Revista Conceito

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Cr么nicas: olhares sobre o cotidiano


M

uito utilizada na área de comunicação, a palavra conceito, aqui, ganha uma significação peculiar: de substantivo comum a nome próprio, identifica a revista experimental da disciplina Oficina de Jornalismo I do curso de Comunicação Social – Jornalismo. O nome foi composto com uma fonte cursiva formando cada letra de conceito para que que o olhar, ao aproximar-se para observar o que, visto de longe, se assemelha a arabescos, perceba que, de perto, são informações que compõem e dão forma à palavra que nomeia a revista. Conceito torna-se, portanto, as ideias e as formas que, ao serem expressas por meio de histórias, informações e percepções diversas contribuem para a formação teórica e prática dos estudantes. O projeto gráfico, no diálogo com essa proposta, trouxe elementos visuais que, ao mesmo tempo moldam e expandem a página, pois o azul é a cor da amplitude. Já as editorias definidas para esta edição buscam, ao mesmo tempo, reunir os assuntos semelhantes e representar os diferentes olhares, não apenas pelo nome, mas também pela cor selecionada para grafá-lo. Este primeiro trabalho envolveu a produção de crônicas, ora narrativas, ora reflexivas, que, por meio da linguagem, tornaram-se mediadoras de visões sobre o cotidiano, sobre a vida, sobre o mundo. A você, uma boa leitura! Daniela Couto profª de Oficina de Jornalismo I

Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) Fundação Educacional de Divinópolis (Funedi) Instituto de Ensino Superior e Pesquisa (Inesp) . Curso de Comunicação Social – Jornalismo . Revista Experimental da disciplina Oficina de Jornalismo I Ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril de 2014 Distribuição: on-line – Contato: dcouto@funedi.ebu.br . Redação e diagramação – 3º período . Arthur Henrique Tótoli Chaves, Eniliane Ferreira Camargos de Oliveira, Hádrian Lúcia Pereira Souza, Kelly Mylene Moreira Lourenço, Leiliane Gabriela da Silva, Leticia Ferreira dos Santos, Pedro Henrique Silva Jonas, Poliany Christina Nunes da Mota, Shaenny Carolina Bueno, Tamara Vitória do Carmo e Thays Lara de Oliveira. . Projeto editorial e gráfico, capa, arte-final, coordenação e jornalista responsável . professora Daniela Couto (MG 9994 JP)


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sumário .....

cotidiano

A seca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Thays Lara de Oliveira

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Mãe esquece filha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 Leiliane Gabriela da Silva O prazer de uma mudança . . . . . . . . 4 Pedro Henrique Silva Jonas Problemas ou desafios? . . . . . . . . . . . .5 Shaenny Carolina Bueno

indagações

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Qual é a medida de amar? . . . . . . . . . . 6 Arthur Henrique Tótoli Chaves Quem sou eu? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Tamara Vitória do Carmo .....

impressões

A agonia do primeiro encontro . . . . . . 9 Letícia Ferreira dos Santos Carinho é para todo dia . . . . . . . . . . Eniliane Ferreira Camargos de Oliveira

10

Um suposto crime . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Poliany Christina Nunes da Mota Gari não é invisível . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 Kelly Mylene Moreira Lourenço

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percepções

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O escritor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Hádrian Lúcia Pereira Souza . . . . . Revista Experimental – Comunicação Social – Oficina de Jornalismo 1 – 3º período – Inesp/Funedi/UEMG – Divinópolis, Minas Gerais – ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril – 2014 . . . . . . . .

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cotidiano. . . . . . . . .

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seca

A

Thays Lara de Oliveira – texto e fotografia

A

estação das águas chegou mais uma vez e nada de haver chuva sobre a pequena cidade de Perambopólis*, lugar que, como tantos outros, já foi cercado de uma linda flora. Há tempos a vegetação deixou de ser vistosa e o chão seco e trincado, assim como os galhos das pobres árvores, são circunstâncias que preocupam os moradores de lá que, mês após mês, vivem uma situação nada fácil: economizar e ainda dividir o pouco de água que conseguem com os animais e as plantações. A tarefa é complicada, pois muitas famílias dependem do cultivo da agricultura, da criação de animais e do turismo para tirarem seu sustento.

