100 anos de rádio: notas sobre o Brasil, Minas Gerais e Divinópolis

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Daniela Martins Barbosa Couto

Bruno Davi Bueno

Pedro Lucas da Cunha Costa

100 anos de rádio: notas sobre o Brasil, Minas Gerais e Divinópolis

1ª edição

Editora do Autor 2022

Expediente

Universidade do Estado de Minas Gerais | UEMG

Reitora: Lavínia Rosa Rodrigues

Vice-reitor: Thiago Torres Costa Pereira

Chefe de gabinete: Raoni Bonato da Rocha

Pró-reitora de Planejamento, Gestão e Finanças: Silvia Cunha Capanema

Pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação: Vanesca Korasaki

Pró-reitora de Graduação: Michelle Gonçalves Rodrigues

Pró-reitor de Extensão: Moacyr Laterza Filho

UEMG Unidade Divinópolis

Diretora: Ana Paula Martins Fonseca

Vice-diretor: André Amorim Martins

Coordenadora de Extensão: Janaina Visibeli Barros

Coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação: Michael Jackson Oliveira de Andrade

Coordenação do curso de Jornalismo: Gilson Soares Raslan Filho

Subcoordenação: Daniela Martins Barbosa Couto

Apoio: Elvis Gomes – Assessoria de Comunicação da UEMG Unidade Divinópolis

Produção: João Pedro Cardoso, locutor da Rádio 94 FM

Fotografias: Bruno Soares

Projeto gráfico, capa e editoração: Daniela Martins Barbosa Couto, coordena ção da Agência Multimídia - Laboratório de Jornalismo do curso de Jornalismo da UEMG Unidade Divinópolis.

Catalogação na publicação Ficha elaborada pela autora

C871c

Couto, Daniela Martins Barbosa.

100 anos de rádio: notas sobre o Brasil, Minas Gerais e Divinópo lis. Daniela Martins Barbosa Couto, Bruno Davi Bueno, Pedro Lu cas da Cunha Costa. -- 1ª ed. Divinópolis: Editora do Autor, 2022. 51 p. (e-book)

Inclui bibliografia ISBN: 978-65-00-52615-8

1. 100 anos de rádio. – 2. Radiojornalismo. – 3. História do Rádio. I Programa de Apoio à Extensão da UEMG - PAEx. II Universidade do Estado de Minas Gerais. III Título.

CDD 302.2344 CDU 070

“Adaptado aos tempos modernos e às novas tec nologias, [o rádio] ocupa um espaço valioso no cotidiano e no imaginário de milihões de ouvintes, que têm nele um insubstituível companheiro. Em outras palavras: se tempos gloriosos houve, gloriosos tempos podem seguir existindo. E a era do rádio continua sendo a de cada minuto em que ocorre a transmissão”

FERRARETTO (2014, p.14)

Agradecimentos

À Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, que proporcionou condições para a realização das atividades da Agência Multimí dia - Laboratório de Jornalismo, do curso de Jornalismo da UEMG - unidade Divinópolis, via recursos do Programa de Apoio à Extensão – PAEx.

Ao curso de bacharelado em Jorna lismo da UEMG – unidade Divinó polis pelo espaço de construção, diálogo e aprendizagens constantes.

Ao Centro de Memória Professora Batistina Corgozinho – Cemud, da UEMG – unidade Divinópolis, pelo incentivo à valorização do acervo cultural que aqui expusemos.

E a todos que contribuíram com a construção desta publicação, espe cialmente, aos entrevistados Gus tavo Mourão, que também assina o prefácio deste e-book, e Mayrinck Júnior, proprietários do Sistema MPA; João Pedro Cardoso, locutor da Rádio 94 FM; Ana Paula Silva, repórter da Rádio Divinópolis; Lu ciano Eurides, repórter da Nova FM; e Ubiracy Rogério, diretor da Rádio Minas FM, profissionais cuja trajetória representa a dedicação ao rádio e a importância desse ve ículo no cotidiano das pessoas.

O Rádio completa seus 100 anos mais jovem do que nunca

Costumo dizer que o Rádio é a fênix da comuni cação: reinou soberano nos lares brasileiros até a chegada da TV, quando começaram os desafios e, a partir de então, seria dado como “morto” por cada nova tecnologia que a humanidade criasse. Entre tanto, o rádio foi capaz de se reinventar constante mente para não sair de cena.

Quantas vezes ele ressurgiu das cinzas dos haters? Sinceramente, já perdi a conta. Fato é que ao completar 100 anos, podemos dizer que o rádio está mais forte do que nunca no dia a dia do brasileiro. Inúmeras pesquisas revelam que o velho queridi nho dos ouvintes atinge quase 93% da população semanalmente e que é, disparado, o meio de co municação percebido como mais confiável nos tempos sombrios das fakenews.

E por que depois de 100 anos ele ainda continua tão jovem? Sinceramente, essa é uma pergunta difícil de responder. Poderia argumentar aqui uma deze na de coisas que fazem o rádio ser quase um com panheiro diário nas nossas vidas como, por exemplo, as novas metodologias de multiplataforma que garantem a difusão do conteúdo de diversas

Prefácio

formas de consumo ou, então, lembrar da facilida de de se consumir rádio enquanto faz alguma outra tarefa diária sem, necessariamente, ter que “pres tar” 100% de atenção ao veículo.

Mas, o que eu acho mesmo é que o rádio ainda é e será cada vez mais forte por causa dos milhares de profissionais que acordam cedo todos os dias para levar um pouco de alegria para as vidas do povo brasileiro que, diante de tantas dificuldades, têm no rádio um ombro amigo para motivar, alegrar e trazer esperança de dias melhores para todos.

Parabéns Rádio! Seja sempre bem-vindo!

Sumário

100 anos de rádio: notas sobre o Brasil, Minas Gerais e Divinópolis

Apresentação: Nas ondas das histórias .13

1 E do alto do Corcovado, o encanto se espalha .15

2 Entre as montanhas de Minas, os sons se multiplicam .29

3 Em Divinópolis, a magia se mantém .33

Considerações finais: Histórias que não se acabam .45

Apêndice: Nas linhas do tempo .47

Referências Bibliográficas .49

Sobre os autores .51

Nas ondas das histórias

Em uma transmissão de rádio, as ondas sonoras produzidas por vozes, instrumentos musicais ou qualquer outro aparelho são captadas por micro fones. A vibração mecânica do diafragma do equi pamento gera uma corrente elétrica que varia de acordo com a frequência e a amplitude da onda sonora, possibilitando, assim, que os sons sejam perceptíveis para milhares de ouvintes em todo o mundo.

