Revista Intervalo

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Revista Experimental - UEMG Divinópolis - Curso de Jornalismo – 3º período – 1º semestre de 2016

Copacabana a céu aberto: o retrato de uma realidade mineira ...20...

Por trás das bancas : o que falta para muitos, é desperdiçado diariamente.......8

Talentos musicais:

interior se revela na diversidade

Igualdade em campo: a inserção da mulher no esporte

Futebol americano: o esporte do Norte em terras tupiniquins 36............


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A palavra A revista O caminho

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ntervalo, em sentido de dicionário, é aquele espaço que separa duas ou mais coisas, sejam elas semelhantes ou diferentes; espaço que também pode separar fatos, momentos, épocas e, ainda, no caso da música, a distância entre dois sons. Na universidade, é a pausa entre as aulas, o fragmento de tempo preenchido por assuntos diversos, os instantes que podem ser tanto de entretenimento quanto de discussão sobre temas sérios vistos no decorrer do dia.

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or isso, a palavra “intervalo” foi escolhida para conceituar e nomear a revista experimental produzida pela turma do 3º período de Jornalismo da UEMG - unidade Divinópolis, nas disciplinas de Oficina de Jornalismo I e Técnicas Gráficas. A escolha pela produção de uma revista considerou o fato de que tal meio envolve um tempo maior para a produção jornalística, permite o aprofundamento de temáticas e possibilita ao leitor informações mais contextualizadas e sob perspectivas ainda não discutidas.

Expediente Revista Experimental INTERVALO – Ano 1 – nº1 – 1º semestre de 2016 – 3º período do curso de Jornalismo – Trabalho interdisciplinar realizado nas disciplinas de Oficina de Jornalismo I e Técnicas Gráficas – Professora-orientadora e jornalista responsável: Daniela Couto (MG9.994JP) – Logotipo da revista e iconografia da página 3: Ariana Coimbra, Carla Corradi, Júlia Resende, Miriele Fernanda Alves e Sallatiel Florentino Santos – Fechamento do conteúdo produzido nesta edição: maio de 2016. A edição e diagramação foram realizadas no mês de junho e a arte-final, em julho de 2016.

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a linha editorial à arte-final, a revista INTERVALO foi o resultado de um trabalho coletivo realizado em sala de aula. Por meio de brain storn, surgiu o nome, e após as considerações sobre editorias, vieram as pautas, cuja seleção considerou, como critérios de noticiabilidade básicos, o interesse público, a relevância social, o marco geográfico, o interesse humano e a proximidade. As produções foram sendo aprimoradas durante as aprendizagens sobre redação e edição jornalísticas, e com as atividades práticas de editoração eletrônica, a interface entre informação visual e textual ganhou contornos e preencheu o layout de cada página. Os estudantes também definiram a hierarquização das matérias de suas respectivas editorias, diagramaram suas reportagens e, em grupos, produziram sugestões de manchetes e de chamadas de primeira capa. INTERVALO é, pois, este espaço de interação entre teoria e prática que abriu caminho para a aprendizagem do fazer jornalístico. Daniela Couto Jornalista responsável e professora-orientadora


S U M Á R I O

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Comportamento 11 a 15

4 a 10

Gastronomia

Esporte 24 a 37

Saúde e Meio Ambiente

16 a 23

Literatura

43 a 48

38 a 42

Mulher

Música e Cultura 49 a 57


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O

Daniela Couto

saborde

Minas

Dos simples ingredientes à forte tradição mineira

Érica Pereira

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aqui”. “Vai sujar os seus pés com a poeira, mas será limpeza para sua alma!”. Isso tudo o mineiro vai afirmar. Um aperto de mão e um sorriso de satisfação selam, assim, a amizade entre o anfitrião e aquele que o visitou. Em um aceno, ele diz: “Não esqueça o caminho de volta. As portas estarão abertas! O forte e bom café vou preparar, pois para um amigo que aqui chega, a tradição e os costumes mineiros iremos conservar!”, e, dessa forma, retrata a despedida calorosa aos visitantes. Além da hospitalidade, destaca-se a cultura gastronômica mineira, que é única e valoriza o regionalismo: o queijo Canastra das terras de São Roque de Minas, o doce de Araxá, os biscoitos de São Tiago... As receitas, muitas delas, fáceis, envolvem ingredientes simples e preparo no fogão a lenha. Os pratos feitos sem requinte, mas bastante saborosos, carregam muito da história do lugar: a culinária caracterizada pelas cores marcantes, sabor e cheiro intensos e a memória tradicionalmente revelada em deliciosos pratos. O típico cardápio não se restringe apenas aos restaurantes ou feiras, mas fazem parte do cotidiano e dos lares do povo. Revela a arte de cozinhar e a maneira calorosa em receber e acolher dos mineiros.

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Érica Pereira

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fumaça saindo pela chaminé anuncia o momento do preparo da comida no fogão a lenha: panelas de barro, bule, canecas de água fervendo. No cardápio, galinha caipira com quiabo, angu, couve, arroz e feijão, tudo preparado na hora. O cheiro do tempero espalha-se no ar e atrai, quem passa por ali, para a parte mais movimentada da casa: a cozinha. O aroma leva o sabor até o paladar e entre uma conversa e outra, a hospitalidade mineira torna tudo mais agradável. “Venha, vou preparar um cafezinho!”, ou, então, “sente-se conosco à mesa”, é o que se houve dizer. O café é sempre bem-vindo para acompanhar a boa prosa e, com ela, o pão de queijo, a broa e o bolo de fubá, delícias sempre presentes. Quando você pensa que já degustou todas as delícias da cozinha mineira, percebe que ainda há muito o que apreciar: quitandas preparadas no capricho, doce de leite, goiabada, ambrosia, marmelada, queijo fresco… E a lista segue tarde afora… Caminhar entre as trilhas é um convite irrecusável para aquele que quer respirar um ar fresco e se encantar com a beleza natural. “Se possível caminhe um pouco descalço, nem que seja até na porteira, e sinta a terra boa que temos por

Érica Pereira

ÉRICA PEREIRA


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História de uma quitandeira D

ona Fábia Pereira Rosa, 61, quitandeira de mão O desejo em ajudar, segundo conta, “era muito maior do que cheia, aprendeu a arte da culinária com a mãe, Ma- o desejo de possuir e todos sabemos que nada no mundo ria de Lourdes, e a avó, Izidora, ainda quando criança no paga o sentir de uma felicidade plena”. As recordações pertempo vivenciado em Almenara, Norte de Minas. Naquele manecem em sua mente e coração. “As raízes de um mineiro tempo, elas traziam, de longe, balde de água na cabeça, é marca no peito que não se deve apagar”, enfatiza. tanto para cozinhar quanto para se banharem. No quintal, As quitandas feitas por ela conservam as tradicionais plantavam cebolinha, salsa, manjericão, couve, quiabo e, receitas de família: bolos, biscoitos, roscas e doces, tudo também, jiló, especiarias colhidas na horpreparado com muito carinho, de modo ta que contribuíam para um prato mais saartesanal. E nos cadernos de receitas “As raízes de um mineiro boroso – e sem agrotóxicos. Ela relembra encontra também as lembranças de sua é uma marca no peito que das brincadeiras até o entardecer, mistuinfância: o bolo e a broa de fubá delicionão se deve apagar” radas a doses de suor, poeira e intensa felisamente acompanhados com um cafezicidade. E depois de um banho de água na caneca, se reunia nho feito na hora. O sabor de cada quitute é memória. A com a família na cozinha e degustava um prato de bolinho quitandeira revela o zelo em manter a tradição familiar, frito bem quentinho, acompanhado de um café delicioso. da escolha dos ingredientes ao preparo das quitandas tiFábia revela ter tido o sabor de uma infância bem vivi- picamente mineiras. Assim, ela tem passado para as filhas da, naquela terra do Norte mineiro, embora em tempos difí- o seu conhecimento sobre as receitas e deseja também ceis financeiramente, em uma família grande e com poucos passá-los para as netas. É com alegria que propõe deixar recursos. Mas foi em meio a essa simplicidade que ela e os seu legado à gerações e futuras. “As receitas típicas nos sete irmãos aprenderam a valorizar tudo o que possuíam e a identificam e trazem memórias e conservá-las nos permicompartilharem com aqueles que pouco - ou nada – tinham. te conservar nossas raízes”, orgulha-se.

Receita de bolo de fubá

Ingredientes: . 3 ovos . 1 xícara de óleo . 2 xícaras de farinha de trigo . 1 xícara de leite . 5 ¹/² xícaras de açúcar . 1 xícara de fubá . 1 colher de sopa de fermento em pó . Observação: se quiser, acrescente erva doce

Érica Pereira

Modo de Preparo: . Bater tudo na batedeira e depois incorporar o fermento. Despejar em forma untada e enfarinhada e assar em forno previamente aquecido.

Fábia Pereira Rosa, 61, quitandeira. UEMG Divinópolis - Curso de Jornalismo – 3º período – 1º Semestre de 2016

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Da satisfação em produzir ao prazer em degustar

Agricultura familiar promove segurança alimentar e é responsável por 70% do consumo de alimentos dos brasileiros GUILHERME SILVA

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cessidades de seus clientes. Seus dois filhos e sua esposa são quem o auxilia no cultivo diário de sua horta. A agricultura familiar é justamente essa produção realizada por pequenos produtores empregando, em geral, mão-de-obra relacionada com o núcleo familiare e que está representada pela história de José. A comercialização dessas leguminosas, geralmente, se dá no mercado regional porque utiliza áreas menores para produção, assim como faz o agricultor de São Chico. “Gosto de levar minhas mercadorias de manhã, pois estão mais frescas e os clientes gostam”, entusiasma-se. O lema de José é produzir com qua-

lidade e, para isso, o agricultor conta com o apoio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), uma das primeiras políticas de incentivo e fortalecimento à agricultura no Brasil. O programa é resultado de mobilização nacional de várias organizações representativas da agricultura familiar que pretendiam estabelecer condições para a restruturação socioeconômica desse público, reafirmando, também, a importância do acesso ao crédito para ampliar o número de unidades de produção familiar em condições de gerar renda e ocupação no meio rural com qualidade de vida.

Guilherme Silva

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e a pulga atrás da orelha está em relação à agricultura familiar, vamos tirá-la de lá através da história de José Faustino. José é agricultor familiar e mora em São Francisco de Paula, mais conhecida como São Chico, uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. Ele mora ali desde que nasceu e vem de uma família muito simples: seu pai foi quem deixou de herança o pequeno pedaço de terra onde produz leguminosas. Todas os domingos de manhã, o agricultor leva para a feira os alimentos que produz, como alfaces, cenouras, beterrabas, milho verde, couve, cebolinhas, vagem e muitos outros que vão saciar as ne-

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Interação, gastronomia e agricultura familiar

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viços, a gastronomia se transforma e passa a incorporar novas concepções sobre o novo significado do preparo de alimentos. É importante salientar também que ela se apoia no espaço rural com uso de produtos e ingredientes para o desenvolvimento do seu setor e, somente através do beneficiamento e do aproveitamento de todas as formas de produzir alimentos, é que a sociedade é sustentável, contribuin-

do assim para a manutenção de todas as bases agrícolas existentes no meio rural. A qualidade dos alimentos utilizados na gastronomia depende, em grande parte, desses pequenos produtores, assim como José, especialmente daqueles que cultivam ou criam produtos diferenciados que possibilitam aos chefes de cozinha inovarem e expressarem seu trabalho e sua arte culinária.

Fotos da página: Guilherme Silva

gastronomia pode ser influência e, muitas vezes, é influenciada pelo modo de vida, costumes e folclore de cada região. Essa interação com a agricultura familiar contribuirá para a criação de uma identidade territorial que vai abrir portas para gerar emprego e renda. E, por isso, possibilita o desenvolvimento de setores ligados indiretamente ao meio rural e à própria gastronomia. Assim, enquanto prestação de ser-

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FLÁVIO PAULINO DE SOUSA

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quaisquer lugares, que contribuem para a má situação do planeta. Outro ato cometido por milhares de pessoas em todo o mundo é o desperdício de alimentos. Desperdício este que é o terceiro emissor de CO2 do mundo e poderia ser reduzido, em grande escala mundial, se todos tivessem consciência ao jogar um alimento no lixo, seja ele qual for. Segundo relatório de 2013 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO – Food and Agriculture Organization), 1,3 bilhões de toneladas de alimentos são jogados fora por ano no mundo, o equivalente ao desperdício de 750 bilhões de dólares. Traduzido em recursos naturais, consome cerca de 250 quilômetros cúbicos de água e ocupa cerca de 1,4 bilhões de hectares de terra. O Brasil tem 3,4 milhões de brasileiros que estão em situação de insegurança alimentar, o que repre-

senta 1,7% da população. Ainda segundo o relatório da FAO, 805 milhões de pessoas, ou seja, 1 em cada 9, sofre de fome no mundo. Aqui no Brasil, o desperdício de alimentos está presente em toda cadeia produtiva, sendo 10% no campo, 50% ao manusear e transportar, 30% na comercialização e abastecimento e 10% em supermercados e consumidores final. Em nosso país, 26,3 milhões de toneladas de alimentos têm o lixo como destino, sendo a maior perda – média de 45% – de hortifrutis.

O desperdício visto por um comerciante varejista

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Flávio Paulino de Sousa

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situação do nosso planeta não está em boas condições há um bom tempo. A temperatura aumenta gradativamente devido ao comportamento adotado pela maioria da população, que não tem a postura de, na maioria das vezes, promover ações benéficas para seu próprio planeta. Vale ressaltar que, apesar das grandes indústrias que são as principais contribuintes para a poluição, o simples ato de jogarmos um papel de bala no chão acarreta grandes consequências no decorrer do tempo, principalmente, em períodos chuvosos, pois se acumulam em bueiros junto aos milhares e milhares de outros elementos que são jogados em vias públicas de grandes e pequenas cidades todos os dias. Mas não são apenas os gases produzidos pelas grandes indústrias junto aos atos de jogarmos objetos em

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O lixo é realmente o destino certo?

comerciante que já trabalhou na área de varejão e hortifruti por 30 anos na cidade de Divinópolis, Minas Gerais, Jesus Antônio Alves, 55, nos relatou, em entrevista, que antes o desperdício visto por ele era bem inferior em relação aos dias atuais. “Lembro que as pessoas tinham mais noção em relação a desperdiçar algum tipo de fruta ou verdura. Na minha casa, eu aproveitava tudo que, às vezes, não dava para ficar nas gôndolas, pois sempre vinham alguns legumes, frutas e hortaliças com pequenos defeitos que se eu os deixasse para o cliente comprar, perderia vendas. Assim, eu levava os que vinham com pequenos danos para consumir em minha residência”, conta. “As pessoas, hoje em dia, costumam ver uma pequena manchinha nos alimentos, como no caso das bananas ou batatas, e já é um bom motivo para jogarem fora”, observa.

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Ainda segundo Alves, “isso é bem triste, pois muitas famílias não têm algo para comer e conseguem transformar o que é jogado no lixo em alimentos para seus familiares”. Ele questiona: “Se elas conseguem aproveitar algo que outros julgaram ruins e jogaram fora, porque as pessoas que jogam o alimento no lixo não têm essa visão dos que reaproveitam os alimentos? Fico muito triste ao ver tanto desperdício”. Perguntamos ao senhor Alves o que ele achava que deveria ser feito para que esse desperdício viesse a ser diminuído. Ele nos respondeu que deveriam ser providenciadas campanhas para conscientizar a população. “O Governo e o Estado de Minas Gerais e de todos os cantos do mundo deveriam elaborar campanhas em todo o seu território, promovendo boas ações para que, assim, toda a população pudesse dar o valor aos alimentos, pois muitos acham que só porque os compraram,

Flávio Paulino de Sousa

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podem fazer o que quiserem. Se a pessoa comprar tudo e desperdiçar em grande quantidade, isso será revertido para ela ou, futuramente, para seus filhos e netos, de forma negativa. Isso são

pensamentos egoístas; pessoas que pensam em si próprias e nem lembram de seus familiares, da sua cidade e, até mesmo, de nossa grande casa que é o nosso planeta”, finaliza.

bate aos desperdícios que o site bancodealimentos.org.br disponibiliza para o público e visitantes da página. Nela, há orientações de como utilizar alguns alimentos que, ao invés de serem jogados no lixo, tornam-se um novo prato delicioso, saudável, que aproveita o alimento de forma saborosa e nutritiva. O site traz formas de adquirir novos parceiros e colaboradores no combate

à fome e na redução no desperdício de alimentos, com contribuições, campanhas, doações, parcerias corporativas e voluntariados. Portanto, o que se percebe é que o site tenta difundir iniciativas que levem à opção por um hábito que promova um mundo sustentável e uma alimentação nutritiva, através de um alimento que, possivelmente, teria como seu destino final a lata de lixo.

Iniciativas para a reutilização de alimentos

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Daniela Couto

evido a esse alto desperdício de diversos alimentos, como foi mencionado anteriormente, há muitas pessoas, que elaboram diversas ideias para que a população possa ver os alimentos que têm em casa de uma maneira reaproveitável. Uma iniciativa é o Combate a fome e Aproveitamento Integral dos Alimentos, ideias de reaproveitamentos de alimentos e com-

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A gastronomia brasileira à mineira em três filmes REGIANE BORGES

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arte de fazer refeições tem conversado cada vez mais com a sétima arte por meio dos filmes. No Brasil, alguns deles, além de mostrarem o cozinheiro e o ato de cozinhar, apresentam histórias de superação,

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inspiração e motivação, fazendo você não apenas aumentar sua vontade de comer, mas também de emergir em um universo diferente, regado de ingredientes, sabores e aromas. Dito isso e partindo do pressupos-

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O estômago

O mineiro e o queijo

Diretor: Marcos Jorge Gênero: Drama/Comédia Duração: 1h 52min Ano: 2008 Data da estreia: 1º de abril Colorido. Ponto de vista

“Do Romeu e Julieta para Anitta e Garibaldi. Sai o queijo minas e entra o gorgonzola”

O filme ganhador de vários prêmios, entre eles o de melhor filme pelo público no festival do Rio de Janeiro, em 2007, irá fazer você pensar sobre o que o poder de cozinhar bem pode proporcionar. Ele conta a história de Raimundo Nonato em três contextos: na prisão, no boteco e no restaurante, tudo interligado pelo talento de Nonato em preparar diferentes refeições. Apresenta um personagem que trabalha bem os ingredientes e, também, as ações positivas e negativas que cercam sua vida. Tente assisti-lo sem ter vontade de comer muitas coxinhas .

Diretor: Helvécio Ratton Gênero: Documentário poético Duração: 1h12min Ano: 2011 Data da estreia: 30 de setembro Colorido Ponto de vista

“É bom para o mineiro, é bom para o Brasil”

Com vacas chamadas pelo nome, é um filme contextualizado no Serro, na Canastra e no Alto Paranaíba. Traz grande bagagem cultural por discutir sobre o patrimônio de Minas Gerias e trazer o panorama da história do queijo juntamente com uma denúncia, já parcialmente resolvida em 2013. Apresenta uma simplicidade marcada por uma sequência de relatos leves e fluídos . Se você é mineiro, tem que assistir; se não é, assista também para conhecer um pouco sobre a culinária mineira; se é apenas um degustador de queijo, não deixe de ver.

to de que há no Brasil estados que possuem uma culinária bem marcante, dentre eles Minas Gerais, separamos três filmes que irão fazer você desvendar esse mundo gastronômico, de forma direta e indireta. Divulgação

A estrada real da cachaça Diretor: Pedro Urano Gênero: Documentário Duração: 1h38 min Ano: 2011 Data da estreia:17 de junho Colorido Ponto de vista

“Cachaça peço que não me aborreça. Desce para minha barriga, mas não suba para minha cabeça”

A história começa com um ritual de macumba, que passa a metaforizar alguns de seus significados com o conceito de estrada. A estrada retratada pelo documentário é a Estrada Real, antigo caminho do Ouro, que vai de Minas até o litoral do Rio de Janeiro. O personagem principal é a cachaça, há muitas pessoas ouvidas, mas nenhuma delas têm o nome apresentado. Dotado de poesia que permeia a curiosidade, apenas no final, uma das perguntas que preenche os anseios que o filme acumula, é respondida.

