REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #374

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11 de fevereiro, 2023 #374 II FESTIVAL DAS AMENDOEIRAS EM FLOR NA ALTA MORA | ALA DOS NAMORADOS | LUÍSA SOBRAL EXPRESSO TRANSATLÂNTICO | 32.ª MOSTRA DE ARTES PLÁSTICAS DO CONCELHO DE LOULÉ
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ÍNDICE

Cidade de Loulé eufórica à espera do Carnaval (pág. 26)

II Festival das Amendoeiras em Flor na Alta Mora (pág. 34)

«Reabriu a Pensão Luar do Cadoiço» no Cineteatro Louletano (pág. 50)

Luísa Sobral no Auditório Carlos do Carmo em Lagoa (pág. 68)

Ala dos Namorados no Cineteatro Louletano (pág. 82)

Expresso Transatlântico no Teatro Municipal de Portimão (pág. 94)

32.ª Mostra de Artes Plásticas do Concelho de Loulé (pág. 106)

OPINIÃO

Ana Isabel Soares (pág. 120)

Fábio Jesuíno (pág. 122)

Nuno Campos Inácio (pág. 124)

Dora Gago (pág. 126)

Cidade de Loulé eufórica à espera do Carnaval

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina agitação é, por estes dias, imensa na Oficina do Carnaval de Loulé, com o cheiro a tinta, o pó no ar do esferovite trabalhado pelas mãos dos artistas e o colorido do papel para a confeção das flores a evidenciar que os preparativos para mais um Carnaval de Loulé estão ao rubro. Está, assim, marcado o regresso do desfile à Avenida José da Costa Mealha, nos dias 19, 20 e 21 de fevereiro, num Carnaval que promete ser especial, já que durante dois anos seguidos os foliões não

tiveram oportunidade de sair à rua para celebrar, travados pela pandemia e consequente confinamento. “Este ano há um grande entusiasmo, uma ansiedade por voltar a ter a alegria, música, cor, os turistas, a luz daquela avenida com os carros alegóricos”, frisou o presidente da Câmara de Loulé, Vítor Aleixo, durante a apresentação à comunicação que teve lugar no dia 8 de fevereiro.

Uma expetativa que se estende a toda a comunidade, “desde os pequeninos aos avós”, garante o edil, até porque o

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programa arranca logo na manhã de sexta-feira, dia 17, com o desfile das crianças das escolas que marcam presença no Carnaval Infantil em Loulé, Quarteira, Almancil ou Boliqueime. Também o tema escolhido para esta edição está a gerar bastante curiosidade e “diz muito aos louletanos”, assume Vítor Aleixo. «Ó Zé… Já viste o Algarvensis?» vai ser uma paródia à candidatura a Geoparque que em breve os Municípios de Loulé, Albufeira e Silves irão apresentar junto da UNESCO, e ao achado paleontológico que a inspirou, uma salamandra gigante com 227 milhões de euros. “No Carnaval os louletanos brincam com tudo, até com uma descoberta única no mundo como esta, o Metoposaurus Algarvensis”, apontou o autarca, sorridente.

O desfile no «sambódromo louletano» vai contar 14 carros alegóricos, 10 grupos de animação, três escolas de samba, cabeçudos, gigantones, num total de perto de 600 animadores. Para colorir o cortejo, foram adquiridas toneladas de confetis e está a ser confecionado cerca de um milhão de flores de papel que serão coladas aos carros. Perto de meia centena de bonecos de figuras bem conhecidas estão também a ser criados na Oficina por Paulo Madeira «Palhó» e a sua equipa que, com criatividade e perícia, conseguem dar vida às caricaturas de António Guterres, Vladimir Putin, Volodymyr Zelensky, Marcelo Rebelo de Sousa, Greta Thunberg, António Costa e muitos outros «convidados». Um Carnaval onde só há um rei, Carlos III, o sucessor de Isabel II na Coroa britânica, também ele

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contemplado nesta sátira à moda louletana.

