro «Albufeira com Coração» para melhorar a vida de residentes e turistas

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina eve lugar, no dia 5 de abril, a abertura oficial do primeiro «Albufeira com Coração», localizado no n.º 22 da Rua António Aleixo. O espaço, cedido pela Santa Casa da Misericórdia de Albufeira, resulta de uma parceria do Município de Albufeira com o ABC – Algarve Biomedical Center, integrado no PDAE –

Programa de Desfibrilhação Automática Externa e no A3_COR – Programa de Reabilitação Cardíaca e de Osteoartrose, com o intuito de sensibilizar e reabilitar todos os indivíduos que tenham fatores de risco cardiovasculares para uma vida ativa, saudável e segura, disponibilizando conhecimentos acerca dos comportamentos a adotar numa situação de urgência médica.

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O programa PDAE providencia mais de 11 equipamentos móveis, distribuídos por viaturas da GNR, Bombeiros Voluntários de Albufeira, INEM, Cruz Vermelha Portuguesa e ANSA – Associação de Nadadores Salvadores de Albufeira, a par de 23 cabines situadas na via pública em diversos locais do concelho, possibilitando uma resposta mais eficaz em caso de emergência. Por sua vez, o programa A3_COR – Algarve Active Ageing Cardiac and Osteorthritis Rehabilitation, apresentado pelas investigadoras Tatiana Neto e Maria Pinto, pretende implementar um protocolo de exercícios destinados a doentes que sofram de pós-enfarte, hipertensão ou osteoartrose nos joelhos,

sempre com o intuito de “reabilitar e melhorar a qualidade de vida dos doentes”, explicaram.

Na ocasião, José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira, defendeu que “é de extrema importância que consigamos dar resposta à necessidade dos nossos residentes e dos milhares de turistas que nos visitam anualmente em todas as matérias que dizem respeito à saúde” e lembrou que “Albufeira encontra-se num dos primeiros lugares do ranking de concelhos com mais desfibrilhadores na via pública, o

que comprova a nossa preocupação em dar uma resposta rápida aos munícipes” “A segurança e os cuidados de saúde são dois dos principais fatores que influenciam a escolha de um destino para gozar férias e há muitos estrangeiros de idade mais avançada que ficam no nosso concelho na época baixa, de forma regular, durante dois ou três meses. Este desafio foi-nos lançado pelo Nuno Marques e de imediato decidimos avançar com ele, devido à sua mais-valia para todos”, evidenciou José Carlos Rolo.

Presente na cerimónia, Inês Araújo,

vice-presidente da associação para o desenvolvimento do Centro Académico de Investigação e Formação Biomédica no Algarve, recordou que este consórcio foi criado, em 2016, por portaria do Ministério da Saúde e do Ministério da Ciência e do Ensino Superior, associando a formação médica, a atividade clínica e a investigação biomédica. “Ao longo de sete anos foram vários os projetos desenvolvidos em parceria com os municípios do Algarve, dos quais Albufeira e Loulé foram pioneiros nesta relação com o Centro Clínico Académico, e este espaço é um desses exemplos, a par do PDAE.

O A3_COR não seria possível sem o financiamento do CRESC Algarve

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2020 e sem a motivação e perseverança da Sandra Pais e do Nuno Marques e esperamos agora que exista um CRESC Algarve 2030, daí que já estejamos a desenvolver quatro candidaturas, duas delas internacionais, para manter e alargar estas iniciativas”, frisou.

Inês Araújo salientou ainda a importância do exercício físico ao ar livre e de uma alimentação saudável para se manter a saúde, seja física, seja mental. “Todos gostaríamos de tomar um comprimido para sermos novos e magros até mais tarde, mas toda a evidência científica demonstra que o exercício físico é a melhor coisa que podemos fazer para

conseguirmos isso, para além de seguirmos a dieta mediterrânica.

Os estímulos sociais e culturais também são importantes, mas, sem exercício físico, tudo o resto cai por terra”, avisou.

O «Albufeira com Coração» foi financiado pelo CRESC Algarve 2020, juntamente com o Município de Albufeira, e deverá em breve ganhar um segundo espaço, no Pavilhão Desportivo dos Olhos de Água. Atualmente, já serve cerca de uma centena de pessoas, num processo que dura 12 semanas e que é personalizado por técnicos de desporto e fisioterapeutas e que envolve igualmente o Laboratório de Saúde, Envelhecimento e Cinética da Universidade do Algarve, nas Gambelas, em Faro .

1.º Concurso Internacional de Guitarra «Cidade

de Lagoa

– Zé Gregório» superou todas as expetativas

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

cidade de Lagoa recebeu, de 31 de março a 2 de abril, o 1.º Concurso Internacional de Guitarra «Cidade de Lagoa – Zé Gregório», que contou com 67 concorrentes oriundos de dez diferentes países, numa coprodução da Associação de Guitarra do Algarve e do Município de Lagoa. Único a nível nacional, o evento foi criado para promover talentos,

estimular a interpretação de obras escritas para este instrumento e valorizar a criação dos estudantes do curso geral de guitarra e dos jovens do ensino superior, assim como de profissionais da música até aos 35 anos, mas também para enaltecer o lagoense José Gregório, um apaixonado pela guitarra portuguesa que durante muito tempo foi um dos poucos executantes deste instrumento no concelho e na região. “Quando Lagoa comemora 250 anos de

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existência enquanto concelho, não poderíamos deixar passar em branco uma homenagem bem merecida a este lagoense nascido no Parchal, que tem uma história de vida fantástica e que deu um contributo enorme para a cultura e para a história da guitarra portuguesa em Lagoa, no Barlavento e em todo o Algarve. Os portugueses têm o péssimo hábito de só homenagear as pessoas depois de elas deixarem de estar entre nós, por isso, para mim, hoje é um dia de grande alegria por termos aqui connosco o Zé Gregório”, declarou Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa.