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O dilema das gerações do século XXI Google Divulgação

MARIA LUIZA DAMIÃO

rick Contessoto, 21 anos, é um jovem que sofre de ansiedade e teve um quadro clínico evoluído pela falta de tratamento. "A minha doença começou na época em que resolvi mudar o curso na faculdade, a cobrança por fazer a escolha certa, ser um bom estudante e ter destaque nessa área foram os primeiros motivos para que o meu quadro se iniciasse" contou o jovem. Assim como Erick, outras pessoas passam pela mesma situação e as diversas tensões do dia a dia, sejam elas nos estudos, no trabalho ou em casa, contribuem para o desenvolvimento de doenças como ansiedade, estresse e outros transtornos emocionais. A cobrança do mercado, a ambição por um cargo ou um salário melhor também podem abalar o equilíbrio emocional e, ainda, rotinas incessáveis de trabalho, planos de estudo sem horas de descanso e a cobrança por índices de desempenho cada vez mais altos são exemplos de situações que podem desencadear algum problema de saúde. Esse cotidiano pautado em exigências afeta o psicológico do ser humano, muitas vezes sensível em suas limitações e falhas. Muita cobrança e pouco resultado geram frustrações. Talvez, o grande entrave não seja uma

geração sem limites, ou cobranças. Deparamos-nos, todos os dias, com pessoas como nós, convivendo com a dificuldade de reconhecerem em si os próprios limites e se abstrairem de cobranças que geram o retrato de jovens e adultos com depressão, ansiedade, estresse e outros distúrbios. Em janeiro deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) atualizou seus dados sobre a ansiedade, constando que 33% da população mundial sofre desse mal. No Brasil, São Paulo é o estado mais ansioso, com 29,6% de sua população atingida. Apesar de afetarem diferentes pessoas, essas disfunções acabam por terem como maior agravante as pressões externas

impostas por um cotidiano estressante e inflexível, além do fato da vulnerabilidade causada por julgamentos, cobranças e críticas. A lógica do mercado de trabalho se baseia em muita produção em pouco tempo. As escolas medem a qualidade dos alunos em número de aprovações em vestibulares disputados nacionalmente, o conhecimento aplicado não é tão importante quanto as pontuações colocadas em "ranking". O amor e a segurança dentro de casa são como conteúdos dos pré-vestibulares: o tempo todo treinando seres humanos para as corridas em que o aceitável é nada menos que o sucesso.

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Portal Jundiaí Notícias

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Ansiedade: o mal do século XXI O mundo entrou em colapso e adoeceu ALAN FERREIRA

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e divulgados em seu site, a ansiedade afeta 10 milhões de brasileiros, sendo a grande maioria, mulheres. Francielly Mayra, 21, estudante de Turismo confirma. “Eu passei mais de dois ou três anos tendo dificuldade no meu dia a dia à medida que minha crise de ansiedade ficava mais grave e mais frequente. Os ataques de crise aconteciam dentro da sala de aula, no trânsito, em casa e em outras situações no decorrer do dia”. Com a vida mais acelerada, a sociedade vem enfrentando mudanças cada vez mais líquidas, tanto as sociais, quanto tecnológicas e ambientais, gerando reações como insegurança, por exemplo. Sem perceber a sociedade nos estressa rápido, alterando também o movimento da

construção de pensamento, causando consequências para saúde emocional, para os prazeres da vida, para a criatividade e para o desenvolvimento da inteligência. A psicóloga ressalta: “Qualquer situação de perigo iminente leva o corpo a se preparar para a luta ou fugir. Assim, o objetivo número um da ansiedade é proteger o organismo, envolvendo uma preparação biológica do corpo em função de protegê-lo e não prejudicar”. Muitas obrigações, entre elas o desejo de atender a tudo e a todos, o sentimento de culpa, o perfeccionismo e a falta de segurança, fazem o organismo entrar em estado de limite, sofrer por antecipação e por possibilidade e isso é uma emoção inútil.

Especialista em comportamento elabora seis dicas para diminuir a ansiedade

1. Viver com sabedoria, ou seja, saboreando o dia, estar presente. 2. Praticar o controle da respiração.

3. Evitar pessoas ansiosas, que projetam quase um desejo de que a vida seja realmente ruim. 4. Evitar pensamentos negativos e catastróficos, devendo agir em sentido oposto às preocupações, sendo dono dos seus próprios pensamentos. 5. Praticar atividade física, pois ela leva à produção de serotonina, substância que aumenta a sensação de prazer.

Gabriel Braga

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ocê tem medo ou vergonha de falar em público? Pode parecer uma tarefa fácil, mas quem sofre de ansiedade tende a discordar. Começando com um frio na barriga, situações como essa podem levar a problemas sérios. Considerada o mal do século XXI, a ansiedade atinge as pessoas de uma maneira completa, é uma reação fisiológica, comportamental e psicológica, tese essa que é defendida pela psicóloga Talyta Castro, especialista em comportamento. Presente em toda existência humana, a doença vem tomando grande proporção nos tempos atuais e maior significação para pesquisadores e profissionais da área. Com estudos e pesquisas realizadas em 2015 pela Organização Mundial de Saúde (OMS)

6. Procurar ajuda psicológica e psiquiátrica se a ansiedade já estiver em nível exacerbado, atrapalhando o cotidiano.

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A busca por terapias alternativas para tratar doenças modernas Terapias holísticas ganham o novo mercado CARINE CASARIN

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entender os seres como uma unidade de corpo, mente e alma, e que precisa estar em harmonia para que haja cura. Entre as mais comuns estão a acupuntura, o shiatsu, reiki, aromaterapia, cromoterapia e a homeopatia, nas quais os tratamentos vêm acompanhados de meditação e de relaxamento. Segundo a fisioterapeuta, homeopata e acupunturista há mais de 12 anos, Elisângela Knupp, diversas são as causas que levam o paciente a procurar esses tratamentos na medicina alternativa. Incômodos musculares, como dores nas costas e articulações, disfunções menstruais, obesidade e, principalmente, ansiedade, depressão e insônia, estão entre as principais motivações para a busca holística. Elisângela ressalta também a importância da aceitação e da sinceridade do paciente para consigo mesmo, uma vez que “primeiro a cura começa pelo energético e mental, até abranger o corpo físico”, ou seja, trata-se o íntimo pessoal do paciente, até externalizar o que é a “consequência de cargas energéticas mal trabalhadas”.

Não precisamos voltar muito na história da Era Contemporânea para compreendermos a opinião médica ocidental sobre as terapias alternativas. Ainda com pouco estudo a respeito e muitos métodos ainda não explorados, a Medicina Oriental demorou séculos para difundir-se pelo mundo e, com isso, muito ceticismo envolvendo as práticas indagam seus verdadeiros efeitos. Atualmente, o cenário mudou e o espaço ficou mais amplo para que sejam discutidas com um parâmetro menos cético, ambas as técnicas. Um avanço claro para a desconstrução recente do embate Medicina Tradicional versus Medicina Alternativa foi a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, que permitiu o acesso da população às terapias alternativas no Sistema Único de Saúde (SUS), em 2006. Segundo informações do site do Ministério da Saúde, apenas dois anos depois de implantada a política, o número de municípios que ofereciam essas terapias na sua rede de saúde saltou de 12 para 1300.

Allan Alves

rotina da humanidade, cada dia mais acelerada – com o excesso de informação nos bombardeando, o trânsito, o ambiente de trabalho, o estresse, e com pouco tempo destinado a sentar, a apreciar as coisas simples, ao lazer –, traz consequências. As chamadas “doenças do século” aparecem, portanto. São as ocasionadas pelo dia a dia extenso, rotineiro, que é mais acentuado em cidades -metrópoles, com ritmo de vida mais acelerado, com pouco tempo para cuidar do corpo, da mente e do espírito. Doenças como ansiedade, depressão e insônia, então, surgem. Essas doenças na Medicina Tradicional Ocidental, isto é, baseada em amostras científicas, são tratadas com métodos a fim de remediar as consequências. Nem sempre tratam as causas, uma das grandes diferenças em comparação com a Medicina Oriental, que foca em métodos preventivos. As terapias tidas como alternativas, ou holísticas, se caracterizam por tratar não apenas o corpo, mas, sim,

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Afeto, a possível solução universal A

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o norte do continente americano, nos Estados Unidos, Johan Hari desenvolve um artigo propondo repensar a forma de enxergar o vício e a relação de dependência entre a sociedade atual e as substâncias químicas. O autor de Chasing The Scream: The First and Last Days of the War on Drugs (“Perseguindo o grito: os primeiros e os últimos dias da guerra contra as drogas”, em tradução livre, publicado pela Editora Abril, em junho de 2015, na Huffpost Brasil), observa estudos do último século e sua percepção sobre o mundo atual para concluir que tudo o que sabemos sobre os vícios, é infundado. Hari coloca na discussão uma experiência comportamental feita por Bruce Alexander, pesquisador da área de Psicologia da Simon Fraser University, em Vancouver, Canadá, em 1970, que colocava camundongos em gaiolas isoladas durante alguns dias, cada uma contendo dois recipientes – um com água pura, e o outro com cocaína dissolvida. Os camundongos nesta situação tendiam a ingerir cada vez mais doses da água com a droga, além de se exaltarem com facilidade, necessitados de mais doses. Após a observação nos camundongos isolados, Bruce Alexander construiu o que foi chamado de “Rat Park”, gaiolas para mais de um camundongo, e bolas coloridas e túneis para brincar. Os animais, desta vez, tomaram as duas águas, mas o resultado foi diferente. Segundo a pesquisa, “os ratos nessa vida boa não gostavam da água com drogas. Eles basicamente a ignoravam: consumiam menos de um quarto dessa água, em comparação com os animais isolados. Nenhum

deles morreu. Todos os ratos que estavam sozinhos em suas gaiolas se tornaram dependentes da droga, mas isso não aconteceu com nenhum dos animais do Rat Park.” Com a análise da pesquisa de Alexander, Hari conclui e sugere o suposto foco de todo seu questionamento: a ausência de atividades, a monotonia das gaiolas, colocavam como único vínculo de recreação o uso da água contaminada. Os camundongos não estavam viciados. Foi a situação que desenvolveu o apego. No mesmo continente, porém

ao sul, no Brasil, também é possível entender os impactos dos vícios em todas as faces sociais. Famílias, hospitais e órgãos entregues a esta causa são capazes de perceber os desafios e dificuldades dos que procuram ajuda, assim como possíveis formas de tratamentos, que não reduzam a situação à estímulos e respostas físicas. Alceu*, integrante da Associação Comunitária para Assuntos de Segurança Pública (ACASP), inaugurada em Divinópolis, em 2014, concorda com Johan Hari e acredita que em uma sociedade saudável, os laços

Foto: Allan Alves

ALLAN ALVES

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INTERVAL afetivos e a autovalorização são fundamentais. O artigo de Johan Hari aponta que uma pessoa envolvida em causas, possui laços que preenchem seu universo a ponto de não sentirem a necessidade de substituir certos vazios com a ilusão das reações químicas provocadas pelo álcool e outras drogas. Quanto mais inclusos e participativos somos, menos necessitamos de fatores externos para nos sentirmos completos. O vício, neste momento, deixa de ser responsabilidade única das respostas biológicas do corpo humano e passa a ocupar um espaço cotidiano, social, interpessoal. Alceu participa do Grupo de Apoio aos Neuróticos Anônimos, em Divinópolis, há mais ou menos 25 anos, e com algumas experiências voluntárias no acolhimento de dependen-

tes químicos, consegue interligar o perfil da sociedade atual com alguns problemas presenciados em anos de entrega a esses trabalhos: o vício está, sim, entre estes problemas. Quando perguntado se ele percebe fatores externos na sociedade que influenciam as dependências, Alceu esclareceu: “A própria sociedade te leva. Perceba as letras de música, são todas codependentes. ‘Eu não vivo sem você...’. Pegando as letras de música de um ponto de vista da psicologia, é possível perceber que somos uma sociedade inteira doente. Existe um grupo pequeno que não sofre com essa doença, que está navegando, digamos assim. Mas de um modo geral, a sociedade está doente. Através da doença, você é controlado ao consumismo. As músicas falam sobre motéis, prazer, luxúria, tudo o

que diz respeito ao ego”. Com tanta produção cultural valorizando o ego, as relações interpessoais estão vulneráveis, os laços afetivos estão em crise e as pessoas continuam buscando remédio onde Alceu chama de “Barmácia”. Uma contradição da liberdade do ego na busca da dependência, seja do consumo, seja do álcool, ou das drogas. O Grupo de Apoio se reúne três vezes por semana no centro de Divinópolis e funciona como um meio de libertação do ego: se baseia em humildade, mutualidade e respeito. É a ajuda para quem a necessita. O próprio Alceu, hoje cinquentenário, relembra: “Quando cheguei, estava em um estado extremo de sensibilidade, ouvia e via tudo com muito mais intensidade, para você ver como o emocional influencia nossa vida. Se passasse um carro de som por mim, eu mentalmente o metralhava com o olhar. Isso me trouxe transtornos e a partir do momento que busquei a autoajuda, fui quebrando o triângulo da obsessão. Isto é, fui me libertando emocionalmente das coisas, pessoas e lugares a fim de encontrar minha liberdade, autonomia e autoestima. E fui me libertando, inclusive, daquilo que é colocado pela grande mídia: as músicas doentias e a necessidade de consumismo”. Talvez, a luta contra a dependência esteja longe de acabar, mas tanto Johan Hari, pesquisador, quanto Alceu, divinopolitano, reconhecem que além da busca pela ajuda partir da própria pessoa, cabe a ela também escolher pela qualidade dos laços com quem está ao seu redor. E quanto à sociedade doentia, descrita anteriormente, Alceu conforta: “Já vivi Sarney, Collor, e a Dilma está aí como amanhã pode não estar, e a nossa vida é muito maior que estas coisas. Você é confrontado por você mesmo e o resultado só vem quando você ri de você mesmo”, finaliza. *Pseudônimo usado para garantir o anonimato da fonte.

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Saneamento básico: do surgimento aos dias atuais CRISTIELLEN DE SOUSA PEREIRA

Laryssa Costa

16 Esgoto a céu aberto no bairro Copacabana.

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descuido em relação às questões de saneamento básico é notável quando se caminha por certos bairros da cidade de Divinópolis. Lixo jogado pelas ruas e esgoto a céu aberto são apenas alguns dos elementos da realidade vivenciada pela população. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), apesar das metas e objetivos estabelecidos anualmente para transformar a realidade desse setor no país, atingir sua universalização – estipulada até o ano de 2033 – continua sendo fator necessário. As medidas adotadas em uma determinada região, com o intuito de im-

pedir que os efeitos nocivos da Faculdade Pitágoras. afetem o bem-estar físico, Embora existam relatos mental e social da popula- associando o surgimento ção, funcionam como uma do saneamento à época do possível garantia na melho- período colonial e ao cresria da qualidade de vida dos cimento das cidades braindivíduos e sileiras, há é um direito também a hiestabelecido “ ... ainda temos muito pótese de que o que evoluir quanto por Lei. “Denas próprias coa qualidade tro do saneamunidades indestes serviços mento, estão dígenas armana cidade” compreendizenavam água das atividades para consumo de abastecimento de água, e determinavam lugares limpeza urbana, esgoto sa- para as necessidades fisiolónitário, manejo de resíduos gicas, o que já demonstrava sólidos, drenagem das áre- certo conhecimento do perias pluviais, serviços de in- go que a falta de saneamenfraestruturas e instalações to poderia causar. operacionais”, pontuou SylNo começo do século via Karla Candêa, professo- 19, com a vinda da Corte ra de Engenharia Ambiental Portuguesa e a abertura

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dos portos, as cidades passaram a ter grande importância social e econômica, ocasionando também o aumento da população. Mas, o saneamento não cresceu no mesmo ritmo. No Rio de Janeiro, por exemplo, as instalações sanitárias ficavam localizadas nos fundos das casas e os despejos eram recolhidos em barris especiais. Após vários dias, os escravos transportavam -os, muitas vezes, despejando-os na atual Praça da República ou a beira-mar. O abastecimento de água também era feito de forma precária e, em consequência disso, várias epidemias começaram a surgir.


Laryssa Costa

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Lixo espalhado pelo bairro Copacabana.

Como tentativa de solucionar o problema e melhorar os sistemas de abastecimento, algumas decisões foram tomadas: a água deixou de ser um bem natural e passou a ser comercializada, as províncias entregaram suas concessões às companhias estrangeiras e, pela primeira vez no país, uma organização dos serviços de saneamento básico foi criada. Porém, a insatisfação da população com os serviços prestados pelas empresas estrangeiras fez com que o governo estatizasse o setor. Nesse período, planos para a retirada de esgoto por meio de tubulações e transporte para um local onde pudesse ser tratado, começaram a ser pensados. Devido aos estudos do engenheiro sanitarista Saturnido de Brito, em 1930, todas as cidades brasileiras possuíam algum sistema de distribuição de água e coleta de esgoto. Na Era Vargas, caracterizada pelas inúme-

ras alterações sociais, econômicas e com a migração da população rural para a área urbana, iniciou-se o comércio dos serviços de saneamento, desvinculando-o do sistema de saúde. Após Juscelino Kubitschek assumir a presidência e colocar em ação o Plano de Metas – desenvolvimento econômico e industrial do Brasil –, empresas de serviços de saneamento foram instituídas e o setor passou a progredir por meio de grandes empréstimos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BDN). Já na época da Ditadura Militar, a criação do Banco Nacional de Habitação (BNH) foi a principal fonte de recurso para investir no saneamento. Além dele, houve também o auxílio do Fundo Nacional de Financiamento para Abastecimento de Água – que atendeu 21 cidades no país – e a elaboração do Plano Nacional de Saneamento, sepa-

rando instituições que cuidam da saúde e planejam o saneamento no Brasil, aumentando a autonomia do setor por meio de tarifas e financiamentos baseados em recursos retornáveis. A realidade dinopolitana

Graduada em Engenharia Ambiental, especialista na área de Segurança do Trabalho e mestranda em Tecnologia Ambiental, Sylvia orientou o trabalho de conclusão de curso da estudante Danusa de Oliveira Gontijo, em 2015, voltado para o estudo da população de Divinópolis em relação aos aspectos mais importantes dentro da temática ambiental. A pesquisa comparou dois bairros com classes sociais distintas na cidade. “Foram entrevistadas 300 pessoas – 150 no bairro Bom Pastor e 150 no bairro Copacabana – e tivemos a seguinte estatística: 45% julgaram coleta

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seletiva como fator chave, 35% tratamento de água e esgoto, 10% trabalhos de educação ambiental nas escolas, 7% melhoria das praças e áreas de lazer e 3% não opinaram”, explicou a professora. Ainda de acordo com Sylvia, verificou-se que 70% dos entrevistados se preocupavam com questões relacionadas ao saneamento básico. “Isso comprova que ainda temos muito o que evoluir quanto à qualidade destes serviços na cidade”, completou. Além da falta de saneamento básico acarretar problemas à população, como o desenvolvimento de doenças e infecções, ela também interfere diretamente no ambiente, causando assim, alguns impactos, como a poluição das águas (esgotos lançados na natureza), dos solos (coleta inadequada de lixo) e assoreamentos. Quando perguntada sobre como avalia a situação atual no Brasil e, principalmente, em Divinópolis, Sylvia citou a falta de incentivo e vontade política no planejamento de ações que contribuam com seu progresso e alertou sobre a importância da consciência dos próprios moradores diante dessa questão. “A sociedade é parte integrante na realização do processo. Todos devem ajudar”. Diante disso, apesar dessa temática começar a ganhar destaque nas mídias e ser tema de debates em escolas, ainda é preciso maior visibilidade para que o problema seja solucionado completamente.

