REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #346

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ALGARVE INFORMATIVO 9 de julho, 2022

O REGRESSO ESTRONDOSO DO FESTIVAL MED A LOULÉ «CENAS NA RUA» EM TAVIRA | «LAGOA JAZZ FEST’22» | ALTURA EM FESTA | «RED BOOK» 1 ALGARVE INFORMATIVO #346 «CHOVEM AMORES NA RUA DO MATADOR» | VII GYM FUN AND DANCE EM PORTIMÃO


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ÍNDICE Lista Vermelha das Atividades Artesanais do Algarve (pág. 28) Festas em Honra do Imaculado Coração de Maria em Altura (pág. 38) 18.º Festival MED em Loulé (pág. 48) «Cenas na Rua» em Tavira (pág. 78) VII Gym Fun and Dance no Teatro Municipal de Portimão (pág. 94) «Chovem Amores na Rua do Matador» no Cineteatro Louletano (pág. 116) Lagoa Jazz Fest’22 (pág. 128)

OPINIÃO Paulo Cunha (pág. 140) Mirian Nogueira Tavares (pág. 142) Adília César (pág. 146) Fábio Jesuíno (pág. 148) João Ministro (pág. 150) Júlio Ferreira (pág. 152) Dora Nunes Gago (pág. 156) ALGARVE INFORMATIVO #346

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LISTA VERMELHA DAS ATIVIDADES ARTESANAIS ALGARVIAS FOI APRESENTADA EM LOULÉ Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e Proactivetour Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve promoveu a apresentação do livro «RED BOOK – Lista Vermelha das Atividades Artesanais Algarvias» num evento público que teve como palco os Banhos Islâmicos e Casa Senhorial dos Barretos recentemente inaugurados em Loulé. O trabalho de investigação e de produção foi desenvolvido pela PROACTIVETUR no ALGARVE INFORMATIVO #346

contexto do projeto Magalhães_ICC, acrónimo do Centro Magalhães para o Empreendedorismo de Indústrias Culturais e Criativas, que pretende estabelecer uma rede de cooperação transfronteiriça destinada a consolidar e a promover a oferta cultural inovadora no seio da EURO AAA, sendo cofinanciado pelo Programa Interreg V-A Espanha Portugal (POCTEP) 2014-2020. Depois de uma visita guiada ao novo espaço museológico da cidade de Loulé, a sessão começou precisamente com as 28


palavras do edil Vítor Aleixo, que de imediato destacou a importância do conteúdo deste «RED BOOK». “As

políticas e propostas da UNESCO refletem novas visões para o futuro da humanidade, porque o desenvolvimento começou a ser uma coisa bastante rápida, predadora, violenta até, que 29

destrói espécies naturais, que faz desaparecer da nossa memória atividades humanas ancestrais. O desenvolvimento tornou-se muito problemático e é natural que surjam estas «listas vermelhas» para caracterização e a salvaguarda do património”, ALGARVE INFORMATIVO #346


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À esquerda: Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé Em cima: José Apolinário, presidente da CCDR Algarve

considera o autarca. “Estamos

a falar de práticas artesanais, de património cultural imaterial, de estórias e narrativas, e chegou a altura de protegermos aquela que é a riqueza e diversidade humana, que, tal como na natureza, está pura e simplesmente a ser cilindrada e apagada da nossa memória”, reforçou. Vítor Aleixo lembrou, entretanto, que este trabalho já começou a ser feito no concelho de Loulé há vários anos, recuperando-se atividades e 31

técnicas que estavam em vias de extinção, como o manuseio do cobre, da palma ou do vime. “Arranjamos

locais, fizemos investimentos, e fomos buscar os últimos representantes desses ofícios artesanais, os oleiros, os caldeireiros, as senhoras da empreita. Reinventamos coisas antigas e que voltaram a ter valor económico, o que é extraordinário. Estamos a fazer uma nova economia, de uma escala mais próxima e local, não estandardizada, com muita criatividade, de circuito curtos, que encaixa na agenda de sustentabilidade das Nações ALGARVE INFORMATIVO #346


Unidas e nos nossos objetivos de desenvolvimento sustentável”, frisou o presidente da Câmara Municipal de Loulé. “O património já existia,

mas agora há uma visão que lhe dá uma certa coerência e um investimento público com a intenção estratégica de fazermos de Loulé uma Cidade Património, porque a humanidade não pode prescindir da sua memória. E o calendário da recuperação e valorização do património não joga bem com o calendário curto, e cada vez mais complexo e burocrático, dos políticos, é preciso dar tempo aos técnicos para realizarem o seu trabalho”, acrescentou Vítor Aleixo. Seguiu-se no uso da palavra José Apolinário, Presidente da CCDR Algarve,

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que valorizou a parceria que permitiu a edição do «RED BOOK» e lembrou que

“a Lei atribui-nos a missão de promover a adequada articulação intersectorial entre os serviços desconcentrados de âmbito regional, numa ótica de desenvolvimento regional”. “Os Fundos Europeus visam fomentar a coesão territorial, valorizar a cultura e impulsionar a inovação e este «RED BOOK» pretende promover as nossas tradições e oferta cultural inovadora no contexto da Euroregião Alentejo/Algarve/Andaluzia, através de um trabalho em rede, da articulação entre diversos serviços e da articulação entre o saber e a valorização da nossa identidade. O Estado, a

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Susana Calado Martins e Graça Palma da Proactivetour

Administração Pública, prestará um melhor serviço aos cidadãos, será uma Administração Pública mais eficaz, trabalhando em rede, otimizando recursos humanos, partilhando serviços, articulando as políticas públicas nacionais com a escala regional e supramunicipal”, reforçou José Apolinário. Na sessão participaram também as diretoras regionais da Cultura e do Emprego e Formação Profissional, Adriana Nogueira e Madalena Feu, que sustentaram a boa aplicação dos Fundos Europeus geridos no Algarve para a preservação e valorização do património cultural edificado e imaterial. Na apresentação do «Livro Vermelho das Atividades Tradicionais», quer Miguel Reimão Costa, da Universidade do Algarve, quer Graça Palma e Susana 33

Calado Martins, autoras da Proactivetur, referenciaram o caráter pioneiro desta iniciativa desenvolvida em plena pandemia com artesãos, alguns já de idade avançada, autarquias e associações do setor, levando à descoberta de “um

mundo cuja dimensão era desconhecida e obrigando ao estabelecimento de critérios de seleção muito rigorosos”, orientada pela Comissão Técnico-Científica constituída com representantes das entidades relevantes para o Património Cultural Imaterial. Concluída a análise, este «RED BOOK» sugere a criação de uma Plano de Salvaguarda para 26 artes referenciadas e a continuidade e aprofundamento dos estudos das demais. Recorde-se que as listas resultantes da investigação guiam-se pelos procedimentos estabelecidos pela ALGARVE INFORMATIVO #346