Quanto ao concurso em si, uma evolução do Festival Internacional de Guitarra que já vinha acontecendo há alguns anos em Lagoa, o edil reconheceu que “foi uma decisão ousada, mas que constituiu uma agradável surpresa” “Não estávamos à espera de termos tantos participantes logo na primeira edição e, sobretudo, com esta qualidade. Vai ser a primeira de muitas edições, a acontecer de dois em dois anos, para continuarmos a promover a cultura e a música portuguesa”, garantiu Luís Encarnação. “Foi, de facto, uma grande surpresa esta forte adesão e nível técnico”, reconheceu igualmente Eudoro Grade,

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presidente da Associação de Guitarra do Algarve. “A juventude é o futuro da humanidade, é nela que temos que apostar, e temos que dar os parabéns a todos estes concorrentes”, reforçou o músico.

Um concurso que favorece a difusão nacional e internacional de intérpretes notáveis e a divulgação das criações de grandes compositores, mas que pretende, acima de tudo, facilitar a integração de jovens intérpretes no meio artístico e proporcionar o diálogo e a apresentação de trabalhos académicos sobre a música em geral e a música para guitarra em particular, assim como do património musical mundial. Em simultâneo, contribui para a afirmação cultural do concelho de Lagoa e de toda a região do Algarve, aumentando a sua

notoriedade nacional e internacional como município promotor de um dos melhores concursos internacionais nas vertentes a solo e Música de Câmara com Guitarra.

Nesta primeira edição participaram músicos de Portugal, Espanha, Eslovénia, Croácia, Canadá, China, Japão, Rússia, Ucrânia e República Checa, confirmando desde logo o interesse e pertinência do evento, tendo como prémios um valor monetário de cerca de 13 mil euros. O concurso abrange diferentes níveis e categorias, desde os 10 até aos 35 anos, entre estudantes e profissionais da guitarra portuguesa, atribuindo três prémios para cada um dos diferentes níveis de ensino do instrumento e para a música de câmara com guitarra. A par disso, o Município de Lagoa criou o «Prémio Cidade de Lagoa» para distinguir

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o melhor guitarrista algarvio a concurso, promovendo assim o gosto pela guitarra junto dos jovens músicos da região, bem como um prémio para o melhor grupo de câmara do Algarve.

O concurso encerrou com a grande final de nível profissional (nível VI) e a cerimónia de laureados para entrega dos prémios e atuação dos vencedores dos diversos níveis etários, terminando a gala com a fantástica performance da Orquestra Juvenil de Guitarras do Algarve, liderada pelo maestro Eudoro Grade.

Vencedores do 1.º Concurso Internacional de Guitarra «Cidade de Lagoa – Zé Gregório»

Nível I (Entre 10 e 12 anos)

Menção Honrosa: Ian Laizé (Portugal) e Maria Andrade (Portugal)

3.º Classificado: Gonçalo Duarte (Portugal) e Simão Domingues (Portugal)

2.º Classificado: Maria Garcia (Portugal) e Maria Pina (Portugal)

1.º Classificado: Laura Duarte (Portugal) e Rafael Correia (Portugal)

Nível II (Entre 13 e 14 anos)

3.º Classificado: Guilhermo Rego (Portugal)

2.º Classificado: Tito Erenbourg (Portugal)

1.º Classificado: Patricia Mendes (Portugal)

Nível III (Entre 15 e 16 anos)

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Menção Honrosa: Afonso Viegas (Portugal) e Martim Freire (Portugal)

3.º Classificado: Tiago Mendes (Portugal)

2.º Classificado: André Grade (Portugal)

1.º Classificado: Hugo Eira (Portugal)

Nível IV (Entre 17 e 18 anos)

Menção Honrosa: Afonso Viegas (Portugal) e Martim Freire (Portugal)

3.º Classificado: Tiago Mendes (Portugal)

2.º Classificado: André Grade (Portugal)

1.º Classificado: Hugo Eira (Portugal)

Nível V (Entre 19 e 23 anos)

3.º Classificado: Benoit Mussard (França) e Bruno Antunes (Portugal)

2.º Classificado: Pedro Rodrigues (Portugal)

1.º Classificado: Diogo Carlos (Portugal)

Nível VI (Entre 24 e 35 anos)

3.º Classificado: Yuki Saito (Japão)

2.º Classificado: Alvaro Toscano (Espanha)

1.º Classificado: Igor Klokov (Russia) e Marko Topchii (Ucrânia)

Música de Câmara em Guitarra (Até 35 anos)

3.º Classificado: Duo Čakš‐Gorjanc (Eslovénia) e Daniyah Guitar Duo (Portugal e Eslovénia)

2.º Classificado: Bluvenduo (Canada e China)

1.º Classificado: Duo Sirius (Portugal)

Prémio Cidade de Lagoa para o melhor algarvio – Afonso Viegas e Martim Freire.

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Tapetes Floridos regressaram às ruas de São Brás de Alportel no Domingo de Páscoa

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Festa das Tochas Floridas de São Brás de Alportel regressou no Domingo de Páscoa, 9 de abril, com os seus tradicionais tapetes de flores com um quilómetro de extensão a cobrirem o chão por onde passa esta singular Procissão de Aleluia.

Depois de uma maratona ao longo de toda a semana na apanha das flores e na sua preparação, tarefa que é um desafio lançado a toda a população, na madrugada de domingo, pela noite fora, centenas de voluntários envolveram-se na árdua tarefa de preparar os tapetes floridos. O programa arrancou pelas 9h30, com a abertura das ruas, e à mesma hora o Largo de São Sebastião

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acolheu o Encontro de Sabores da Páscoa, enquanto, no Adro da Igreja Matriz, se apresentava a Mostra de Artesanato. Pelas 10h, na Igreja Matriz, começou a Eucaristia da Ressurreição, que precedeu a tão aguardada Procissão de Aleluia, em honra de Jesus Ressuscitado, que motiva várias gerações de homens são-brasenses a envergar as bonitas e originais tochas de flores enquanto entoam o tradicional refrão: «Ressuscitou como disse! Aleluia! Aleluia! Aleluia!».

À tarde, a partir das 15h, o Adro da Igreja Matriz recebeu a Tarde Cultural,

um momento de convívio animado com a mostra de artesanato, doces e petiscos, com a apresentação dos premiados em mais uma edição dos Jogos Florais e do concurso das mais belas tochas floridas e com as atuações dos grupos Allcante, São Brás Bailando e Bombocas. Uma festa ímpar a nível nacional que voltou a ser organizada em parceria pela Associação Cultural Sambrasense, o Município de São Brás de Alportel e a Paróquia de São abra, com o apoio do C.N. Escuteiros 1330, freguesia, associações locais e comunidade .