A grosso modo, é assim, por meio das ondas, que funciona uma transmissão radiofônica.No entanto, o conteúdo desta obra, que comemora os 100 anos do rádio no Brasil, busca contemplar as ondas radiofônicas de outra forma.

Em seu centenário, o meio de comunicação mais tradicional do país vivenciou eventos históricos, personalidades icônicas e, obviamente, sofreu inú meras mudanças que impactaram o modo como o locutor se conecta com o ouvinte. Se antes uma verdadeira “gambiarra” era necessária para fazer com que a transmissão radiofônica chegasse nas casas, hoje, com o advento de novas tecnologias, é bem mais fácil. O ouvinte, inclusive, nem preci sa do rádio para escutar o próprio rádio, visto que

Apresentação

plataformas na internet também transmitem as programações.

Mesmo com tantas mudanças, uma coisa no rádio nunca mudou, mesmo com 100 anos de existência no Brasil: as histórias... E que histórias... Para todos os gostos, cada uma, de sua forma, contribui para o fortalecimento e credibilidade deste veículo que acumula dez décadas no país.

Muitas delas vieram – e ainda veem – dos próprios locutores e profissionais e, as mais espontâneas e imprevistas, com certezas, partem dos ouvintes, daqueles que, mesmo com as novas tecnologias, não abandonam o veículo que promove a interativi dade e a companhia com quem acompanha a pro gramação. É daí que vem a magia no rádio.

E é por meio destas histórias que este e-book bus ca contemplar uma linha do tempo geral sobre a história do rádio em âmbito nacional, estadual e municipal, especificamente, em Divinópolis, maior cidade do Centro-Oeste de Minas Gerais. Através de notas, o leitor tem a oportunidade de mergulhar no mar de experiências que constitui esse meio de comunicação.

Já a parte da história que foca em Divinópolis foi encontrada por meio das vozes de algumas pes soas que fazem o rádio acontecer no município e que, dentro ou fora da louca rotina dos radialistas, continuam na luta pela divulgação do rádio interati vo, com credibilidade e, principalmente, que conta histórias e concede espaço para que elas também sejam contadas.

Os autores, aos 7 de setembro de 2022, data do Centenário da primeira transmissão radiofônica no Brasil

E do alto do Corcovado, o encanto se espalha

Há 100 anos, precisamente no dia 7 de setembro de 1922 – sim, no dia em que se comemorava o centenário da Independência do Brasil – aconte ceu oficialmente, diga-se de passagem, a primeira transmissão de rádio no país. Oficialmente, porque o rádio já existia há algum tempo no mundo. En tão, vamos às primeiras notas!

Inventado em 1896, ele foi fruto de diversas des cobertas relacionadas à propagação do som por ondas radiofônicas. Quem começou tudo isso foi o alemão Heinrich Hertz, em 1888. Você pode até não ter ouvido falar no primeiro nome dele, mas o “Hertz”, com certeza, você já conhece: essa pala vra acompanha a identificação da sintonia de uma emissora de rádio e mede a potência de transmis são em ondas eletromagnéticas.

Dito isso, voltemos ao Heinrich: ele verificou que existiam variações de correntes pelo ar, ou seja, ondas eletromagnéticas por meio das quais era possível transmitir não só os sons, mas imagens também, sem necessidade de fios.

Depois, o americano Thomas Edison, usando o eletromagnetismo, criou o Grasshopper Telegraph,

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equipamento que funcionava como telégrafo. Te mos ainda o italiano Guglielmo Marconi, que fez o primeiro sistema de telégrafos sem fios e realizou a comunicação de uma costa a outra no Canal da Mancha, que liga a Grã-Bretanha à França.

O austríaco Nikola Tesla era outro nome que estava no páreo: na mesma época, com base nas desco bertas de Hertz, ele também buscava tornar viável a comunicação sem fios. Detalhe: só anos mais tar de, em 1943, é que ele levou o título de inventor do rádio, que foi concedido pela Corte Americana.

Mas é bom lembrar que, até então, o que se tinha era o envio e recebimento de mensagens em Códi go Morse. A transmissão de voz mesmo, sem fios, veio em 1906 e foi resultado de experimentos de Lee de Forest.

Mas, no Brasil, também temos um personagem que se destaca. É o padre Roberto Landell de Moura que, em Porto Alegre (RS), conseguiu fazer uma transmissão de som e sinais telegráficos sem fio por meio de ondas eletromagnéticas, entre dois pontos da cidade. O primeiro registro1, segundo consta, data de 1900, o que o colocaria como um dos pio neiros nessa história.

Dito isso, voltemos à data dos 100 anos oficiais da primeira transmissão de rádio no Brasil. Pois bem: o lugar escolhido para isso não poderia ser mais sim bólico: o alto do Corcovado, no Rio de Janeiro, que passou a ser chamado assim ainda no século 18. O porquê do nome?

Bom, uns dizem que se deve à semelhança que o marco geográfico tem com a corcova de um came

1https://unifei.edu.br/personalidades-do-muro/extensao/roberto-lan dell-de-moura/.

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lo. Outros, que se trata da adaptação da pergunta em latim “Cor quo vadis” que, em bom português, quer dizer “Coração, para onde vou?2”. Por via das dúvidas, nessas notas aqui compostas, preferimos a segunda opção. Até porque, “Coração, para onde vou?”, tem mais a ver com os desdobramentos que essa primeira transmissão radiofônica, feita de lá, teve ao longo do século que se seguiu.

A resposta a essa pergunta é que o rádio se espa lhou pelo Brasil, se reinventou ao longo do tempo, se modernizou, tornou-se cada vez mais interati vo – o que, aliás, foi potencializado pela internet, cultura da participação e engajamento propiciada também pelas mídias sociais – e, até hoje, chega nos lugares mais distantes do mundo.

É fato que a tecnologia tem o transformado conti nuamente, mas sua essência e a capacidade de se aproximar das pessoas e de estabelecer diálogos têm sido tão intensas desde seu surgimento até sua reinvenção que, em pleno século 21, ele conti nua encantando e tem seu lugar garantido em dife rentes plataformas e dispositivos.

Tudo bem que o antigo transmissor – do tipo que foi acoplado pela empresa Westinghouse Electric International em combinação com a Companhia Te lefônica Brasileira, no alto do Corcovado, e exibiu o discurso do presidente Epitácio Pessoa, marcando assim a primeira transmissão oficial no país –, bem como os antigos rádios de madeira, transistorizados ou à válvula já não fazem mais parte do nosso dia a dia. São, hoje, peças retrô, vintage ou objetos expostos em galerias de arte e museus, e despertam a nostalgia daqueles tempos em que as pessoas se

2https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/10/10/cristo-re dentor-a-historia-da-persistencia-de-uma-ideia-e-da-construcao-do -maior-simbolo-do-rio-que-faz-90-anos.ghtml

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reuniam em torno de um aparelho receptor para ou virem as histórias vindas de tão longe...