Rita Jerónimo, Sub-Diretora Geral do Património Cultural

UNESCO, com a vantagem de estas manifestações de Património Cultural Imaterial poderem futuramente ser inscritas no inventário nacional, o único instrumento de proteção legal deste património, ou seja, passando a ter uma sólida base para apresentar à Direção-Geral do Património Cultural para o Inventário de Património Imaterial do Algarve, que já integra manifestações regionais como o culto da Mãe Soberana em Loulé, ou da Nossa Senhora dos Navegantes, na Ilha da Culatra, em Faro. Por isso, e a concluir a sessão, Rita Jerónimo, SubDiretora Geral do Património Cultural, considerou esta obra com um exemplo a replicar noutras regiões do País, manifestando o apoio e envolvimento no alargamento das áreas de investigação, quer temáticas, quer territoriais . ALGARVE INFORMATIVO #346

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FESTAS EM HONRA DO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA PROPORCIONARAM TRÊS NOITES DE CASA CHEIA EM ALTURA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Município de Castro Marim e 1 a 3 de julho, Altura voltou a celebrar as tradicionais Festas em Honra do Imaculado Coração de Maria, com três noites de feira de artesanato e concertos de casa cheia. Rui Bandeira foi o grande nome no palco de dia 1 e os HMB arrebataram o público no sábado, dia 2 de julho, num concerto cheio de funk e ALGARVE INFORMATIVO #346

energia. O cartaz apostava ainda na cultural musical local, com a participação de grupos e performances que distinguem e diferenciam o concelho, como o desfile etnográfico pela «Amendoeiras em Flor» e o espetáculo de dança das ARUTLA, que estrearam ontem as novas coreografias deste regresso aos palcos. O momento mais solene destas Festas é a Procissão em Honra do Imaculado 38


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Coração de Maria, que decorreu ao final da tarde do dia 3 de julho, presidida pelo Bispo do Algarve, D. Manuel Neto Quintas, e concelebrada pelos párocos José Armando Silva e Agostinho Pinto. De ano para ano, esta procissão traduz-se numa maior expressão de fé e tradição religiosa, consolidando o seu espaço junto da comunidade alturense e atraindo a atenção dos turistas que escolhem Altura como destino de férias. Realizada no espaço do parque de estacionamento da Praia da Alagoa, cerca de 50 expositores fizeram a feira de 41

artesanato, com artesãos e demonstrações das suas artes e uma enorme variedade de venda de doces e iguarias locais e regionais. Com grande sucesso, este será o último evento realizado neste espaço antes da grande requalificação desta frente mar. As Festas em Honra do Imaculado Coração de Maria foram uma organização conjunta da Câmara Municipal de Castro Marim e da Paróquia de Altura, com o apoio da Junta de Freguesia de Altura, Clube Recreativo Alturense e Irmandade do Imaculado Coração de Maria . ALGARVE INFORMATIVO #346


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CENTRO HISTÓRICO DE LOULÉ COMPLETAMENTE A ABARROTAR DE GENTE NO REGRESSO DO FESTIVAL MED Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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18.º Festival MED prometia emoções fortes depois de dois anos de ausência e de um ano de «interMEDio» e o certo é que o evento organizado pela Câmara Municipal de Loulé, de 30 de junho a 2 de julho, foi um tremendo sucesso, com milhares de pessoas a percorrerem as ruas do Centro Histórico de Loulé e a vibrarem com os diversos concertos que aconteceram nos quatro principais palcos (Matriz, Cerca, Castelo e Chafariz) e nos muitos palcos secundários. As cores típicas do MED, as sonoridades e sabores do mundo e uma imensa fusão cultural e artística, com propostas arrojadas e diferenciadoras, deixaram o público completamente rendido. No dia 30 de junho, a festa começou com Noura Mint Seymali, cantora com uma singular técnica vocal e instrumental e que é uma das mais corajosas e ousadas artistas da Mauritânia. Seguiu-se o verdadeiro senador da música africana, o ganês Gyedu-Blay & His Sekondi Band, com mais de quatro décadas de carreira e que assume a música como uma verdadeira missão política pan-Africana, de combate às desigualdades e às diversas formas de neocolonialismo. Da Ucrânia vieram os GO_A, com uma reinterpretação moderna do folclore ucraniano, embalado por sonoridades mais eletrónicas e contemporâneas. E, claro, RE:Imaginar Banda Monte Cara, um reencontro de mestres e do público com a história da própria música caboALGARVE INFORMATIVO #346

verdiana e do Monte Cara, o mítico espaço de animação da noite lisboeta. No dia 1 de julho, a lusofonia fez-se nas cores verde e amarelo do Brasil, com a cantora Mallu Magalhães e o «provocador» Johnny Hooker a serem as 50


estrelas mais cintilantes. Aliás, Johnny Hooker, representante das Nações Unidas para a Igualdade e porta-voz do movimento LGBTQ+, deu um espetáculo que ficará para a história do MED. Da América do Sul vieram os colombianos Ghetto Kumbé com a sua frenética 51

percussão, mesclada com o novo afrohouse caribenho e com os ritmos tradicionais afro-colombianos, mas também N3rdistan, o quarteto francomarroquino liderado pelo cantor Walid Bem Selim, deixou o público rendido com as suas sonoridades. ALGARVE INFORMATIVO #346


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No dia 2 de julho a noite arrancou com a harmonia vocal de Maro, que, com a melancolia lusa de «Saudade Saudade», arrebatou corações de portugueses e estrangeiros. Uma noite que contou igualmente com os ritmos quentes de Cuba, com uma homenagem à voz maior desta ilha, Compay Segundo, pelo pianista Victor Zamora& Sexteto Cuba. Rodrigo Cuevas, cantor e um verdadeiro performer, misturou folclore e eletrónica com humor, hedonismo e erotismo 53

elegante, num autêntico espetáculo teatral. O cabo-verdiano Scúru Fitchádu apresentou uma parafernália musical em que o metal e punk dão as mãos ao funaná e outros géneros, resultando num «Afrofuturismo». Já a angolana Aline Frazão regressou ao MED num registo mais festivo e os chilenos Chico Trujillo fizeram a festa com a sua cumbia reinventada. A noite encerrou em grande com a prata da casa, com o louletano Sylva Drums a trazer um DJ Set onde a hipnótica percussão marcou o ritmo . ALGARVE INFORMATIVO #346


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«CENAS NA RUA» MARCAM ARRANQUE DO VERÃO EM TAVIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Município de Tavira