«Caravana das Variedades» vai percorrer concelho de São Brás de Alportel

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina ma bienal de arte(s) e património(s) dirigida aos jovens e às crianças (feita com eles, e não simplesmente para eles), e que pretende também alimentar a infância e a juventude de todas as idades, é a proposta do Plano Nacional das Artes, em parceria com os municípios, os agrupamentos de escola e os agentes culturais de todo o território nacional,

para promover uma verdadeira democracia cultural, isto é, a participação ativa de cada um na cultura de todos, como agentes culturais e educativos, no seu quilómetro quadrado. «Retrovisor: uma história do futuro» é uma festa para celebrar e tomar consciência da importância transformadora das artes, com um cartaz que engloba exposições, espetáculos, concertos, visitas, conferências, oficinas e outras atividades para valorizar a criação e a programação para a infância e a juventude, os artistas,

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os professores e os mediadores, quer nas instituições culturais, quer nas educativas, tudo isto com o grande objetivo de transformar as instituições culturais em território educativo e as escolas em polos culturais.

Em São Brás de Alportel, o Agrupamento de Escolas José Belchior Viegas avançou com o projeto «Caravana das Variedades», que vai para o terreno no dia 26 abril, no Largo da Mesquita (Mesquita), no dia 27 no Largo da Igreja do Alportel (Alportel) e, no dia 28, no Largo da Igreja de São Romão (S. Romão), seguindo-se Parises, a 14 de maio, e São Brás de Alportel a 21 e 22 de maio. Um projeto que surge a partir de um olhar «retrovisor» sobre a tradição que começou no século XVI, com as/os artistas da Comédia dell´Arte que viajavam em carroças por territórios

distantes dos grandes centros urbanos e das belas-artes, interagindo com as culturas locais. Com o objetivo de recriar essa tradição, a «Caravana das Variedades» inclui modalidades artísticas como a performance, a dança, a música, saltimbancos, palhaços e muita alegria, fruto do trabalho de estudantes e da restante comunidade escolar e de projetos da comunidade que se aliam ao espetáculo.

Com Direção Artística a cargo de Maria João Gonçalves e Teresa Henriques e Direção Musical de António Macedo, a que se juntam também os músicos Celestino Jorge e Guilherme Evangelista, a «Caravana das Variedades» vai ser protagonizada pelo Coletivo Teatro ALF@, composto por Diana Magoito, Djamila Martins, Luana Magoito, Carlota Cota, Cristiana Simplício, Letícia da

Fonseca, Beatriz Graça, Beatriz Brito, Jorge Guerreiro, Rafaela da Palma, Rita Viegas, Sofia Nunes, Sofia da Conceição, Inês Machado, Gonçalo Guerreiro, Laura Bandeira, Ana Guerrero, Catarina Viegas, Cátia Ambroseisiuc, Isabel Gonçalves, Lara Pereira, Laura Inácio e Rita Martins. Depois, aos jovens alunos vão unir-se o Rancho Folclórico da EB/JI/N3 (Coordenação de Ângela Vargues e Célia Martins), o Clube de Música do AEJBV (Direção Musical de Hugo Jorge) e o projeto «A Banda Vai à Escola» (Direção Musical de Albano Neto). E foi precisamente num dos ensaios que teve

lugar no Alportel que tivemos uma primeira ideia de como tudo isto vai funcionar a partir do dia 26 e de como é que esta «caravana» nasceu. “Tanto eu como a Teresa temos há muito tempo um grande apreço pelo teatro, por sabermos o seu potencial enquanto instrumento de educação, portanto, foi uma questão de conciliar as nossas ideias com as intenções do Plano Nacional das Artes”, conta Maria João Gonçalves. “No nosso agrupamento

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de escolas temos um projeto maravilhoso de sopros, muitos trabalhos em torno das artes plásticas, os enredos das histórias, as produções de teatro, ou seja, já estávamos preparados para abraçar este desafio. A ideia é que a escola deixe de ser somente um território educativo para passar a ser também um território cultural e que as associações, empresas e entidades privadas e públicas

envolvidas na cultura também participem nos processos educativos”, prossegue Teresa Henriques. “Em 2018 houve uma reforma educativa que definiu nove competências fundamentais que os jovens, ao sair do ensino secundário, devem possuir e finalmente lembraram-se das artes, ao incluírem a sensibilidade estética e artística, o pensamento

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criativo e crítico, e a consciência do corpo”, acrescenta a docente.

Exposta, na altura, a proposta a Nídia Amaro, diretora do Agrupamento de Escolas José Belchior Viegas, que prontamente deu «luz verde» para se avançar, Teresa Henriques e Maria João Gonçalves começaram a reunir a equipa de produção e candidataram-se então à I Bienal Cultura e Educação. “Nós já fazíamos isto na escola há tantos anos e, de repente, abriu-se uma janela de oportunidade para darmos a conhecer o nosso

trabalho. Foi tal o entusiasmo com que nos apresentámos que fomos um dos nove agrupamentos de escolas selecionados a nível nacional para participar neste projeto conjunto do Ministério da Educação e do Ministério da Cultura”, recorda Teresa Henriques. Seguiu-se uma formação com as equipas das candidaturas escolhidas, nas quais também se encontram, do Algarve, o Agrupamento de Escolas Pinheiro e Rosa de Faro e o Agrupamento de Escolas de Albufeira Poente. “Ajudou-nos a amadurecer as ideias e a selecionar

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os projetos que podiam fazer parte da bienal. Estão muitas pessoas envolvidas, dentro e fora do agrupamento, e essa formação foi bastante importante para levarmos as coisas por adiante”, sublinha António Macedo, opinião partilhada por Maria João Gonçalves. “Cada professor está habituado a trabalhar determinadas competências. Eu sou de português, estou acostumada às linguagens e texto, não percebo nada de luminotecnia. Coordenar todas estas atividades implica que sejamos mais ecléticos e

ambiciosos, que tenhamos formação ao nível do som, luz, imagem”, reforça.

