Revista Perspectivas - 1

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ERSPECTIVAS UEMG - unidade Divinópolis - ano 1 - nº 1- fevereiro a bril de 2021 PAEx 01/2020 e Multimidídia - Agência/Laboratório do curso de Jornalismo

Olhos para o céu: projetos de pesquisa em Desing promovem divulgação cientíca e muita diversão E ainda: Foto: Anderson Horta

. Astros e planetas se tornam personagens de animação e história em quadrinhos . A inclusão por meio da ressignificação de brinquedos


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EXPEDIENTE: UEMG – unidade Divinópolis - Ano 1 – nº 1 – fevereiro a abril de 2021 – Publicação trimestral do projeto de extensão “Jornalismo transmídia: criação, produção e vivências jornalísticas”, desenvolvido com recursos do Edital 01/2020 do Programa Institucional de Apoio à Extensão da UEMG (PAEx) e realizado via Laboratório de Jornalismo Multimídia do curso de Jornalismo – Coordenação: Daniela Martins Barbosa Couto (MG 9.994 JP) – Bolsista de extensão: Roberta Carvalho Santos – Contato: perspectivasuemg@gmail.com / daniela.couto@uemg.br.

a ressiginificação por meio do design

Brinquedos para inclusão:

literatura em movimento

Borrachalioteca:

projeto apresenta a astronomia para crianças

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SUMÁRIO

Animando o ano da luz:

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históira, cutlura e ciência

LABORATÓRIO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA - UEMG DIVINPOLIS

o design enquanto mediador de interações

HISTÓRIAS EXPERIÊNCIAS EM CONTAR

Observatório astrônomico Frei Rosário:

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Mobilário, versatilidade e inclusão:

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Dança:

“Perspectivas”:

EDITORIAL

produção jornalística se expande com narrativas transmídias

das cadeiras

nham desdobramentos no portal e na produção digital, todos denominados de ‘Perspectivas’. A transmídia, aplicada ao jornalismo, constrói uma rede com pontos em comum, mas autônomos. Assim, diferentes mídias e formatos se integram, mas, mesmo com a inter-relação entre eles, a independência de cada história se mantém”, explica. Considerando esse novo contexto, o “Perspectivas” ganhou nova identidade visual, presente em todas as mídias usadas. A elaboração da marca foi uma das atividades realizadas pela bolsista de extensão do projeto, Roberta Carvalho Santos. Para o programete de TV, a trilha da vinheta se manteve, a fim de promover a continuidade da identidade sonora da produção, mas as cenas utilizadas para a aber-

tura foram substituídas pela técnica de animação gráfica da marca, trazendo para o produto audiovisual o caráter de composição, integração e complementaridade previsto na proposta do jornalismo transmídia, além de aspectos imagéticos que remetem à cultura digital. A primeira série de programetes se agrupa em torno do tema “Pesquisa: a ciência no dia a dia” e as histórias contadas se referem a alguns projetos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa Design e Representações Sociais, do Programa de Pós-Graduação em Design da UEMG, em Belo Horizonte. Já esta revista traz detalhes de quatro projetos e, ainda, uma reportagem especial sobre a inclusão por meio da ressigniciação de brinquedos. Boa leitura!

Acervo pessoal: Anderson Horta

O programete de televisão “Perspectivas”, sob a coordenação da professora Daniela Martins Barbosa Couto, é desenvolvido desde 2017 por meio do Laboratório de Jornalismo Multimídia, do curso de Jornalismo da UEMG – unidade Divinópolis. Conforme ela observa, “o objetivo da produção é promover a divulgação científica relacionada a iniciativas desenvolvidas na universidade”. E a partir de 2021, a proposta obtém novos desdobramentos por meio da narrativa transmídia que, com a convergência de diferentes mídias, complementa, aprofunda e amplia o conteúdo, aproveitando as potencialidades e as linguagens próprias de cada uma. “Desse modo, as histórias, antes contadas apenas pelo programete de TV, ga-

integração, versatilidade e diversão

MOBILIÁRIO


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MOBILIÁRIO

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o contrário da tradicional brincadeira de roda, a dança das cadeiras aqui busca incluir os estudantes nas salas de aula, artes e biblioteca. É que as trocas que acontecem com os diferentes mobiliários permitem uma integração entre aqueles que os usam: a diversidade realiza, assim, seu papel agregador. Os móveis podem gerar diferentes composições e interferem tanto na maneira como as interações humanas acontecem, quanto no modo de utilização do espaço.