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pós dois anos de interregno, por força da pandemia Covid19, está de regresso, até dia 17 de julho, sempre pelas 22h, o «Cenas na Rua». O XVI Festival Internacional de Teatro e Artes na Rua de Tavira, promovido pela Autarquia de Tavira, assinala o arranque do programa cultural «Verão em Tavira», que tem como destinatários os tavirenses e todos aqueles que visitam o concelho. O «Cenas na Rua» tem como objetivo assegurar a fruição cultural, divulgar diferentes disciplinas e géneros artísticos, dança, música, poesia, teatro, humor, novo circo, cinema, marionetas, assim ALGARVE INFORMATIVO #346

como dar a conhecer e permitir uma nova leitura sobre a cidade de Tavira. No dia 4 de julho, a Praça da República deu as boas-vindas a «Carilló», da Companhia La Tal, de Espanha, um espetáculo de Teatro de Rua em que cavaleiros e palhaços encheram o palco, onde se misturaram brigas e paixões. De dentro do relógio, a magia apareceu e inundou tudo: o espaço físico, mas também um espaço mental. O festival começou, porém, logo no dia 1 de julho, com a poesia visual de «Rêve d’ Herbert», da Cie Des Quidams (França), a encantar a Praça da República. Grandes figuras brancas avançaram na sombra, sobre palafitas, envoltas em 80


roupas, que pareciam esperar por qualquer encontro. Passo a passo, os cinco personagens foram transformados em personagens volumosos de 4 metros de altura, deformados e majestosos ao mesmo tempo, desajeitados e etéreos, com cabeças iluminadas. Ao som de uma música estranha e fascinante, os cinco personagens realizaram um rito mágico que fez a estrela subir no céu, como uma piscadela para a lua, como num sonho. Também na Praça da República, no dia 2 assistiu-se a «Esencial», da Companhia Vaivén Circo (Espanha), um espetáculo de novo circo com uma cenografia de matizes poéticas e educativas, baseada no Waldorf Rainbow, em que foi criado um ambiente mágico em que o público se 81

sentiu refletido e «voou» durante a performance. E o mesmo local acolheu, no dia 3, «Kimera», da Companhia La Banda Teatro Circo (Espanha). Numa doca de carregamento, pessoas trabalham, passam ou chegam em busca de uma vida melhor, num olhar sobre a sociedade atual que nos mostra a fragilidade dessas pequenas coisas que engrandecem as pessoas. O espetáculo de novo circo convidou a assistência a pensar no motivo que move tantas pessoas a deixarem tudo para viajar para um lugar desconhecido, abandonado, sem relações, onde o futuro, por mais incerto ou sombrio que seja, é sempre mais esperançoso do que no lugar de origem . ALGARVE INFORMATIVO #346


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TEMPO ACOLHEU «O REGRESSO» DO CIRM Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Clube de Instrução e Recreio Mexilhoeirense realizou, no dia 2 de julho, em sessão dupla, no TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, a VII Gym Fun and Dance com o tema «O Regresso». O espetáculo veio pôr fim aos dois anos de pandemia que passámos, reafirmando os valores que estiveram presentes neste período de tempo. “O ALGARVE INFORMATIVO #346

que aprendemos com ela? O que mudou nas nossas vidas? Quais as lições que retiramos deste período? Com a luz ao fundo do túnel, a vida e o mundo nunca mais serão os mesmos. Este é um regresso ao «novo» normal, e que foi representado através de música e movimento, trazendo aos palcos esta que foi uma realidade de todos”, explicou a organização . 96


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«CHOVEM AMORES NA RUA DO MATADOR», DE MIA COUTO E JOSÉ EDUARDO AGUALUSA, SUBIU AO PALCO DO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes

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ntegrado no 18.º Festival MED, o Cineteatro Louletano recebeu, no dia 2 de julho, a peça «Chovem Amores na Rua do Matador», dos conhecidos escritores Mia Couto e José Eduardo Agualusa. No enredo, Baltazar Fortuna está zangado, com os homens, com a vida, com Deus e consigo mesmo, porque Fortuna só lhe coube a do nome. E, sobretudo, está zangado com as três mulheres da sua vida. Por isso, volta a Xigovia – a pequena vila no Sul de Moçambique, onde elas vivem – com um objetivo claro: matar. Matar o ALGARVE INFORMATIVO #346

azar, varrer a má-fortuna e emendar a vida que escolheu viver, mas já não deseja. Neste processo há que matar as mulheres também, pois são elas as culpadas, disso não duvida. Ele, que sempre teve medo das palavras, quer redimir-se nos atos. O único obstáculo é que elas não querem colaborar, não lhes apetece morrer. Têm ideias próprias. Esse, sabe ele bem, é o problema do Mundo: andarem a meter ideias na cabeça das mulheres. Logo nelas, diz Fortuna, que “desde Eva que andam em contramão”. 118


Mia Couto e José Eduardo Agualusa refletem neste conto – adaptado ao palco com dramaturgia do próprio Mia Couto – sobre o conflito entre um Moçambique periurbano, que hesita entre um lastro de tradições e práticas ancestrais cristalizadas nas mentalidades masculinas dominantes; e um novo país, de demografia galopante, prenhe de jovens que, a cada dia, se revêm menos nas estruturas culturais herdadas e nas práticas sociais que elas impõem. “O

conflito entre Baltazar Fortuna e as suas mulheres – Mariana Chubichuba, Judite Malimali e Ermelinda Feitinha – leva, 119

inevitavelmente, à morte de um desequilíbrio social onde o lugar que cabe às mulheres e o dos homens é vigorosamente questionado e resolvido em cada opção, em cada atitude, em cada gesto do presente”, explicam os autores. «Chovem Amores na Rua do Matador» é encenado por Clotilde Guirrugo e Vítor Gonçalves e interpretado por Angelina Chavango, Horácio Guiamba, Joana Mbalango, Josefina Massango e Violeta Mbilane . ALGARVE INFORMATIVO #346


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JAZZ REGRESSOU AO SÍTIO DAS FONTES EM ESTÔMBAR Texto: Daniel Pina | Fotografia: Município de Lagoa

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e 1 a 3 de julho, o Parque Municipal do Sítio das Fontes, em Estômbar, recebeu o XVII Lagoa Jazz Fest’22 com o habitual do formato que junta concertos, animação musical e zona lounge. Este festival internacional foi-se afirmando nacional e internacionalmente, com um público fiel, num local único e mágico, o Parque Municipal do Sítio das Fontes em Estômbar, concelho de Lagoa. “Ao longo

das 16 edições realizadas foi merecendo críticas positivas da imprensa especializada e gratificantes elogios do público e ALGARVE INFORMATIVO #346

dos artistas nacionais e internacionais que nos visitaram e que puderam manifestar o agrado pela hospitalidade e condições logísticas e técnicas que lhes foram proporcionados”, sublinha Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa. Pelo palco principal do Lagoa Jazz Fest’22 passaram Vein trio e 4teto de Desidério Lázaro no dia 1 de julho, Motion Trio no dia 2 e José Luís Kaele Trio e 5teto de António Lizana no dia 3. O palco dois contou com as atuações de Ally Garrido Duo, Tércio Nanook e Paulo Ramos & António Mardel . 130