Levar a energia e dinâmica dos jovens às aldeias

Diversos professores do Agrupamento de Escolas José Belchior Viegas uniram então esforços para criar uma «Caravana de Variedades» cujos integrantes foram fáceis de encontrar. “São alunos que já fazem parte do grupo de teatro, uma atividade bastante heterogénea onde podem brilhar em áreas muito diferentes e onde

não existe uma relação tão constrangedora e formal como dentro de uma sala de aula. A educação não pode ser uma coisa bolorenta e meramente livresca”, entende Maria João Gonçalves. “A pretensão da Bienal é pegarmos no património, material e imaterial, que nos foi deixado, olhar para ele e tentar transformálo, e a «Caravana das Variedades» é um projeto muito inclusivo que conta com diversas ideias dos alunos. Há ali músicas e danças de

pop sul-coreano que eu nem conhecia, mais uns temas da Bárbara Tinoco e do Matias

Damásio”, revela Teresa Henriques. “Tivemos que pegar nessas canções e fazer os nossos próprios arranjos, para além de criarmos outros efeitos sonoros e melodias originais. Vamos atuar nas aldeias do concelho onde a população é envelhecida e onde normalmente pouca coisa acontece e tentar despertar as pessoas com toda a energia e dinâmica do espetáculo” adianta António Macedo.

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Os seis espetáculos não vão ser, entretanto, todos iguais, explicam os três professores, e mesmo o guião base já foi escrito e rescrito várias vezes, de acordo com os contributos dos alunos. “Queremos que a comunidade de cada aldeia, sejam os alunos da escola primária, sejam os mais idosos, se envolvam também neste produto intergeracional”, aponta Teresa Henriques, voltando a dizer que motivar os mais novos para o projeto tem sido fácil. “Mesmo que algum falte a um ensaio, há logo outro para desempenhar o seu papel, são bastante autónomos e organizados, mesmo tendo apenas

10 e 11 anos”. “E os pais, ao verem a felicidade dos filhos, acabam por aderir a este movimento”, observa Maria João Gonçalves.

A 11 dias do primeiro espetáculo, o frenesim é imenso e o cansaço também se vai notando, porque os ensaios são muitos aos fins-de-semana, até mesmo durante as férias da Páscoa, mas o grupo de teatro do agrupamento já está habituado a tudo isto e não vacila. “O ano passado fizemos «A estrada para o mar» e tivemos mais de 30 inscritos. Este ano foram cerca de 70, de tal modo que vamos levar a cena três espetáculos”, diz Teresa Henriques, com António Macedo a confessar que o maior desafio é envolver

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também os alunos do secundário. “Mas alguns elementos do grupo que estavam no 8.º e 9.º ano, agora já transitaram para o 10.º, continuam connosco e temos a esperança de que contagiem os colegas”, responde Teresa Henriques, esclarecendo ainda que não está preocupada com a estreia. “Para nós, é mais importante o processo do que o resultado final. Digo-lhes sempre que a estreia já não me diz respeito. Não sou eu que vou pisar o palco, até posso ir para casa e depois telefono a perguntar como é que correu”, comenta, sorridente.

“Aqui toda a gente participa em tudo, não há «vedetas», alunos que querem dar mais nas vistas do que os outros. Se alguém assume um papel de maior destaque, é porque os colegas o «empurraram» para isso por reconhecerem que tem maior aptidão para isso. E não queremos que a «Caravana das Variedades» comece e acabe este ano, mas sim que seja um projeto de continuidade, envolvendo jovens e idosos das várias aldeias e sítios do concelho”, terminam os docentes .

TIAGO CORREIA APRESENTOU «ESTRADA DE TERRA» NO

CINETEATRO LOULETANO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

epois de «Turismo»

(12 de setembro de 2020) e de «Alma»

(22 de abril de 2022), o escritor e encenador Tiago Correia regressou

ao Cineteatro Louletano, no dia 6 de abril, para apresentar «Estrada de Terra», que conta a história de Luís, um homem que se encontra retirado numa casa de campo com uma mulher (Leonor) em fuga à rotina citadina. Luís, interpretado por Pedro Lamares, recebe, entretanto, uma chamada de um amigo (Marco) com quem cortou relações há cerca de dez anos.

Um pedido de desculpas que é também um grito de ajuda, que Luís recusa e que Leonor (Inês Curado) testemunha.

“Num jogo de contradições em

que ninguém é quem parece ser, esta chamada telefónica vai desembocar numa sequência de desencontros que revelará a verdade sobre as relações e que colocará à prova as possibilidades de uma reconciliação deles com o mundo. Com uma linguagem violenta e sem filtros, esta peça apresenta a tragédia de uma geração que se debate pela busca da autenticidade numa sociedade decadente”, descreve Tiago Correia.

«Estrada de Terra» tem texto original e encenação de Tiago Correia e conta ainda com as interpretações de André Júlio Teixeira e Sofia Vilariço. A cenografia é de Ana Gormicho, o desenho de figurinos de Sara Miro. O desenho e operação de

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luz é de Pedro Nabais, o desenho de som de Vasco Rodrigues e a operação de som de Miguel Moreno. Com música original de André Júlio Teixeira, o desenho de vídeo e realização estão a cargo de Francisco Lobo. A peça é uma

coprodução de «A Turma» e do São Luiz Teatro Municipal, com o apoio do «Garantir Cultura» da República Portuguesa / Ministério da Cultura –DGArtes .

DOENÇA MENTAL EM DESTAQUE EM «NÓS NÃO SOMOS A DOENÇA» DA PANAPANÁ

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Rita Merlin

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e 3 a 6 de abril foram apresentados, no Teatro Lethes, em Faro, quatro espetáculos totalmente distintos concebidos no âmbito de uma residência artística da Panapaná –Associação Cultural. No dia 5 de abril, a peça «Nós não somos a doença» falou de saúde mental e de todo o preconceito que existe ao redor deste tema.

«Nós não somos a doença» é um thriller que retrata o quotidiano de pessoas com doenças mentais agravadas. Lana Vidal é formada em psiquiatria e, depois de um episódio traumático, entra numa

depressão que a impede de continuar a trabalhar na sua área de formação. Dois anos depois e recuperada, volta ao ativo. Toda a peça desenrola-se em redor dos pacientes de Lana e da sua vida dentro da instituição psiquiátrica, mas a verdade nunca é aquela que está diante dos nossos olhos.