A fonte de renda, então, passa a se tornar escassa devido à seca que toma conta da região. As plantações não crescem e quando nasce algum broto, ele logo morre pela falta de água. O gado está muito magro e se não chegar ao peso ideal, a comercialização é quase impossível. Além da falta de água, outro problema muito frequente na região são os focos de queimadas que, com o clima seco, acontecem com maior facilidade, tornando ainda mais triste o cenário que antes enchia os olhos de quem visitava a cidadezinha aconchegante, de beleza tão extraordinária; cidade turística de outrora, com muitos hotéisfazenda, parques florestais, mas que, agora, sofre com um problema pelo qual não imaginava passar. A renda que os moradores conseguiam durante o mês caiu significadamente. Muitas famílias com as contas atrasadas apelam por soluções que não queriam tomar: vendem as propriedade, abandonam o lugar e se distanciam de suas raízes por causa de um problema que não sabem quando terá solução. Mas esse problema seria mesmo motivo de levar a tal mudança? Talvez, a solução poderia começar dentro de cada um, com a conscientização dos moradores. Afinal, quando o verde das plantas brilhava, a água clareava a paisagem e tudo era belo, houve abusos: desperdício, desmatação e poluição eram constantes. Com o tempo, a natureza não suportou tanta pressão e deixou marcas de sua tristeza que, agora, é também a tristeza das pessoas. Há, no entanto, uma esperança: quando a chuva voltar e as fontes de água nascerem de novo, pode ser que as atitudes sejam diferentes e que a conscientização, aliada à ações de cuidado com o meio ambiente, venham em primeiro plano. Do contrário, muitas raízes continuarão sendo desfeitas.

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*Nome ficctício para representar as várias cidades que sofrem com a seca.

.2 . . . . Revista Experimental – Comunicação Social – Oficina de Jornalismo 1 – 3º período – Inesp/Funedi/UEMG – Divinópolis, Minas Gerais – ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril – 2014 . . . . . . .


cotidiano. . . . . . . . .

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Mãe esquece filha

Leiliane Gabriela da Silva – texto Daniela Couto – ilustração

S

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egunda-feira. Fim de tarde. Coletivo lotado – como de costume. De repente, uma parada e poucos segundo depois, um choro e uma criança de mais ou menos quatro anos, sozinha, se equilibrando entre várias pessoas em pé. A mãe já ia descendo e, na pressa, estava deixando a menina para trás. Talvez, devido ao coletivo estar muito cheio, ela imaginou que a criança estivesse perto, mas só percebeu a distância quando outros passageiros gritaram que a menina ainda estava dentro do ônibus. Quando penso nesse acontecimento, vejo como a pressa e essa corrida incessante atrás do tempo fazem com que as pessoas se esqueçam do que é essencial para a vida: o zelo de um pelo outro. Fiquei muito triste com a situação que presenciei e, até hoje, não sei como a mãe pôde esquecer a própria filha dentro de um coletivo, mas imagino que o que causou esse acontecimento pode ter sido a impressão de que a menina estivesse perto, ou um lapso de

memória junto ao cansaço do dia e, até mesmo, uma preocupação com o restante da família que ficou em casa. Quando ouvi aquele choro triste da criança, lembrei também que já houve vários casos de pais que deixaram os filhos sozinhos ou que os esqueceram dentro de carros ou vans e, até mesmo, de ônibus. Mas não quero acreditar que tais fatos sejam intencionais ou que ocorram por motivo de maldade. Talvez, aconteçam por preocupações demais ou devido à correria do dia a dia. A história entre mãe e filha que contei acabou bem: a mulher voltou-se, abraçou a menina e saiu carregando-a. Mas nem todos os finais são felizes. Soluções para prevenir esquecimentos assim? Talvez, deixar o tempo seguir sem correr demais atrás dele, concentrar-se mais naquilo que está fazendo e nas pessoas que estão ao nosso lado, pois nem sempre é possível voltar atrás.