Vítor Aleixo recordou ainda os tempos antigos em que, em vez desta Oficina e dos funcionários municipais, era a população quem confecionava os carros. “Cada bairro da cidade, cada freguesia do concelho, cheia de orgulho, competia para saber quem é que trazia ao desfile o carro mais bonito. Eram as pessoas que cerravam, pregavam, colavam as flores…”, lembrou o edil esta tradição que se perdeu, mas as outras estão bem vivas e o Carnaval de Loulé “continua de boa saúde e cada vez a atrair mais pessoas”. E este ano pode mesmo haver um acréscimo no número de visitantes – que por norma ronda entre os 60 e os 80 mil – já que o interregno de dois anos deixou saudades.

O impacto na economia prevê-se que,

mais uma vez, seja substancial, nesta que ainda é a época baixa do turismo algarvio. “São muitos milhares de turistas que acorrem ao Carnaval de Loulé, conhecido internacionalmente. A restauração, as camas hoteleiras, os alugueres de transportes vão estar numa grande azáfama a laborar o que vai ter com certeza um impacto bastante positivo na nossa economia local, como é habitual”. Quanto ao bilhete de entrada no corso, tem um valor simbólico de 2 euros e as receitas revertem, em 50 por cento, para as 10 associações que vão desfilar, sendo os restantes 50 por cento atribuídos a IPSS do concelho. No que toca ao investimento municipal, este ano, para o Carnaval de Loulé, é de “mais de 400 mil euros e está inscrito no Orçamento Municipal para 2023”, revelou Vítor Aleixo .

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Festival das Amendoeiras em Flor voltou a colocar Alta Mora no mapa

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e Município de Castro Marim e 3 a 5 de fevereiro, a localidade de Alta Mora, no concelho de Castro Marim, voltou a celebrar as tradições do interior, com os tons branco e rosa das afamadas amendoeiras em flor a pintarem o barrocal e a serra algarvia. A segunda edição do Festival das Amendoeiras em Flor ofereceu um programa mais diversificado e um recinto maior, com muita animação de rua, a exposição «Passeio Fotográfico da Esperança – Incêndio 2021» da Associação ¼ Escuro e vários workshops

temáticos de Pão, Cestaria e Plantação de Amendoeiras. O prato forte foram os três passeios pedestres de pequena rota (entre 5 e 11 quilómetros) que ocorreram em todos os dias do evento, a que se somou, no dia 5 de fevereiro, o passeio «a Grande Rota das Amendoeiras em Flor», um percurso para os mais audazes a disputar 25 quilómetros de trilho.

Na música, houve um tributo ao acordeão com António Manuel & Ernesto Batista e Silvino Campos, escutou-se a música popular com «Raiz Lusa» e assistiu-se ao Grupo Etnográfico «Amendoeiras em Flor» e ao «Rancho

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Folclórico do Azinhal». Diretamente de Inglaterra vieram os sons e danças da Cornualha com «Davey&Dyer» e houve ainda a viola campaniça com «O Gajo» e o fado beirão com os inovadores «Bicho Carpinteiro». Nas artes performativas, o programa incluiu a exaltação do folclore português com Sofia Pimentão, o «Bando dos Quatro», a recriação da famosa «lenda das amendoeiras em flor» pela Associação Satori e o espetáculo «Vamos Salvar o Dragão» do CCD de Castro Marim. Não faltou também a dança infantil, com as «Arutla» do Clube Recreativo Alturense a representarem o território.

Quem também deu nas vistas foi a torta de amêndoa gigante com 41 metros, com a presença do Chefe Márcio Baltazar e a colaboração da Escola de Hotelaria e Turismo de Vila Real de Santo António.

Ao longo dos três dias esteve em destaque um mercado de rua mais amplo, com tasquinhas e a «aldeia do artesão», com mais de 30 artesãos a recriarem os ofícios do mundo rural, assim como um espaço dedicado à agricultura e floresta e constante animação direcionada para os mais pequenos, com pinturas faciais, jogos tradicionais, animais da quinta e estátuas vivas.