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Alma antiga Paulo Cunha (Professor) o meio musical, é comum os mais velhos referirem-se a determinados músicos jovens como almas velhas ou antigas, tal a maturidade criativa e a excelência interpretativa patenteadas. Sem o tempo de aprendizagem nem amadurecimento necessários para tanta e enorme qualidade, muitos, à falta de melhor ou outra explicação, associam tal fenómeno a uma alma antiga ou a uma vida passada. É também habitual associar tal adjetivação ao comportamento de alguns jovens que, noutros contextos, connosco privam. Ao longo do meu percurso profissional, para além da civilidade, da gentileza e do respeito, conheci jovens com características comportamentais muito diferentes daquelas que eram norma na sua fase etária. Sabendo que, nalguns casos, tais formas de estar e de ser não têm nada a ver com a educação e exemplo adquiridos em casa, muitos de nós acabamos por apelidá-los de «adultos em tamanho pequeno». São, nitidamente, almas de um outro tempo. Tomando como referência o musicólogo e escritor brasileiro Mário de Andrade, que acabou um texto escrevendo, “nós temos duas vidas e a segunda começa quando você percebe ALGARVE INFORMATIVO #346

que você só tem uma…”, apetece-me questionar quantas vidas terão tido muitas almas antigas que temos o privilégio de conhecer, e que todos os dias, apesar da sua juventude, nos lançam pistas para começarmos – finalmente – a viver? A origem da expressão «alma velha» provém do taoismo, uma corrente de pensamento milenar resultante de uma tradição filosófica e religiosa chinesa. Assente em três virtudes básicas: a compaixão, a moderação e a humildade, professa que a alma passa por cinco idades ou estágios e quanto maior a idade, maiores serão os níveis de conhecimento individual e, consequentemente, maior será a perfeição alcançada. A alma velha será então o último estágio na terra. É opinião comum que as pessoas com uma alma antiga são naturalmente espirituais, preocupando-se em encontrar o seu lugar no mundo e tendo como objetivo principal alcançar a satisfação interna. É de Lao-Tsé a seguinte frase: “Conhecer os outros é inteligência, conhecer-se a si próprio é verdadeira sabedoria. Controlar os outros é força, controlar-se a si próprio é verdadeiro poder”. São apontadas aos detentores de almas antigas as seguintes características diferenciadoras: um grande grau de 140


maturidade, um desejo de desfrutar a solidão e a introspeção, um sentido mais espiritual da existência, um instinto muito desenvolvido e um alto nível de empatia e sensibilidade. Na verdade, no campo da psicologia não existe o conceito de alma antiga, embora seja inegável que existem pessoas que, destacando-se pela sua inteligência e/ou sensibilidade, revelam um nível de maturidade muito superior ao esperado para a sua idade. São, normalmente, classificadas como precoces. 141

Tal como com outros alunos apelidados de «diferentes», tenho tido o privilégio e o gosto de aprender com as intervenções, atitudes e reações de algumas almas antigas com que privo, apercebendo-me que continuo em incessante descobrimento, crescimento e enriquecimento pessoal. É verdade, a idade cronológica esconde muitas vezes a verdadeira idade. Não é a soma dos anos vividos que nos traz a maturidade, é forma como nos conhecemos e nos relacionamos com os outros . ALGARVE INFORMATIVO #346


A Exposição – Edgar Massul e Ângelo Gonçalves Mirian Nogueira Tavares (Professora Universitária) Contrariamente aos Ocidentais, que se esforçam por eliminar tudo que se assemelhe a uma mancha, os Extremo-Orientais conservam-na preciosamente, e tal e qual, para fazer dela um ingrediente do belo. Junichiro Tanizaki filho tinha 7 anos. Pronto para descer e brincar com os amigos, é parado por mim que lhe digo – espera! Tens uma mancha na tua roupa. Era uma manchinha sem importância, mas eu, do alto da minha mania de limpeza, queria que o filho trocasse de camisola. Ao que ele responde: Mãe, tu pensas que o mundo é perfeito? Que não pode ter uma manchinha? Claro que ele tinha razão (mesmo que eu o tenha feito trocar de roupa). A cultura ocidental contemporânea privilegia a limpeza, a transparência, o brilho. Considera tudo como um sinal da civilização, ou mais ainda, da desejada civilização racional e tecnológica. Os aparatos tecnológicos brilham, os talheres, as roupas, até as pessoas são instadas a brilhar como se estivessem num anúncio de shampoo. O japonês Junichiro Tanizaki escreveu um belo ensaio sobre o amor, ou melhor, a devoção, da cultura do extremo-oriente pela sombra, pelo lusco-fusco, pela luz ALGARVE INFORMATIVO #346

que serve apenas para evidenciar a escuridão. Foi o artista Edgar Massul que me sugeriu a leitura de O Elogio da Sombra, obra delicada e lúcida, tão rica em intertextos como propiciadora de metáforas, muito indicada para inspirarme a escrever sobre uma exposição de dois artistas, dois amigos, compagnons de route, unidos pela arte e por um modo especial de abordá-la, de questioná-la, de fazê-la pensar. Ângelo Gonçalves e Edgar Massul trazem-nos duas exposições numa só: uma primeira, que nos conduz a uma espécie de Toko no ma – espaço de sombra, essencial numa típica casa japonesa. Recanto resguardado da luz, espaço vazio, aos olhos ocidentais, mas considerado pleno pelos japoneses, pois é o lugar onde uma obra escolhida criteriosamente pelos donos da casa, repousa. Um quadro ou uma peça de bronze, de preferência coberta de patine, que evidencia a sua idade, o seu pertencimento ao espaço desde tempos imemoriais.

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Foto: Vasco Célio

A luz natural, sem artifícios, ilumina a nave central da 289. Somos conduzidos, enleados, por uma peça feita de cordas e de canas tecida a quatro mãos. Única peça da exposição feita pelos dois artistas. Uma nau? Um labirinto? Uma rede? Nada é evidente e não pretende sêlo, pois as obras são concebidas para serem sentidas, entre-vistas, dificilmente reveladas.