Com produção de Diego Medeiros e Raquel Ançã e Encenação e Texto da responsabilidade de Eva Agostinho e Cárin Silva, a peça foi protagonizada por Alice Velez, Beatriz Gago, Bruna Viegas, Cárin Silva, Carolina Santos, Diana Miguel, Davi França, Dina Muchanga, Eva Agostinho, Frost, Juliana Boyko, Miguel Guerreiro, Nelson Fernandes, Quinn e Salomé Cristina .

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JORGE CARRILHO COMEMOROU EM LAGOA OS SEUS 48 ANOS NA MÚSICA

Texto: Ricardo Coelho| Fotografia: Ricardo Coelho
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Auditório Carlos do Carmo em Lagoa foi palco da celebração de Jorge Carrilho e dos seus 48 anos na música com um concerto realizado no dia 6 de abril e que teve ainda como convidados Filipe Valentim (saxofone), Ana Messias (voz e piano) e Kim Brandão (baixo).

Com um público maioritariamente composto por familiares, amigos e colegas, com quem pisou diversos palcos ao logos dos anos, o músico algarvio e os

seus convidados fizeram um verdadeiro tributo à música portuguesa, desde os anos 50 aos dias de hoje. O reportório cuidadosamente escolhido surpreendeu os presentes do princípio ao fim, que cantaram e aplaudiram fervorosamente o homenageado numa noite de recordações e muitas emoções.

E, 48 anos de carreira, é de facto uma grande conquista. Jorge Carrilho tocou com grandes nomes da música nacional e internacional, mas continua a ser um dos músicos mais dedicados, humildes e carismáticos do Algarve, sempre movido pela sua paixão à música .

Mercenários das ciências Mirian Tavares (Professora)

“Science is a wonderful thing if one does not have to earn one's living at it”. Einstein

m investigador espanhol, considerado o mais citado do mundo, publica um estudo a cada 37 horas. A notícia, requentada, saiu esta semana num jornal português. A notícia, ainda quente, foi publicada num jornal espanhol que dava conta da suspensão que o mesmo teria sofrido, por parte da sua universidade, porque andou a prevaricar – publicou imensos artigos com colegas de universidades da Rússia e da Arábia Saudita, o que provocou uma reação enciumada da sua universidade. Ciúmes nada românticos, meramente financeiros –pois na realidade dos rankings em que vivem atualmente as universidades, quanto mais citações os seus investigadores têm, mais as instituições sobem a escada da fama, ou dos rankings, ou melhor, mais aumenta a capacidade de se tornarem atraentes para futuros investigadores e para alunos que possam pagar bastante, porque ao fim e ao cabo, é disso que estamos a falar: de dinheiro. Se alguém quer, nos dias que correm, granjear uma vaga nas Instituições de Ensino Superior, traga dinheiro. Dinheiro que pode vir em forma de projetos, de bolsas, de patrocínios. Ou seja, como no mundo neoliberal extramuros, dinheiro gera dinheiro. Se a única coisa que você tem é um bom currículo, esqueça, as suas chances são muito parcas. O melhor é investir

noutra carreira. Parece exagerado, caricato ou desmedido, mas é a realidade que nos toca. Como é que alguém produz um novo estudo a cada 37 horas? Por melhor que seja o investigador e por melhores condições que ele tenha, em nenhuma área do conhecimento, o conhecimento se produz a tal velocidade. E se é publicado, em revistas indexadas, se faz com que o índice h do dito cujo seja muito elevado, ainda fica a pergunta: quem o lê? Para que servem, efetivamente, os seus trabalhos? Eu costumo dizer que os meus textos mais lidos são os que menos peso têm em meu currículo. Tenho uma quantidade razoável de publicações indexadas, mas tenho a certeza de que quase ninguém as lê. Porque há um universo tão exagerado de revistas da especialidade que ninguém consegue ler tudo, acompanhar tudo, ou ter tempo de se publicitar nas várias plataformas que existem só para isso – para dizermos ao mundo que somos bons e sermos citados porque somos bons e publicarmos porque publicamos. É a tal pescadinha de rabo na boca – quanto mais eu publico, mais sou citado e quanto mais sou citado, mais publico. Claro que há um controle de qualidade, a.k.a. peer review, mas parece que andamos aos círculos sem sair do lugar. Até porque a revisão cega nem sempre é tão cega quanto isso. E também é preciso, em parte significativa das revistas bem cotadas, pagar para publicar. Ou seja, alimentamos uma máquina de fazer dinheiro que se disfarça de máquina de

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difundir conhecimento. Quem sai a ganhar? Eu não saio a ganhar, posso vos garantir. E creio que muitos dos meus colegas também não. Porque o tempo necessário para pensar, amadurecer, escrever, rever e reescrever não existe mais. Como o Coelho de Alice, estamos sempre atrasados para chegar a lugar nenhum. Uma das mais importantes revistas na área da Comunicação só publica textos que correspondam a um formato específico, cheio de citações (de preferência de textos da própria revista) e com muitos dados e resultados de inquéritos. Deve ser por isso que há um chinfrim à volta da inteligência artificial e do ChatGPT – são textos que, facilmente, com os dados certos e uma boa

alimentação, podem ser produzidos aos milhares pelas máquinas. Algumas delas até pensam melhor que muitos de nós. Pois têm, pelo menos, a consciência da sua limitação – são máquinas. Nós estamos embrenhados num caminho sem volta. Um estudo a cada 37 horas parece-me a proeza de uma máquina bem programada. E lemos a notícia nos jornais, quente ou requentada, e continuamos a reclamar e a fazer o que se espera de nós: produzir. Não sei se querem que produzamos conhecimento. Desde que seja indexado e aumente o nosso índice h, mesmo que não haja tempo para ler, refletir e discutir, o que importa é continuar em frente. Estamos atrasados. E perdidos, como o Coelho de Alice .