O Festival é uma organização da Associação Recreativa, Cultural e Desportiva dos Amigos da Alta Mora (ARCDAA) com a parceria e apoio do Município de Castro Marim e da Junta de Freguesia de Odeleite, e surgiu na sequência do sucesso dos passeios pedestres «Amendoeiras em Flor» realizados desde 2005, culminando, em 2020, com a primeira edição com o apoio

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do Programa 365 Algarve. “Começamos por brincadeira, éramos 36 na primeira caminhada, e em 2019 tivemos mil pessoas a caminhar na Alta Mora. Fizemos a primeira edição do festival, que teve que ser interrompido por causa da pandemia, mas estamos de volta e com melhorias. Temos mais artistas, mais produtores e mais artesanato a vender e o exlibris, claro, é a amendoeira em flor”, começou por dizer Válter Matias, presidente da direção da ARCDAA.

Amendoeiras de Alta Mora que, de acordo com o dirigente, têm largas dezenas de anos de histórias para contar, algumas até com mais de um século de vida, e que produzem uma amêndoa de

qualidade superior e bastante apreciada no estrangeiro. “Em janeiro e fevereiro já se tornou também um hábito recebermos muitas pessoas para desfrutar dos vários percursos que estão sinalizados. Falta criar algumas infraestruturas, mais alojamento e restauração, um parque de campismo ou de autocaravanismo”, entende Válter Matias, lembrando ainda que foi fundada, há sensivelmente ano e meio, a Cooperativa GuadiMonte, dedicada precisamente à investigação e exploração de todo o potencial da amêndoa da Alta Mora. “Neste momento sou o único a plantar amendoeiras, a moda agora é a alfarrobeira, mas estou a recuperar e a apostar nas variedades tradicionais, que fazem

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parte do nosso património e identidade e nos tornam diferentes dos outros”, frisou.

A par da Câmara Municipal de Castro Marim, da Junta de Freguesia de Odeleite e das várias entidades e empresas que apoiaram a realização do festival, Válter Matias deixou uma palavra especial de agradecimento ao “principal motor deste evento, as pessoas desta terra” “São os idosos com mais de 80 anos de idade que, apesar dos problemas de saúde, trabalharam todos os dias ao longo de dois meses para tornar isto realidade. A comunidade está toda envolvida, amigos, familiares, colaboradores que vieram de fora, mais de 100 pessoas, e só assim é que foi

possível montar este festival. Alta Mora se calhar nem tem 50 habitantes, mas todos eles adoram a natureza, são persistentes, e vamos continuar a trabalhar para o sucesso deste evento”, garantiu.

A iniciativa foi abraçada desde o primeiro momento pela Junta de Freguesia de Odeleite, com a presidente Rosário Sousa a elogiar a Associação

Recreativa, Cultural e Desportiva dos Amigos da Alta Mora pela sua grande capacidade de organização, assim como as gentes e amigos da Alta Mora, a Autarquia de Castro Marim e todas as entidades envolvidas no evento. “Olho para esta terra com muito orgulho e satisfação. Orgulho pela

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grandiosidade, satisfação pela concretização deste festival”, declarou, antes de passar a palavra a Francisco Amaral, presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, que descreveu este evento como “uma mostra de tudo o que há de mais genuíno na serra algarvia” “Neste mundo cada vez mais sofisticado, esta etnografia, cultura, artesanato, esta tradicional vida no campo, tem cada vez mais valor. Valor esse que é apreciado por quem nos visita, nomeadamente por aqueles que vivem nas cidades ou no estrangeiro, constituindo um complemento ideal para a oferta turística de «sol e praia» que se

pratica no litoral. Este festival também é uma prova de que a vida na serra algarvia tem futuro, apesar da histórica desertificação e despovoamento que se assiste desde a década de 60”, acredita o autarca.

Um futuro que será mais risonho se forem criadas condições para os mais jovens se fixarem no interior, como água domiciliária potável, rede de telemóvel e internet, boas vias de comunicação e maiores facilidades em se construir casa nos montes. “Muitas vezes, irracionalmente, as leis dificultam estas construções, quando deviam fazer exatamente o contrário se queremos realmente combater o hiperpovoamento das grandes

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cidades e o despovoamento da serra e do interior”, afirmou Francisco Amaral. “É importante desenvolver o Algarve de um modo mais harmonioso e equilibrado”, acrescentou.