Mas, a essência do rádio – se assim podemos cha mar suas características de fazer parte do cotidia no, compartilhar informação e entretenimento, acompanhar e fazer parte do imaginário dos ouvintes – permanece viva e, cada vez mais, plural.

É o pesquisador Luiz Artur Ferraretto (2014, p.17) quem nos lembra que “na virada para o século 21, ao não se restringir mais apenas às transmissões hertzianas, o rádio precisou ser repensado conceitualmente” e isso passa pela percepção da linguagem específica que ele tem, entendo-o mais como instituição social e criação cultural.

Afinal, “na atualidade, a tendência é aceitar o rádio como uma linguagem comunicacional específica, que usa a voz (em especial, na forma da fala), a música, os efeitos sonoros e o silêncio, independente do suporte tecnológico ao qual está vinculada” (FERRARETTO e KISCHINHEVSKY apud FERRA RETTO, 2014, p.18).

Hoje, através da web, a rádio cruza os oceanos e, ao mesmo tempo, cabe na palma da mão, bem diferente daquele longínquo 7 de setembro de 1922 que marcou a primeira transmissão oficial de rádio no Brasil que, segundo nos conta Gustavo Lisboa Bra ga (2002, 2002,p.17-18), “foi ouvida não só o Rio de Janeiro, como em Niterói, Petrópolis e São Paulo, sendo amplamente noticiado o seu sucesso pelos jornais da época”.

Depois do fim das festividades, durante alguns dias, foram transmitidas óperas diretamente do Te atro Municipal do Rio de Janeiro. Mas, funcionar de verdade, de forma normalizada, com constância,

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foi algo que aconteceu mesmo só no ano seguinte.

A data oficial é 20 de abril de 1923, quando foi cria da a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro por Roque te Pinto (esse nome não lhe deve ser estranho, pois ele é considerado o pai da radiodifusão no Brasil) e pelo diretor do Observatório Nacional Henry Morize3 (esse já não é tão familiar assim, mas foi ele que, em 1909, conduziu a criação da rede de esta ções meteorológicas do país).

A partir de então, surgem estações de rádio com programações regulares e elas se espalham pelo Brasil. O conteúdo contava com recitais de poesia, concertos, óperas e palestras culturais. Na época, todas as rádios nasciam como clubes ou socieda des. Mas, o rádio ainda não era muito acessível, pois os receptores eram caros e importados, o que impossibilitava a aquisição de aparelhos pela maio ria da população.

Ainda nos idos dos anos 1920, a programação se voltava para questões culturais e educativas e, na década seguinte, em 1930, inaugura o que conhe cemos como a “Era de Ouro” do rádio, pois, segun do nos lembra Magaly Prado (2012, p.74), “a partir de então as rádios se tornavam mais populares por meio dos sucessos carnavalescos e dos primeiros programas humorísticos”.

Em 1932, o veículo ganha nova evidência com a Revolução Constitucionalista de São Paulo e pas sa a ser muito vigiado. Data desse ano também o Decreto de Lei nº. 21.111/32, autorizando que 10% de sua programação tivesse comerciais, o que, até então, não era permitido.

3https://www.abc.org.br/2016/01/27/pilulas-do-centenario-henrique -morize-o-primeiro-presidente-da-abc/ https://www.youtube.com/ watch?v=3BQ_1E5jdJg&ab_channel=MARCELO-G.M

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E, no período que vai até 1934, realiza o lançamento de inúmeros cantores, como Araci Almeida, Mane zinho Araújo e Joel e Gaúcho.

O número de propagandas aumentou e o rádio se transformou em um negócio lucrativo: o meio passa a ter mais regulamentação, inclusive, com formas de lhe proporcionar bases econômicas mais sólidas. Inicialmente, a porcentagem para comerciais foi de 10% da programação; posteriormente, passou para 20% e, atualmente, está fixada em 25%.

Junto às mudanças econômicas, vieram também as alterações na programação. O que era erudito, tornou-se popular e muitos artistas foram contratados nessa época, fazendo a alegria da população. Hou ve, também, um aumento da competição entre os veículos o que, no final das contas, foi bem positivo, pois contribuiu com o desenvolvimento técnico e com a popularidade do veículo.

Daí, temos uma sequência de alterações: as emis soras se tornam mais profissionais; os transmisso res e receptores, mais potentes; os progressos tec nológicos permitiram a melhora do som e menos problemas de interferência.

O rádio, então, se organiza como empresas e pas sa a se adaptar às novas realidades impostas pelos mercados dos períodos que se seguiram. De forma geral, podemos perceber que a competição passou pelo desenvolvimento técnico, status da emissora e sua popularidade.

Agora, vamos lembrar um pouco sobre algumas das principais rádios que fizeram sucesso na primei ra metade do século 20. Comecemos pela década de 1930: nesse período, foram implantadas no Brasil três grandes rádios: a Rádio Record, de São Paulo,

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criada em 1931; a Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, de 1936; e a Rádio Tupi, em São Paulo, em 1937.

Nessa época, o Brasil contava com 29 emissoras de rádio e conteúdo mais erudito. Depois disso, o rádio se popularizou, a programação abandonou o perfil educativo e elitista para se firmar como um meio popular. Houve mudanças na linguagem, que se tornou mais simples, direta e de fácil entendi mento.

A audiência aumentava a cada dia, pois a progra mação se tornou mais bem organizada e diversificada. Nas décadas de 1930 e 1940, os programas de música popular surgiram e lançaram ídolos como a cantora Carmem Miranda e o cantor Orlando Silva.

Em seu livro, “História do Rádio no Brasil”, Magaly Prado (2012) nos conta que a Rádio Nacional apre sentava programas que fizeram muito sucesso na década de 1940, entre eles, o “Papel Carbono”, que tinha como objetivo imitar grandes cartazes e revelou alguns nomes como José Vasconcelos e Luís Gonzaga, além de ter como locutor César de Alencar.

Entre 1940 e 1945, o rádio conseguiu se desenvolver, tendo a Rádio Nacional, no Rio de Janeiro, certa vantagem graças aos recursos modernos que tinha na época.

A Rádio Mayrink tinha uma programação humorís tica muito boa, enquanto a Rádio Educadora tinha uma boa produção musical. A Rádio Jornal do Brasil dedicava-se à música clássica, enquanto que a Rádio Clube do Brasil tinha a intenção de fazer pro gramas inovadores, alguns deles como “Alma do Sertão” e “Piadas do Manduca”.