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. . . . . Revista Experimental – Comunicação Social – Oficina de Jornalismo 1 – 3º período – Inesp/Funedi/UEMG – Divinópolis, Minas Gerais – ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril – 2014 . . . . . . . . .

3.


cotidiano. . . . . . . . .

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O prazer de uma de mudança Pedro H. Silva Jonas – texto Daniela Couto – fotografia

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isitas a imobiliárias, aluguéis caros, casas nem sempre tão boas. Esse é um dia típico de uma pessoa que está à procura de um novo lar. Mas, talvez, essa pessoa nem visite uma imobiliária, ou esteja disposta a pagar qualquer preço por uma nova casa, e sua casa seja uma verdadeira mansão. A mudança pela qual várias pessoas almejam está dentro do lar e não, especialmente, na casa. Às vezes, nós sentimos que o ambiente no qual vivemos anda com excesso de energias negativas e acabamos pondo a culpa nos problemas que existem em nossa moradia. Um chuveiro gotejando pode ser motivo de dor de cabeças e noites mal dormidas. Tudo bem que conta de água muita cara não agrada ninguém, mas colocar a culpa em um objeto também não resolve nenhum problema. A questão é a seguinte: se estamos passando por momentos difíceis, devemos primeiramente analisar a origem desses problemas, antes de nos preocuparmos com mudanças enormes. Sempre temos a opção de mudar o nosso interior, transformar as nossas atitudes e pensamentos em ações positivas que gerem outras ações positivas ao nosso redor. O prazer de nos envolvermos em um processo de mudança consiste no resultado que obtivermos. Nesse caso, quanto mais positivo melhor. Trabalhar o lado pessoal e individual do ser humano é tarefa que precisa ser executada com o decorrer do tempo, fazendo com que as teias criadas pelo individualismo e o egoísmo não se espalhem por todo o nosso ser, o que dificultaria a mudança e só aumentaria nos gastos com uma faxina interior.

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.4. . . . Revista Experimental – Comunicação Social – Oficina de Jornalismo 1 – 3º período – Inesp/Funedi/UEMG – Divinópolis, Minas Gerais – ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril – 2014 . . . . . . .


Problemas ou desafios? Shaenny Carolina Bueno – texto e fotografia

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ejo, todos os dias, todo mundo reclamar dos problemas que possuem, mas eu tenho tentado vê-los mais como uma graça do que como uma pedra no caminho. Se tem algo que aprendi no alto dos meus 23 anos é que devo agradecer todos os dias por eu ter sempre desafios a encarar. Chamo de desafios ao invés de problemas tudo que sai dos meus planos porque desafio a gente enfrenta e problema é algo que nos parece sem solução. E acredito que, tirando a morte, todo o resto tem jeito, sim. Tudo depende de como encaramos a vida e tudo

indagações . . . . . .

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que ela nos dá. Recebemos tudo aquilo que merecemos. Cada desafio não está lá para nos deixar tristes, piores, mas para nos tornar pessoas melhores, mais humildes, mais fortes. Além disso, é do ser humano buscar desafios (ou problemas). Afinal, que graça teria a vida se tudo fosse sempre lindo e perfeito, se tivéssemos tudo aquilo que queremos? Com certeza, a vida seria uma chatice. Se hoje eu sou forte, devo aos desafios pelos quais passei. E ver a vida dessa maneira torna tudo mais fácil e passamos a ser pessoas mais fortes e mais felizes.

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. . . . . Revista Experimental – Comunicação Social – Oficina de Jornalismo 1 – 3º período – Inesp/Funedi/UEMG – Divinópolis, Minas Gerais – ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril – 2014 . . . . . . . . .

5.


medida de Arthur H. Tótoli Chaves – texto Daniela Couto – ilustração

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medida de amar é amar sem medida”é uma das frases mais conhecidas e que já virou até letra de música de uma das bandas mais influentes do Brasil, como os Engenheiros do Hawaii. Quando lemos ou escutamos essa expressão, logo já

vem um sentimento que é considerado por muitos o mais nobre: o amor. Bom, mas será mesmo que existe uma medida para amar, ou será que esse simples gesto não pode ser medido, pelo menos em menções humanas?