A abertura oficial do II Festival das Amendoeiras em Flor prosseguiu com a intervenção de José Apolinário, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, que partilha da mesma vontade em dinamizar o interior algarvio. “Os ajustamentos e revisões do PROTAL são absolutamente necessários e, em termos de fundos europeus, estamos focados para que no Portugal 2030 hajam verbas para melhorar o acesso à

conetividade digital, sem a qual não colocamos pessoas no interior nem garantimos coesão territorial. E, por muitos investimentos que se façam no litoral e por muita gestão que se faça nas perdas de água, estamos confrontados com um seríssimo desafio de alterações climáticas”, alertou José Apolinário. “É imperativo criar-se um «cordão verde» neste território, de uma ponta à outra do Algarve, e em conjunto com o Baixo Alentejo. Precisamos de maior retenção de água e de reforçar a biodiversidade no barrocal e no interior do Algarve”, finalizou, antes dos presentes partirem à descoberta das maravilhas do Festival das Amendoeiras em Flor da Alta Mora .

PENSÃO LUAR DO

CADOIÇO REABRIU… E O PÚBLICO FOI AO DELÍRIO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

pós alguns anos encerrada, a Pensão Luar do Cadoiço voltou a abrir ao público e com muitas surpresas. A Irmã Angélica continua à espera que a venham buscar de um planeta distante e preparase para apanhar a nave espacial que vai aterrar no Alqueva. Entre os hóspedes existe um arqueólogo que diz ter descoberto que a pensão assenta sobre uma antiga ruína de origem visigótica. Uma nova personagem surge, do nada, a pedir emprego na pensão e, pelo meio deste enredo, surge em cena uma exPrimeira Dama dos Estados Unidos da América que, ao invés de ir para um palacete ou hotel de cinco ou seis

estrelas, optou por descansar num estabelecimento mais humilde.

«Reabriu a Pensão Luar do Cadoiço» foi a cena, no dia 4 de fevereiro, no Cineteatro Louletano, tendo sido escrita por António Clareza e encenada por Ana Sousa, numa produção do TAL – Teatro Análise de Loulé / Casa da Cultura interpretada por António Clareza, António Pinto, Carina Amélio, Eládio Floro, Fátima Guerreiro, Jérôme Bentein, Nathalie Florence, Regina Silva, Sérgio Sousa e Verónica Chapuça. Os figurinos são de Maria João Catarino, Maria José

Oliveira, Dina Oliveira e Madalena Catarina, nesta peça inserida no Festival Cenários 2022 e subsidiada pela Bolsa de Apoio ao Teatro da Câmara Municipal de Loulé .

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LUÍSA SOBRAL LEVOU «DANSANDO» A LAGOA

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Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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m estreia no Algarve, Luísa Sobral apresentou no Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, no dia 4 de fevereiro, o seu novo espetáculo «DanSando», naquele que foi o segundo concerto da digressão que arrancou, no dia 28 de janeiro, em Sesimbra.

Luísa Sobral deu a conhecer o seu sexto álbum de originais, produzido pelo vencedor de um Grammy Latino, Tó Brandileone, e gravado entre Lisboa e São Paulo. Explorando com leveza os terrenos da pop, e sem nunca perder os tons jazzísticos, o disco é constituído por 11 temas originais, guiados pela necessidade de cantar o amor. A nova aventura discográfica de Luísa é um trabalho íntimo e pessoal, mas também

socialmente consciente e implicado, reunindo canções que se assumem mais luminosas e nas quais o amor é a matériaprima. Um álbum que a autora admite “que já queria fazer há muito tempo: uma ode à vida”. «Gosto de Ti», o primeiro single, tem-se revelado um verdadeiro hit, tendo rapidamente ultrapassado as 150 mil visualizações no Youtube.

Considerada uma das cantoras e compositoras mais importantes da nova geração de músicos portugueses, Luísa Sobral estreou-se em 2011 com «The Cherry on My Cake»; ao qual se seguiu «There’s A Flower In My Bedroom» (2013), com convidados como Jamie Cullum, António Zambujo e Mário Laginha, «Lu-Pu-I-Pi-Sa-Pa» (2014) e «Luísa» (2016), produzido por Joe Henry (Madonna, Elvis Costello). «Rosa», produzido por Raul Refree (Silvia Pères

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Cruz, Rosalía, Rocío Márquez) chega em 2018. A sua faceta de compositora temse destacado também, chegando a compor para artistas como Ana Moura, António Zambujo, Sara Correia, Mayra Andrade, entre outros.