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Com o grande sucesso dos programas da Rádio Na cional, em julho de 1945, Renato Murce e César de Alencar foram convidados a se juntarem ao time. Inaugurada em 1936, a Rádio Nacional tinha musi cais e ficção em sua programação, além do jornal “A Noite” e as revistas “A Noite Ilustrada” e “Carioca”.

A emissora também transmitia programas como o “Repórter Esso”, que tinha altos índices de audi ência. E não estranhe: o nome do patrocinador no programa era algo bem comum naqueles tempos, mas não tinha relação com o que hoje conhecemos como branded content.

Com foco no Repórter Esso, Magali Prado (2012) aponta como os programas jornalísticos de rádio foram importantes durante a história do país e do mundo, com as transmissões de comunicados du rante a Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria. Em certos pontos da história, a linguagem e uso desses programas acabaram sendo usados como meios de interesse de forças maiores e questões ideológicas.

Além disso, o Repórter Esso trouxe também gran des nomes da mídia, como estrelas da música e do teatro, além dos melhores locutores. Essa organi zação é percebida até hoje, sendo usada nas principais redes de rádio a mesma estrutura, formato e normas. A forma como a notícia era organizada – textos curtos, diretos, objetivos e de uma forma mais coloquial -, ainda tem seguidores fiéis.

O rádio, então, se populariza cada vez mais e se torna mais fácil adquirir um aparelho. A credibilidade e sucesso crescem e as pessoas se voltam para tudo que saía daquela “caixa mágica”. Ele se torna o companheiro de todas as horas e se firma como o bom contador de histórias que é.

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Prado (2012) lembra que, em 1941, pela Rádio Na cional, o país acompanha a primeira radionovela a ir para o ar: “Em busca da Felicidade”. A trama, es crita pelo cubano Leandro Blanco e adaptada pelo brasileiro Gilberto Martins, foi narrada pelos radia listas Aurélio Andrade e Maria Helena.

A história era um grande drama de um casal que tinha uma filha de criação. A menina era fruto de uma relação extraconjugal mantida pelo marido com a empregada, que morava na mesma casa. Em um determinado momento, a menina descobre a verdade e decide morar com a mãe.

A partir disso, vários acontecimentos prendiam o ouvinte, que percebia que toda vez que um dos personagens chegava perto da possibilidade de ser feliz, algo de trágico acontecia. Daí veio o nome da novela. A iniciativa de colocar a atração no ar partiu da Standard Propaganda, a agência de propaganda do Creme Dental Colgate.

“Senhoras e Senhores, o famoso Creme Dental Colgate apresen ta: o primeiro capítulo da empol gante novela de Leandro Blanco, em adaptação de Gilberto Martins... Em busca da felicidade”. Aurélio Andrade, na Rádio Na cional, no dia 05/06/1941.

Em seguida, foi a vez de “O Direito de Nascer”, que se tornou o maior fenômeno de audiência em radionovelas em toda a América Latina. O texto original era de Félix Caignet, com tradução e adap tação de Eurico Silva.

O original possuía 314 capítulos. Nélio Pinheiro, Paulo Gracindo, Talita de Miranda, Dulce Martins e

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Iara Sales participaram da trama. O enredo se pas sava em Havana, capital de Cuba, no início do sé culo XX. A jovem Maria Helena engravida do noivo Alfredo e, diante da recusa do rapaz em assumir o filho, torna-se mãe solteira. A criança é alvo do ódio do avô, o poderoso Dom Rafael.

Após o nascimento, a criada negra Dolores foge com o bebê, que batiza como Alberto. Sempre fugindo, Dolores cria o menino e ele, já crescido, forma-se em Medicina. O destino leva Alberto à fa mília que ele não conhece. Sem saber, o homem se apaixona por sua prima e salva a vida do avô que tinha lhe amaldiçoado.

Ainda de acordo com Magali Prado (2012), também é um dos marcos da Rádio Nacional o lançamen to, às 12h45 do dia 28 de agosto de 1941, do mais importante jornal do rádio brasileiro: o “Repórter Esso”. Quem marcou essa história foi o gaúcho Heron Domingues.

O programa inicialmente foi criado para fazer a propaganda da guerra americana direcionada ao povo brasileiro. O programa se especializou em di vulgar, principalmente, notícias ligadas ao modo de vida americano da época. Os informes traziam aos ouvintes a evolução das guerras travadas pelos Es tados Unidos em todas as partes do planeta, como a Segunda Guerra e a Guerra da Coreia.

No entanto, o Repórter Esso não informava notícias da Europa, da Ásia e da África se não houvesse interesses norte-americanos envolvidos. A maior notícia da história do programa aconteceu em 1954, quando veiculou, com exclusividade, o suicídio do então presidente da República, Getúlio Vargas. O último programa do Repórter Esso aconteceu no dia 31 de dezembro de 1965. Roberto Figueiredo,

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locutor que apresentou a última edição, não se conteve em lágrimas e precisou ser substituído pelo seu reserva, o locutor Plácido Ribeiro.

Já em 1942, conforme aponta Prado (2012), a Rá dio Tupi de São Paulo também começa a sua tradição jornalística, colocando no ar o “Grande Jornal Falado Tupi”, criado por Coripheu de Azevedo Mar ques e Armando Bertoni, com uma hora de dura ção diária.

O “Repórter Esso” e o “Grande Jornal Falado Tupi” foram marcos importantes para que o radiojornalismo brasileiro fosse encontrando a sua definição e os caminhos de uma linguagem própria para o meio, deixando de ser apenas a “leitura ao micro fone” das notícias dos jornais impressos.

Também data da década de 1940, o lançamento dos primeiros emissores em Frequência Modulada (FM), produzidos nos Estados Unidos pela General Electric. O sistema FM permite uma recepção em qualidade técnica, mas só nos anos 1960 é que co meçam a operar as primeiras emissoras em FM.

Seu alcance é menor comparado ao de Amplitude Modulada (AM) que, por sua vez, apesar do longo alcance, tinha algumas limitações de qualidade. Na AM, apenas o alcance dos canais é alterado. Hoje em dia, o pedido de migração de AM para FM é das próprias emissoras.

Há anos, as empresas de comunicação vêm sofrendo com a perda de audiência, em decorrência da má qualidade dos sinais, interferências e altos custos de instalação e manutenção das estações.

O Ministério da Comunicação já recebeu mais de 1600 pedidos de migração de AM para FM, sen do que 850 foram concluídos. Como o volume de

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solicitações é grande e o espaço do espectro de radiofrequência em FM é baixo, o Ministério das Comunicações autorizou a utilização de uma faixa de frequência adicional, que vai de 76 e 88 MHz e é chamada de “faixa estendida”.