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Foto: Vasco Célio

Casimiro de Brito: O Poeta do Amor Adília César (Escritora)

“Sou poeta, um vaso aberto a todas as águas”. Casimiro de Brito, in catálogo da Exposição Entre Mil Águas: Vida Literária de Casimiro de Brito, I FLIQ

oi no contexto de festa da cultura - I Festival Literário Internacional de Querença (agosto de 2016) – que conheci Casimiro de Brito, o autor homenageado. Vi um homem jovial, comunicativo, atento aos pormenores e profundo conhecedor dos diferentes cenários onde a Literatura se move – a escrita, a crítica, a divulgação, o reconhecimento por parte dos outros. Vi a sua pose de poeta do amor e da claridade. Ao mesmo tempo, tive a percepção de um homem simples, demarcado das vaidades que poluem os guetos literários e possuidor de uma apurada sensibilidade humana. E vi, sobretudo, a sua generosidade, ao dizer tanto com tão poucas palavras. Por exemplo, sobre si próprio: «Biografia: amo e escrevo».

Assim, é visível a intensidade das coisas belas, o amor, o erotismo, a mulher amada na escrita de Casimiro de Brito. Deixo-vos, como exemplo, dois fragmentos do seu livro «Flor Interior», editado pela Eufeme em 2017:

4

Olho para a mulher como se tivesse sido cego

a vida inteira 24 Não sei ler mas li as páginas do teu corpo de olhos fechados

Também Manuel Frias Martins o referencia como um dos «melhores executantes» de literatura erótica, numa entrevista de 16 de agosto de 2021 ao JN: no romance Uma Lágrima que Cega, por exemplo, o erótico emerge de uma abordagem estética (e quase mística) dos atos de amor e da paixão estimulada pelo corpo feminino, mas cujo arrebatamento simultaneamente erótico e estilístico se reconhece em imagens» (…) da sua escrita.

Casimiro de Brito é fascinante na sua interpretação filosófica. Apresento alguns aforismos seus, do conjunto Pontos Luminosos, publicados na revista Lógos-Biblioteca do Tempo N.º 8 (Maio de 2018):

«1. Do aforismo. Que seja o mais nu possível.

4. Mas cuidado com as palavras: elas ofuscam o silêncio onde se oculta a palavra que não é sequer música, apenas respiração.

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11. Não, não é possível prosseguir no ofício do poema, no precário equilíbrio entre opacidade e transparência (“é característica do enigma a de dizer coisas reais através de associações impossíveis”, Aristóteles, Poética, 22) quando a música me abandona, quando o pequeno animal

de som que vem do fundo e banha de ambiguidade as palavras cessam. Quando a música se afasta só o silêncio me salva, o silêncio placentário que envolve cada palavra como se ela fosse um bicho que vai nascer, florescer, ferir, esgotar-se e morrer.

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19. E o pensamento? Será o pensamento, como pretende Heidegger, “o poema original”? Poema e pensamento são traduções da essência poética, sub-versões da verdade do ser; engendram-se na perdição da voz, jamais na perdição da boca. O dizer original não é, pois, o primeiro verso do poema, o incipit que tu colhes quando menos esperas: não é a palavra, mas o desejo da palavra. Há quem lhe chame música ou paixão, mas para que essa música se transforme em número é preciso que o desejo seja de-cifrado e a paixão trabalhada com rigor. Só então o dictare original será desfeito pela lei do poema.

24. O poeta, esse, está ferido e vai cair –ferido pelos desastres da História e da sua história vai regressar, mas ainda não chegou a hora de mergulhar nas águas mais íntimas do mundo; esse que ouviu a sombra, e teve a visão do canto, e vai criar a obra da palavra… vai enfim cair – o poeta que nomeou a unidade perdida vaise apagar no poema que talvez dure mais do que um instante – e assim se romperá por momentos a separação, o fosso que separa o homem da esfera musical a que pertence – a música “secretissima, penetralia, cubilia” de que falava Santo Agostinho – essa esfera ou seio ou Unum Principale diante do qual o homem está sentado – o poeta que vai cair, apodrecer – expulso mais uma vez do paraíso para o seu longo e louco exílio»

Numa entrevista concedida por Casimiro de Brito à revista Lógos-

Biblioteca do Tempo Nº 3 (Setembro de 2018) é evidente a simplicidade, o despojamento em relação ao seu universo poético:

«Lógos – A maior verdade de um poeta é pôr o mundo a falar nos seus versos? É uma tragédia se não o entendem no seu tempo? Tem consciência da “utilidade” da sua poesia no mundo?

CB – Deixei escrito há dezenas de anos que o meu poema servirá, espero, a quem for tão pobre como eu. Pobre no sentido de despojado. E é curioso que, por vezes, ficamos mais ricos — e não será apenas o meu caso — com a aproximação do pouco. O mundo está cheio de “muito” e é preciso esvaziá-lo quanto possível.»

Casimiro de Brito é poeta, romancista, contista e ensaísta. Nasceu no Algarve (Loulé), a 14 de janeiro de 1938, onde estudou (depois em Londres) e viveu até 1968. Depois de uns anos na Alemanha passou a viver em Lisboa. Teve várias profissões, mas actualmente dedica-se exclusivamente à literatura. Começou a publicar em 1957 (Poemas da Solidão Imperfeita) e, desde então, publicou mais de 70 títulos. Dirigiu várias revistas literárias, entre elas «Cadernos do MeioDia» (com António Ramos Rosa), os Cadernos «Outubro/ Fevereiro/Novembro» (com Gastão Cruz) e «Loreto 13» (órgão da Associação Portuguesa de Escritores).

Actualmente é responsável pela colaboração portuguesa na revista

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internacional «Serta» e faz parte da direcção do Festival «Voix Vives» de Sète bem como da World Haiku Association, sediada em Tóquio. Esteve ligado ao movimento «Poesia 61», um dos mais importantes da poesia portuguesa do século XX. Ganhou vários prémios literários, entre eles vários prémios nacionais, o Prémio Internacional Versilia, de Viareggio, para a «Melhor obra completa de poesia», pela sua Ode & Ceia (1985), obra em que reuniu os seus primeiros dez livros de poesia. Colabora nas mais prestigiadas revistas de poesia e tem obras suas incluídas em 236 antologias, publicadas em vários países. Participou em inúmeros recitais, festivais de poesia, congressos de escritores, conferências, um pouco por todo o mundo.