Nesse contexto, armários, mesas e cadeiras aliam brincadeira, segurança e organização. As cadeiras são coloridas e têm carinhas diferentes: são três modelos, projetados para atender aos diferentes tamanhos do público infantil. Além disso, promovem a alternância dos grupos, o que gera uma interação maior entre a turma. Os armários, além da função de guardar objetos, tornam-se tanto murais para desenho e escrita, quanto para exposição de trabalhos feitos pelas crianças. Outra função que pode ser dada a eles é o de di-

visória, dependendo da atividade a ser realizada. O mobiliário é feito de placas de tubos de pasta dental, material reciclado e reciclável, característica que o torna também ecologicamente correto. Foi assim que, entre 2013 e 2015, o projeto de pesquisa “Educação, sustentabilidade e diversidade cultural na escola”, desenvolvido pelo grupo de pesquisa Design e Representações Sociais, do Programa de Pós-Graduação em Design da UEMG, propôs mudanças significativas em espaços escolares e nas interações neles realizadas. Na descrição do projeto, a coordenadora e líder do grupo, professora Rita Ribeiro, observa que a proposta foi “criar uma linha de mobiliário para escolas públicas, voltados para as salas aulas, de biblioteca e sala de artes, que traga em si o conceito da diversidade, mostrando que todos são iguais, porém diferentes”. A iniciativa foi realizada por meio de uma parceria do Grupo de Pesquisa com a Escola Municipal Henfil, em Belo Horizonte que, à época, atendia aproximadamente 200 crianças entre dois e cinco anos. O apoio financeiro para o desenvolvimento das atividades veio da Fapemig.

o céu Olhe

ASTRONOMIA

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lhe para o céu: o design criando interfaces para a divulgação da astronomia” foi um projeto de pesquisa que teve como foco o Observatório Astronômico Frei Rosário, localizado na Serra da Piedade, em Caeté, Minas Gerais. A proposta, que contou com o financiamento do CNPq, foi desenvolvida por meio da parceria entre o Grupo de Pesquisa Design e Representações Sociais, do Programa de Pós-Graduação em Design da UEMG, e o Grupo de Astronomia UFMG/Icex/ Física, que administra o Observa-

Acervo pessoal: Anderson Horta

tório. Entre as produções do projeto, estão a identidade visual do Observatório, desenvolvida pelo filósofo e designer Sérgio Luciano da Silva. Há, também, duas ediçõe do almanaque: uma, que contém, entre outras informações, curiosidades sobre a lua e o modelo de um telescópio para ser feito em casa, projetado pelo designer Anderson Horta, e, outra edição, com foco nas estrelas. Os produtos, elaborados para crianças a partir dos oito anos, incentiva o contato com os fundamentos das Ciências no Ensino Fundamental e desperta nelas o interesse pela astronomia.

Observatório Astronômico Frei Rosário Ana Luísa Lisboa O Observatório Astronômico Frei Rosário (OAFR) é um laboratório vinculado ao Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que está localizado no alto da Serra da Piedade, no município de Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Inaugurado em 9 de novembro de 1972, o OAFR, que anteriormente era conhecido como Observatório Astronômico da Piedade (OAP), teve grandes idealizadores e incentivadores durante a sua construção. Dentre os diversos professores, profissionais da área e admiradores do projeto, dois se destacam: o professor Francisco de Assis Magalhães Gomes, que assumiu a construção do OAP como se fosse um compromisso pessoal, e o frade dominicano Frei Rosário Joffily, que além de reitor do Santuário de Nossa Senhora da Piedade, foi também um dos principais entusiastas do Observatório. Em homenagem à sua morte, em 2000, o antigo OAP, recebeu o nome do frade dominicano e passou a ser chamado, oficialmente, de Observatório Astronômico Frei Rosário, também no mesmo ano. Com a sua inauguração em 1972, a proposta inicial do Observatório era ser um espaço destina-

do para a realização de pesquisas em astrofísicas, utilizado pela comunidade científica e universitária da UFMG. Porém, a partir da década de 90, o foco das atividades do OAFR passou a ser outro e, desde então, ele tem sido usado exclusivamente para a divulgação e valorização dos estudos científicos voltados para a astronomia. Atualmente, o Observatório é considerado um dos principais locais de ensino e de incentivo à astronomia em Minas Gerais, oferecendo ao público externo, à comunidade leiga e universitária, cursos referentes ao assunto e programas permanentes de visitação em grupos de pessoas de todas as regiões do país em dias pré-determinados. De acordo com Tambasco (1999, p. 149), nessas visitas eram realizadas palestras, exibidos filmes e outros materiais didáticos, além de visitação aos telescópios para observações de corpos celestes, especialmente em noites de eventos astronômicos. No primeiro sábado de cada mês e em eventualidades astronômicas importantes, o observatório era aberto ao público, sem necessidade de agendamento. Porém, há alguns anos, o OAFR interrompeu o evento “Observatório Aberto ao Público”, e não retomou desde então.


