Arraial de Bello Horizonte: a ruralidade da nova capital de Minas

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De acordo com o Guia de Bens Tombados de Belo Horizonte (CASTRO, 2006, p.290), o casarão foi construído no ano de 1894 (data atribuída de forma errônea), mesmo ano da desapropriação da fazenda Capão, o que leva a supor que poderia ser um indicativo da preservação do imóvel número 289 (CCNC, 1894), que pertencia a José Ferreira da Luz no momento da desapropriação e que também se localizava na margem leste do córrego do Leitão. Nesse sentido, a partir do georreferenciamento da planta de desapropriação da Fazenda do Capão e da imagem aérea do ano de 1953, o traçado do curso d’água, parcialmente preservado até a década de 1960 e a localização do imóvel na planta de 1894 corroboram a ideia de que o casarão foi construído após o ano de 1897, a cerca de quinhentos metros à jusante da propriedade de José Ferreira da Luz, à beira da estrada que ligava a propriedade ao arraial. O georreferenciamento possibilitou ainda o levantamento da hipótese de que a casa de José Ferreira da Luz ainda existia nos anos de 1953 e 1967, apesar das profundas alterações na região, inicialmente destinada a abrigar a Colônia Agrícola Afonso Pena e posteriormente anexada à zona suburbana de Belo Horizonte, indícios da ruralidade que existiu na região até a década de 1960. A Casa da Fazendinha, como observado anteriormente, foi construída em um dos lotes coloniais que compunham a Colônia Agrícola Afonso Pena, criada no ano de 1899 no vale do córrego do Leitão. Ao que tudo indica, o casarão foi construído por volta de 1900, à beira da estrada que ligava a colônia agrícola à Zona Urbana Planejada. A posição geográfica do casarão, de onde se descortinava as terras altas e as cabeceiras do Leitão, também pode ser considerada um indício de que parte dos locais de cultivo da Fazenda Capão possam ter sido aproveitados pelos colonos, visto que o imóvel foi construído ao lado de uma das roças que se encontravam próximas a casa de José Ferreira da Luz. Após a anexação da colônia à Zona Suburbana no ano de 1914, diversas sociedades comerciais adquiriram os lotes parcelados, como as sociedades Poni & Josué, que já possuía uma cerâmica no bairro Santo Antônio, e a sociedade Anastasia, Barros & Cia. De acordo com Pereira (2012, p.120), o casarão fez parte da Cerâmica Santa Maria, que existiu no local onde se construiu a Barragem Santa Lúcia. Nesse contexto, após o parcelamento e venda dos lotes coloniais, o casarão possivelmente serviu como sede da Cerâmica, certamente desapropriada pelo município por volta de 1950 para a construção da barragem de retenção: Aqui tinha duas fazendas. (...) Era a fazenda do Diomar – era lá em baixo, quase no final donde que é... Que eles fizeram aquela pracinha ali, pracinha da Lagoa, no final da Lagoa. Ali era a fazenda do Diomar. E no córrego que construíram os moinhos d’água. E aqui, nesse rumo aqui a cima, era a fazenda do Anastásia. (...) A família Anastásia (risos). Um pedaço desse terreno aqui era deles. A Casa da Fazendinha, ali estava dentro do terreno do Diomar. Ali era Colônia Afonso Pena. Dentro da lagoa tinha a olaria velha e tinha aquela fazenda. (...) Essas fazenda tinha tomador de conta, mas eles não interferiam....Que eles passavam mesmo a fazenda. Tinha gente que tomava conta, mas os proprietários já não moravam mais. Era só mesmo a fazenda, demarcando aqueles territórios ali. (...) Que quando eles fizeram o reservatório em cima, estragaram o terreno, né!? Então, qualquer dia eles pararam de pagar imposto. A prefeitura também... Então, ficou aquele negócio que nem era da Prefeitura e nem era dos fazendeiros (PEREIRA, 2012, p.119).

Após o encerramento das atividades, alguns funcionários da Cerâmica ocuparam o casarão provavelmente desapropriado, que passou a ser utilizado como residência até a atualidade (2019), ainda que de maneira parcial, por se encontrar em estado de arruinamento.


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