Em 2017 assina «Amar Pelos Dois», tema interpretado pelo irmão Salvador Sobral e vencedor do Festival Eurovisão da Canção. Volta a expandir os seus horizontes criativos em 2020, quando

lança um single com a cantora espanhola Zahara e estreia «O Avesso da Canção», podcast sobre a arte da escrita de canções. No ano seguinte, revela «Camomila» (2021), mini-álbum de canções de embalar.

No concerto de Lagoa, Luísa Sobral foi acompanhada em palco por Manuel Rocha na guitarra, António Quintino no baixo e contrabaixo e Carlos Miguel Antunes na bateria .

CINETEATRO LOULETANO ASSISTIU AO REGRESSO AOS PALCOS DA ALA DOS NAMORADOS

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Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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pós algumas interrupções de atividade e mudança na formação, a Ala dos Namorados es tá de regresso com João Gil e Nuno Guerreiro ao leme, na guitarra e na voz, juntamente com Rúben Alves no piano, Alexandre Frazão na bateria, Nelson Cascais no contrabaixo e Luís Cunha no trompete. A banda histórica da música portuguesa completou 30 anos de fundação em 2022 e foi a atração especial do Dia da Cidade de Loulé, com um grandioso concerto, no dia 1 de fevereiro, no Cineteatro Louletano.

O nome Ala dos Namorados advém do

batalhão português na Batalha de Aljubarrota, que assim era conhecido por ser composto maioritariamente por combatentes ainda jovens. A banda, já não tão jovem assim, tem na prateleira um disco de platina, «Solta-se o Beijo», e um disco de ouro, «Cristal». Ao todo, conta com oito álbuns de estúdio, dois álbuns ao vivo e uma compilação de grandes êxitos, da qual constam temas como «Solta-se o Beijo», «Fim do Mundo» e «Há Dias em Que Mais Vale…».

Agora, a Ala dos Namorados vai para lá dos grandes êxitos e apresenta um novo álbum, desta feita com poemas de escritores e letristas eminentes da língua portuguesa como Mia Couto, José Eduardo Agualusa, Fernando Pessoa, Maria do Rosário Pedreira e João Gil .

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«EXPRESSO TRANSATLÂNTICO»

ENCHEU TEATRO MUNICIPAL DE PORTIMÃO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Ricardo Coelho

Grande Auditório do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão encheu quase por completo, no dia 4 de fevereiro, para assistir ao espetáculo dos lisboetas «Expresso Atlântica», banda que desde 2021 representa um dos mais interessantes projetos do atual panorama musical português. Gaspar Varela na guitarra portuguesa, Sebastião Varela na guitarra elétrica e Rafael Matos na bateria lançaram há pouco mais de dois anos o EP de estreia da banda, justamente intitulado «Expresso Atlântico», tendo recebido referências

positivas da crítica, constando desse trabalho discográfico temas como «Primeira Rodada», «Azul Celeste» (em homenagem à fadista Celeste Rodrigues, irmã de Amália e bisavó de Gaspar e Sebastião), «Alfama, Texas» e «Quando Neptuno deu à Costa», lançado numa edição especial que inclui a leitura de um poema inédito da autoria de Sebastião Varela.

Foi entre Lisboa e os Estados Unidos da América que começaram a nascer as primeiras ideias do grupo, num momento em que Gaspar Varela estava em tour com Madonna, enquanto os seus dois companheiros lhe enviavam as primeiras «malhas» nessa viagem transatlântica.

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Com uma sonoridade influenciada por ritmos das músicas populares portuguesa, brasileira e africana, o trabalho de estreia destes jovens músicos revela, ao longo de seis canções, a trilha sonora de uma Lisboa com vista para o mundo. A internacionalização do trio começou na Opening Ceremony da WOMEX – Worldwide Music Expo de 2022, estando previsto para este ano o lançamento do álbum de estreia do «Expresso Transatlântico», cujo primeiro avanço se chama «Barquinha» e conta com a participação especial de Conan Osíris, que também assinou a letra .