Ainda de acordo com Magali Prado (2012), nos anos 1950, a rádio fez sucesso com novelas, programas de humor e de auditório, refletindo os gostos e as preferências populares. Em 1955, na cidade do Rio de Janeiro, onde o rádio chegava a cerca de 95% das residências, havia uma média geral de três ou vintes por aparelho, de segunda a sábado, aumentando para quatro aos domingos.

Mas apesar da grande audiência naquela época, ha via uma segmentação cada vez maior do público, com uma diferenciação por classe social mais nítida e o surgimento de uma programação mais voltada para a segmentação. Além disso, no final da década, a chegada da televisão impactou profundamente na produção de rádio.

O que aconteceu é que muitos artistas da rádio mi graram para a TV. O rádio optou, então, em trocar os seus artistas e programas de humor de sucesso por músicas inseridas em sua programação. As novelas e também os programas de auditório deram espaço aos serviços de utilidade pública.

Dessa forma, passam a existir diferentes tipos de emissoras como as jornalísticas, populares, musi cais e religiosas e, também, as chamadas jovens ou adultas. Algumas emissoras também se segmentam através da faixa etária de seus ouvintes. Elas se destacam por classes sociais e faixas etárias. Ainda existem as emissoras dedicadas a apenas alguns gêneros musicais como sertanejo ou rock.

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Assim, a “época de ouro” do rádio termina, coin cidentemente, com o surgimento no Brasil de um novo meio de comunicação: a televisão. Quando surge, ela vai buscar no rádio seus primeiros pro fissionais, imita seus quadros e carrega com ela a publicidade.

Para enfrentar a concorrência, o rádio se reinventa e procura uma nova linguagem, mais econômica, mais flexível, sem deixar de lado a proximidade do público que o caracteriza. Talvez, por isso, ele en cante tanto.

Entre as montanhas de minas, os sons se multiplicam

Quando o rádio passou a fazer parte da vida das pessoas, ele trouxe não apenas informações e en tretenimento que cruzavam distâncias, mas tam bém a possibilidade de aproximar aqueles que, de lugares distintos, buscavam manter contato uns com os outros.

Para isso, mandavam cartas para serem lidas pe los locutores, anunciavam a procura por pessoas que queriam reencontrar, enviavam recados, en fim, participavam das narrativas que, pelas ondas do rádio, eram compartilhadas. Embora as cartas tenham sido substituídas pelas mensagens via aplicativos e e-mails, a característica básica da proximidade ainda se mantém até hoje.

Na primeira metade do século 20, cada região passava a ter sua própria emissora e as rádios se multiplicavam. Em Minas Gerais, a primeira delas foi instalada Juiz de Fora: era a Rádio Sociedade, que foi inaugurada em 7 de janeiro de 1926.

Em 1933, outras duas rádios passaram a fazer par te do cenário mineiro: a Triângulo, da cidade de Uberaba, e a Cultura, de Poços de Caldas.

Capítulo 2

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Belo Horizonte, por sua vez, teve a rádio Mineira, fundada em 1931, embora a transmissão expe rimental da primeira emissora da cidade tenha acontecido por meio da rádio Clube, em 1926. E “Atos do Governo do Estado” foi o primeiro pro grama foi ao ar.

Alguns anos depois, em 1936, nasce a rádio Gua rani. Ela criou vários programas que caíram no gosto popular como “A hora da Recruta”, atração comandada pelo locutor Rômulo Paes, em que cantores sofriam “punições” caso eles não se apre sentassem bem.

Outra rádio que surgiu nesse mesmo ano foi a In confidência. Os aparatos técnicos vieram importa dos de Londres, a pedido do governador Benedito Valadares. A emissora era considerada tradicio nal, com concertos de música sinfônica e ópera.

Tempos depois, houve a opção da reformulação da programação. De elitista, se tornou popular. A tendência foi copiada da rádio Nacional, conside rada exemplo na época.

A Inconfidência tem um dos programas mais an tigos do rádio brasileiro, criado três dias após sua inauguração, em 1936: “A Hora do Fazendeiro”, voltado para questões do meio rural. A rádio esta tal, anos depois, contou também com uma outra versão: a rádio Inconfidência FM, também chama da de Brasileiríssima.

Mas há outras rádios que também marcaram época – e continuam até hoje – como é o caso da rá dio Itatiaia, fundada por Januário Carneiro. O di ferencial da emissora foi a introdução de quadros esportivos e jornalísticos e, no final da década de 1960, programas musicais, com o objetivo de al

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cançar maior público. Mais tarde, nos anos 1980, ela se torna líder de audiência e, atualmente, tra balha com 100KW e tem uma cobertura que che ga a 200 quilômetros.

A rádio Itatiaia funciona em duas frequências hertzianas: AM e FM, além da rádio Extra, que faz mais o estilo popular. A Rede também possui um canal de TV a cabo, retransmissora da TV Gazeta.

É importante ressaltar que, a partir dos anos 1960, começaram a funcionar as primeiras emissoras em FM, que promoveu a introdução cada vez maior de músicas na programação.

A primeira emissora a explorar esse serviço foi a rádio Difusora de São Paulo, na década de 1970. Esse tipo de transmissão utilizaria canais abertos, surgindo um número bastante elevado de emis soras operando em FM, todas voltadas exclusivamente para a programação musical.

Voltando a Minas Gerais, outro fenômeno de audiência que encontramos por aqui, foi a rádio Favela, em Belo Horizonte, fundada em 1979. A emissora funcionava na favela do Cafezal, no alto do bairro da Serra, e tinha como objetivo reduzir a criminalidade na Vila Fátima, no conglomerado de 11 favelas.

Ela começou como emissora pirata e foi fechada inúmeras vezes, mas, 20 anos mais tarde, em fe vereiro de 2000, recebeu a autorização do Governo para funcionar. Dois de seus fundadores são Nerimar Wanderley Teixeira e Misael Avelino dos Santos.

A Rádio Favela já se destacou até internacional mente: em fevereiro de 1999, foram reconhecidos

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pelo trabalho educativo na favela, junto ao jornal americano Wall Street Journal. Recebeu também em Milão, na Itália, o prêmio de “Melhor Programa de Rádio Alternativo”, desafiando rádios comuni tárias de todo o mundo.

A emissora também já foi agraciada com o “Prêmio Mundial sem Drogas”, oferecido pela Organi zação das Nações Unidas (ONU), pelo trabalho de prevenção ao tráfico. O rádio vai além daquilo que veicula: é também as histórias que compartilha e as vidas nas quais faz diferença.