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Maria Luiza Lopes

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Efeito dominó: esgoto despejado em rios afeta a biodiversidade e a vida humana 18

Apesar das promessas de construção de estações de tratamento de esgoto, a região presencia as consequências da poluição da água DANIELA NOGUEIRA

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ma em cada três pessoas no planeta não tem acesso à água potável e rede de esgoto. É o que aponta a Organização das Nações Unidas (ONU) em relatório divulgado no ano passado, onde são mostradas as condições do saneamento em todo o mundo. De acordo com os estudos, cerca de dois bilhões de pessoas carecem de serviços básicos como captação de esgoto. O problema se torna mais grave em cidades onde há a captação desses resíduos, pois seu descarte é feito de maneira inadequada, sendo jogado, muitas vezes, em cursos d’água podendo causar prejuízos à saúde, à agricultura e à biodiversidade de rios e bacias hidrográficas. Há muitos anos, o trata-

mento de esgoto, especialmente doméstico, é tema de recorrentes debates e cobranças da população perante as autoridades. A promessa da instalação de Estações de Tratamento de Esgoto (ETE’s) é realidade na região e tem voltado à tona recentemente em Divinópolis. Atualmente, todo o esgoto recolhido na cidade é jogado nos rios Itapecerica e Pará, ocorrendo o mesmo na vizinha Itaúna, onde os resíduos são descartados no Rio São João. Desde 2011, após assinatura do contrato de concessão do tratamento de esgoto entre Prefeitura Municipal de Divinopolis e Copasa, a construção de três estações de tratamento na cidade ainda está sendo discutida. No início do mês

de abril, foi realizada uma audiência com a presença de populares, autoridades e um representante da empresa. Na ocasião, foram colocados em pauta o atraso na entrega das obras e a cobrança da taxa de esgoto, considerada abusiva pelos presentes, já que a cidade ainda não conta com tratamento. A Copasa, por sua vez, garantiu o início das obras da estação do Rio Itapecerica com funcionamento previsto para dezembro deste ano. A Prefeitura de Divinópolis informou poucos dias depois da audiência o envio de uma notificação à Copasa cobrando explicações pelo atraso das obras e, consequentemente, o descumprimento do contrato de concessão. Apenas uma

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das três ETE’s está pronta, a do Rio Pará, porém, atende somente 10% da população local. Um dos principais problemas apontados também na audiência foi a parcela da cidade desassistida pela captação de esgoto, como é o caso do Bairro Copacabana. No ano passado, o município ainda pode presenciar ambos os rios pedirem socorro diante da poluição atual. Tanto o Itapecerica, quanto o Pará, ficaram cobertos pelos chamados aguapés - plantas aquáticas de rápida reprodução, principalmente em ambientes poluídos. A bióloga e professora da Universidade do Estado de Minas Gerais, Marta Machado, explicou ser essa uma das consequências do descarte de esgoto


INTERVAL meio ambiente”, esclareceu a bióloga. A falta de tratamento de esgoto interfere ainda no fornecimento de água e na agricultura. “Quanto mais a água estiver suja, mais difícil é o tratamento dela. Nós bebemos essa água. Então, para se transformar uma água que tem muito esgoto em uma água potável, há de se colocar uma quantidade muito grande de compostos

A realidade se repete

químicos. É lógico, não ultrapassa os limites da Organização Mundial da Saúde, mas ficamos no limite máximo. Isso compromete também a vida da população”, salientou Marta. Por fim, a bióloga citou as iniciativas de revitalização dos rios como algo provisório, já que o esgoto ainda é despejado nesses locais. “Você pode limpar, revitalizar, pode colocar

mais peixes, pode melhorar as matas ciliares, mas se você continuar poluindo, isso não vai resolver. É uma medida paliativa, só para aquele momento. O que resolve é primeiro você tratar o esgoto. Você não pode fazer o rio de lixo, ele virou um lixão para líquidos. A verdade é essa: nós fazemos dos rios brasileiros um grande reservatório de lixo”, acrescentou.

Há alguns quilômetros de Divinópolis, Itaúna também apresenta uma história semelhante. A cidade conta com coleta de esgoto em 99% dos imóveis, entretanto, todo o resíduo captado é descartado no Rio São João, afluente do Rio Pará. Além do mau cheiro, essa ação tem provocado efeitos em municípios da região. O Lago Azul, em Pará de Minas, se viu tomado pelos aguapés devido à poluição, causada, em parte, pelo esgoto itaunense. Em 2015, durante reunião para discutir a despoluição do Lago Azul, o Prefeito de Itaúna, Osmando Pereira, anunciou a conclusão das obras da ETE para setembro deste ano. A obra com orçamento de R$15 milhões já teve sua primeira etapa concluída.

Daniela Nogueira

em cursos d’água. “Há uma fauna, como os aguapés, que é alimentada por alguns componentes desse esgoto, isso serve de nutriente para eles. Eles crescem e formam aquele tapete verde que impede que a luz solar passe, não ocorrendo fotossíntese, e a vida ali dentro vai morrendo. Então, quando você joga um volume grande de esgoto no rio, você o mata. Esse é um dos danos para o

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Falta de saneamento básico atormenta divinopolitanos Moradores do bairro Copacabana vivem em situação de descaso e abandono

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ra sol de uma tarde de domingo quando nossa equipe se deparou com a realidade de uma vizinhança intitulada com o mesmo nome do bairro nobre da cidade do Rio de Janeiro, mas que não se assemelhava nem um pouco com o da maioria da cidade. Esgoto a céu aberto, lixo por todos os lados, calçamento precário, mato alto que abrigava animais peçonhentos, e o olhar curioso e, ao mesmo tempo, desesperado dos moradores do Copacabana. A quilômetros de distância da área central, o que se via eram inúmeros tampões de esgoto estourados que minavam um líquido escuro e com um odor desagradável. Nota-se a tentativa daqueles que ali residem de impedir o escoamento, diminuí-lo ou, muitas vezes, apenas tampá-lo, colocando troncos e entulho em cada buraco que surge no meio do chão. Tentativa inútil. Misturados com os resíduos de esgoto, podiam ser vistos amontoados de lixo, mesclando-se a restos de comida, latas, papel e brinquedos. É a perfeita conciliação do descaso com a falta de manutenção. Na tentativa de entender o porquê daquela situação, nos

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JOÃO VICTOR TAVARES LARYSSA COSTA GOMES

deparamos com pessoas que convivem com essa rotina árdua todos os dias. Nos olhos que nos encaravam, se via a vontade de mudança e também indignação. “Fizeram as fossas, para cada duas casas; uma fossazinha minúscula, que vive enchendo. Temos que pedir o caminhão para vir esvaziar e nem sempre está disponível. Já foi feito abaixo-assinado e pedido, e é sempre aquela promessa. A gente vai dar um jeito tal dia, tal dia e nunca é”, esclareceu Joel Martins de Souza, gesseiro e morador do bairro. “Tem três anos que a gente está aqui. A promessa, desde quando o bairro foi entregue, é que ia ser feito o caixão - a caixa de saneamento para jogar o esgoto. Mas nem marcaram o lugar, ninguém conversa com a gente, procuramos mas não temos resposta, e fica nisso. O povo vai acostumando porque o brasileiro, infelizmente, vai acostumando com a situação, por mais terrível que seja, estão acostumando e estão convivendo nisso aí como porcos na lama, no lixo... é desse jeito que está”, desabafou. A coleta de lixo é feita como nos demais bairros da cidade, três vezes por semana. Porém, devido ao sistema de fossas, é necessário um caminhão para limpar e manter as mesmas,


INTERVAL o que ocorre com pouca frequência. É preciso fazer um pedido à presidente da associação dos moradores, que o repassa à prefeitura e, apenas depois, surge a hipótese da vinda do caminhão. Recentemente, a líder comunitária Márcia Alves Cardoso fez um apelo na tribuna livre da câmara, no qual pedia respostas para o descaso com o lugar. “Há três anos, a gente vem pedindo a limpeza do bairro, que está cheio de ratos, cobras e aranhas”, ressaltou. “Pedimos também que seja olhada a questão da rede de esgoto que corre a céu aberto há vários anos e isso está provocando doenças nas crianças”, lamentou. Quando não há

distância, marcado por um caminho de estreitas estradas esburacadas. “É na UPA ou no posto de saúde lá do São José, e nem todo mundo tem dinheiro para pagar o ônibus para ir nesses lugares. Então, fica a mercê de Deus mesmo, vamos dizer assim. Estamos a mercê de Deus aqui, esquecidos”, finalizou Joel. Segundo o responsável pela Unidade de Atenção Primária à Saúde referente à região central da cidade, a UAPS central, Inácio Augusto, se o que estiver mais próximo for um posto de saúde, ele deve dar o auxílio necessário. “A unidade de referência de cada região, que vai fazendo as políticas de saúde pública,

Laryssa Costa

Líquido que escorre das fossas

mais escapatória e as crian- com medo de dar dengue. ças adoecem, inevitavel- O bairro não tem posto de mente, o caos tende a pio- saúde. Tem que ir no posto rar. Os problemas não se de outro bairro”, confessou limitam apenas à falta de uma mãe que preferiu não estrutura básica, mas a falta se identificar com medo de postos de uma “O brasileiro, de saúde retaliainfelizmente, vai para atenção no acostumando com der a depróprio a situação, por mais manda. “Os bairro. terrível que seja, doentes Ela nos estão acostumando são muiolhava e estão convivendo nisso aí , tos, princide macomo porcos na lama, no lixo... é desse p a l m e n te neira jeito que está” pelas vias curiorespirasa entórias. Tequanto nho duas fotogracrianças que têm asma. A fávamos aquela paisagem situação está bem ruim: a danificada, e aproximou-se poeira, a água que, quando quase que como uma súchove, fica horrível. O bura- plica. O posto mais próxico enche de água e ficamos mo fica a quase 10km de

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Laryssa Costa

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vai ver o que pode fazer, entrar em contato com outros órgãos, para pedir ali, uma assistência em relação a tudo isso”, explicou. Da ponte pra cá o mundo é diferente?

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frase escrita em um dos muros aponta diversos problemas enfrentados no bairro e que não se limitam apenas ao âmbito da saúde e meio ambiente. O descaso afeta a segurança, o lazer e a educação. Alguns moradores reclamam da falta de liberdade, inclusive, para passeios, pois taxistas e telemotos se recusam a fazer corrida até o bairro, alegando distância e medo de assalto. A violência é uma companheira constante. “A quadra está abandonada. Lugares que podiam servir, talvez, de

moradia para uma pessoa, estão alojando malandros, num galpão todo quebrado. É uma pouca vergonha. Eles podiam usar o dinheiro que eles têm para contratar um

seu muro, muito maior do que o convencional. O medo paira no ar e induz os moradores a se manterem constantemente em estado de alerta. “Vive-

Laryssa Costa

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Muro de uma das casas do bairro

Tentativa dos moradores de tampar as fossas com troncos e galhos.

rondante, para as pessoas terem lazer com segurança. Tem muita gente mexendo com drogas nas partes abandonadas, já quebraram tudo”, indignou-se um senhor, que preferiu não se identificar, por detrás de

mos com medo. Deixo elas [as crianças] brincarem na rua porque não tem outra coisa para fazer, mas com medo, vigiando direto, carro que passa, medo de estupro, de tudo. Aqui não tem segurança de nada. Já roubaram

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umas quatro vezes só nesta rua. É uma situação bem ruim”, acrescentou a mãe. Os problemas do bairro ainda somam-se à falta de escola, de transporte para as crianças e de lazer. A líder do bairro também tocou nessa questão em seu apelo feito na câmara e divulgado na imprensa. “Nós somos seres humanos. Nós queremos dignidade. Nós queremos aquilo que é nosso de direito. Queremos escola, queremos saúde, queremos dignidade. Pagamos IPTU, pagamos todos os outros impostos, pagamos tudo que nos é cobrado. Exigimos que nós, do Copacabana, possamos olhar para frente e dizer que somos dignos”, concluiu. Tentamos contato com a Prefeitura, mas até o fechamento desta matéria, ela não se pronunciou sobre o assunto.


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Campanha da Fraternidade 2016: Casa Comum, nossa responsabilidade Em foco, a questão do saneamento básico no Brasil e sua importância para garantir desenvolvimento, saúde integral e qualidade de vida para todos 82% da população brasileira tem acesso à água tratada. Mais de 100 milhões de pessoas no país ainda não possuem coleta de esgoto e apenas 39% desses resíduos são tratados. Diariamente, são descartados, em média, 5 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento. Outro dado do SNIS aponta que o Brasil está entre os 20 países nos quais as pessoas têm menos acesso ao banheiro. Todos esses números revelam a falta de dignidade na vida das pessoas que vivem em áreas de extrema pobreza no Brasil. Por isso, o saneamento básico deve ser implementado de forma articulada com outras políticas públicas. Segundo o padre Anderson Bastos, a sociedade deve cobrar atitudes dos governantes que administram os impostos recolhidos, de forma que o valor seja voltado para obras em prol do bem comum. “Mas que isso não nos tire a responsabilidade de fazer a nossa parte enquanto cidadãos”, ressaltou. Embora a campanha ocorra durante o período da quaresma, ela se estende o ano todo e convida não apenas os cristãos, mas toda a população brasileira a refletir sobre o tema. Essa reflexão se deve, principal-

Reprodução: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB

MARIA LUIZA LOPES

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maginar uma cidade com a estrutura em que todos tenham acesso à água de qualidade, tratamento de esgoto e coleta regular do lixo se torna, cada vez mais, uma realidade ideal a ser construída. Pensando nisso, a Campanha da Fraternidade deste ano objetiva assegurar o direito ao saneamento básico, a políticas públicas e a atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro do planeta, a nossa “Casa Comum”. Essa é a quarta edição da campanha de forma ecumênica, ou seja, abrangendo todas as igrejas integrantes do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), trabalhando com temas pertinentes à realidade do país e do mundo. Os últimos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico (SNIS), do ano de 2013, mostram que pouco mais de

mente, por se tratar de um assunto atual, ressaltando a importância e o efeito dos pequenos gestos para garantir a mudança no futuro do planeta Terra. Como uma forma de agir através da campanha, o padre Anderson Bastos propôs possíveis atividades para grupos de jovens em parceria com ações da Prefeitura de Divinópolis, de forma a promover mutirões de limpeza de lotes vagos e conscientização sobre a transmissão da dengue, em diversas cidades do Centro -Oeste mineiro. No início do ano, o número de casos de dengue confirmados no Brasil aumentou 46% em relação ao mesmo período de 2015, segundo o Ministério da Saúde. O esgoto a céu aberto, o lixo nas ruas e o armazenamento incorreto da água são apontados como os principais fatores para a proliferação do mosquito Aedes Aegypti. “Sendo uma coisa bem organizada, é algo interessante a se fazer: conscientizar a população sobre as questões ambientais que influenciam na própria saúde, é importante”, constatou Anderson. Em Divinópolis, membros do Grupo de Jovens Missionários da Comunidade Nossa Senhora Imaculada Conceição possuem

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uma meta para este ano: produzir uma série de visitas a bairros carentes, conscientizando os moradores sobre assuntos envolvendo a campanha. Segundo o coordenador do grupo, Marco Túlio Alves Santos, o planejamento das ações, cujo tema foi pauta do encontro no dia 30 de abril, já está em andamento.

Como agir?

Conheça algumas atitudes que você pode assumir para o saneamento.

Na sua casa . Usar a água de forma consciente. . Economizar energia elétrica. . Denunciar vazamentos de água em sua rua. . Descartar corretamente o lixo. No seu bairro . Estabelecer a coleta regular do lixo. . Exigir água encanada. . Solicitar providências do poder público quanto ao plano de saneamento básico.

Na sua cidade . Acompanhar e verificar a qualidade da água. . Questionar se há tratamento do esgoto. . Valorizar cooperativas populares de reciclagem dos resíduos sólidos.

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O adeus do Bugre RAFAEL LASMAR E JUNIO KEMIL

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quarto raio não veio”. Para os torcedores que acompanharam o Guarani de Divinópolis durante todo o campeonato mineiro e nos anos anteriores, esta expressão faz muito sentido. Afinal, o Bugre está rebaixado ao Módulo II mesmo depois de vencer a sua partida final contra o Villa Nova, de Nova Lima, por 2 a 1. Na partida do dia 10 de abril, no Estádio Farião, os 3.178 torcedores acompanharam os 90 minutos como se, em campo, estivessem oito times disputando a mesma bola. Isto porque para escapar da zona de rebaixamento o dono da casa precisava vencer o seu jogo contra o Villa e, ao mesmo tempo, deveria torcer contra o Boa Esporte, Tricordiano e um resultado negativo do Tombense. Todos os jogos simultâneos. Além disso, passavam aos olhos também os reflexos negativos de um campeonato inteiro. Há bastante tempo, o Guarani não atinge uma boa colocação no Campeonato Mineiro. Desde 2011, ano da volta do time à primeira divisão, o Guarani conseguiu apenas a 8ª posição e um 6º lugar no ano posterior. De lá pra cá, foram três anos consecutivo com o Bugre disputando na parte de baixo da tabela e escapando da degola na última rodada. E, em 2016, aconteceu de novo. Apesar da estrutura concedida ao time, a cidade, que possui mais de 200 mil habitantes, não consegue contratar jogadores e entrosar o elenco para levantar a qualidade futebolística

do Bugre. Esse fato, talvez, seja o motivo que acarretou maus resultados ao longo dos anos, quando, em abril de 2016, o time acabou sendo rebaixado novamente para a segunda divisão do campeonato mineiro. Mas para entender como o Guarani chegou a situação tão delicada na última partida do campeonato deste ano, antes é necessário relembrar a campanha inteira. Durante o estadual de 2016, o time se mostrou muito instável. Conseguiu bons resultados contra os times da capital, considerados tecnicamente superiores, mas perdeu vários pontos para os times do interior. Talvez, este tenha sido o motivo de ter transformado a jornada dentro do campeonato muito difícil, considerando o objetivo proposto pela comissão técnica de chegar, pelo menos, às semifinais da competição. Após a vitória contra o América, logo no primeiro jogo do Bugre na competição, o até então técnico Ricardo Leão admitiu que os 3 a 0 aplicados no time da capital era um resultado que ele mesmo classificou como “mentiroso”. “Eu diria que a gente fez uma atuação acima da média, realmente. Mas, eu disse há pouco aos atletas que a gente tem que ter pés no chão. A tendência é a gente regredir à média e fazer algumas partidas

com mais dificuldades, porque, às vezes, a gente não está em um dia tão inspirado quanto hoje. O futebol não tem essa linearidade. Não dá para pensar que o Guarani vai só evoluir”, surpreendeu-se Leão. Passada a vitória contra o Coelho, o Bugre colecionou resultados negativos que culminaram na demissão do técnico. Neste meio tempo, o Guarani sofreu derrotas para Tricordiano, Tupi, Uberlândia e Tombense, além dos empates contra Atlético e URT. O jogo contra o Atlético foi considerado um bom resultado, embora o time da capital tenha jogado com time alternativo e o Bugre teve claras chances de sair vitorioso. O que pesou mesmo para a dispensa de Ricardo Leão foram os outros pontos perdidos em casa contra a URT.