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Breve história da Serra da Piedade

Acervo pessoal: Anderson Horta

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ocalizada no município de Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a Serra da Piedade – um dos picos mais altos da Cordilheira do Espinhaço, com 1746 metros de altitude – é considerada um importante monumento natural do estado e possui grande importância histórica, cultural, religiosa, arquitetônico, paisagístico e ambiental. Descoberta no século XVII, a Serra é vista por muitos fiéis como um espaço sagrado, uma vez que acomoda bem no topo, o Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, que abriga a Padroeira de Minas Gerais, Nossa Senhora da Piedade. Além disso, durante muitos anos, devotos alegavam aparições da Santa nos arredores do Santuário e, também por isso, o local é considerado sagrado. Em 1956, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), tombou o Santuário de Nossa Senhora. Porém, anos depois, em 2010, o mesmo Instituto ampliou o decreto de tombamento para os demais conjuntos arquitetônicos e paisagísticos da Serra, e em 2012, o Governo de Minas declarou o Santuário como um atrativo turístico de relevância no Estado. Além de ser um local religioso que abriga a menor Basílica do mundo, a Serra da Piedade ainda comporta outros monumentos e prédios importantes da cultura e história de Minas, como a Igreja Nova das Romarias, a Capela Ermida da Padroeira, a cripta São José e o Observatório Astronômico Frei Rosário (OAFR).


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Reprodução: Almanaque do Observatório, ano MMXV, páginas 14 e 15. / Projeto: Anderson Horta

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Brinquedos, músicas e animação: a divulgação científica eo universo como espetáculo

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a história, o Sol é um popstar e junto aos demais planetas e astros do sistema solar, realiza um grande festival de música. Na animação, essa história ganha vida, movimentos e sons. E, nas mãos das crianças, os astros e planetas adquirem formas e por meio do recorte e da montagem, se tornam tanto brinquedos, quanto móbilies e enfeites. Junto a tudo isso, a astronomia fica mais próxima do público e desperta não só a curiosidade, mas também constrói conhecimentos sobre o universo, os quais, na história em quadrinhos, também são apresentados de forma lúdica e divertida. As produções foram realizadas pelo projeto “Animando o ano da luz: o design apresenta a astronomia para crianças”, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Design e Representações Sociais do Programa de Pós-Graduação em Design da UEMG, e o

Grupo de Astronomia UFMG/Icex/Física, que administra o Observatório Astronômico Frei Rosário, na Serra da Piedade, em Caeté, Minas Gerais. Conforme descrição feita pela líder do grupo de pesquisa DRS e coordenadora do projeto, professor Rita Ribeiro, a proposta é “apresentar às crianças os primeiros fundamentos da astronomia, tendo como foco principal, a luz e seus desdobramentos na vida de nosso planeta e das galáxias”. Dessa maneira, ainda conforme informações disponibilizadas por Rita Ribeiro, o projeto “busca aliar o conhecimento específico acerca da Astronomia aos processos de construção simbólica do Design adaptando-os às linguagens e comunicações que permitam apresentar um universo do conhecimento da Ciência para crianças em seus primeiros contatos com o ensino formal”.

Ilutração: Délcio Almeida


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LITERATURA

Borrachalioteca sobre rodas

Reprodução: TOYS / Projeto: Anderson Horta

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m Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, o gosto pela leitura fez surgir uma biblioteca comunitária dentro de uma borracharia: Túlio Damascena, filho do dono da borracharia, ao perceber que os clientes do estabelecimento tinham interesse pelos jornais que lá ficavam, decidiu disponibilizar alguns também, o que agradou não só a clientela, mas também a comunidade local. A iniciativa ganhou fôlego, aumentou o acervo por meio de doações, disponibilizou empréstimos de livros para a população e, em 2007, recebeu o Prêmio Viva Leitura, que integra o Plano Nacional do Livro e Leitura, iniciativa do Ministério da Educação e Cultura (MEC). A borrachalioteca despertou também o interesse do Grupo de Pesquisa DRS, que propôs o projeto de pesquisa “Redesenhando a Borrachalioteca”. Assim, entre 2013 e 2016, as ações foram desenvolvidas e tiveram como resultado uma proposta de mobilidade que permitiu que a borrachalioteca ganhasse outros espaços: é a BSR, ou seja, a Borrachalioteca Sobre Rodas. Conforme exposto pela coordenadora do projeto, professora Rita Ribeiro, “o Design se torna a linguagem dominante para promover a inovação. Assim, sua função social transcende a forma e passa a pensar no projeto como parte de uma cadeia de valores sociais, que privilegia o humano. A Borrachalioteca, foco do nosso trabalho, pode bem exemplificar como os valores se misturam e transformam o ambiente e como o design é um agente nesse processo”.