Foi director de festivais internacionais de poesia de Lisboa (Casa Fernando Pessoa), Porto Santo (Madeira) e Faro. Foi fundador e vice-presidente da Associação Portuguesa de Escritores, presidente da Association Européenne pour la Promotion de la Poésie, de Lovaina e foi fundador e presidente da direcção depois da Assembleia Geral do P.E.N. Clube Português. Obras suas foram gravadas para a Library of the Congress, de Washington. Foi agraciado pela Academia Brasileira de Filologia, do Rio de Janeiro, com a medalha Oskar Nobiling por serviços distintos no campo da literatura — entre outras distinções. A Académie Mondiale de Poésie (da Fundação Martin Luther King) galardoouo em 2002 com o primeiro Prémio

Internacional de Poesia Leopold Sédar Senghor, pela sua carreira literária. Ganhou o Prémio Europeu de Poesia Sibila Aleramo-Mario Luzi, com a sua antologia Libro delle Cadute, publicada em Itália em 2004, o prémio «Poeteka» na Albânia e o Prémio Mundial de Haikus da World Haiku Association.

Tem traduzido poesia de várias línguas, sobretudo do japonês e foi traduzido para galego, espanhol, catalão, italiano, francês, corso, inglês, alemão, flamengo, holandês, sueco, polaco, esloveno, servocroata, grego, romeno, búlgaro, húngaro, russo, árabe, hebreu, chinês, albanês, macedónio e japonês. Em 2006, foi nomeado Embaixador Mundial da Paz, no âmbito da Embaixada Mundial da Paz, sediada em Genebra. Foi também agraciado com a Ordem do Infante D. Henrique pela Presidência da República (Portugal). Últimas obras editadas: Livro das Quedas, Arte de Bem Morrer, Amar a Vida Inteira, Amo Agora / Amo Sempre (com a cantora argentina Marina Cedro), Eros Mínimo, Aimer Toute la Vie (em Paris), Apoteose das Pequenas Coisas, Flor Interior, Música Nua, Uma Lágrima que Cega, Alfa & Ómega – Breve Dicionário Pessoal, Cerimónia Amorosa, Euforia, Livro de Eros ou As Teias do Desejo, Amor Nu (Livro de Eros, II), No Amor Tudo se Move e Regresso à Ilha.

É preciso revisitar Casimiro de Brito, o homem e o escritor. Depois de termos esvaziado o mundo do supérfluo, a sua obra permanecerá a ecoar no tempo .

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ivemos numa era digital repleta de novos desafios e de uma transformação da sociedade em todos os níveis, sobretudo no mercado de trabalho.

Nos próximos anos, as profissões serão muito diferentes do que são atualmente, e as competências exigidas aos trabalhadores mudarão radicalmente. De acordo com alguns estudos, mais de metade das profissões mais procuradas daqui a 10 anos ainda não existem atualmente.

Reuni as principais profissões que, na minha opinião, vão ter um grande potencial de sucesso:

Especialista em Inteligência Artificial

A inteligência artificial é um conceito relacionado à capacidade dada aos algoritmos de pensar como seres humanos e aprender com experiências, com o objetivo principal de simular as capacidades humanas, como execução de tarefas, tomada de decisões, compreensão e resolução rápida de problemas.

Sendo um conceito cada vez mais presente nas nossas vidas, os profissionais nesta área são muito procurados, sejam para desenvolver modelos de algoritmos complexos ou fornecer aplicações numa indústria específica.

Especialista em segurança cibernética

A proteção e privacidade dos dados pessoais e empresariais é cada vez mais essencial atualmente, principalmente devido à quantidade de informações que disponibilizamos online. Os profissionais especializados nessa área são cada vez mais importantes para garantir a segurança das informações mais sensíveis das empresas, tornando-se uma das profissões mais valorizadas atualmente.

Especialista em Blockchain

A blockchain é uma tecnologia que busca a descentralização como medida de segurança. Embora possa parecer muito complexa, o seu conceito é simples: trata-se de uma base de dados compartilhada que cria um índice global para todas as operações que ocorrem em determinado mercado. Além das criptomoedas, a tecnologia blockchain começa a estar presente nas empresas,

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Quais são as profissões com maior potencial de crescimento do futuro?
Fábio Jesuíno (Empresário)

permitindo uma maior transparência nos processos.

Devido ao crescente interesse das organizações pela tecnologia blockchain, os profissionais desta área são cada vez mais procurados.

Artista digital

A arte digital é um conceito que abrange todas as manifestações artísticas executadas com o auxílio de meios electrónicos, sejam eles tradicionais ou virtuais. Com a evolução tecnológica, surgiram cada vez mais formas de manifestações artísticas nessa área, gerando um crescente interesse. Os artistas digitais são uma profissão com uma grande abrangência e procura por parte dos mais diversos públicos.

Assistentes virtuais

A proliferação dos meios digitais alterou permanentemente a forma como nos comunicamos na sociedade, resultando numa transformação dos comportamentos de compra e consumo e

possibilitando o surgimento de diversas profissões. Entre elas, destacam-se os assistentes virtuais, que podem executar remotamente diversas tarefas, como gestão administrativa, resposta a e-mails e gestão de redes sociais.

Criador de conteúdo online

Os profissionais responsáveis pela criação e edição de artigos, vídeos e imagens para websites ou plataformas online, muitos dos quais também são influenciadores digitais nas redes sociais, constituem uma profissão em pleno crescimento atualmente.

Operador de drones

A indústria de drones tem um grande potencial de crescimento no futuro, já que a utilização destes equipamentos se torna cada vez mais popular. Além da área de fotografia e vídeo, os drones também são utilizados em setores como a agricultura, inspeção de infraestruturas e entregas de encomendas, tornando-se uma ferramenta versátil e indispensável para diversas áreas.

Especialista em impressão 3D

A tecnologia de impressão 3D tem um potencial enorme e pode ser aplicada em diversos setores de atividade, o que faz com que a procura por profissionais qualificados nesta área seja cada vez mais elevada.

Estas são algumas das profissões com maior potencial nos próximos anos e que vão criar uma grande dinâmica económica .

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O IVA de caixa e a Habitação Carlos Manso (Economista

e Membro da Direção

Nacional da Ordem dos Economistas )

ste artigo não é sobre o IVA de caixa. No período após a famosa intervenção externa a Portugal (i.e., o da famosa TROIKA), as empresas deparavam-se com dificuldades de tesouraria resultantes da redução das vendas e da restrição ao financiamento bancário a que muitas se tinham habituado nos períodos anteriores. Não é de todo uma critica, mas antes a constatação de um facto conhecido de todos.