Quando amamos, mas amamos verdadeiramente, não quer dizer que nos submetemos a todos os desejos do nosso amado, mas, sim, que em qualquer decisão procuramos sempre o melhor para ele. Foi o que aprendi. A vida nos ensina muito. Eu que o diga, nesses encontros e desencontros que o viver tece. Com as experiências, aprendemos e experimentamos diversos sentimentos, lugares, pessoas, mas podemos observar que para alcançar a verdadeira felicidade, preencher aquele vazio no peito, todo ser humano, por mais complexo que seja, precisa ter alguém em quem confiar. E amar. Ah! o amor... o mais sincero e enigmático dos sentimentos, algo que pode ser estudado por seiscentos anos ou entendido em um olhar, aquilo que podemos procurar por toda a vida ou encontrar ao nosso lado, embaixo do nosso nariz. Ou, como dizia outra canção, dessa vez do Jota Quest, “o amor pode estar do seu lado!”. Enfim, amar é viver.

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Qual a

AMAR?

indagações . . . . . .

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.6 . . . . Revista Experimental – Comunicação Social – Oficina de Jornalismo 1 – 3º período – Inesp/Funedi/UEMG – Divinópolis, Minas Gerais – ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril – 2014 . . . . . . .


eu sou

Quem

indagações . . . . . .

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Tamara Vitória – texto e fotografia

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o nascer, fui abençoada com poderes. Ainda pequena, treinada para desempenhar tudo com maestria. Não podia decepcionar os outros e, principalmente, aqueles que me amavam. Tinha que suportar ouvir ser frágil, mas, ao mesmo tempo, resistente; precisava aprender que o melhor era obedecer sem questionar, saber que eles vinham primeiro. Não poderia questionar os rumos de minha vida; eles tinham a força. Além disso, já sabia que meu destino já tinha sido traçado. Mesmo com minha alma clamando por liberdade e escolhas individuais, tinha que me suprimir pelos bem dos outros. Na adolescência, já estava tudo ajustado: cozinhar, passar, lavar, ser voz passiva e ainda ter que ser a mais bela criatura pelo planeta terra ao andar, pois era essa minha função. Um exótico artigo de decoração e ostentação.

. . . . . Revista Experimental – Comunicação Social – Oficina de Jornalismo 1 – 3º período – Inesp/Funedi/UEMG – Divinópolis, Minas Gerais – ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril – 2014 . . . . . . . . .

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indagações . . . . . .

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A n tes, a palavra não nos correspondia justamente. H o j e , sim. Somos mulheres: por aquelas de nosso passado e futuro, por todo o trabalho e abnegação que já fizemos, pelos anos de vegetação que já passamos, pela história maculada que possuímos e pelo orgulho de ser isso, sim, orgulho de ser MULHER.

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Sempre, sempre dar a vez a ele, meu senhor, minha vida, minha eterna servidão. Era tida como incubadora para novas vidas a serem geradas com ele e tinha que ensinar a próxima geração a ser exatamente como eu, obediente, cativante, bela e, às vezes, alvo de relaxamento do outro. Mas dentro de meu ser, a chama ainda clamava. Eu não era aquilo: eu tinha voz. Vontade. Força. Garra. Não tinha medo, pois o que temer de pior do que aquilo? E o mais importante: eu não era a única. Juntas, fomos à luta, queimamos símbolos, acordamos o nosso poder mágico. Hoje somos mais, somos um mundo, independentes, líderes, e não deixamos esquecer desse passado, pois ainda temos muito o que conquistar. Não podemos é deixar que nos diminuam, que escolham por aquelas que ainda não encontraram suas vozes.

.8. . . . Revista Experimental – Comunicação Social – Oficina de Jornalismo 1 – 3º período – Inesp/Funedi/UEMG – Divinópolis, Minas Gerais – ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril – 2014 . . . . . . .