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INCLUSÃO

Brinquedos com novos padrões se tornam ferramenta contra a exclusão social da pessoa com deficiência; pesquisa acadêmica aborda o design inclusivo

Paulo Vitor Souza “Conseguir atingir uma maior abordagem sobre a diversidade humana é inerente à natureza humana”, observa a designer Clara Lins em sua pesquisa de mestrado, intitulada “Ressignificação dos brinquedos infantis: design para diversidade e inclusão social de crianças com deficiência física”. O trabalho disserta sobre a inclusão de crianças com deficiência física através da ressignificação no design de brinquedos. Umas das pautas mais prementes na sociedade, a inclusão social, como defende Clara Lins, passou a ser uma necessidade humana. Isso para superar os padrões convencionados socialmente. Por si só, a inclusão trata-se de meios e maneiras de combate a qualquer forma de exclusão provocada por algum tipo de preconceito a certo grupo. Mas como criar caminhos para a inclusão social? Unir, seria a palavra cuja ação remete a ações importantes nesse contexto. No Brasil, por meio de políticas de ações afirmativas, o poder público aplica uma série de medidas para assegurar a participação efetiva de pessoas excluídas do meio social, seja por alguma deficiência física ou

Ressignificar para incluir

mental, cor da pele, orientação sexual, gênero ou poder aquisitivo. Mas, mesmo com a implementação de leis que ataquem a exclusão social, a realidade carrega uma série de desafios cotidianos para indivíduos que ainda não participam do debate público dentro da c o mu n i d a d e, e isso acontece várias vezes por causa de preconcei tos socialmente compartilhados. Abordar para incluir Há diversas formas de abordar a questão da inclusão social. A dissertação de Clara Lins reafirma o papel da pesquisa acadêmica para criar perspectivas concretas para o enfrentamento das desigualdades e exclusão sociais. Em sua abordagem, a designer e pesquisadora se debruça sobre os desafios de crianças com deficiência física. A proposta é de estimular a criação de brinquedos que criem

INCLUSÃO

Divulgação/ Site Tina Descolada

identidade com estas crianças, por meio de pesquisa acadêmica e estudos de casos. Como análise de caso, Clara Lins se utilizou de conceitos de sua área de estudo, o design. A partir disso, identificou aspectos em que a área provou ser uma ferramenta de inclusão a partir de ressignificações de figuras do mundo infantil e, até mesmo, com a adição e construção de novos personagens. Ela cita, por exemplo, a boneca Beck, que em 1997 foi desenvolvida pela Mattel. A

ideia era auxiliar na autoestima de milhares de crianças que não se identificavam mais com a boneca Barbie. Daí é que veio a criação de uma amiga da boneca mais famosa do mundo. Com uma cadeira de rodas e mochila, a boneca alcançou sucesso imediato, mas não se consolidou. A boneca cadeirante não tinha nenhuma forma de acessibilidade dentro da casa da Barbie. A empresa prometeu corrigir as entradas das portas e o acesso ao elevador, mas não cumpriu com o

compromisso. A história de Beck ilustra com fidelidade o desafio diário de ser um indivíduo com algum tipo de deficiência. A nível nacional, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência delimita inúmeras ações com o intuito de trazer para dentro do debate e participação cidadã a pessoa com deficiência. A lei prevê por exemplo a avaliação biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar, com o intuito de assegurar e promover, em condi-