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Foi chamado Ramon Menezes para a função de treinador. Antes de chegar a Divinópolis, ele estava no comando do Anápolis, time do interior de Goiás, deixando o clube na segunda colocação do estadual. Com apenas 6 pontos na competição, o técnico chegou com a missão de tirar o time de Divinópolis da lanterna do campeonato. Com apenas três treinos à frente do time, Ramon tentou dar o primeiro passo para tentar tirar a equipe de Divinópolis da zona de rebaixamento. O adversário era o Boa Esporte. Em um confronto direto, o Guarani conseguiu um gol com 3 minutos, dos pés de Junior Barros, que vinha sendo criticado pelas baixas atuações. Na sequência, o Boa empatou, com Silas. Na volta do intervalo, foi a vez de o Boa começar balançando as redes, aos 2 minutos. Minutos depois, o Bugre empatou com Cordeiro. O terceiro gol só não saiu porque o Guarani pecou nas finalizações e ainda contou com uma zaga bem postada do adversário. Final 2 a 2. Neste momento do campeonato, o Guarani ainda teria apenas mais três jogos para escapar do descenso. A primeira, contra a equipe da Caldense em casa. Depois, Cruzeiro fora. E, por fim, o Villa Nova. Cada ponto importava. Às vésperas do jogo contra a Veterana, em entrevista dada ao repórter Luciano Eurides do jornal Gazeta do Oeste, o técnico do Guarani revelou ter notado evolução nos treinamentos. “Nesse momento, o espírito tem que estar lá em cima. A vontade, a dedicação, o entendimento do trabalho durante a semana foi bem melhor. A gente espera estar bem melhor diante da Caldense”, avaliou Ramon Menezes. Os treinamentos surtiram efeito. A vitória veio. Sofrida, mas veio. Ela surgiu na cobrança de falta de Romarinho. O jogador saiu do banco de reservas aos 18 minutos do segundo tempo, para, aos 43, fazer o gol numa cobrança de falta. QUARENTA E TRÊS MINUTOS! O jogo ainda terminou com 4 expulsões, sendo 3 da Caldense. O

Guarani respirava no campeonato. Foi apenas a segunda vitória no campeonato. Com o resultado, o Bugre foi a 9 pontos, não deixou a zona de rebaixamento, mas se aproximou dos clubes que estavam fora do Z-2. A ducha de água fria veio uma semana depois. O adversário era o líder do campeonato. O Cruzeiro fez um resultado tranquilo, e venceu os divinopolitanos no Mineirão pelo placar de 2 a 0. Estava instaurada a situação delicada para a última partida do time.

A última batalha A 11ª rodada do campeonato mineiro foi feita simultaneamente em todos os 6 jogos. Além de seu próprio jogo, outros três importavam ao Guarani. Vencendo, o time divinopolitano somaria 12 pontos e torceria contra o Boa Esporte. Este, em caso de derrota, estacionaria nos 10 pontos. Mas não bastava. O Guarani ainda torceria contra o Tricordiano, que jogaria fora de casa contra o Atlético, na teoria um resultado muito provável. A equipe de Três Corações permaneceria com 10 pontos. Concretizando as duas hipóteses, o Bugre estaria salvo. A terceira situação seria depender do empate entre Tombense e Uberlândia, a equipe de Tombos iria a 11 pontos enquanto a do Triângulo, somaria 13. Sabendo disso, o Guarani partiu pra cima do Villa Nova. E logo aos 18 minutos do 1º tempo, Juninho passou a bola para o atacante Marcus Vinícius na esquerda, ele se livrou da marcação e bateu rasteiro para o gol do Villa Nova e abriu o marcador. O rádio anunciava para os torcedores o gol do Cruzeiro. Anunciou logo em seguida o gol do Atlético. O estádio veio a baixo. Parecia pulsar. Eram os resultados necessários para permanecer na elite do futebol mineiro. A euforia durou pouco, sete minutos para ser exato. O Atlético tomava o gol de empate do Tricordiano. Aparentemente, o Bugre sentiu a agonia da torcida e também tomou o gol de empate. Mancini aproveitou a tentati-

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INTERVAL va frustrada de conclusão de Fábio Junior, e livre de marcação chutou para as redes: 1 a 1. Apenas o Cruzeiro animava o torcedor presente no Farião. O time foi para o intervalo contra o Boa Esporte vencendo de 2 a 1. Aos 47 minutos do primeiro tempo, o camisa 5 do Villa, Luis Felipe, tomou o segundo cartão amarelo e foi expulso, após deixar a mão no rosto do seu adversário, Genalvo. O Guarani jogaria todo o segundo tempo com um jogador a mais em campo. No intervalo, a apreensão era evidente. O técnico Ramon Menezes voltou com uma alteração no Bugre. Junior Barros entrou no lugar de Wander. Enquanto isso, o rádio informava que o Atlético havia tomado a virada do Tricordiano. Cinco minutos depois, outro gol. O Tricordiano fazia o impossível: 3 a 1 em Belo Horizonte para os visitantes. Silêncio ensurdecedor no Farião. Foi quando, aos 24 minutos do segundo tempo, Felipe Cordeiro recebeu de Jonathan, após cobrança de escanteio, e mandou para o fundo da rede. O Guarani passava à frente do marcador novamente: 2 a 1. A partir daí, todas as atenções se voltavam para o rádio. As informações das outras partidas se tornaram mais importantes do que o próprio jogo no Farião. Isto é tão verdade que uma das rádios divinopolitanas, a Rádio Minas, presente no estádio, deixou de transmitir o jogo e entrou em cadeia com a

Rádio Cultura AM de Uberlândia. Devido ao resultado favorável no jogo do Cruzeiro contra o Boa Esporte, e o resultado contrário do Atlético versus o Tricordiano, somente a terceira e última hipótese salvaria o Bugre. Em Tombos, os donos da casa venciam por 2 a 1. Era necessário o empate do Uberlândia. No Farião, a bola rolava, porém, não fazia sentido. O silêncio imperava. Foi quando, cerca de 35 minutos do segundo tempo, surgiu das arquibancadas um grito de gol. Os repórteres na beira do campo se entreolharam e não entenderam o que se passou. Alguém havia confirmado que o Uberlândia empatara o jogo. Não fazia sentido, mas o grito se alastrou e chegou até o banco de reservas. Todos se abraçaram e festejaram como se o quarto raio tivesse atingido o Bugre. O mesmo raio que o salvou nas três edições anteriores da competição. A Rádio Minas, porém, estava transmitindo o jogo entre Tombense e Uberlândia, mas não havia saído o gol. Imediatamente, o repórter e diretor de esportes da emissora, Oliveira Lima, foi questionado e confirmou que poderia haver um atraso na transmissão. “A gente está com a Cultura pela internet, há um delay. Vamos aguardar”. Aguardamos, 14 longos e intermináveis minutos. O boato do gol era falso. Decepção. Jordan, Felipe Cordeiro, Jean, Murilo, Anderson, Iago, Deyvison, Ge-

nalvo, Marcus Vinícius, Jhonatan e Wander. Depois Romário, Junior Barros e Renan. Foram estes os atletas que, apesar do descenso, receberam aplausos na saída do campo. O árbitro Cleisson Veloso Parreira soou o apito pela última vez e ninguém sequer viu. O Guarani fez sua parte, mas acabou rebaixado porque o Tombense venceu o Uberlândia por 2 a 1. O Atlético perdeu para o Tricordiano por 4 a 2. E o Cruzeiro venceu o Boa por 3 tentos a 2. Após o jogo, o técnico Ramon Menezes se desculpou com o torcedor divinopolitano. “O meu sentimento é de tristeza. É o que eu falei lá dentro do vestiário: só os fortes sobrevivem no futebol. Futebol é uma coisa dura e séria. A partir do momento em que eu tomei a decisão de vir pra cá, eu corri o risco. E futebol também é um risco”, lamentou-se. O técnico ainda avaliou que o time teve uma reação dentro do campeonato. Dos doze pontos disputados com Ramon no comando do Bugre, o grupo conseguiu ganhar sete. “Isso nos deixa com mais de 50% de aproveitamento nas quatro últimas rodadas. Os jogadores tiveram entendimento da situação, mudaram a postura, e isso me deixa satisfeito. Agora é tirar isso de lição”. Os torcedores já aguardam ansiosos pelo retorno do time a elite do campeonato e esperam uma boa atuação do time para tal feitio.

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União, o mais querido o futebol amador ultrapassa os trevos municipais LUANA CARVALHO

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e clube amador a campeão regional, o União Esporte Clube, fundado em 15 de agosto de 1938, em Itapecerica, cresceu não só na cidade, mas em todo o Centro-Oeste mineiro. As melhorias promovidas pelo time no campo, impactaram diretamente as condições de treinamento e conforto para o torcedor. Muros, alambrados, gramado, cabines de rádio, vestiários subterrâneos e iluminação artificial foram alguns dos itens que transformaram o antigo campo num espaço adequado para a prática do futebol amador. O nome dado ao estádio foi o de Hélio Gondim, ilustre itapecericano e um dos fundadores do Tricolor Amado. O União foi fundado a partir de amigos que jogavam futebol semanalmente. A paixão de Hélio Gondim não foi superada pelas dificuldades financeiras que o clube enfrentou no início. Aos poucos, com a ajuda de familiares e amigos próximos, o time emplacou e fez história em Itapecerica, proporcionando alegria e emoção aos torcedores. A casa tricolor possui, atualmente, capacidade para 5 mil pessoas. E é referência para o futebol de local. Os campeonatos amadores, de modo geral, estão em ascensão nos últimos tempos em todo o país. Com a melhor organização das equipes nas competições, o nível técnico também evoluiu bastante. Por alguns anos, como a grande maioria dos clubes esportivos brasileiros, o União viveu sem possuir estatutos regularmente elaborados, não tendo, portanto, personalidade jurídica. Somente em 1953, a diretoria deu entrada junto ao Cartório do Registro de Títulos e Documentos da Comarca de Itapecerica, no pedido de registro do Estatuto. A última conquista da Liga Itapecericana de Futebol Amador, a Lifa, em dezembro de 2015, veio após os finalistas fazerem uma bela campanha durante o campeonato. Afinal, União e Lamounier chegaram invictos para a disputa dos dois jogos decisivos. O primeiro jogo foi de bastante tensão para os torcedores de ambas as equipes. Os dois times buscavam o gol a todo momento.

No decorrer da partida, o União reclamou bastante da arbitragem, que deixou de marcar um pênalti claríssimo. Foram os torcedores do Lamounier que festejaram quando Matheus, o Marreco, driblou dois zagueiros e encobriu o goleiro Alair, do Tricolor. Finalizada a partida, a desvantagem de 1 a 0 só poderia ser revertida no segundo jogo. O diretor do clube, Sergio Batista, antes da grande decisão, acreditava que aquele momento era de tamanha importância para a história do clube. “Estamos confiantes em trazer esse título, os jogadores estão motivados e vão entrar em campo com muita vontade para levantar esse troféu que, de forma justa, tem que ser nosso”. A finalíssima começou desfavorável ao União. Nos 26 minutos iniciais, o Lamounier já abria o placar, deixando a situação ainda mais complicada para o Tricolor. Na segunda etapa do jogo, o time foi para cima, e com o apoio da torcida, conseguiu dois gols imediatos. O primeiro foi de Éder, aos 15 minutos. O outro, com Gabriel, aos 38. Com esse resultado, o campeão seria definido nos pênaltis. Com o 2 a 1, o União precisaria de mais um gol para se tornar Campeão. Foi quando em um contra-ataque veloz, Éder passou pelo lateral adversário e cruzou na cabeça do artilheiro Fred Gato que, com tranquilidade, empurrou a bola para o fundo da rede do goleiro Berton. A emoção da torcida e jogadores era enorme. Depois de cinco anos sem comemorar uma conquista, o União Esporte Clube conseguiu de forma heroica o título, se consagrando eneacampeão. Após o jogo, o diretor Sergio Batista desabafou. “Não tem dinheiro que pague a emoção e a sensação de dever cumprido. Merecidamente, fomos os grandes campeões”. Emocionado, ele finalizou com o grito entalado na garganta: “O Campeão Voltou”. Os torcedores do União se emocionam com a bela história do time, vibram com emoção em todos os jogos. Isso é paixão. Não é por outra razão que o Tricolor é conhecido por seus torcedores, assim como pelos desportistas itapecericanos e da região, como o “Mais Querido”.

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m e r r o c e r s o i r e á d t i s s a r i Unive tecos em d o l b o b s e o t a u f e das em i t r d a p s jogo s para poderem asseirsttuirbàa mulheres jogos p rnativa s e t o l a e t n m a tes acha la; assédio dur n a d u t s E de au período

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VINÍCIUS XAVIER

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ão é presunção dizer sobre uma das maiores paixões brasileira: o futebol. Desde meados do século passado, quando ocorreu uma Copa do Mundo no país, mais de 70% da população no Brasil torce fielmente ou, ao menos, acompanha o time do coração, segundo uma edição de 2016 da Revista Placar. De lá para cá, vários aparatos tecnológicos contribuíram para a evolução do esporte no país e no mundo. Mas, devido às responsabilidades da vida adulta, conciliar o entretenimento com as obrigações nem sempre é fácil. Algumas pessoas trabalham, outras estudam, ou fazem as duas coisas ao longo da rotina em seus dias. Diante disso, nossa equipe de re-

portagem tentou desvendar: como os universitários fazem para se informarem sobre as partidas dos clubes, uma vez que essas, geralmente, são transmitidos no mesmo dia e na mesma hora das aulas? Os rádios e fones de ouvido nas salas de aula são comuns nesses dias e, até, nos pontos de ônibus, enquanto esperam pelo transporte público, no caminho até a casa, além dos aplicativos para acompanhar as partidas em tempo real. Entretanto, não é sempre que os estudantes se lembram de levar o celular e/ou a internet colabora. O que parece atrair mais o público jovem são mesmo os bares ao redor das faculdades e universidades. Lá, além de assistirem aos eventos esportivos,

ainda podem tirar um tempo para resenhar e apreciar um bom tira-gosto em companhia dos amigos e amigas. Esse é o caso de Paulo Henrique de Souza, estudante do 5º período de Engenharia Civil da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Ele é só um dos vários que frequentam o Bar Universitário, em frente à universidade, para assistir aos jogos do Atlético-MG na televisão. “Tenho TV por assinatura em casa, mas gosto de vir aqui com meus amigos para ver o Galo jogar. Até porque não tem graça assistir sozinho em casa, sem contar também que aqui a gente pode falar do time, beber, comer e ficar mais à vontade para vibrar. Onde moro, se gritarmos quando sai gol, o síndico do prédio

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manda até notificação no nosso apartamento; uma chatice!”, reclamou Paulo. Rayana Tereza, aluna do 3º período de Farmácia da Universidade Federal de São João del Rey (UFSJ) – campus Dona Lindu, também é atleticana e adora fazer o happy hour com as amigas no mesmo bar. “Minhas amigas e eu adoramos vir pra cá. Aqui é um ambiente diferente desses bares gourmets. É um boteco clássico, onde a gente pode vir e fazer a maior zona, sem ninguém encher a paciência. Sem contar que, além da companhia, ainda dá para torcer para o Galão da Massa, né? [risos]. Para isso aqui melhorar, só falta esse bando de homens desocupados e machistas das mesas do lado pararem de serem atrevidos e sentarem com a gente sem

terem sido convidados. É bem constrangedor!”, reclamou a estudante. Assédio e machismo

Esse tipo de situação não é caso isolado. De acordo com o site dibradoras.com.br, 80% das mulheres sofrem assédio ou já foram vítimas de algum preconceito no meio futebolístico, seja em bares ou nos próprios estádios. Formado por Angélica Souza, 30, publicitária e palmeirense, Júlia Vergueiro, 26, colorada e são paulina, Nayara Perone, 28, designer e corintiana, Renata Mendonça, 26, jornalista e são paulina, e Roberta Cardoso, a Nina, 33, jornalista e são paulina, as dibradoras fazem um trabalho interessante,

agindo em várias plataformas da rede mundial de computadores: site, podcast, Facebook e Twitter. O trabalho chamou a atenção de muita gente e, atualmente, as dibradoras expandiram seu trabalho para outras modalidades esportivas. Angélica Souza, publicitária e uma das criadoras do blog, relatou sobre a experiência de comunicar-se com mais mulheres e disse ser uma satisfação falar para o público-alvo. “É muito gratificante poder ajudar com a desmistificação do preconceito a respeito da mulher no futebol. Quando criamos o blog, pensamos justamente nisso. Hoje, podemos falar para todas nossas companheiras e, assim, tentar minimizar o machismo nesse meio”, enfatizou a publicitária.

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Tatianna Santos

Torcedor de barzinho

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JHONATAN SILVA

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manhece. O dia começa, mas não será um desses comuns como outro qualquer. A ansiedade toma conta de quem espera o momento do apito inicial. Afinal, hoje é dia de jogo. O indivíduo – cidadão, trabalhador, estudante, adulto ou idoso –, passa a ser somente torcedor e, durante os intermináveis minutos de jogo, aquele que era só um, torna-se multidão, se considerarmos que o futebol é o esporte mais popular no Brasil. Aqueles que não podem ir ao estádio procuram um local onde podem ver a partida: o barzinho. O barzinho é o recanto dos amargurados e, agora, também o recanto do torcedor; esse, às vezes, se amargura, porém, também se emociona e se alegra. Como já dizia o “rei”: “se chorei ou se sorri, o importante e que emoções eu vivi”. Futebol é emoção. Voltemos agora ao apito inicial, o instante mais esperado. Barzinho lotado, o jogo começa. Os olhares atentos da torcida mostram a paixão pelo esporte. De acordo com uma banda da capital mineira, “olhando para bola eu vejo o sol”. O sol passa de pé em pé, se aproxima da área e na torcida só se ouve

um grito, dessa vez, som de lamento: “huuuuu, passou perto”. O jogo “começa a ser jogado” e as táticas aparecem. Surgem jogadas de um lado e do outro, o outro, o adversário a ser batido, adversário não inimigo. Muitas vezes, vemos nos noticiários televisivos confrontos entre torcidas rivais como, por exemplo, a confusão gerada no último clássico Atlético-MG e Cruzeiro pelo campeonato mineiro. Não sei se posso chamar esses indivíduos

“O barzinho é o recanto dos amargurados e, agora, também o recanto do torcedor”

de torcedores, mas posso chamá-los de baderneiros. A violência da torcida, às vezes, acontece no próprio barzinho: os nervos estão “a flor da pele”. “Falta!”. O futebol é um esporte violento, de contato, e a briga dentro de campo também acontece, visto que, é disputa. Disputa que deve ser sadia, e valores como o respeito ao adversário e a ordem são os que precisam prevalecer.