32.ª Mostra de Artes Plásticas do Concelho de Loulé junta artistas no Convento de Santo António

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina té 18 de fevereiro, Loulé recebe mais um importante momento da vida cultural da cidade, a «Mostra de Artes Plásticas do Concelho de Loulé», que acontece no Convento de Santo António. Esta mostra coletiva de artes, organizada pela Casa da Cultura de Loulé, com o apoio da Autarquia, para além de constituir um espaço de partilha e experimentação,

onde não existem restrições quanto aos materiais ou técnicas utilizadas, pretende juntar artistas de várias gerações, independentemente dos seus percursos artísticos ou formativos, estimular a criação artística e promover o seu contacto direto, sejam eles amadores ou profissionais.

A exposição pode ser visitada de terçafeira a sábado, das 10h às 13h30 e das 14h30 às 18h .

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Septuagésima segunda tabuinha - O chá Ana Isabel Soares (Professora)

oma tranquilamente o teu chá”, dizem-me em manhãs de desassossego, de ânsias causadas pelas insanas corridas do quotidiano. “Toma tranquilamente o teu chá”. Quem mo diz não sabe, mas faz poesia. É uma frase que leio: o ouvido pressente-a porque conheço a voz, e no meu pensamento modulo-a. (Tão pouco se sabe sobre como acontecem estas transfigurações, entre os blocos de massa que nos ocupa o crânio, mas tanto se inventa de assombrosa e artificial inteligência). Cinco palavras em sequência, um compasso de sons que se harmonizam (marcando à hora matinal o cordial tumtum-por-tim-tim que ajuda a despertar), e está feito o verso. Seria vazio, se fosse só de sons. Os ecos deste tuntear acordam no ouvido o som da água que escorre para o bule, visões do fumo em anéis a desfazer-se (“take me disappearin’ through the smoke rings of my mind”, pede o cantor ao homem da pandeireta), a antecipação do calor, do paladar.

O chá não traz nenhuma certeza. Saem as folhas (ressequidas, enrugadas, mortas pelo tempo, por tantas mãos), de frascos, de latinhas, de saquetas que comprei ou me entregaram noutros amigáveis gestos – como se entregam palavras em verso –dispostas a ser banhadas na água

aquecida. As mais das vezes, transfiro-as aprisionadas num envelope de meia opacidade, um ser entre papel e pano; em vezes raras, de tempo mais alargado, deixo que voguem diretamente na água e observo enquanto passeiam, flutuam, mergulham e emergem, divertidas (divertindo-se?). Pergunto-me se lhes dói a temperatura (preparo o bule, escaldo-o, para que não se assustem): convenço-me de que o abrir-se cada uma seja como o espreguiçar de um corpo, um destrinçar de laços que aconchegam tanto quanto oprimem. Só o certo é não saber, é interrogar; mas falta-me o tempo para permitir-me a hesitação. Falta-me o tempo que tenho de lhes dar para se molharem, para passarem para a água os perfumes, os sabores que amarraram em si sei lá eu também durante quantos dias, quantas estações. É uma troca de que me sinto a única beneficiária: o calor e o húmido da água sugam, a secura e o antigo das folhas desprende – e sou eu quem sorve tanto o sabor como o conforto daquela quentura. Tomo tranquilamente o meu chá, tranquilamente. Assisto ao ressuscitar das folhas no momento em que de novo se entregam a uma morte. Participo nessa entrega das folhas verde-escuras ao decesso, a um ponto preciso na existência delas. Assistir, participar e integrar em mim essa existência tranquiliza-me. Dum modo muito semelhante ao que me tranquiliza ler um verso .

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Foto: Vasco Célio

sociedade atual vive um período globalizado e acelerado, o que faz com que novas habilidades dentro das áreas da tecnologia sejam cada vez mais procuradas.

Existem inúmeras profissões com grande crescimento, onde os rendimentos são altos e com grande impacto na sociedade.

Profissional em blockchain

A metodologia blockchain é uma tecnologia que visa a descentralização como medida de segurança. São bases de dados partilhadas com a função de criar um índice global para todas as operações que ocorrem num determinado mercado. A Blockchain destaca-se como uma das tecnologias com maior potencial de disrupção e começa a estar presente nas empresas, por esse motivo, existe uma grande procura de profissionais especializados nesta área.

