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Cidades 25

Domingo, 12 de fevereiro de 2012 Diário do Amazonas | visite D24am.com

Taquiprati Jornalista bessa_18@hotmail.com

O maníaco do parque velho,comoera seu hábitodiário, caminhavaem ritmo aceleradopelas alamedas doCampodeSãoBento, nobairroIcaraí,emNiterói, que ocupa umaáreade40 milmetros quadrados - um quarteirãointeiro. De repente,parou debaixoda árvore, seabaixou e recolheu a mangadochão. Examinou-a. Viu quenãoestavamordidapor morcegoou passarinho. Cheirou, acariciou afrutamadurae, tristonho, resmungou: “Essas sãoas últimas mangas daestação”. Era quase umlamento,mas ele nãofalava sozinhocomopodia parecer. Suaconversaeracomas mangueiras que todos os anos, sempreemfevereiro,encerrama temporadadefrutos iniciada três meses antes. Prosseguiu sua marchadebaixodas árvores centenárias efrondosas doparque, entreas quais as imponentes palmeiras imperiais eacalabura, com suas flores pequenas ebrancas salpicadas de sementes amarelas, cujos galhos emescadinha proporcionam sombra refrescante. Depois, semprecom seu bonezinhoazulprotegendoacareca do sol,o velhofoicosteandoos canteiros deflores,deu a voltano lago que tem umchafariz, atravessou apequenaponte,passou pelocaramanchãocobertode trepadeiras,lianas ecipós eparou diantedocoreto. Fingiu quenão ouviu o rapaz dizer,em voz baixa,à namorada: “Disfarça quelá vemo velhomaníaco”. Eleficou comessafamade maníacodoparque,no tempoem queaindafazia suas preleções aos jovens doColégioEstadual JoaquimTávora, que se reuniamno coretoparamatar aulas e,às vezes, parafumar umbaseado. Por acreditar naeducaçãocomo redentoradahumanidade,o velho fazialongos discursos aos estudantes, tentandodespertar neles umaconsciência socioambiental. Insistiana responsabilidadeindividual,decada um,em relaçãoaolixoeapontava paraoparquecobertode sujeira. Seu tomde voz erade um missionário. Dizia queaqueleera umcombatedesigual travadopor umexércitodegaris, queperdia

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Hoje, em suas caminhadas diárias, o velho, portando uma luva descartável, vai recolhendo o lixo

todas as batalhas paraos usuários doparque, responsáveis por tanta sujeira. Diariamente “jogavamno mato”garrafas deplásticoede vidro,copos e sacos deplástico, papelplastificado,latas decervejae de refrigerantes,embalagens plásticas edepapeldealumínio, pontas decigarro,etc. etc. Em seu discursoinflamado,o velhomostravacomoolixopode ser altamenteprejudicialaomeio ambiente,à saúdehumanaeà vida urbana,entupindoos bueiros, provocandoalagações,mortes, desabamentos. Discorria sobreo tempodedecomposiçãodemuitos resíduos sólidos, sobretudodos 800 bilhões deobjetos deplástico que sãoproduzidos anualmenteno mundo,muitos dos quais acabam chegandoaos rios eoceanos, matandopeixes eaves por asfixia. “Vocês não viramnoJornal Nacionalaquelabaleia quemorreu commais de800 quilos de sacos de plásticodentrodoestômago?”,ele perguntavanumexercíciode retórica. Os jovens ouviam tudoem profundo silêncio,numaatitude aparentede respeitoeatenção. Mas quandoo velho viravaas costas, debochavam,faziam teatrinho, imitando-o,e,pior,continuavam emporcalhandoos canteiros de flores sobreos quais eraatirada diariamente umaenxurradadelixo, emboraexistamdezenas delixeiras espalhadas por todooparque. O velho resolveu entãopartir paraaguerrilhaeo terrorismo. Um dia, viu uma senhoradeclasse média, vestidacom roupade butique,atirar garrafas pet num canteirodeflores. Deu umgrito: “Ei, minha senhora,nãofaçaisso, vai matar as plantinhas. Issoé um crimecontraa vida”. Elapeitou o velho: “Nãoéda suaconta”. Ele, então,aos berros,achamou de porca,decriminosa. Duas velhinhas queassistiram tudoocensuraram por ter sidoexcessivamente agressivo. Mas agotad’águafoi quandoele viu umajovemmãe,bonita, cheirosaegostosa,caminhando com seu filhode uns 3 anos parao parquinhodediversão,ondeas crianças sedivertemnocarrosselou nobate-bate. Depois dejogar um sacodepipoca vazionochãodo rinquedepatinação,ajovemmãe atirou umcopodeplásticocom um canudinho sobre umcanteirode flores,dando ummau exemploao própriofilho. Foiaí queafamademaníacodo parque seconsolidou. É queo velho perdeu aesperançanahumanidade. Já quenãopodiamudar omundo, nãodeixou queomundoomudasse. Concentrou todas as suas energias numcombate solitário sem trégua aos canudinhos deplástico,a quem devota umódio supino,porque são tantos espalhados peloparque, que os garis deixaramde recolhê-los. Hoje,em suas caminhadas diárias,o velho,portando umaluva descartável, vai recolhendoolixo, quedepositanas lixeiras,dedicando especialatençãoao queé rejeitado pelos próprios garis. Nestacruzada santa,ele se tornou umaespéciede auxiliar degari. Ganhou famade maníaco,dedoido. Queméo doente:o velhoou os queochamam demaníaco? Pobreplaneta!

Brasil responde por 8% dos transplantes feitos em todo o mundo Dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde TEXTO Agência Brasil BRASÍLIA

número de transplantes de órgãos e tecidos mais que dobrou na última década no País, alcançando 23.397 cirurgias no ano passado. O número equivale a quase 8% dos transplantes feitos em todo o mundo no mesmo período, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde. Em dez anos, foram feitos 6.827 transplantes dos chamados órgãos sólidos, como coração, rim, fígado, entre outros, e 16.570 de tecidos. As cirurgias de transplante que mais cresceram, em quantidade, foram as de medula óssea, córnea, fígado, pulmão e rim. Para o governo, o aumento do número de transplantes está relacionado à maior quantidade de doadores e à ampliação da rede de captação de órgãos. Em 2011, chegaram a 11,4 pessoas por grupo de 1 milhão de habitantes. A meta é chegar a 15 doadores por milhão até o fim de 2014, taxa semelhante à de países que são considerados referência em doação de órgãos.

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Doação Com mais doações e cirurgias, o tempo de espera por um órgão na fila dos transplantes caiu, em média, 23% em um ano. No caso do transplante de rim, a redução do tempo de espera foi 42%. Mas 27.827 pessoas ainda aguardam por um transplante na rede pública de saúde. No Sistema Único de Saúde (SUS), os candidatos são chamados conforme a ordem da fila e a gravidade do caso. “A única fila que pode acabar é a do transplante de córnea. O número de pessoas que necessitam desse transplante vai ficar menor e todas as pessoas que morrem podem doar as córneas”, explicou José Medina, presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).


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