Os ânimos se acalmam e o jogo “volta a ser jogado”, o torcedor no barzinho volta a apreciar o espetáculo. Gritos de incentivo são escutados de longe: “Pra cima deles!”,, até que o momento ápice chega e, com ele, o grito mais esperado: “Gooollll”. Nessa hora, o torcedor comemora, pula, grita, festeja com todas as pessoas, desconhecidas até aquele momento, mas que se unem para um só objetivo: gritar gol. Alegria de muitos e tristeza de outros, sensações que podem se inverter durante a partida. Começa o segundo tempo. O 1 a 0 no placar é pouco, é considerado resultado perigoso. O time adversário vem para cima e o juiz apita e marca: “Pênalti!”. A torcida, no barzinho, fica atenta, chance de empate, a responsabilidade no pé do batedor, o goleiro agora pode se consagrar, mas não foi dessa vez. Gol. São chegados os acréscimos do jogo e da minha crônica também. O juiz apita fim de papo, 1 a 1, hoje foi empate. O torcedor agora voltará para sua rotina, vai descansar porque amanhã tem trabalho, e o próximo jogo é só semana que vem.

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Esporte, educação infantil e qualidade de vida JOÃO MARCOS FIÚZA

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esporte é importante para a formação humana desde a infância. Segundo o professor de Educação Física Paulo Henrique Soares, as crianças praticantes de esportes têm uma qualidade de vida melhor. No Brasil, conforme o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei nº 9394/96, os currículos do Ensino Fundamental e Médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. A disciplina de Educação Física não consiste em soltar os alunos em uma quadra de futebol ou de voleibol e deixá-los jogando a carga-horária prevista no currículo. É necessário

haver profissionais preocupados com seus alunos, que possam acompanhá -los e orientá-los nas atividades, explicando e ensinando as questões referentes à prática de esporte e, também, sobre os benefícios e malefícios que o esporte ocasiona se praticado sem o acompanhamento profissional. Além disso, a disciplina faz com que os alunos aprendam a ter uma boa postura e convívio com outras pessoas. Segundo o educador físico Paulo Soares, professor na Escola Municipal Djalma Pinheiro Chagas, na cidade de Oliveira, o esporte contribui para a aprendizagem sobre o respeito. “As crianças aprendem as diferenças e as suas individualidades e, consequentemente, até onde vai o seu limite e onde começa o do outro”. Paulo Henrique também atua como personal fitness e avalia que a atividade física

sem acompanhamento profissional pode se tornar um risco. “Quando má praticadas, podem trazer um trauma para a vida toda. Para cada grau escolar, existe uma modalidade esportiva a ser praticada. Não se pode colocar uma atividade que eles ainda não sabem os fundamentos e muito menos, as regras’’. Em Divinópolis, a preocupação com a saúde e a formação dos alunos começa desde cedo nas escolas. O estudante de Educação Física André Alves Costa, 39, trabalha na Escola Estadual Henrique Galvão como estagiário, mas seus trabalhos são de profissional que está na área há anos. Ele promove, através de seus estudos e prática escolar, uma vida melhor e mais saudável para seus alunos, tirando o tempo ocioso e transferindo -o para uma atividade física.

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Amor local, sem divisão Como a torcida do Guarani relaciona o time à cidade de Divinópolis, mesmo vendo mais uma queda da equipe para a segunda divisão do Campeonato Mineiro. ALEXANDRE RODRIGUES ALVES

fora da primeira divisão, entre 1986 e jogos em casa.” afirma. Ainda segundo Natália, as pen1996. hegar cedo ao estádio WaldeDesde então, as fórmulas de disputa dências financeiras prejudicam um mar Teixeira de Faria, o popu- do Campeonato Mineiro foram muda- melhor desempenho e o crescimento lar Farião, no Bairro Porto Velho, é um das algumas vezes e, mesmo chegando da estrutura. “São muitos detalhes ritual que muitos torcedores, desde os perto, o time nunca conseguiu ir além que ainda precisam ser feitos para o pertencentes às torcidas organizadas da primeira fase, sendo rebaixado em desenvolvimento do clube. Um deles até os mais veteranos, passando por 2001, 2009 e, agora, em 2016. Nas ou- está em andamento, que é o pagaaqueles que chegam com suas famí- tras duas ocasiões, o time retornou da mento de dívidas antigas. Nos últilias, repetem em, praticamente, todo segunda divisão logo no ano seguinte mos anos, a atual diretoria pagou cerprimeiro semestre de ano em cada em que caiu (2002 e 2010, respectiva- ca de meio milhão de reais em dívidas Campeonato Mineiro, nem sempre na mente), contando com grandes públi- anteriores”. primeira divisão. Antes do jogo contra o Vila Nova de cos nos jogos da “Amor no esporte. Guarani é uma O Guarani, time segundona. E isso Nova Lima, dia 10 de abril, partida decoisa boa que existe em que representa nos leva a ques- cisiva para a permanência ou não da Divinópolis. Divinópolis nos tionar: por que o equipe na primeira divisão, foi possíOnde o time joga o principais camGuarani continua vel ouvir algumas pessoas na chegada divinopolitano está junto” peonatos de futendo o apoio lo- ao Farião sobre essa questão. O que fitebol de Minas cal mesmo não cou claro é que o elemento local, de reGerais, oferece sempre uma emoção fazendo grandes campanhas e sempre presentação da cidade, é muito forte na renovada a cada temporada para os sofrendo para se manter na elite fute- mente das pessoas. Segundo a torcedoseus torcedores. ra Zilma Josefina, 80, que acompanha bolística estadual? O que chama a atenção é que, ulPerguntada sobre o tema, a asses- o time há mais de 50 anos e foi casada timamente, a emoção não tem sido sora de imprensa do clube Natália Fer- com Mário Silva, falecido ex-jogador acompanhada de algo positivo, pelo nanda Santos cita a compreensão da do Guarani, o sentimento pela cidade menos no que diz respeito ao desem- torcida sobre a atual situação finan- é fundamental, desde a época em que penho do time dentro de campo. O ceira da instituição. “Acreditamos que havia uma rivalidade com o FerroviáGuarani foi fundado em 1930 e tem a aproximação do rio, time amador uma história de tradição no futebol torcedor se deve local. “Amor no do estado. Mas sua melhor colocação ao trabalho que o esporte. Guarani em um Campeonato Mineiro se deu clube tem feito de é uma coisa boa no longínquo ano de 1961, quando foi estar mais próxique existe em Divice-campeão, ficando atrás do Cru- mo e transparenvinópolis. Onde o zeiro. time joga, o divite da torcida. Este Desde então o time alternou algu- ano, tivemos uma nopolitano está mas poucas alegrias em vitórias em das maiores méjunto”. E mesmo casa contra os times da capital (como dias de ocupação quem não é de contra o Cruzeiro, em 2001, o Atlético, de estádio dos 12 Divinópolis reem 2005, e o América, em 2007, numa times da elite do conhece essa histórica virada de 4x3 e mesmo neste Mineiro. Foi uma paixão. O neto ano por 3x0) com períodos complica- média de 60% de de Dona Zilma, dos como a estiagem de 10 anos de ocupação nos seis Duas gerações de torcedores: dona Zilma e Pedro Artur da

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Alecsander Alves

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seu neto Pedro Artur torcendo pelo Guarani.

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Silva, de 17 anos, é de Santo Antônio do Monte, cidade que fica a 69 Km de Divinópolis, mas sempre acompanha os jogos do Bugre e montou até mesmo um canal no YouTube, chamado “O Bugrino”, que fala sobre as coisas do clube divinopolitano. “A torcida da cidade sempre apoiou, mesmo que seja para salvar o time do rebaixamento”. Uma reclamação que muitos fazem é a falta de apoio ao clube. É um discurso corrente de que faltam mais recursos locais para que o Guarani tenha mais chance nos campeonatos que disputam. O vendedor de camisas Donizete Antônio, que trabalha há 17 anos na porta do estádio, é um que fala desse abandono. “O Guarani, como os demais times menores, precisaria que os empresários locais pudessem ajudar mais na formação do time”. Até porque Divi-

nópolis é a cidade conhecida como ‘rainha da confecção’”. O apoio da prefeitura também é cobrado. “A prefeitura deveria apoiar mais, assim o time teria até chance de ser campeão”, reforça o jovem Pedro Artur. O jogo contra o Vila Nova não terminou bem. Apesar de o Farião receber um bom público e da vitória por 2x1, os outros resultados não ajudaram e o time voltou a ser rebaixado para a segunda divisão mineira. Na saída do campo não foi possível notar uma tristeza maior por parte dos torcedores, talvez, já escaldados com os maus resultados dos últimos anos. Mas o desejo da maioria parece ser o de continuar torcendo. O Estudante Felipe Parreiras, 20, acompanha o time desde os 3 anos quando ia aos jogos com seu pai. E resume bem o sen-

timento local com o velho Guará. “Por ser o único time na cidade a pessoa acompanha e espera sempre, apesar de vitória e derrota, ter alguma felicidade. É como se fosse um filho para cada um”.

CLASSIFICAÇÃO DO GUARANI NO CAMPEONATO MINEIRO NOS ÚLTIMOS 10 ANOS 2006

10º

2007

10º

2008

2009

12º (rebaixado)

Fotos da página: Alecsander Alves

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Torcedores do Guarani apoiando os jogadores na chegada ao Farião, no jogo decisivo contra o Vila Nova.

2010

1º (segunda divisão mineira)

2011

2012

2013

6º (classificado à série D nacional, mas eliminado na primeira fase)

2014 Crédito do desenho: http://brasileiroseried.blogspot.com.br/

2015 2016

10º 10º 11º (rebaixado)

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Futebol americano com pão de queijo JOÃO LUIZ DOS REIS FILHO

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magine um Campeonato Mineiro Divinópolis. Na cidade, foi criado o por carnais esportivos, são responsáde Futebol Americano? Sim! Fu- Black Bulls. As seletivas para parti- veis pelo aumento da prática do estebol Americano em Minas. E já es- cipar do time são bem concorridas. porte no Brasil. Entre os narradores tamos na terceira edição. O Minas Jovens de todos os bairros partici- de maior destaque, temos o divinopoBowl vem fazendo parte da agenda pam com a intenção de diversão e de litano Rômulo Mendonça. Com suas esportiva mineira. A partida de es- praticar a nova sensação esportiva frases de efeito, transmite aos telestreia ocorreu no gramado do Estádio brasileira. pectadores todas as emoções dos joIndependência, em Belo Horizonte. O reconhecimento do esporte gos da liga americana, a poderosa NFL A disputa entre as equipes Mi- vem crescendo. O Get Eagles, time (National Football League). nas Locomotiva e Get Eagles movi- que disputou a primeira partida do E o porque da fama do Futementou a capital mineira com cerca campeonato mineiro, recebeu no bol Americano? Nos Estados Unidos, de 5 mil pagantes no estádio. O es- mês de abril o Diploma de Honra o esporte é o mais popular, como o porte no Brasil, tido futebol no Brasil. http://futebolamericanobrasil.com/minas-locomotiva como amador, vem É praticado profisbuscando profissionalmente desde sionalismo a cada 1892, produzindo torneio. Já existe, heróis de gerações inclusive, um camque, até hoje, enopeonato brasileiro brecem o esporte de futebol americacom suas conquisno: o Torneio Toutas. Os altos salários chdown. Realizado e transações miliohá sete anos no país, nárias despertam ele vem crescendo a nos fãs interesse ou, cada ano. As finais mesmo, paixão pelos são transmitidas, ao times. O tochdwn é ponto do jogo. É como o gol no futebol tradicional. A bola, apesar do vivo, na televisão, Existem algumas nome é oval. Pés e mãos são usadas no esporte de acordo com a jogada. com direito a shows ligações do esporte durante o intervalo, com o Brasil. No ano como no Super Bowl (final do cam- ao Mérito da Câmara Municipal de passado, estreou na liga o jogador peonato americano). Este é um dos Belo Horizonte pela participação em Cairo Santos, atuando por um time eventos mais famosos do esporte no campeonato realizado na cidade do profissional da NFL. Dentre os granmundo, chegando a figurar entre as México, no início deste ano. O Bra- des jogadores de destaque do esportransmissões televisivas com maior sil possui uma seleção Brasileira de te, Tom Brady é, atualmente, um dos audiência. Futebol Americano que disputou o jogadores no mundo de maior destaEm Minas Gerais, entretanto, a mundial da modalidade. As federa- que. É detentor de diversos recordes estrutura do Super Bowl ainda está ções estaduais ligadas ao esporte na liga. Joga na posição de quarterlonge de acontecer, mas este será um organizam os campeonatos, contri- back, o jogador que lança a bola aos ano marcante para o esporte em Mi- buindo para a realização de eventos companheiros para eles tentarem nas e no Brasil. O campeonato nunca cada vez maiores. fazer o touchdown (ponto). Se não esteve tão bem organizado e divulgaAs notícias impulsionadas pelas bastasse toda fama pertinente ao do. Há times profissionais de várias redes sociais também contribuem esporte, o atleta ainda é casado com cidades mineiras, como Uberlândia, para a divulgação e propagação do a modelo brasileira Gisele BündUberaba e Pouso Alegre. Também há esporte entre os jovens. As trans- chen. Diante de tantos vínculos com times que buscam corpo, como em missões da TV fechada, realizadas o Brasil, é fácil perceber o interesse UEMG Divinópolis - Curso de Jornalismo – 3º período – 1º Semestre de 2016


INTERVAL e o crescimento do esporte no país. No dia 18 de junho de 2016, a cidade de Belo Horizonte foi invadida por fãs e torcedores que puderam acompanhar a final do campeonato. Desta vez, o cenário foi o Mineirão. O palco dos duelos no futebol recebeu um novo tipo de confronto. E não faltou emoção. Foram cerca de 8 mil pagantes. Mesmo não sendo uma final americana, o jogo teve todos os detalhes: animadoras de torcidas, entradas triunfais dos times, grandes jogadas e emoção até o último minuto. A partida foi narrada por Rômulo Mendonça e Paula Mancha e foi notícia em todos os meios de comunicação. O esporte no Brasil está tão em evidência que uma equipe dos Estados Unidos acompanhou a final registrando cenas que farão parte de um documentário sobre o esporte. O Minas Locomotiva consagrouse campeção. Venceu a disputa pelo placar de 21x 17. O palco de Reinaldo, Tostão foi dominado por verdadeiros exérctios de armaduras, em uma disputa alucinante de estratégia e habilidade. Talvez, uma nova boa lembrança para o Mineirão, marcado pelo jogo histórico entre Brasil e Alemanha. O Futebol Americano é um esporte baseado na velocidade, na agilidade, na força bruta e na capacidade tática de seus jogadores. Esses trabalham em equipe empurrando, bloqueando ou perseguindo os adversários para que a bola possa avançar pelo território até a zona de pontuação (end zone). A partida é formada por várias jogadas de curta duração que se estendem pelo tempo total da partida: uma hora. Substituições são permitidas entre todas as jogadas, fazendo do jogo altamente tático e estratégico. Em campo, cada time é composto por 11 jogadores. Uma equipe entra com seu time de ataque e o outro com seus jogadores de defe-

sa. Além das equipes de ataque e defesa, há também os times para jogadas especiais. No total, cada equipe é composta por 53 jogadores de cada lado, mais a comissão técnica. Há técnicos específicos para jogadas de ataque e defesa. Como existem muitas regras complexas, durante a partida, sete árbitros acompanham todas as jogadas. Ainda há possibilidade de rever jogadas no caso de haver dúvida sobre o que os juízes decidiram. Para muitos, o esporte é violento e confuso, mas o que ocorre em campo é uma verdadeira batalha tática entre os times que buscam o ponto a cada jarda conquistada. Todos os jogadores jogam equipados com verdadeiras armaduras e capacetes resistentes para suportar as jogadas de alto impacto durante a partida. O certo é que a temporada 2016 do campeonato mineiro foi um sucesso e ano que vem promete mais emoções e grandes jogos. O sucesso

de público nos grandes estádios da capital são sinais de que o mineiro vem despertando o gosto pelo jogo. Que venha o Minal Bowl 2017. Definitivamente, o pão de queijo se mistura à bola oval, integrando esportes e culturas.

Modelo de jogada de ataque. Os “x” são os jogadores do time de defesa. Os “o” são os jogadores de ataque. Os traços amarelos são as rotas que os jogadores percorrem para tentar receber a bola. Fonte da imagem: http://www.courageousworks.com/#!Other-Teams-Playbook/ c21kp/56eafc760cf27d89644ddbb6 Comemoração do título da temporada 2016 conquistada pelo Minas Locomotiva

http://futebolamericanobrasil.com/minas-locomotiva-conquista-o-minas-bowl-iii-e-mantem-hegemoniano-estado/

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AGORA É QUE SÃO LUANA NATACHA

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ELAS!

ampo, quadra, bola, árbitro, bandeirinha, juiz, campeonato, olimpíadas, enfim, termos que definem o mundo do esporte. Seja na atuação profissional ou na torcida, esse meio, antes masculinizado, está sendo invadido pelas mulheres, que vieram para mostrar sua capacidade, força, garra e, claro, o toque feminino. Mas a aceitação e a inclusão da mulher, seja nos campos e quadras, ou fora deles, passaram por uma luta diária e ainda vivem as barreiras do preconceito que, muitas vezes, impedem a atuação feminina em determinadas áreas do esporte. A imagem da mulher como um ser frágil e, ainda, a possibilidade de sofrer assédio, são barreiras que dificultam o acesso a certas áreas. Mas deve-se ressaltar o quão importante tem sido a busca pela valorização da mulher, da coragem e da motivação para continuar a vencer desafios, ainda que de forma lenta, e construir ambientes pacíficos e igualitários entre os seres humanos. Há diversos exemplos em que o toque feminino deu o primeiro passo para que essas conquistas se concretizassem. Primeiro passe Um dos grandes destaques é com o surgimento do basquete, concebido em berço feminino, mais especificamente, por irmãs

de caridade, como nos relata a professora de Educação Física, Amanda Cardoso. Hoje, o esporte é praticado massivamente pelo público masculino e se perdeu um poucos das mulheres. A última Olimpíada realizada em Londres, em 2012, foi um marco na presença feminina e de grande significação não somente na representação, mais pelo número de medalhas conquistadas. Para que esses direitos fossem alcançados, as mulheres tiveram que lutar muito e como a luta é diária, não pode parar. Há muitos anseios

a serem alcançados. Por mais obstáculos que tenham sido superados, o resultado ainda não é satisfatório. Analisando todo o processo percorrido pelas mulheres, a INTERVALO conversou com a professora do curso de Educação Física da Universidade do Estado de Minas Gerais, Amanda Cardoso, que explicou quais são os desafios em praticar a disciplina dentro de um ambiente universitário.