Artista digital

Resumidamente, a arte digital é um conceito que engloba todas as manifestações artísticas executadas com a ajuda de meios electrónicos, sejam eles

tradicionais ou virtuais. Com a evolução tecnológica, surgiram cada vez mais formas de manifestações artísticas nesta área e um maior interesse. Os artistas digitais são uma profissão com uma grande abrangência e procura por parte dos mais diversos públicos.

Assistentes virtuais

A proliferação dos meios digitais veio mudar a forma como comunicamos em sociedade para sempre, resultando numa transformação de comportamentos de compra e consumo, permitindo o surgimento de uma série de profissões, como os assistentes virtuais, que podem desempenhar uma série de tarefas remotamente, como gestão administrativa, resposta a e-mails e gestão as redes sociais.

Todas as ideias presentes aqui, na minha opinião, vão fazer a diferença nos próximos anos e impulsionar o mercado de trabalho .

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As melhores profissões do futuro Fábio Jesuíno (Empresário)
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Nuno Campos Inácio (Editor e escritor)

Édo conhecimento colectivo que a região algarvia é das mais vulneráveis à ocorrência de grandes sismos. Em parte, essa consciência resulta da memória da destruição provocada pelo grande sismo de 1755, a última grande catástrofe sísmica que afectou a região, mas não a primeira, ou a única.

A historiografia regista a ocorrência de vários grandes sismos, quase todos acompanhados por grandes maremotos, dado que a principal falha sísmica se encontra no mar. Recordamos alguns:

Em 63 a.C. um terramoto gigantesco varreu as costas de Portugal e da Galiza, arruinando muitos edifícios e lugares inteiros. O mar excedeu os seus limites e cobriu muitas terras, descobrindo também outras o retiro das suas águas. A população retirou-se a habitar nos campos e montanhas. Este registo poderá justificar o desaparecimento de muitas localidades referidas por antigos geógrafos, cuja localização é indeterminada, nomeadamente na região algarvia.

No ano 309, na madrugada de 22 de Fevereiro, um espantoso terramoto foi sentido em Portugal e por toda a Europa. Apesar de não serem conhecidos os estragos provocados, só o facto deste

sismo ter sido sentido por toda a Europa permite idealizar um cenário da destruição ocorrida.

O Século IV foi negro para a região já que, em 382, um novo terramoto devastou o território, tendo padecido principalmente as terras marítimas, devido aos maremotos. O sismo foi tão forte que se subverteram ilhas. Deste período será a «villa» ou cidade submersa de Quarteira, que se encontra ao largo dessa cidade, mas também localidades e villas como a Boca do Rio, Balsa, Ossonoba, Cerro da Vila, Abicada e outras ruínas romanas.

Seguiu-se um milénio de acalmia, onde os sismos foram menos intensos ou simplesmente não foram registados. O próximo século negro é o XIV.

Novamente num dia 22 de Fevereiro, mas agora do ano 1309, ocorreu um grande terramoto em Portugal, que foi sentido em toda a Germânia. A 24 de Agosto de 1356, repetiu-se a tragédia, com um abalo tão forte que os sinos das igrejas tocavam por si, tendo caído muitas casas. Em Lisboa há o registo de se abrir a Capela-mor da Sé. As réplicas sucederam-se por um ano, provocando igualmente estragos em Sevilha e em Córdoba. Este conjunto de sismos parece justificar a quase inexistência de edifícios anteriores ao século XV na região.

No século XVIII a terra voltou a tremer

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com intensidade. A 27 de Dezembro de 1722 um sismo provocou grande destruição em quase todas as localidades do Algarve. Caíram casas, fortificações e torres das igrejas, fragilizando muitos edifícios, que acabaram por ruir completamente a 1 de Novembro de 1755, não só por efeito do sismo, mas também do maremoto que se seguiu.

O último grande sismo, de Fevereiro de 1969, provocou igualmente muito estragos e há registo de que o mar se elevou cerca de meio metro, não causando prejuízos significativos devido à baixa amplitude marítima e por não ter coincidido com a maré-cheia.