Esta discussão durou entre 2011 e 2013, com argumentos de ambos os lados da barricada política. Os que a defendiam diziam que era uma medida necessária para salvar e ajudar a gestão de tesouraria das empresas familiares e de pequena dimensão e que era uma medida reclamada pelas confederações patronais há imenso tempo e que tinha um potencial de favorecer 85 por cento do tecido empresarial português.

A 30 de maio de 2013 foi aprovada a legislação que regula e enquadra o âmbito das empresas que podem optar por este regime, tendo a mesma entrado em vigor a 1 de outubro do mesmo ano. Quantas empresas aderiram e qual o impacto deste novo (agora já velho) regime na tesouraria das empresas?

Ninguém sabe, porque, apesar de solicitado por diversas vezes, a Administração Tributária e os diversos Governos não têm tido interesse em analisar os efeitos da medida. Sabe porquê? Porque foi um fracasso e não deu resposta a nenhum dos problemas para os quais foi criada. Passou a ser apenas mais uma lei, num universo da imensa legislação existente no País.

Mas, como vos disse no início, este artigo não é sobre o IVA de caixa. É sobre a habitação e a nova legislação «MAIS Habitação». Num País onde a construção de casas travou a fundo na última década, onde o Estado Português apresenta uma oferta de habitação pública muito inferior à média europeia e onde existem mais de 700 mil casas vazias (mas muitas numa localização onde não são solução – uma casa devoluta no Azinhal não é solução para uma família de Lisboa), sinto que estamos perante uma Lei tipo Regime de IVA de caixa.

De facto, os Municípios demoram mais de um ano a aprovar projetos de construção de novas casas e os mesmos Municípios andam, muitos deles há 20 anos, para ajustar e aprovar os novos Planos Diretores Municipais, que são instrumentos fundamentais para o desenvolvimento do território e cuja Lei obriga que sejam revistos de 10 em 10

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anos. Já agora, no Algarve, a vigência média de um Plano Diretor Municipal é de 28 anos...

Recordo: este artigo não é sobre o Regime de IVA de caixa, mas é sobre uma Lei que vai ter o mesmo resultado. Pensem nisto .

Nota: Este artigo de opinião apenas reflete a opinião pessoal e técnica do Autor e não a opinião ou posição das entidades com quem colabora ou trabalha.

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Morte e outras perdas

Lina Messias (Especialista em Feng Shui))

a nossa cultura, ninguém fala da morte, na inevitável morte! Não acredito que seja possível preparar alguém para a morte dos seus ente-queridos e também para a sua, mas acredito que é importante falar dela, é importante que se falem das angústias e dos medos, é importante que esta finitude (do corpo físico) comum a todos nós, deixe de ser assunto tabu para que as marcas que ela deixa sejam abordadas sem vergonha ou como um sinal de fraqueza.

Diz um grande amigo que já sou «mestrada» em perdas. Pensando bem, quem não o é quando chegamos à dita «meia idade»? A nossa história ganha dias, dias felizes e outros nem tanto, dias em que ganhamos e outros em que (também nos) perdemos. As perdas fazem parte da história de todos, e muitas vezes são elas que nos levam para onde temos que estar. Toda a perda deixa uma ferida; ferida aberta que vai cicatrizando com o chamado luto, esse processo doloroso que envolve dor e muita paciência. Os lutos que vamos fazendo são as cicatrizes que ficam no coração. As minhas, muitas, cicatrizes nunca vão ser motivo de orgulho, mas o caminho de superação para ter chegado a elas, SIM!

Toda a «ferida aberta» precisa de cura, precisa de tempo (e vontade) para se curar. É importante perceber que, quando nos apegamos à dor, habituamo-nos a ela, como se fizesse parte de nós. Sentir a dor é fundamental, mas saber largá-la, também. Todo o processo de luto deve ter um princípio e também um fim, e as feridas vão fechando e tornam-se em cicatrizes que nos dão o «calo» da experiência e também da sabedoria que vem com ela…

Já vivi e convivi com a perda de quatro pessoas muito importantes na minha vida: a minha avó Mariana que me criou, uma amiga irmã de coração, o meu companheiro de Vida e muito recentemente a morte da minha mãe. Todas elas foram mortes anunciadas por doenças que corroeram por dentro e por fora as «minhas pessoas», doenças que também levaram partes de mim enquanto assistia à degradação lenta e demorada de quem amava! Depois das perdas nunca mais somos os mesmos, mas quero acreditar que podemos ser melhores, a reconstrução de quem somos é sempre uma nova oportunidade de aperfeiçoamento e evolução. Hoje sei que sou quem sou, muito mais corajosa e determinada, graças à minha história.

E a minha história (como muitas outras) é também feita de outras perdas que não se referem à morte física de alguém,

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quantas vezes temos que fazer lutos dolorosos de quem ainda continua vivo, amores que não foram possíveis, grandes amizades que não foram para sempre, e até luto de versões de nós próprios que já não fazem sentido?

Numa cultura onde não somos educados para perder, só para ganhar, é difícil assumir e aceitar as fragilidades que advém dos processos de perda. Fingir que está tudo bem é a tendência que quase todos temos, parece até sinal de fraqueza o contrário, e então «varremos» as nossas dores para debaixo do tapete; o problema é que um dia as «limpezas» têm que ser feitas e de repente não sabemos o que fazer a tanto «lixo».

Procurar «receitas» para lidar com a perda é o mesmo que procurar «receitas»

para o Amor: NÃO HÁ! Somos todos diferentes e muito provavelmente vamos enfrentar o luto de formas diferentes. A única certeza que tenho é que os lutos têm que ser feitos, as feridas precisam ser cicatrizadas para que capítulos da nossa história sejam encerrados. E, se não o conseguirmos sozinhos, então é importante pedir ajuda; por nós e por quem se cruza connosco… quantas vezes por estarmos feridos, ferimos os outros?

Para mim, os lutos têm sido feitos de muita aceitação, de dias em que todas as lágrimas do mundo não chegam para chorar o que não foi vivido, e de dias que as gargalhadas soam muito mais alto que a dor, e é assim que a VIDA continua… .

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