. Luana Natacha: Como vem sendo disseminada a inserção da mulher no esporte? . Amanda Cardoso: A inserção da mulher no esporte vem sendo alcançado através de muita luta e obstáculos derrubados, por mais desafios que se tem ultrapassado, tem muito o que se buscar. Hoje, percebe-se uma restrição muito grande especialmente da mídia, que não divulga a existência de times excelentes formados por mulheres, como futsal, handebol, que são destaques pela atuação e medalhas conquistadas. O preconceito se torna tão ideológico, que antigamente acreditava-se que as mulheres que participavam de algum esporte, se tornariam masculinizadas só pelo fato de participar. Eles acreditavam também que as características físicas das mulheres pudessem ser alteAlunas do 3º período do Curso de Educação Física – licenciatura radas, como a voz mais grosda UEMG - unidade Divinópolis: Meire dos Santos e Mariana Pausa, o crescimento de pelos. la (da esquerda para direita). Luana Natacha

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. Luana Natacha: Como é a divisão em sala de aula, o número de alunos por gênero? . Amanda Cardoso: Dentro da sala de aula, o número de alunos que procuram o curso de Educação Física é bem diversificado, não havendo diferença entre os gêneros, mas existe uma barreira quando o assunto é a grade curricular, não sendo designada matéria para debater sobre o assunto. Outra barreira é aplicação da prática, na qual busco por atividades em que as mulheres estejam inseridas, pois na divisão das modalidades e equipes, as mulheres são deixadas de lado. Procuro sempre adaptar práticas para realizar essa inclusão, coloco regras. Outra dificuldade se refere à aceitação por partes dos alunos pela atuação de uma mulher como professora de Educação Física.

Luana Natacha

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Mariana Paula, estudante do curso de Educação Física da UEMG - unidade Divinópolis

Amanda citou um dado interessan. Luana Natacha: Qual esporte é te sobre a possibilidade da mudança mais indicado para as mulheres? de regras no âmbito profissional, uma . Amanda Cardoso: Perecebe-se forma de fazer uma adaptação para as que essa escolha é baseado em uma mulheres. De acordo com ela, sua po- construção cultural, como, por exemsição é contrária plo, vemos nas “Mulher pode jogar todo tipo a essa afirmação: escolas as mude esporte. Não devemos lutar “Porque tem que lheres jogam vôpor uma divisão, mas por uma mudar as regras? lei e os homens, adaptação, onde o preconceito Mulheres tamfutebol. O que seja banido” bém são capazes vemos hoje é que de jogar da mesma forma. Algumas di- as mulheres não podem jogar esporferenças que temos é na altura da rede te que tenha muito contato, é um sige no tamanho da bola, para auxiliar no formado através de pensamentos melhor no manuseio. Essa mudança ideológicos. Verifica-se que temos nas regras foi especulada, com o intui- pouco estudos acadêmicos a respeito to de dar uma alavancada no esporte da mulher no esporte. Há muito o que feminino”, afirma Amanda. caminhar ainda.

Curiosidades... . A primeira edição dos Jogos Olímpicos na Era Moderna foi realizado em 1896 na Grécia e não houve participação das mulheres. Alguns dos idealizadores eram contra à participação, alegando que a mulher vulgariza o ambiente cheio de glórias e conquistas.

. Os primeiros esportes a serem praticados por mulheres, foram o golfe e o tênis, em 1990, em Paris. De acordo com alguns historiadores, não é possível identificar o número de participação das mulheres nessa época. Sabe-se que a primeira conquista da medalha olímpica, foi con-

O feminismo e a luta pelos diretos A inclusão da mulher partiu do princípio da contestação da visão de que a mulher vivia à sombra dos homens. Assim, foi aplicada uma medida de divisão, que reuniu as mulheres em grupos unificados e com identidades próprias. Quando se fala dos direitos das mulheres, logo remete-se ao Movimento Feminista, que surgiu na Europa no século XIX e eclodiu no Brasil entre as décadas de 1930 e 1940. Mais especificamente em 1934, no governo de Getúlio Vargas, o Movimento Feminista do Brasil conseguiu um grande marco para as mulheres, ao conceder a elas o direito de votar, o que, até então, era privilégio exclusivo dos homens.Mesmo sem apoio, os primeiros passos dados por essas mulheres guerreiras abriram caminhos para o reconhecimento da mulher no esporte. Muito deles, foram debatidos por sua veracidade, mas sua existência é comprovada.

Mais rápido, mais alto, mais forte A contagem para as Olimpíadas RIO 2016 se aproxima. Entres os dias 5 e 21 de agosto, terras brasileiras se tornarão palco do maior evento esportivo mundial. Participaram do evento, 10.500 atletas, 206 países, 306 provas com medalhas (ouro, prata e bronze). Serão 17 dias, 136 esportes voltados para as mulheres e nove de participação mista (homens e mulheres). Reprodução

cedido a britânica Charlotte Cooper, mas a mesma não chegou a receber a medalha, pois o tênis, não era considerado um esporte premiado. . Em 1941, surgiu no Brasil a primeira legislação esportista, mas a participação das mulheres era restrita.

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CORRIDA DE RUA Idosa divinopolitana é exemplo de superação em eventos de corrida pelo país ALECSANDER ALVES

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Divulgação

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odos os dias, Ana Lúcia acor- por todo o país, praticamente blo- recente do que seríamos capada quando muitos ainda es- queiam a visão da parede. A última zes de presumir. Repousando tão dormindo. Por volta das 5h30, contagem totalizou cerca de 200 sobre o antigo banco de madeira Tia Ana – assim apelidada pelos co- prêmios, mas Ana, humilde e dis- construído no fundo de seu extenso legas e familiares – já prepara seu creta, já não lembra mais a quanti- quintal, sob a sombra de jabuticauniforme para mais um treino mati- dade correta. O número de meda- beiras e ao som do canto dos pássanal pelas ruas de Divinópolis. Aos 65 lhas é ainda maior, mas essas são ros livres, a campeã conta sobre sua anos de idade, a mais idosa corredo- arquivadas em local reservado. O motivação em começar a praticar o ra de rua da cidade esbanja energia, desinteresse de Ana em contabilizar esporte. Ana não teve parentes atledeterminação e coragem. Membra suas vitórias ilustra a essência de tas e afirma que jamais teve interesda Associação de Corredores de Rua seu amor pelo esporte e seu genuí- se na prática esportiva durante sua de Divinópolis (ACORD) há quase no prazer em competir, mais do que juventude. O surgimento do desejo 10 anos, Tia de correr Ana ganhou surgira após popularidauma série de na equipe de trágicos e no meio episódios esportivo em sua vida. pela sua deAparentedicação e mente dessaudosismo. confortável, Todas as Ana descreve manhãs, duo sofrimenrante seus to passado treinos, a por volta de atleta receseus 50 anos be cumpride idade, mentos de quando foi todos aquesubmetida les que a a uma série Fotografia oficial da equipe da Associação de Corredores de Rua de Divinópolis (ACORD). Ana Lúcia é reconhecem de processos um destaque entre os atletas, sendo uma das mulheres a usar o uniforme vermelho. e aguardam cirúrgicos atenciosapara remomente sua trilha rotineira. Os trei- vencer. Tímida, Ana folheia seu ál- ção de tumores e meses de internanos diários pela cidade vão até as 9h, bum de fotografias, relembrando os ção hospitalar. quando Ana retorna para sua resi- mais saudosos e alegres momentos Ao mesmo dência próxima ao centro comercial de sua carreira como atleta. As pá- tempo em de Divinópolis. ginas em branco no final, aguardam que lutaA visão do primeiro cômodo da serem preenchidas por novos regis- va pela casa de Ana é deslumbrante. O imen- tros de muitas outras provas a serem própria so volume de troféus, simbolizando competidas. vida, cada vitória da atleta em corridas A história de nossa atleta é mais A n a UEMG Divinópolis - Curso de Jornalismo – 3º período – 1º Semestre de 2016


Foto: Arquivo Pessoal Ana Lúcia Gomes

INTERVAL também se esforçava para ajudar sua amada mãe, Leonarda Gomes, que havia sido vítima de um derrame repentino. À medida que Ana lentamente se recuperava das cirurgias, a saúde de Leonarda piorava gradativamente. O auxílio oferecido à mãe que passava por dificuldades, criou laços de proximidade e afeto ainda maiores entre as duas guerreiras. Em 2001, Leonarda Gomes contemplou o familiar cenário quase rural do quintal de Ana pela última vez. Apoiando-se à estaca de metal que segurava o telhado do alpendre onde as crianças da vizinhança brincavam em meio ao jardim, Leonarda fitava a imagem do velho banco de madeira sob as jabuticabeiras enquanto lentamente desmaiava sobre os braços de Ana. Naquele dia, Ana passou pelo pior momento de sua vida. Leonarda morrera aos 96 anos de idade, deixando sua filha em um profundo estado de angústia. Ana, que nunca havia se casado e dedicara a maior parte de sua vida em ajudar sua mãe e as irmãs, agora enfrentava sozinha uma forte depressão, que a levara a uma crise existencial causando frequentes desejos de suicídio. Após a aposentadoria, o pontapé para a aproximação de Ana à equipe ACORD surge por meio de seu afilhado, Leonardo Freitas – atualmente, professor do curso de Enfermagem na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) – que, na época, participava esporadicamente de provas por meio da equipe. Ana começou a trabalhar voluntariamente como secretária para a ACORD, executando tarefas como angariamento de patrocínios

e distribuição de produtos durante as provas e eventos. Ana comenta que ao conviver diariamente com atletas, acabou se interessando em praticar o esporte. “Participei como voluntária durante dois anos, e ao vê-los correr, vendo meu sobrinho, decidi participar de uma corrida, onde consegui me sair muito bem. Foi quando um ‘bichinho me mordeu’ e continuo correndo até hoje”, comenta Tia Ana, com um gracioso sorriso em seu rosto. Para ser aceita em meio à equipe, fundada na década de 1970, Ana se submeteu a mais seis meses de treinamento e diversas provas de corrida de rua como atleta independente. Em 2006, Ana foi finalmente convidada a vestir o uniforme da equipe e carinhosamente batizada como “tia” pelos seus novos colegas de equipe. Guerreira, Ana orgulhosamente afirma que encontrou no esporte a válvula de escape de seus maiores problemas. “Hoje, graças a Deus, vivo um período em minha vida de muita liberdade de espírito e muita alegria. Tudo que eu queria era me libertar da minha angústia, da solidão e das coisas que me entristeciam. Hoje, além de recuperar 100% da minha saúde, ainda me sinto respeitada, e isso faz bem pra minha autoestima.” Graças ao trabalho em equipe, Tia Ana pôde participar de nove edições da famosa Corrida Internacional de São Silvestre, e de outras provas de renome nacional e internacional, como a Corrida 10 Milhas Garoto, em Vitória, Espírito Santo. Em um momento de descontração, Tia Ana ainda sugere aos jovens que não abram mão do atletismo, e classifica a corrida de rua como o mais barato e acessível esporte, podendo ser praticado por todos. Palavras de uma mulher guerreira, com um grande espírito de iniciativa, coragem, dedicação, compromisso e persistência, que a cada passo de uma maratona ou treino, nspira como exemplo de superação e vitória.

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Não me vejo? Não existo! Representatividade não se trata de um tabu, mas, sim, como o mundo enxerga aquilo que desconhece EMANUELA SOUZA

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os últimos anos, a indústria ci- enredo, não como um interesse român- Pública pela Universidade Federal da nematográfica tem ganhado tico, mas, sim, como uma heroína que Bahia. Negra e feminista, constantecada vez mais força no mercado, tra- estava destinada a salvar a galáxia. Até mente ela está diante de debates sobre zendo propostas diferentes e temáticas hoje, a princesa é reconhecida como a representatividade negra em todos os polêmicas. Tantas histórias e produções símbolo de força e coragem, sendo ad- meios de comunicação. inovadoras trazem ao público a sensa- mirada por milhares de fãs ao redor Apesar de os movimentos sociais ção de poder se enxergar do mundo e inspirando terem ganhado força nos últimos anos, naquela grande tela. Mas mulheres a seguirem seus os passos para uma mudança radical na agora nos perguntamos: instintos e jamais desisti- representatividade de mulheres, negros quem, de fato consegue se rem de seus objetivos. e homossexuais ainda são pequenos. ver nas telonas no cinema? Leia e Hattie são sím- A maioria das personagens femininas Em 1940, Hattie McDabolos notáveis em suas ainda cai no estereótipo de mulher forniel se tornou a primeira gerações, representando te e bem-sucedida que percebeu que mulher negra a ganhar o grupos diferentes e ins- sua vida não valia a pena, pois ela não Oscar de melhor atriz copirando jovens e adultos. tinha um parceiro com quem dividir Hattie McDaniel adjuvante. Neste período, Mas agora nos pergunta- tudo aquilo. Assim como personagens o racismo e o preconceito ainda eram mos: o que, de fato, é representativida- homens e negros que são retratados eminentes nos Estados Unidos, mas ela, de? De maneira simplificada, significa como mercenários armados e impiepobre e filha de ex-escravos, conseguiu representar com qualidade e dosos. Mesmo com as recentes muprovar que seu talento ia muito além da efetividade um grupo ou uma danças desse paradigma, com persocor de pele e tornou-se um dos maiores minoria. Por que isso é impornagens como Furiosa (Mad Max) ou símbolos da luta racial nos Estados Uni- tante? Imagine uma garotinha Finn (StarWars – O Despertar da dos. Ao ver uma mulher negra receber negra que se vê frente a uma Força), ainda há um longo camium prêmio tão cobiçado pela sociedade mídia que personifica prinnho a ser percorrido para uma branca, milhares de jovens e adultos ne- cesas como garotas louras de mudança drástica. gros se viram capazes de passar por cima olhos azuis, magras e altas. Muitos afirmam que a do preconceito e buscar seus sonhos. Isso pode gerar a não aceitarepresentatividade não é Trinta anos após McDaniel, nos anos ção da sua cor, raça ou cultura. importante e não passa 1970, nascia uma das lendas do cinema, De maneira direta — e, talvez, uma desculpa para que seria lembrada por gerações por um pouco grosseira — se você “encher o ego” de mosuas lições de compaixão e coragem. não se vê, você não existe. “É vimentos sociais. Em uma Estreando em 25 de maio de 1977, Star extremamente danoso para visão menos radicalizada, a reWars ganhava o coração dos fãs de ci- a autoestima de crianças nepresentatividade traz às pessoas Divulgação nema, trazendo temáticas inovadoras gras crescerem tendo como refea esperança e a certeza de que e efeitos que jamais foram testados até rencial apenas pessoas brancas, uma elas não precisam ser aquilo que foram então. Uma das figuras femininas mais vez que elas costumam querer ser os designadas para ser em sua sociedade. marcantes de toda a franquia, foi a Prin- personagens que gostam e ter aquelas O cinema, como sétima arte, ajuda a cesa Leia. Filha de Padmé e Anakin, irmã características. Para adultos, uma boa quebrar essas concepções, trazendo a gêmea de Luke, foi adotada e escondida representatividade no cinema também vida de um grupo como ela realmente é. para que não se tornasse uma arma do perpassa a questão da autoestima ne- De certa forma, a arte sempre foi uma Império. Sua personalidade marcante e gra, porém, possui um significado ainda maneira de representar o desconhecido o instinto de sobrevivência, não eram maior, que se refere à ocupação de espa- e não está sendo diferente agora. Mescaracterísticas atribuídas a mulheres ços que, historicamente, foram negados mo que lentos, estamos caminhando em filmes até então. Leia se tornou uma e, mesmo, inacessíveis a nós”, diz Fran- para uma era onde o cinema é produzipersonagem de grande importância no cielle Soares 22, graduada em Gestão do para todas as classes e minorias.

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difícil arte de

A publicar livros blicação e queira ar- -reportagem de Ricardo, Marcelo Freicar com os custos da tas, teve dificuldades para conseguir o obra ou dividi-los. patrocínio através da Lei de Incentivo Com distribuição a Cultura (Lei Rouanet). O lançamennacional, a Gulliver to, que estava previsto para 2013, só possui três editores, ocorreu em 2015. “Passei minhas féentre eles Daniel rias de 2012 e todos os fins de semana Bicalho, também que tinha folga indo às comunidades diretor da editora e rurais para documentar histórias dos proprietário de uma moradores. Tenho fascinação por enlivraria. “Distribuir trevistas”. nacionalmente os A divulgação do livro começou a ser livros facilita as ven- feita em uma fanpage criada por Ricardas de cada autor”, do no Facebook. Quando o livro foi lanoberva Daniel. “Se çado, a editora investiu na divulgação o autor trabalha a também. No momento, o jornalista está Arquivo Pessoal - Terezinha Fonseca venda, ele vende. escrevendo um novo livro sobre web Além de escritor, ele jornalismo que será lançado em breve. ARIANA COIMBRA é um bom marqueteiro, ele não deAtualmente, como uma forma de pende da editora. Vender é uma arte. fugir da publicação tradicional através esde pequena, Terezinha Fonseca ouvia e contava histórias. Na Gulliver mesmo, temos escritores de editoras, que estão cada vez mais seletivas, novos autores utilizam redes A literatura sempre fez parte do seu que vendem demais.” De acordo com Ricardo Welbert, sociais e blogs para divulgarem e pucotidiano e o amor foi tanto que optou 25, jornalista formado pela UEMG e, blicarem suas obras. Ainda há a possipor graduar-se em Letras, no Instituto de Ensino Superior e Pesquisa (INESP), atualmente, repórter web da TV Inte- bilidade de uma editora publicar apegração, autor de um livro-reportagem nas e-books ou o próprio autor editar atual UEMG - unidade Divinópolis. Em sua casa, ela recebeu a equi- lançado ano passado para a coleção seu livro digital através de aplicativos pe da INTERVALO para um bate-papo “300 anos Pitangui”, é mais difícil con- especializados. Há um mercado tanto descontraído sobre o mundo das letras. seguir publicar livros literários que li- para livros físicos quanto digitais. Seu primeiro livro – “A menina que não vros acadêmicos. Isso porque o falava o vinte” – foi uma produção inmeio acadêmico dependente, escrita em homenagem a sua filha, Alessandra Fonseca. Em tem contato fácil 2001, foi preciso buscar parcerias para com editoras espea publicação, algo fácil de se encontrar cíficas, segmentana época. Hoje, ao contrário, o cenário das, especializadas se modificou. Mesmo com outros sete em obras sobre as áreas livros já lançados e publicados pela diferentes editora Gulliver – “Papinho D’água de conhecimento. Doce”, “Vovô sumiu”, “A menor menina “Normalmente, esdo mundo ou grão de mostarda”, “Tatu sas editoras já têm Totonho”, “O sono perdido”, “A estreli- canais de divulganha que virou gente” –, Terezinha acha ção e distribuição que a publicação está mais difícil do consolidados, que que quando começou a escrever. Se- impedem o acúmugundo ela, o motivo é a dificuldade em lo no estoque”. Arquivo Pessoal - Ricardo Welbert O editor do livro encontrar uma editora que aceite a pu-

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Os Livros na Era Digital N

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Reprodução Facebook

o ônibus, na rua ou mesmo no trabalho, a tela de cinco polegadas ou menos, é foco de atenção. Para estudar, trabalhar e, principalmente, distrair, esta revolução tecnológica ganha espaço cada vez mais no cotidiano das pessoas, permitindo acessar variados tipos de informação com um espaço de tempo muito curto. Entre vários, os e-books crescem em meio ao público interessado em leitura, pela praticidade oferecida. Pessoas de várias idades têm utilizado essa ferramenta, porém, os livros digitais ainda não atingiram a todos. Os leitores mais frequentes, preferem conti-

nuar a ter em mãos o bom e velho livro. Franciely Carolina, 20, estudante de História na Universidade Estadual do Estado de Minas Gerais (UEMG), relatou um pouco sobre sua experiência com os livros. “Eu leio muito, em média, 40 livros por ano. Gosto de literatura, mas, pela faculdade, estou sendo obrigada a ler muitos acadêmicos. Prefiro os livros de papel, porque gosto de tocar e sentir o cheiro de novo”, disse sorrindo. Apesar de o Brasil não

apresentar um grande número de leitores assíduos, este formato tem atraído vários tipos de pessoas. Na cidade de Divinópolis, há três grandes livrarias. Aparentemente, não sofrem com a falta de vendas de exemplares devido aos livros digitais. A pedagoga Melry Alves, 30, explica um pouco sobre as vantagens do livro digital. “Como as crianças de hoje têm acesso muito cedo aos aparelhos eletrônicos, eles servem como aliados no incentivo à leitura. Os pais têm papel fundamental para este desenvolvimento, precisam mostrar aplicativos aos filhos e, se possível, instalar em seus próprios aparelhos para um envolvimento mais fácil. A criança vê os pais fazendo e, como consequência, possivelmente o fará também”. Ela acrescenta ainda que “a leitura é importante para o desenvolvimento da criança. Alguns pais ainda enxergam como status, mas uma criança que cresce com o hábito de ler, se concentra mais, além de aprender e similar informações muito mais rápido”. Por ser um mercado novo, os livros digitais ainda tem pouco acesso por parte dos deficientes visuais e tem ampliado o formato utilizado, que é o áudio book. Muitos sites e aplicativos oferecem e-books gratuitos. Basta fazer uma breve pesquisa para obter um. Lojas on-line especializadas em livros também adotaram este formato para venda. Alguns estão disponíveis em e-books e livros. A pedagoga Melry relata um problema encontrado . “Uma coisa que acontece comigo, às vezes, é o fato de livros in-

Reprodução Facebook

MIRIELE ALVES

completos ou escritos por leitores, em releituras. Isto prejudica em algumas informações, como por exemplo, em livros acadêmicos. Você pesquisa pelo título e não existe nenhuma identificação de que é uma resenha”, observou. Há quem prefira os mais extensos ou breves, romance à ação; há quem goste de poesias, terror e, mesmo, os de autoajuda. Não importa qual seja o seu. O importante é saber que pode ter um, dois ou mais livros no seu celular, notebook, tablet ou em sua estante e que pode acessá-los quando quiser. E o mais importante: de forma gratuita.