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INCLUSÃO ções de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Mesmo com todo o aparato legislativo sobre a questão, iniciativas sociais são as que mais auxiliam na linha de frente pela inclusão social. É dessa maneira que surge a persona “Tina Descolada”, que Clara Lins utiliza para análise de caso em sua dissertação. Tina é uma boneca jovem e cadeirante. Segundo sua criadora, a psicóloga Marta Anísia Alencar, a ideia central para o surgimento da personagem Tina foi a necessidade de criar uma identidade positiva sobre a deficiência. A psicóloga trabalhou 22 anos na Associação Mineira de Reabi-

litação (AMR) e argumenta que durante sua atuação experimentou situações em que pacientes ainda não conseguiam aceitar algum tipo de deficiência física. “O ‘nascimento’ da Tina foi a partir de uma demanda de uma paciente da AMR, que necessitava de usar a cadeira de rodas e não aceitava o equipamento. Para ajudá-la na sua dificuldade, comprei na web uma boneca cadeirante. Assim começa o processo e a trajetória de vida da Tina Descolada. A aceitação da cadeira de rodas por essa paciente foi o primeiro passo para entender o valor que o brinquedo tem para essas crianças. Pouco tempo depois outras bonecas/os com outras características foram customizadas de acordo com as demandas”, comenta. A necessidade de haver maior

abordagem da natureza humana que Clara Lins defende é reafirmada. Segundo Marta, Tina Descolada despertou o sentimento de identidade aos alunos. “Uma criança não aceitava o uso da bengala para se locomover; utilizei de uma boneca usando bengala para motivá-la. Ao ver o brinquedo em sua frente, ela reagiu com alegria e disse: ‘- oh, sou eu!’. Ao se ver representada no brinquedo, ela se reconhece e externaliza de maneira lúdica sua dificuldade emocional, ao expressar ela ‘desbloqueia’ um sentimento que a impedia de usar o equipamento que ajudaria na evolução de sua reabilitação”, relata. Para além de uma simples ressignificação de um personagem está toda uma carga simbólica importante para o tratamento de pessoas com deficiência e também para a erradicação do estigma social que estas pessoas enfrentam diariamente. Marta Alencar fala do legado que Tina está deixando. “O maior legado é a constatação do valor que o brinquedo inclusivo tem na construção de uma identidade positiva para as crianças com deficiência. Outro legado em construção é mostrar que o ser humano está para além de sua performance física, pois o que realmente nos enriquece e nos humaniza são as relações que estabelecemos com empatia, compaixão e respeito às diferenças”, ressalta. Projeto

ciativas tentam romper as barreiras da exclusão social. A personagem criada por Marta Alencar é mais um esforço em busca de melhor compreensão social acerca da pessoa com deficiência. Ela observa que “a nossa sociedade é capacitista, ou seja, ainda temos preconceito e discriminamos as pessoas com deficiência, porque erroneamente pensamos que elas são inferiores ou incapazes. Essa mentalidade, que é estrutural, pode afetar também as próprias pessoas com deficiências (capacitismo interno, elas interiorizam esses preconceitos sobre si mesmas), mas atinge principalmente as pessoas sem deficiências. Com a personagem Tina Descolada, procuro levar reflexões com objetivo de desconstruir essa imagem negativa e

mudar essa mentalidade. As suas atitudes têm o propósito de naturalizar as diferenças, mostrar que somos todos pessoas, embora com características e necessidades específicas e o que precisa se adequar são os ambientes e o respeito à elas”. A mensagem trazida por Tina Descolada faz jus ao nome da personagem. Como qualquer outra pessoa, é possível ser descolado, andar na moda, realizar tarefas de casa, assumir compromissos profissionais e se sentir pertencente a uma comunidade. Embora Tina Descolada seja uma ‘cidadã belo-horizontina’, sua marca chega a inúmeras pessoas pelo Brasil. Através de site e redes sociais, Marta Alencar realiza outros projetos com o objetivo de alcançar ainda mais

para uma sociedade

inclusiva

Em todo o país, inúmeras ini-

Tina Descolada é uma criação da psicóloga mineira Marta Alencar

pessoas. Além de educação para uma mentalidade inclusiva que propõe em posts nas redes sociais, a psicóloga realiza ações como oficinas (corações solidários, literatura/histórias inclusivas), palestras, exposições de fotografias e de brinquedos. Sobre a ressignificação de brinquedos para a inclusão, ela considera que o processo avança ainda que de maneira lenta. “Acredito que o movimento da inclusão das minorias e pessoas fora dos padrões impostos pela sociedade fez surgir a demanda por essa representatividade. A partir dessa demanda as indústrias começaram a fabricar esses brinquedos, porém é um processo lento, considerando que dificilmente encontramos esses brinquedos nas lojas do ramo”, finaliza.


REALIZAÇÃO:

Programa Institucional de Apoio à Extensão (PAEx) - Edital 01/2020 Projeto Jornalismo transmídia: criação, produção e vivências jornalísticas Multimídia - Agência/Laboratório de Jornalismo do curso de Jornalismo da UEMG - Divinópolis (MG) Coordenação, projeto editorial e gráfico, e diagramação: Daniela Martins B. Couto 2021


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