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Na primeira sala lateral, deparamo-nos com um dispositivo que nos remete aos primórdios do cinema, às sombras chinesas, ou ainda mais recuado no tempo, à lama que sobreveio ao caos, antes da vida brotar na terra (Da lama ao caos, do caos à lama*). Uma tela cuja opacidade nos confunde, ocupa uma parede e é iluminada, ou melhor, velada, por uma luz tênue, amarela. Pela luz que, nas casas japonesas, é criada com recurso ALGARVE INFORMATIVO #346


ao Shôji – armação de madeira e de papel opaco que guarda a entrada das casas, deixando que passe alguma luz, mas não permitindo que o olhar externo penetre no ambiente íntimo. Estamos diante de uma paisagem quase lunar, ou típica do sapal, da beira dos rios. A lama é matériaprima de muitas das criações de Edgar Massul – com ela o artista desenha, pinta, grava a memória do lugar em papel, tecido, tela. Qualquer superfície que possa emular a natureza na sua essência, enquanto ela permanecia caos. Como o poeta Manoel de Barros, o artista também prefere “as palavras obscuras que moram nos fundos de uma cozinha — tipo borra, latas, cisco. Do que as palavras que moram nos sodalícios — tipo excelência, conspícuo, majestade”. Na segunda sala lateral, está uma árvore, ou melhor, um cadáver de uma laranjeira, decepada para dar espaço aos abacateiros – revestidos de progresso. A laranjeira, árvore nativa, é cortada para que floresça o agronegócio, sem que se pense no equilíbrio do solo, na sobrevivência dos bichos e dos insetos. Na água, que vai secando, como o galho da árvore morta que Ângelo Gonçalves suspende entre quatro paredes. No que restou do tronco, brotam improváveis carregadores de telemóveis, cujos fios chegam ao solo, como se substituindo as raízes agora inexistentes. As alterações no e do espaço fazem parte do vocabulário plástico desse artista – cuja obra revela a consciência da precarização de uma região, considerada periférica, coalhada de condomínios privados e de habitantes sem um teto a que possam chamar de seu.

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Para Junichiro Tanizaki, a beleza do Toko no ma, e o seu mistério, está na conjugação perfeita entre o vazio e a sombra. E para alcançar esse efeito, é preciso escolher a obra mais indicada para o espaço, aquela que se converta, de forma orgânica, num elemento do próprio espaço, em plena harmonia com tudo que a envolve. E o tudo, na verdade, é um espaço rigorosamente vazio, cujas sombras podem projetar ideias, medos, sonhos ou pesadelos. Assim, a primeira parte da exposição, composta pela nave central e duas alas laterais, reproduz esse nicho, recanto, lugar vazio que faz parte do mundo oriental. Ou ainda, como aquelas salas da casa dos avós que só eram abertas às visitas. Resguardadas por cortinas espessas, portas fechadas e silêncio. Aquelas salas que, em criança, espreitava enquanto todos dormiam a sesta. Tanto calor, a casa parecia vazia, e pé ante pé, andava por ali, sem fazer barulho. E tudo parecia diferente, novo outra casa na mesma casa, desabitada àquela hora do dia. Na última sala, a qual somos conduzidos pela tessitura de fios e de canas, encontramos outra exposição. Do vazio ao cheio, das sombras à alguma luz. Nesta sala estão expostas obras que nos dão a ver 10 anos de um percurso artístico coerente e sempre questionador. Obras que refletem experiências com materiais e técnicas – resultados de uma escolha criteriosa feita pelos dois artistas. Espaço do antes – quando nas exposições as obras respiravam pouco – entre elas surgiam inusitadas relações. Por exemplo, entre os desenhos feitos sobre/com folhas de bambu, recobertas de alvos que 144


enunciam (denunciam) uma paisagem que é constantemente atacada, depredada, destruída, de Massul, e uma paisagem borrada, apagada, uma paisagem abstrata que contém uma frase, também ela borrada – não há paisagem, de Ângelo Gonçalves. Não há paisagem possível num mundo tecnologizado e transparente, que recua, com horror, diante das manchas, das imperfeições, da lama. Esquecendo-se de que a origem está no caos. E do caos brotou a lama da qual somos todos feitos. 145

Paredes e caramujos se entendem por devaneios Difícil imaginar uma devoração mútua Antes diria que usam de uma transubstanciação: paredes emprestam seu musgo aos caramujosflores e os caramujos-flores às paredes sua gosma Assim desabrocham como os bestegos**. *Da Lama ao caos, música de Chico Science & Nação Zumbi. **Manoel de Barros. Poesia completa: Manoel de Barros. São Paulo: Editora Leya, 2010. ALGARVE INFORMATIVO #346


Notas Contemporâneas [46] Adília César (Escritora) “A arte é tudo – tudo o resto é nada. Só um livro é capaz de fazer a eternidade de um povo”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) ARTE LITERÁRIA confronta-se com ela própria. O que se lê está inscrito apenas nos livros ou a leitura artística pode vir de uma imagem? Ou seja, há outros idiomas que compõem as linguagens necessárias à definição de uma percepção estética. O silêncio-êxtase, por exemplo. Estou sentada no sofá, bem direita, atenta às notícias. Quero saber o estado do mundo. Naturalmente, vejo um pouco de tudo que, no final, vai-se a ver e nada. E eis que ela me olha de soslaio: bem direita, mãos depostas sobre o regaço, vestida de escuro. Os cabelos são longos, como os meus. Escuros, como os meus. O sorriso é enigmático e parece decorar o rosto de uma alma antiga. Sim, ela é uma alma antiga e se se visse ao espelho, diria: eu sou a Mona Lisa. Repito: eu sou a Mona Lisa. Eu diria que a Mona Lisa é um livro aberto. Ela é arte, literatura, poesia. E, todavia, neste preciso momento, não há palavras ali. Apenas uma resignação escura vestida à pressa, ou, se preferirem, uma imitação barata. Ainda que reconheça o carácter não-artístico da peça, o biombo com a reprodução gigantesca da figura de Mona Lisa, no canto da sala, é o meu ângulo preferido de visão. Desviar os olhos da televisão para a esquerda e ei-la, é-me oferecido todo aquele esplendor. Em redor, seis estantes altas arrumam cerca de mil e quinhentos livros. ALGARVE INFORMATIVO #346

* HÁ MAIS LIVROS espalhados pelas outras divisões da casa. Na verdade, há livros por toda a parte. Eles possuem todos os ângulos da minha casa. Observam-se uns aos outros e tentam imaginar o que cada um contém. Às vezes passa-me pela cabeça uma ideia de acção invertida: imagino que os meus livros são os proprietários do espaço e eu apenas uma mera convidada de ocasião enquanto os livros também me leem. Depois de me lerem e de me conhecerem melhor, não sei o que poderá acontecer. Serei uma leitora interessante dos meus livros? Sinto alguma inquietação, que transformo rapidamente em questões de múltiplas respostas, sendo que nenhuma delas pode ser considerada correcta. * O MEU ESPÍRITO apresenta as perguntas, mas, por enquanto, desconheço respostas satisfatórias. As perguntas continuam a surgir no horizonte, apesar do sorriso da Mona Lisa. Porque tens tantos livros? – pergunta ela. Porque cada livro lido é um mundo que nos permite criar mais mundos – respondo eu. Ela sorri. Imediatamente, a memória atraiçoa-me e vejo as inúmeras apresentações de livros a que assisti. 146