Sites que oferecem acessibilidade com o download grátis: www.universidadefalada.com.br www.canaldoensino.com.br

www.openculture.com/freeaudiobooks www.lendo.org

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Onde está o interesse pelas bibliotecas públicas? JÚLIA RESENDE

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ndar por entre as prateleiras, sentir o cheiro do papel e, devido a grande quantidade de livros, ficar na dúvida de qual será o livro escolhido para ser a leitura daquela semana, já não são ações rotineiras da maior parte da população brasileira. Agora, com a queda no número de leitores, muito menos. De acordo com o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, em levantamento realizado em abril de 2015, o Brasil possui 6.102 bibliotecas públicas cadastradas e cerca de 3 mil comunitárias. Os números da pesquisa indicam também que dos 5.570 municípios brasileiros, apenas 112 não contam com espaços públicos de leitura. Realidade não satisfatória, pois a média é de uma biblioteca pública para cerca de 33 mil habitantes. Pesquisas realizadas em 2011, pelo Retratos da Leitura do Brasil, do Instituto Pró-Livro, mostram que, ao mesmo tempo que a população cresceu 2,9%, os números no universo de leitores sofreu uma queda de 9,1%. Além da vida corrida, a falta de interesse, a facilidade de encontrar livros em aplicativos, a falta de acessibilidade e os horários de funcionamento das bibliotecas públicas, podem ter sido as causas para a queda. Em Carmo da Mata, a Biblioteca Municipal Silveira Neto, fundada em 1970, reúne mais de 15 mil exemplares, desde literatura clássica até os best-sellers atuais. O número de livros da biblioteca vai além do número de habitantes da cidade: são, em média, 11 mil pessoas, segundo dados de

2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE). A biblioteca, com o funcionamento das 7h30 às 17h, acompanhou as inovações tecnológicas do século XXI. Atualmente, ela conta com um Tele Centro que oferece acesso à internet para facilitar pesquisas, audiolivros e livros em braille. Mas, apesar disso, “não temos procura”, comentou a bibliotecária Ângela Maria de Lourdes. Na cidade, além da biblioteca municipal, onde todos podem pegar livros após fazer um cadastro rápido e simples, há a Escola Estadual Joaquim Afonso Rodrigues, que conta com um acervo de, aproximadamente, 15 mil exemplares. Segundo a diretora, Júnia Paixão, o acesso aos livros é mais restrito aos alunos, porém, eventualmente, há o empréstimo para a comu-

nidade. “Não é costume emprestarmos livros para a comunidade, porém, se tivermos algum livro que alguém precise, a pessoa pode ir à escola, consultar a diretoria e pedir o livro emprestado”. Para o jornalista Thiago Góis, diretor de um dos jornais da cidade, um dos fatores que atrapalha a frequência à biblioteca é a falta de tempo, uma vez que grande parte dele é ocupada por atividades laborais, além do crescente acesso a publicações digitais. “Gosto de ler. Ler é essencial, porém, os horários de atendimento das bibliotecas nunca coincidem. As bibliotecas, como provedora de cultura, deveriam abrir nos feriados e nos finais de semana”, disse. Por isso, ainda segundo o jornalista, sempre é bom ter projetos que incentivem a leitura e promovam a valorização das bibliotecas e da leitura.

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João Henrique

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INTERVAL

da

literatura

infanto-juvenil

Entrevista com Jim Anotsu

CARLA CORRADI

. Jim Anotsu: Foi meio de brincadeira no início - na verdade eu nem pensava muito sério nisso. Acho que é a coisa menos importante dentre todas as coisas com relação ao que escrevo. Eu continuei com o nome porque o autor não importa muito no fim das contas. Apenas a história e o que existe no papel.

Arquivo pessoal

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S

SO

fantástico

IVER

O

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eres sobrenaturais, cultura pop e questões existenciais são elementos que fazem dos livros do escritor Jim Anotsu um sucesso entre os tantos títulos literários voltados para os públicos infantil e jovem. Para entender melhor esse universo da literatura, a INTERVALO conversou com o autor de Annabel e Sarah (Editora

Draco, 2010). Ele se prepara para conquistar novos territórios e começa a fazer sucesso também com o canal que divide com sua esposa no Youtube, o JiMary.

. Carla Corradi: Por que você optou por escrever sob pseudônimo? Como aconteceu a escolha do nome fictício?

. Carla Corradi: Você já participou de algumas bienais do livro. Em 2016 foi a vez de Belo Horizonte. Qual foi a maior diferença que você sentiu entre essa e as outras? . Jim Anotsu: Diferença é que estar em casa é mais legal. Você sabe como as pessoas funcionam e todas as piadas internas do estado. A diferença específica de 2016 é que o público daqui já me conhece, então, eu vejo vários rostos repetidos e reconheço gente que me segue. . Carla Corradi: A recepção do público infantil e jovem foi como você esperava? . Jim Anotsu: Sempre é mais legal, acho que porque nós temos a mesma mentalidade e gostamos das mesmas coisas. É legal porque parece um encontro de amigos antigos. A gente fala

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INTERVAL de seriados, música e tudo. Não é a coisa do autor distante e do leitor que está lá pra idolatrar. Somos só duas pessoas que gostam da mesma coisa: livros.

. Carla Corradi: Há uma fala do senso comum que diz que jovens não gostam de ler. Será? . Jim Anotsu: Não acho que seja verdade. Os jovens são os que mais leem atualmente. Talvez, apenas um talvez, os jovens não estão lendo o que os adultos querem que eles leiam (adultos que, por sinal, não costumam ter o hábito de leitura, mas ficam dando palpites sobre o que jovens deveriam ler, não tenho paciência pra adultos). Se isso fosse verdade, Harry Potter, Percy Jackson, os livros do Eduardo Spohr, Bruna Vieira, Raphael Montes, Felipe Castilho, Babi Dewet, Bárbara Morais e os meus não estariam por aí. . Carla Corradi: O que falta na literatura brasileira para que ela atraia mais jovens? Tanto jovens escritores como leitores? . Jim Anotsu: Acho que falta o povo

J

im Anotsu é escritor e tradutor. Cursou Literatura Inglesa na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi colaborador do site de contos “Quotidianos” e já teve três livros publicados: Annabel & Sarah (2010), A Morte é Legal (2012) e o mais recente, Rani e o Sino da Divisão (2014). De acordo com sua própria definição, mora em Belo Horizonte (MG), não come cebolas, ouve música estranha e conversa com gente esquisita. http://www.jimanotsu.tk/

perder um to com a minha esposa. Não existe pouco do precon- pretensão de viver dele, ou ganhar diceito, deixar de acreditar que só o nheiro. É basicamente como um twitque vem de fora que é legal. Isso tem ter pra falar de coisas aleatórias. Acho mudado, bastante, até. Estamos numa que isso é característico do meio em fase em que a literatura jovem feita que vivo, das pessoas com quem conaqui está chamando a atenção. Meus verso e do fato de meu público estar livros foram vendidos para Inglaterra, na internet, de sermos conectados o França, Aletempo todo. manha, PorO impacto é im Anotsu divide com sua esposa, a detugal e váque eu trago signer gráfica Mary Muller, um canal no rios outros todo mundo Youtube, o JiMary. Através de vídeos, o casal países estão para a sala responde perguntas dos leitores e trata de asfazendo da minha suntos diversos como música, tatuagens e até leilões e fecasa, nos menstruação. Canal: https://www.youtube. chando contornamos com/channel/UCB5jLW904f0Fu_p-dwjmaTg tratos. Acho mais próxique estamos mos e semabrindo espre obtepaço. Acredito que só precisamos con- nho respostas imediatas, mensagens tinuar trabalhando, tratando bem os e comentários. É legal pra caramba. nossos leitores e oferecendo produtos Sempre encontro gente tão esquisita de qualidade. quanto eu!

J

. Carla Corradi: Você é um escritor jovem e super conectado às mídias digitais. Como surgiu a ideia de criar um canal no Youtube? A resposta do público tem sido positiva? Qual o impacto da relação com o público diretamente via redes sociais para o seu trabalho? . Jim Anotsu: O canal surgiu por acaso, meio que uma brincadeira jun-

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Bienal do Livro de Minas acontece a cada dois anos, em Belo Horizonte. A 5ª edição do evento ocorreu neste ano entre os dias 15 e 24 de abril e teve a participação de mais de 160 expositores. http://www.bienaldolivrominas. com.br/

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Literatura infantil em uma visão mercadológica

SALLATIEL FIORENTIONO

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o dia 18 de abril é comemorado o Dia Nacional do Livro Infantil. A data é uma homenagem a Monteiro Lobato, autor da obra “A menina do Narizinho Arrebitado” e propulsor da estratégia de propagação dos livros infantis, suas histórias e personagens no Brasil. Com o sucesso das histórias de Monteiro Lobato, surgiram personagens imortalizados em programas de televisão, exibidos desde 1970 e, até hoje, garantem a comercialização de diversos produtos relacionados ao livro. Além da obra de Monteiro Lobato, grandes sucessos da literatura infantil representam lucratividade e, ao mesmo tempo, garantem a criação de vários produtos com base em títulos, histórias ou personagens. Esta é uma das fortes tendências desse segmento. O setor consegue sustentar boa parte do mercado editorial mundo afora, fornecendo best-sellers que amparam a publicação de centenas de outros títulos, além de contribuir para a formação das crianças. O fator cultural é o grande responsável para que o mercado da litera-

tura infantil praticamente não sofresse alteração com a popularização da internet, onde os pais querem conhecer o que seu filho lê ou ter o simples prazer de contar histórias com

livros em mãos. No Centro-Oeste de Minas Gerais, assim como na maior parte do país, o mercado da literatura infantil permanece em alta e é responsável pela maior fatia do faturamento das livrarias. Segundo Izadora Fagundes, gerente de uma livraria no centro de Divinópolis, os livros infantis representam, em média, 70% das vendas no mês. A loja adota várias estratégias

para obter esse resultado satisfatório. “Aos sábados, oferecemos a Hora do Conto. Os pais participam junto com as crianças e no final de cada sessão sempre compram um livro para os filhos, além de oferecer algo diferente à população. É uma forma de alavancar ainda mais as vendas”, argumenta Izadora. O mercado literário infantil, sem dúvidas, ganhou seu território. Uma das provas de que veio para ficar é conseguir suportar a crise atual do país e a evolução da internet. Mesmo diante de grandes desafios, a literatura infantil garante os melhores resultados comerciais não só no Brasil, mas no mundo todo. Esta entrevista foi publica no site: http://www.souclass.com.br/artigos/literatura-infantil-e-responsavel-por-grande-parte-do-faturamento-de-livrarias.html

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Lei de Incentivo abre portas em Divinópolis AMANDA GAMA

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na Luiza,19, estudante de Engenharia Civil da UEMG já participou de alguns eventos proporcionados pelo projeto Boa Praça. A jovem diz que o fato de os eventos serem gratuitos chamou muita atenção. “Para mim, é ótimo e eu acho superimportante. Eu queria que tivesse mais. Eu acho muito bom, gosto demais. Sempre que tem alguma coisa, eu vou, por exemplo, quando tem orquestra, etc. “Além disso, a jovem falou sobre a importância cultural desses eventos. “As praças são equipamentos públicos, assim como escolas, postos de saúde, etc. E elas são feitas para as pessoas. A importância desses eventos é levar a população para as praças, uma vez que elas não são tão frequentadas”. O Projeto Boa Praça foi criado pela Secretaria Municipal de Cultura de Divinópolis, em 2013. Música, dança, teatro e leitura fazem parte do projeto que já passou por vários espaços públicos em três anos de atuação. Algumas praças já receberam as intervenções culturais. Dentro desse projeto, vários eventos serão promovidos ao longo do ano, objetivando abrir espaço para que os produtores de cultura divulguem o seu trabalho ao mesmo tempo que promovem interação com o público. Algumas atividades já foram reali-

zadas, como a Virada Cultural ocorrida nos dias 19 e 20 de março, que contou com 13 atrações. O secretário de Cultura, Bernardo Rodrigues, afirmou que as atrações musicais são do prêmio cultural, projetos aprovados no ano anterior. “São quatro shows do prêmio cultural que funciona paralelamente à Lei de Incentivo e está dentro da programação da Virada Cultural. Há espetáculos cênicos, exposições, oficinas e atrações para toda família durante dois dias”, destacou. O calendário cultural da cidade contou ainda com um curso com o total de 14 horas sobre a Lei Municipal de Incentivo à Cultura para empreendedores culturais. O curso foi realizado nos dias 19 e 20 de abril na Sala de Multimeios da Prefeitura Municipal de Divinópolis Biblioteca Mu-

Prefeitura Municipal de Divinópolis

nicipal Ataliba Lago. A programação abrangeu o novo formulário para apresentação dos projetos da Lei de Incentivo e como realizar o preenchimento. Também houve espaço para debate dos projetos elaborados e para a apresentação do formulário do orçamento da Lei de Incentivo e a forma correta de preenchê-lo. Além disso, houve espaço para a leitura do manual de prestação de contas. O curso foi finalizado com um debate. “É um treinamento para orientar o interessado para saber como preencher os formulários de forma correta, além de apresentar os cuidados com a execução da proposta e a prestação de contas”, afirmou o secretário de Cultura, Bernardo Rodrigues. Vale lembrar que os resultados do edital aberto neste primeiro semestre, que seleciona os projetos a serem beneficiados através dos incentivos fiscais, saem em junho. A comissão publicará a relação de todos os projetos aprovados, com os nomes dos empreendedores e os valores autorizados dos incentivos.

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Clássico e refinado, porém acessível KAROLLINE GOULART

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adrugada de 15 de abril de 1912: violinos acompanhados por viola e violoncelo tocavam incessantes no navio mais famoso do mundo, enquanto ele afundava. A música clássica foi o último suspiro entre o caos do Titanic. Essa composição, ao mesmo tempo requintada, suave e intensa, começou a ganhar espaço muito tempo antes. A partir do século IX, esse estilo passou a ser conhecido como música clássica ou erudita. Acredita-se que seu surgimento deu-se na Grécia Antiga, com o uso de instrumentos como a lira (semelhante à harpa) que deram origem aos instrumentos usados atualmente nas orquestras. A música, inicialmente composta por instrumentos de corda e sopro, como violino ou flauta, logo foi associada à alta qualidade e, ainda, à sociedade refinada, à elite. Essa associação foi perdendo força quando seus principais músicos vieram da classe média. Mozart, por exemplo, em sua adolescência, foi músico da corte de Salzburgo e em uma visita a Viena, se demitiu e decidiu ficar na capital, onde passou o resto de

sua vida e conquistou fama, porém, pouca estabilidade financeira. Hoje, esse segmento vem se tornando cada vez mais apreciado pelos diferentes públicos, ainda que conserve o status de alta classe. A ópera e a música erudita são consideradas duas das manifestações artísticas mais importantes da história cultural da humanidade e Minas Gerais já foi berço de muitos músicos famosos nessa área, como o renomado maestro e compositor Carlos Alberto Pinto Fonseca. Carlos Alberto nasceu em Belo Horizonte e se tornou conhecido como um dos melhores grupos corais até mesmo no exterior. Foi vencedor de vários concursos de condução no Brasil, na Argentina e na Itália. Se formou em regência pela Universidade Federal da Bahia. Compôs um vasto acervo de peças para coro, instrumentos solistas, canto e piano. Música clássica em Divinópolis O mercado musical em Divinópolis é bastante diversificado, apesar da predominância do sertanejo universi-

tário, característico das regiões do interior de Minas Gerais, principalmente. O cenário também abrange outros estilos e se você tem interesse em entrar para o mundo da música, com o segmento instrumental por exemplo, algumas opções podem ajudar. A primeira é a Orquestra Jovem de Divinópolis. A instituição conta com o apoio de alguns patrocinadores e leis de incentivo à cultura. Por isso, oferece bolsas de estudo gratuitas para jovens de 7 a 21 anos nos cursos de violino, viola, violoncelo e baixo. As inscrições podem ser feitas pelo site http://www.orquestrajovemdivinopolis.com.br. Os alunos ainda são inclusos em eventos para que possam mostrar ao público o que aprenderam e ganhar visibilidade. Outra opção é a ONG Cordas e Sons que também oferece aulas de violino e violoncelo para qualquer faixa etária acima dos 6 anos. No entanto, mesmo se tratando de uma ONG, sem fins lucrativos, é necessário o pagamento de uma mensalidade no valor de R$60,00, referentes à manutenção do projeto.

Karolline Goulart

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Músicos com pouco tempo de carreira encontram dificuldades para crescer na região PEDRO MARTINS

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om pouco investimento público e uma concorrência grande, fica cada dia mais difícil sobreviver apenas de música na nossa região. Os cachês pagos às bandas regionais de pequeno porte são, na maioria das vezes, quantias pequenas comparadas a outras profissões. Um dos poucos espaços para essas bandas aparecerem na mídia era o programa Música Ambiente que serviu de palco para as bandas mostrarem seu trabalho. Conversamos com Bruno Soares, que foi produtor e diretor do programa, exibido na TV Candidés em parceria com a UEMG, sobre esse cenário:

. Pedro Martins: Qual era o perfil das bandas que participavam do Música Ambiente? . Bruno Soares: Existia um formulário de inscrição para as bandas interessadas em tocar. A gente tentava, sempre que possível, selecionar pela ordem e dar oportunidade para todos os estilos musicais. Porém, a maioria das bandas de Divinópolis e região são de rock. Então, o estilo acabava prevalecendo. . Pedro Martins: Os integrantes das bandas que participavam do programa conseguiam sobreviver ao mundo da música? . Bruno Soares: A maioria esmagadora não sobrevivia só da música. . Pedro Martins: Quais as maiores

Thaís Teixeira

dificuldades que eles encontravam para crescer na região? . Bruno Soares: As maiores dificuldades era mesmo a falta de incentivo, ou seja, a falta de espaço para mostrar seus trabalhos autorais. Aí ,entrava o Música Ambiente. . Pedro Martins: Qual a sua ligação com a música? . Bruno Soares: A minha ligação com música é só com produção mesmo.