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Em Divinópolis, a magia se mantém

Vamos, agora, conhecer um pouquinho sobre o rá dio nessa cidade do interior mineiro. Primeiro, al guns dados: a rádio Minas é a emissora mais antiga de Divinópolis, com 76 anos de existência; a 94 Live tem 42 anos e vem logo atrás; a rádio Divinópolis conta com 37 anos; e, a Sucesso FM, com 31 anos; já a Nova Sertaneja tem um ano a mais de existên cia e a rádio Antena 1 tem 12 anos. As rádios Can didés FM, Sentinela FM e Educativa FM são outras importantes emissoras que fazem parte do cenário radiofônico divinopolitano.

Dito isso, sigamos. Para esta parte, conversamos com profissionais que fazem parte da história do veículo, em Divinópolis, e que ajudam a escrever novos capítulos todos os dias.

Por aqui, as primeiras transmissões ocorreram na década de 1940, mas foi só em 1946 que houve a inauguração, com o indicativo ZYH-2, da Rádio Cultura de Divinópolis. As atividades foram inicia das na época pelo Coronel Jovelino Rabello. Cinco anos depois, em 1951, um incêndio destruiu os es túdios, escritórios e discotecas, mas, apesar disso, a rádio se reconstruiu e voltou a funcionar.

Capítulo 3

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Dez anos depois, em 1961, Mayrinck Pinto de Aguiar e sua esposa, Adelci Mattar de Aguiar, as sumiram a direção da rádio. O perfil da emissora, na época, era mais voltado para o romântico. Uma curiosidade é que a Associação Mineira de Rádio e Televisão (Amirt) foi fundado 7 anos depois, por Mayrinck e Januário Carneiro.

Já em 1980, o Centro-Oeste mineiro recebia a pri meira rádio FM da região: era a Castelo Branco que, anos depois, se tornaria a Antena 1. Durante mais de 60 anos, a Rádio Minas AM cobriu e informou os grandes acontecimentos históricos e importantes da cidade e região, e, em novembro de 2018, devido à migração AM-FM, alterou sua frequência para 104.1 MHz, em Frequência Modulada.

Em Divinópolis, a história do rádio também se cru za com a história de Ubiracy Rogério, o “Bira”, da Rádio Minas, voz conhecida que, há muito tempo, faz parte do dia a dia daqueles que gostam de acompanhar a programação radiofônica.

Há mais de dez anos, ele assumiu a diretoria artísti ca da emissora e promoveu grandes mudanças em sua programação. No entanto, sua história come ça bem antes disso. Com quase cinco décadas de experiência na profissão, ele carrega com orgulho o fato de ter sido o primeiro locutor FM ao vivo da história de Minas Gerais.

“Do destino ninguém foge. Eu fiz o teste na minha primeira rádio e três dias depois já estava no ar. Eu comecei mesmo a profissão em 1979, mais precisamente no dia 19 de janeiro daquele ano. Eu en trei no ar às 7h15 e nem imagina va que, naquela hora, estava me

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tornando o primeiro locutor FM ao vivo da história do Estado”, relembra

A chegada de Bira na rádio Minas veio em um mo mento crucial para a emissora e contribuiu para seu desenvolvimento na região:

“A minha chegada na rádio Mi nas aconteceu por meio de ou tra emissora para a qual eu vim trabalhar em Divinópolis. Eu tive uma proposta na rádio Candidés, em 1990. Fiquei lá até 1998 e recebi o convite do Mayrinck. Foi um desafio. Para arrumar a rádio, eu levei muito tempo. Afi nal, queria que a rádio fosse do povo”, pontua.

Mayrinck Júnior, proprietário do Sistema MPA que abrange emissoras Minas FM, Nova Sertaneja FM 95,3, 94 Live FM, Antena 1 99,3 MHz e a TV Candi dés, conta que tudo se iniciou com a rádio Cultura – hoje, Rádio Minas –, em 26 de janeiro de 1945, no cartório Machado 1º Ofício, quando o tabelião Francisco Machado Filho realizou a lavratura da escritura de constituição da Rádio Cultura de Divi nópolis S.A, que transmitia com 100 watts de po tência.

Como já mencionamos, as atividades foram inicia das na época pelo coronel Jovelino Rabello. Formada por uma sociedade de empresários, a rádio contou com José Puntel, Marcelo Franklim, José Fagundes, entre outros, que optaram por um perfil romântico para a emissora. Quando Mayrinck Pin to de Aguiar e sua esposa, Adelci Mattar de Aguiar, assumiram a direção da rádio, em 1961, ela ocu

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pava uma sala na rua São Paulo, 258, em cima do extinto Cine Divinópolis.

Nessa época, a rádio tinha a transmissão da mis sa das 10h direto do Santuário de Santo Antônio e transmissão de partidas de futebol oficiais e amadoras. A transmissão de eventos na cidade se tornou, pois, uma marca da rádio. Mayrinck Júnior lembra que, em 1984, começou a trabalhar com seu pai e assumiu a direção comercial da rádio. Atualmente, seus dois filhos também trabalham no Sistema MPA.

A rádio Cultura começou como emissora AM, até 1979, ano em que Mayrinck Pinto de Aguiar entrou com a concessão para rádio FM. Assim, em 1981, surgiu a primeira emissora FM do Centro-Oeste mineiro, nomeada Rádio Castelo – hoje, 94 FM –, que, por muito tempo, foi a única emissora FM da região.

Como o AM já tinha uma audiência grande e conso lidada e o FM era uma tecnologia nova, o público era ainda modesto. Mas com o tempo, o AM começou a sofrer interferência de ruídos e chegava com pou ca qualidade em algumas regiões e, a partir daí, as rádios AM começaram a migrar para o sistema FM.

Em 1º de junho de 1992, surgiu a El Dolrado, com uma programação focada na classe A, mas como era um segmento pequeno na cidade, acabou não vingando e se tornou uma rádio popular, conhecida hoje como Nova Sertaneja.

Já em 12 de outubro de 2009, Mayrinck Júnior co locou no ar a rádio Estúdio Digital FM 99,3MHz, que funcionou em cadeia com a rádio Minas AM até 2018, quando virou Antena 1. Quando existia apenas a rádio Cultura, ela tinha que atender todo

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o espectro da audiência e, por isso, era uma emis sora eclética, abrangendo desde temas religiosos até futebol. Contava também com a presença de programas de auditórios.

Em 1946, não existia gravador de rolo ou uma opção para arquivar as produções e, assim, os quadros eram todos ao vivo. Tempos depois, com a chegada de novas tecnologias, houve uma mudan ça na produção das rádios. A partir de então, “você tem a oportunidade de oferecer produtos distintos a grupos distintos”, observa Mayrinck Júnior.