* IRONICAMENTE, Os livros são sempre lançados às feras, os leitores. Valha-nos o seu fraco apetite. Os leitores não comem papel e os livros escapam, incólumes, a esta espécie de predação literária. Na melhor das hipóteses, são levados para casa debaixo do braço e arrumados numa estante. De seguida, o inevitável esquecimento. Os lançamentos e as apresentações de livros têm os seus dias contados? A excessiva proliferação de obras editadas em Portugal é uma desordem cultural? As bibliotecas são bordéis de livros? As livrarias são uma espécie em vias de extinção? O caos literário que temos ao nosso dispor é uma bênção pela escolha diversificada de autores e obras que sugere ou um sacrilégio, ao não haver filtros de qualidade fidedignos para o público leigo? A cultura exibe, talvez demasiadas vezes, cenários destrutivos da própria cultura. Sendo lícito fragmentar primeiro para depois consolidar, a verdade é que Tanto sabe a Pouco. Que fazer para se ser um melhor leitor? Nada, cada um que procure o seu próprio caminho, é livre de o fazer. Livros...há muitos por onde escolher. * PENSO nos escritores da moda, nos monstros sagrados e em outras espécies menos vulcânicas, e confronto-me, por vezes, com o que já sei: não há muito a fazer em relação aos critérios de fama. Cada vez gosto mais de descobrir escritores que ninguém conhece e de quem ninguém fala: os marginais, os proscritos, os loucos, os ocultos. De vez em quando há palavras que se iluminam com uma luz só delas. Podia inventariar uma lista de nomes, mas não vou fazê-lo: cada leitor merece os escritores que lê e eu ainda luto para descobrir os meus.

A CONTESTAÇÃO é incómoda, para quem contesta e para quem é contestado. Decorre do sonho do/a contestador/a que pretende elevar algo ou alguém a outro patamar melhor ou mais sublime. Existe muita retórica à volta do acto de contestar, o qual deverá ser definido através de uma constelação conceptual. Se qualquer conceito é um objecto divergente, por conter um espelho poliédrico de significados, uma verdade (incontestável?) estará encerrada no seu nome: como escreveu o poeta António Gedeão, “eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida, que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança, como bola colorida entre as mãos de uma criança”, mas... a pedra filosofal da mudança assenta na contestação que implica a revolução, porque o sonho de alguém pode ser incomodativo para outros. Ousemos, então, uma ideia contestatária, um acto revolucionário, uma parcela nova do nosso mundo. Ousemos: o medo não entra aqui .

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Empreendedorismo contagiante e motivador Fábio Jesuíno (Empresário) fenómeno do empreendedoris mo tem crescido muito nos últimos anos, sendo considerado como grande impulsionador do desenvolvimento económico e social de regiões ou países. Os empreendedores estão renovando conceitos económicos, ultrapassando barreiras sociais e culturais, criando oportunidades nas mais diversas áreas. É um dos temas que desperta mais interesse na sociedade. Uma nova era que está a criar um novo tipo de relacionamento entre pessoas, mercados e países. Uma das principais características de um empreendedor é a sua capacidade de arriscar em algo que acredita, não se contenta em ser mais um na multidão, é apaixonado pelo que faz, está constantemente a trabalhar para deixar uma marca na sociedade. Outra das características é a motivação, algo muito importante num empreendedor, principalmente para seguir em frente e conseguir atingir outros patamares de sucesso.

ideias, promovendo dessa forma uma abertura a novas realidades. É muito importante promover o desenvolvimento de competências empreendedoras na sociedade, um caminho onde a educação permanente nessa área é importante e essencial em todos os níveis do ensino básico e secundário. Devem ser implementados programas educacionais onde o empreendedorismo entra como disciplina universal, conseguindo dessa forma um impacto e abrangência generalizada na população. Uma cultura empreendedora activa pode ser aplicada na transformação das pessoas, mostrando que, a partir do momento em que está a criar uma solução que irá ajudar outras pessoas, está, dessa forma, a empreender e isso pode ser aplicado nas mais diversas situações. O empreendedorismo é uma ferramenta importante para combater a pobreza e reduzir a desigualdade social no mundo, é a chave de uma sociedade inovadora e desenvolvida para gerar riqueza e a sua distribuição para que gere bem-estar. O desafio passa por criar ambientes que retenham, atraiam e promovam este impulso ao empreendedorismo .

A criatividade é também uma grande característica, é motor de desenvolvimento de novos negócios, a grande ferramenta de transformação de ALGARVE INFORMATIVO #346

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A barraca João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) palavra «barraca» tem nos dias actuais um duplo significado. É, na sua definição literal, uma estrutura de madeira ou uma construção provisória, precária ou rústica, que serve de abrigo ou refúgio. Pode ser uma tenda, uma cabana ou uma simples armação tosca. Todos estamos conscientes do que uma barraca é! Por outro lado, num sentido mais metafórico, esta palavra está associada a situações problemáticas, embaraçosas, por vezes com um certo grau humorístico, outras nem por isso. Numa tradução mais simples, uma «barraca» pode ser encarada como uma trapalhada. Ora, o Algarve é hoje uma região que, em vários aspectos, é mesmo uma barraca. Em ambos sentidos acima descritos. A forma como temos vindo a gerir da disponibilidade dos recursos hídricos, é uma verdadeira barracada, sem piada alguma. Os níveis de água nas barragens estão em níveis alarmantes, numerosos furos estão secos ou salinos, há regiões onde a água é abastecida por via dos bombeiros que diariamente transportam milhares de metros cúbicos em autotanques para reabastecer cisternas e depósitos particulares. Por outro lado, continuam-se a instalar extensos campos agrícolas de regime ALGARVE INFORMATIVO #346