A agonia do primeiro encontro Letícia Ferreira – texto Diego Garcia – ilustração

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F

altavam vinte minutos para às seis da tarde. Ela estava aflita à espera do namorado, sentada no velho sofá de couro da casa de sua avó. Junto dela, estavam seu pai e seu irmão também. Todo esse desespero era porque seria a primeira vez que o pai veria o namorado dela e o rapaz estava atrasado. A avó se levantou e foi até a cozinha para fazer um pouco de pipoca. A neta a acompanhou. A casa é bem antiga e tinha passado por reforma mas, ainda assim, conservou na cozinha a mesa de seis cadeiras de madeira. Lá, as duas duas conversaram. – Porque todo esse desespero, minha neta? – Simples vó: não aguento mais tanta demora! A garota seguia desesperada enquanto sua avó, calmamente, serviu um pouco de pipocas e suco para, depois, sentar-se de frente para ela. Olhou-a com ternura e disse: - Acalme-se; não precisa ficar assim, não. Talvez, algo aconteceu e, por isso, ele ainda não chegou. Comendo as pipocas em uma velocidade extrema, devido o nervosismo, a neta deixou cair um pouco no chão. Engolindo o choro, respondeu: – Sinceramnte, não aconteceu nada! Ele é assim mesmo: sempre atrasa! Aliás, como dissem por aí, é

do tipo que para morrer de repente, gasta três horas… Fazer o quê? Gosto dele… Pouco depois, faltando cinco minutos para as seis, chegam à casa dos avós outras duas netas, que são vizinhas. A caçula logo pediu o celular emprestado da jovem angustiada: queria brincar um pouco, no que não foi atendida. “E se ele ligar?”, justificouse com a prima. Foi nesse instante que os quatro cães da casa começaram a latir. Sim, era ele. Ela levantou-se de onde estava tomando suco com pipocas e foi aguardá-lo na porta da sala de estar. Ele vestia uma blusa verde com uma listra branca, calça de malha e tênis. O namorado cumprimentou a família e o pai da garota proferiu suas primeiras palavras em trinta minutos. – Boa noite. – começou ele. Então, rapaz, me conta um pouco de você, de onde é, o que faz... A namorada já o havia preparado para todas as perguntas e, de pronto, o namorado respondeu sem demora. Contou o que fazia, o que havia estudado e que não trabalhava na sua área de formação, falou também da sua família e de onde eram. Algum tempo depois, o clima havia normalizado. A família toda e o casal de namorados estavam rindo e conversando, tomando o suco preparado pela avó… E o atraso, o namorado justificou? Sim. Ele havia cochilado enquanto esperava o telefonema da namorada.

impressões . . . . . .

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. . . . . Revista Experimental – Comunicação Social – Oficina de Jornalismo 1 – 3º período – Inesp/Funedi/UEMG – Divinópolis, Minas Gerais – ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril – 2014 . . . . . . . . .

9.


é para

Carinho Lilian Camargos – texto e fotografia

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os dois últimos meses, Sílvia vivia pedindo mais atenção a Agenor. Criada na roça, rodeada por irmãos, pai, mãe e animais, filha caçula, sempre recebeu muito carinho. Na adolescência, preservou o dengo de criança. Os primeiros namorados, de tão pegajosos, irritavam a família, mas era assim que ela gostava. Ser carinhosa apenas não era suficiente para que os namoros durassem. Por sua vida, passaram vários rapazes. Com cada um deles, histórias particulares foram compostas, lições foram aprendidas e vários beijos foram trocados. De namoro em namoro, Sílvia se tornou mulher. Agora, aos 30 anos, alta, cheia de curvas, belos cabelos longos, nossa Sílvia finalmente acredita-