Com essa transformação, aconteceu a segmentação das emissoras de rádio, e cada uma delas pas sou a produzir conteúdo para nichos de mercado. A primeira delas a trabalhar com segmentação no município foi a 94 FM que, em 1985, optou pelo Pop Rock.

A Nova, em 2010, segue pelo gênero sertanejo, com lançamentos musicais e reviews, que é a mú sica já lançada, mas que continua a tocar. Já na Rá dio Minas, estão presentes o flashback musical e um jornalismo forte, que alimentam o Portal MPA, existente há 18 anos.

Nos dias de hoje, as rádios do Sistema MPA tam bém são interligadas às redes sociais e plataformas de vídeos, como Spotify e YouTube, além de contar com a transmissão, pela TV Candidés, do programa Bom Dia Divinópolis. É a hibridização se fazendo presente...

Segundo Mayrinck Júnior avalia, o rádio moderno é um gerador de conteúdo e deve estar presente em diferentes plataformas para alcançar os públicos. Para isso, deve observar a linguagem de cada uma delas e utilizá-la conforme as características espe

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cíficas. Para ele, desde sua criação, o veículo se ade quou às mudanças tecnológicas, se tornando mais local e compartilhando notícias e conteúdos que não saem nas grandes mídias. Conforme ainda ob serva, a prática é marcada por uma rotina dinâmica, “pois você nunca presencia um dia igual ao outro e acaba conhe cendo e convivendo com vários níveis da sociedade, o que faz da rádio um ramo diferenciado”.

Histórias que marcam também fazem parte do cotidiano. Uma delas, segundo lembra, se refere ao locutor João Bosco que pediu para fazer um progra ma de namoro em uma das rádios.

“Achei que não daria certo”, co menta.

No entanto, o programa acabou sendo um sucesso, com cadastro de 8 mil pessoas, em média, e mais de 100 casamentos.

Além desse quadro, havia outro em que a pessoa mandava uma carta sobre sua história de vida. Uma delas, tratava de uma pessoa que saiu de Divinópolis muito jovem e ficou viúva, mas, por meio do rádio, acabou reencontrando um amor divinopoli tano 34 anos depois de sair da cidade.

Outro fato interessante é que a transmissão de fu tebol pelo rádio é um pouco adiantada em relação a TV, fazendo, assim, a população acompanhar por ambos a maioria das partidas.

Já para Gustavo Mourão, filho de Mayrinck, a rádio Minas foi a que mais lhe marcou, especialmente, por cobrir eventos importantes na cidade, como

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os desfiles na Avenida Primeiro de Junho. Gustavo compartilha do mesmo pensamento do pai e tra balha na rádio, mantendo a tradição familiar.

Quem também é figurinha carimbada no rádio de Divinópolis é Luciano Eurides, locutor, apresentador e repórter. Ele atua em várias frentes nas emissoras de rádio do Sistema MPA de Comunicação, mas é na Nova FM onde ele desempenha a maioria dos trabalhos.

Com mais de 10 anos de experiência, ele conta com carinho sobre as mudanças editoriais que vivenciou durante o tempo de profissão.

“No interior, as editorias se mis turam. Já houve essa mesclagem muitas vezes. Tudo que aconte ce na cidade é relevante. É im portante que o jornalista esteja preparado para essas mudanças, porque o noticiário do rádio é muito valorizado”, explica.

E, como nem tudo “são flores” para os radialistas, Luciano também recorda de uma gafe que come teu ao vivo.

“Estava cobrindo o dia de Nossa Senhora Aparecida e, empolga do com as notícias de Divinó polis, disse, sem querer, que Ela havia sido encontrada por pescadores no rio Itapecerica. Foram os ouvintes que me relataram o equívoco e eu corrigi logo depois. Foi complicado”, recorda.

Luciano também relembra as principais transfor

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mações que acompanhou desde que iniciou seus trabalhos no radiojornalismo local.

“Foram muitas mudanças rápi das, próximas umas das outras. A principal delas foi a digitalização da transmissão. Antigamente, para você fazer uma transmissão era um ‘Deus nos acuda’, era qua se um evento. Hoje, em qualquer lugar em que você estiver é possí vel fazer. A velocidade da comu nicação mudou muito também, especialmente, para o ouvinte”.

Já o jornalista João Pedro Cardoso, mesmo no iní cio da profissão, já vivenciou várias experiências no rádio.

“Eu comecei no 2º período da faculdade na rádio Sucesso. Atuei no departamento de jornalismo, como estagiário. Então, surgiu outra proposta e acabei saindo. Fiz o teste na Nova, comecei lá e, depois, fui para a 94 FM, que faz parte do mesmo grupo”, conta.

Na opinião dele, a rádio é uma escola para jovens repórteres que estão ingressando na profissão –“todo jornalista deveria vivenciar o rádio pelo me nos um pouco”, aponta –, além de ser um veículo que ainda tem muita história pela frente.

“Muitas vezes, disseram que o rádio iria morrer e, em contra partida, ele ficou cada vez mais forte. O diferencial do rádio é a proximidade com cada ouvinte.

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Você escuta, manda mensagem ao vivo e interage. É diferente de outros veículos”, pontua.

E essa versatilidade do rádio, o faz transcender o tempo e continuar firme mesmo após tantos anos.

E uma mudança importante tem sido a busca pela consolidação da presença feminina no rádio. Mes mo com os desafios que enfrentaram – e ainda en frentam –, as mulheres têm participação decisiva na construção da história e do conteúdo produzido pelas emissoras.

De acordo com Kristin Skoog (2020), em artigo no Correio da Unesco, elas desempenharam papel fundamental na constituição do que produzimos hoje.

“Os formatos e gêneros de programas que agora achamos naturais, como seriados e pro gramas de entrevistas, foram concebidos para um público fe minino. Nos EUA, na década de 1930, por exemplo, uma época dominada pelo rádio comercial, as mulheres tiveram um papel importante como consumidoras e se tornaram um público-alvo para anunciantes e patrocinado res. As transmissões diurnas pas saram a ser caracterizadas como ‘femininas’, e logo após as radionovelas passaram a dominar as ondas de rádio porque eram muito lucrativas” (SKOOG, 2020, sem paginação).

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Vale lembrar, ainda conforme Skoog (2020, sem paginação) que, em 2014, o Dia Mundial do Rádio, comemorado em 13 de fevereiro1,

“celebrou as mulheres no rádio e o empoderamento feminino, mas também observou que a igualdade de gênero continuava sendo um desafio nos meios de comu nicação”.