Sempre que somos assombrados pela destruição provocada por grandes sismos, um pouco por todo o mundo, surgem gritos de alerta para a vulnerabilidade de Portugal e, especialmente, da região algarvia. Quase sempre surge uma medida nova, como a repetição de simulacros ou a instalação

de alertas sonoros de tsunami. São medidas positivas, que poderão minimizar a perda de vidas humanas, mas não se traduzem numa mudança de mentalidade. Em pleno Século XXI continuam a ser aprovados grandes projectos nas frentes marítimas e ribeirinhas, não se invertem os processos de desertificação do interior e até edifícios públicos, como arquivos, museus, centros de exposição, centros culturais e hospitais são construídos na frente de embate de um maremoto, sem qualquer salvaguarda possível. É inevitável que muitos desses edifícios percam a sustentação, ruindo por completo e levando consigo vidas humanas e todo um acervo histórico e cultural único. É certo que, quando a tragédia acontecer, muitos perguntarão como foi possível a repetição de tantos erros, que poderiam ser invertidos por decisão política, mas que a confiança na sorte ou a fé num milagre, permite adiar sine die, até ao dia em que seja tarde demais .

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Vostell ou o triunfo da natureza

Dora Gago (Professora)

romete-me uma surpresa, um museu único e inesperado. Expectante, aceito com gratidão o convite.

Saímos de Cáceres na manhã de sábado azul. O destino é o Museu Vostell na Malpartida. Pelo caminho, um aglomerado de gente em peregrinação num descampado. O local onde se fizeram filmagens de uma popular série intitulada «A Guerra dos Tronos». As novas peregrinações e os novíssimos locais de culto da nossa sociedade de consumo, pautada pelo superficial, pelo fútil, pelo fast (a aplicar aos mais variados sectores, da alimentação à Ciência, passando pela Literatura e pelas relações humanas) – a tal sociedade a que o sociólogo polaco Zygmunt Baumann chama de líquida, mas que nos tempos que correm, mais parece ter passado para o estado gasoso. E é também no meio do nada que fica o Museu Wolf Wostell (1932-1998), inaugurado em 1976, fundado pelo pintor e escultor alemão com o mesmo nome, membro e fundador da «Fluxus colectivo», corrente que critica a sociedade de consumo, mas também a letargia, o holocausto. Nada de mais actual no contexto em que vivemos, no momento em que ainda sob o efeito de uma pandemia assistimos a uma sangrenta guerra na Europa de dimensões e consequências incalculáveis.

Num primeiro olhar irreflectido, surgeme um amontoado de tralha: motas sobrepostas como se estivessem num catálogo, televisões com pedras em cima, ecrãs semidestruídos, cadillacs desmembrados ou atravessados por aviões de guerra, um ofuscante piano de luz, vídeos diversos. Contudo, depois, as partes, os objectos, juntam-se num todo, como se a minha mente encaixasse devidamente as peças daquele puzzle a evocar o estranho mundo da técnica, do fragmento, do absurdo no qual imergimos cada vez mais sem sabermos se conseguiremos vir à tona, ao menos para respirar. E, de súbito umas escadas com a indicação para um último cais. Páro, indecisa, a pensar que cenário préapocalíptico poderá surgir. A expectativa sugando o fôlego, enquanto subo lentamente cada degrau, como se me aproximasse de uma espécie de Juízo Final.

De repente, uma breve nesga de paraíso: estou rodeada por um lago, bordado, ao longe por pedras, barruecos a emergir do chão. Um grito de beleza, de autenticidade, a rasgar as entranhas do vazio, do absurdo. Esse grito prolongado mais adiante, num outro edifício que serviu de lavadouro para as lãs, nas maquetes e circuitos da transumância a documentar os mais de mil quilómetros calcorreados pelos rebanhos e seus pastores na demanda dos melhores

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pastos, em busca da sobrevivência. E não será apenas disso que precisamos? Após séculos, décadas, a construir impérios de areia, a invadir territórios alheios, a edificar técnicas, formas de vida

frenéticas, incongruentes, despreza-se o melhor «pasto» para nutrir a alma e devolver cada um à sua própria essência.

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