todo dia

va ter encontrado o grande amor de sua vida: Agenor. Homem feito, 46 anos, cheio de experiência de vida. Nele, nossa menina-mulher depositou toda sua ilusão de felicidade, amor e casamento. Agenor amava Sílvia. No início do namoro, era tudo o que ela sonhava: atenção de pai, carinho de irmão e amor de homem maduro. O namoro era só felicidade. Mas Agenor era homem de negócios e passado um ano e meio de namoro, preferiu dedicar a sua amada apenas o fim de semana. Para ele, era normal cuidar da própria vida nos dias úteis e nos dias de descanso, beijar, abraçar e amar sua prenda. Silvia não! Queria Agenor todo dia. Como ele não aparecia, ela entristecia, choramingava e reclamava. Agenor, com a certeza de que tinha do amor da namorada, nem

ligava, mas, com isso, a perdia dia após dia. Ele ainda não sabia, mas o amor estava acabando. Sílvia o esquecia. Numa dessas discussões de relação, surpreendentemente, a menina com atitude de mulher dispensou aquele que até então era dono do seu coração e com outro logo foi namorar. Agenor, desesperado, não tinha mais o que fazer. Veio, então, a saudade da menina que agora amava mais que antes. Mas, a história entre os dois já tinha tido ponto final. A protagonista agora já pensa em ficar noiva. O novo namorado, sabendo das vontades de menina, nunca permite que Sílvia fique sem beijos e carinhos, pois sabe bem que se ele não a abastecer de amor sete dias por semana, ela irá atrás de quem esteja disposto a isso e que tenha tempo para amar.

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impressões . . . . . .

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.10. . . . Revista Experimental – Comunicação Social – Oficina de Jornalismo 1 – 3º período – Inesp/Funedi/UEMG – Divinópolis, Minas Gerais – ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril – 2014 . . . . . . .


impressões . . . . . .

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Um suposto crime Poliany Mota – texto e ilustração

H

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oje seria considerado um relacionamento qualquer, mas naquela época poderia acabar mal. Apesar de tudo, elas não pareciam se importar, embora se preocupassem em não sair contando para todo mundo. Para não serem descobertas, precisavam manter as aparências, fingir que não cometiam o “suposto crime”. Tinham a certeza de que um dia tudo iria mudar. Ou quase tudo. O pensamento era sempre o mesmo: “Vamos evoluir daqui a alguns anos”. Mas, enquanto isso, ninguém deveria saber sobre as duas. O acordo de silêncio sempre foi honrado e ambas saíram limpas dessa história. Na frente de outras pessoas, nada mais que apenas fantasias. Era como se fossem superiores, já que sabiam de algo que ninguém mais poderia imaginar. No final, não era tão ruim. Dizem que todo jovem gosta de se sentir assim. Uma parte da história teve que ser reinventada para a sociedade, ou apenas acabou varrida para

debaixo do tapete. Para as duas, as lembranças relatadas sempre tiveram que ser cuidadosamente seletivas, pois grande parte delas não passava de um teatro e era necessário separar o real do fictício. Apesar de, às vezes, parecer óbvio, ninguém nunca descobriu,

[ [ ou, se descobriu, jamais revelou. Nos eventos, a preocupação era sempre a mesma, especialmente em relação a membros da família. “Cuidado para não me denunciar. É melhor deixarmos essa história apenas entre nós, não conte nem para algum amigo próximo”. Falavam isso, embora o que estivesse no pensamento fosse a vontade de gritar para todo mundo. Não era uma vontade de experimentar o proibido, mas, sim,

uma espécie de chamado da natureza, o encontro de duas almas parecidas. Mas se a natureza da mulher era procurar por um homem, que pessoa normal iria compreender. “Se cada um tem o livre arbítrio porque as pessoas não podem ser e fazer o que querem?”. “Porque a sociedade não aceita que sigamos nossas próprias vontades?”, discutiam. Ano após ano, a esperança de um novo mundo se renovava. Quem diria que um dia o amor entre duas pessoas do mesmo sexo não seria considerado um pecado mortal. Como já dizia algum filósofo por aí: “O tempo é o remédio para todos os males, é o senhor da razão”. Vinte anos se passaram. O preconceito e o medo ainda existem, porém, o improvável aconteceu. As duas não correm mais o risco de serem condenados ao inferno por seguirem suas vontades. Isso deixou de ser um crime. Enfim, o livre arbítrio parece ter se libertado. O respeito ainda é difícil de conquistar, mas elas, ao menos, podem sair nas ruas sem medo de serem apedrejadas.