intensivo, com espécies de elevado consumo de água, mais campos de golfe, novos empreendimentos hoteleiros, com milhares de camas, sem qualquer reutilização de água residual. Aliás, continuamos alegremente a despejar diariamente milhões de litros de água residual tratada ao mar, quando uma das medidas indicadas em vários estudos era precisamente fazer a reutilização desses efluentes. Enfim, tudo estranho, tudo inexplicável, tudo desconcertante. No turismo – e respectivos serviços associados – assiste-se também a uma difícil e complexa realidade devido à escassez de mão-de-obra. Algo que na verdade não é novo. Há anos que a situação se repete, mas agora com maior intensidade. De certa forma era esperado, mas não inevitável. Pelo menos para quem está atento ao assunto e ao que se passa na região. As tão faladas condições remuneratórias e de trabalho em geral (ex. baixos vencimentos, instabilidade de horários, realização de turnos, poucas folgas) adivinhavam uma situação desta natureza mais tarde ou mais cedo. Quem esteve atento, precaveu-se e rapidamente adoptou melhores soluções. Quem não o fez, sonha agora com uma remessa urgente, tipo correio azul, de emigrantes de Marrocos ou Cabo Verde, para preencher as milhares de vagas em aberto na hotelaria ou restauração, independentemente de possuírem ou não 150


experiência nessas áreas. Interessa é arranjar gente. Desenrascar, como se diz em bom português! O caminho principal para a solução não deve ser este. Assim o assumem alguns altos responsáveis pelo turismo em Portugal. Esse passa, obviamente, pela valorização da carreira profissional no turismo. Da melhoria das condições laborais, a começar nos vencimentos, mas não só. Do estímulo aos jovens para enveredar por esta actividade, através de perspectivas de progressão, novos projectos e desafios. No fundo, numa perspectiva integrada de qualificação das profissões relacionadas com o turismo. O que agora se assiste é, mais uma vez, ao resultado de trapalhadas continuas na forma como a região tem sido gerida. E notem que o problema tenderá a agudizar-se, pois continuamos a construir novos resorts – alguns deles verdadeiros atentados ambientais e faraónicos, como a Quinta da Ombria.

Algarve, em especial nas zonas de barrocal dos concelhos de Loulé, Silves ou Tavira. A proliferação descontrolada de verdadeiras «barracas» – as conhecidas casas amovíveis, de madeira e pré-fabricadas – está a atingir níveis muito preocupantes. O «negócio» fraudulento da venda de terrenos com a promessa fácil de instalação destas estruturas está lentamente a transformar a região, não só do ponto de vista paisagístico e ambiental, mas também social. Estão a gerar-se pequenas «favelas» em zonas nobres do campo – inclusive junto a ribeiras – tudo de forma ilegal, com a impunidade e o conhecimento de todos – inclusive das entidades locais. Uma injustiça para quem procura fazer tudo legalmente para viver nesses territórios e tem de suportar uma miríade de complicações financeiras e burocráticas, um total desrespeito às mais simples regras de ordenamento do território e mais uma acha na difícil missão de fixar pessoas no território, face à absurda especulação que se assiste nas habitações, em ruínas ou não, e agora também nos terrenos. Tudo isto mostra bem como de barracas estamos servidos. Já não bastam as das praias, onde os banhistas se refugiam do sol escaldante. Temos para todos os gostos os feitios. Mas nem todas se recomendam e muito menos se deveriam promover, correndo o risco de um dia tudo isto se tornar uma barracada completa! .

Por último, note-se ao que se passa desde há alguns anos no interior do 151

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A minha bandeira! Júlio Ferreira (Inconformado Encartado) uma das redes sociais mais interessantes do momento (até porque sou novo no Twitter), assisti incrédulo ao desmoronar da paz podre que reina Portugal e Brasil. E tudo por causa de uma senhora, de seu nome da senhora Larissa de Macedo Machado e a bandeira de PORTUGAL. Não está aqui em causa uma avaliação artística e fenómeno social que é a personagem Anitta e muito menos o ser humano. Uma história de vida que com toda a certeza dará um filme. Só uma atitude, um momento e a minha indignação. É que ninguém se lembraria de num concerto em Espanha, pegar numa bandeira portuguesa e exibila em palco… “Não saía de lá vivo”. Ao meu comentário com humor e não querendo ofender: “D. Afonso Henriques não deu duas chapadas na mãe para vir a Anitta segurar numa bandeira de Espanha enquanto atua em Portugal”, escrito a quente e depois de ver e rever as vezes suficientes para ter a certeza que algumas desculpas foram só…parvas. Reagiram à publicação de forma positiva, quase duas mil pessoas e 240 espalharam pelo Mundo a minha opinião crítica, mas sincera, ao que tinha acontecido naquele palco. Mas este mesmo comentário também parece ter estimulado uma tríade de ofensas à nossa pátria, aos ALGARVE INFORMATIVO #346

nossos bons costumes e princípios. Alguns dos nossos «irmãos» brasileiros brindaram-me com: “inseguros”, “dramáticos”, que Portugal “devia ter sido um califado de Córdoba”, “pais xenófobo e racista”, já para não falar sobre o habitual e fofo, “devolvam o nosso ouro”. A senhora Larissa de Macedo Machado e a sua máquina de marketing ainda tentaram minimizar os estragos, vindo a público para desculpar o sucedido e dizer: “Ixi, acabei de saber que tinha uma treta entre Portugal e Espanha…”. Mas o mal estava feito e o caldo entornado! Aos que moram e trabalham em Portugal, o que vão ler de seguida não será novidade, mas para os outros, que nos visitam ou que possam hipoteticamente ler este artigo nesse belo país que é o Brasil, ficam a saber que só nós, os «tugas» podemos (e adoramos) dizer mal do nosso país. Porque ser Português é ter o melhor jogador de futebol do mundo, não gostar muito dele até vir alguém de fora criticar. Porque ser Português é ouvirmos um estrangeiro dizer que bitoque não é grande prato ou afinal as sardinhas têm muitas espinhas e espumamos logo pela boca como se estivessem a dizer mal da nossa mãe, ou pior… como se estivessem a dizer mal do Benfica. Nós, os portugueses, podemos não ter a organização dos suíços, o rigor dos alemães e a pontualidade dos 152


britânicos, mas que somos um povo muito mais simpático e caloroso que esta «cambada» toda, disso não tenho dúvidas. E ser português é isso. Ser português é ser muita coisa. Ser português é ter na guelra o sangue quente arrefecido durante muitos anos por uma ditadura. Ser português é ter poesia de revolução e fazê-la sem violência e de cravo na mão. 153