. Pedro Martins: Você foi produtor do programa por quanto tempo? . Bruno Soares: Fui produtor durante os cinco primeiros anos e, durante os cinco últimos. fui diretor. Conversamos também com o percussionista Rafael Lasmar, de 21 anos, membro da banda de Sávio Calegari e Alessandro Calegari. “O mercado já esteve melhor, quando a prefeitura estava fazendo eventos, quando a mesma

estava incentivando, havia muito espaço. Agora, os músicos devem fazer por si só, estão começando a voltar com as leis de incentivo e está começando a dar um up no pessoal”. Segundo ele, alguns proprietários de estabelecimentos chegam a combinar valores, porém, na hora do acerto, não cumprem com o combinado. “O pessoal combina um cachê e chega lá na hora e fala que não deu pra ser tanto, mas a gente tá servindo uma cervejinha ali, um whisky, salgadinhos, vou te pagar tanto e vocês comem por aqui mesmo. Muitas bandas aceitam e isso se torna um problema e desanima quem está levando realmente para o lado profissional”. Outro problema para esses músicos em início de carreira é sobreviver apenas da música. Devido ao valor recebido nas apresentações não ser satisfatório, eles se veem obrigados a buscarem recursos em outras áreas. “Tive que começar um estágio no INSS para completar a renda mensal, já que só a música não estava dando para passar o mês”, diz ele com bom humor. Alessandro Calegari, vocalista e dono da própria banda, participou no último ano do programa Máquina da Fama no SBT, ganhando a edição e uma boa quantia em dinheiro. Essa participação aumentou a visibilidade sobre ele e seus colegas de trabalho.

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Rosalva Flores

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Patrimônio Cultural: como preservar a memória e resgatar a história ROSALVA FLORES

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s edificações, obras artísticas, o patrimônio imaterial e reminiscências de grupos e suas localidades como no caso dos quilombos constituem referências científicas no campo da historiografia e sua catalogação, conservação e proteção são necessárias. Para entender este processo, conversei com o historiador Anderson Ferreira, 44 anos, ex. diretor de Memória e Patrimônio Histórico da Prefeitura Municipal de Uberlândia, ex. Secretário de Cultura de Ibiá e fundador e ex-presidente da Associação Cultura Minas, formada por 21 cidades do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Atualmente, ele atua como articulador e coordenador de um grupo virtual dedicado à proteção, preservação, valorização do patrimônio cultural mineiro.

. Rosalva Flores: Em sua visão, como o patrimônio cultural é visto pela sociedade e pelo poder público atualmente? . Anderson Ferreira: Depende do interesse de quem olha. As autoridades, com raras exceções, enxergam com desdém. É comum utilizarem a necessidade de investimentos no patrimônio cultural como concorrentes dos

investimento em áreas como saúde e educação, e essas já têm porcentagens obrigatórias no orçamento estabelecidas por lei. Já a população se interessa, mas não se envolve, não como deveria. Se o imóvel está restaurado ou reformado, as pessoas elogiam, tem orgulho, mas não vão muito além disso.

. Rosalva Flores: Como o patrimônio cultural interfere na vivência e historicidade dos municípios? . Anderson Ferreira: O patrimônio é a própria vivência e a historicidade. É impossível desassociá-lo. Sem vivência não há pertencimento e sem isso a proteção de nenhum patrimônio se justifica ou se sustenta. O patrimônio cultural é, ao mesmo tempo, testemunha, palco e alma da história. Uma cidade que não se preocupa com seu patrimônio perde sua identidade e suas referências. E isso é triste e catastrófico!

. Rosalva Flores: O que as cidades têm feito para preservar o patrimônio cultural? . Anderson Ferreira: Não posso fa-

zer um diagnóstico preciso das 853 cidades de Minas, mas as cidades seguem as normativas estabelecidas peloInstituto Estadual do Patri mônio Histórico e Artístico (IEPHA) para a pontuação do ICMS Cultural, o que é um erro grotesco. O nível de burocratização das políticas de proteção é tão alto que os municípios passam a maior parte do tempo produzindo documentos e menos efetivamente cuidando do patrimônio local. O órgão estadual, que, outrora, fora parceiro dos gestores, hoje atua como carrasco, usando a didática da punição, transformando o agente local em burocrata. O lado positivo dessa lei é que hoje, pelo menos, se discute sobre o patrimônio cultural em quase todas as cidades de Minas. O programa do ICMS cultural da forma que foi executado nos últimos anos deixou de ser um aliado, para ser um problema para as cidades. . Rosalva Flores: Há investimentos para a manutenção de patrimônio cultural, mesmo estando em um ano de crise econômica? . Anderson Ferreira: Não há investi-

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INTERVAL Rosalva Flores

mento suficiente no patrimônio cultural nem em anos de bonança, quanto mais em tempos difíceis. Não estão respeitando nem o patrimônio protegido, quanto mais aquele que está em condições precárias e nem tombado ou registrado .

. Rosalva Flores: Você tem relatos de casos frequentes de degradação à história e memória da sua região? . Anderson Ferreira: Em qual região não tem? A região do Alto Paranaíba e Triângulo vem perdendo seu patrimônio com velocidade. E com isso vamos perdendo nossa identidade. Aqui na região somente tem proteção estadual o complexo do Barreiro e a capela de São Sebastião,

em Araxá, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a Igreja de Nossa Senhora do Desterro no Desemboque, em Sacramento, e a Igreja Espírito Santo do Cerrado, de Uberlândia. E quando vamos pra o âmbito nacional, somente o sítio arqueológico do Quilombo do Ambrósio, em Ibiá, e a igreja de Santa Rita, em Uberaba, são protegidos pelo IPHAN. O ponto positivo é que através de uma iniciativa conjunta das cidades de Ibiá e Uberlândia, e com apoio de mais cinco cidades, o IPHAN abriu o processo para o Registro Imaterial das Congadas de Minas como Patrimônio Nacional, o que beneficiará a todas as cidades que preservam este patrimônio.

Rosalva Flores

. Rosalva Flores: Como a sociedade local cuida de seus bens e patrimônios culturais? . Anderson Ferreira: A sociedade pouco faz para preservar e proteger sua memória. Geralmente, se mobiliza quando o bem já está ameaçado ou fica indignada quando algum bem é destruído. Quase todo município possui uma lei, mesmo que simplória,

que protege o patrimônio. Cabe à sociedade cobrar o respeito a essa lei e a preservação do patrimônio. Acionar o Ministério Público quando houver ameaças é o mínimo que podem e devem fazer,

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Teatro se torna nova opção de entretenimento no interior D

. Henrique Silva: Qual a diferença entre se apresentar para o público da capital e do interior? . Kayete: Há muitas diferenças, não é?! O público da capital é mais acostumado à ir o teatro e não é tão seletivo na escolha das peças. Quando se chega ao interior, é preciso que os atores e produtores se preparem para um público muito específico. Neste caso, temos que pesquisar a cidade, saber mais sobre a cultura local, os dizeres

Henrique Silva

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urante muitos anos, o teatro sempre tentou garantir espaço e destaque no entretenimento interiorano, já que nas capitais do país a cultura de ir assistir peças teatrais ou musicais se tornou rotina. Atualmente, grupos de novos atores e até os mais consolidados passaram a ter novas perspectivas de mercado, trabalho e fonte de renda. Sobre esta expansão do mercado cultural no ramo das belas artes, o repórter Henrique Silva teve um bate-papo descontraído com a personalidade da mídia metropolitana, Kayete*, presente com suas peças no teatro e seus programas no rádio e TV. Confira.

locais mais comuns, entre outras maneiras de aproximar o público do seu cotidiano e fazer com que as pessoas riam disso.

. Henrique Silva: Como o interior vê o teatro? . Kayete: Como você viu aqui em nosso espetáculo ‘Guará-pa-rir’, nós lotamos o teatro e isso mostra que a população interiorana quer ter acesso a mais opções de entretenimento e dão retorno para isso. Mas, mesmo com o interesse popular crescente, ainda falta muito incentivo do poder público ou da iniciativa privada. . Henrique Silva: Qual o seu conselho para esta nova leva de atores que querem apostar no teatro para conseguir alcançar o sucesso? . Kayete: Não viva só de teatro [risos]. É preciso estudar muito, se preparar, afinal, viver do teatro é muito difícil porque ele é muito atemporal, ou seja, ao mesmo tempo que você se apresenta para mil pessoas, pode ser que se apresente para apenas 10. Eu, graças a Deus, não dependo somente do teatro. Estou há quase 30 anos na vida artística, me dividindo entre TV, rádio e o palco teatral.

sidera mais difícil no teatro interiorano? . Nilton Araújo: O maior desafio em relação ao teatro do interior é fazer com que ele se torne uma alternativa de entretenimento e incluir isto como um hábito da população. Graças a Deus, tenho conseguido isso aqui em Pará de Minas e a população é, com certeza, a que mais ganha, porque quem não quer ir em bares ou até mesmo na Girus*, prefere vir se distrair no teatro.

. Henrique Silva: Como o público tem recebido o teatro em seu cotidiano? . Nilton Araújo: Maravilhosamente bem. Assumi o teatro da cidade em 2013, pouco tempo depois que. ele foi inaugurado e, nestes quase quatro anos, a população foi aderindo à cultura do teatro em sua agenda de eventos. Nossos espetáculos estão ficando lotados, com casa cheia. *Kayete trabalha há 30 anos na mídia belo horizontina, se dividindo entre os palcos do teatro, estúdios da BH FM e, ainda, em suas participações nos programas do SBT/TV Alterosa. *Girus Disco Show: considerada como a terceira melhor boate do Brasil, a Girus é um verdadeiro ponto turístico da cidade de Pará de Minas.

Nossa reportagem conversou também com Nilton Araújo, ator e diretor do Teatro Municipal de Pará de Minas. Sobre o assunto, ele falou, por experiência própria, como é tentar incluir o teatro no dia a dia da população interiorana.

. Henrique Silva: Você, como diretor do teatro de Pará de Minas, o que con-

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Arquivo pessoal

HENRIQUE SILVA


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Vida circense: pessoas que transformam a vida em

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Kalahary Circo é um velho conhecido da população residente em Carmo da Mata. O circo se apresenta na cidade há 50 anos e tem como uma de suas atrações o palhaço “Cherosinho”. Conhecido em todo estado, ele faz a alegria de crianças, jovens e adultos há décadas. Por isso, ele é o entrevistado desta edição da INTERVALO, que bateu um papo descontraído com o personagem. Dentre os assuntos tratados estão as histórias de vida, as dificuldades e alegrias de se viver na estrada. Vovô Coruja de primeira viagem, ele estava com seu netinho Miguel, de quatro meses no colo. Nós o contamos sobre o carinho que a população carmense tem por ele, e ele disse que a recíproca é verdadeira. “A gente vai criando um vínculo com a cidade. A primeira vez que eu vim a Carmo da

Mata ainda era um menino de grupo. Faz 50 anos que venho à cidade, sinto um profundo carinho pelo público daqui e carrego grandes amizades”, contou. Ser palhaço não parece ser tarefa fácil, já que não existe uma receita exata para botar um sorriso nos lábios de alguém. Alguns acreditam que, com o tempo, a prática pode até cair na rotina e perder a graça, mas não para Cherosinho. “Eu acredito que em toda profissão a pessoa tem de ter duas coisas: fazer o que gosta e com quem gosta! Eu gosto de ser palhaço, é uma herança de família. Então o que eu faço não cai na rotina e não perde a graça”, relatou. Questionado de onde veio esse apelido, Cherosinho disse que é mais

Maria Tereza Oliveira

MARIA TEREZA OLIVEIRA

uma herança de família. “O meu pai era o Palhaço Cheroso. Quando eu saia com ele, me chamavam de Cherosinho, mas eu não gostava e quando a pessoa não gosta de um apelido, ele acaba pegando. Um dia, uma pessoa do circo viu alguém me chamando de Cherosinho e a minha reação. Então o apelido acabou pegando também no circo”, lembrou. O Kalahary Circo foi comprado pelo pai de Cherosinho, o Palhaço Cheiroso. Ele o adquiriu há 56 anos. O antigo proprietário do circo era ninguém menos que o trapalhão Dedé Santana. “A cidade base do Kalahary é Brumadinho, mas nós somos um circo itinerante. Nós somos os ‘nômades

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Maria Tereza Oliveira

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da alegria’”, revelou Cherosinho. Cherosinho é a terceira geração de circense em sua família. Os filhos dele dão continuidade à tradição. Kalahary é de sua família, junto a seus irmãos, com exceção de uma irmã que não faz parte dele, mas tem um circo junto a seus filhos. Ou seja, é uma família completamente composta por circenses. Marcos Alberto é seu nome de batismo, porém, o Palhaço afirma que ninguém o chama assim, e que quando isso ocorre, ele fica meio confuso. Ele demonstrou bom humor durante toda a entrevista e não perdeu a chance de contar piadas. Um exemplo disso foi quando perguntamos quantos filhos ele teve. Sua resposta. “Eu não tive nenhum, quem os teve foi minha esposa [risos]. Tenho três meninas e um menino. O menino Matheus é trapezista, faz o número ‘Jump Espacial’, dentre outras coisas”, orgulhou-se. Expulsando o mau humor Nesses tempos em que estamos cada vez mais estressados,

correndo contra o tempo, muitas vezes nos esquecemos da importância de sorrir. “A alegria é fundamental em nossas vidas! Ela gera endorfina no corpo. A pessoa fica mais saudável. Quem reclama muito torna-se ranzinza. O melhor remédio é vir para o circo, relaxar e esquecer os problemas”, recomendou Cherosinho. “O mau humor constante acaba se tornando um hábito. Quando a pessoa chega a esse ponto, ela passa a reclamar até quando as coisas dão certo. Isso atraí ener-

Maria Tereza Oliveira

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gias negativas e prejudica a pessoa e quem estiver ao seu redor”, afirmou. Cherosinho nos contou a maior vantagem de morar em um circo: “Tudo o que eu aprendi na vida foi no mundo. Eu conheci muitas pessoas e nós não temos rotina. Todo espetáculo é diferente do outro. O que você faz de bom para o outro reflete em você. Se não existisse a profissão de palhaço, eu a inventaria”, afirmou. Sobre a parte menos legal, ele disse que é ter de ir embora das cidades, pois eles sempre fazem muitas amizades e acabam se apegando a elas. Normalmente, o circo fica 12 dias na cidade – variando conforme o movimento. Cherosinho nos fez um convite: “Alô pessoal, quero convidar você e sua família a dar gostosas gargalhadas no mundo mágico e colorido do circo. Porque o circo é a única diversão que não sugere sexo, drogas ou violência. A nossa garantia é a sua alegria! Beijos, Cherosinho”, finalizou.

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Catiane Lemos

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Religiosidade e cultura local CATIANE LEMOS

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a cidade de Oliveira, Minas Gerais, a religião católica se destaca por ser a mais popular, abrangendo um grande número de fiéis. Possui muitas paróquias, sendo a matriz a Igreja de Nossa Senhora de Oliveira, santa que deu nome à cidade. O dia 15 de agosto é dedicado à homenageá-la. O catolicismo é representada pelos párocos e o bispo da diocese. A instituição, em Oliveira, foi criada em 20 de dezembro de 1941 pela ordem do Papa Pio XII, desmembrada da arquidiocese de Belo Horizonte. Está localizada na região Centro-Sul de Minas Gerais. Dom Miguel Ângelo Freitas Ribeiro é o bispo atual da diocese e tem como subordinados outros seis padres. A cidade conta com oito igrejas e seus santos padroeiros são: Nossa Senhora de Oliveira, Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Graças, São Sebastião, Nosso Senhor dos Passos, Cristo Redentor e Dom Bosco. A Revista INTERVALO entrevistou o pároco Diovany Amaral, da igreja católica de Oliveira, que relatou um pouco da história e cultura religiosa da cidade. . Catiane Lemos: Conte-nos um pouco sobre a Cultura religiosa de Oliveira. . Padre Diovany: A religião católica é uma das maiores e mais influentes do mundo, assim também em nossa cidade. A religiosidade se funde com

a cultura, porque a cultura é um modo de se viver o dia a dia com costumes e hábitos rotineiros. Lembro-me de quando minha vó ajoelhava-se ao chão e rezava o terço. Minha mãe contava que, naquela época, era muito comum os pais e filhos irem à igreja, fazer novenas, ir às casas para rezar, e depois, esse costume passou de minha mãe para mim, um pouco diferente, pois ela me levava nas procissões. Na verdade, estamos vivendo um mundo de transformações dentro da igreja, onde está havendo um esfriamento dos fiéis, em que muitos deixam de ir na igreja para assistir a missa pela TV ou escutar pelo rádio. O espaço da igreja está cada vez mais vazio e sem jovens.

. Catiane Lemos: Quando o senhor veio para Oliveira? Teve algum fato diferente que lhe chamou atenção com relação a outro lugar que morou? . Padre Diovany: Sou de Bom Despacho. Morei lá até terminar o colegial. Depois fui para Divinópolis, onde fiquei um ano, e, após, morei em Belo Horizonte por mais sete anos e estou em Oliveira há oito. A diferença é que há dez anos, as pessoas eram mais religiosas, mais tementes a Deus e tinham muito mais fé. Vivemos, hoje, em uma época que todos tem acesso à informação com a tecnologia, e isso faz com que a pessoa não sinta a “obrigação” de ir à igreja. Os pais conseguem levar as crianças à

igreja, mas, daí, passa um tempo, elas fazem a Crisma e somem. Nas novenas de Natal vamos em várias casas e percebemos que as pessoas mais velhas se revezam, os jovens estão no celular ou na TV, e não dão a mínina para o que está de fato acontecendo dentro de sua casa. Acho que essa diferença está diretamente ligada com alguns números. Por exemplo: vemos alguns jovens de 15 a 28 anos dentro da Igreja, mas a maioria das pessoas que frequentam as missas são mais velhas. Os jovens que não estão no caminho da igreja, muitas vezes, estão na criminalidade. Se observamos na década passada o número de pessoas que se envolviam com drogas e outras coisas erradas era bem menor. Temos uma menor participação dos jovens na comunidade religiosa. . Catiane Lemos: Na sua opinião como o povo oliveirense exerce a religiosidade? . Padre Diovany: Hoje, Oliveira, tem mais de 41 mil habitantes, que exerce um grande numero de religiões. Estimamos que 25 mil são de católicos, mas aqueles que realmente vão à igreja é de, aproximadamente, 5 mil. Atuantes nos eventos e pastorais são uns 500. Hoje, é realizada uma missa aos sábados e duas aos domingos. A capacidade da igreja é de mil pessoas, porém, se tiver entre 700 e 800 pessoas já é muito.

UEMG Divinópolis - Curso de Jornalismo – 3º período – 1º Semestre de 2016

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INTERVAL 1ยบ semestre de 2016


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