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Gari não é invisível Kelly Mylene Moreira Lourenço– texto Daniela Couto – ilustração

G

ari não é invisível. Enquanto a cidade ainda dorme, os garis já começam seus afazeres e cumprem uma função essencial no dia a dia dos cidadãos. Mas, muitas vezes, não são notados.

Passam o dia limpando a cidade, ali e aqui, sempre atentos ao que estão fazendo em nosso benefício. Trabalham em silêncio e assim que o sol desperta e se faz sentir nas costas deles, o vai e vem das pessoas se inicia. Ao som das vassouras limpando as ruas de pedra da pacata Passa Tempo, muitas pessoas passam por perto, mas de uma maneira que não os nota. É como se eles não estivessem ali. No labor para que os espaços estejam sempre agradáveis e limpos, os garis enfrentam muitos perigos. No seu dia de trabalho, há cães que podem os atacar, há riscos de se machucarem com vidros e outros materiais cortantes e, até mesmo, de se contaminarem com algum resíduo hospitalar. Mas, talvez, um dos perigos que mais se destaca é a ingratidão de muitos de nós para com eles. E isso nota-se com facilidade. O psicólogo social Fernando Braga da Costa, a fim de concluir sua tese de mestrado na USP sobre invisibilidade pública, vestiu-se de gari durante um mês. Adotou o uniforme e se sentiu invisível durante os trinta dias da pesquisa que realizou em campo. Ele sentiu na pele como é ser tratado como objeto, ter um trabalho importante e ser tão pouco valorizado. Em análise, concluiu depois que a pessoa é vista pela sociedade somente pela função que exerce e nunca pelo que ela realmente é. Os garis prestam um serviço muito importante à população e, na maioria das vezes, nem um sorriso ou um “bom dia” recebem das pessoas que passam por perto. É preciso ter mais mais respeito, mais sensibilidade, mais reconhecimento pelo trabalho honesto que é realizado por esses profissionais cujo trabalho é fundamental para o bem estar de todos nós. .......

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percepções . . . . . . .

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O

escritor Hádrian L. Pereira Souza – texto Poliany Mota - ilustração

“J

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á chega disso”, disse enfurecido. do. Estava farto. Cansado de tudo. Na cabeça ça já não havia mais nada, nenhuma idéia sequer, muito menos, criatividade. Apenas pensamentos os longes sem nenhuma importância para preencher a folha da velha máquina de escrever. Preferiu, então, o velho escritor já com os neurônios fritos deixar a mesinha em que se encontrava em um canto da sala, perto da janela. Já dizia ele que ali viveu seus melhores momentos, inspirado pelo frescor do ar da cidadezinha do interior de Minas Gerais. Naquele cantinho surgiram palavras que compunham romances épicos que nunca foram publicados, nem ao menos, encadernados. Na verdade, eram folhas amareladas e engavetadas com um simples plástico para protegê-las. Os livros poderiam ter sido publicados e isso teria acontecido se o velho escritor tivesse mergulhado fundo na profissão. Mas, para ele, esse trabalho “não enchia prato”. O escritor sempre trabalhou na sua oficina de consertar carros e seu hobbie era escrever. Ameaçou diversas vezes se tornar um escritor, porém, as

condições para sustentar a família falaram mais alto e não deixou espaços para que seu sonho se realizasse. Hoje, ele é um homem de oitenta e poucos anos. Com filhos criados e crescidos, dedica quase seu tempo todo à velha máquina de escrever. Ele ainda recorda-se de que o pai jamais permitiu que ele se tornasse escritor. Dizia que era “coisa de mulherzinha”. Relembrar o passado fez o velho escritor, já com as mãos enrugadas de tanto trabalho vida afora, encher os olhos d’água e voltar ao seu cantinho para derreter-se nas palavras jamais lidas. Mistério? Peço-lhe para ler uma de suas obras.

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