Senhora Larissa de Macedo Machado, eu (e a maioria dos portugueses) gosto de muita coisa de Espanha. Para além dos caramelos, gosto da energia, do sentido de honra e do orgulho que eles têm em tudo o que é deles. Às vezes perdem-se num certo ridículo com isso. Adoro ouvir cantar em castelhano. A par do Italiano, acho uma língua com uma musicalidade quente que é muito sedutora. Rosana, Rosario Flores, Luz Casal, La Frontera, La Union, La Oreja de Van Gogh, Alejandro Sanz e tantos, tantos outros nas mais variadas áreas… isso não está em causa. Mas uma bandeira de um país que não é o meu, desfraldada daquela forma...caiu-me como uma agressão, quase. Aos olhos dos portugueses, eles foram os verdadeiros bárbaros do planeta, consistentemente ao longo de gerações. E não penses que por andarem aparentemente quietinhos nos últimos 70 anos a malta se esquece do que fizeram aqui, desde os Reinos de Castela e Aragão. Não sabemos bem como se lembraram de tal coisa, mas a dada altura os espanhóis, decidiram desatar a fundar «merdas» na península ibérica e chacinar ALGARVE INFORMATIVO #346


os mouros, que já cá estavam antes deles, até conseguirem pô-los definitivamente fora da península. Se a isto juntarmos a chacina dos Astecas, os Incas e os Maias, veremos que alguns genocídios no século XX, são capazes de ter sido uma brincadeira de crianças. Tiveram azar, quando nasceu o «tuga» Afonso Henriques, que tinha a mania que havia de ser rei de alguma coisa e que acabou por fundar (e ainda bem) Portugal. Fundar, naquele tempo, era sinónimo de andar à porrada. Foram estes nossos vizinhos, que inventaram o primeiro «franchise». Não estou a falar da Telepizza, Pull & Bear, Zara ou Mango. Mas dessa sinistra instituição da Inquisição. Acabaram com a elite cultural do país, roubaram o dinheiro todo aos judeus e num exercício de puro fanatismo religioso que deixaria a Al Qaeda com complexos, começaram a perseguir, a prender, a torturar, e a queimar pessoas, na maioria das vezes, só porque sim. A determinada altura, decidiram que queriam mandar e desataram a ocupar, pilhar e matar à escala multinacional. Nós nessa altura tivemos o azar de ter um puto reguila no poder que, cheio de fé, decidiu ir de peito feito de encontro aos árabes em Alcácer Quibir… lixou-se. E lixou-nos durante 60 anos porque tivemos que levar com os espanhóis a mandar no país. Durante o tempo em que governaram Portugal, os espanhóis não investiram aqui um cêntimo e deixaram a coisa numa espécie de autogestão controlada. Quer dizer que houve duas gerações de portugueses que nasceram e morreram com o castelhano como língua ALGARVE INFORMATIVO #346

oficial do país. Resumindo e concluindo, os verdadeiros descobridores não fomos nós, foram os espanhóis. Os espanhóis massacraram civilizações inteiras, por causa do tal metal dourado, e em nome de uma religião que já naquela altura estava obsoleta. Mas nós também cometemos imensos erros ao longo de quase 900 anos de história em que «demos novos mundos ao mundo». Mas este «ser português», foi desde sempre, não ter medos, nem complexos da nossa pequenez territorial. Ser português sempre foi e será, desenrascar, achar, descobrir, sonhar e inventar com o mar no horizonte. Foi assim que a caminho da Índia, acabámos no Brasil. Todos sabemos que no próximo concerto em Portugal terás plantadas entre a multidão dezenas de bandeiras portuguesas, que levarás para o palco. Mas quando a mostrares aos milhares que estarão à tua frente, tem sempre na memória que para nós a bandeira de Portugal, não é só “…um pedaço de pano” como tristemente, um cantor português escreveu, não te deixes enganar. É muito mais que isso! Para nós o patriotismo nunca será uma treta! Em quase 900 anos de história, ficámos e ficaremos sempre ofendidos quando se enganam nas cores, no nome ou por pura ignorância, pensam que somos uma província de Espanha. Isso é que não! Com mais ou menos fervor, mas sempre com muito orgulho, batendo no peito e aquele nó na garganta, gritaremos sempre SOMOS PORTUGAL! .

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Da santidade da água Dora Nunes Gago (Professora Universitária) “Aprendi a arte de jogar com as palavras lançando-as à água, como pedras, para ver como saltam, ou se afundam, ao acaso da mão que as lança. E penso no que aconteceria se, em vez das pedras polidas da ria, fossem versos o que eu lançasse”. (…) Nuno Júdice, «Analogia aquática» in A Convergência dos Ventos título desta crónica foi colhido da enorme instalação de desenho da autoria do artista João Ribeiro, intitulada precisamente «a santidade da água», com a qual me deparei, um pouco por acaso, na Sala de Exposições da Biblioteca FCT Nova do Campus Caparica, onde se encontra patente ao público até 21 de Julho. Nela deparamo-nos com uma simbiose, uma fusão original e profícua entre Ciência e Poesia, “potenciando-se a Arte Pela Ciência e vice-versa”, tal como é referido numa conversa com o artista transposta para o folheto, da autoria de José J.G. Moura. Assim, as imagens das moléculas, iões positivos e negativos, átomos, apresentados em ALGARVE INFORMATIVO #346

duas dimensões, remetendo depois para o 3D, formam-se painéis justapostos à semelhança de um puzzle, recriando um mundo aquático que poetiza a água e a transcende simultaneamente. Encontramos, deste modo, representadas as «ribeiras» de Nuno Júdice, Herberto Hélder, Miguel Torga, Fernando Pessoa, Sophia de Mello

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Breyner, Jorge de Sena, Luís Filipe Sarmento, Alexandre O ‘Neil, entre outros poetas portugueses, mas também de vozes de outros países, como é o caso de Miguel de Unamuno, Paul Valéry, etc. Por conseguinte, além do desenho como ponte entre as áreas diversas, esta sede de desenhar, de criar, evidenciada na exposição assume-se também como homenagem à fonte de vida, a um dos bens mais preciosos existentes no nosso planeta, que foi também um factor determinante na fixação de povos e comunidades ao longo da História da Humanidade. Contudo, sabemos que a água se vai tornando cada vez mais escassa, sendo essa escassez, fruto das alterações climáticas, intimamente ligadas também à poluição, um dos graves problemas actuais que se agravará num futuro cada vez mais próximo. Aliás, também recentemente decorreu a Conferência sobre os Oceanos da ONU, em Lisboa (entre 27 de Junho e 1 de Julho), norteada pelo objectivo principal de contribuir para a conservação, a utilização de forma sustentável dos oceanos e dos recursos marinhos, procurando incentivar soluções inovadoras baseadas na ciência. 157

E, na verdade, urge cada vez mais que se desenhem soluções, num momento em que Portugal se encontra em estado de seca severa, sendo esta situação ainda mais grave no sul (Algarve e Alentejo), como todos sabemos. Apesar disso, continuam a ver-se, um pouco por todo o lado, atitudes que revelam uma falta de consciência da importância da água e do facto de se tratar de um recurso precioso, vital, mas esgotável. Por isso, antes que principie a secar nas torneiras, importa que, além das palavras jogadas à água, presentes no excerto do poema de Nuno Júdice, se pratiquem também acções para a sua preservação . ALGARVE INFORMATIVO #346


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #346

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ALGARVE INFORMATIVO #346


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