Desafio esse que também faz parte do cenário de Divinópolis, sendo enfrentado, dia após dia, pelas profissionais do rádio, com competência e talento, como é caso da jornalista e locutora Ana Paula Silva.

Há quase uma década na rádio Divinópolis, ela con quista o público e compartilha informações que fazem a diferença na vida dos ouvintes. Apresenta dora de um dos programas com maior audiência da emissora, a radialista lamenta a pouca representatividade feminina nos veículos de Divinópolis.

“Infelizmente, isso ainda é uma realidade de muitas profissões e, com o jornalismo, não é diferen te. Apesar disso, temos ótimas profissionais na cidade que que bram essas barreiras”.

Com carinho, ela relembra o começo da carreira.

“Vou ser sincera. Na faculdade, não era muito fã de rádio. Fazia as oficinas, mas não era algo que me despertava interesse. Mas,

1 A data proclamada na Conferência Geral da UNESCO, em 2011, foi escolhida porque, nesse dia, em 1946, houve a criação da rádio das Nações Unidas. Disponível em: <https://pt.unesco.org/courier/2020-1/ que-celebramos-o-dia-mundial-do-radio>. Acesso: 15 jul. 2022.

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43 quando eu estava trabalhando em outros setores do jornalismo, veio o convite para que ajudasse em um programa da rádio Divi nópolis. Então, eu fiquei e nunca mais saí. De lá para cá, são nove anos de muito trabalho”,

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e, também, de muitas histórias, pois o rádio é mes mo assim: um grande narrador.

finais

Histórias que não se acabam

As histórias contadas neste e-book não apenas ce lebram o centenário do rádio no Brasil, mas tam bém evidenciam a importância das transformações pelas quais passou para sua permanência ao longo do tempo.

Mesmo após 10 décadas de sua primeira transmis são no país, o rádio continua sendo um dos meios tradicionais com maior capacidade de alcance do público, principalmente, local e regional, que, abraçado pelo estilo de comunicação dialogal e próximo, sente-se acolhido e reconhecido como parte importante do dia a dia das emissoras. Não é à toa que a participação do ouvinte se mantém forte nas diferentes estações.

O rádio vivencia mudanças que colaboram para sua melhoria em todos os sentidos. A facilidade da transmissão aumentou o engajamento e, consequentemente, a audiência multimídia da popu lação.

O jeito de se comunicar, embora diferente con forme o perfil da cada emissora, mantém algo em comum: ele continua se conectando às vivências e trazendo as pessoas para junto da programação.

Considerações

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Ainda que a discussão sobre o “fim” do rádio apa reça de vez em quando, o que temos percebido ao longo do tempo é sua transformação e hibridiza ção, que o tornam cada vez mais versátil e acessível a diferentes públicos e plataformas.

Não seria exagero afirmar que ele possa durar por mais 100 anos. Mudanças, obviamente, vão impac tar a transmissibilidade e causar, em certo momen to, estranheza.

Mas, ao que tudo indica por agora, não irão encer rá-lo tão cedo. Além disso, como dito pelo Bira, o rádio é “do povo” e tem, sempre, o seu público, pessoas que mergulham nas ondas das histórias que só o rádio pode proporcionar.

Afinal, o que são cem anos para o veículo mais tra dicional do país? Que venham os próximos cem!

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Nas linhas do tempo

Anos 1920:

- 7 de setembro de 1922: Inauguração do rádio no Brasil, em função das co memorações do Centenário da Independência. O transmissor foi acoplado no alto do Corcovado e a primeira transmissão foi do discurso do presidente Epitácio Pessoa.

- 20 de abril de 1923: Roquette Pinto e Henry Morize instalam a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. O rádio tinha como finalidade questões culturais, educativas, e era mantido por mensalidades e doações dos ouvintes.

Anos 1930:

- Período em que se inicia a chamada “Era de Ouro” do rádio, com as emissoras tornando-se mais po pulares por meio dos sucessos carnavalescos e dos primeiros programas humorísticos.

Anos 1940:

- 5 de junho de 1941: vai ao ar, na rádio Nacional, o priméiro capítulo de “Em busca da Felicidade”, a primeira radionovela brasileira.

Apêndice

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- 28 de agosto de 1941: também pela rádio Nacio nal, é lançado o “Repórter Esso”, radiojornal que marcou a história na voz de Heron Domingues.

3 de abril de 1942: a rádio Tupi, de São Paulo, tam bém começa a sua tradição jornalística, colocando no ar o “Grande Jornal Falado Tupi”, criado por Coripheu de Azevedo Marques e Armando Bertoni, com uma hora de duração diária.

Anos 1950:

- O sucesso das radionovelas, programas de humor e de auditório, refletem os gostos e as preferências populares, e lançam grandes nomes da cultura po pular brasileira.

Anos 1960:

- A televisão chega aos lares brasileiros; as radionovelas e programas de auditório passam a dar espaço a serviços de utilidade pública e surgem di ferentes segmentações. A “época de ouro” do rádio termina. Para enfrentar as mudanças, ele se rein venta por meio da sua versatilidade e capacidade de inovação e, assim, segue até os dias de hoje.

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BRAGA, Gustavo Lisboa. PRA3 – Rádio Club do Brasil. Juiz de Fora: DI Gráfica Digital, 2002.

FERNANDES, CAMILA. A história do rádio. Letras, Rio de Janeiro, 21 de novembro de 2020. Disponí vel em: <https://www.letras.mus.br/blog/a-histo ria-do-radio/>. Acesso em 21/07/2022.

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sobre os autores

Daniela Martins Barbosa Couto é doutora em De sign pela UEMG, mestra em Letras pela UFSJ e graduada em Comunicação Social – Jornalismo e Publicidade e Propaganda, pela UEMG. É coor denadora da Agência Multimídia - Laboratório de Jornalismo da UEMG, unidade Divinópolis, e do projeto “Agência Laboratório de Jornalismo” de senvolvido com recursos do Programa de Apoio à Extensão da UEMG - edital 07/2022.

Bruno Davi Bueno é graduando em Jornalismo pela Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG e bolsista da Agência Multimídia - Laboratório de Jornalismo da UEMG, unidade Divinópolis, por meio do projeto “Agência Laboratório de Jornalis mo”, desenvolvido com recursos do Programa de Apoio à Extensão da UEMG - edital 07/2022.

Pedro Lucas da Cunha Costa é graduando em Jornalismo pela Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG e bolsista da Agência MultimídiaLaboratório de Jornalismo da UEMG, unidade Di vinópolis, por meio do projeto “Agência Laborató rio de Jornalismo”, desenvolvido com recursos do Programa de Apoio à Extensão da UEMG - edital 07/2022.

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